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Aula 04 - Dos Direitos Básicos do Consumidor

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Campanha Nacional das Escolas da Comunidade – CNEC 
Faculdade CNEC Santo Ângelo 
Curso de Graduação em Direito 
Direito do Consumidor 
Prof. Dr. Doglas Cesar Lucas 
 
AULA 04 
 
DOS DIREITOS BÁSICOS DO CONSUMIDOR1 
 
CONTEÚDO DE HOJE: Dos direitos básicos do consumidor. 
 
1. Dos direitos básicos do consumidor: 
 
Art. 6º São direitos básicos do consumidor: 
I - a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de 
produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos; 
II - a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços, asseguradas a liberdade de 
escolha e a igualdade nas contratações; 
III - a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de 
quantidade, características, composição, qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos 
que apresentem; (Redação dada pela Lei nº 12.741, de 2012) 
IV - a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem 
como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços; 
V - a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em 
razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas; 
VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos; 
VII - o acesso aos órgãos judiciários e administrativos com vistas à prevenção ou reparação de danos 
patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou difusos, assegurada a proteção Jurídica, administrativa e 
técnica aos necessitados; 
VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no 
processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo 
as regras ordinárias de experiências; 
IX - (Vetado); 
 
1 Este material foi elaborado pelo Professor Doglas Cesar Lucas, com base nas doutrinas mencionadas ao final deste arquivo, 
constituindo, inclusive, por diversas vezes, literal reprodução destas fontes, de modo que não deve ser compartilhado como se fosse 
de minha autoria. 
X - a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral. 
Parágrafo único. A informação de que trata o inciso III do caput deste artigo deve ser acessível à pessoa com 
deficiência, observado o disposto em regulamento. (Incluído pela Lei nº 13.146, de 2015) 
 
Inciso vetado 
“IX - a participação e consulta na formulação das políticas que os afetam diretamente, e a representação de 
seus interesses por intermédio das entidades públicas ou privadas de defesa do consumidor”. 
O dispositivo contraria o princípio da democracia representativa ao assegurar, de forma ampla, o direito de 
participação na formulação das políticas que afetam diretamente o consumidor. O exercício do poder pelo 
povo faz-se por intermédio de representantes legitimamente eleitos, excetuadas as situações previstas 
expressamente na Constituição (CF, art. 14, I). Acentue-se que o próprio exercício da iniciativa popular no 
processo legislativo está submetido a condições estritas (CF, art. 61, § 2º). 
 
A enumeração desse artigo é numerus apertus (aberto), ou seja, existem outros direitos do consumidor 
disseminados pelo sistema. Esses direitos não podem ser utilizados pelo fornecedor, por exemplo. Isso 
significa que eles foram estabelecidos justamente para proteger o consumidor, sujeito vulnerável da relação. 
Agora vamos ver cada um dos incisos e a jurisprudência correlata: 
 
1.1. Proteção da vida, saúde e segurança: 
 
I - a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de 
produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos; 
 
Esse artigo está complementado pelos arts. 8º a 10 do CDC, cujo inteiro teor convém transcrever: 
 
SEÇÃO I 
Da Proteção à Saúde e Segurança 
Art. 8º Os produtos e serviços colocados no mercado de consumo não acarretarão riscos à saúde ou 
segurança dos consumidores, exceto os considerados normais e previsíveis em decorrência de sua natureza 
e fruição, obrigando-se os fornecedores, em qualquer hipótese, a dar as informações necessárias e 
adequadas a seu respeito. 
 
§ 1º Em se tratando de produto industrial, ao fabricante cabe prestar as informações a que se refere este 
artigo, através de impressos apropriados que devam acompanhar o produto. (Redação dada pela Lei nº 
13.486, de 2017) 
§ 2º O fornecedor deverá higienizar os equipamentos e utensílios utilizados no fornecimento de produtos ou 
serviços, ou colocados à disposição do consumidor, e informar, de maneira ostensiva e adequada, quando 
for o caso, sobre o risco de contaminação. (Incluído pela Lei nº 13.486, de 2017) 
 
Art. 9º O fornecedor de produtos e serviços potencialmente nocivos ou perigosos à saúde ou segurança 
deverá informar, de maneira ostensiva e adequada, a respeito da sua nocividade ou periculosidade, sem 
prejuízo da adoção de outras medidas cabíveis em cada caso concreto. 
 
Art. 10. O fornecedor não poderá colocar no mercado de consumo produto ou serviço que sabe ou deveria 
saber apresentar alto grau de nocividade ou periculosidade à saúde ou segurança. 
§ 1º O fornecedor de produtos e serviços que, posteriormente à sua introdução no mercado de consumo, 
tiver conhecimento da periculosidade que apresentem, deverá comunicar o fato imediatamente às 
autoridades competentes e aos consumidores, mediante anúncios publicitários. 
§ 2º Os anúncios publicitários a que se refere o parágrafo anterior serão veiculados na imprensa, rádio e 
televisão, às expensas do fornecedor do produto ou serviço. 
§ 3º Sempre que tiverem conhecimento de periculosidade de produtos ou serviços à saúde ou segurança dos 
consumidores, a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão informá-los a respeito. → 
Trata-se do recall. 
 
 
 
 
 
*O risco inerente ao medicamento impõe ao fabricante um dever de informar qualificado (art. 9º do CDC), 
cuja violação está prevista no § 1º, II, do art. 12 do CDC como hipótese de defeito do produto, que enseja a 
responsabilidade objetiva do fornecedor pelo evento danoso dele decorrente. O ordenamento jurídico não 
exige que os medicamentos sejam fabricados com garantia de segurança absoluta, até porque se trata de 
uma atividade de risco permitido, mas exige que garantam a segurança legitimamente esperável, tolerando 
os riscos considerados normais e previsíveis em decorrência de sua natureza e fruição, desde que o 
consumidor receba as informações necessárias e adequadas a seu respeito (art. 8º do CDC). O fato de o uso 
de um medicamento causar efeitos colaterais ou reações adversas, por si só, não configura defeito do 
produto se o usuário foi prévia e devidamente informado e advertido sobre tais riscos inerentes, de modo a 
poder decidir, de forma livre, refletida e consciente, sobre o tratamento que lhe é prescrito, além de ter a 
possibilidade de mitigar eventuais danos que venham a ocorrer em função dele. O risco do desenvolvimento, 
entendido como aquele que não podia ser conhecido ou evitado no momento em que o medicamento foi 
colocado em circulação, constitui defeito existente desde o momento da concepção do produto, embora não 
perceptível a priori, caracterizando, pois, hipótese de fortuito interno. STJ. 3ª Turma. REsp 1.774.372-RS, Rel. 
Min. Nancy Andrighi, julgado em 05/05/2020 (Info 671). 
 
1.2. Educação: 
 
II - a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços, asseguradas a liberdade de 
escolha e a igualdade nas contratações; 
 
“Segundo José Geraldo Brito Filomeno, essa educação deve ser encarada sob dois aspectos: i) a educação 
formal, que deverá ser dada nas escolas; e, ii) a educação informal, de responsabilidade dos fornecedores, 
arespeito das características dos produtos ou serviços que são lançados no mercado.” (JÚNIOR, 2017, p. 63). 
 
1.3. Informação: 
 
III - a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de 
quantidade, características, composição, qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos 
que apresentem; (Redação dada pela Lei nº 12.741, de 2012) 
Parágrafo único. A informação de que trata o inciso III do caput deste artigo deve ser acessível à pessoa com 
deficiência, observado o disposto em regulamento. (Incluído pela Lei nº 13.146, de 2015) → Dispositivo 
acrescido pelo Estatuto da Pessoa com Deficiência. 
 
O direito à informação obriga o fornecedor a explicar ao consumidor, de forma clara e pormenorizada, a 
quantidade, as características, a composição e a qualidade dos produtos ou serviços, bem como os tributos 
incidentes e o respectivo preço. Além disso, deve expor sobre os riscos que o produto ou serviço apresentem. 
Trata-se do princípio da transparência, que permite ao consumidor saber exatamente o que pode esperar 
dos bens colocados à sua disposição no mercado, evitando-se que adquira um produto que não é adequado 
ao que pretende ou que não possui as qualidades que o fornecedor afirma ter (JÚNIOR, 2017). 
 
O STJ já decidiu que o banco tem de fornecer documentos em braile para clientes com deficiência visual (STJ, 
REsp 1315822/RJ, 2015). 
 
2019 | FGV | OAB | Exame de Ordem Unificado XXIX - Primeira Fase 
Antônio é deficiente visual e precisa do auxílio de amigos ou familiares para compreender diversas questões 
da vida cotidiana, como as contas de despesas da casa e outras questões de rotina. Pensando nessa 
dificuldade, Antônio procura você, como advogado(a), para orientá-lo a respeito dos direitos dos deficientes 
visuais nas relações de consumo. Nesse sentido, assinale a afirmativa correta. 
A) O consumidor poderá solicitar às fornecedoras de serviços, em razão de sua deficiência visual, o envio 
das faturas das contas detalhadas em Braille. 
B) As informações sobre os riscos que o produto apresenta, por sua própria natureza, devem ser prestadas 
em formatos acessíveis somente às pessoas que apresentem deficiência visual. 
C) A impossibilidade operacional impede que a informação de serviços seja ofertada em formatos acessíveis, 
considerando a diversidade de deficiências, o que justifica a dispensa de tal obrigatoriedade por expressa 
determinação legal. 
D) O consumidor poderá solicitar as faturas em Braille, mas bastará ser indicado o preço, dispensando-se 
outras informações, por expressa disposição legal. 
 
Súmula 595-STJ: As instituições de ensino superior respondem objetivamente (independemente de culpa) 
pelos danos suportados pelo aluno/consumidor pela realização de curso não reconhecido pelo Ministério da 
Educação, sobre o qual não lhe tenha sido dada prévia e adequada informação. STJ. 2ª Seção. Aprovada em 
25/10/2017, DJe 06/11/2017. 
 
*O médico deverá ser condenado a pagar indenização por danos morais ao paciente que teve sequelas em 
virtude de complicações ocorridas durante a cirurgia caso ele não tenha explicado ao paciente os riscos do 
procedimento. O dever de informar é dever de conduta decorrente da boa-fé objetiva e sua simples 
inobservância caracteriza inadimplemento contratual, fonte de responsabilidade civil per se. A indenização, 
nesses casos, é devida pela privação sofrida pelo paciente em sua autodeterminação, por lhe ter sido retirada 
a oportunidade de ponderar os riscos e vantagens de determinado tratamento que, ao final, lhe causou 
danos que poderiam não ter sido causados caso não fosse realizado o procedimento, por opção do paciente. 
O dever de informação é a obrigação que possui o médico de esclarecer o paciente sobre os riscos do 
tratamento, suas vantagens e desvantagens, as possíveis técnicas a serem empregadas, bem como a 
revelação quanto aos prognósticos e aos quadros clínico e cirúrgico, salvo quando tal informação possa afetá-
lo psicologicamente, ocasião em que a comunicação será feita a seu representante legal. Para que seja 
cumprido o dever de informação, os esclarecimentos deverão ser prestados de forma individualizada em 
relação ao caso do paciente, não se mostrando suficiente a informação genérica (blanket consent). O ônus 
da prova quanto ao cumprimento do dever de informar e obter o consentimento informado do paciente é 
do médico ou do hospital, orientado pelo princípio da colaboração processual, em que cada parte deve 
contribuir com os elementos probatórios que mais facilmente lhe possam ser exigidos. STJ. 4ª Turma. REsp 
1.540.580-DF, Rel. Min. Lázaro Guimarães (Desembargador Convocado do TRF 5ª Região), Rel. Acd. Min. Luis 
Felipe Salomão, julgado em 02/08/2018 (Info 632). 
 
A natureza jurídica da relação instaurada entre médico e paciente pode ser considerada como uma “locação 
de serviços sui generis”. O profissional, além da obrigação de prestar os serviços médicos, tem também 
diversos deveres extrapatrimoniais considerados essenciais para a natureza deste contrato. É o que explica 
Gustavo Tepedino: A responsabilidade médica na experiência brasileira contemporânea. In: Revista jurídica. 
São Paulo, v. 51, n. 311, set. 2003; p. 18-43, p. 19. 
 
O consentimento informado deve ser feito por escrito? NÃO existe, no ordenamento jurídico brasileiro, 
nenhuma norma que exija que o médico ou hospital recolha o consentimento escrito do paciente, expresso 
em um documento assinado. Apesar disso, a doutrina recomenda, de modo muito enfático, que o médico 
tome essa providência. Isso porque, como visto acima, é do médico o ônus de provar o consentimento 
informado. Além de escrito, é importante que o consentimento do paciente seja específico. Um 
CONSENTIMENTO GENÉRICO (CHAMADO DE BLANKET CONSENT) NÃO É SUFICIENTE, devendo ser feito de 
forma específica para aquele tratamento claramente individualizado. 
 
*Súmula nova! Súmula 616-STJ: A indenização securitária é devida quando ausente a comunicação prévia do 
segurado acerca do atraso no pagamento do prêmio, por constituir requisito essencial para a suspensão ou 
resolução do contrato de seguro. 
 
2019 | VUNESP | TJ-AC | Juiz de Direito Substituto 
Almerinda da Silva foi a uma loja de eletrodomésticos e comprou um smartphone importado. Ao chegar em 
casa verificou que o manual de instruções estava redigido em inglês e por não conhecer a língua, não 
conseguiu sequer ligar o aparelho. Essa situação indica a violação do seguinte direito básico do consumidor, 
nos termos do CDC: 
A) Educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços, assegurando liberdade de 
escolha. 
B) Proteção contra a publicidade enganosa e abusiva no fornecimento de produtos e serviços. 
C) Efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais. 
D) Informação adequada e clara sobre diferentes produtos e serviços. 
 
1.4. Proteção contra publicidade enganosa ou abusiva: 
 
IV - a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem 
como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços; 
 
Essa proteção é tratada, especificamente, pelo art. 30, do CDC, quando atribui à oferta o caráter vinculativo, 
e nós vamos aprofundar esse tema quando estudarmos as “Práticas Comerciais”, em aula oportuna. 
 
Por ora, saibam que toda informação ou publicidade, suficientemente precisa, veiculada por qualquer forma 
ou meio de comunicação com relação a produtos e serviços oferecidos ou apresentados, obriga o fornecedor 
que a fizer veicular ou dela se utilizar e integra o contrato que vier a ser celebrado. 
 
Outrossim, a oferta, por si só, já é suficiente para criar um vínculo entre fornecedor e consumidor, surgindo 
uma OBRIGAÇÃO PRÉ-CONTRATUAL (princípio da vinculação contratual da publicidade). Uma vez feita a 
oferta, não será possível revogá-la,pois o vínculo já foi estabelecido. 
 
1.5. Proteção em face de cláusulas abusivas: 
 
V - a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão 
em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas; → Teoria da base objetiva do 
negócio jurídico. 
 
Esse tema das cláusulas abusivas também será objeto de análise em aula específica. 
 
A lesão se verifica em decorrência da quebra do sinalagma genérico da relação contratual, pois se afere um 
desequilíbrio desde a formação do contrato. Para aplicar o instituto, basta prova da quebra da 
comutatividade, não sendo necessária a demonstração de necessidade ou inexperiência do consumidor (pois 
o consumidor já é vulnerável). 
 
 O CDC adotou a teoria do rompimento da base objetiva do negócio jurídico. Portanto, não é necessário que 
o evento seja imprevisível. Não interessa se o fato era imprevisível, o que realmente interessa é se o fato 
alterou objetivamente as bases pelas quais as partes contrataram. 
 
TEORIA DA IMPREVISÃO 
TEORIA DA BASE OBJETIVA DO NEGÓCIO 
JURÍDICO 
Surgida na França, na 1º GM. Surgida na Alemanha, na 1ª GM → Karl Lorenz. 
É uma teoria subjetiva. É uma teoria objetiva. 
Prevista nos arts. 317 e 478, CC. Prevista no art. 6º, CDC. 
Exige a imprevisibilidade e a extraordinariedade do 
fato superveniente. 
 
Art. 317. Quando, por motivos imprevisíveis, 
sobrevier desproporção manifesta entre o valor da 
prestação devida e o do momento de sua execução, 
poderá o juiz corrigi-lo, a pedido da parte, de modo 
que assegure, quanto possível, o valor real da 
prestação. 
 
Art. 478. Nos contratos de execução continuada ou 
diferida, se a prestação de uma das partes se tornar 
excessivamente onerosa, com extrema vantagem 
para a outra, em virtude de acontecimentos 
extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor 
pedir a resolução do contrato. Os efeitos da 
sentença que a decretar retroagirão à data da 
citação. 
Dispensa a imprevisibilidade e o caráter 
extraordinário dos fatos supervenientes. Somente 
exige um fato superveniente que rompa a base 
objetiva (basta a onerosidade excessiva). 
 
Art. 6º São direitos básicos do consumidor: V - a 
modificação das cláusulas contratuais que 
estabeleçam prestações desproporcionais ou sua 
revisão em razão de fatos supervenientes que as 
tornem excessivamente onerosas; → Não precisam 
ser fatos imprevisíveis ou extraordinários. 
Exige a extrema vantagem para o credor. Não exige a extrema vantagem para o credor. 
IMPREVISIBILIDADE + EXTRAORDINARIEDADE + 
EXTREMA VANTAGEM 
SÓ ONEROSIDADE EXCESSIVA POR FATO 
SUPERVENIENTE 
Implica a resolução (revisão somente com a 
voluntariedade do credor) 
Implica a revisão (resolução somente quando não 
houver possibilidade de revisão) → Princípio da 
conservação dos contratos 
 
1.6. Prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou difusos: 
 
VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos; 
 
É possível perceber que o Código preocupou-se em proteger o consumidor preventivamente, “nas atitudes 
que as próprias empresas fornecedoras de produtos e serviços devem ter para que não ocorram danos. Isto 
é, ocorre não somente reparação, mas preferencialmente a prevenção. 
 
A proteção legal engloba não apenas os danos individuais, mas, também, os coletivos e difusos, donde a 
relevância das ações coletivas previstas no Código (art. 81). Coletivos são os direitos indetermináveis em 
relação aos titulares, ligados entre si por circunstâncias de fato; individuais homogêneos, por sua vez, são 
aqueles decorrentes de origem comum (art. 81, parágrafo único, I e II). Esse tema também será aprofundado 
quando estudarmos a “Defesa do Consumidor em Juízo”. 
 
1.6.1. Dano moral individual: 
 
Art. 5º, V, CF - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano 
material, moral ou à imagem; 
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a 
indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação; 
 
Art. 186, CC. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar 
dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. 
 
Embora seja objeto de questionamento, o STF e o STJ utilizam, na aplicação do dano moral, a função punitiva 
– compensatória. De um lado, buscam compensar a dor da vítima; de outro, punir o ofensor de modo a servir 
de desestímulo a práticas semelhantes. 
 
De modo geral, são três os critérios avaliados na quantificação do dano moral: 
 
1. Grau de culpa do ofensor; 
2. Gravidade e repercussão da ofensa; e 
3. Situação econômica do ofensor e do ofendido. 
 
*IMPORTANTE! TEMA CONTROVERTIDO NO STJ: A aquisição de produto de gênero alimentício contendo em 
seu interior corpo estranho, expondo o consumidor à risco concreto de lesão à sua saúde e segurança, ainda 
que não ocorra a ingestão de seu conteúdo, dá direito à compensação por dano moral, dada a ofensa ao 
direito fundamental à alimentação adequada, corolário do princípio da dignidade da pessoa humana. O 
simples ato de “levar à boca” o alimento industrializado com corpo estranho gera dano moral in re ipsa, 
independentemente de sua ingestão. Nesse sentido: STJ. 3ª Turma. REsp 1.644.405-RS, Rel. Min. Nancy 
Andrighi, julgado em 09/11/2017 (Info 616). 
 
A jurisprudência é dividida sobre o tema. Uma corrente entende que deve haver ingestão do corpo estranho, 
pois, caso contrário, trata-se de mero dissabor do cotidiano. Já outra corrente entende que a disponibilização 
de produto considerado impróprio para consumo em virtude da presença de objeto estranho no seu interior 
afeta a segurança que rege as relações consumeristas na medida que expõe o consumidor a risco de lesão à 
sua saúde e segurança. Podemos sintetizar da seguinte forma: parece pacífico que a condenação em danos 
morais é devida quando há efetiva ingestão do corpo estranho. A controvérsia fica, porém, para os casos em 
que o alimento não é ingerido. 
 
*CONTROVÉRSIA: Para ocorrer indenização por danos morais em função do encontro de corpo estranho em 
alimento industrializado, é necessária a sua ingestão? → DIVERGÊNCIA DE TURMAS. 
SIM. Só há danos morais se consumir o corpo estranho. Vale ressaltar que, para gerar danos morais, a 
ingestão pode ser apenas parcial. Posição da 4ª Turma do STJ. STJ. 4ª Turma. AgRg no AREsp 489.030/SP, Rel. 
Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 16/04/2015. STJ. 4ª Turma. AgInt no AREsp 1299401/SP, Rel. Min. Raul 
Araújo, julgado em 12/02/2019. 
NÃO. A simples comercialização de alimento industrializado contendo corpo estranho é suficiente para 
configuração do dano moral. Posição da 3ª Turma do STJ. STJ. 3ª Turma. REsp 1828026/SP, Rel. Min. Nancy 
Andrighi, julgado em 10/09/2019 (Info 656). 
 
1.6.2. Dano moral coletivo: 
 
Configura dano moral coletivo a injusta lesão à esfera moral de certa comunidade. É a violação a determinado 
círculo de valores coletivos. 
 
Boa parte da doutrina defende a condenação por dano moral coletivo, mas a tese que defende sua 
inexistência vinha prevalecendo no STJ. Em caso envolvendo dano moral em virtude de degradação 
ambiental, o tribunal superior considerou que a vítima do dano moral é, necessariamente, uma pessoa, 
concluindo que não parece ser compatível com o dano moral a ideia de transindividualidade (REsp 
598281/MG, 2006). Atualmente, no entanto, o STJ vem aceitando amplamente o dano moral coletivo, 
havendo precedentes das 4 Turmas. 
 
O dano moral coletivo está expressamente previsto no CDC: Art. 6º, VI - a efetiva prevenção e reparação de 
danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos; → O CDC é a primeira norma do Brasil a tratar 
expressamente sobre dano moral coletivo. 
 
O STJ entende que odano moral coletivo é categoria autônoma de dano que não se identifica com aqueles 
tradicionais atributos da pessoa humana (dor, sofrimento, abalo psíquico), mas com violação injusta e 
intolerável de valores fundamentais titularizados pela coletividade (REsp 1586515/RS). 
 
*A conduta de emissora de televisão que exibe quadro que, potencialmente, poderia criar situações 
discriminatórias, vexatórias, humilhantes às crianças e aos adolescentes configura lesão ao direito 
transindividual da coletividade e dá ensejo à indenização por dano moral coletivo. STJ. 4ª Turma. REsp 
1.517.973-PE, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 16/11/2017 (Info 618). 
 
O caso: existia um programa de TV local no qual o apresentador abria ao vivo testes de DNA e acabava 
expondo as crianças e adolescentes ao ridículo, especialmente quando o resultado do exame era negativo. 
As crianças e adolescentes não participavam do programa, apenas seus pais. No entanto, o apresentador 
utilizava expressões jocosas e depreciativas em relação à concepção dos menores. 
 
Exemplos de dano moral coletivo: 
1. Instituição bancária que constantemente demora de forma excessiva no atendimento ao consumidor 
(STJ. 2ª Turma. REsp 1.402.475/SE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 09/05/2017). 
2. Instituição financeira que não fornecia opções dos contratos bancários em braile para as pessoas com 
deficiência visual (STJ. 4ª Turma. REsp 1.349.188/RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 
10/05/2016). 
3. Instituição financeira que oferece, em sua agência, atendimento inadequado aos consumidores idosos, 
deficientes físicos e com dificuldade de locomoção (STJ. 3ª Turma. REsp 1.221.756-RJ, Rel. Min. Massami 
Uyeda, julgado em 2/2/2012). 
4. Posto de gasolina que pratica “infidelidade de bandeira”, ou seja, que ostenta marca comercial de uma 
distribuidora (ex: Petrobrás), mas vende combustível de outras (STJ. 4ª Turma. REsp 1.487.046/MT, Rel. 
Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 28/03/2017). 
5. Prática de venda casada por parte de operadora de telefonia celular (STJ. 2ª Turma. REsp 1.397.870-MG, 
Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 2/12/2014). 
6. Empreendimento que oferecia, de forma ilegal, videobingos e caça-níqueis (STJ. 2ª Turma. REsp 
1464868/SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 22/11/2016). 
 
 
 
SÚMULAS DO STJ SOBRE DANO MORAL 
Súmula 420-STJ: Incabível, em embargos de divergência, discutir o valor de indenização por danos morais. 
Súmula 402-STJ: O contrato de seguro por danos pessoais compreende danos morais, salvo cláusula 
expressa de exclusão. 
Súmula 388-STJ: A simples devolução indevida de cheque caracteriza dano moral. 
Súmula 387-STJ: É lícita a cumulação das indenizações de dano estético e dano moral. 
Súmula 385-STJ: Da anotação irregular em cadastro de proteção ao crédito, não cabe indenização por dano 
moral, quando preexistente legítima inscrição, ressalvado o direito ao cancelamento. 
Súmula 370-STJ: Caracteriza dano moral a apresentação antecipada de cheque pré-datado. 
Súmula 362-STJ: A correção monetária do valor da indenização do dano moral incide desde a data do 
arbitramento. → CORREÇÃO MONETÁRIA = DESDE O ARBITRAMENTO. 
Súmula 326-ST: Na ação de indenização por dano moral, a condenação em montante inferior ao postulado 
na inicial não implica sucumbência recíproca. 
Súmula 281-STJ: A indenização por dano moral não está sujeita à tarifação prevista na lei de imprensa. 
Súmula 227-STJ: A pessoa jurídica pode sofrer dano moral. 
Súmula 37-STJ: São cumuláveis as indenizações por dano material e dano moral oriundos do mesmo fato. 
Súmula 532-STJ: Constitui prática comercial abusiva o envio de cartão de crédito sem prévia e expressa 
solicitação do consumidor, configurando-se ato ilícito indenizável e sujeito à aplicação de multa 
administrativa. 
 
 
 
1.7. Acesso à justiça: 
 
1.7.1. Acesso aos órgãos judiciários e administrativos: 
 
VII - o acesso aos órgãos judiciários e administrativos com vistas à prevenção ou reparação de danos 
patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou difusos, assegurada a proteção Jurídica, administrativa e 
técnica aos necessitados; 
 
A fim de viabilizar a ampla proteção do consumidor, nas esferas administrativa e judicial, é assegurado o seu 
acesso aos órgãos judiciários e administrativos (tais como os Procons). Essa facilitação engloba a isenção de 
taxas e custas, atendimento preferencial etc. 
 
1.7.2. Inversão do ônus da prova: 
 
VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no 
processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo 
as regras ordinárias de experiências; 
 
Requisitos 
 
Quando for verossímil a alegação ou quando o consumidor for hipossuficiente. A inversão do ônus da prova, 
portanto, não é automática, já que deve o juiz devidamente justificar se estão presentes os pressupostos da 
referida norma para, aí sim deferir a inversão da prova. → Inversão ope judicis. 
 
A inversão pode ser concedida de ofício o a requerimento da parte. 
 
INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA OPE JUDICIS INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA OPE LEGIS 
VEROSSIMILHANÇA ou HIPOSSUFICIÊNCIA 
Art. 6º, VIII - a facilitação da defesa de seus 
direitos, inclusive com a inversão do ônus da 
prova, a seu favor, no processo civil, quando, a 
critério do juiz, for verossímil a alegação ou 
quando for ele hipossuficiente, segundo as regras 
ordinárias de experiências; 
Arts. 12, §3º, e 14, §3º: O fornecedor deve provar as 
excludentes de responsabilidade no fato do produto 
e do serviço. 
Art. 38: Quem patrocina a publicidade deve provar a 
veracidade das informações veiculadas. 
 
TODO CONSUMIDOR É VULNERÁVEL, MAS NEM TODO CONSUMIDOR É HIPOSSUFICIENTE. 
 
VULNERABILIDADE HIPOSSUFICIÊNCIA 
Conceito de DIREITO MATERIAL. 
Conceito de DIREITO PROCESSUAL. → Inversão do 
ônus da prova. 
PRESUNÇÃO ABSOLUTA: o consumidor é a parte 
vulnerável na relação de consumo. 
PRESUNÇÃO RELATIVA: precisa ser comprovada no 
caso concreto diante do juiz. 
Jure et de jure Juris tantum 
 
A inversão do ônus da prova é REGRA DE INSTRUÇÃO: a decisão que determina a inversão do ônus da prova 
deve ser proferida na FASE DE SANEAMENTO ou, pelo menos, assegurar à parte a quem não incumbia 
inicialmente o encargo a reabertura de oportunidade para manifestar-se nos autos. 
 
Mas vejam que ainda que se aplique a inversão do ônus da prova, tal fato não exonera o autor do ônus de 
apresentar alguma evidência do fato constitutivo do seu direito. O STJ já se manifestou no sentido de que “a 
facilitação da defesa dos direitos do consumidor não significa facilitar a procedência do pedido por ele 
deduzido, devendo-se ter em vista que o dispositivo do CDC visa transferir o ônus da prova à parte contrária 
quando houver verossimilhança na alegação do consumidor e hipossuficiência técnica e informacional deste 
frente ao outro litigante” (AgRg no REsp 1335475/RJ). 
 
O CDC adotou a regra da distribuição dinâmica do ônus da prova, uma vez que o magistrado tem o poder 
de redistribuição (inversão) do ônus probatório, caso verificada a verossimilhança da alegação ou a 
hipossuficiência do consumidor. O CPC/73, ao contrário, adotava a regra da distribuição estática (autor prova 
fato constitutivo do seu direito e o réu prova fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor). 
 
O cotidiano forense demonstrou, ao longo dos anos, que as regras de distribuição estática do ônus da prova 
previamente estabelecidas em lei não eram suficientes ou adequadas para solucionar todas as situações 
fáticas. Diante disso, chegou-se à conclusão de que seria necessária a criação de algumas regras de 
distribuição do ônus da prova diferentes daquelas pré-determinadas pela lei. Surgiu, assim, o consenso de 
que, em determinados casos, haveria a necessidade de modificar (redistribuir,inverter) as regras gerais do 
ônus da prova. O CPC denomina isso de “distribuição diversa do ônus da prova”. Na prática, é mais comum 
falarmos em inversão do ônus da prova. A inversão do ônus da prova consiste, portanto, em modificar, em 
determinados casos excepcionais, as regras gerais do ônus da prova, que são previstas nos incisos do art. 373 
do CPC. Essa distribuição diversa pode ser decorrente de acordo entre as partes, da lei ou de decisão judicial. 
 
Art. 373, CPC. O ônus da prova incumbe: 
I - ao autor, quanto ao fato constitutivo de seu direito; 
II - ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor. 
 
Assim, temos três espécies de inversão do ônus da prova: 
a) Convencional; 
b) Legal; 
c) Judicial. 
 
Inversão CONVENCIONAL do ônus da prova 
Ocorre quando as partes combinam entre si que não seguirão as regras gerais dos incisos do art. 373, 
adotando um outro arranjo. É um exemplo de negócio jurídico processual. Trata-se de hipótese de difícil 
ocorrência na prática, mas que é prevista no § 3º do art. 373 do CPC. Em regra, a lei admite a distribuição 
diversa do ônus da prova por convenção das partes. Existem, contudo, três exceções. Assim, não cabe a 
inversão convencional do ônus da prova quando: 
a) Recair sobre direito indisponível da parte; 
b) Tornar excessivamente difícil a uma parte o exercício do direito. → Prova diabólica. 
c) A inversão for estabelecida em detrimento do consumidor (art. 51, VI, do CDC). 
 
Inversão LEGAL do ônus da prova 
Também chamada de INVERSÃO OPE LEGIS do ônus da prova. Ocorre quando a lei determina que, em certas 
situações, haverá uma regra de ônus da prova diferente do art. 373 do CPC. São, portanto, exceções criadas 
pelo legislador à regra geral do art. 373 do CPC. Na inversão legal do ônus da prova, a lei cria uma presunção 
relativa de determinado fato. É o que acontece no art. 12, § 3º, no art. 14, § 3º e no art. 38, todos do CDC: 
 
Art. 12, § 3º - O fabricante, o construtor, o produtor ou importador só não será responsabilizado quando 
provar: 
I - que não colocou o produto no mercado; 
II - que, embora haja colocado o produto no mercado, o defeito inexiste; 
III - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro. 
 
Art. 14, § 3º - O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar: 
I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste; 
II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro. 
 
Art. 38. O ônus da prova da veracidade e correção da informação ou comunicação publicitária cabe a quem 
as patrocina. 
 
Inversão JUDICIAL do ônus da prova (distribuição do ônus da prova feita pelo juiz) 
Ocorre quando o juiz, diante das peculiaridades do caso concreto, altera a regra geral prevista nos incisos do 
art. 373 do CPC. A redistribuição judicial do ônus da prova pode ser feita a requerimento da parte ou até 
mesmo de ofício. 
 
Inversão judicial do ônus da prova no CPC/2015 
Encontra-se disciplinada nos §§ 1º e 2º do art. 373. 
 
Art. 373, § 1º Nos casos previstos em lei ou diante de peculiaridades da causa relacionadas à impossibilidade 
ou à excessiva dificuldade de cumprir o encargo nos termos do caput ou à maior facilidade de obtenção da 
prova do fato contrário, poderá o juiz atribuir o ônus da prova de modo diverso, desde que o faça por decisão 
fundamentada, caso em que deverá dar à parte a oportunidade de se desincumbir do ônus que lhe foi 
atribuído. 
§ 2º A decisão prevista no § 1º deste artigo não pode gerar situação em que a desincumbência do encargo 
pela parte seja impossível ou excessivamente difícil. 
 
Vejamos, de forma organizada, o que dizem esses dois dispositivos. O juiz poderá atribuir o ônus da prova de 
modo diferente da regra geral prevista no caput do art. 373 em três situações: 
1. Nos casos previstos em lei. Ex: art. 6º, VIII, do CDC. 
2. Quando for impossível ou extremamente difícil cumprir o encargo previsto no caput do art. 373. 
 
Trata-se da inversão do ônus da prova para evitar que a parte tenha que produzir uma prova unilateralmente 
diabólica. Em outras palavras, quando a regra geral do caput do art. 373 exigir que a parte faça uma prova 
diabólica, o juiz deverá inverter o ônus. Obs.: a decisão de inversão não pode gerar situação em que a 
desincumbência do encargo pela parte seja impossível ou excessivamente difícil. Em outras palavras, a 
inversão não pode gerar para a parte que recebeu esse ônus a tarefa de produzir uma prova diabólica. Não 
se pode simplesmente transferir a prova diabólica de uma parte para a outra. Não se admite a inversão do 
ônus em caso de prova duplamente diabólica (§ 2º do art. 373 do CPC). 
 
3. Quando a inversão gerar maior facilidade de obtenção da prova do fato contrário. Ex: o autor alega 
determinado fato; pela regra geral, caberia a ele o ônus de provar esse fato; no entanto, as 
peculiaridades do caso concreto revelam que é muito mais fácil para o réu trazer essa prova. Nesta 
hipótese seria possível a inversão. 
 
A lei exige que essa inversão seja feita por decisão fundamentada do magistrado. Além disso, a decisão que 
determina a inversão deve ser proferida antes da sentença, em um momento processual no qual se permita 
que a parte possa se desincumbir do ônus que lhe foi atribuído. Pela sua importância, vale a pena ler os 
dispositivos do CPC: 
 
Obs.: este § 1º do art. 373 do CPC/2015 adotou a teoria da distribuição dinâmica do ônus da prova. Assim, o 
caput traz a teoria estática e o § 1º a teoria dinâmica. 
Obs.: a doutrina afirma que o § 2º do art. 373 do CPC traz a proibição de a redistribuição implicar prova 
diabólica reversa, ou seja, a inversão do ônus da prova “não pode implicar uma situação que torne impossível 
ou excessivamente oneroso à parte arcar com o encargo que acabou de receber”. (DIDIER JR. Fredie; BRAGA, 
Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael. Curso de Direito Processual Civil. v. 2. Salvador: Juspodivm, 2019, p. 148). 
 
 
Inversão do ônus da prova no CDC 
Ope judicis Ope legis 
Art. 6º, VIII 
Art. 12, § 3º, II 
Art. 14, § 3º, I 
Art. 38 
 
Art. 12, § 3º O fabricante, o construtor, o produtor ou importador só não será responsabilizado quando 
provar: 
II - que, embora haja colocado o produto no mercado, o defeito inexiste; → Inversão ope legis. 
 
Art. 14, § 3º O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar: 
I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste; → Inversão ope legis. 
II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro. 
 
Art. 38. O ônus da prova da veracidade e correção da informação ou comunicação publicitária cabe a quem 
as patrocina. → Inversão ope legis. 
 
Nós veremos todos esses artigos novamente de forma aprofundada quando estudarmos a responsabilidade 
por fato/vício do produto/serviço, em aula oportuna. 
 
1.7.2.1. Inversão do ônus da prova nas ações coletivas: 
 
A inversão do ônus da prova é um direito básico dos consumidores e pode ser exercido tanto em ações 
individuais, quanto em ações coletivas de que cuida a Lei nº 8.078/90. 
 
*Trata-se, na origem, de ação civil pública (ACP) interposta pelo MP a fim de pleitear que o banco seja 
condenado a não cobrar pelo serviço ou excluir o extrato consolidado que forneceu a todos os clientes sem 
prévia solicitação, devolvendo, em dobro, o que foi cobrado. A Turma entendeu que, na ACP com cunho 
consumerista, pode haver inversão do ônus da prova em favor do MP. Tal entendimento busca facilitar a 
defesa da coletividade de indivíduos que o CDC chamou de consumidores (art. 81 do referido código). O 
termo "consumidor", previsto no art. 6º do CDC, não pode ser entendido apenas como parte processual, mas 
sim como parte material da relação jurídica extraprocessual, ou seja, a parte envolvida na relação de direito 
material consumerista - na verdade, o destinatário do propósito protetor da norma. REsp 951.785-RS, Rel. 
Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 15/2/2011(Info 463). 
 
*NOVIDADE LEGISLATIVA! → A Lei de Proteção de Dados Pessoais (Lei nº 13.709/2018) também estabeleceu 
a possibilidade de inversão do ônus da prova: Art. 42, § 2º O juiz, no processo civil, poderá inverter o ônus 
da prova a favor do titular dos dados quando, a seu juízo, for verossímil a alegação, houver hipossuficiência 
para fins de produção de prova ou quando a produção de prova pelo titular resultar-lhe excessivamente 
onerosa. 
 
*LGP: 
1. Verossímil a alegação; E 
2. Hipossuficiência; OU 
3. A produção da prova resultar-lhe excessivamente onerosa. 
 
Qual o fundamento da inversão do ônus da prova? A facilitação da defesa do consumidor em juízo. 
 
1.8. Serviços públicos adequados e eficazes: 
 
X - a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral. 
 
Trata-se, com efeito, do princípio da eficiência, disposto no caput do art. 37, da Constituição Federal, 
segundo o qual se espera o melhor desempenho possível do Poder Público quanto às suas atribuições, para 
que logre os melhores resultados. O entendimento majoritário é o de que o CDC se aplica aos serviços 
públicos uti singuli (singulares). 
 
Serviços públicos uti singuli “são os que têm usuários determinados e utilização particular e mensurável para 
cada destinatário, como ocorre com o telefone, a água e a energia elétrica domiciliares.” (MEIRELLES, Hely 
Lopes. Direito administrativo brasileiro. São Paulo: Malheiros, 2007). 
 
2. Art. 7º: 
 
Art. 7º Os direitos previstos neste código não excluem outros decorrentes de tratados ou convenções 
internacionais de que o Brasil seja signatário, da legislação interna ordinária, de regulamentos expedidos 
pelas autoridades administrativas competentes, bem como dos que derivem dos princípios gerais do direito, 
analogia, costumes e equidade. 
Parágrafo único. Tendo mais de um autor a ofensa, todos responderão solidariamente pela reparação dos 
danos previstos nas normas de consumo. → RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA. 
 
Os direitos do CDC não são taxativos. Isso deriva da teoria do diálogo das fontes. Essa teoria proporciona a 
conexão intersistemática existente entre o CDC e outros diplomas legais, mais especificamente o CC de 2002, 
em decorrência da forte aproximação principiológica entre ambos, buscando sempre ampliar os benefícios 
e amparar o consumidor. 
 
Segundo Cláudia Lima Marques são três os tipos de diálogos possíveis entre o CC e o CDC: 
 
i. Aplicação simultânea das duas leis (diálogo sistemático de coerência): uma lei pode servir de base 
conceitual para a outra, especialmente se uma lei é geral e outra especial, se uma lei é central do 
sistema e a outra um microssistema específico (não completo materialmente); 
ii. Aplicação coordenada das duas leis (diálogo sistemática de complementariedade e subsidiariedade 
em antinomias aparentes ou reais): uma lei pode complementar a aplicação de outra, a depender de 
seu campo de aplicação no caso concreto, a indicar a aplicação complementar tanto de suas normas, 
quando de seus princípios, no que couber, no que for necessário, ou subsidiariamente; 
iii. Influências recíprocas (diálogo de coordenação e adaptação sistemática): como no caso de possível 
redefinição do campo de aplicação da lei. Assim, por exemplo, a definição de consumidor stricto 
sensu e de consumidor equiparado podem sofrer influências finalísticas do CC, tendo em vista que 
este regula relações entre iguais (dois iguais consumidores ou dois iguais fornecedores entre si). É a 
influência do sistema especial no geral e do geral no especial, em um diálogo em duplo sentido. 
 
4. Referências: 
 
Doutrina-base 
ANDRADE, Adriano; MASSON, Cleber; ANDRADE, Landolfo. Interesses difusos e 
coletivos. v. 1. 10. ed. São Paulo, Método, 2020. 
GARCIA, Leonardo de Medeiros. Direito do consumidor. 13. ed. rev. e ampl. 
Salvador: JusPodivm, 2019. 
MARQUES, Claudia Lima. Manual de direito do consumidor. 2. ed. rev., atual. e 
ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2009. 
TARTUCE, Flávio; NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de direito do 
consumidor: direito material e processual. 7. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de 
Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2018. 
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Direitos do consumidor. 9. ed. ref., rev. e atual. – 
Rio de Janeiro: Forense, 2017. 
Dispositivos legais Arts. 6º e 7º, CDC. 
Jurisprudências Dizer o Direito 
 
https://www.dizerodireito.com.br/

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