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NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA CAMPUS CIANORTE Estágio Supervisionado Simulado: Prática de Processo do Trabalho ATIVIDADE Nº. 08 Embargos à execução Acadêmico: Filipe de Lima Cruz RA:00186761 Professora Orientadora: Jane Maria Soldan AVALIAÇÃO: INSUFICIENTE SUFICIENTE Regular Bom Ótimo Nota: ________ _________________________________ Assinatura do Professor Orientador CIANORTE 2020 EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ PRESIDENTE DA VARA DO TRABALHO DE CIANORTE– ESTADO DO PARANÁ Autos Nº 2121-65.25.0001.19 VOANDO BAIXO TRANSPORTES LTDA, já qualificada nos autos acima, movida por AUGUSTO NOBRE, também qualificado, já estando garantida a execução, vem, respeitosamente, por sua procuradora judicial, infra assinado, inscrita na OAB/PR sob o nº (...), à presença de Vossa Excelência com fundamento no art. 884, §3° da CLT, opor EMBARGOS A EXECUÇÃO, pelas razões e fundamentos jurídicos a seguir expostos: I – DOS FATOS O Embargado propôs Reclamação Trabalhista postulando verbas e direitos decorrentes do contrato de trabalho que vigorou de 05/07/2015 até 30/10/2018. Transitada em julgado a decisão e elaborados os cálculos, totalizou o valor de R$ R$ 57.235,54 (cinquenta e sete mil duzentos e trinta e cinco reais e cinquenta e quatro centavos). A Executada apresentou a impugnação aos cálculos seq. (...), bem como apresentou planilha demonstrando as divergências existentes especialmente nos cálculos das horas extras e correção monetárias, sendo o valor total apurado de R$ 29.230,55 (vinte e nove mil, duzentos e trinta reais e cinquenta e cinco centavos). O despacho de seq. (...) homologou os cálculos sem qualquer alteração, tendo sido expedido Mandado de Citação e Penhora, nos termos da lei. Pelo fato da Executada não efetuar o pagamento ou oferecer bens à penhora o Exequente requereu a aplicação da multa prevista no art. 523 do CPC. Não oferecido bens à penhora, houve bloqueio de numerário em conta corrente no valor de R$ 66.500,00 (sessenta e seis mil e quinhentos reais), por meio do BACENJUD. II – DOS REQUISITOS ESPECÍFICOS A decisão proferida trata-se de homologação de cálculo com bloqueio judicial através do BACEN JUD, sendo o único remédio processual os Embargos à Execução nos termos do art. 884 da CLT. Cumpre ressaltar que o juízo está garantido por meio de um depósito do valor, tempestivo, uma vez que a embargante foi intimada do bloqueio dos valores em 30/09/2020. As custas serão recolhidas ao final conforme preceitua o Caput do art. 789-A da CLT. Dessa forma, atendidos os requisitos, requer o devido processamento dos devidos embargos. III- DO MÉRITO III. 1- DA PENHORA EM CONTA BANCÁRIA Por determinação do MM. Juízo houve bloqueio no numerário de R$ 66.500,00 (sessenta e seis mil e quinhentos reais). Quanto aos valores penhorados, estes devem ser desbloqueados, pelo fato de que o valor que foi bloqueado na conta pertencente à Embargante destina-se ao pagamento dos salários dos funcionários, conforme documentação anexada aos autos. Assim, sendo os valores destinados ao pagamento de salários, entende-se que destina-se ao sustento das famílias dos funcionários da empresa, ora Embargante, sendo, portanto, impenhoráveis, haja vista a impossibilidade da penhora de salários, por afrontar a dignidade humana dos funcionários da empresa. Corroborando com esse entendimento, segue julgado: EXECUÇÃO. PENHORA. SALÁRIO. INADMISSIBILIDADE. APLICAÇÃO DO ARTIGO 833, IV DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. Tratando-se de conta corrente destinada para depósito de créditos em pagamento de salário ou provento de aposentadoria, incide a regra da impenhorabilidade, nos termos do artigo 833, IV, do Código de Processo Civil, devendo tal condição ser induvidosamente demonstrada nos autos (TRT-1 – AP: 0001178720115010411 RJ, Relator: Dalva Amelia de Oliveira, Data de Julgamento: 05/06/2018, Oitava Turma, Data de Publicação: 12/06/2018). O artigo 805 do CPC determina que a medida executiva deve ser feita pelo meio menos gravoso para o executado. O parágrafo único, do mesmo artigo incumbe ao executado, que alegar a medida executiva mais gravosa, indicar outro meio menos gravoso. Assim, o Embargante requer seja efetuada a penhora sobre o faturamento em percentual não superior a 10% (dez por cento) para que a mesma não seja prejudicada em seu processo produtivo, garantindo a sua função social. Sendo assim, a soma de dinheiro penhorada que se encontrava disponível, não está livre para responder pela penhora, devendo o MM. Juízo mandar efetivar o desbloqueio imediato pelos motivos expostos, bem como, alterar a ordem prevista no caput do art. 835, do CPC, nos termos no §1° do mesmo artigo, acatando o requerimento da penhora de 10% (dez por cento) sobre o faturamento da Executada. III – 2. DO EXCESSO DE PENHORA O valor da execução totalizou a quantia de R$ R$ 57.235,54 (cinquenta e sete mil duzentos e trinta e cinco reais e cinquenta e quatro centavos), entretanto, pelo fato da Embargante não oferecer bens à penhora, bem como não efetuar o pagamento voluntariamente, o Embargado requereu a aplicação da multa prevista no art. 523, §1°, do CPC. Ainda que o valor fosse devido, há excesso de penhora. O cálculo trazido aos autos e espelhado na planilha anexa evidencia claramente que houve excesso de penhora, devendo Vossa Excelência impedir que a execução se faça, sob pena de enriquecimento ilícito e prejuízos irreparáveis à Embargante. Diante do exposto, requer-se a Vossa Excelência o recebimento e o provimento dos presentes embargos para o reconhecimento do excesso de execução, à fim de que seja feita a adequação dos valores e o prosseguimento da execução pela quantia homologada para evitar excesso na execução e prejuízo à Embargante. III.3 – DA CORREÇÃO MONETÁRIA O cálculo realizado pelo expert considerou para efeito de correção monetária o mês da prestação dos serviços. Embora impugnado os cálculos tempestivamente o MM. Juízo homologou os cálculos apresentados sem levar em consideração a impugnação ofertada pela executada. Nos termos da súmula 381 do TST a correção monetária deve ser calculada pelo índice do mês subsequente ao da prestação de serviços, in verbis: O pagamento dos salários até o 5º dia útil do mês subsequente ao vencido não está sujeito à correção monetária. Se essa data limite for ultrapassada, incidirá o índice da correção monetária do mês subsequente ao da prestação dos serviços, a partir do dia 1º. (ex-OJ nº 124 da SBDI-1 - inserida em 20.04.1998). Assim requer-se seja adequado os cálculos com relação a correção monetária. III.4 – DA APLICAÇÃO DO ART. 523 DO CPC Requer o Exequente o acréscimo de 10% sobre o valor do cálculo, baseado na aplicação da multa do art. 523, §1º do CPC, contudo o mesmo é inaplicável nesta Justiça Especializada. A aplicação do CPC na Justiça do Trabalho deve ser subsidiária somente nos casos em que o processo do trabalho for omisso, nos termos do art. 769, da CLT, e, sobre a matéria, a legislação trabalhista dispõe, de forma clara, sobre o procedimento a ser seguido nos artigos 880, 882 e 883, da CLT. A jurisprudência é incisiva: TRT-PR-19-03-2019 PROCESSO DO TRABALHO - REGRAS PRÓPRIAS - INAPLICABILIDADE DO ART. 523, §1º, DO CPC - PRINCÍPIOS DA LEGALIDADE E DO DEVIDO PROCESSO LEGAL - O devido processo legal do trabalho garante ao devedor trabalhista a possibilidade de pagar ou garantir a execução no prazo de 48 horas após a citação (art. 880 da CLT) e de, garantido o Juízo, apresentar Embargos à Execução (art. 884 da CLT). A norma prevista no art. 523, §1º, do CPC, de outro vértice, suprime a possibilidade de o devedor indicar bens à penhora e regulamenta um sistema de execução diverso do trabalhista. A sua observância, portanto, alteraria o sistema de execução trabalhista, afastando as normas celetistas, em afronta aos princípios da legalidade e do devido processo legal, e condenaria o devedor ao pagamento de multa como condição para exercer a sua ampla defesa mediante interposição de embargos à execução, constituindo-se em uma situação jurídica írrita. (TRT- PR-07291-2014-021-09-00-2-ACO-01845-2019 - 6A. TURMA, Relator: PAULO RICARDO POZZOLO, Publicado no DEJT em 19-03-2019). Assim, diante do exposto, requer seja afastado a aplicação da multa prevista no § 1º do art. 523 do CPC, por ser inaplicável na Justiça do Trabalho. III.5 – DAS HORAS EXTRAS Observa-se que no cálculo homologado foram calculadas 2 (duas) horas extras diárias durante todo o contrato de trabalho. No entanto, na sentença transitada em julgado, a condenação foi de 02 (duas) horas diárias, somente nos primeiros 05 (cinco) meses da vigência do contrato de trabalho, ferindo assim o disposto no §1° do art. 879, da CLT. A jurisprudência é incisiva: TRT-PR-24-07-2018 COISA JULGADA. INTERPRETAÇÃO RESTRITIVA DO TÍTULO EXECUTIVO. Nos termos do art. 879, § 1º, da CLT, é vedado modificar ou rediscutir critérios já definidos no título executivo, sendo defeso ao juízo da execução modificar ou inovar matéria pertinente à causa principal. Assim, a pretensão do exequente, ao requerer a retificação dos cálculos de liquidação, a fim de que sejam utilizados parâmetros que não foram estabelecidos no comando exequendo, esbarra na coisa julgada (art. 5º, XXXVI, da Constituição Federal). Agravo de petição a que se nega provimento. (TRT-PR-11974-2013-129-09-00-2-ACO-11633- 2018 - SEÇÃO ESPECIALIZADA, Relator: CÁSSIO COLOMBO FILHO, Publicado no DEJT em 24-07-2018). Em que pese, a impugnação dos cálculos, e a apresentação da planilha demonstrando o equívoco, o MM. Juízo homologou os cálculos na forma apresentada pelo perito contábil. Resta claro e evidente o equívoco cometido, primeiro pelo expert ao fazer os cálculos, e segundo, do MM. Juízo ao homologá-los sem apreciar a impugnação apresentada pelo Executado. Diante disso deve ser rejeitado o valor apresentado pelo perito a título de horas extras, tendo em vista o comando da sentença determinar tão somente 02 (duas) horas nos 05 (cinco) primeiros meses da vigência do contrato de trabalho e, consequentemente, acolhida a apuração das horas extras apresentada pelo Embargante em planilha anexa, por estar de acordo com o quantum estabelecido no comando judicial. IV- DO PEDIDO Diante de todo o exposto, a Embargante requer o recebimento e processamento dos presentes Embargos à Execução, a fim de que sejam os mesmos julgados procedentes determinando-se: a) a liberação imediata dos valores bloqueados, ou assim não sendo; b) subsidiariamente o reconhecimento do excesso de execução, sendo reconhecido como valor devido somente a importância de R$ 29.230,55 (vinte e nove mil, duzentos e trinta reais e cinquenta e cinco centavos); c) ou, ainda, acolher o requerimento para penhora de 10% (dez por cento) sob o faturamento mensal da Executada; d) O refazimento dos cálculos no que tange a correção monetária, utilizando-se o índice do mês subsequente ao da prestação de serviços; e) A correção e, consequentemente o refazimento dos cálculos apresentados pelo Sr, Perito, a fim de excluir da conta de liquidação as 02 (duas) horas extras diárias após o mês de dezembro de 2015; f) O reconhecimento da inaplicabilidade do art. 523, do CPC, nesta Justiça Especializada. IV – DOS REQUERIMENTOS FINAIS Requer a intimação da Exequente para apresentar a sua impugnação aos embargos e caso não o faça que seja declarada a sua revelia e lhe aplicada a pena de confissão. Que o Exequente, ora Embargado, seja condenado ao pagamento das custas, bem como do pagamento de honorários de advogado no valor de 15% (vinte por cento) sobre o valor da execução. Protesta provar o alegado por todos os meios de prova em direito admitidos. Dá-se à causa o valor de R$ R$ 66.500,00 (sessenta e seis mil e quinhentos reais). Termos em que, pede deferimento, Local e Data. Advogado e OAB