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autor WAGNER SANTOS COELHO 1ª edição SESES rio de janeiro 2019 PRESCRIÇÃO DE EXERCÍCIOS PARA GRUPOS ESPECIAIS Conselho editorial roberto paes e gisele lima Autor do original wagner santos coelho Projeto editorial roberto paes Coordenação de produção andré lage, luís salgueiro e luana barbosa da silva Projeto gráfico paulo vitor bastos Diagramação bfs media Revisão linguística bfs media Revisão de conteúdo regina braga de moura e ercole da cruz rubini Imagem de capa kzenon | shutterstock.com Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2019. Diretoria de Ensino – Fábrica de Conhecimento Av. das Américas, 4.200 – Barra da Tijuca Campus Tom Jobim – Rio de Janeiro – RJ – CEP: 22640-102 Sumário Prefácio 5 1. Introdução à Epidemiologia e atividade física 7 Introdução à Epidemiologia 9 Indicadores e coeficientes de saúde 11 Saúde e qualidade de vida 13 Teoria da transição epidemiológica 15 Doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs) 19 Epidemiologia, atividade física e saúde 21 2. Atividade física e doenças metabólicas 27 Síndrome metabólica 29 Etiologia da síndrome metabólica 30 Resistência à insulina 30 Disfunção das células β-pancreáticas 34 Obesidade 35 Inflamação crônica 36 Papel do exercício na síndrome metabólica 37 3. Atividade física e doenças cardiovasculares 47 Doenças cardiovasculares 49 Benefícios do exercício físico 58 4. Atividade física e doenças respiratórias 67 Função respiratória 69 Ventilação pulmonar 71 Troca gasosa 73 Distúrbios do sistema respiratório 75 Insuficiência respiratória 77 Asma brônquica 78 Doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) 80 Benefícios do exercício físico 81 O exercício como intervenção terapêutica 83 5. Atividade física e o sistema imunológico 89 Visão geral do sistema imunológico 91 Doenças associadas ao sistema imunológico e exercício físico 94 Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) 95 Tolerância imunológica e autoimunidade 100 Respostas do sistema imunológico ao exercício físico 102 5 Prefácio Prezados(as) alunos(as), Este livro foi concebido como uma ferramenta para você tomar conhecimento de alguns aspectos fundamentais da ciência da prescrição de exercícios direcionada a alguns grupos especiais. Gostaríamos de convidá-lo a estudar e aprender por meio deste material. A prescrição de exercícios para grupos especiais deve partir do conhecimento dos quadros de doenças e suas complicações para o corpo humano. Em seguida, é fundamental que você conheça de que forma as intervenções com exercício físico podem contribuir para a prevenção, no controle da evolução e até mesmo na re- versão ou cura da doença. Em um primeiro momento, você tomará conhecimento de dados epidemio- lógicos relevantes, como a transição epidemiológica marcada pelas mudanças ob- servadas ao longo do século passado que modificaram as incidências e prevalências das principais causas de morte, as quais nos dias de hoje são principalmente asso- ciadas a doenças cardiovasculares e estão diretamente relacionadas aos hábitos de vida, incluindo a inatividade física. Neste cenário, ao longo do livro, você será conduzido a construir uma visão ampla e integrada sobre o papel do exercício físico e suas possibilidades de apli- cação e benefícios relacionadas às doenças metabólicas, cardiovasculares, respira- tórias e do sistema imunológico. Ao final deste passeio pela ciência da prescrição do exercício, você poderá reunir um repertório de informações relevantes para compreensão das principais doenças destes sistemas fisiológicos e principalmente, reconhecer o papel do profissional de Educação Física como ator indispensável nas abordagens preventivas e terapêuticas, além de conhecer as ferramentas básicas para sua atuação profissional nestes quadros clínicos. Bons estudos! Introdução à Epidemiologia e atividade física 1 capítulo 1 • 8 Introdução à Epidemiologia e atividade física Esse capítulo tem como propósito apresentar os conceitos básicos em Epidemiologia e suas relações com a atividade física. Neste capítulo, você será apresentado, por meio de uma breve perspectiva histórica da epidemiologia, à de- finição de saúde e seus indicadores; junto a isso você será conduzido a compreen- der os principais coeficientes e índices que explicam a prevalência, incidência, morbidade e mortalidade dos agravos à saúde. A transição epidemiológica é um conceito muito interessante ao qual você será apresentado neste primeiro capítulo. Você irá compreender que nos países em desenvolvimento como o Brasil, esse fenômeno se dá em função da inversão entre as principais causas de morte. No início do século passado, as principais causas de morte na população brasileira eram atribuídas às doenças infecciosas, no entan- to, atualmente, essa causa está relacionada às doenças crônico-degenerativas não transmissíveis (DCNT’s), como as doenças cardiovasculares. Dessa forma, você irá perceber que as doenças mais prevalentes nos dias de hoje estão diretamente associadas ao estilo de vida, tendo o sedentarismo como fator determinante para o surgimento destes quadros de comprometimento da saúde, portanto, por esse motivo existe uma relação direta entre a atividade física e muitos fatores epidemiológicos. Esses aspectos serão introduzidos neste capítulo e aprofundados ao longo deste livro. Sendo assim, logo neste primeiro capítulo você será conduzido a perceber a relevância que o profissional de Educação Física tem perante toda a sociedade. Por consequência direta dessa importância, é também fundamental que você perceba que à medida que você ganha espaço e importância, você também deve assumir maior responsabilidade, sendo assim o embasamento teórico e prático será de fun- damental para que a sua atuação profissional seja plena e atenda as necessidades da sociedade de forma ética, responsável e eficaz. OBJETIVOS • Definir conceitos básicos de epidemiologia e saúde; • Identificar os principais indicadores de saúde; • Reconhecer as principais doenças crônico-degenerativas não transmissíveis; capítulo 1 • 9 • Correlacionar o sedentarismo ao surgimento desenvolvimento das doenças crônico-dege- nerativas não transmissíveis; • Compreender a teoria da transição epidemiológica. Introdução à Epidemiologia A Associação Internacional de Epidemiologia (IEA) define a epidemiolo- gia como o estudo dos fatores que determinam a frequência e a distribuição das doenças nas sociedades humanas. A epidemiologia se ocupa de compreender os problemas de saúde em grupos populacionais, em geral em estudos envolvendo populações com grande número de pessoas. Esse eixo da saúde pública identifica fatores e ações para a prevenção ou profilaxia, fornece indicadores para o diagnós- tico de doenças transmissíveis e não transmissíveis e avalia o grau de correlação e casualidade entre diversos fatores e o surgimento das doenças. Os principais objetivos da epidemiologia, segundo a IEA são: • Descrever a distribuição e o impacto dos problemas de saúde nas popula- ções humanas. • Organizar bases de dados que sirvam para planejamento, execução e ava- liação de ações preventivas, controle e tratamento de doenças e identificação de prioridades nas intervenções. • Reconhecer e identificar fatores que originam as doenças e a característica de evolução das mesmas no organismo humano. Neste sentido, um epidemiologista estuda a distribuição da morbidade repre- sentada pela quantidade de portadores de determinada doença em relação à po- pulação total estudada e mortalidade. Esta, por sua vez, refere-se à quantidade de pessoas mortas em determinada população, realiza testes de eficácia e inocuidade de vacinas, desenvolve a vigilância epidemiológica e analisa fatores ambientais e socioeconômicos envolvidosdiretamente como fatores de casualidade de doenças. Um modelo de estudo tradicionalmente utilizado nos estudos epidemiológi- cos é o da “tríade epidemiológica” em que a inter-relação entre o agente, o ambien- te e o hospedeiro (ser humano) é investigada. Neste modelo, o ambiente influen- cia o agente e o hospedeiro, e também a via de transmissão do agente a partir de uma origem para o hospedeiro. capítulo 1 • 10 A origem histórica da epidemiologia é atribuída da Hipócrates, em que se especula que os seus escritos sobre as distribuições e ocorrências das enfermidades e relações com as epidemias fundamentam o raciocínio epidemiológico. Se você der um salto na história para meados do século XIX, para a cidade de Londres na Inglaterra, vai ver que existem relatos de uma grande epidemia de cólera, pro- movendo a reunião dos membros da Sociedade Epidemiológica de Londres. A primeira associação conhecida, organizada em 1850, verificou que a mortalidade por essa doença era diferente nas diferentes áreas da cidade. Essa observação permitiu levantar a suspeita de que a doença poderia ser trans- mitida pela água, e a condução de estudos epidemiológicos demostrou que a taxa de mortalidade estava diretamente relacionada às companhias de abastecimento de água, que captavam água de diferentes partes do Rio Tamisa, com diferentes níveis de poluição. Essa descoberta levou a criação de uma lei na época que aper- feiçoou a retirada de água por parte das companhias de abastecimento. Perceba que a aplicação do raciocínio de Hipócrates serviu para identificar a origem da epidemia, mesmo antes de se conhecer o agente causador da cólera; o Vibrio cholerae que só foi identificado em 1883 e ainda pôr em prática uma estratégia de prevenção da doença. Já no final do século XIX, os estudos de Louis Pasteur permitiram correla- cionar a ação de micro-organismos como agentes causadores de diferentes en- fermidades infecciosas e agentes envolvidos em epidemias, cunhando o conceito de “germe” que perdurou até meados do século XX. A descoberta de Pasteur e, posteriormente, o desenvolvimento dos antibióticos e das vacinas serviram de norteadores para as ações de saúde, que eram feitas principalmente por meio do isolamento para conter as epidemias, o uso dos antibióticos para o tratamento e o emprego de vacinas como forma de prevenção de doenças. Um dos casos mais emblemáticos em epidemiologia na história recente se relaciona ao consumo do tabaco como fator causador do câncer de pulmão. A produção e o consumo de tabaco caíram no gosto da população mundial ainda no século XVIII e o consumo de cigarros e charutos aumentou drasticamente ao longo do tempo. No início do século XX, a população americana, por exemplo, consumia cerca de 3,5 bilhões de cigarros e 6 bilhões de charutos por ano, atingin- do um consumo médio, no ano de 1853, de 3500 cigarros por pessoa. Alguns anos antes, pesquisadores ingleses fizeram um alerta sobre uma inespe- rada epidemia que surgia lentamente ao identificarem que a incidência de câncer capítulo 1 • 11 de pulmão tinha aumentado quase quinze vezes nas duas décadas anteriores. A partir desse alerta, um bioestatístico inglês, Bradford Hill, conduziu um estudo para identificar o fator de risco de câncer de pulmão. Neste estudo, os pesquisa- dores tiveram acesso aos hábitos de fumar, em relação à frequência, quantidade e outras informações, de mais de 40 mil indivíduos, entre fumantes e não fumantes. Essas pessoas foram acompanhadas por 29 meses, entre outubro de 1951 e março de 1954 e dentre os participantes deste estudo, foram registrados 789 mortes, das quais trinta e seis foram atribuídas ao câncer de pulmão. Quando os pesquisadores distribuíram essas mortes entre fumantes e não fumantes, a correlação saltou aos olhos, porque todas essas 36 mortes ocorreram entre fumantes, demonstrando de forma clara a relação de causa e efeito entre o tabagismo e o câncer de pulmão. A partir dessa breve história da epidemiologia, você pôde perceber a impor- tância dessa ciência e desses métodos de observação na identificação de fatores, variáveis e agentes causadores de doenças. Ao se estabelecer a relação de causa e efeito, também fica clara a possibilidade de desenvolver estratégias que possam reduzir os riscos à saúde, a morbidade e mortalidade, além de promover melhorias na qualidade de vida da população. Indicadores e coeficientes de saúde Você deve perceber que, o levantamento de dados e, a partir destes, a geração de informações são fundamentais para a compreensão da situação da saúde para que se estabeleçam estratégias de vigilância epidemiológica. Esses dados podem ser registrados de forma contínua, como nos casos de óbitos e nascimentos; de forma periódica, por meio de estudos de recenseamento da população ou de forma ocasional, por meio de estudos com objetivos específicos que visem, por exemplo, identificar a prevalência de doenças em certos grupos populacionais. Dentre os dados mais relevantes para fins epidemiológicos destacam-se in- formações gerais sobre a população, dados socioeconômicos, ambientais, sobre os serviços de saúde, informações sobre morbidade e sobre eventos vitais como o número de nascidos e de óbitos. Neste sentido, indicadores de saúde são medidas que contêm informações re- levantes sobre o estado do sistema de saúde e sobre a população. A produção e uti- lização destes indicadores são de responsabilidade de órgãos como o Sistema Único de Saúde (SUS) no âmbito municipal, estadual e federal, o IBGE, instituições de capítulo 1 • 12 ensino e pesquisa, ONGs, setores de administração pública que produzem dados de interesses para a saúde e associações técnico-científicas. Já o controle dos indicadores é feito pela Rede Interagencial de Informações para a Saúde (RIPSA), que dentre seus propósitos, visa estabelecer dados e indi- cadores consistentes, atualizados, abrangentes e de amplo acesso. A RIPSA ainda se propõe a aperfeiçoar a produção de dados e informações, por meio da articula- ção de instituições, promovendo o consenso sobre conceitos, métodos e critérios de utilização das bases de dados, muitas vezes disponíveis on-line para consul- ta pública. Os indicadores podem ser de dois tipos. Indicadores absolutos referem-se a números específicos, como o total de pacientes com determinada doença ou o número de óbitos. Já os indicadores relativos indicam coeficientes e índices. Geralmente os coeficientes são taxas que representam o risco de determinado evento acontecer em uma população. Dentre esses coeficientes, você deve com- preender alguns indicadores que podem ser calculados, em alguns casos, como a prevalência, incidência e letalidade, que podem ser inferidas de diferentes manei- ras, como indicado a seguir: • Prevalência = número total de casos / população exposta. • Incidência = número de casos novos / população exposta. • Prevalência = incidência × duração da doença • Letalidade = número de mortes para determinada doença / número de indi- víduos acometidos por essa mesma doença (mede a gravidade da doença). Para calcular o coeficiente de mortalidade geral (CMG), você pode usar dife- rentes formas, dependendo do tipo de informação que se quer extrair. A fórmula básica pode ser feita da seguinte forma: CMG = Número de óbitos todas as causas em um ano X lugar Y População ano X llugar Y x1000 Existem outros coeficientes de mortalidade, como o coeficiente de mortalida- de infantil ou de mortalidade por causas ou índices importantes como o índice de mortalidade infantil que leva em consideração o número de óbitos de crianças com menos de um ano de idade, frente ao número total de óbitos de uma população. capítulo 1 • 13 Finalmente agora, você poderá compreender o significado e diferenciar es- ses conceitos tão importantes na área da saúde. Repare que a morbidade mede a quantidade de indivíduos doentes em um determinado local e ano e a prevalência significa a frequência absoluta de casos, ouseja, o total de casos existentes de um quadro. Perceba assim que para efeitos de comparação e avaliação de risco, você deve usar o coeficiente de prevalência. Este permite medir a frequência de todos os casos da doença registrados, sejam ainda em tratamento ou que acabaram de ser diagnosticados, como novos casos em relação à população exposta. Neste sentido, um maior número de novos casos diagnosticados, a imigração de doentes e a diminuição da mortalidade por doenças crônicas são fatores que aumentam a prevalência. Em contrapartida, o aumento no número de óbitos, do percentual de cura e a emigração promovem efeito contrário e reduz a prevalência de certo agravo à saúde. Você saberia dizer quem morre mais, ao compararmos homens e mulheres? Apesar de nascerem mais crianças do sexo masculino no Brasil, a partir da adolescência a sobre mortalidade dos homens se torna um dado marcante que responde a essa pergun- ta, indicando que os homens morrem mais que as mulheres, em todas as faixas etárias. Vários fatores explicam esses dados, dentre eles os altos índices de mortalidade devido a causas violentas da população masculina, que estão relacionadas, por exemplo, a mortes por acidentes de trânsito, além disso, há maior incidência de doenças cardiovasculares em homens. Esses dados indicam que os homens são mais vulneráveis sob o ponto de vista biológico e social, quando assumem comportamento mais arriscado. Saúde e qualidade de vida A Organização Mundial da Saúde (OMS) foi criada pela Organização das Nações Unidas (ONU) com o objetivo de elevar os padrões mundiais de saúde. Dentre as ações da OMS, há a tentativa de possibilitar a centralização de temas abrangentes; incluindo a qualidade de vida e a saúde, assuntos impossibilitados de serem independentes entre si. A OMS, por meio do Programa de Saúde Mental, propôs a criação de um instrumento, através de um questionário (WHOQoL) que permite avaliar diferentes aspectos que influenciam diretamente a saúde e a qualidade de vida. Com base neste instrumento, você já se perguntou o quão satisfeito você está com a sua saúde? Responda a essa pergunta atribuindo: 1 para muito insatisfeito, 2 para insatisfeito, 3 nem insatisfeito, nem satisfeito, 4 para satisfeito e 5 para muito satisfeito. E ai, qual é a sua percepção sobre sua própria saúde? capítulo 1 • 14 Essa pergunta figura no WHOQoL da OMS. Mas afinal, você saberia definir o que é saúde? Para que você compreenda a dimensão dessa pergunta, primeiro podemos dizer que a percepção da saúde é algo subjetivo. De maneira simplificada, a saúde pode ser definida como a ausência de doença e neste sentido, a boa saúde está di- retamente relacionada à manutenção do equilíbrio de parâmetros fisiológicos que possam garantir o bom funcionamento de todos os órgãos, sistemas e tecidos de um organismo, garantindo que todas as funções vitais ocorram adequadamente. Assim, a saúde de um indivíduo é influenciada pela própria biologia humana. Em contrapartida, segundo a OMS “a saúde pode ser definida não apenas como a ausência de doença, mas também inclui o bem-estar social, psicológico, ambiental, físico e mental” e assim a saúde não é influenciada apenas por fatores biológicos, mas também por variáveis ambientais, sociais e relativas ao estilo de vida. Você deve saber que a boa alimentação, a prática regular de exercícios físicos orientados e o bem-estar emocional são fatores determinantes para a manutenção do equilíbrio do estado de saúde. Já a falta de acesso a serviços básicos de saúde, a exposição a situações precárias, como a falta de saneamento básico e acesso à água potável podem influenciar negativamente a saúde de um indivíduo ou de uma comunidade. Portanto, fica claro que uma boa saúde promove diretamente uma melhor qualidade de vida. Ainda sobre o questionário da OMS (WHOQoL), em uma escala de 1 a 5, sendo 1 muito ruim e 5 muito boa, como você avaliaria a sua qua- lidade de vida? A resposta a essa pergunta é ainda mais subjetiva, pois a percepção da qualidade de vida pode variar muito entre as pessoas. Para você, ter uma boa qualidade de vida pode estar associado a viver em um ambiente calmo como em uma cidade do interior, e já para outras pessoas, pode ser que justamente a agita- ção de um grande centro, represente uma boa qualidade de vida. Neste sentido, fica ainda mais difícil termos uma definição única para a qualidade de vida. O conceito de qualidade de vida sofre constantemente modificações de acordo com a época, o contexto social, a nação, cultura e crenças, de modo que não há definição que abranja suficientemente sua multidimensionalidade e seu conceito subjetivo, que inclui elementos de avaliação tanto positivos quanto negativos. A OMS, por meio do WHOQoL group, define a qualidade de vida como sendo “a percepção do indivíduo de sua posição na vida no contexto cultural e dos sistemas de valores nos quais ele vive e em relação a seus objetivos, suas expectativas, seus padrões e suas preocupações, bem como o bem-estar biopsicossocial e espiritual, capítulo 1 • 15 abrangendo quatro grandes dimensões, que incluem os domínios físico, psicológi- co, ambiental e de relações sociais”. Desse modo, a preocupação com qualidade de vida advém do próprio concei- to de saúde. Com isso, você pode concluir que apesar da subjetividade em alguns aspectos da saúde e qualidade de vida, a melhoria de qualquer fator relacionado a esses dois parâmetros irá impactar diretamente o outro, de forma também positiva. Você ainda pode perceber de forma clara que a escolha de um estilo de vida mais saudável que inclua a prática regular de exercícios físicos com adequada orientação, a escolha por hábitos alimentares mais saudáveis que garantam o con- trole do peso corporal, o acesso à assistência de saúde para avaliação periódica cer- tamente acarretará benefícios na prevenção de problemas de saúde, promovendo assim não só a boa saúde como também uma melhor qualidade de vida. Teoria da transição epidemiológica Neste tópico, você será apresentado à transição do cenário epidemiológico brasileiro, que sofreu importantes modificações no último século. Um indicador conveniente para avaliar as condições de vida e o modelo de desenvolvimento de uma população é o perfil de morbidade e mortalidade e, a partir deste perfil, uma importante teoria foi proposta por Omran em 1971, conhecida como teoria da transição epidemiológica e classificada em três estágios sucessivos da mudança dos padrões de morbidade e mortalidade: a “idade das pestilências e fome”, a “idade das pandemias reincidentes” e, finalmente, a “idade das doenças degenerativas”. Neste sentido, a transição epidemiológica pode ser compreendida como as mudanças ocorridas ao longo do último século nos padrões de mortalidade, mor- bidade e invalidez para determinada população e é geralmente acompanhada por modificações em padrões socioeconômicos, tecnológicos, demográficos de uma sociedade. Em um levantamento realizado em 2003, Buchalla, Waldman e Laurenti, listaram as principais causas de morte na cidade de São Paulo em diferentes pe- ríodos. Para que você tenha ideia, em 1901, a diarreia e a enterite representavam cerca de 20% das causas de óbito, sendo as principais responsáveis pelas mortes na cidade de São Paulo, seguidas pela bronquite aguda, representando 8,4%; a pneumonia responsável por 6,9% dos casos de óbitos e da tuberculose que corres- pondia a 6% dos óbitos. capítulo 1 • 16 No ano de 1930, as doenças infectocontagiosas eram responsáveis por 46% dos casos de óbito na população brasileira e, a partir de então, se verificou uma redução progressiva na frequência relativa de casos de óbito decorrentes a esse tipo de doença. Em contrapartida, houve um aumento gradual na incidência e na taxa de mortalidade de doenças cardiovasculares, que representavam apenas 12% dos casos, em 1930. Na cidade de São Paulo, no ano de 1960, as principais causas de morte passaram a ser atribuídasàs neoplasias malignas, respondendo por 12% dos casos, seguidas das doenças arteriais e degenerativas do coração, correspondendo a 10% dos óbitos; 7,7% dos casos eram decorrentes de lesões vasculares no sistema nervoso central e, em seguida, aparecendo a pneumonia e as disenterias represen- tando 7,2% e 6,2% dos casos de morte, respectivamente. Se você observa esse cenário no ano 2000, a principal causa de morte na cida- de de São Paulo passa a ser o infarto agudo do miocárdio, sendo 9,2% dos casos, seguida da agressão por disparo de arma de fogo representado por 5,3% dos casos, posteriormente aparece a pneumonia, responsável por 4,7% dos óbitos, o diabetes melito representando 3,4% das mortes e, em quinto lugar, as mortes por doença isquêmica crônica do coração, com cerca de 3%. Ao comparar as principais causas de morte em três momentos distintos do último século, na maior cidade do Brasil, você pôde notar uma tendência clara a mudança no perfil das principais causas de morte. Ao fazermos uma comparação, no início do século passado as doenças cardiovasculares correspondiam a 12% dos casos de morte e são, atualmente, as principais causas de morte em todas as regiões brasileiras, respondendo por quase um terço dos óbitos. O reconhecimento da transição epidemiológica no Brasil não é necessaria- mente algo novo. Em um estudo publicado em 1992 e recentemente republicado, foi reportado que até a década de 1940 havia um predomínio de mortes associadas a doenças infecciosas e parasitárias como principal causa de morte, representando 43,5% do total de óbitos e, já em 1986, as doenças do aparelho circulatório atin- giam 33,5% dos casos de morte em comparação com os 14,5% dos casos de morte reportados nos anos de 1940, como ilustrado na figura 1.1. capítulo 1 • 17 Infecções parasitas Aparelho circulatório Aparelho respiratório Aparelho diges�vo Neoplasias malígnas Causas externas Outras causas 0,0 20,0 40,0 60,0 Pe rc en tu al d e ób ito s 80,0 100,0 1930 1940 1950 1960 1970 1980 1986 21,3 19,8 29,4 29,2 30,8 24,5 16,7 2,6 2,4 3,3 4,8 7,5 7,7 14,8 2,7 3,9 5,7 8,1 9,7 11,2 11,9 4,4 3,8 2,4 2,5 2,5 4,3 4,7 11,5 12,1 9,1 8,0 9,0 10,1 10,3 11,8 14,5 14,2 21,5 24,8 30,8 33,5 45,7 43,5 35,9 25,9 15,7 11,4 8,0 Figura 1.1 – Distribuição das mortes por grupos de causas. Brasil e capitais – 1930-1986. Araujo, in memorian, 2012. Essa mudança no padrão de mortalidade é determinada por vários fatores, desde a modificação demográfica, passando pelo avanço tecnológico e científico que apoiam a clínica médica, a assistência à saúde e a prevenção de doenças, mas também por mudanças no estilo de vida e nos hábitos de saúde. A cidade de São Paulo, por exemplo, teve aumento de sua população em 36 vezes entre o ano de 1901 e o ano 2000, decorrente a um grande fluxo migratório e um amento de 23 vezes no número de nascidos. Somado a isso, o coeficiente de mortalidade infantil capítulo 1 • 18 diminuiu 2,6 vezes neste mesmo período, além do aumento na expectativa de vida ao nascimento e do envelhecimento da população. Outros fatores explicam essa transição, como modificações socioeconômicas, o nível de escolaridade da mãe, o acesso ao saneamento básico e a disponibilidade de água de qualidade, medidas no cuidado básico de higiene e assistência à saúde e nutrição. Além disso, a profusão da vacinação com ampla distribuição à população foi responsável por notáveis mudanças nos perfis relevantes de óbitos. Estima-se que, só para o sarampo, o papel preventivo da vacinação foi responsável por evitar cerca de um milhão de mortes no mundo, por ano, na última década do século XX. A evolução da mortalidade proporcional no Brasil, entre 1930 e 2003, de acordo com as causas pode ser observada na figura 1.2. 50 1930 1940 1950 1960 1970 1980 1988 2000 2003 40 30 20 10 0 Infecciosas e Parasitárias Neoplasmas Extremas Aparelho Circulatório Figura 1.2 – Evolução da mortalidade no Brasil – 1930-2003. Barbosa et al., 2003 apud BRASIL, Ministério da Saúde, 2005. Em resumo, é importante que você perceba que, de acordo com a teoria da transição epidemiológica, há uma evolução progressiva na mudança do perfil de mortalidade, em que no início do século passado, as altas taxas de mortalidade eram atribuídas às doenças infecciosas e ao final deste século, as causas de óbitos predominantes passam a ser as doenças cardiovasculares, as neoplasias, as causas externas e outras doenças crônicas não transmissíveis (DCNT’s). Apesar de esse padrão ser observado nos países desenvolvidos e em muitos países em desenvolvimento, no Brasil essa transição apresenta perfil peculiar, em que novos e velhos problemas de saúde coexistem com destaque para as doenças crônico-degenerativas, porém ainda com grande incidência de doenças infecciosas em função da reintrodução de doenças como dengue, febre amarela e cólera, e a persistência de quadros como malária, tuberculose e hanseníase. Isso sugere que capítulo 1 • 19 no Brasil não ocorre transição epidemiológica propriamente dita e sim uma sobre- posição de diferentes contextos epidemiológicos. Doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs) A partir da abordagem anterior, você deve imaginar que um dos grandes de- safios de saúde para esta e as próximas décadas são as doenças crônicas não trans- missíveis (DCNT’s). Elas representam uma grande ameaça para a qualidade de vida de indivíduos em todo o globo, causam enormes gastos no sistema de saúde e apresentam altos índices em morbidade e mortalidade. As DCNT’s foram agrupadas deste modo pela característica multifatorial e as- sociação com fatores de risco modificáveis, como sedentarismo, tabagismo, abuso de bebidas alcoólicas, sobrepeso e obesidade (IMC > 25 kg/m2), as dislipidemias, além dos fatores de risco não modificáveis, como hereditariedade, sexo, idade e etnia. As principais DCNT’s que apresentaram grande aumentode incidência e prevalência no mundo globalizado e industrializado incluem as doenças metabó- licas como o diabetes melito (DM), as doenças cardiovasculares (DCV), doenças respiratórias crônicas, neoplasias e doenças musculoesqueléticas. O diabetes melito (DM) tipo II é considerado hoje uma epidemia mundial, ocorrendo paralelamente à epidemia de obesidade e do sedentarismo, e represen- tando um grande desafio para os sistemas de saúde de todo o mundo, afetando a qualidade e a expectativa de vida, devido a diversas complicações funcionais. No Brasil, estima-se que 45,7% da população acima dos 45 anos de idade referem ter DM II. Nos indivíduos assintomáticos com mais de 40 anos e sem outros fatores de risco, o rastreamento para DM II deve ser realizado por meio da dosagem dos níveis de glicemia em jejum, podendo ocorrer a cada três anos. A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é o maior fator de risco para a DCV, estando diretamente correlacionada ao aumento da incidência de infarto agudo do miocárdio e acidentes vasculares. Estima-se que, no ano de 2008, 63% das mortes no mundo se deveram às DCNT’s, e dentro dessa realidade as doenças cardiovasculares apresentam a maior prevalência, respondendo por 48% de todas as DCNT’s. O número total de mortes atribuído as DCNT’s para o ano de 2008 foi de cerca de 36 milhões de óbitos. Em adultos brasileiros, com mais de 40 anos, tem-se encontrado uma prevalência de HAS de 35%. Estudos epidemiológicos aliados à utilização de exames de rastreio permitem a detecção precoce da HAS e, capítulo 1 • 20 assim, favorecem o início do tratamento adequado ou medidas profiláticas, pro- movendo grande redução na morbidade e mortalidade. As neoplasias também apresentam destaque neste cenário, os casos de câncer, no ano de 2008, foram responsáveis por 21% dos óbitos decorrentes às DCNT’s. Estimativas em escala mundial indicam que no ano de 2012, foram referidos 14,1 milhões de novos casos de câncer com 8,2 milhões de óbitos. As maiores taxas de incidência ocorreram em países desenvolvidos, incluindo paísesda Europa Ocidental e da América do Norte, mas à medida que a transição epidemiológica ocorre nos países em desenvolvimento, como o Brasil, esse cenário tende a se tor- nar mais incidente. Para o Brasil, estima-se a ocorrência de 600 mil novos casos de câncer para cada ano no biênio 2018-2019. Os cânceres mais frequentes serão o de próstata no caso dos homens, com estimativa de 68 mil novos casos, representando 31% de todos os cânceres, seguido do câncer de pulmão, representando 8,7% dos casos. Já para as mulheres a maior incidência será decorrente do câncer de mama, com 60 mil casos novos, uma proporção de 29,5% dos casos de câncer seguidos pelo câncer de intestino que correspondem a 9,4% dos novos casos. Esses tipos de neoplasias são enfermidades que apresentam correlação direta com o estilo de vida, em que a atividade física insuficiente, o tabagismo e os maus hábitos alimentares estão intimamente ligados ao desenvolvimento destes quadros. A distribuição proporcional dos dez tipos mais incidentes de neoplasias estimados para 2018 estão ilustrados na figura 1.3. Próstata Traqueia, Brônquis e Pulmão Cólon e Reto Estômago Cavidade Oral Esôfago Bexiga Faringe Leucemias Sistema Nervoso Central 68.220 18.740 17.380 13.540 11.200 8.240 6.690 6.390 5.940 5.810 31,7% 8,7% 8,1% 6,3% 5,2% 3,8% 3,1% 3,0% 2,8% 2,7% Localização Primária Casos % Homens Figura 1.3 – Distribuição proporcional dos dez tipos de câncer mais incidentes estimados para 2018, por sexo, exceto pele não melanoma, número arredondados para múltiplos de 10. INCA, 2017. capítulo 1 • 21 Epidemiologia, atividade física e saúde A partir do conhecimento da prevalência dos fatores de risco para as DCNT’s, você deve ter percebido um grande componente de natureza comportamental que explica o surgimento desses agravos à saúde, incluído a dieta, o tabagismo, o abuso de bebidas alcoólicas, drogas lícitas e ilícitas e o sedentarismo. Perceba também que, devido à natureza diversificada dos fatores de risco, há a necessidade mul- tidisciplinar nas ações preventivas que podem ter grande eficácia, impactando a prevalência destes quadros, bem como a redução dos custos dos sistemas de saúde. Neste sentido, a atividade física adequada, orientada por profissionais capa- citados representa um meio de promoção da saúde. Muitos estudos, nas últimas décadas têm demonstrado, de forma consistente, que a boa aptidão física e níveis adequados de atividade física estão associados à redução no risco de doença arterial coronariana, DM, HAS e câncer. Portanto, os benefícios da atividade física para a promoção da saúde são bem estabelecidos e além de reduzir o risco da doenças mencionadas anteriormente, a atividade física ainda é capaz de promover efeitos positivos sobre a saúde mental e retardar o desenvolvimento de quadros de demência, além de auxiliar na manu- tenção adequada da massa ou do peso corporal. Tendo em vista a estreita relação entre a prática regular de atividades físicas e a promoção da saúde, a Organização Mundial da Saúde e os países-membros, incluindo o Brasil, concordaram em promover ações e políticas direcionadas para a redução da inatividade física, em pelo menos 10%, dentre a prevalência de se- dentarismo em cada país, até o ano de 2025. Apesar de parecer ser consenso na sociedade que a prática regular de atividades físicas de forma orientada e adequada pode levar a efeitos positivos sobre vários aspectos da saúde, o sedentarismo ainda é um grande problema. Você prova- velmente pode achar isso um contrassenso, porém em um estudo publicado em 2018, no qual foram abordadas 358 pesquisas de 168 países, incluindo 1,9 milhão de sujeitos dentre esses estudos, o que representa 96% da população mundial, ficou demonstrado que a prevalência da prática insuficiente de atividade física atinge 27,5% da população mundial, um dado alarmante. Os estudos utilizados nesta pesquisa representaram um levantamento de dados referentes ao período entre os anos 2001 e 2016. capítulo 1 • 22 Nesta pesquisa, os autores ressaltam que uma fração maior do que um quarto da população adulta no mundo (27,5%) encontrou-se insuficientemente ativo no ano de 2016, e em comparação com o ano 2001, pôde-se observar que houve uma redução discreta no sedentarismo no mundo que era de 28,5% naquele ano. O quadro atual coloca mais de 1,4 milhão de indivíduos na idade adulta em um quadro de sedentarismo e, consequentemente, com risco aumentado de desenvol- vimento de doenças associadas à inatividade física. Na comparação entre homens e mulheres, as mulheres apresentaram-se mais sedentárias que os homens, com uma diferença de 6% na comparação entre os dois sexos, ocorrendo uma prevalência de sedentários de 25,5% e 31,5% para homens e mulheres, respectivamente. Com base nessas informações, fica evidente que a meta de redução da preva- lência do sedentarismo no mundo estabelecida pela OMS não está sendo alcan- çada. Contudo, deve-se destacar que neste período o problema do sedentarismo tornou-se ainda mais grave nos países ocidentais desenvolvidos e nos países em desenvolvimento, incluindo as nações da América do Sul e do Caribe. Nestas re- giões, a prevalência do sedentarismo aumentou em mais de cinco pontos percen- tuais na comparação entre os anos 2001 e 2016. Na América Latina e no Caribe, a prevalência do sedentarismo passou de 33,4% em 2001 para 39,1% em 2016, ou seja, você se encontra em uma região em que a inatividade física tem prevalência maior do que a média mundial. Para o Brasil, esse estudo revelou alguns dados nada animadores nesse cenário. Brasil, Alemanha, Bulgária e Cingapura estão entre os países em que houve maior aumento da prevalência a inatividade física no mundo, para as comparações entre os anos de 2001 e 2016. A prevalência da atividade física insuficiente no Brasil foi estimada em aproximadamente 45% para a população masculina e em mais de 50% da população feminina, um resultado muito grave. Tomando em conjunto os números de homens e mulheres, esse estudo revelou que quase metade da po- pulação brasileira encontra-se insuficientemente ativa, uma situação que definiti- vamente deve deixar você assustado. Dentre os fatores que podem explicar esses dados, é apontada a rápida ur- banização de países como Brasil, Argentina e Colômbia e um crescimento das cidades que não é acompanhado com infraestrutura adequada para estimular a população à prática de atividades físicas. Vale ressaltar que a mensuração dos níveis de atividade física na população inclui, além da prática orientada e controlada de exercícios, por meio de programas de treinamento, adesão a práticas formais de capítulo 1 • 23 exercícios físicos, mas também as atividades físicas associadas às atividades laborais que tendem à redução na medida em que a urbanização, aliada ao desenvolvimen- to tecnológico, ocupa o lugar do ambiente rural e de atividades de trabalho que exijam esforço físico. É justamente neste cenário que diferentes políticas públicas devem ser pen- sadas e colocadas em prática, como a construção de ciclovias, infraestrutura ade- quada para caminhada e corrida, parques e estações que estimulem a prática de exercícios nos espaços públicos, nas comunidades e nos ambientes de trabalho, ampliando as oportunidades para a prática de atividade física e melhorando as condições de mobilidade urbana. Nos próximos capítulos deste livro, você será conduzido através de um aprofundamento a compreender o papel da atividade física regular, da opção por um estilo de vida fisicamente ativo e, portanto, da relação direta entre a prática de exercícios físicos na promoção de saúde, prevenção e tratamento não farmacológi- co de DCNT’s. REFLEXÃO Agora que você foi apresentado aos principais indicadores, coeficientes em estudos epi- demiológicos, bem como à evolução da incidência dos diferentes tipos de doenças, é muito importante você perceber que os agravos a saúde prejudicam a qualidade de vida da popu-lação e representam altos custos aos sistemas de saúde que predominam na atualidade. Estes indicadores são em muitos casos evitáveis a partir da adoção de um estilo de vida mais ativo, com melhores escolhas alimentares e até com um comportamento social de menor exposição ao risco. Nesse cenário, fica evidente que o sedentarismo representa um comportamento que eleva significativamente o risco de aquisição de muitas DCNT’s, e assim você pode associar de forma clara que os profissionais de Educação Física passam a ter papel extremamente relevante com agentes de transformação, prevenção e controle de quadros de saúde, promo- vendo a manutenção e até a melhoria da qualidade de vida da população geral, independen- temente do sexo ou da faixa etária. A inatividade física ou o sedentarismo é o principal fator de risco para DCNT se exerce efeito negativo sobre a saúde metal e a qualidade de vida. Uma vez que as estimativas de prevalência de sedentarismo estão na ordem de 27,5% no mundo e de 47% para o Brasil, fica evidente que ainda existe muito que ser feito para mudar essa situação, desde políticas capítulo 1 • 24 públicas de incentivo à prática desportiva, até pequenas ações dos profissionais de Educação Física, que devem se apropriar da responsabilidade de contribuir para alterar esse cenário. Apesar de ser muito alarmante o fato de quase metade da população brasileira ser se- dentária, você pode olhar para essa situação com outro ponto de vista. Com base nessa realidade, a sua responsabilidade e o seu papel diante da sociedade na promoção de hábitos de vida mais ativos passam a ser ainda mais relevantes. Somado a isso, podemos ainda as- sumir que, por questões de mercado, você, enquanto futuro profissional de Educação Física, tem uma grande fração da população brasileira como cliente em potencial e assim espaço e mercado de trabalho. ATIVIDADES Agora que você fez a leitura de todo o texto, responda às questões para refletir sobre o que foi apresentado até aqui e consolidar pontos que foram apresentados ao longo deste capítulo. 01. (Faculdade de Medicina do ABC) Sabendo-se que a prevalência e incidência são medi- das de frequência, é correto afirmar que a) a prevalência representa o número de casos presentes (novos e antigos) em deter- minada comunidade em um período de tempo especificado; a incidência, o número de casos novos. b) a incidência representa o número de casos presentes (novos e antigos) em determinada comunidade em um período de tempo. c) a prevalência representa o risco de ocorrência (casos novos) de doença na população, sendo assim uma medida estática. d) prevalência e incidência são números de dados presentes em determinada comunidade e um período de tempo especificado e representa o risco de ocorrência em função do tempo. 02. (Santa Casa de Misericória – EMESCAM, 2009). Um novo tratamento para uma doença não infecciosa, capaz de evitar a morte, mas não de levar a cura, ocasionará, no comporta- mento desta doença a) aumento da prevalência. b) redução da prevalência. c) aumento da incidência. d) redução da incidência. e) não haverá alteração. capítulo 1 • 25 03. (Fundação João Goulart – FJG-RJ, 2011) Vários indicadores são utilizados para avaliar o comportamento da doença. Dentre eles, o mais adequado para avaliar a agressividade de uma doença é a sua a) morbidade. b) letalidade. c) incidência. d) mortalidade. e) nenhuma das respostas anteriores. 04. (Centro Educacional Serra dos Órgãos – UNIFESO, 2007) Qual é a taxa que mede o risco de se adquirir uma doença? a) Letalidade b) Mortalidade por determinada doença c) Incidência d) Prevalência e) Nenhuma das respostas anteriores 05. O sedentarismo ou inatividade física representa uma condição que está diretamente relacionada ao surgimento de diversas doenças, como as doenças cardiovasculares, o diabe- tes, e os diferentes tipos de câncer, como o câncer de mama e de colo de intestino, além de favorecer a dislipidemia, a obesidade e o desenvolvimento de quadros cognitivos que afetam a saúde mental. Diante deste cenário, a Organização Mundial da Saúde, traçou uma meta ambiciosa para reduzir o sedentarismo, na qual todos os países-membros concordaram em atingir essa meta até o ano de 2025. Essa meta de redução é da ordem de? a) 5% b) 10% c) 30% d) 50% e) 100% REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARAUJO, J. D. (in memorian). Polarização epidemiológica no Brasil* – Epidemiological Polarization in Brazil. Epidemiol. Serv. Saúde. Brasília, 21(4): 533-538, out.-dez. 2012. Brasil. Ministério da Saúde. A vigilância, o controle e a prevenção das doenças crônicas não transmissíveis: DCNT no contexto do Sistema Único de Saúde brasileiro. Brasil. Ministério da Saúde – Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde, 2005. capítulo 1 • 26 BUCHALLA, C. M., WALDMAN, E. A., LAURENTI, R. A mortalidade por doenças infecciosas no início e no final do século XX no município de São Paulo. Rev. Bras. Epidemiol. v. 6, n. 4, p. 335-344, 2003. Estimativa 2018: incidência de câncer no Brasil. Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva. Coordenação de Prevenção e Vigilância. Rio de Janeiro: INCA, 2017. GUTHOLD, R.; STEVENS G. A.; L. RILEY; L. M.; BULL, F. C. Worldwide trends in insufficient physical activity from 2001 to 2016: a pooled analysis of 358 population-based surveys with 1.9 million participants. Lancet Glob Health 6: e1077-86, 2018. LIMA J. G.; SANTOS JR. A. C.; NÓBREGA, L. H. C.; ANDRADA, N. C.; STEIN A. T.; GONÇALVES, M.; LOBE, M. C. S.; SORINO, E. A.; ANDRADA, N. C. 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O termo “síndrome” tem origem da palavra grega syndromé cujo significado é “reunião”. Dessa forma, este termo, bastante usado para definir determinada con- dição fisiopatológica, designa um conjunto de fatores, sinais e sintomas que po- dem ter origem comum ou independente, conhecida ou desconhecida, mas que, tomadas em conjunto, definem as manifestações clínicas do quadro patológico. A síndrome metabólica é caracterizadapela manifestação de pelo menos três de cinco achados clínicos, sendo eles obesidade central, hipertensão arterial, au- mento dos níveis de triglicerídeos plasmáticos, redução nos níveis plasmáticos da lipoproteína de alta densidade (HDL) e a resistência à insulina. Todavia, é agora que você, futuro profissional de Educação Física em todo seu espectro, deve re- conhecer a importância de sua atuação profissional na medida em que diversos estudos demonstram que a prática regular e adequada de exercícios físicos, super- visionada por profissionais habilitados, pode promover efeitos importantes sobre esse conjunto de fatores, reduzindo ou até revertendo-os. Assim, a atividade física representa uma estratégia essencial na prevenção e no tratamento desse quadro patológico. A seguir, você será conduzido a compreender justamente como a síndrome metabólica se desenvolve; você será apresentado aos principais fatores de risco deste quadro e mais importante de tudo, é fundamental que você, por meio do estudo deste capítulo, aprenda a estabelecer as relações en- tre o estilo de vida sedentário que está tão presente na nossa sociedade atual, como visto no capítulo anterior, com o surgimento destas doenças. Finalmente, não deixe de reconhecer a responsabilidade que o profissional de Educação Física deve assumir perante esse cenário, na promoção de hábitos de vida saudáveis, em um estilo de vida ativa que possa reverter e prevenir, evitando assim que a síndrome metabólica se desenvolva. OBJETIVOS • Compreender a etiologia da síndrome metabólica; • Identificar os fatores de risco da síndrome metabólica; capítulo 2 • 29 • Correlacionar o estilo de vida sedentário ao quadro patológico.; • Reconhecer o papel do exercício físico. Síndrome metabólica De acordo com a Federação Internacional de Diabetes, a síndrome metabólica é definida pela manifestação em conjunto de três alterações metabólicas dentre cinco fatores de risco que incluem a observação de obesidade central, elevação da pressão arterial, considerando pressão arterial sistólica ≥ 130 mmHg ou pressão arterial diastólica ≥ 85 mmHg, elevados níveis plasmáticos de triglicerídeos acima de 150 mg/dL, níveis reduzidos de lipoproteínas de alta densidade (HDL), abaixo de 40 mg/dL em homens e menores que 50 mg/dL em mulheres, além de resistên- cia à insulina, determinada por níveis de glicemia em jejum ≥ 100 mg/dL. Esses critérios estão reunidos na tabela 1, a seguir. FEDERAÇÃO INTERNACIONAL DE DIABETES (2009) Critério Obesidade(CA) Glicemia Triglicerídeos HDL-C Pressão Arterial Três de cinco fatores de risco > 102 cm (homens) > 88 cm (mulheres) ≥ 100 mg/dL ≥ 150 mg/dL < 40 mg/ dL (ho- mens) < 50 mg/dL (mulheres) ≥ 130/85 mmHg ou terapia anti-hipertensiva Tabela 2.1 – Critérios clínicos da síndrome metabólica de acordo com a Federação Internacional de Diabetes. CA, circunferência abdominal. HDL-C, lipoproteína de alta densidade – colesterol. A prevalência da síndrome metabólica em todo o mundo está estimada em mais de 20% da população adulta. No Brasil, estudos indicam uma prevalência de 18% para homens e 30% em mulheres, aumentando conforme a idade. Dessa forma pode-se dizer que é uma doença mais incidente em mulheres e idosos. A obesidade central ou abdominal, dentre os cinco fatores de risco, se apresen- ta como o fator mais predominante. A obesidade, que é determinada pelo índice de massa corporal (IMC) igual ou maior que 30, é descrita como uma pandemia global e estima-se que até 2030, 50% da população adulta será obesa. O acúmulo de gordura abdominal, mais do outros depósitos de gordura está diretamente correlacionado a um aumento no risco de quadros de inflamação sis- têmica, hiperlipidemia, resistência à insulina e doenças cardiovasculares. De fato capítulo 2 • 30 existe, um debate se a obesidade ou a resistência à insulina são as características centrais na etiologia da síndrome metabólica. Perceba então, por conta desses fa- tores que a parcela da população que se enquadra nos critérios de diagnóstico da síndrome metabólica é três vezes mais propensa a desenvolver doenças cardiovas- culares além de terem cinco vezes mais chance de desenvolver diabetes tipo II. Etiologia da síndrome metabólica A origem da síndrome metabólica é uma história muito bem conhecida por todos nós. Você com certeza conhece alguém que é sedentário por muito anos ou que começou a ganhar peso, incluindo acúmulo de gordura na região abdominal. Essas mudanças envolvem fatores ambientais e genéticos e simultaneamente se observa uma dificuldade na ação da insulina sobre os tecidos, o que leva uma ten- dência de hiperglicemia em jejum; o que vem primeiro? Embora muitos estudos tenham sido feitos nas últimas décadas, sua origem exata não está completamen- te compreendida. A ciência não sabe ao certo, e talvez essa não seja a principal pergunta. Apesar disso, você deve ter percebido que são vários os fatores e mecanismos envolvidos no quadro, incluindo; além da resistência a insulina, fatores como disfunções no tecido adiposo, inflamações crônicas, estresse oxidativo, disrupção do ciclo circa- diano, microbiota, fatores genéticos, dentre outros. A seguir, você terá oportunidade de aprofundar o conhecimento sobre alguns destes principais fatores relacionados à origem da síndrome metabólica. Resistência à insulina Você deve tomar conhecimento que a síndrome metabólica também pode ser conhecida como síndrome de resistência à insulina, devido ao importante papel que a resistência a esse hormônio provoca no desenvolvimento desse quadro. Essa terminologia é adotada pelo Grupo Europeu de Estudos em Resistência à Insulina e pela Associação Americana de Endocrinologistas Clínicos em detrimento ao ter- mo síndrome metabólica. O quadro de resistência à insulina é o que caracteriza a doença conhecida como diabete melito tipo II, Essa doença é responsável por cerca de 90% de todos os casos de diabetes. Neste caso, não há destruição das ilhotas pancreáticas nem tampouco um quadro autoimune como observado no diabetes tipo I. Outro fato capítulo 2 • 31 que deve ser ressaltado é que 80% dos diabéticos do tipo II apresentam algum grau de obesidade, principalmente com um perfil androgênico, devido ao acúmu- lo de gordura abdominovisceral. É importante, entretanto que você saiba que a obesidade não é causada pelo diabetes; o diabetes na verdade tende a provocar o emagrecimento, por um lado é a obesidade que tem participação central no de- senvolvimento da resistência à insulina. Por outro lado, nem todos os obesos com acúmulo de gordura abdominal se tornam diabéticos, isso porque existem fatores genéticos que predispõem ao desenvolvimento do diabetes do tipo II. O desenvolvimento dessa doença é progressivo e crônico; à medida que a resistência à insulina aumento, maior será a hiperglicemia e mais as células β-pan- creáticas se tornam disfuncionais, formando um círculo vicioso. Em uma fase precoce, o pâncreas consegue aumentar a produção de insulina, mas após vários anos da doença fora de controle, muitos diabéticos tipo II passam a apresentar deficiência quase absoluta na secreção deste hormônio. Em contrapartida, você precisa saber que todo esse processo pode ser contido ou até revertido, princi- palmente se tratado precocemente, e uma medida fundamental é a correção do peso corporal, revertendo a obesidade. Dessa forma, fica evidente, a importância da sua atuação, como profissional de Educação Física na promoção da saúde da população em geral. Para que você possa compreender a resistência à insulina, é importante re- lembrar os principais mecanismos de ação e de sinalização deste hormônio. Em uma situação normal, o aumento da glicemia decorrente da ingestão de alimentos estimula a liberação de insulina pelas células β-pancreáticas (figura 1) e dentre os principais efeitos, a insulina estimula a captação de glicose nas células musculares e no tecido adiposo, levando a um efeito hipoglicemiante(figura 2). Além disso, a insulina ainda exerce efeitos que promovem a síntese de glicogênio no fígado e nos músculos esqueléticos, bem como a síntese de ácidos graxos e triglicerídeos que são estocados no tecido adiposo e a supressão da gliconeogênese. capítulo 2 • 32 Figura 2.1 – Anatomia do pâncreas (a) – anatomia macroscópica. (b) Células da ilhota de Langerhans, que constituem o pâncreas endócrino. Silverthorn, 2017. Adaptado. Glucagon Insulina Oxidação da glicose Síntese de glicogênio Síntese de gordura Síntese de proteínas Figura 2.2 – O controle do metabolismo se dá pela razão insulina/glucagon, em que as ações da insulina predominam no estado alimentado. Silverthorn, 2017. Adaptado. Todos esses efeitos fi siológicos, ocorrendo de forma integrada, levam a efei- tos sinérgicos que somados, reduzem os níveis plasmáticos de glicose para níveis normais. O passo limitante para o efeito de redução da glicemia pela insulina recai sobre a ativação dos transportadores de glicose (GLUT4) nos músculos e no tecido adiposo, cujo mecanismo é dependente da ação da insulina, que é capaz de provocar o deslocamento do GLUT4 do citosol para as membranas dessas células, garantindo a entrada da glicose nas células (fi gura 3). capítulo 2 • 33 Líquido extracelualar Glicose Vesícula secretória Proteína transportadora GLUT 4 Músculo esquelé�co em repouso ou célula adiposa Receptor de insulida Glicose GLUT 4 A insulina liga-se ao receptor 1 Exocitose3 A glicose entra na célula 4 Cascata de transdução de sinal 2 Figura 2.3 – Mecanismo de ação da insulina, em tecidos dependentes de insulina. Silverthorn, 2017. Adaptado. Em uma situação anormal, com a resistência à insulina, é observada em uma primeira fase, a perda da secreção inicial de insulina em resposta a elevação da gli- cemia após a dieta, resultando em hiperglicemia pós-prandial. Em seguida, ocor- re uma segunda fase, caracterizada por uma secreção exagerada de insulina, oca- sionando hiperinsulinemia crônica. Com isso, tecidos dependentes da insulina, como o músculo e o tecido adiposo não conseguem ser sensibilizados pela insulina e, portanto não respondem adequadamente à ação deste hormônio. Dessa forma, você deve imaginar que os efeitos mediados pela insulina, como a captação de glicose, a ativação da glicólise no tecido adiposo e a síntese de gli- cogênio ficam comprometidos. Com o passar do tempo, a resistência à insulina capítulo 2 • 34 se agrava, e as células β-pancreáticas gradualmente ficam estressadas e entram em apoptose, representada pela morte celular programada, e dessa forma podem per- der completamente suas funções. Sem a ação da insulina, a hiperglicemia irá per- sistir; com isso a fase tardia da diabetes tipo II é semelhante ao diabético tipo I, que passa a depender da injeção de insulina para controlar a glicemia. Neste cenário, a adição de intervenções por meio da adequação da dieta e da prática de exercícios pode amenizar a resistência à insulina ou as funções das células β-pancreáticas. Disfunção das células β-pancreáticas Estudos indicam que a disfunção das células β-pancreáticas está altamente correlacionada à severidade da síndrome metabólica independentemente de outros fatores. Portanto, a recuperação da função normal destas células é uma importante estratégia para amenizar o quadro. Neste sentido, é importante ressaltar a sugestão do aumento do condicionamento cardiorrespiratório está associado positivamente com a recuperação da função das células β-pancreáticas em indivíduos com sín- drome metabólica, independentemente da composição corporal e outros fatores de risco. Em anos recentes, abordagens visando ao condicionamento cardiovas- cular têm recebido mais atenção. Em uma meta análise que abordou a relação do condicionamento físico e do índice de massa corporal com a mortalidade, foi demonstrado que indivíduos sedentários, com baixos níveis de condicionamento cardiorrespiratório apresentam o dobro do risco de mortalidade, independente- mente do índice de massa corporal. PERGUNTA Você saberia dizer qual é o significado metabólico do termo resistência à insulina? Para respondermos a essa questão, é necessário aprofundarmos o assunto, e relem- brarmos questões bioquímicas e metabólicas. Você deve se lembrar de que, normalmente, a insulina se liga ao seu receptor (IR), uma proteína de membrana plasmática para exercer seus efeitos. Essa ligação ativa a função enzimática de receptor, resultando na fosforilação de resíduos de tirosina dessa proteína. Na sequência, as proteínas que atuam como substra- tos do IR (IRS) são recrutadas e fosforiladas, desencadeando uma cascata de comunicação celular que leva à transferência de grupos fosfato para diferentes proteínas intracelulares, capítulo 2 • 35 resultando na ativação de várias rotas de sinalização e, consequentemente, diferentes res- postas metabólicas, incluindo o deslocamento do GLUT4 para a membrana, a ativação da síntese de glicogênio, proteínas e a lipogênese. Em um quadro de resistência à insulina, as vias de sinalização que dependem da transfe- rência de grupos fosfato ficam comprometidas, resultando na redução da expressão e deslo- camento do GLUT4, reduzindo a captação de glicose supressão das reservas de glicogênio e da síntese de proteínas. Essa deficiência na sinalização celular da insulina ainda leva a disfunções no controle de expressão gênica, resultando na síntese de VLDL. Os mecanismos da resistência a insulina ainda não estão completamente compreendidos, mas já se sabe que é a maior causa de obesidade associada ao sistema nervoso central por alterar o apetite e o comportamento alimentar. No tecido adiposo, a resistência à insulina leva à hiperlipidemia e inflamação, no tecido hepático, está associada à hiperglicemia, no coração, pode levar à insu- ficiência cardíaca. A resistência à insulina impacta a regeneração das células β-pancreáticas, apresenta efeitos sobre o endotélio vascular promovendo hipertensão. A ausência dos efei- tos da insulina sobre os músculos esqueléticos e tecido ósseo compromete a homeostase glicêmica; em conjunto, esses fatores encurtam o tempo de vida. Obesidade A obesidade é diretamente associada a uma variedade de doenças crônicas, como doenças cardiovasculares, diabetes melito tipo II, esteatose hepática e dife- rentes tipos de cânceres. A combinação do sedentarismo com a má alimentação contribui para o desequilíbrio energético em que o excesso de calorias supera o gasto energético diário, promovendo acúmulo de gordura corporal e obesidade. Nestes casos, quase sempre se observa elevação dos níveis plasmáticos de triglice- rídeos, que representa um importante fator de risco para o desenvolvimento da resistência à insulina e de um quadro inflamatório. O tecido adiposo é hoje reconhecido como um tecido endócrino capaz de secretar várias adipocinas, que são fatores hormonais produzidos pelos adipócitos, com capacidade de atuar em outros órgãos ou tecidos do corpo. Um exemplo muito interessante é o do hormônio leptina. A leptina é um hormônio produzido e liberado pelo tecido adiposo e que atua no hipotálamo, promovendo um efeito de saciedade, reduzindo a fome e, consequentemente, a ingestão de alimentos. Com base nessa informação, você então poderia se perguntar, por que as pes- soas obesas sentem fome? Acontece que em indivíduos obesos os níveis de leptina capítulo 2 • 36 são sim mais elevados, mas de forma parecida à resistência a insulina, estes sujeitos também apresentam resistência à ação da leptina, acarretando uma condição em que a saciedade não ocorre. Adicionalmente, com o aumento do tecido adiposo durante o desenvolvimen- to da obesidade, ocorre um grande aumento na expressão do angiotensinogênio, precursor da angiotensina I e II, vasoconstrictores, que por sua vez aumentam a atividade do sistema nervoso simpático e, consequentemente, promovem um au- mento da pressão arterial, outro importantefator de risco da síndrome metabólica. Inflamação crônica Em quadros de obesidade, diabetes tipo II, doenças cardiovasculares e outros fatores de risco associados à síndrome metabólica, têm sido observado algum grau de inflamação crônica decorrente aos efeitos desses distúrbios metabólicos sobre o sistema imunológico. Como você viu anteriormente, o tecido adiposo não é meramente um local de depósito de gordura; hoje a ciência já demonstrou que esse tecido é um poderoso órgão autócrino, parácrino e endócrino, na medida em que é capaz de produzir e secretar diversos fatores químicos. Em circunstâncias de acúmulo de massa gorda, durante o desenvolvimento da obesidade, várias substâncias que ativam a infla- mação como interleucinas, TNFβ, são secretadas. Esses fatores criam um círculo vicioso, ao promover a ativação de macrófagos do tecido adiposo que, por sua vez, produz mais citocinas pró- inflamatórias exacerbando o quadro de inflamação sistêmica que está associado à resistência a insulina. Um quadro de inflamação crônica ainda está associado à formação de placas de ateroma, um quadro conhecido como aterosclerose, que acomete o endotélio, ou seja, a camada mais íntima das artérias de grande e médio calibre, ocorren- do principalmente nas bifurcações das artérias, em que o fluxo de sangue é mais turbulento. A combinação da hipertensão com o quadro inflamatório representa uma agressão ao endotélio vascular, que por sua vez leva a uma disfunção dessas células que se tornam mais permeáveis aos LDL. As lipoproteínas que já estão au- mentadas no sangue que acabam sendo oxidadas e desencadeando uma sequência de eventos que começa com a adesão de leucócitos, monócitos, linfócitos e o acú- mulo de gordura; finalmente células do músculo liso modificadas produzem ma- terial fibroso que caracterizam a placa de ateroma. Essa placa irá atrapalhar ou até mesmo se desprender e obstruir o fluxo de sangue para alguma região do corpo. capítulo 2 • 37 Papel do exercício na síndrome metabólica Agora que você conhece os fatores de risco da síndrome metabólica e sua asso- ciação à inatividade física deve perceber a relevância de se traçarem estratégias para reverter ou controlar esse quadro. Muitos dos fatores de risco podem ser contro- lados ou revertidos com terapia farmacológica. A medicina conta com uma gama muito grande de medicamentos específicos que podem ser prescritos para esses sujeitos. Em contrapartida, simples mudanças no estilo de vida, especialmente por meio da adoção de uma vida fisicamente ativa, podem ter grande impacto na saúde dessas pessoas. Muitos estudos têm demonstrado uma forte relação entre obesidade e seden- tarismo, além disso, a síndrome metabólica está associada à inatividade física e ao baixo condicionamento cardiovascular. Em um estudo prospectivo, realizado em 2015 por Greer e colaboradores, envolvendo 930 homens, foi demonstrado que os sujeitos com comportamento altamente sedentários apresentam um aumento em 76% no risco de desenvolver a síndrome metabólica. O acúmulo de gordura abdominal é uma condição reversível e a sua redução pode levar a efeitos exce- lentes, ao reduzir o risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares e da síndrome metabólica. Muitos estudos demonstram efeitos do exercício sobre os fatores de risco. Estudos observando adultos obesos ou com sobrepeso demonstram melhoria do condicionamento cardiovascular como efeito do exercício. Evidências indicam que o exercício é capaz de reduzir significativamente os níveis de lipoproteínas e colesterol; esses efeitos ainda parecem ser mais importantes à medida que a inten- sidade do exercício aumenta, controlando assim a dislipidemia. Adicionalmente, vários estudos também reportam que o exercício pode levar à redução do acúmulo de gordura abdominal, que é um indicador de saúde mais importante do que o total de gordura corporal pelo fato de estar mais associado aos quadros inflamatórios. De fato, o treinamento tem sido visto como uma estra- tégia que leva à melhoria do quadro inflamatório, mesmo sem provocar redução do peso corporal. Fatores como a redução da hipóxia ao tecido adiposo, devido à melhoria do fluxo sanguíneo combinado com diminuição do estresse oxidativo, representam os efeitos anti-inflamatórios do exercício físico. Apesar disso, nem todos os estudos reportam evidências dos efeitos do exercício sobre marcadores de inflamação e, portanto não está completamente compreendido se esses efeitos capítulo 2 • 38 ocorrem de forma independente à perda de peso ou dependem da perda de peso promovida pelo exercício físico. Você pode estar se questionando então sobre o tipo e a dose de exercício que devem ser prescritos. Neste sentido, não existe um consenso para casos de infla- mação sistêmica, porém o Colégio Americano de Medicina Esportiva dispõe de recomendações de programas de exercício para o controle do peso e melhoria do status geral de saúde, indicando entre 150-250 minutos de exercício com inten- sidade moderada a alta por semana como ideal, embora outros autores sugerirem a prática de 30 a 60 minutos de atividades diárias como requisito para provocar mudanças positivas. De fato, estudos indicam que exercícios de maior duração e intensidade são mais efetivos na redução da inflamação sistêmica, indicando efeito dose resposta do exercício. Em contrapartida, estudos recentes também revelam que programas de treinamento intervalado de alta intensidade (HIIT) reduzem o risco da sín- drome metabólica. Sessões de HIIT, realizadas entre 2-3 vezes por semana, com intensidade de cerca de 80% do limiar aeróbio podem reduzir em cerca de 30% a prevalência da síndrome metabólica após nove meses de acompanhamento. Um estudo realizado para comparar diferentes intensidades de exercício, uti- lizou 75 sujeitos que foram divididos em três grupos com diferentes programas de treinamento; um programa de 10 mil passos diários, outro de caminhada de 1 hora diária por 12 meses ou um programa de condicionamento com intensidade superior a 75% do VO2 de pico. Vários efeitos metabólicos e vasculares positivos foram observados em todos os grupos, incluindo redução do índice de massa cor- poral, diminuição da circunferência abdominal, controle da glicemia, redução da resistência à insulina e controle de lipídeos plasmáticos. Contudo, os efeitos mais marcantes foram observados no grupo submetido ao programa de maior intensi- dade, acima de 75% do VO2 de pico. Em contrapartida, foi publicada uma revisão sistemática em 2017 por Ostman e colaboradores, em que o objetivo foi de investigar se o exercício físico promove melhorias em aspectos clínicos em indivíduos com síndrome metabólica. Neste es- tudo, os autores reuniram 16 estudos com um total de 800 participantes abordan- do os efeitos do exercício sobre diferentes variáveis metabólicas e demonstraram que o treinamento aeróbio é capaz de produzir efeitos discretos sobre hiperglice- mia em jejum, já a combinação do exercício aeróbio com o treinamento de resis- tência é capaz de levar a uma redução de 13% nos níveis de triglicerídeos. Esses capítulo 2 • 39 efeitos são discretos, porém quando combinados à melhoria da aptidão cardiovas- cular e controle da pressão arterial levam a efeitos expressivos na redução de risco. Contudo, neste estudo, os autores não encontraram diferenças significativas nos efeitos observados em decorrência ao exercício de intensidade moderada em comparação com o exercício vigoroso ou de alta intensidade e indicam a neces- sidade de mais investigações aplicando programas de exercícios para grupos com diagnóstico de síndrome metabólica e, dessa forma, sugerem que essa população siga as recomendações da prescrição de exercícios indicada para sujeitos portado- res de diabetes. Em linhas gerais, os autores concluem que diferentes programas de exercícios podem promover mudanças positivas na composição corporal, na capacidade cardiovascular e nas alterações metabólicas observadas emindivíduos portadores dessa síndrome. Em resumo, você pode assumir que programas de exercícios produzem mu- danças benéficas na composição corporal, no condicionamento cardiovascular e em marcadores metabólicos de sujeitos com síndrome metabólica, representando assim uma estratégia não só interessante, mas também fundamental para o con- trole deste quadro clínico. REFLEXÃO No cenário atual, especialmente nos países desenvolvidos e em desenvolvimento como o Brasil, observa-se um aumento do estilo de vida sedentário associado à obesidade, que são indicados como os principais fatores para o aumento da incidência da síndrome metabólica. Existem muitas evidências que suportam a ideia de que programas de exercício podem reverter esse quadro, embora a intensidade ótima ou o melhor tipo de exercício ainda não es- tejam esclarecidos, a adesão a um estilo de vida ativo é reconhecido em toda a comunidade cientifica na área da saúde como estratégia fundamental para controle e prevenção desse quadro patológico. Uma reflexão importante que podemos fazer sobre a síndrome metabólica pode ser ba- seada no fato deste quadro ser caracterizado pela combinação de vários fatores de risco. Neste sentido, de que adiantaria controlar a obesidade sem controlar a hipertensão, ou con- trolar a resistência à insulina sem controlar a dislipidemia? A medicina já dispõe de muitas estratégias farmacológicas para prescrever medicamen- tos capazes de atuar sobre aspectos metabólicos que controlam muitos desses fatores. No entanto, simples mudanças dos hábitos de vida, assumindo uma vida fisicamente ativa, com volume, intensidade e combinação de treinamentos adequados associado com dieta balan- capítulo 2 • 40 ceada, têm grande potencial e efeitos, levando a alterações positivas da maioria desses fato- res de risco. O exercício contribui para o controle da massa corporal, controle da dislipidemia e do quadro inflamatório, aliviando a resistência à insulina além de contribuir para o controle da pressão arterial. Neste sentido, o papel do rofissional de Educação Física é fundamental, oferecendo produtos e serviços que solucionem ou amenizem esses quadros, atuando como agente de transformação que deve fazer parte dos programas ou protocolos de reversão deste quadro. Neste cenário, um desafio destes profissionais ainda inclui a necessidade de garantir a ade- são e fidelização destes indivíduos a programas de treinamentos não só adequados, mas também atrativos. Mais uma vez, você deve reconhecer sua futura responsabilidade diante da sociedade na promoção da saúde e qualidade de vida. Entenda que com tamanha relevância, o profissional de Educação Física também deve assumir grande responsabilidade. ATIVIDADES Agora que você foi apresentado aos principais conceitos da síndrome metabólica e suas relações com a prática regular e exercícios físicos, aproveite os exercícios e atividades a se- guir para rever o conteúdo que foi discutido até aqui. Sempre que necessário, volte e consulte o texto para que você possa transformar e consolidar o seu conhecimento. 01. Uma mulher, 55 anos chega ao ambulatório, solicitando avaliação para iniciar dieta e prática de exercícios visando à perda de peso. Ao exame, ela apresenta estatura de 1,62 m, massa corporal de 68 kg, circunferência abdominal de 92 cm, PA de 136 × 88 mmHg, FC de 92 bpm. Os exames laboratoriais revelam glicemia de 98 mg/dL, colesterol total de 250 mg/dL, triglicerídeos de 145 mg/dL e HDL-colesterol igual a 46 mg/dL. De acordo com as diretrizes para síndrome metabólica, pode-se afirmar que, nesta mulher a) já existem critérios para definir síndrome metabólica. b) o valor do colesterol total auxilia na definição de síndrome metabólica. c) os níveis de PA ainda não contribuem para o diagnóstico de síndrome. d) se no próximo exame, o HDL-colesterol estiver abaixo de 40 ml/dL, haverá mais um critério para síndrome metabólica. 02. Uma mulher, 54 anos, matricula-se para iniciar a pratica de exercícios físicos com o objetivo de perder peso e no momento da anamnese, durante a avaliação relata que trouxe seus exames clínicos. Apresenta glicemia de jejum de 121 mg/dL, triglicerídeos de 175 mg/ capítulo 2 • 41 dL, HDL igual a 41 mg/dL, LDL de 188 mg/dL. Durante a avaliação, você calculou um IMC de 32, mensurou a circunferência abdominal de 91 cm e aferiu a pressão arterial: 145 × 87 mmHg. Qual dos parâmetros dessa aluna não é definido como critério para a síndrome me- tabólica? a) Glicemia de jejum b) HDL c) Pressão arterial d) Circunferência abdominal e) LDL 03. (Enem 2013) Adolescentes: mais altos, gordos e preguiçosos A oferta de produtos industrializados e a falta de tempo têm sua parcela de responsabili- dade no aumento da silhueta dos jovens. “Os nossos hábitos alimentares, de modo geral, mu- daram muito”, observa Vivian Ellinger, presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), no Rio de Janeiro. Pesquisas mostram que, aqui no Brasil, estamos exagerando no sal e no açúcar, além de tomar pouco leite e comer menos frutas e feijão. Outro pecado, velho conhecido de quem exibe excesso de gordura por causa da gula, surge como marca da nova geração: a preguiça, “Cem por cento das meninas que participam do Programa não praticavam nenhum esporte”, revela a psicóloga Cristina Freire, que moni- tora o desenvolvimento emocional das voluntárias. Você provavelmente já sabe quais são as consequências de uma rotina sedentária e cheia de gordura. “E não é novidade que os obesos têm uma sobrevida menor”, acredita Cláudia Cozer, endocrinologista da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica. Mas, se há cinco anos os estudos projetavam um futuro sombrio para os jovens, no cenário atual as doenças que viriam na velhice já são parte da rotina deles. “Os adolescentes já estão sofrendo com hipertensão e diabete”, exemplifica Cláudia. Sobre a relação entre os hábitos da população adolescente e as suas condições de saú- de, as informações apresentadas no texto indicam que a) a falta de atividade física somada a uma alimentação nutricionalmente desequilibrada constituem fatores relacionados ao aparecimento de doenças crônicas entre os ado- lescentes. b) a diminuição do consumo de alimentos fontes de carboidratos combinada com um maior consumo de alimentos ricos em proteínas contribuíram para o aumento da obesidade entre os adolescentes. c) a maior participação dos alimentos industrializados e gordurosos na dieta da população adolescente tem tornado escasso o consumo de sais e açúcares, o que prejudica o equilíbrio metabólico. capítulo 2 • 42 d) a ocorrência de casos de hipertensão e diabetes entre os adolescentes advém das con- dições de alimentação, enquanto na população adulta os fatores hereditários são pre- ponderantes. e) a prática regular de atividade física é um importante fator de controle da diabetes entre a população adolescente, por provocar um constante aumento da pressão arterial sistólica. 04. (Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes – Enade, Educação Física – INEP 2013). Síndrome metabólica é o termo empregado para designar um conjunto de fatores de risco de origem metabólica que estão associados à mortalidade por diversas causas. Embo- ra a síndrome metabólica seja caracterizada por grande variedade de fatores, há consenso na literatura sobre os seguintes componentes: intolerância à glicose, hipertensão arterial, dislipidemia e obesidade central. Esses problemas de saúde, por sua vez, estão relaciona- dos diretamente a distúrbios alimentares e sedentarismo. Programas de exercícios físicos, associados a mudanças de hábitos alimentares, têm apresentado resultados satisfatórios no tratamento da síndrome metabólica. O esquema a seguir apresenta o conjunto de alterações decorrentes da prática de exercícios físicos. Combate à síndrome metabólica Redução da gordura corporal Melhorar
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