Dutra e a PEB na Guerra Fria

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PEB no contexto da
Guerra Fria (1946-1951)
JEANCEZAR DITZZ DE SOUZA RIBEIRO
Professor de Direito Internacional e Relações Internacionais
“How do you do, Dutra?” 
2
Objetivos 
I – Examinar a política de alinhamento do governo Dutra (1946-1950). 
II – Identificar as principais mudanças na PEB após o Estado Novo (“Alinhamento sem recompensas”).
III – Analisar os objetivos dos EUA no seu relacionamento com o Brasil. 
Referências 
MOURA, Gérson.
 O alinhamento sem recompensa: a 
Política externa do governo Dutra.
FGV, 1990. (disponível online) 
https://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/handle/10438/6613
 
Eleições de 1945 – Dutra vence
São convocadas eleições presidenciais (após a renúncia de Vargas de 29 de outubro de 1945).
 
Às vésperas da eleição, Getúlio Vargas declara publicamente seu apoio a Dutra (28/11/45). 
O Presidente eleito Eurico Gaspar Dutra, ex-ministro da Guerra de Vargas, assume o poder, com o apoio da aliança PSD-PTB (31 de janeiro de 1946 a 31 de janeiro de 1951). 
Ministro das Relações Exteriores João Neves da Fontoura. 
(http://www.academia.org.br/academicos/joao-neves-da-fontoura/biografia) 
O Governo Dutra 
Nos círculos conservadores, costuma-se associar o governo Dutra ao respeito ao legalidade (Constituição Federal de 1946). 
“Mas, quando se tratava dos comunistas e dos trabalhadores organizados, o legalismo era muitas vezes esquecido” (FAUSTO, 2006, p. 401). 
Regulamentação do Direito de Greve Decreto- Lei 9070, proibida para atividades essenciais – “se o decreto fosse obedecido, só seriam legais greves nas perfumarias”. 
Nova Constituição brasileira de 1946 (18 de setembro)
I – Liberal e Democrática (liberdades de
Imprensa e organização partidária ) 
II – Proibida a Guerra de Conquista
III – Preferências pelos meios 
pacíficos de solução de conflitos 
(arbitragem ou diplomáticos).
IV – Ficou definido que a família se 
constituía pelo casamento de vínculo 
indissolúvel. 
Cronologia das RI – 1946
I – Convenção de Chicago da Organização da Aviação Civil Internacional (ICAO/OACI);
II – A Liga das Nações realiza sua última reunião formal em Genebra (18 de abril);
III – Conferência de Paris sobre problemas de pós-guerra, em especial sobre a situação da Itália (apenas 21 países);
IV – O Tribunal de Nuremberg condena 
líderes nazistas por crimes de guerra. 
I Assembleia 
Geral da ONU
Ocorreu em Londres, janeiro de 1946. 
Diante do impasse entre EUA e URSS, o Brasil é inscrito como primeiro orador, iniciando a tradição de ser sempre o primeiro país a abrir o debate teral.
A posição do Brasil na ONU será de alinhamento sem restrições ao bloco ocidental liderado pelos EUA. 
Enquanto isso na Argentina:
 uma terceira posição.
 O justicialista Juan Domingo Perón torna-se presidente na Argentina (4 de junho de 1946). 
A Política Externa de Perón buscará uma “terceira posição” diante da bipolaridade Leste-Oeste prevalecente na época (diferente do Brasil). 
Enquanto isso na Argentina:
 uma terceira posição.
 O justicialista Juan Domingo Perón torna-se presidente na Argentina (4 de junho de 1946). 
A Política Externa de Perón buscará uma “terceira posição” diante da bipolaridade Leste-Oeste prevalecente na época (diferente do Brasil). 
“O Beija-mão”! 
O General dos EUA, Dwight
Eisenhower, ex-comandante das forças
Aliadas e herói de guerra dos EUA, 
Visita o Rio de Janeiro (13 de agosto). 
Otávio Mangabeira, deputado baiano, 
líder da UDN, beija-lhe a mão (1946),
depois de um Discurso emocionado no Congresso. 
A Guerra Fria (1947)
I - Doutrina Truman de Contenção do comunismo;
II – Plano Marshall de ajuda econômica dos EUA à reconstrução da Europa; 
III - O PCB (Partido Comunista brasileiro) tem seu registro eleitoral cassado.
IV – Rompimento das Relações diplomáticas do Brasil com a União Soviética (20 de outubro), reatadas em 1945 por Vargas. 
V – OS EUA passam a representar os interesses brasileiros em Moscou. 
TIAR – Tratado Interamericano de Assistência Recíproca/1947
Conferência Interamericana
 para a Manutenção da Paz e
da Segurança no Continente.
Instrumento jurídico para 
promover a segurança jurídica 
do hemisfério contra agressões
externas.
http://www.oas.org/CSH/portuguese/novosdocsegcolect.asp. 
CEPAL e OEA (1948) 
CEPAL – Comissão Econômica para América Latina, no sistema da ONU, desenvolve reflexão voltada para os problemas do desenvolvimento da América Latina e as relações de centro e periferia.
 
Carta de Bogotá de 1948, criação da Organização dos Estados Americanos (OEA).
www.oas.org; 
OEA 
Na IX Conferência Interamericana de 1948, em Bogotá, tem-se a criação da OEA – Organização dos Estados Americanos. 
 Institucionaliza-se multilateralmente as relações políticas e econômicas dos Estados americanos. 
http://www.oas.org/pt/sobre/nossa_historia.asp 
GATT/47: 
General Agreement 
on Tariffs and Trade
Para regular o sistema multilateral do
Comércio (Genebra). 
Brasil é uma das 23 partes contratantes. 
Princípios da reciprocidade e não-discriminação (nação mais favorecida)
Transparência, livre acesso aos mercados e direitos de defesa comercial. 
Conferência de Havana, de 1948, aprova Carta instituindo a OIC (Organização Internacional do Comércio), que não será ratificada pelos EUA, nem pela maioria dos signatários. 
Abertura econômica do Brasil
Em função da abertura econômica ao exterior e do aumento de importações, a balança comercial brasileira registra déficit de 
US$ 55 milhões de dólares.
O plano dos EUA, do alinhamento, 
não era apenas para a conjuntura 
de guerra. “Tratava-se da 
conquista de mercados
 e do fortalecimento das 
relações econômicas visando 
ao crescimento da economia 
e à consolidação de sistema de poder
 dos Estados Unidos”, 
CERVO, 2002, p. 270.
Abertura econômica 
Em função da abertura econômica ao exterior e do aumento de importações, a balança comercial brasileira registra déficit de 
US$ 55 milhões de dólares.
Alinhamento especial? Percepções distintas e decepções da América Latina. 
EUA – um dos Polos do Poder Mundial; prioridade ao Mundo, aplicação de seus recursos na Europa, Oriente e África (não na América Latina). 
Brasil – redemocratização, colaborador na política latino-americana dos EUA e
auxílio no esforço de guerra. 
Dutra e o Alinhamento na Guerra Fria (interpretação do Cervo) 
I – Bipolaridade EUA e URSS. 
II – Processo de Descolonização.
III – Oposição entre Países desenvolvidos e subdesenvolvidos. 
A Influência cultural dos EUA 
“A influência cultural americana sobre o Brasil não foi resultado de um processo espontâneo, mas decorreu de um plano deliberado dos EUA no âmbito de uma estratégia mais ampla” (CERVO, 2002, p. 269). 
Os planos dos EUA eram mais amplos, além da conjuntura da guerra. 
Trata-se da conquista de mercados e do fortalecimento das relações econômicas visando ao crescimento da economia e à consolidação de sistema de poder dos Estados Unidos. 
“Relações especiais” ?
O Brasil, por ter redemocratizado suas instituições, ter sido colaborador na política latino-americana dos EUA e ter prestado auxílio no esforço de guerra, esperava a inauguração de uma nova fase. 
Frustração do Brasil e da América Latina 
MOURA, Gerson. O alinhamento sem recompensa: a Política externa do governo Dutra. FGV, 1990. 
https://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/handle/10438/6613
 
A Segunda Guerra Mundial 
Se os dois países tinham óticas diferentes na maneira de encaminhar a cooperação econômica, nos aspectos político e militar houve completo alinhamento na gestão do presidente Eurico Gaspar Dutra (1946-1950). 
Relações com a União Soviética 
O anticomunismo prevalecente no país leva ao rompimento das relações diplomáticas do Brasil com a União Soviética (20/10/1947) – no governo Dutra, MRE Raul Fernandes. 
(Copa do Mundo de 1982 – Brasil e URSS – Sócrates capitão https://trespontos.blog.br/2018/06/14/brasil_urss_1982/) 
Prestes e Aranha 
“Épreciso ainda incluir nesse processo a declaração de Luís Carlos Prestes de que lutaria pela URSS na hipótese do conflito com o Brasil, e os ataques da delegação e da imprensa soviética a Osvaldo Aranha na ONU”. 
Alinhamento do Brasil ao bloco ocidental – China nacionalista 
Em decorrência do movimento militar comunista contra o Governo Nacionalista chefiado pelo Marechal Chang Kai-Chek (foto), o governo brasileiro fechou a embaixada na China e o consulado em Xangai (1949). 
O Brasil acompanhou o voto dos EUA na ONU, quando se colocou a questão da admissão da China Popular, o representante brasileiro, Osvaldo Aranha, seguiu o voto norte-americano (instrução).
(A China de Chang Kai-Chek para Osvaldo Aranha era “apenas uma ficção da diplomacia norte-americana”) – CERVO, 2002, p. 273. 
O Governo Dutra – anticomunista 
Reprimiu greves e interveio agressivamente no movimento sindical, era um governo apartado dos anseios populares.
Para Gerson Moura é nesta perseguição ao sindicalismo e depois ao PCB que reside a explicação para a ruptura com a URSS. 
“Alinhamento automático complexo” 
-GATT – teses desenvolvimentistas
Relações com a URSS – era por considerações de ordem interna, ainda mais anticomunista que os EUA. 
Securitização da agenda hemisférica dos EUA (TIAR) – apoio brasileiro. 
Osvaldo Aranha, na ONU, percebia que não haveria guerra global entre as duas potências, e que em muitos casos prevaleceria a colaboração. 
Interesses econômicos (PEB) 
-Os interesses econômicos do país foram apresentados em duas ocasiões, na Conferência de Havana (1948), para discutir a criação de uma Organização internacional do Comércio (OIC), resultando em fracasso.
E na conferência de Bogotá (1948), que criou a OEA (Organização dos Estados Americanos). 
Um movimento em favor dos países latino-americanos foi realizados pelas Nações Unidas em outubro de 1948, quando foi criada a Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL), encarregada de desenvolver pesquisas e estudos sobre o desenvolvimento latino-americano, a despeito da oposição de Washington. 
Itamaraty da época 
O Itamaraty guiava sua ação externa pautado pelo medo dos conflitos sociais brasileiros e as reivindicações dos operários cuja legitimidade o governo Dutra recusava (repressão).
http://www.dmtemdebate.com.br/20-de-fevereiro-de-1946-mais-de-100-mil-trabalhadores-cruzam-os-bracos-em-sao-paulo-marcando-a-forca-dos-movimentos-independentes-de-trabalhadores/ 
“Memorando de Frustração” 
“Os ministros das Relações Exteriores do governo Dutra, João Neves da Fontoura e Raul Fernandes, aprenderam a forma da política de Vargas (alinhamento aos EUA), mas não foram capazes de reproduzir sua substância mais notável (utilizá-la como instrumento de barganha em suas negociações internacionais). (Gerson Moura) 
Esta Foto de Autor Desconhecido está licenciado em CC BY-SA
Comissão Abbink (Brasil e EUA) 
1948 – Comissão Técnica Mista Brasil – EUA, analisar a economia brasileira e fazer recomendações para a promoção do desenvolvimento. 
Missão Abbink/Bulhões. 
1949 – Ponto IV da Doutrina Truman para maior engajamento norte-americano no desenvolvimento do Brasil (julho de 1951 a dezembro de 1953 – 41 projetos em transporte e energia). 
Visita de Dutra aos EUA
17 a 29 de maio de 1949 
É a primeira visita de um chefe de Estado brasileiro àquele país (a viagem de D. Pedro II aos EUA em 1876 teve caráter privado). 
“Relação especial” – frustração
“Alinhamento sem recompensas”. 
ESG – Escola Superior de Guerra (1949) 
Criação da ESG, inspirada no 
National War College
Desenvolverá estudos com base na Doutrina de Segurança Nacional (“Os militares que fundaram a ESG, acreditavam que o País poderia tornar-se uma grande potência, desde que houvesse vontade política e, sobretudo, gerasse um método de planejamento próprio”).
https://www.esg.br/ 
https://www.esg.br/a-esg/historico
National War College 
Criada em julho de 1946. 
The National War College mission is to prepare future leaders of the Armed Forces, State Department, and other civilian agencies for high-level policy, command, and staff responsibilities by conducting a senior-level course of study in national security strategy and national security policy.
National Defense University 
https://nwc.ndu.edu
https://nwc.ndu.edu/History/
Bomba atômica soviética (1949) 
Quebra do monopólio nuclear dos EUA. 
Divisão da Alemanha (1949) 
Lado Ocidental, capitalista, da República Federal da Alemanha (RFA)
Lado oriental, socialista, da República Democrática da Alemanha. 
https://www.youtube.com/watch?v=u5hzmwGW4Ac (“Adeus, Lênin”, 2003)
Divisão da Alemanha (1949) 
- Lado Ocidental, capitalista, da República Federal da Alemanha (RFA)
- Lado oriental, socialista, da República Democrática da Alemanha. 
As Convenções de Genebra/1949
Em 10 de dezembro de 1948 é adotada pela ONU, por meio de Resolução da Assembleia Geral, a Declaração Universal dos Direitos Humanos. 
Adotadas, em Genebra, com o apoio do Brasil, quatro Convenções sobre o direito internacional humanitário, incluindo tratamento de prisioneiros de guerra. 
As Convenções 
de Genebra/1949
As Convenções de Genebra e seus Protocolos Adicionais são tratados internacionais que contêm as normas mais relevantes que limitam as barbáries da guerra. Elas protegem pessoas que não participam dos combates (civis, pessoal de saúde, profissionais humanitários) e as que deixaram de combater (militares feridos, enfermos e náufragos, prisioneiros de guerra).
https://www.icrc.org/pt (International Committee of the Red Cross)
As Convenções de Genebra/1949
As Convenções de Genebra e seus Protocolos Adicionais são tratados internacionais que contêm as normas mais relevantes que limitam as barbáries da guerra. Elas protegem pessoas que não participam dos combates (civis, pessoal de saúde, profissionais humanitários) e as que deixaram de combater (militares feridos, enfermos e náufragos, prisioneiros de guerra).
https://www.icrc.org/pt (International Committee of the Red Cross)
China Comunista (Mao Tsé-Tung) 
Vitória de Mao Tsé-Tung na Revolução Comunista (outubro de 1949).
Exílio em Taiwan de Chiang Kai-Shek (China nacionalista) e seus seguidores do Kuomintang. 
O governo brasileiro lamenta o fato, fecha a Embaixada em Xangai e opõe-se ao reconhecimento da República Popular da China liderada por Mao. 
Em 1950, a China invade o Tibete (7 out) e anexa formalmente o território. 
Integração europeia 
Robert Schuman, político, advogado de alto nível e ministro dos Negócios Estrangeiros francês entre 1948 e 1952, é considerado um dos promotores da unificação europeia.
Em colaboração com Jean Monnet, elaborou o famoso Plano Schuman, que divulgou a 9 de maio de 1950, hoje considerada a data de nascimento da União Europeia. Nesse plano, Schuman propunha o controlo conjunto da produção do carvão e do aço, as matérias-primas mais importantes para a produção de armamento. A ideia fundamental subjacente à proposta era a de que um país que não controlasse a produção de carvão e de aço não estaria em condições de declarar guerra a outro.
https://europa.eu/european-union/index_pt 
https://europa.eu/european-union/about-eu/history/1945-1959_pt 
Criação do Estado de Israel 
1947 – Com o apoio de Oswaldo Aranha, presidente da II Assembleia Geral, a ONU aprova plano para divisão da Palestina, prevendo a criação de um Estado judeu e um Estado palestino, além de um status especial para Jerusalém. 
Proclamação do Estado de Israel leva à primeira guerra árabe-israelense (14 de maio de 1948). 
https://nacoesunidas.org/palestina/ 
Guerra da Coreia 
Divisão na Península (1948): Norte (URSS) e Sul (EUA).
O Brasil irá reconhecer apenas a Coreia do Sul. 
Invasão da Coreia do Sul por tropas da Coreia do Norte 1950). 
Resolução “Unidos para a Paz” na Assembleia Geral da ONU (1950). 
O Brasil apoiou as ações norte-americanas
 na Coreia. 
COMECOM – Conselho de AssistênciaEconômica Mútua 
trocar experiências econômicas, ampliar a assistência técnica entre si e prestar assistência mútua em matérias-primas, alimentos, máquinas, equipamentos...
Além do leste europeu e União Soviética, 
 Mongólia, em 1962; 
 Cuba, em 1972;
 e Vietnã, em 1978.
REFERÊNCIAS BÁSICAS 
CERVO, Amado Cervo. História da Política Exterior do Brasil. 2a ed. Brasília: Ed. UnB, 2003. Alinhamento e Desenvolvimento associado (1946-1961) – Dutra e o alinhamento na Guerra Fria, p. 269-273. 
MOURA, Gerson. O alinhamento sem recompensa: a Política Externa do governo Dutra. FGV, 1990.https://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/handle/10438/6613
GARCIA, Eugênio Vargas. Cronologia das Relações Internacionais do Brasil. 2a ed. FUNAG, 2005 (disponível download em academia.edu) 
FAUSTO, Boris. História do Brasil. EDUSP, São Paulo, 2006. Cap. 8 – O Período Democrático (1945-1964), p. 395-405.