Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Proliferação Celular câncer de COLO UTERINO ANATOHISTOLOGICAMENTE Anatomicamente, o colo uterino compreende a porção vaginal externa (ectocérvice) e o canal endocervical. ● A ectocérvice é visível no exame vaginal e é coberta por um epitélio escamoso contínuo com a parede vaginal. ○ O epitélio escamoso converge centralmente em uma pequena abertura chamada de orifício externo, que se continua com o canal endocervical. ● A endocérvice é revestida por um epitélio colunar secretor de muco. ○ O ponto onde o epitélio escamoso e o colunar se encontram é chamado de junção escamocolunar. ○ A posição da junção varia e muda com a idade e a influência hormonal, mas em geral a junção sobe ao longo do canal endocervical com o tempo. ■ A substituição do epitélio glandular pelo avanço do epitélio escamoso é um processo chamado de metaplasia escamosa. ○ A área do colo uterino onde o epitélio toca o epitélio escamoso é chamada de “zona de transformação”. ○ O ambiente epitelial singular do colo uterino o faz altamente suscetível a infecções com HPV, a principal causa de câncer do colo uterino. ○ As células epiteliais metaplásicas escamosas imaturas na zona de transformação são mais suscetíveis à infecção por HPV, e como resultado disso, é onde se desenvolvem as lesões e cânceres precursores cervicais. Larissa Moitinho EPIDEMIOLOGIA O Instituto Nacional de Câncer (INCA) estima que para cada ano do triênio 2020/2022, sejam diagnosticados 16.590 novos casos de câncer de colo do útero no Brasil, com um risco estimado de 15,43 casos a cada 100 mil mulheres, ocupando a terceira posição. ➔ Os pré-cânceres de colo do útero são diagnosticados com muito mais frequência do que o câncer de colo do útero invasivo. ➔ O câncer de colo do útero foi uma das causas mais frequentes de morte por câncer em mulheres. A taxa de mortalidade por câncer de colo do útero caiu significativamente com o aumento do rastreamento da doença através do exame de Papanicolaou. Mas isso não mudou muito nos últimos 10 anos. O câncer de colo do útero pode ser diagnosticado em mulheres com idade entre 35 e 44 anos, sendo que a idade média no momento do diagnóstico é aos 50 anos. ➔ Raramente se desenvolve em mulheres com menos de 20 anos. Muitas mulheres mais velhas não percebem que o risco de desenvolver câncer de colo do útero ainda está presente à medida que envelhecem. ➔ Mais de 20% dos casos de câncer de colo do útero são diagnosticados em mulheres com mais de 65 anos. No entanto, esses cânceres raramente ocorrem em mulheres que realizam exames regulares de rastreamento para câncer de colo do útero antes dos 65 anos. Nenhum outro tipo de câncer mostra de forma tão marcante os notáveis efeitos da triagem, o diagnóstico precoce e a terapia curativa do que o câncer do colo uterino. ● Muito do crédito por esses ganhos acentuados pertence à eficiência do exame de Papanicolaou em detectar lesões precursoras, algumas das quais teriam evoluído se não tivessem sido tratadas; além disso, o exame de Papanicolaou também pode detectar cânceres em estágios iniciais, altamente curáveis. ➔ A acessibilidade do colo uterino ao exame de Papanicolaou e ao exame visual (colposcopia), além da lenta progressão a partir de lesões precursoras até o carcinoma invasor (tipicamente ao longo dos anos), fornece tempo amplo para triagem, detecção e tratamento preventivo. ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA As HPVs de alto risco são de longe o fator mais importante no desenvolvimento do câncer de colo uterino. Larissa Moitinho ➔ Os HPVs são vírus DNA cujos tipos são determinados com base nas sequências de DNA, e agrupados conforme possuam alto ou baixo risco oncogênico. ➔ Há 15 HPVs de alto risco atualmente identificados, mas o HPV-16 sozinho representa quase 60% dos casos de câncer cervical, e o HPV-18, outros 10% dos casos; outros tipos de HPV contribuem individualmente para menos do que 5% dos casos. ➔ Os HPVs de alto risco também estão associados nos carcinomas de células escamosas que surgem em muitos outros locais, incluindo a vagina, a vulva, o pênis, ânus, tonsilas palatinas e outros locais da orofaringe. Conforme mostrado anteriormente, as HPVs de baixo risco oncogênico são a causa das verrugas vulvares, perineais e perianais transmitidas sexualmente (condiloma acuminado). ● As infecções genitais por HPV são extremamente comuns; a maioria é assintomática e não causa qualquer alteração do tecido, não sendo, consequentemente, detectadas no teste de Papanicolaou. A prevalência do HPV nos esfregaços cervicais em mulheres com resultados normais no exame de Papanicolaou tem seu pico entre as idades de 20 e 24 anos, uma relação que tem conexão com o início da atividade sexual, enquanto a subsequente diminuição na prevalência reflete a aquisição de imunidade e a preferência por relações monogâmicas com a idade. A maioria das infecções por HPV é transitória e eliminada pela resposta imunológica no decorrer de meses. ➔ Em média, 50% das infecções por HPV são eliminadas dentro de 8 meses e 90% são eliminadas dentro de 2 anos. A duração da infecção é relacionada ao tipo de HPV; em média, as infecções com alto risco de HPV duram mais que as infecções com HPVs de baixo risco oncogênico (13 meses contra 8 meses, respectivamente). ➔ A infecção persistente aumenta o risco de desenvolvimento das lesões precursoras do colo uterino e do carcinoma subsequente. Os HPVs infectam as células basais imaturas do epitélio escamoso em áreas de ruptura epitelial ou células escamosas metaplásicas imaturas presentes na junção escamocolunar. ➔ Os HPVs não infectam as células superficiais escamosas maduras que recobrem a ectocérvice, a vagina e a vulva. ➔ O estabelecimento da infecção por HPV nesses locais requer lesão do epitélio superficial, permitindo o acesso do vírus às células imaturas da camada basal do epitélio. O colo uterino, com suas áreas relativamente grandes de epitélio escamoso metaplásico imaturo, é particularmente vulnerável à infecção por HPV, quando comparado, por exemplo, com a pele e a mucosa da vulva, que são Larissa Moitinho recobertas por células escamosas maduras. ➔ Essa diferença na suscetibilidade epitelial à infecção por HPV explica a acentuada diferença na incidência de cânceres relacionados a HPV originados em diferentes locais, e explica a altafrequência de câncer cervical em mulheres ou câncer anal em homens homossexuais, e a frequência relativamente baixa de cânceres vulvar e peniano. A capacidade de o HPV agir como carcinógeno depende das proteínas virais E6 e E7, que interferem na atividade das proteínas supressoras de tumores, que regulam o crescimento e a sobrevivência das células. ➔ Embora o HPV infecte as células escamosas imaturas, a replicação viral ocorre durante a maturação das células escamosas. Normalmente, essas células mais maduras são detidas na fase G1 do ciclo celular, mas elas continuam a progredir ativamente através do ciclo celular ao serem infectadas com o HPV, que usa maquinaria de síntese de DNA da célula hospedeira para replicar seu próprio genoma. ➔ A proteína viral E7 se liga à forma hipofosforilada (ativa) do RB e promove sua degradação através da via do proteossomo, e também se liga e inibe o p21 e p27, dois inibidores de cinase dependentes de ciclina. ➔ A remoção desses controles não somente aumenta a progressão do ciclo celular, mas também atrapalha a capacidade das células de reparar o dano ao DNA. ➔ Esse defeito na reparação do DNA é exacerbado pelas proteínas virais E6 dos subtipos de alto risco ao HPV, que se ligam à proteína supressora de tumores p53 e promovem sua degradação pela proteossomo. ➔ Além disso, a E6 aumenta a expressão da telomerase, que leva à “imortalização” celular. O efeito prático é o aumento da proliferação das células com propensão a adquirir mutações que podem resultar no desenvolvimento de câncer. Em contraste com os HPVs de alto risco, as proteínas E7 com baixo risco de HPV se ligam ao RB com baixa afinidade, enquanto as proteínas E6 de HPV de baixo risco não conseguem se ligar completamente à p53, e parecem desregular o crescimento e sobrevivência ao interferir com a via de sinalização Notch. Outro fator que contribui para a transformação maligna pelo HPV é o estado físico do vírus. ➔ O DNA viral está integrado no genoma da célula hospedeira na maioria dos cânceres. ➔ Essa configuração aumenta a expressão dos genes E6 e E7, e também pode desregular os oncogenes próximos aos locais de inserção viral, como o MYC. Em contraste, o DNA viral é extracromossômico (epissomal) nas Larissa Moitinho lesões precursoras associadas com os HPVs de alto risco e nos condilomas associados com os HPVs de baixo risco. ➔ Ainda que o HPV tenha sido estabelecido firmemente como uma causa habitual de câncer cervical, não é suficiente para causar câncer. ● Essa conclusão é apoiada pelo fato de que uma alta porcentagem de mulheres jovens é infectada por um ou mais tipos de HPV durante seus anos reprodutivos, mas apenas algumas desenvolvem câncer. Dessa forma, outros fatores como a exposição a cocarcinógenos e o estado imune do hospedeiro influenciam se uma infecção por HPV regride ou persiste, e, enfim, evolui para um câncer. TIPOS Neoplasia Intraepitelial Cervical (Lesões Intraepiteliais Escamosas) A classificação de lesões precursoras cervicais evoluiu ao longo do tempo e os termos de diferentes sistemas de classificação atualmente são usados de modo intercambiável. Portanto, se justifica uma breve revisão da terminologia. ● O sistema de classificação mais antigo classificava as lesões como apresentando displasia leve em uma extremidade e displasia/carcinoma grave na outra. Isto foi seguido pela classificação de neoplasia intraepitelial cervical (NIC), com a displasia leve chamada de NIC I, a displasia moderada de NIC II, e a displasia grave chamada de NIC III. ➔ Já que a decisão relativa à conduta para a paciente tem dois níveis (observação versus tratamento cirúrgico), o sistema de classificação de três níveis foi simplificado recentemente para um sistema de dois níveis, com NIC I renomeada para lesão intraepitelial escamosa de baixo grau (LSIL, do inglês, low-grade squamous intraepithelial lesion) e NIC II e NIC III combinadas em uma categoria citada como lesão intraepitelial escamosa de alto grau (HSIL, do inglês, high-grade squamous intraepithelial lesion). A LSIL é associada com a infecção de HPV produtiva. ➔ Na LSIL, há um alto nível de replicação viral e apenas pequenas alterações no crescimento das células hospedeiras. ➔ A LSIL não progride diretamente para carcinoma invasivo, e, na verdade, em muitos casos, regride espontaneamente; apenas uma pequena porcentagem progride para HSIL. Por esse motivo, a LSIL não é tratada como uma lesão pré-maligna. Larissa Moitinho Na HSIL, por outro lado, ocorre uma desregulação progressiva do ciclo celular pelo HPV, que resulta em aumento da proliferação celular, diminuição ou parada da maturação epitelial e uma menor taxa de replicação viral, em comparação à LSIL. ➔ O desarranjo do ciclo celular na HSL pode se tornar irreversível e resultar em um fenótipo maligno totalmente transformado. Dessa forma, considera-se que as HSILs oferecem um alto risco de progredirem para um carcinoma. OBS: As LSILs são 10 vezes mais comuns do que as HSILs. MORFOLOGIA O diagnóstico de SIL (do inglês, squamous intraepithelial lesion) se baseia na identificação de atipia nuclear caracterizada por aumento nuclear, hipercromasia (coloração escura), presença de grânulos grosseiros de cromatina e variação dos tamanhos e formas nucleares. As mudanças nucleares são frequentemente acompanhadas por halos citoplasmáticos. ➔ No nível ultraestrutural, esses halos consistem em vacúolos perinucleares, uma mudança citopática criada em parte por uma proteína codificada no HPV chamada E5 que se concentra nas membranas do retículo endoplasmático. As alterações nucleares e o halo perinuclear associado são chamados de atipia coilocitótica. A classificação de SIL em baixo ou alto grau se baseia na expansão da camada de células imaturas a partir de sua localização basal normal. ➔ Se as células escamosas imaturas estiverem confinadas ao terço inferior do epitélio, a lesão é classificada como LSIL; se houver expansão para dois terços da espessura epitelial, é classificada como HSIL. Mais de 80% das LSILs e 100% das HSILs são associadas com HPVs de alto risco, dos quais o HPV-16 é o tipo mais comum de HPV em ambas as categorias de lesões. ➔ Embora a maioria das HSILs se desenvolva a partir das LSILs, aproximadamente 20% dos casos de HSIL se desenvolvemde novo, independentemente de LSILs preexistentes. Larissa Moitinho As taxas de progressão não são uniformes de maneira alguma, e embora o tipo de HPV — especialmente o HPV 16 — esteja associado com o aumento do risco, é difícil prever o resultado em um paciente individualmente. Esses achados reforçam a ideia de que o risco de desenvolver lesões precursoras e câncer deve-se somente em parte ao tipo de HPV. ➔ A progressão para carcinoma invasivo, quando ocorre, pode demorar de poucos meses a mais de 1 década. Carcinoma Cervical A idade média das pacientes com carcinoma cervical invasor é de 45 anos. O carcinoma de células escamosas é o subtipo histológico mais comum, representando aproximadamente 80% dos casos. O segundo tipo tumoral mais comum é o adenocarcinoma, que representa aproximadamente 15% dos casos de câncer cervical e se desenvolve a partir de uma lesão precursora chamada adenocarcinoma in situ. ➔ Os carcinomas adenoescamosos e neuroendócrinos são tumores cervicais raros que representam 5% dos casos restantes. Todos os tipos tumorais citados previamente são causados por HPVs de alto risco oncogênico. O tempo de progressão a partir da forma in situ até o carcinoma adenoescamoso e o carcinoma neuroendócrino é mais curto do que no carcinoma das células escamosas, e os pacientes com esses tumores frequentemente se apresentam em estágios avançados das doenças, tendo um prognóstico menos favorável. MORFOLOGIA O carcinoma cervical invasor pode se manifestar como massa vegetante (exofítico) ou infiltrativa. ➔ O carcinoma de células escamosas é composto por ninhos e projeções de epitélio escamoso maligno, queratinizado ou não queratinizado, invadindo o estroma cervical subjacente. ➔ Os adenocarcinomas são caracterizados pela proliferação de epitélio glandular composto por células endocervicais malignas com núcleos grandes, hipercromáticos, e citoplasma com relativa diminuição de mucina, resultando em um aspecto escuro das glândulas, em comparação ao epitélio endocervical normal. ➔ Os carcinomas adenoescamosos são tumores compostos por uma mistura de epitélio maligno glandular e escamoso. ➔ O carcinoma cervical neuroendócrino tem uma aparência similar à do carcinoma de pequenas células do pulmão, mas a diferença é que ele é positivo para HPVs de alto risco. Larissa Moitinho FATORES DE RISCO ➔ Início precoce da atividade sexual e múltiplos parceiros. ➔ Tabagismo (a doença está diretamente relacionada à quantidade de cigarros fumados). ➔ Uso prolongado de pílulas anticoncepcionais. SINAIS E SINTOMAS O câncer do colo do útero é uma doença de desenvolvimento lento, que pode não apresentar sintomas em fase inicial. ➔ Nos casos mais avançados, pode evoluir para sangramento vaginal intermitente (que vai e volta) ou após a relação sexual, secreção vaginal anormal e dor abdominal associada a queixas urinárias ou intestinais. DIAGNÓSTICO Os seguintes testes podem ser utilizados: ● Exame pélvico e história clínica: exame da vagina, colo do útero, útero, ovário e reto através de avaliação com espéculo, Papanicolau, toque vaginal e toque retal. ● Exame Preventivo (Papanicolau). ● Colposcopia – exame que permite visualizar a vagina e o colo de útero com um aparelho chamado colposcópio, capaz de detectar lesões anormais nessas regiões. ● Biópsia – se células anormais são detectadas no exame preventivo (Papanicolau), é necessário realizar uma biópsia, com a retirada de pequena amostra de tecido para análise no microscópio. ESTADIAMENTO O câncer cervical é estadiado da seguinte forma: Estádio 0 — Carcinoma in situ (NIC III, HSIL). Estádio I — Carcinoma confinado ao colo uterino. Ia — Carcinoma pré-clínico, ou seja, diagnosticado apenas por microscopia Ia1 — Invasão do estroma não mais profunda que 3 mm e não mais larga que 7 mm (o chamado carcinoma microinvasor). Ia2 — Profundidade máxima de invasão do estroma acima de 3 mm e não mais profundo que 5 mm, considerado a partir da base do epitélio; invasão horizontal de no máximo 7 mm. Ib — Carcinoma histologicamente invasivo confinado ao colo uterino e maior que o estágio Ia2. Estádio II — O carcinoma se estende além do colo uterino, mas não até a parede pélvica. O carcinoma envolve a vagina, mas não o terço inferior. Larissa Moitinho Estádio III — O carcinoma se estende para a parede pélvica. Ao exame retal não existe um espaço sem câncer entre o tumor e a parede pélvica. O tumor envolve o terço inferior da vagina. Estádio IV — O carcinoma se estende além da pelve verdadeira ou envolve a mucosa da bexiga ou do reto. Esse estádio também inclui câncer com disseminação metastática. TRATAMENTO Mais da metade dos cânceres cervicais invasores são detectados em mulheres que não participaram de triagem regular. Embora os cânceres invasores precoces do colo uterino (carcinomas microinvasores) possam ser tratados apenas por biópsia em cone, a maioria dos cânceres invasivos é tratada por histerectomia com dissecção de linfonodos, e, para lesões avançadas, irradiação e quimioterapia. O prognóstico e a sobrevida nos carcinomas invasores dependem em grande parte do estádio no qual o câncer é inicialmente descoberto e, em certo grau, do tipo celular, com tumores neuroendócrinos de pequenas células apresentando um prognóstico muito desanimador. Com os tratamentos atuais, a taxa de sobrevida em 5 anos é de 100% para carcinomas microinvasores, e menos do que 50% para tumores que se estendem além da pelve. A maioria dos pacientes com câncer de colo uterino avançado morre das consequências da invasão tumoral local (p. ex., obstrução uretral, pielonefrite e uremia), e não das complicações da doença metastática. METÁSTASE O carcinoma cervical avançado se estende por disseminação direta para envolver tecidos contíguos, incluindo os tecidos paracervicais, a bexiga, os ureteres (resultando em hidronefrose), o reto e a vagina. ➔ A invasão linfovascular resulta em metástases de linfonodos locais e distantes. ➔ As metástases distantes também podem ser encontradas no fígado, pulmões, medula óssea e outros órgãos. REFERÊNCIAS Estimativa 2020: incidência de câncer no Brasil / Instituto Nacional de Câncer. José Alencar Gomes da Silva. – Rio de Janeiro : INCA, 2019. 120 p. : il. color. KUMAR, V., ABBAS, A.K., FAUSTO, N., ASTER, J.C. Robbins & Cotran Patologia: Bases Patológicas das Doenças. Elsevier,Riode Janeiro, 2010. 1458p. Larissa Moitinho câncer de PRÓSTATA ANATOMIA ● No adulto normal, a próstata pesa aproximadamente 20 g. ● É um órgão retroperitoneal que envolve o colo da bexiga e a uretra e não possui uma cápsula distinta. ● No adulto, o parênquima prostático pode ser dividido em quatro zonas ou regiões biológicas e anatomicamente distintas: zonas periférica, central, transicional e periuretral. ● Os tipos de lesões proliferativas são diferentes em cada região. ○ Por exemplo, a maioria das hiperplasias surge na zona de transição, enquanto a maioria dos carcinomas é originada na zona periférica. HISTOLOGIA ● A próstata é composta por glândulas revestidas por duas camadas de células: uma camada basal de epitélio cubóide baixa coberta por uma camada de células secretoras colunares. ● Em muitas áreas existem pequenas dobras papilares do epitélio. ● Essas glândulas são separadas por um estroma fibromuscular abundante. ● Os andrógenos testiculares controlam o crescimento e a sobrevida das células prostáticas. ● A castração provoca atrofia da próstata causada por apoptose difusa. EPIDEMIOLOGIA O câncer de próstata está junto ao câncer colorretal em termos de mortalidade por câncer, e causou 9% das mortes por câncer nos Estados Unidos em 2012. Há uma probabilidade de que um em seis homens seja diagnosticado com câncer de próstata ao longo de sua vida. ● Esses dados demonstram uma grande variedade de comportamentos clínicos, desde cânceres letais, muito agressivos, até cânceres insignificantes, descobertos incidentalmente. Larissa Moitinho O câncer de próstata é tipicamente uma doença de homens com mais de 50 anos de idade, faixa etária em que é bastante comum. Com base nos estudos de autópsia, sua incidência aumenta de 20% em homens na faixa dos 50 anos, para aproximadamente 70% em homens entre 70 e 80 anos de idade. ● O câncer prostático é raro em asiáticos e ocorre mais frequentemente entre negros. ● OBS: Além dos fatores hereditários, o ambiente desempenha um papel importante, como evidenciado pela elevação da incidência da doença em japoneses imigrantes para os Estados Unidos, embora não tão próxima do nível de americanos nativos. ○ Além disso, à medida que a dieta na Ásia tem se tornado ocidentalizada, a incidência de câncer de próstata clinicamente significativo nessa região do mundo parece estar aumentando. ○ Ainda não está claro se isso é decorrente de fatores dietéticos ou de outras alterações do estilo de vida. ETIOFISIOPATOLOGIA Os andrógenos desempenham um papel importante no câncer de próstata. Como seus equivalentes normais, o crescimento e a sobrevida das células do câncer de próstata dependem de andrógenos, que se ligam ao receptor androgênico (RA) e induzem a expressão de genes pró-crescimento e pró-sobrevida. ● A importância dos andrógenos na manutenção do crescimento e sobrevida das células do câncer de próstata pode ser observada no efeito terapêutico da castração ou do tratamento com antiandrogênicos, que geralmente induzem regressão da doença. ● Infelizmente, a maioria dos tumores eventualmente se torna resistente ao bloqueio androgênico. ● Os tumores escapam por uma variedade de mecanismos, incluindo uma hipersensibilidade em níveis baixos de andrógeno (p. ex., amplificação do gene de RA), ativações de RA independente de ligante (p. ex., via ligações variantes que bloqueiam o domínio de ligação do ligante), mutações em RA que permitem sua ativação por ligantes não androgênicos, e outras mutações ou alterações epigenéticas que ativam as vias de sinalização alternativas, que podem evitar completamente a necessidade de RA. ● Entre essas últimas estão as alterações que levam a um aumento da ativação da via de sinalização PI3K/AKT (tal como a perda do gene supressor de tumor PTEN), que é observada mais Larissa Moitinho frequentemente em tumores que se tornaram resistentes à terapia antiandrogênica. Outros trabalhos focalizam o papel de mutações adquiridas e alterações epigenéticas específicas para o tumor. ● Uma mudança genética estrutural muito comum no câncer de próstata são os rearranjos cromossômicos que justapõem a sequência de codificação do gene de um fator de transcrição da família ETS (mais comumente ERG ou ETV1) próximo ao promotor TMPRSS2 regulado por androgênio. Em contraste com câncer de mama e de cólon, os esforços recentes de sequenciamento do genoma completo têm demonstrado que as deleções e amplificações genômicas são mais comuns no câncer da próstata do que mutações pontuais envolvendo oncogenes. ● Alterações genéticas mais comuns no câncer da próstata incluem amplificação do locus 8q24 contendo o oncogene MYC e deleções envolvendo o supressor tumoral PTEN. MORFOLOGIA Quando os termos “câncer de próstata” ou “adenocarcinoma prostático” são usados sem qualificações, eles se referem à variante comum ou acinar do câncer de próstata. Em aproximadamente 70% dos casos, o carcinoma da próstata surge na zona periférica da glândula, classicamente em uma localização posterior, onde pode ser palpável ao exame retal. Caracteristicamente, no corte transversal da próstata, o tecido neoplásico é granuloso e firme, mas, quando incrustado no interior da substância prostática, sua visualização pode ser extremamente difícil, sendo mais facilmente aparente à palpação. Larissa Moitinho FATORES DE RISCO O câncer da próstata é tratado por cirurgia, radioterapia e manipulações hormonais. ● Mais de 90% dos pacientes que recebem essas terapias podem esperar viver por mais de 15 anos. Atualmente, o tratamento mais comum para câncer de próstata clinicamente localizado é a prostatectomia radical. ● O prognóstico após a prostatectomia radical é baseado no estágio patológico, estado das margens e grau de Gleason. Tratamentos alternativos para o câncer de próstata localizado consistem em radioterapia com feixe externo ou radioterapia intersticial, sendo que a última consiste na colocação de “sementes” radioativas em toda a próstata (braquiterapia). O carcinoma avançado metastático é tratado por terapia de privação androgênica. ● A privação de androgênio pode ser obtida através da orquiectomia ou pela administração de agonistas sintéticos de hormônio liberador do hormônio luteinizante (LHRH), que suprime o LHRH normal, obtendo, como efeito, uma orquiectomia farmacológica. ○ Embora a terapia antiandrogênica induza à remissão,eventualmente os tumores desenvolvem resistência à retirada de testosterona, um efeito que é um prenúncio de progressão da doença e morte. SINAIS E SINTOMAS O câncer prostático localizado é assintomático, e geralmente é descoberto pela detecção de um nódulo suspeito ao exame retal ou pela elevação do nível sérico de PSA (ver adiante). A maioria dos cânceres prostáticos surge perifericamente e longe da uretra, e portanto sintomas urinários ocorrem tardiamente. ● Pacientes com câncer de próstata clinicamente avançado podem apresentar sintomas urinários, como dificuldade em iniciar ou interromper a micção, disúria, frequência ou hematúria. DIAGNÓSTICO ● O exame retal digital pode detectar alguns carcinomas prostáticos precoces devido a sua localização posterior, mas o exame sofre tanto de baixa sensibilidade quanto de baixa especificidade. ● Da mesma forma, enquanto a ultrassonografia transretal e outras modalidades de imagem mostram achados característicos naqueles com próstatas cancerosas, as baixas sensibilidade e especificidade desses métodos também limitam a sua utilidade diagnóstica. ● Tipicamente, uma biópsia por agulha transretal é necessária para confirmar o diagnóstico. ● A medição dos níveis séricos de PSA é amplamente usada para auxiliar no diagnóstico e tratamento do câncer de próstata. Larissa Moitinho PSA O PSA é um produto do epitélio prostático e é secretado normalmente no sêmen. ● É uma serino-protease regulada por andrógeno cuja função é clivar e liquefazer o coágulo seminal formado após a ejaculação. Em homens normais, apenas quantidades mínimas de PSA circulam no soro. ● Níveis sanguíneos elevados de PSA ocorrem em associação ao câncer localizado, assim como avançado. OBS : No entanto, como rastreamento de câncer de próstata, o uso de PSA continua a ser controverso, dado que carece de sensibilidade e especificidade. OBS : É importante ressaltar que o PSA é específico do órgão, mas não específico do câncer. OBS :Embora os níveis séricos de PSA estejam elevados em menor extensão na HPB que nos carcinomas prostáticos, existe uma sobreposição considerável. OBS :Outros fatores como prostatite, infarto de hiperplasias nodulares, instrumentação da próstata e ejaculação também aumentam os níveis séricos de PSA. Na maioria dos laboratórios, um nível sérico de 4 ng/mL é classificado como o ponto de corte entre o normal e anormal; ● No entanto, este ponto de corte pode ser muito alto, porque 20% a 40% dos pacientes com câncer de próstata confinado ao órgão têm um valor de PSA de 4 ng/mL ou menos, que não é detectado por esse simples rastreamento. Assim, algumas orientações consideram anormais os valores de PSA acima de 2,5 ng/mL . Por faixa de idade: 2,5 ng/mL Homens de 40 a 49 anos 3,5 ng/mL Homens de 50 a 59 anos 4,5 ng/mL Homens de 60 a 69 anos 6,5 ng/mL Homens de 70 a 79 anos ● Além do antígeno prostático específico, surgiram outros genes e proteínas que podem servir como biomarcadores do câncer de próstata. ○ PCA3. ESTADIAMENTO TRATAMENTO O câncer da próstata é tratado por cirurgia, radioterapia e manipulações hormonais. ● Mais de 90% dos pacientes que recebem essas terapias podem esperar viver por mais de 15 anos. Atualmente, o tratamento mais comum para câncer de próstata clinicamente localizado é a prostatectomia radical. ● O prognóstico após a prostatectomia radical é baseado Larissa Moitinho no estágio patológico, estado das margens e grau de Gleason. Tratamentos alternativos para o câncer de próstata localizado consistem em radioterapia com feixe externo ou radioterapia intersticial, sendo que a última consiste na colocação de “sementes” radioativas em toda a próstata (braquiterapia). O carcinoma avançado metastático é tratado por terapia de privação androgênica. ● A privação de androgênio pode ser obtida através da orquiectomia ou pela administração de agonistas sintéticos de hormônio liberador do hormônio luteinizante (LHRH), que suprime o LHRH normal, obtendo, como efeito, uma orquiectomia farmacológica. ○ Embora a terapia antiandrogênica induza à remissão, eventualmente os tumores desenvolvem resistência à retirada de testosterona, um efeito que é um prenúncio de progressão da doença e morte. METÁSTASE Se a doença se disseminou, o local mais provável são os linfonodos, e, em seguida, os ossos. ● Com menos frequência se espalha para o fígado ou outros órgãos. REFERÊNCIAS Estimativa 2020: incidência de câncer no Brasil / Instituto Nacional de Câncer. José Alencar Gomes da Silva. – Rio de Janeiro : INCA, 2019. 120 p. : il. color. KUMAR, V., ABBAS, A.K., FAUSTO, N., ASTER, J.C. Robbins & Cotran Patologia: Bases Patológicas das Doenças. Elsevier,Rio de Janeiro, 2010. 1458p. Larissa Moitinho LEUCEMIA Os 4 tipos principais de leucemia são: Leucemia Mieloide Aguda (LMA) Leucemia Mieloide Crônica (LMC) Leucemia Linfocítica Aguda (LLA) Leucemia Linfocítica Crônica (CLL) Leucemia Mieloide Aguda (LMA) A leucemia mieloide aguda (LMA) é uma neoplasia maligna hematológica frequentemente letal, com idade mediana por ocasião de sua apresentação de mais de 60 anos. ● A LMA está sendo cada vez mais diagnosticada em indivíduos que sobrevivem a outros cânceres e que foram previamente expostos a quimioterapia e radioterapia. ○ Os agentes alquilantes, como o melfalano e o clorambucil, podem levar ao desenvolvimento de LMA, com tempo médio de início de 5 a 10 anos, e a anormalidades associadas nos cromossomos 5 e 7. ○ Os inibidores da topoisomerase, como etoposídeo e antraciclinas, também podem causar LMA, com tempo médio de início de 2 a 3 anos. Esses casos de LMA frequentemente estão associados a translocações cromossômicas equilibradas em 11q23 e envolvem alterações da proteína da leucemia de linhagem mista (LLM). ● A síndrome mielodisplásica e os distúrbios mieloproliferativos, como a policitemia vera e a mielofibrose, também podem evoluir para a LMA. ● As leucemias “secundárias” que derivam de tratamento prévio ou de outras doenças mielóides apresentam desfechos significativamente mais graves do que os casos de novo de LMA. ● O risco de leucemia é 20 vezes maior em pacientes com síndrome de Down. As mutações comuns com valor prognóstico na LMA incluem a mutação de duplicação interna em série (ITD) de FLT3 e a mutação NPM1 (nucleofosmina). ● A mutação FLT3-ITD, identificada em aproximadamente 25% dos pacientes, leva à produção de um receptor de tirosina quinaseFLT3 constitutivamente ativo anormal na superfície das células leucêmicas. ● Isso, por sua vez, leva à proliferação descontrolada de blastos indiferenciados e a uma maior propensão à recidiva e a resultados insatisfatórios. Por outro lado, a mutação NPM1 está associada a um prognóstico melhor quando presente como lesão isolada e acomete maior proporção de pacientes com LMA. ● Essa mutação leva ao sequestro aberrante de proteínas de nucleofosmina alteradas no Larissa Moitinho citoplasma e à ruptura do ciclo celular regulação das células malignas. ➔ Os casos de LMA são, em sua maioria, idiopáticos. ➔ A LMA pode surgir em consequência de quimioterapia ou radioterapia administradas anteriormente, ou de processos mielodisplásicos/mieloproliferati vos subjacentes. EPIDEMIOLOGIA O Instituto Nacional de Câncer (INCA) estima que para cada ano do triênio 2020/2022, sejam diagnosticados no Brasil 5.920 casos novos de leucemia em homens e 4.890 em mulheres. ● Esses valores correspondem a um risco estimado de 5,67 casos novos a cada 100 mil homens e 4,56 casos novos para cada 100 mil mulheres. A leucemia mieloide aguda é um dos tipos mais comuns de leucemia em adultos. Ainda assim, de forma geral, é bastante rara, representando cerca de 1% de todos os cânceres. A leucemia mieloide aguda afeta principalmente adultos mais velhos, sendo rara antes dos 45 anos. ● A idade média de um paciente com leucemia mieloide aguda é de 68 anos, mas também pode ocorrer em crianças. A leucemia mieloide aguda é ligeiramente mais frequente entre homens do que entre as mulheres, mas o risco médio durante a vida em ambos os sexos é de aproximadamente 1%. ETIOFISIOPATOLOGIA A leucemia aguda é uma doença clonal derivada de células-tronco leucêmicas. ● As mutações do DNA tornam as células precursoras mieloides incapazes de sofrer diferenciação e maturação normais e promovem uma proliferação descontrolada, levando ao fenótipo leucêmico agudo. ● Os mieloblastos proliferam nos compartimentos da medula óssea, resultando em insuficiência hematopoiética e citopenias progressivas. ● Quando os mieloblastos se expandem para fora da medula óssea, pode ocorrer leucocitose periférica grave, levando a sequelas adicionais, como leucostase e lise tumoral significativa. ○ OBS: Leucostase é diagnosticada quando plugues de células brancas são vistos na microvasculatura. ● Raramente, tumores sólidos extravasculares, conhecidos como cloromas ou sarcomas granulocíticos, podem surgir em tecidos. FATORES DE RISCO ● Idade: pode ocorrer em qualquer idade, mas é mais comum à medida que as pessoas envelhecem. Larissa Moitinho ● É mais comum em homens do que em mulheres, mas a razão disso é desconhecida. ● Tabagismo: as substâncias causadoras de câncer no fumo do tabaco são absorvidas pelos pulmões e se espalham através da corrente sanguínea para muitas partes do corpo. ● Exposição a produtos químicos. ● Medicamentos quimioterápicos. ● Exposição às radiações. ● Síndromes hereditárias: por exemplo, síndrome de Down, anemia de Fanconi, síndrome de Bloom, ataxia-telangiectásica, síndrome de Blackfan-Diamond, síndrome de Schwachman-Diamond, síndrome de Li-Fraumeni, neurofibromatose tipo 1, neutropenia congênita grave (síndrome de Kostmann) e trissomia 8. ● Histórico familiar. ● Doenças do sangue: pacientes com doenças crônicas mieloproliferativas, como policitemia vera, trombocitopenia essencial e mielofibrose idiopática têm um risco aumentado de desenvolver leucemia mieloide aguda. SINAIS E SINTOMAS A LMA pode ser sutil na sua apresentação, e alguns pacientes exibem sintomas inespecíficos, como fadiga, dispneia e sangramento, durante vários dias a semanas. Citológicamente: ● Classicamente, os mieloblastos exibem nucléolos distintos, cromatina fina, citoplasma escasso e grânulos azurófilos. ● Os bastonetes de Auer característicos são formados por grânulos azurófilos dentro de lisossomos, embora sua presença não seja essencial para o diagnóstico. DIAGNÓSTICO O hemograma completo, o exame do esfregaço de sangue periférico e o aspirado e biópsia de medula óssea são essenciais para estabelecer o diagnóstico de leucemia aguda. ● A coloração histoquímica pode ser útil; ○ Por exemplo, a leucemia monocítica aguda pode ser diferenciada com o uso de um corante de esterase inespecífico. ● A imunofenotipagem por citometria de fluxo ajuda a estabelecer o diagnóstico definitivo e a diferenciar a LMA da leucemia linfoblástica aguda (LLA). ○ Por exemplo, o CD33 é positivo em aproximadamente 75% dos pacientes com LMA, o CD13 é positivo em cerca de 70% dos pacientes com LMA, e o CD14 é positivo em mais de 50% dos subtipos monocítico e mielomonocítico. O sistema de classificação mais amplamente usado para a LMA é aquele Larissa Moitinho desenvolvido pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que organiza essa neoplasia maligna de acordo com suas características morfológicas, cariotípicas e moleculares. ➔ A anamnese e o exame podem revelar fadiga, dispnéia, palidez, petéquias, febre, sudorese noturna e, em certas ocasiões, esplenomegalia. ◆ Podem-se observar lesões cutâneas, das gengivas e do sistema nervoso central (SNC), embora sejam mais frequentes nas variantes monocíticas. ➔ Ao exame laboratorial, a contagem de leucócitos pode estar normal, elevada ou baixa. ◆ A anemia e a trombocitopenia são frequentes. ◆ O exame do esfregaço de sangue periférico é essencial e, com frequência, revela a presença de mieloblastos e outras células progenitoras imaturas e, em certas ocasiões, um quadro mielotísico. ➔ A avaliação diagnóstica inclui aspirado e biópsia de medula óssea com citometria de fluxo, coloração histoquímica, citogenética e avaliação molecular (p. ex., tirosina quinase semelhante a fms [FLT3] e nucleofosmina [NPM1]). ◆ Definição da LMA: > 20% de mieloblastos no sangue periférico ou na medula óssea. ESTADIAMENTO TRATAMENTO Tradicionalmente, o tratamento da LMA envolve quimioterapia de indução a remissão, seguida de tratamento pós-remissão (consolidação). ● A forma mais comumente usada de quimioterapia de indução é o denominado esquema “7 + 3”, que consiste em 3 dias de administração de uma antraciclina, como idarrubicina, 12 mg/m2/dia, e 7 dias de citarabina por infusão, em uma dose que varia de 100-200 mg/m2. Deve-se considerar o transplante de células-tronco alogênico na primeira remissão em pacientes com alto risco de recidiva, incluindo aqueles comLarissa Moitinho anormalidades citogenéticas complexas ou LMA secundária. OBS: A maioria dos pacientes com LMA sofre recidiva, porém o tratamento ideal para a recidiva da doença não está definido. A LMA que sofre recidiva não é curável apenas com quimioterapia convencional; ➔ A quimioterapia de indução com uma antraciclina e citarabina por infusão constitui a abordagem tradicional ao tratamento inicial da LMA. ➔ A quimioterapia de consolidação com citarabina em altas doses após a obtenção da primeira remissão pode levar à cura em um subgrupo de pacientes com LMA de risco favorável ou intermediário. ➔ O transplante de células-tronco alogênico é recomendado para pacientes com alto risco de recidiva ou para pacientes em segunda remissão completa. METÁSTASE Na maioria dos casos, a Leucemia Linfóide Aguda invade o sangue com razoável rapidez e pode se disseminar para outras partes do corpo, como os gânglios linfáticos, fígado, baço, sistema nervoso central (cérebro e medula espinhal) e testículos nos homens. Leucemia Mieloiode Crônica (LMC) A leucemia mieloide crônica (LMC) é um distúrbio clonal das células-tronco hematopoiéticas que afeta todas as linhagens (exceto os linfócitos T). ● A causa da LMC não é conhecida. EPIDEMIOLOGIA A LMC corresponde a aproximadamente 15% a 20% de todas as leucemias, com incidência de um a dois casos em cada 100 mil indivíduos. Apresenta maior frequência em adultos, com faixa etária entre 40 e 60 anos, principalmente do sexo masculino. Entretanto, pode acometer indivíduos de todas as faixas etárias, com menos de 10% dos casos de pacientes com até 20 anos. ETIOFISIOPATOLOGIA A LMC foi um dos primeiros cânceres humanos associado a uma anormalidade cromossômica: a translocação 9;22 ou cromossomo Filadélfia. ● Essa translocação cria um novo gene de fusão, bcr-abl, entre o gene abl no cromossomo 9 e o gene bcr no cromossomo 22. ● O produto proteico do gene de fusão expressa uma tirosina quinase ativada. ● A atividade quinase descontrolada do bcr-abl assume as funções normais da enzima ABL normal, causando proliferação celular desregulada e diminuição da apoptose. A doença caracteriza-se por uma fase estável, que pode ser clinicamente silenciosa e durar de 3 a 4 anos. ● O acúmulo de lesão genética com o passar do tempo, particularmente Larissa Moitinho mutações em p53, pode levar à aceleração da doença e a um predomínio de mieloblastos na medula óssea e no sangue periférico. ● Quando ocorre aceleração da doença, a sobrevida média é de habitualmente menos de um ano. ● O desenvolvimento da leucemia aguda pode ser de diferenciação linfóide, mieloide ou eritroide. FATORES DE RISCO ● Exposição às radiações: evidências em sobreviventes das bombas atômicas e acidentes de reatores nucleares são o único fator de risco ambiental conhecido para a leucemia mieloide crônica. ● Idade: em geral, o risco de leucemia mieloide crônica aumenta com a idade. ● Gênero: a doença é mais comum em homens do que em mulheres, mas a razão disso é desconhecida. Não existem outros fatores de risco comprovados para a doença: o risco de contrair a leucemia mieloide crônica não parece ser influenciado pelo tabagismo, dieta, exposição a produtos químicos ou infecções. SINAIS E SINTOMAS Os pacientes com LMC, particularmente na fase estável (< 5% de mieloblastos na medula óssea), são, em sua maioria, assintomáticos. ● Pode-se observar uma contagem elevada de leucócitos no exame físico de rotina. Os pacientes na fase acelerada (5 a 20% de blastos medulares) podem apresentar sudorese noturna, adenopatia e esplenomegalia. A crise blástica (> 20% de blastos na medula óssea ou no sangue periférico) tem apresentação semelhante à leucemia aguda. DIAGNÓSTICO Em LMC, o esfregaço de sangue e a medula óssea na LMC revelam quantidades abundantes de células em todos os estágios de maturação. O diagnóstico definitivo pode ser estabelecido pela presença da translocação bcr-abl no sangue ou na medula óssea, determinada por PCR. ● São observados cromossomos variantes em 5% dos pacientes, que não afetam o prognóstico. ➔ A translocação bcr-abl positiva no sangue periférico ou na medula óssea é diagnóstica de LMC – não há necessidade de exame de medula óssea para o diagnóstico, mas pode ser útil para excluir um estágio mais avançado da doença. Larissa Moitinho ➔ Fase crônica: contagem elevada de leucócitos, frequentemente assintomática, < 5% blastos. ➔ Fase acelerada: pode ser sintomática, 5 a 20% de blastos. ➔ Crise blástica: 70% manifestam-se como leucemia aguda mieloide, 30% como linfoide e semelhantes à leucemia aguda; o diagnóstico baseia-se em > 20% de blastos. TRATAMENTO O tratamento da LMC mudou drasticamente desde a aprovação do imatinibe no ano de 2002. ● O imatinibe é um inibidor da tirosina quinase, que bloqueia a atividade quinase de bcr-abl e inibe a proliferação de progenitores com cromossomo Filadélfia positivo. A doença na fase crônica é tratada com imatinibe, em uma dose de 400 mg/dia. ● Cerca de 95% dos pacientes na fase crônica tratados com imatinibe terão resposta hematológica completa, 87% irão apresentar resposta citogenética completa e 77%, resposta molecular significativa. Atualmente, o transplante de células-tronco alogênicas é reservado apenas para pacientes jovens (com menos de 30 anos de idade), para pacientes que não obtêm remissão molecular com imanitibe, dasatinibe ou nilotinibe, para aqueles que apresentam a mutação T315I (que são resistentes aos inibidores da tirosina quinase, em virtude do impedimento estérico da ligação do fármaco ao sítio de ligação de ATP da quinase) ou para pacientes na fase acelerada ou crônica. ➔ Tratamento inicial com imatinibe, em uma dose de 400 mg/dia. ➔ Dasatinibe ou nilotinibe para pacientes que apresentam intolerância ou resistência ao imatinibe (esses fármacos também podem ser considerados como tratamento inicial). ➔ Transplante de células-tronco alogênicas para pacientes com resistência aos inibidores da tirosina quinase, com mutação T315I ou fase acelerada/crise blástica. ➔ O ponatinibe, um novo inibidor da abl quinase, foi planejado racionalmente para superar a resistência ao imatinibe e mostra-se efetivo em tumores que apresentam a mutação T315I. Leucemia Linfocítica Aguda (LLA) ETIOFISIOPATOLOGIA A leucemia linfoblástica aguda (LLA) é uma neoplasia altamente agressiva de células hematopoiéticas de linhagem linfoide. ● Acúmulos de linfoblastosT ou B anormais podem ser encontrados na medula óssea, no sangue periférico e em outros locais extramedulares. A LLA é predominantemente um câncer infantil, e dois terços dos novos casos são Larissa Moitinho diagnosticados em indivíduos com menos de 15 anos. ● A LLA era uniformemente fatal até 1960; todavia, como resultado dos avanços na quimioterapia e cuidados de suporte, obtém-se atualmente uma cura em mais de 80% das crianças. Em contrapartida, os adultos diagnosticados com LLA apresentam prognóstico global menos favorável. ● Os fatores importantes na avaliação do prognóstico consistem na idade do paciente, tipo de célula linfoide envolvida (células T vs. células B) e presença de marcadores citogenéticos de alto risco, como a translocação t(9;22) (BCR-ABL). O linfoma de Burkitt, uma neoplasia maligna de células B maduras, foi historicamente classificado como LLA-B, devido às suas características semelhantes à da leucemia de alto grau, porém é considerada uma entidade distinta da LLA de células B precursoras no que diz respeito ao diagnóstico e ao prognóstico. ➔ A LLA é a neoplasia maligna mais comum da infância. ➔ A LLA infantil tem prognóstico muito melhor do que a LLA do adulto. ➔ Trata-se de uma neoplasia linfoide altamente agressiva com imunofenótipos de células B (80%) e de células T (20%). ➔ Certas alterações citogenéticas, como a t(9;22), estão associadas a um prognóstico menos favorável, enquanto outras, como a t(12,21), estão associadas a resultados favoráveis. EPIDEMIOLOGIA A leucemia responde por 32% das neoplasias malignas em crianças com menos de 15 anos de idade. ● Dessas, a maioria consiste em LLA. ● A incidência máxima em crianças é observada entre 2 e 5 anos de idade. As taxas de leucemia são significativamente mais altas em crianças brancas com incidência quase três vezes maior em comparação com a de crianças afro-americanas. ● A LLA é quase 30% mais frequente no sexo masculino do que no feminino. De modo global, a incidência da LLA infantil aumentou nesses últimos 20 anos, com uma taxa de 0,9% ao ano. ● A LLA do adulto é menos comum, com aproximadamente mil novos casos diagnosticados por ano. Larissa Moitinho ● A incidência da LLA diminui dos 15 aos 50 anos de idade; em seguida, aparece um segundo aumento menor de novos casos. ● Aparece um terceiro pico aos 80 anos de idade. ● O risco cumulativo de desenvolvimento de LLA ao longo da vida é de 0,13% ou aproximadamente 1 em 789 homens e mulheres. OBS: Vários relatos sugeriram que a exposição inadvertida à radiação in utero e o tratamento pós-natal com radiação de determinadas condições, como tínea do couro cabeludo e aumento do timo, aumentam o risco de LLA. ● Evidências limitadas e/ou inconsistentes associam a LLA ao tabagismo parental, infecção, dieta, campos eletromagnéticos, hidrocarbonetos e, possivelmente, radiação administrada durante exames complementares, como tomografia computadorizada (TC). FATORES DE RISCO ● Sexo masculino ● Idade entre 2 e 5 anos ● Raça branca ● Nível socioeconômico (NSE) alto ● Fatores hereditários (síndrome de Down, síndrome de Bloom, ataxia telangiectasia, neurofibromatose, síndrome de Klinefelter, síndrome de Shwachman e histiocitose de células de Langerhans) ● A exposição à radiação e a substâncias químicas é controversa, mas pode aumentar o risco global de LLA, tanto in utero quanto durante a infância. ● A probabilidade global de desenvolver LLA no transcorrer da vida de um indivíduo é de 0,13% ou 1 em 789. SINAIS E SINTOMAS As crianças com LLA podem apresentar uma evolução insidiosa ou exclusiva antes do diagnóstico, enquanto os adultos apresentam-se mais uniformemente com uma doença de início rápido. ● Os sinais e sintomas físicos resultam da insuficiência medular em consequência da proliferação de células leucêmicas. Os pacientes comumente apresentam sinais e sintomas de anemia, como palidez, fadiga, letargia e, em adultos, angina cardíaca. ● A trombocitopenia, outro sinal comum, manifesta-se na forma de equimoses de ocorrência fácil, sangramento e petéquias. ● A produção deficiente de neutrófilos normais predispõe os pacientes a infecções, como pneumonia, infecções dentárias e sinusite. ● A expansão das células leucêmicas dentro da medula óssea pode resultar em dor óssea e, em crianças pequenas, em recusa para deambular. ● O depósito extramedular leva ao desenvolvimento de linfadenopatia, hepatoesplenomegalia com Larissa Moitinho hipersensibilidade do abdome à palpação e aumento dos testículos. ● Enquanto o comprometimento do sistema nervoso central (SNC) leva à ocorrência de cefaleias, náuseas, vômitos e paralisia de nervos cranianos. ● Uma massa mediastinal, que pode ser observada na LLA de células T, pode provocar desconforto torácico, falta de ar, dispneia aos esforços e síndrome da veia cava superior. TRATAMENTO A quimioterapia constitui a base do tratamento da LLA. O esquema de tratamento depende do imunofenótipo e da categoria de risco clínico e molecular. ● Nos protocolos-padrão, as crianças com LLA alcançam uma remissão em 98% dos casos, com sobrevida de pelo menos 5 anos a partir do diagnóstico em 80% desses pacientes. ● Por outro lado, aproximadamente 85% dos adultos obtêm uma RC, com duração mediana da remissão de 15 meses e taxa de cura final de apenas 25 a 40%. A LLA de células B maduras não responde de modo satisfatório à quimioterapia tradicionalmente usada para a LLA de células precursoras. ● Entretanto, foram obtidas taxas de sobrevida livre de eventos (SLE) que ultrapassam 90% com tratamentos planejados para o linfoma de Burkitt, que dão ênfase à ciclofosfamida e à rápida rotação de antimetabólitos em altas doses. ● Essa estratégia difere dos tratamentos da LLA de células precursoras, que envolvem módulos sequenciais de indução da remissão, intensificação, profilaxia do SNC e manutenção. ○ A indução da remissão tem por objetivo restaurar a normalidade das contagens hematológicas e aparência da medula óssea, reduzir a porcentagem de blastos para < 5% e eliminar a doença extramedular. ○ A intensificação tem por objetivo eliminar a leucemia residual, prevenir a recidiva e reduzir a possível emergência de células resistentes a fármacos. ○ A terapia de manutenção preserva a remissão. Larissa Moitinho Os cuidados de suporte incluem a administração de fatores de crescimento dos leucócitos, antibióticos para profilaxia e tratamento das infecções,transfusões de hemoderivados e tratamento dos distúrbios eletrolíticos. DIAGNÓSTICO A classificação da Organização Mundial da Saúde (OMS) descreve três entidades distintas de LLA: ● A LLA-B com anormalidades genéticas recorrentes. ● A LLA-B sem outra especificação (citogeneticamente normal). ● E a LLA-T. Para classificar uma neoplasia maligna hematológica como LLA, é preciso haver envolvimento de pelo menos 25% dos linfoblastos precursores condicionados para a linhagem de células B ou de células T presentes na medula óssea e no sangue periférico. A avaliação diagnóstica consiste em exames de sangue, exames de imagem, aspiração e biópsia de medula óssea e punção lombar (PL). ● O hemograma completo e o esfregaço de sangue periférico podem revelar leucocitose com linfoblastos, com redução das contagens hematológicas normais. Leucemia Linfocítica Crônica (CLL) ETIOFISIOPATOLOGIA A leucemia linfocítica crônica (LLC) é uma doença neoplásica, caracterizada pelo acúmulo de linfócitos monoclonais no sangue, na medula óssea e nos tecidos linfoides. ● Esses linfócitos consistem em pequenas células B de aspecto maduro, que tipicamente expressam CD19, CD5 e CD23. ● Em geral, trata-se de uma doença de pessoas idosas, e o prognóstico varia amplamente, desde alguns anos a muitos anos; todavia, a LLC não é considerada curável fora do contexto do transplante de medula óssea. ● Algumas vezes, essas células neoplásicas predominam em linfonodos, levando à classificação da doença como linfoma. Larissa Moitinho ● Por esse motivo, a OMS, em 2008, definiu essa neoplasia como leucemia linfocítica crônica/linfoma linfocítico de pequenas células (LLC/LLPC). EPIDEMIOLOGIA A LLC é a forma mais comum de leucemia entre adultos nas sociedades ocidentais e responde por 30% de todas as leucemias. ● Nos EUA, as estimativas em 2012 eram de 16.060 novos casos ou 4,2 por 100 mil indivíduos e 4.580 mortes. ● A razão entre homens e mulheres é de aproximadamente 3:2. ● A LLC compreende 1% de todos os cânceres e é uma doença de adultos idosos com idade mediana de 72 anos; apenas 10% dos pacientes têm < 50 anos. A doença tende a ocorrer em famílias. Quando vários membros de uma família apresentam LLC, pode-se identificar um clone detectável de células da LLC por citometria de fluxo em 13,5% dos parentes de primeiro grau aparentemente sadios de pacientes portadores de LLC. Além disso, entre indivíduos normais com > 40 anos de idade, pode-se identificar um clone de células B compatível com LLC por meio de citometria de fluxo multiparamétrica em 3,5% dos indivíduos. ● Não se sabe ao certo se esses indivíduos irão progredir para uma doença clinicamente significativa. ● A LLC é incomum na Ásia. FATORES DE RISCO Existem poucos fatores de risco conhecidos para a leucemia linfoide crônica: ● Idade: O risco de leucemia linfoide crônica aumenta com a idade. 90% dos pacientes com leucemia linfoide crônica têm mais de 50 anos. ● Exposição a produtos químicos: Existe a suspeita que a exposição a longo prazo a alguns pesticidas possa estar ligada a um maior risco de leucemia linfoide crônica. ○ A exposição ao radônio em residências também tem sido associada a um risco aumentado de leucemia linfoide crônica. ● Histórico familiar: Parentes de primeiro grau de pacientes com leucemia linfoide crônica têm um risco dobrado para desenvolver esse tipo de câncer. ● Gênero: Em geral, o risco de leucemia linfoide crônica é maior em homens do que em mulheres, mas a razão disso é desconhecida. Larissa Moitinho ● Etnia: A leucemia linfoide crônica é mais comum na América do Norte e na Europa do que na Ásia, o que pode estar relacionado às diferenças genéticas ao invés de fatores ambientais, porque as pessoas mantêm o mesmo risco, mesmo quando se deslocam de uma região para outra. Fatores ambientais, como exposição à irradiação, luz solar, toxinas químicas ou vírus, não estão associados a uma incidência aumentada da doença. SINAIS E SINTOMAS A maioria dos pacientes com LLC apresenta sintomas leves de fadiga ou mal-estar. ● Mais de 25% dos casos são assintomáticos, com linfocitose incidental no sangue, e quase 80% dos pacientes têm linfadenopatia indolor. Em certas ocasiões, os pacientes irão apresentar doença avançada com febre, sudorese, perda de peso, anemia, trombocitopenia ou infecções recorrentes. OBS: Embora a tomografia computadorizada (TC) não constitua parte da avaliação de rotina da LLC, ela pode demonstrar, em certas ocasiões, a presença de linfadenopatia maciça não identificada. DIAGNÓSTICO Os critérios diagnósticos para a LLC evoluíram com o passar do tempo, e, na atualidade, a maioria dos médicos segue os critérios delineados em 2008 pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelo International Workshop on Chronic Lymphocytic Leukemia (IWCLL). ● Em consequência, o diagnóstico de LLC exige uma linfocitose de > 5.000/μL, com linfócitos que consistem em células B (positivas para CD19, CD20 e CD23) e exibem o marcador CD5 de células T aberrantemente expresso. É comum efetuar a seguinte avaliação em pacientes com LLC: ● Anamnese e exame físico (sintomas B, linfadenopatia, esplenomegalia); ● Hemograma completo com contagem diferencial, contagem de reticulócitos, teste de Coombs e desidrogenase láctica (LDH); ● Bioquímica de rotina, ácido úrico, provas de função hepática, incluindo albumina, e globulina; ● Deve-se efetuar a sorologia para hepatite B se houver probabilidade de tratamento com rituximabe; ● Eletroforese das proteínas séricas; ● Microglobulina-β2; ● Citometria de fluxo do sangue: CD5, CD10, CD19, CD20, CD23, CD38, ciclidina D1; ● Os ensaios clínicos podem solicitar análise mutacional de ZAP-70 e IgVH; ● Biópsia de linfonodos: painel imuno-histoquímico:CD3, CD5, CD10, CD20, CCD1; ● Biópsia de medula óssea com citogenética e análise FISH: del(11q), trissomia do 12, del(13q), del(17p). Considerar a análise de FISH para t(11;14) nos casos de Larissa Moitinho suspeita de linfoma de células do manto. OBS: Convém assinalar que o exame físico e o exame do sangue periférico são habitualmente adequados para a avaliação inicial de pacientes assintomáticos, e a biópsia de medula óssea é, em geral, adiada até que o tratamento seja iminente ou quando indicado para estabelecer a base fisiopatológica da anemia ou da trombocitopenia. TRATAMENTO A indicação para o tratamento de um paciente com LLC baseia-se na emergência desintomas causados pela massa tumoral (dor, comprometimento de órgãos ou sintomas constitucionais) ou no desenvolvimento de anemia e/ou trombocitopenia. ● É importante investigar os mecanismos de qualquer citopenia. ● O desenvolvimento de citopenia autoimune não influencia a sobrevida global, e, em geral, essas citopenias autoimunes podem ser controladas por meio de terapia imunossupressora com glicocorticoides ou rituximabe ou, em alguns casos, por esplenectomia. ● Se a expansão das células da LLC na medula óssea constituir a causa da citopenia, indica-se tratamento direcionado para controlar o tumor, visto que o paciente não irá melhorar significativamente sem esse tipo de tratamento, e esse estágio avançado representa ameaça à sobrevida. LÂMINAS Larissa Moitinho Na medula óssea normal, as células das três linhagens hemopoéticas estão mescladas a células adiposas. As leucemias mielóides se caracterizam já em baixo aumento pela alta celularidade da medula , com desaparecimento dos adipócitos. ● Na leucemia mielóide aguda (LMA) o aspecto é monótono, sendo as células neoplásicas constituídas praticamente só de blastos mielóides. Há obliteração das linhagens hemopoéticas normais. ● Na leucemia mielóide crônica (LMC) o aspecto é polimórfico, com células imaturas e maduras das linhagens granulocítica e megacariocítica (micromegacariócitos), sendo a série vermelha escassa. REFERÊNCIAS Estimativa 2020: incidência de câncer no Brasil / Instituto Nacional de Câncer. José Alencar Gomes da Silva. – Rio de Janeiro : INCA, 2019. 120 p. : il. color. CHABNER, Bruce A.; LONGO, Dan L. Manual de Oncologia de Harrison. 2 ed. Porto Alegre: AMGH. 874p. 2015. Larissa Moitinho câncer COLORRETAL Câncer Cólon EPIDEMIOLOGIA Para o Brasil, estimam-se, para cada ano do triênio de 2020-2022, 20.520 casos de câncer de cólon e reto em homens e 20.470 em mulheres. ● Esses valores correspondem a um risco estimado de 19,63 casos novos a cada 100 mil homens e 19,03 para cada 100 mil mulheres. Sem considerar os tumores de pele não melanoma, o câncer de cólon e reto em homens é o segundo mais incidente nas Regiões Sudeste (28,62/100 mil) e Centro-Oeste (15,40/100 mil). ● Na Região Sul (25,11/100 mil), é terceiro tumor mais frequente. ● Enquanto nas Regiões Nordeste (8,91/100 mil) e Norte (5,27/100 mil), ocupa a quarta posição. Para as mulheres, é o segundo mais frequente nas Regiões Sudeste (26,18/100 mil) e Sul (23,65/100 mil). Nas Regiões Centro-Oeste (15,24/100 mil), Nordeste (10,79/100 mil) e Norte (6,48/100 mil) é o terceiro mais incidente. ETIOFISIOPATOLOGIA O CCR ocorre mais frequentemente como uma transformação nos pólipos adenomatosos. ● Cerca de 80% dos casos são esporádicos, e 20% têm um componente hereditário. Os fatores predisponentes incluem colite ulcerativa crônica e colite de Crohn; o risco de câncer aumenta proporcionalmente à duração dessas doenças. Pacientes em populações com alta incidência de câncer colorretal ingerem dietas pobres em fibras que são ricas em proteína animal, gordura e carboidratos refinados. Os carcinógenos podem ser ingeridos na dieta, mas é mais provável que sejam produzidos por ação bacteriana sobre substâncias da dieta ou secreções biliares ou intestinais. O mecanismo exato é desconhecido. O CCR dissemina-se por extensão direta pela parede abdominal, metástase hematogênica, metástase para linfonodos regionais e invasão perineural. FATORES DE RISCO Larissa Moitinho A grande maioria dos cânceres colorretais é de ocorrência esporádica e não familiar. Os estudos epidemiológicos realizados demonstram risco aumentado de câncer colorretal nas seguintes condições/características: ● A história familiar de câncer colorretal está associada a risco aumentado de desenvolvimento de câncer colorretal. ○ Se um parente de primeiro grau teve câncer colorretal, o risco aumenta em 1,7 vez. ● Sociedades ocidentais/urbanizadas ● Dieta rica em carne vermelha ou processada. ● Aumento da flora anaeróbia intestinal. ● Diabetes melito/resistência à insulina: o risco de câncer de colo pode ser 30% maior em indivíduos diabéticos, em comparação com não diabéticos. ● Doença inflamatória intestinal. Observa-se uma incidência aumentada na doença de Crohn e na colite ulcerativa, associada à gravidade, extensão e duração da doença que acomete o colo. ● O risco de câncer de colo na colite ulcerativa é de aproximadamente 10% com duração de 10 anos, de 20% com de 20 anos e > 35% com duração de 30 anos. ● A colectomia total elimina o risco de câncer de colo. ● Tabagismo. ● Consumo de álcool. ● Ureterossigmoidostomia ● Bacteremia por Streptococcus bovis. ● Irradiação pélvica anterior. SINAIS E SINTOMAS Aproximadamente 50% dos cânceres de colo estão localizados no lado direito do colo o que difere daquilo observado há 50 anos, quando a maioria dos tumores era encontrada do lado esquerdo. ● A razão dessa mudança não é conhecida. Os sintomas de apresentação dependem da localização do tumor. ● A ocorrência de obstrução, perfuração, alterações no aspecto das fezes e hematoquesia é mais comum nos tumores do lado esquerdo. ● A anemia ferropriva é mais comum com tumores do lado direito. DIAGNÓSTICO Os cânceres colorretais originam-se, em sua maioria, de pólipos adenomatosos. ● A progressão de pequenos pólipos para pólipos adenomatosos, pólipos maiores, pólipos displásicos e, por fim, câncer ocorre no decurso de um período de pelo menos 10 anos. Os adenomas vilosos têm maior taxa de progressão para o câncer de colo do que os pólipos tubulares ou hiperplásicos. ● Essa progressão deve-se a uma série de mutações adquiridas, conforme delineado no trabalho de Bert Vogelstein. ● Em geral, acredita-se que apenas 1% dos pólipos irá progredir através Larissa Moitinho dessa sequência até o desenvolvimento de um câncer. ● Essa progressão deve-se a uma série de mutações adquiridas e, com frequência, é designada como modelo de Vogelgram, em homenagem a Bert Vogelstein, que inicialmente descreveu esses eventos. O propósito do rastreamento é detectar pólipos antes que eles se transformem em câncer. ● As diretrizes para rastreamento levam em consideração a eficiência, a sensibilidade, a especificidade, o custo e a morbidade do teste. É evidente que a colonoscopia é um meio mais efetivo de detectar qualquer pólipo no colo. ● Qualquer diagnóstico de pólipo na sigmoidoscopia deve levar a um exame completo por colonoscopia.
Compartilhar