Buscar

Introdução ao Comercio Exterior

Prévia do material em texto

1.0 - INTRODUÇÃO AO COMÉRCIO INTERNACIONAL 
 
A importância do estudo do comércio e das finanças internacionais é reconhecida 
desde a era dos mercantilistas, no século XVI, quando tornou-se evidente que, 
participando do comércio internacional, cada país poderia usar seus recursos de forma 
mais eficiente, especializando-se em algumas atividades mais apropriadas à sua dotação 
de fatores e obtendo sensíveis economias de escala em sua produção. Como 
conseqüência, o comércio entre as nações possibilitava o aumento da renda real de cada 
país, acarretando daí uma melhoria do bem estar da população. Mais ainda, verificou-se 
que o comércio internacional criava condições para que as melhorias tecnológicas 
desenvolvidas em um país fossem compartilhadas por outros países, seja pelo fato de 
que vêm embutidas nos bens de capital importados, seja porque aumentam a eficiência 
produtiva e a qualidade do produto nos setores de exportação de cada país. 
 
 Além do comércio de mercadorias e serviços, também se constatou quão importante 
era a participação do país nos mercados financeiros internacionais. É nesses mercados 
que os países podem obter recursos financeiros – notadamente via empréstimos – para 
complementar sua poupança doméstica e, assim, possibilitando um maior nível de 
investimentos internos. 
 
 A percepção de todos esses fatores positivos fez com que o comércio internacional 
se tornasse, com o passar dos anos, peça essencial para o com desempenho econômico 
das nações. 
 
 Ao observador menos avisado poderá parecer, à primeira vista, que o comércio 
internacional nada mais seria do que um prolongamento do comércio interno, podendo, 
pois, ser analisado mediante a aplicação dos mesmos critérios e métodos comumente 
utilizados para explicar o comércio interno. 
 
 De fato, tanto o comércio internacional quanto o comércio interno apresentam 
várias semelhanças no que se refere a determinados aspectos. Ambos encontram-se 
alicerçados nos desejos e nas necessidades humanas e têm, como objetivo primordial, o 
atendimento dessas necessidades e desejos. 
 
 O principal motivo que da origem ao comércio internacional é a impossibilidade de 
uma região ou país produzir vantajosamente todos os bens e serviços de que tenham 
necessidade os seus habitantes. Isto é decorrência de fatores diversos, dentre os quais 
podem ser destacados: a desigualdade da distribuição geográfica dos recursos naturais, 
as diferenças de clima e de solo e as diferenças de técnicas de produção. 
 
 Algumas regiões ou países são possuidores de recursos naturais que não são 
encontrados em outros: o carvão é abundante na América do Norte e em alguns países 
da Europa, enquanto é escasso em outras regiões; o petróleo ocorrem em determinados 
países apenas; o estado de Minas Gerais possui abundância de reservas de minério de 
ferro, enquanto que outra regiões não possuem ou, então, possuem em pouca 
quantidade. 
 
 As diferenças de clima e de solo também contribuem para essa desigual 
distribuição: a cana-de-açúcar e o café podem ser produzidos em larga escala em certas 
regiões do Brasil; o trigo floresce em países como a Rússia ou a Argentina, mas se’ra 
muito difícil obtê-lo em climas quentes, como os de várias regiões da África. 
 
 Pelo que vimos até aqui, muitos poderiam concluir que um bem sucedido diretor ou 
gerente vendas no mercado interno estaria automaticamente capacitado a tornar-se um 
eficiente diretor ou gerente de vendas internacionais. Todavia, não obstante a existência 
das semelhanças já apontadas, o comércio internacional possui tantos pontos 
divergentes em relação ao comércio interno, que se justifica o seus tratamento como 
assunto à parte. 
 
 
1.1- Alguns Conceitos Básicos. 
 
Comércio Internacional: Comércio entre todos os países do mundo. 
 
 
Comércio Exterior: Comércio de um país em relação a terceiros países ou blocos. 
 
Exportação: Remessa de bens de um país para outro. Em um sentido 
amplo poderá compreender, além de bens propriamente ditos, 
também serviços ligados a essa exportação (fretes, seguros, 
serviços bancários etc.) 
 
As exportações poderão ser com cobertura cambial ou sem 
cobertura cambial. Diz-se que a exportação é com cobertura 
cambial quando implica um pagamento a ser efetuado pelo 
importador estrangeiro. A exportação sem cobertura cambial 
quando não acarretar pagamento da parte do importador. 
 
É importante observar que as exportações, cujo pagamento é 
feito em R$ (reais) é considerada sem cobertura cambial. 
 
Importação: Denomina-se importação a entrada de mercadorias em um 
país, provenientes do exterior. 
 
Reexportação: Entrada de mercadorias em um país para serem exportadas 
posteriormente. 
 
Reimportação: Retorno de mercadorias a um país após sua saída temporária. 
 
1.1- PRINCIPAIS DIFERENÇAS ENTRE O COMÉRCIO 
INTRAREGIONAL E O COMÉRCIO EXTERIOR. 
 
 
 
Variação No Grau de Mobilidade dos Fatores de Produção 
 
 Embora a mobilidade dos fatores ocorra tanto no mercado interno como no 
internacional, ela se apresenta em maior grau no primeiro, especialmente em relação ao 
fator trabalho. 
 
 Se para a instalação de uma determina indústria no Nordeste se fizerem necessários 
equipamentos ou máquinas produzidos em São Paulo, sua remessa para aquela região far-
se-á sem maiores dificuldades jurídicas, políticas, etc. Se em uma região houver falta de 
mão-de-obra enquanto houver excesso em outra, verificam-se movimentos migratórios 
espontâneos por parte da população. No caso de um empreendimento em uma região 
necessitar de recursos financeiros e, desde que se ofereça adequada compensação aos 
possuidores desses recursos, estes imediatamente se àquela região. 
 
 No mercado internacional porém, essa mobilidade de fatores é muito menor, por 
uma infinidade de motivos. Se países como o Brasil não oferecem dificuldades em relação 
à entrada de elementos alienígenas, o mesmo não ocorre em países como os Estados 
Unidos, onde a legislação imigratória dificultam grandemente a entrada de trabalhadores de 
outras nacionalidades. 
 
 A transferência de matérias-primas e outros produtos também esta sujeita a 
restrições de diversas naturezas, tais como existência de quotas para importação (ou 
exportação), exigências quanto a embalagens, regulamentos sanitários, pressões de 
produtores locais etc. 
 
 O mesmo ocorre em relação as capitais, cuja, movimentação poderá ser dificultada 
ou, conforme o caso proibida. 
 
 
 
Natureza de Mercado 
 
 Quando se considera o mercado interno, o que salta a vista é a unidade de idioma, 
costume, gostos, hábitos de comércio, sistemas de pesos e medidas, etc. Essa unidade tende 
a padronizar os hábitos de consumo e os bens produzidos, o que, indiscutivelmente, 
apresentará maiores facilidades para a produção de um sistema de produção em larga 
escala. 
 
 No mercado internacional, porém, as existentes diferenças com relação aos aspectos 
apontados tornam problemática essa padronização. Uma empresa que opere no mercado 
internacional deverá aprofundar-se no estudo dos hábitos e reações dos habitantes dos 
países com os quais comercie e adaptar seus produtos de modo a atender, na medida do 
possível, às peculiaridades de cada população. 
 
 O fato de um produto ser bom e ter êxito no mercado interno é insuficiente para se 
impor no exterior. Muitos artigos podem ter sucesso em um mercado e fracassar em outro. 
Cada mercado deve ser tratado e analisado separadamente. 
 
 Isso, evidentemente, dificultará de certo modo a aplicação de uma política de 
produção em massa. 
 
- Embalagens brancas devem ser evitadas na China, pois significa luto. 
- O vermelho para alguns países africanos é cor de feitiçaria ou morte. 
- A figura do porco não deve ser utilizada em países muçulmanos. 
- A imagem do cachorro deve ser evitada em países árabes onde é considerado um 
animal maldito. 
- A vacaé um animal sagrado para os indianos. 
- Para os americanos o número 13 é considerado azaranto. 
- Entre nós o 24 . . . 
 
O mercado interno apresenta maior unidade emocional; como os naturais de um 
mesmo país, estão sujeitos às mesmas leis, tradições históricas e familiares, vibram diante 
dos mesmos estímulos, econômicos ou não. No mercado internacional isso geralmente não 
ocorre, uma vez as leis, tradições históricas e familiares não são mesmas, e motivos de 
ordem política podem colocar certos povos em oposição. Quando, por exemplo, o Brasil 
iniciou negociações comerciais com países comunistas, inúmeras foram as objeções que se 
levantaram à concretização dessas negociações, algumas de fundo econômico, porém, a 
maior parte de fundo político ideológico. 
 
 
 
Existência de Barreiras Aduaneiras e Outras Restrições 
 
 Durante a idade média era comum a ocorrência de barreiras aduaneiras internas, 
condicionando o comércio entre cidades de um mesmo país. Tais barreiras foram 
desaparecendo progressivamente, porém ainda persistem no campo internacional. 
 
 Essas barreiras e outras restrições, além de dificultarem, como já vimos, a 
movimentação dos produtos no campo internacional, contribuem para o surgimento de um 
novo elemento para restringir esse movimentação: a cobrança de direitos aduaneiros 
acarreta maiores dificuldades para as empresas que se dedicam ao comércio internacional, 
pois deverão ser considerados os reflexos da cobrança desses direitos nos preços dos 
produtos e nas possibilidades de sua colocação junto aos consumidores de outros países. 
Um exportador brasileiro, por exemplo, poderá esforçar-se para diminuir o custo visando 
tornar seu produto competitivo no exterior. Seus esforços, porém, poderão ser anulados em 
virtude da imposição de uma tarifa aduaneira proibitiva em outros países. 
 
Logas Distâncias 
 
 Embora possam ocorrer exceções, as distâncias a serem percorridas no campo 
internacional são, de modo geral, muito maiores do que no mercado interno. 
 
 Além das despesas mais elevadas com fretes, outros fatores devem ser considerados, 
como por exemplo, o temo gasto nesses transportes e sua influência sobre as condições 
físicas dos produtos transportados, implicando a necessidade de embalagens e condições 
especiais de transporte etc. 
 
Variações de Ordem Monetária 
 
 A utilização de diferentes moedas no comércio internacional é um dos fatores de 
distinção comumente apontados no confronto entre o comércio interno e o comércio 
internacional. 
 
No mercado interno inexiste o problema do poder liberatório da moeda nacional; 
todas as transações realizadas internamente são liquidadas na moeda do país. No mercado 
internacional isso não ocorre, já que não será possível impor a um exportador que aceite o 
pagamento de sua exportação em outra moeda que não seja a do seu país. 
 
 Surge assim o problema do câmbio, ou seja, a troca de diferentes moedas. Todavia, 
no que se refere ao aspecto monetário, a principal distinção não resida tanto no emprego de 
diferentes moedas, mas sim na possibilidade de mudança das relações de valor entre elas. 
Alterações diárias nas taxas cambiais podem diminuir os lucros dos comerciantes e grandes 
alterações podem transformar lucros em perdas. 
 
 
 
Variações de Ordem Legal 
 
 No mercado interno, as transações comerciais estão sujeitas a um mesmo sistema 
legal, o que implica unidade de regulamentos, tributos etc., embora possam surgir pequenas 
variações de uma região para outra. 
 
 No mercado internacional, contudo, poderá haver grandes dessemelhanças entre os 
sistemas legais, originando diversidade de critérios no julgamento das pendências que 
porventura ocorram. Ainda que o Direito tenda a se universalizar, essas distinções 
persistem. Em conseqüência, deve o comerciante internacional levar em consideração uma 
grande variedade de dispositivos e complexidades de ordem legal que inexistem quando se 
considera a penas o mercado interno. 
 
 
 
 
 
1.2- Textos Complementares. 
 
COMENDO POEIRA 
 
Globalização? Listagem dos 62 países mais globalizados remete o Brasil, a bordo do 12º 
maior PIB do mundo, para a rabeira do megabloco - em sofrível e sofrido 57º lugar. O 
"ranking" da extroversão econômica nas duas mãos é da consultoria americana A.T. 
Kearney. 
 
A metodologia de avaliação e classificação embaralha indicadores econômicos com 
indicadores científicos, tecnológicos, regulatórios, políticos e sociais. Nos indicadores 
econômicos, destaque para o grau de inserção de cada país no comércio internacional e no 
trânsito do capital. 
 
Nos indicadores regulatórios, a unidade de conta combina a elasticidade e a volatilidade da 
legislação econômica com a segurança jurídica dos contratos. Nos indicadores sociais, o 
grifo vai para o sistema nacional de capacitação de recursos humanos - das turmas da 
escola primária à educação continuada dentro das empresas (no sentido de que o estudo 
virou trabalho e o trabalho virou estudo). 
 
A pontuação por competitividade interna e externa adensa a importância da pesquisa e do 
desenvolvimento tecnológico (que inclui a recepção de tecnologias alheias). E prospecta a 
extensão e a qualidade da infra-estrutura econômica da energia, da telecomunicação e do 
transporte intermodal. 
 
Assim equipada, a A.T. Kearney elege os cinco países mais globalizados do mundo. Pela 
ordem: Irlanda, Suíça, Suécia, Cingapura e Holanda. O Brasil perde posição na tabela das 
empresas nacionais com atuação externa direta. Nesse item, a Coréia do Sul nos dá uma 
surra. Até o México já nos deixou na poeira. No desfrute das tecnologias da informação 
(TI), figuramos em 35º lugar. Ênfase na inclusão digital da internet e na informatização 
acelerada do sistema financeiro e de repartições públicas. Receita Federal à frente. 
 
Na transferência global de tecnologias e de capitais produtivos, o Brasil situa-se entre os 25 
maiores receptores. Sem mistério. Aqui estão instaladas as subsidiárias de 574 empresas 
transnacionais - a maior plataforma do gênero em todo o planeta dos emergentes. Elas 
fazem a ponte pênsil da transferência de tecnologias e de capitais. Em oito anos corridos da 
Era FHC (1995/2002), elas investiram no Brasil, ponta a ponta, a dólar médio de 2000, 
cerca de US$ 144 bilhões. Só ficamos no retrovisor da China, com US$ 327 bilhões. 
 
Onde fazemos feio é no cartão de visita da globalização dos mercados: 
exportações/importações. Estamos movimentando na soma das duas mãos menos de um 
quinto do PIB, contra quase um terço da média global. Na década passada, nossas trocas 
cresceram 3,1% ao ano. As dos 147 países da OMC (incluída a China) emplacaram a média 
anual de 7,1%. Nessa toada, o mundo dobra o comércio exterior a cada 10 anos e o Brasil 
só a cada 25. 
 
Na década passada, não conseguimos duplicar as vendas externas, malgrado a reiterada 
bravata do embarque anual de US$ 100 bilhões. No mesmo período, o México quintuplicou 
as exportações. Com o Nafta, a meio caminho, concentrou até 70% de seus embarques para 
o megamercado do Big Brother. 
 
Bem, o planeta China, que ainda está comunista, é um fenômeno da transformação 
capitalista nas águas quentes e turvas da globalização. Até porque, já nos ensinava 
Emmanuel Todd nos anos 70, não se deve confundir governo de socialistas com sociedade 
do socialismo. 
 
Na cópia escancarada dos modelos do Japão e da Coréia, a China precisou de apenas uma 
década para multiplicar por 12 suas exportações. No ranking" da A.T. Kearney, o item 
comércio exterior situa a China em 7o. lugar. Sem contar, dentro dela, a preservação de uma 
Hong Kong façanhuda. Metrópole menor que o Rio de Janeiro, ela exporta quase três vezes 
mais que o Brasil inteiro. 
 
No momento em que este Brasil na muda ainda discute se deve ou não usinar uma política 
industrial digna do nome, é bom dar uma espiada no livrinho azulde Deng Xiaoping: 
mercado interno e mercado externo não são excludentes ou alternativos; bem ao contrário, 
eles são complementares ou aditivos. 
 
(22/04/2003)Joelmir Beting 
 
A GLOBALIZAÇÃO E SEUS MALEFÍCIOS 
 
"Nosso sonho é um mundo onde não exista miséria" está escrito na porta de entrada da sede 
do Banco Mundial (Bird), numa rua de Washington. Foi o que chamou a atenção do 
economista Joseph Stiglitz ao chegar lá, numa manhã de fevereiro de 1997, para assumir o 
cargo de economista-chefe e vice-presidente sênior do banco. 
 
Um mês depois, Stiglitz foi à Etiópia, em sua primeira missão no banco e começou a 
perceber quão longe estava o "sonho de um mundo com menos miséria", a missão mais 
modesta auto-imposta naquele primeiro dia no Bird. E, ao longo de sua experiência de 
quatro anos no banco concluiu que um dos mais sérios obstáculos à concretização do sonho 
é o Fundo Monetário Internacional, cuja sede fica do outro lado da tal rua de Washington. 
 
FMI e o Banco Mundial, cujo nome completo é Banco Internacional de Reconstrução e 
Desenvolvimento, o Bird, têm origens comuns e, instituições irmãs, se confundem na 
mente das pessoas, diz Stiglitz. A eles se junta a Organização Mundial do Comércio como 
principais agentes da globalização que marca este novo século e milênio. 
 
A missão do banco é erradicar a miséria; a do fundo, manter a estabilidade global. Cabe à 
OMC regular o livre comércio entre as nações. Mas é aí que está o problema, como mostra 
bem o caso da Etiópia mencionado pelo economista. O FMI suspendeu o programa de 
empréstimos ao país - que passara por anos de seca, fome e guerras de reconstrução - 
porque sua posição orçamentária era crítica. Para o Banco, a ajuda deveria ser mantida para 
estabilizar o país, cuja receita ainda era instável. Para o Fundo, a solidez só viria se as 
despesas do país se limitassem à própria receita. Resultado: a ajuda do FMI e de outros 
países se dissolveu no ar. Comércio livre, nem em sonho. 
 
Em meio século de vida do FMI e do Bird, o que era para ser metas complementares 
acabou se transformando em processos irreconciliáveis e o mundo, que deveria ter sido 
salvo por eles depois da Segunda Guerra Mundial, enfrenta, agora, "A Globalização e seus 
Malefícios". 
 
Este é o título do livro de Stiglitz, Prêmio Nobel de Economia de 2001, um ano depois de 
seu autor deixar o Banco, de volta à cátedra na Universidade de Columbia. Stiglitz também 
chefiou o conselho de consultores do governo Clinton, de 1993 a 1997. 
 
O economista está no Rio, esta semana: na quinta, 12, fala no Instituto de Economia da 
Universidade Federal sobre propostas de reforma e uma nova agenda para a América 
Latina. Na sexta, 13, na Federação do Comércio, fala sobre a situação da economia mundial 
depois do atentado terrorista nos EUA. E participa de seminário internacional promovido 
pelo BNDES. 
 
Com o livro e com suas palestras mundo afora, Stglitz quer abrir o debate sobre a "as 
injustiças do sistema comercial global" e sobre a "hipocrisia de fingir que se está ajudando 
países em desenvolvimento ao forçá-los a abrir seus mercados para produtos de países 
industrializados e desenvolvidos, que mantêm, entretanto, suas políticas protecionistas". 
 
Esse debate, assinala Stiglitz, já existe - e ele cita as grandes manifestações de protesto 
durante as assembléias do FMI e da OMC -, mas deve ganhar os gabinetes de governos e as 
universidades. Põe o dedo na ferida, ao dizer que "aqueles cuja vida é afetada pelas 
decisões sobre a globalização têm direito de participar da discussão". 
 
Em oito capítulos, Stiglitz conta o caminho errático das grandes instituições internacionais 
nos anos mais recentes, e conclui com um capítulo propondo reformas. 
 
Sete pontos são indicados para a reforma do sistema financeiro internacional: 1) considerar 
os riscos da liberalização dos mercados de capitais e das externalidades dos fluxos de 
capital especulativo; 2) implantar reformas e interrupções falimentares; 3) não atribuir 
excessiva confiança a pacotes de socorro; 4) melhorar a regulação bancária; 5) melhorar o 
gerenciamento de risco; 6) melhorar as redes de segurança; 7) melhorar as respostas a 
crises. 
 
A reforma do Banco Mundial deve, segundo Stiglitz, refinar o critério de condicionalidade 
seguido pelo banco, substituindo-a pelo de seletividade, para melhorar a ajuda aos países, 
reconhecer suas estratégias próprias de desenvolvimento e eliminar a microadministração. 
 
A reforma da OMC, conclui, implica um programa comercial mais equilibrado, que 
considere os interesses dos países em desenvolvimento e as preocupações ambientais e de 
justiça econômica. 
 
Como se vê, além de chave de abertura ao debate, o livro do Stigltz é obra para ongueiro 
nenhum botar defeito. A propósito, um dia antes de o ex-economista-chefe do Bird chegar 
ao Brasil, o diretor gerente do FMI, Horts Köhler disse, em visita ao Japão, que "o FMI tem 
ainda muito a aprender para evitar crises financeiras". E fechou bonito: "Em problemas 
domésticos, nenhum conselho externo e nenhum financiamento externo devem substituir a 
coesão política e a responsabilidade de uma sociedade". Amém. 
 
(11/09/2002) Joelmir Beting 
 
 
EDUCAR OU MORRER 
 
 
Não é o processo de globalização que dissolve as nações. A autodissolução das nações é 
que produz a globalização. 
Emmanuel Todd, historiador francês 
 
Economia do conhecimento: opção estratégica para exportar. Eis o recheio do painel da 
tarde, ontem, no 14º Fórum Nacional, no Rio de Janeiro. O seminário levantou a bola na 
área e o economista Carl Dahlman, do Banco Mundial, fez o gol de cabeça. 
 
Sim, já estamos a bordo da economia do conhecimento, a da valorização suprema do capital 
humano no processo econômico. Até os anos 80, esse repto não passava de discurso em 
banquete empresarial ou de mutirão em simpósio acadêmico. Agora, virou estratégia de 
vida ou morte para cada nação e para cada empresa dentro dela. 
 
Entenda-se por economia do conhecimento o corolário da revolução ainda a meio caminho 
das tecnologias da informação. A valoração da empresa e a afirmação do país resultam, 
doravante, da qualificação e motivação de seus trabalhadores, cidadania de primeira 
instância. Ou como reprisou Carl Dahlman: o capital humano tornou-se, finalmente, o 
principal ativo da empresa moderna. 
 
Potencialmente, o capital humano vale mais que o capital físico e o capital intangível. Este 
último, feito de marcas, imagem, patentes, alianças, parcerias, cotações de bolsa, base de 
clientes e crachá de responsabilidade social. O novo fio da meada começa do lado de fora 
das cadeias de valor: o aparelho educacional do país. 
 
Assim sendo, lembrou Dahlman, o salto de competitividade para exportar (subtema do 
painel de ontem), no caso brasileiro, parte da capacitação em larga escala da força nacional 
de trabalho. Ou seja, tarefa para dois ou três governos - de 2003 a 2015. 
 
O professor Carl Dahlmn fala de camarote. Ele participou pessoalmente da elaboração dos 
vitoriosos programas de "inserção global" (antes da globalização) da Coréia do Sul, desde 
os anos 70; e da China, a partir dos anos 80, já então brandindo o livrinho azul de Deng 
Xiaoping. A "política industrial" da Coréia do Sul, paradigma da tigrada asiática, começou 
pelas escolas, antes de agitar as fábricas. 
 
A carapuça é nossa. Pelo receituário de Dahlman, até para exportar mais e importar menos, 
sob o safanão generoso de choques de produtividade, o Brasil precisa com urgência de duas 
âncoras: 1) uma revolução pela Educação; 2) uma revolução na Educação. 
 
Um "front" ao qual tentamos chegar já com meio século de atraso. Tanto mais porque, 
neste advento da economia do conhecimento, a escola tem de operar como empresa e a 
empresa tem de funcionar como escola. O estudo virou trabalho e o trabalho virou estudo - 
em regime de educaçãocontinuada ao longo de toda a carreira de qualquer profissional. 
 
Nada de novo na catequese de Carl Dahlman. Temos no Brasil uma vasta literatura de 
autores nacionais sobre a baciada de retornos econômicos, sociais e políticos dos 
investimentos em Educação de todos os níveis. Acumulando pó nas bibliotecas. 
 
País distraído, o Brasil se deixou emascular pela traiçoeira cultura da abundância: a da 
existência de mão-de-obra excedente e barata, autêntico DNA da economia fechada de 
baixa eficiência, geradora contumaz de empregos ruins com salários péssimos. 
 
Economia do conhecimento: opção estratégica para exportar. Esse repto do Fórum Nacional 
é estrábico. A economia do conhecimento veio à luz em meio mundo para promover a 
realização profissional e a afirmação social do Novo Homem na economia e na sociedade. 
No caso brasileiro, não se trata de "exportar ou morrer", mas de educar ou morrer. 
 
(07/05/2002) Joelmir Beting 
 
A CULTURA É NOSSA? 
 
 
Com a globalização, haverá no futuro apenas três traços da identidade nacional: a 
bandeira, o hino e a cultura. 
José Maria de Jesus, analfabeto em inglês 
 
A bandeira e o hino ainda dá para proteger. A moeda nacional tende a desaparecer. E a 
cultura genuinamente brasileira? Será que temos vontade e interesse em realmente 
preservá-la da pasteurização global que já começou? E como zelar pela qualidade dos bens 
culturais produzidos e consumidos aqui no Brasil? 
 
Eis o tema do painel sobre sistema global versus cultura nacional, no 22o Congresso 
Brasileiro de Radiodifusão. O assunto foi tratado, segunda-feira, pela mesa dirigida por 
Nelson Sirotsky, presidente da RBS. Participação do ministro da Educação, Paulo Renato 
de Souza; da Secretária Nacional de Justiça, Elizabeth Sussekind; do deputado federal (PT-
SP), Aloizio Mercadante; do apresentador Carlos Massa (Ratinho); e do jornalista que vos 
escreve, Joelmir Beting. 
 
Organizado pela Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), o 
evento de três dias discute os impactos da revolução tecnológica (e da globalização a 
galope dela) na produção e no consumo de bens culturais. Verdadeira corrida contra o 
relógio digital da globalização terminal da economia e da sociedade. 
 
Corrida que vai pegar, cá por estas bandas, o atalho da futura Alca. A formação do 
megabloco panamericano acabará forçando a convergência supranacional das regras 
econômicas e dos estatutos jurídicos. Também dos padrões culturais? Well, os americanos 
são chegados à produção e exportação de cultura made in Usa e abusa, desde a invenção do 
gramofone e do cinema mudo de espanto. 
 
O reparo é do deputado Aloizio Mercadante: o advento da Alca, com aviso prévio, 
dramatiza a urgência de medidas de salvaguarda da produção brasileira de bens culturais. 
Não no sentido da reserva de mercado dos produtores brasileiros, mas da garantia de 
mercado dos conteúdos aqui produzidos (ainda que por empresas de fora). 
 
Novo aríete da globalização invasiva (e evasiva), a futura Alca, disse Mercadante, virá 
escolada pelo jogo bruto admitido pela Organização Mundial de Comércio (OMC). Abriu-
se o mercado global para a indústria competitiva dos países desenvolvidos, mas ainda não 
para a agricultura competitiva dos países remediados. 
 
Com o adendo do ministro Paulo Renato de Souza: "Não queremos um Brasil autárquico 
para os meios de difusão cultural. O problema é que não estamos preparados para a 
negociação das reciprocidades inerentes a tratados bilaterais ou multilaterais. Essa falta de 
jeito e de treino é o maior risco que corremos, seja nos acordos comerciais, seja nos 
contágios culturais." 
 
A produção e difusão de bens culturais tende a ser uma das maiores indústrias do século 21. 
Cultura finalmente encaixada na cesta básica da qualidade de vida da civilização do 
conhecimento (Drucker), do ócio criativo (Masi) e do entretenimento (Toffler). 
 
Pois o que não falta é conteúdo nacional na grade da radiodifusão brasileira. Na televisão 
aberta, a programação nacional do horário nobre cresceu de 63% nos anos 70 para até 85% 
nos anos 90. Só perde hoje para os Estados Unidos, que são do ramo. E em nada menos de 
42 países, telenovelas brasileiras já somam 127 milhões de espectadores por dia. 
 
Nas águas turvas da pasteurização sem bandeira e sem hino, cada país sério vai ter de fazer 
a blindagem política de seu patrimônio cultural. Como nunca antes, a cultura brasileira está 
na linha de tiro da cultura estrangeira. Esta deu de navegar em bits e não mais em átomos. 
Incluída, num simples clique, a pirataria chipada dos produtos culturais digitalizáveis: 
filmes, vídeos, discos, livros... 
 
(12/06/2001)Joelmir Beting 
 
DE BLOCO EM BLOCO 
 
 
O futuro não é o que a gente teme. O futuro é o que a gente ousa. 
Carlos Lacerda (1914-1977), jornalista e político 
 
A armação de blocos econômicos é o passaporte para a futura economia global pactuada. A 
transição desse processo, tido já como irreversível, está nos acordos de bloco com bloco por 
cima ou ao largo dos acertos bilaterais de país com país. 
 
Economia global pactuada? Sim. No futuro, o mercado sem fronteira e sem bandeira não 
será uma terra de ninguém. Ele estará regido por regras e normas penosamente negociadas 
e devidamente gerenciadas por instituições multilaterais. Sejam elas de caráter jurídico, 
monetário, tecnológico, comercial, trabalhista, ambiental. 
 
A maturação do Mercosul, orquestrado em março de 1991, segue a mesma trilha 
institucional da União Européia, usinada desde 1956. Ou do Nafta, inaugurado em 1995. E 
com a Alca já queimando etapas aí pela proa de 2005. Ou de 2003. Não houve acordo 
prévio do Mercosul com o Nafta nem do Nafta com o Pacto Andino e sequer do Pacto 
Andino com o Mercosul. A Alca vem de roldão. 
 
O processo é telúrico e nada mais se pode fazer, isoladamente, para detê-lo. O negócio, no 
caso brasileiro, é abandonar a antiga diplomacia da contemporização e cuidar de fazer do 
limão da Alca apressadinha uma limonada adoçada com bom mascavo. 
 
O que não falta, entre nós, é madura reflexão da comunidade acadêmica sobre o que o 
Brasil pode esperar do Mercosul, da União Européia e da Alca. Caso de recentes estudos do 
Ipea e da FGV. Eles recomendam a negociação simultânea, em paralelo, do tratado 
continental da Alca e do acordo comercial com a União Européia. 
 
O desafio maior dessa negociação em duas frentes está na desmontagem de barreiras 
tarifárias e não-tarifárias. As quais, ainda hoje, para produtos específicos, dificultam as 
exportações brasileiras para os Estados Unidos e a União Européia. Paradoxalmente, o 
segundo desafio está na redução da proteção média das economias do Mercosul (de 14%) 
para os níveis de baixa proteção média reinante no mercado americano (4,3%) e no 
mercado europeu (6,1%). 
 
Na União Européia, essa proteção média é sacada da ponderação de barreiras de 4,9% para 
produtos industriais e de 20,8% para produtos agrícolas. O problema é que ainda está para 
nascer o diplomata sulamericano capaz de levar a Europa a rebaixar o "paredão verde" para 
menos de 10%. Ele teria de passar a navalha no bigode do espalhafatoso neoprotecionista 
José Bové, produtor de queijo de luxo subsidiado e encalhado. 
 
O Mercosul ganharia na redução das barreiras européias. Mas perderia na invasão de 
produtos europeus - se a proteção média, cá por estas plagas, por força da mesma canetada, 
baixar de 14% para 6,1%. Pois Domingo Cavallo acaba de propor barreira de 35% para 
bens de consumo europeus, americanos, japoneses, coreanos, chineses... 
 
Esta semana, em Bruxelas, União Européia e Mercosul deram a largada na discussão ponto-
a-ponto da futura área de livre comercio. Tentativa de fazer a decolagem em 2005, data de 
ignição da Alca. Para variar, os europeus querem discutir e assinar tudo - de propriedade 
intelectual a trabalho infantil. Menosa agenda agrícola. 
 
A desconversa dos europeus no abrasivo assunto é mui versátil. Eles avisaram, quarta-feira, 
que a questão agrícola só deve ser encarada ao fim e ao cabo da Rodada do Milênio da 
OMC. Que sequer veio à luz em Seattle, dezembro de 1999, abortada a pedradas por José 
Bové & Cia. 
 
Máquinas no desvio 
Para refrescar a aflição da Argentina, o Brasil topa reduzir a zero as tarifas de importação 
para máquinas e equipamentos de países não integrantes do Mercosul. Ressalva: ainda não 
há consenso no governo brasileiro nem na parceria do Mercosul. A matéria terá de estar 
clareada em abril, quando da reunião extraordinária do Grupo Mercado Comum (GMC) 
para o encaixe do pacote argentino. 
 
Empresários brasileiros desconversam sobre o assunto. Eles ganhariam tanto na importação 
de máquinas americanas, européias e japonesas com tarifa zero (a média do Mercosul está 
em 11%) como na elevação da tarifa comum do bloco de 14% para 35% nas importações de 
bens de consumo aqui já por eles fabricados. 
 
Quem fica no mato sem cachorro e sem codorna é a indústria brasileira de bens de capital. 
Ela ainda junta os cacos da chacina setorial produzida pela "collorstroika" de 1990/92. Uma 
abertura comercial sem aviso prévio, sem preparação adequada e sem cobrança de 
reciprocidade da poderosa parceria global. 
 
Presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), 
Luiz Carlos Delben Leite lembra que o setor teve de reestruturar-se a ferro e fogo. Dezenas 
de fabricantes fecharam as portas e nada menos de 175 mil lugares de trabalho 
desapareceram para sempre. De 1990 a 1997, as compras externas saltaram de 6% do 
mercado interno para 55%. 
 
A tal de lista "ex-tarifária" (de máquinas e equipamentos sem similar nacional) deixou-se 
estufar por mais de 3.600 itens de fácil dissimulação e de difícil fiscalização. Sem contar as 
vantagens cambiais, creditícias e fiscais desfrutadas pelos concorrentes de fora. 
 
Delben Leite diz que o setor sofre de um "isolamento político permanente". Seguinte: todas 
as fábricas de todos os ramos vestem a camisa da abertura comercial para os bens de 
capital. Claro, em nome da modernização e da competitividade do parque industrial 
brasileiro - como se a indústria de máquinas, fábrica de fábricas, não fizesse parte dele. 
 
A Abimaq defende a adoção de políticas setoriais para certas cadeias produtivas. Com 
ênfase no comércio exterior. Se, como prega o ex-ministro Roberto Campos, "a melhor 
política industrial é não ter política industrial", o negócio é copiar o jeitinho americano: 
uma sólida e petulante política comercial, setor por setor, dispensa qualquer política 
industrial. Não temos nem uma nem outra. 
 
O ministro Pedro Malan prefere uma redução tarifária fatiada e seletiva para bens de 
capital. O ministro Domingo Cavallo dá prioridade à urgência e não à perfeição na 
reestruturação do parque industrial argentino. 
 
A ruptura da Tarifa Externa Comum (TEC) levará o Mercosul a retroagir de "união 
aduaneira" (pactuada) para "zona de livre comércio" (cada um para si e Cavallo para todos). 
Em "zona livre", a Argentina ficaria liberada para acordos bilaterais com os Estados 
Unidos... 
 
Delben Leite resume: "Já estamos a bordo da economia da globalização, mas ainda 
praticamos a diplomacia da contemporização." 
 
Estudo da Abimaq revela que a produção brasileira de bens de capital equivale a US$ 120 
per capita. Muito ou pouco? Na Alemanha, US$ 1.200 (nove vezes mais). Nos Estados 
Unidos, nada menos de US$ 2.040 (16 vezes mais). 
 
 
GUAÍBA VERSUS DAVOS 
 
 
Nem tudo o que é estatal é socialista. Nem tudo o que é socialista é estatal. 
Friedrich Engels (1820-1895), filósofo alemão 
 
A globalização não é uma articulação de governos imperialistas nem maquinação de 
empresas oligopolistas. Ela não foi desejada por nenhum governo nem esperada por 
qualquer empresa. 
 
Os governos perdem poder com ela - incluído o salão oval da Casa Branca de susto. O 
processo não consulta a natureza animal do ente governo, que não é de abrir mão de poder, 
de autoridade, de intervenção, de soberania. Que o diga a fuzarca dos capitais voláteis - que 
Charles de Gaulle, na crise cambial de 1967, chamou, simplesmente, de "os chacais da 
moeda". 
 
A globalização igualmente atropela as grandes empresas sem fronteira e sem bandeira. Elas 
já se consideravam globais bem antes da globalização. De repente, tiveram de compartilhar 
os mercados entreabertos com competidores de todos os portes e tipos. E dentro de novas 
regras de gestão e de novas estratégias de mercado. Esses mastodontes da economia global 
obrigaram-se a realizar uma reengenharia corporativa de caráter até desumano - ou já 
teriam desaparecido. 
 
Não desejada pelos governos nem esperada pelas empresas, a onda de choque da 
globalização nada mais é que um subproduto da explosão das tecnologias da informação 
desde meados dos anos 80. Fenômeno ocorrido antes da inauguração de um moinho de 
vento ideológico chamado Consenso de Washington. 
 
A própria palavra globalização apareceu pela primeira vez na mídia global por volta de 
1987. Ela vale hoje para todos os idiomas, exceto o francês de José Bové. Em francês, a 
coisa leva crachá de mundialização, patenteada pelo indigesto Le Monde Diplomatique. 
 
Domingo, eu me diverti com o debate on-line Davos versus Guaíba. Perdão: com a troca de 
ironias e de insultos via satélite entre magnatas do veterano Fórum Econômico Mundial de 
Davos e camaradas do estreante Fórum Social Mundial de Porto Alegre. Eu não entendi 
porque os segundos toparam o bate-boca justamente pela webcasting, aríete digital da 
globalização. 
 
Davos versus Guaíba. Seis dias corridos de retórica pró-empresa versus seis dias corridos 
de dialética pró-Estado. No primeiro, o desafio de tripular os sucessos e os excessos da 
economia de mercado. No segundo, o constrangimento de rejuntar os cacos dos fracassos e 
dos fiascos da economia de comando. Com infiltração, em ambos os comícios, de lobistas 
do neoprotecionismo. Em Porto Alegre, sob liderança do protegido e subsidiado José Bové, 
próspero fabricante de queijo rockefort. Um acepipe que, até por não cheirar bem, não pode 
dar liga com o hambúrguer Big Mac, moeda global da "The Economist". 
 
O neointervencionismo de Porto Alegre, que deu carona a um neocepalismo nostágico dos 
anos 60, desemboca na utopia do Estado Máximo. Cuja (re)construção tem a ver menos 
com a engenharia social e mais com a sociologia do poder pelo poder. 
 
O neoliberalismo de Davos insiste na catequese do Estado Mínimo, no rodapé de um 
mercado pactuado e auto-regulado. Um discurso que despreza as contradições naturais do 
capitalismo para brandir as contradições comprovadamente suicidas do socialismo. 
 
Davos e Porto Alegre ficaram nos devendo uma discussão técnica e honesta de um Estado 
Ótimo. Que pode variar de nação por nação e de estágio por estágio de uma mesma nação. 
Um Estado arbitral, "governado" pela sociedade. 
 
O melhor inventário da falência da economia de comando é o livro "O Horror Político" 
(Bertrand), do sociólogo francês Jacques Généreux. O melhor periscópio da nova economia 
de mercado é o livro "A Riqueza do Futuro" (Campus), de Stan Davis e Christopher Meyer. 
 
(29/01/2001) 
 
ABAIXO A AMERICANIZAÇÃO 
 
 
Os dizeres do cartão são mais importantes que as flores do vaso. 
Washington Olivetto, publicitário 
 
Mais de 6 mil jornalistas de meio mundo, à frente de mais de 15 mil ativistas de ONGs 
européias e americanas, estão dobrando, nesta sexta-feira, a população da cidade de Millau. 
Onde ela fica? No Aveyron, sul da França, região produtora de queijos fortes e de 
protestantes gauleses. 
 
Por que tamanha cobertura jornalística na pequena Millau? Porque se instaura hoje, na 
comuna, o processo da McDonald's americana contra o camponês José Bové.E o que 
andou aprontando esse tal de José Bové, a ponto de atrair o 'focus" da mídia mundial? 
Arquétipo da oligarquia rural mais empedrada da Europa, bigodudo como um boneco 
Asterix, José Bové simplesmente botou no chão, a marretadas, a fachada da única loja 
McDonald's de Millau. 
 
Isso aconteceu em agosto do ano passado. Com a competente exposição de motivos: 1) o 
BigMac é o míssil mais refinado da globalização patológica e patogênica desta virada do 
Milênio; 2) sobre ser o símbolo do poder unipolar da águia pós-Muro, a cadeia americana 
de fast-food é o supra-sumo da "la malbouffe" (má comida)na pátria da gastronomia mais 
requintada do planeta. 
 
José Bové, 36 anos, ganhou seus 15 minutos de fama e não mais se falou nisso. Eis que, em 
novembro, vestido a carater, Bové desembarcou em Seattle, EUA, e assumiu o comando da 
baderna das ONGs no rodapé da Rodada do Milênio da Organização Mundial de Comércio 
(OMC), fiadora institucional da globalização. Daí, sim, a fama do bucaneiro gaulês faiscou 
em todas as línguas, justificando a presença, hoje, dos 6 mil correspondentes de guerra em 
Millau. 
 
Globalização? Os franceses preferem o rótulo de mundialização. O camponês José Bové 
vai direto ao ponto: o processo não é de globalização nem de mundialização; é de 
americanização. Discursando outro dia, em Londres, ele disse que a globalização nada mais 
é que a forma superior do imperialismo americano, fantasiada de neoliberalismo. Isso 
vende livro e produz passeata. 
 
Camponês? José Bové é um dos maiores produtores de queijo Roquefort, empresa fundada 
pelo bisavô no século passado. Esse tipo de queijo é feito com leite de ovelha, temperado 
com ervas e mofos e turbinado por 63% de subsídios fiscais e financeiros (na mira da 
OMC). Ah! A família Bové exporta (ou globaliza) mais de metade da produção, desde 
antes da globalização. 
 
Exportou o próprio José Bové. Dom Quixote da americanização, ele fala inglês 
fluentemente, com sotaque de Boston e não de Londres. Simplesmente, porque 
americanizou toda a sua formação universitária na Harvard Business School. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2.0 AS VANTAGEMS DO COMÉRCIO INTERNACIONAL 
 
2.1 – O PONTO DE VISTA DOS MERCANTILISTAS 
 
 
Para os mercantilistas, a riqueza das nações era medida pelo seu estoque de 
metais precisos (ouro, principalmente). Com o ouro podia-se equipar os exércitos, 
fortalecer a marinha de guerra e de comércio, além de propiciar uma melhor 
circulação das mercadorias. 
 
 
Se isso era verdade, era essencial que os países buscasse a acumulação de 
ouro. Dado que a oferta de ouro era relativamente fixa, os mercantilistas defendiam 
a tese de que a melhor forma para atingir este objetivo – principalmente no caso das 
nações européias, que não dispunham de minas de ouro – era exportar mais do que 
importar, já que, na época, os pagamentos do comércio exterior eram feitos em 
metais preciosos. 
 
Daí a grande lição política econômica dos mercantilistas: O governo deveria 
envidar todos os esforços para restringir as importações (política protecionista), ao 
mesmo tempo em que deveria promover ações que estimulassem as exportações, 
particularmente através da concessão de subsídios. 
 
O princípio dos mercantilistas era fácil de explicar: mais ouro significava 
mais moeda circulando, propiciando maior nível de atividade econômica e de 
negócios e, por conseqüência, maiores lucros. Como muitos dos mercantilistas 
eram, eles próprios mercadores – notadamente na Inglaterra do século XVII – pode-
se concluir que, ao defender o protecionismo contra a concorrência externa, os 
mercantilistas defendiam o próprio interesse. 
 
De todo o modo, deve-se atentar para o fato de que, se todos os países 
seguissem a orientação mercantilista, não haveria comércio internacional, de vez 
que as exportações de um país nada mais são que as importações de outro país. 
 
Por isso mesmo, os economistas clássicos que surgiram a partir da metade do 
século XVIII – Adam Smith, David Ricardo entre outros bombardearam o ponto de 
vista mercantilista e desenvolveram novas teorias acerca do comércio internacional. 
 
2.2 – A Teoria das Vantagens Absolutas (Adam Smith) 
 
Em seu famoso livro A riqueza das Nações, publicado em 1976, Adam 
Smith atacou o ponto de vista dos mercantilistas, defendendo, em seu lugar, o 
livre comércio como melhor política para as nações do mundo. Baseando-se na 
máxima de que “nenhum pai de família deve tentar produzir em casa aquilo que 
lhe custara mais para produzir do que para comprar”. Smith argumentava que 
um país pode ser eficiente na produção de algumas mercadorias e menos 
eficiente na produção de outras, relativamente a um outro país. Assim ambos os 
países podem se beneficiar se cada um se especializar na produção das 
mercadorias nas quais tenha uma vantagem absoluta – ou seja, naquelas em 
cuja produção fosse mais eficiente que o outro país – e, através da prática do 
livre comércio, poderia exportar parte dessa produção para o outro país, ao 
mesmo tempo em que importaria deste aquelas mercadorias em que tinha uma 
desvantagem absoluta – ou em cuja produção fosse menos eficiente. Esse era o 
princípio da vantagem absoluta. 
 
 Smith procurou mostrar que a aplicação da divisão do trabalho na área 
internacional, permitindo a especialização de produções, aliada às trocas entra 
as nações, contribuía para a melhoria do bem-estar das populações. 
 
 A Teoria da Vantagens Absolutas procura explicar por que duas nações 
devem comerciar entre si, em que circunstâncias a especialização na produção e 
o comércio ocorrem em situação vantajosa para ambas as partes e quais 
produtos devem comerciar. 
 
Ilustração da Teoria da Vantagem Absoluta 
 
 Para entender o argumento de Smith, vamos supor que o Brasil e a Argentina 
produzem somente duas mercadorias: café e trigo. Suponhamos mais, que se 
ambos utilizarem todos os seus fatores de produção num ou no outro produto, a 
produção mensal nestes países assim será (em milhares de sacas por unidade de 
trabalho empregado): 
 
 Café Trigo 
Argentina 2 8 
Brasil 3 6 
 
Como se vê, em termos absolutos, e com ambos os países usando a mesma 
quantidade de homens, o Brasil produz mais café que a Argentina enquanto que 
esta produz mais trigo que o Brasil. Em outras palavras, o Brasil possui uma 
vantagem absoluta na produção de café, enquanto a Argentina tem uma 
vantagem absoluta na produção do trigo. 
 
 Na ausência de comércio, se, por acaso, o Brasil e a Argentina resolvessem 
produzir, internamente, ambos os produtos, colocando, no primeiro semestre, 
todos os seus fatores de produção para produzir café e, depois, no segundo 
semestre, deslocando todos os fatores para produzir trigo, suas produções 
anuais dos dois produtos seriam: 
 
 
 
 
 
 Café Trigo 
Argentina 12 48 
Brasil 18 36 
Total 30 84 
 
 
 Observe que, se o Brasil deixasse de produzir 6 mil sacas de trigo, poderoa 
obter 3 mil sacas de café a mais – ou seja, o custo de 1 saca de café no Brasil 
equivale a 2 sacas de trigo – significando que 1 saca de trigo, no Brasil, 
equivale a ½ saca de café. Já na Argentina, se o país deixasse de produzir 2 mil 
sacas de café, conseguiria aumentar em 8 mil sacas a produção de trigo – ou 
seja, na Argentina, o custo de 1 saca de café equivale a 4 sacas de trigo (ou, 
ainda, 1 saca de trigo custa o equivalente a ¼ da saca de café). 
 
 Custo Doméstico 
Produção 
Custo Doméstico 
Produção 
Argentina 1C = 4T 1T = 1/4 C 
Brasil 1C = 2T 1T = 1/2C 
 
Com estes custos relativos, caso os dois países se dedicassem a produzir os 
bens que lhe custassem relativamente menos – o Brasil produziria só café, 
enquanto a Argentina produziria só trigo (relembrando quem no Brasil, a 
produção de trigo exige mais sacrifício da produção de café, enquanto, na 
Argentina, a produção de trigo, é relativamentemais barata). Em assim 
procedendo, os dois países obteriam a seguinte produção. 
 
 Café Trigo 
Argentina 0 96 
Brasil 36 0 
Total 36 96 
Ganho Líquido 6 12 
 
É importante observar, no entanto, que nem a Argentina quer consumir 
somente trigo, nem o Brasil quer consumir somente café. Neste caso, o melhor 
que podem fazer é se especializarem na produção do bem em que forem mais 
produtivos e comerciarem seus excedentes entre si. E para que o comércio se 
realize, basta o Brasil obtenha mais de duas sacas de trigo por q saca de café 
(pois este é o custo de produzir trigo domesticamente) e que a Argentina 
obtenha mais de ¼ de saca de café por saca de trigo. 
 
 
 
 
 
 Existe uma infinidade de calores para troca, mutuamente cantajosa. A título 
de exemplo, digamos que as relações de troca – que, neste caso, poderíamos 
chamar de taxa de câmbio – seja fixada em 1 saca de café para três sacas de 
trigo. Assim ocorrendo, ambos os países ganhariam, consumido mais de ambos 
os produtos, conforme se vê na tabela a seguir: 
 
 
 Brasil Argentina 
 Café Trigo Café Trigo 
Produção 36 0 0 96 
Tx. De Câmbio Interna 1c=2t 1c=4t 
Tx. De Câmbio Externa 1c=3t 
Exportações 14 0 0 42 
Importações 0 42 14 0 
Consumo Final 22 42 14 54 
Ganho Líquido 4 6 4 6 
 
Como se vê, se cada país produzisse somente aqueles bens cujos custos 
relativos são menores, ambos os países sairiam ganhando, pois comprariam os 
seus produtos a custos menores. 
 
 Observa-se que exportação de 14 sacas de café pelo Brasil foi escolhida 
arbitrariamente. Podria ser qualquer outra quantidade, desde que, após o 
comércio, sobrasse de ambas as mercadorias, para os dois países, mais do que 
obtinham antes da especialização e do comércio. Esta é a única forma de 
convencê-los a se especializarem na produção da mercadoria em que 
absolutamente são mais eficientes. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2.3 – Exercício 01 
 
Suponha que o Brasil e a Argentina apresentem a seguinte produção de trigo 
e tecido por homem-hora. 
 
 CAFÉ TECIDO 
Brasil 
Argentina 
 
Considerando estes dados, ilustre como seria vantajoso o comércio entre os 
dois países. 
 
TABELA DE PRODUÇÃO DOS PAÍSES SEM ESPECIALIZAÇÃO 
 Café Tecido 
Brasil 
Argentina 
Total 
 
TABELA DE CUSTOS DE PRODUÇÃO 
 Custo Doméstico 
Produção 
Custo Doméstico 
Produção 
Brasil 
Argentina 
 
TABELA DE PRODUÇÃO DOS PAÍSES COM ESPECIALIZAÇÃO 
 Café Tecido 
Brasil 
Argentina 
Total 
Ganho Líquido 
 
TABELA DE COMERCIALIZAÇÃO ENTRE OS PAÍSES 
 Brasil Argentina 
 Café Tecido Café Tecido 
Produção 
Tx. De Câmbio Interna 
Tx. De Câmbio Externa 
Exportações 
Importações 
Consumo Final 
Ganho Líquido 
 
 
 
 
2.4 Exercício 02 
 
Suponha que o Brasil e a Argentina apresentem a seguinte produção de trigo 
e tecido por homem-hora. 
 
 CAFÉ TRIGO 
Brasil 60 30 
Argentina 40 10 
 
Considerando estes dados, ilustre como seria vantajoso o comércio entre os 
dois países. 
 
TABELA DE PRODUÇÃO DOS PAÍSES SEM ESPECIALIZAÇÃO 
 Café Trigo 
Brasil 
Argentina 
Total 
 
TABELA DE CUSTOS DE PRODUÇÃO 
 Custo Doméstico 
Produção 
Custo Doméstico 
Produção 
Brasil 
Argentina 
 
TABELA DE PRODUÇÃO DOS PAÍSES COM ESPECIALIZAÇÃO 
 Café Trigo 
Brasil 
Argentina 
Total 
Ganho Líquido 
 
TABELA DE COMERCIALIZAÇÃO ENTRE OS PAÍSES 
 Brasil Argentina 
 Café Trigo Café Trigo 
Produção 
Tx. De Câmbio Interna 
Tx. De Câmbio Externa 
Exportações 
Importações 
Consumo Final 
Ganho Líquido 
 
 
 
 
 
3.0 - TEORIA DAS VANTAGENS COMPARATIVAS 
 
 O economista inglês David Ricardo (1772/1823) aperfeiçoou as idéias de Adam 
Smith, desenvolvendo a chamada Teoria das Vantagens Comparativas, também chamada 
Teoria dos Custos Comparados. 
 
 Ao analisar a Teoria das Vantagens Absolutas, David Ricardo concluiu que ela 
poderia ser aplicada apenas em alguns casos especiais de um princípio mais amplo que 
poderia ser chamado de vantagens comparativas. Na verdade David Ricardo demonstrou 
que o comércio é mutuamente vantajoso quando existe uma vantagem comparativa e não 
necessariamente absoluta de um país em relação a outro. 
 Para melhor entender o ponto de vista de Ricardo, suponha, por exemplo, que o 
Brasil e a Argentina consigam, mensalmente, as seguintes quantidades de café e de trigo 
(em milhares de sacas), caso distribuam seus fatores de produção igualmente entre os dois 
produtos: 
 
 Café Trigo 
Argentina 60 30 
Brasil 40 10 
 
 
 Neste caso, a Argentina possui uma vantagem absoluta sobre o Brasil na produção 
dos dois produtos. De acordo com Adam Smith, não haveria a especialização de produção, 
nem troca entre os dois países. 
 
O grande mérito de Ricardo, foi mostrar que o comércio também seria proveitoso 
para os dois países, mesmo que um deles tivesse vantagem absoluta sobre o outro na 
produção de todas as mercadorias; mas sua vantagem seria maior em alguns produtos do 
que em outros. Em outras palavras, devem ser consideradas não as vantagens absolutas, 
mas sim as vantagens comparativas. 
 
 Como se pode ver na tabela, a Argentina é, em termos absolutos, mais produtiva que 
o Brasil em ambos os produtos. No entanto, olhando em custos domésticos de produção 
verifica-se que o seguinte: 
 
 Custo Doméstico de Produção 
- CAFÉ - 
Custo Doméstico de Produção 
- TRIGO - 
Argentina 60C = 30T OU 1C = 1/2T 30T = 60C OU 1T = 2C 
Brasil 40C = 10T OU 1C = 1/4T 10T = 40C OU 1T = 4C 
 
 Assim, para que a Argentina produza mais 1 saca de trigo por mês, precisa sacrificar 
2 sacas de café, enquanto o Brasil teria de sacrificar 4 sacas de café para obter uma saca de 
trigo a mais. Em outras palavras, o custo do trigo é mais elevado no Brasil que na 
Argentina. De outra parte, internamente, o preço do café é relativamente mais baixo no 
Brasil (para cada saca de trigo sacrificada, este obtém 4 sacas a mais de café, enquanto, na 
Argentina, para cada saca de trigo sacrificada são obtidas apenas 2 sacas de café.) 
 
 Baseando-se neste raciocínio, pode-se afirmar que, embora em termos absolutos, a 
Argentina seja mais eficiente do que o Brasil na produção de ambos os produtos, o mesmo 
não acontece quando se comparam os custos de produção domésticos. Assim, 
comparativamente, o Brasil, é mais eficiente na produção de café do que a Argentina – pois 
para cada saca de trigo sacrificada, obtém 4 sacas de café, enquanto a Argentina só obteria 
½ saca de café por uma de trigo sacrificada. De outra parte, a Argentina é mais eficiente na 
produção de trigo que o Brasil – pois para cada saca de café sacrificada obtém 2 sacas de 
trigo, enquanto o Brasil só obteria ¼ de saca de trigo por uma de café sacrificada. 
 
 Daí, se conclui que a Argentina tem uma vantagem comparativa sobre o Brasil na 
produção de trigo, enquanto o Brasil, tem uma vantagem comparativa sobre a Argentina na 
produção de Café. 
 
 O professor Paul A. Samuelson (Prêmio Nobel de Economia), em sua linguagem 
simples esclarece a questão (Samuelson e Nordhaus, 1992: 663). Consideremos, diz ele, o 
caso de um advogado que é o melhor de sua cidade. Ele também é o melhor datilógrafo. 
Como deveria ocupar seu tempo? Deveria escrever e datilografar suas próprias ações 
legais? Ou deveria deixar a datilografia para sua secretária? Claro está que ele deve dedicar 
integralmente seu tempo às atividades legais (que, afinal de contas, lhe rendem bom 
dinheiro), nas quais possui vantagem comparativa maior em relação a sua secretária, muito 
embora ele seja superior a ele também em datilografia. O mesmo princípio aplica-se a 
países. 
 
 Como os custos de produção domésticos de café e de trigo são diferentes nos dois 
países, é possível haver especialização produtiva e troca mutuamente vantajosa. Mas, claro, 
a Argentina é, em termosabsolutos, bem mais eficiente que o Brasil em ambos os produtos, 
talvez tal especialização não possa ser completa, sob pena de a produção total de algum dos 
dois produtos se reduzir, após a especialização. Em outras palavras, caso somente o Brasil 
passe a produzir café, ficando a Argentina só com a produção de trigo, verificar-se-á que a 
produção total de café se situara em apenas 480 sacas anuais (ou, 40 x 12) (tabela 2) – 
menos do que seria obtido caso cada país dedicasse a metade do ano produzindo café e a 
outra metade produzindo trigo, pois nessa hipótese a produção total de café seria de 600 
sacas (ou, 60 x 6 = 360, da Argentina, mais 40 x 6 = 240, do Brasil) (tabela 1). De onde se 
conclui que, quando a diferença de eficiência produtiva, em termos absolutos, for muito 
grande, não é conveniente que o país mais produtivo abandone toda a produção do produto 
onde ele for menos eficiente internamente. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Tabela 1 
 
Brasil e Argentina colocando, no primeiro semestre, todos os fatores de produção para 
produzir café e, depois, no segundo semestre, deslocando todos os fatores para produzir 
trigo. 
 
 Café Trigo 
Argentina 360 180 
Brasil 240 60 
Total dos Dois Países 600 240 
 
Tabela 2 
 
Brasil colocando todos seus fatores de produção o ano inteiro na produção de café e, a 
Argentina no trigo. 
 
 Café Trigo 
Argentina 0 360 
Brasil 480 0 
Total dos Dois Países 480 360 
Ganho Líquido 
(em relação tabela 1) 
-120 
 
120 
 
 
 Vamos supor então, que a Argentina dedique 9 meses do ano produzindo trigo e 3 
meses produzindo café obtendo assim, uma produção de 270 sacas de trigo e 180 de café 
(tabela 3) – enquanto o Brasil passa a produzir somente café, trocando seus excedentes, a 
produção total de ambos os produtos aumentaria e ambos os países consumiriam mais do 
que fariam se não se especializarem. É importante observar que, para que os países sejam 
convencidos a se especializarem e a trocarem seus excedentes , é necessário que se ache 
uma taxa de troca (taxa de câmbio) mais favorável que a taxa de troca doméstica, ou seja, 
que a relação de custos doméstica. 
 
Tabela 3 
 
 Brasil colocando todos seus fatores de produção o ano inteiro na produção de café e, 
a Argentina colocando todos os seus fatores de produção 9 meses na produção de trigo e 3 
meses na produção de café 
 
 Café Trigo 
Argentina 180 270 
Brasil 480 0 
Total dos Dois Países 660 270 
Ganho Líquido 
(em relação tabela 1) 
60 
 
30 
 
 
 
 Para um melhor entendimento do que se está dizendo, vamos supor que o mercado 
estabeleça a relação de troca em 3 sacas de café por 1 de trigo. Será que esta taxa agrada os 
dois países? Vejamos: internamente o Brasil tem que sacrificar 4 sacas de café para obter 
uma de trigo. Então, é vantajoso para ele se especializar em café e trocar 3 sacas por uma 
de trigo. E quanto à Argentina? Internamente, a Argentina obtém apenas 2 sacas de café 
quando sacrifica 1 de trigo. Assim, se ela obtiver 3 sacas de café em troca de uma de trigo, 
vale a pena sua especialização na produção de trigo. 
 
 Uma vez que os países envolvidos foram convencidos a especializar suas produções 
e trocar seus excedentes e uma taxa de câmbio foi definida, resta apenas definir a 
quantidade dos produtos a ser trocada entre os dois países. 
 
 Como a especialização de produções, aliada às trocas entre as nações visa contribuir 
para a melhoria do bem-estar das populações, não é interessante para os países que o 
consumo final de cada produto seja menor do que o consumo que sua população teria se 
não houvesse especialização da produção. (Tabela 1) 
 Desta forma, o Brasil deseja que seu consumo final de Café seja maior ou igual a 
240 (tabela 1). Como o Brasil está produzindo 480 em café (tabela 3) ele disponibiliza no 
máximo 240 (480 – 240) para troca com a Argentina. Da mesma forma, o Brasil deseja que 
seu consumo final de Trigo seja maior ou no mínimo igual a 60, como o Brasil deve trocar 
Café por Trigo e o câmbio foi definido em 1trigo = 3café, o Brasil deseja trocar no mínimo 
180 em Café para receber suas 60 em trigo. 
 
 Para a Argentina, com a taxa de câmbio em 1trigo = 3café, ela deseja que seu 
consumo de trigo seja maior ou igual a 180 (sua produção sem especialização).Como a 
Argentina esta produzindo 270 em trigo, ele coloca a disposição para a troca, no máximo 
90 (270 – 180). Como a Argentina está produzindo somente 180 em café e ela deseja no 
mínimo 360, ela precisa trocar no mínimo 60 de trigo para receber em troca 180 em café 
que acrescentado ao 180 que ela produziu gere um total de 360 (mínimo que ela deseja). 
 
Resumindo: 
 
 Se o Brasil trocar seu valor máximo em Café 240 deverá receber em troca 80 em 
Trigo da Argentina. 
 Se o Brasil trocar seu valor mínimo em Café 180 deverá receber em troca 60 em 
trigo da Argentina. 
 
 Se a Argentina trocar seu valor máximo em Trigo 90 deverá receber em troca 270 
em Café do Brasil. 
 Se a Argentina trocar seu valor mínimo em Trigo 60 deverá receber em troca 180 
em Café do Brasil. 
 
Veja que se o Brasil trocar 240 (máximo) de Café por 80 em Trigo, O 80 em trigo está 
dentro do valor máximo e mínimo que a Argentina deseja trocar. Já se a Argentina quiser 
trocar seu máximo em trigo (90), deverá receber em troca 270 em Café do Brasil, valor que 
está acima do valor máximo de café que o Brasil deseja trocar. 
Se a Argentina trocar seu mínimo em trigo (60) deverá receber em troca 180 em Café do 
Brasil, valor este que está no limite do mínimo de troca do Brasil. Da mesma forma se o 
Brasil trocar seu mínimo de café (180), deverá receber em troca 60 em trigo da Argentina, 
valor este que está no limite do mínimo de troca de Trigo. 
 
Desta forma temos o seguinte quadro de trocas dos dois países: 
 
 Café Trigo 
Comércio Máximo 240 80 
Comércio Mínimo 180 60 
 
 
O Comércio entre os dois países deve ser definido por um dos produtos dentro dos limites 
de máximo e mínimo. 
 
 
O resultado da especialização está mostrado na tabela a seguir: 
 
 Brasil Argentina 
 Café Trigo Café Trigo 
Produção 480 0 180 270 
Tx. De Câmbio Interna 1t=4c 1t=2c 
Tx. De Câmbio Externa 1t=3c 
Exportações 210 0 0 70 
Importações 0 70 210 0 
Consumo Final 270 70 390 200 
Ganho Líquido 30 10 30 20 
 
 
 
Veja agora o que aconteceria se os máximos e mínimos de troca não fossem respeitados: 
 
 
 Brasil Argentina 
 Café Trigo Café Trigo 
Produção 480 0 180 270 
Tx. De Câmbio Interna 1t=4c 1t=2c 
Tx. De Câmbio Externa 1t=3c 
Exportações 261 0 0 87 
Importações 0 87 261 0 
Consumo Final 219 87 441 183 
Ganho Líquido -21 27 81 3 
 
 Foi com base nestas constatações que os economistas clássicos (Ricardo, 
principalmente) recomendavam que os países deveriam se especializar na produção 
daqueles bens em que tivessem uma vantagem relativamente maior, derivando, daí, a 
conhecida Teoria das Vantagens Comparativas, elaborada por David Ricardo e aceita por 
todos os economistas do século passado e que tanta influência exerceu sobre as políticas 
econômicas de praticamente todos os países, desde então. Seu argumento se assentava no 
fato de que os países dispõem de recursos naturais e outros fatores de produção diferentes 
em quantidade e qualidade – o que os leva a ter custos de produção diferentes. 
 
As hipóteses de Ricardo 
 
 Duas nações e duas mercadorias; 
 A teoria do valor do trabalho, sendo este perfeitamente móvel no mercado interno, 
mas completamente imóvel no mercado internacional; 
 Custos de produção constantes; 
 Custos de transporte zero; 
 Comércio somente por escambo. 
 
 
3.1- Teoria das Vantagens Iguais 
 
 Uma observação importante a fazer é que o comércio será mutuamente benéfico 
para os países se e somente se existir uma vantagem comparativa na produção das 
mercadorias. Se tal condição não ocorrer, não haverá base ou margem para comércio. 
Suponha, porexemplo, que a Argentina e o Brasil apresentassem as seguintes 
possibilidades de produção de café e trigo. 
 
 Café Trigo 
Argentina 60 30 
Brasil 40 10 
 
 A despeito do fato da Argentina apresentar uma vantagem na produção de ambos os 
produtos, o custo relativo doméstico é o mesmo nos dois países. Este é conhecido como 
vantagem igual, uma situação em que nenhum país tem vantagem comparativa sobre o 
outro em nenhuma mercadoria. Neste caso, não há condições para a especialização e 
comércio mutuamente vantajoso. 
 
 
 
 
 
4.0- A dotação de Fatores e a Moderna Teoria de Comércio 
Internacional – O modelo de Heckscher-Ohlin 
 
 Para a época em que foi desenvolvida, a “teoria das vantagens comparativas”até que 
foi bem aceita e reconhecidamente lógica. Com o passar do tempo, no entanto, começou a 
sofrer inúmeras críticas, a saber: 
 
 A teoria tem uma visão estática do processo econômico, supondo que os custos de 
produção de um bem num país, seja constantes no tempo, significando dizer que se, 
um país tem vantagens produtivas hoje, estas permanecerão para sempre. A 
experiência tem demonstrado que, com o tempo, os países alteram suas dotações de 
fatores e seu padrão tecnológico e, portanto, suas capacidades produtivas. 
 A teoria pressupõem a existência da concorrência perfeita – o que, evidentemente, é 
uma hipótese bastante distante da realidade. 
 O modelo de David Ricardo se baseia na teoria clássica do valor – que supõe que os 
custos de produção são determinados unicamente pela quantidade de trabalho nela 
incorporada. Descarta, assim, os custos de outros fatores, como terra, capital e 
tecnologia. Mais ainda, trata o trabalho como fator homogêneo, esquecendo-se que 
este apresenta diferentes qualificações e, portanto, diferentes produtividades e 
custos. 
 
Por essas e por outras, a verdade é que o livre comércio – propugnado pelos 
economistas clássicos – não representa a realidade do comércio internacional. De uma 
forma ou de outra, os países sempre se protegem contra a concorrência externa, 
principalmente naqueles setores em que não são suficientemente competitivos. Isso não 
quer dizer, todavia, que a tese exposta pela teoria das comparativas deve ser renegada. Ao 
contrário, não se pode imaginar que os Estados Unidos e o Brasil devam, produzir café e 
trigo. Isso está fora de questão. 
 
 E foi por estas críticas que surgiu uma nova teoria explicativa das relações 
econômicas internacionais denominada de moderna teoria do comércio internacional, e 
desenvolvida pelos economistas suecos Elie Heckscher e Bertil Ohlin – e que, desde os 
anos 30, tem se tornado na principal teria do comércio internacional. 
 
 A exemplo da teoria das vantagens comparativas, essa “moderna teoria” parte do 
princípio de que o comércio internacional decorre das diferenças de custos existentes entre 
os países. Porém, ao invés de explicar as diferenças de custos em termos, apenas, do 
trabalho, os dois economistas introduziram no estudo o fator capital, reconhecendo que as 
diferenças de custo são dadas pela soma dos custos dos diversos fatores empregados em sua 
produção. 
 
 Partindo da constatação de que os diversos fatores não estão disponíveis (em 
quantidade e qualidade) igualmente entre os países, os autores argumentaram que, num 
dado país, o fator relativamente escasso terá uma remuneração ou preço mais elevado que 
em outro país onde este fator seja mais abundante. 
 
 Vale lembrar que, se fosse possível uma perfeita mobilidade dos fatores entre os 
países, o fator mais abundante emigraria para o país onde fosse mais escasso. Com esta 
emigração, ocorreria uma redução da oferta do fator onde, antes, ele era abundante, 
enquanto, no país para o qual emigrou, sua oferta aumentaria. A continuação deste processo 
levaria, fatalmente, a uma equalização das produtividades e dos preços dos países. 
 
 Na prática, no entanto, esta mobilidade não existe, pelo menos com tanta facilidade 
e ro resultado é a manutenção, por longo período, das diferenças de produtividade entre os 
países. 
 
 
O Teorema de Hecksher-Ohlin 
 
 O modelo padrão de Heckscher-Ohlin se baseia no seguinte teorema: Um país tem 
uma vantagem comparativa na mercadoria que utiliza de forma intensiva seu fator 
abundante. A partir dessa assertiva, a conclusão da teoria moderna do comércio 
internacional torna-se óbvia: 
 
 Os países devem ser especializar na produção daqueles bens produzidos por fatores 
comparativamente abundantes nas suas economias. 
 
Assim, se um determinado país é abundante em mão-de-obra (caso dos países em 
desenvolvimento), deveria ele se especializar naqueles produtos intensivos em mão-de-obra 
(agricultura, têxtil, calçados), enquanto o país, cujo fator abundante fosse o capital, deveria 
se especializar naquelas indústrias intensivas em capital e tecnologia. 
 
Um aspecto importante a observar, relativamente a essas abordagem analíticas de 
comércio internacional é o seguinte: apesar de aparentemente óbvias, todas essas teorias 
têm recebido críticas severas. Uma dessas críticas diz que, ao seguir tais teorias, os países 
em desenvolvimento estarão fadados pra sempre a exportarem produtos primários e a 
importarem os produtos manufaturados e de alta tecnologia. 
 
Na visão desses críticos a teoria das vantagens comparativas e a moderna teoria são 
abordagens estáticas e não dinâmicas, argumentando que, dependendo do esforço de 
investimentos empreendido pelos países, sua dotação de fatores pode alterar com o passar 
do tempo. Foi em decorrência dessas críticas que os países em desenvolvimento 
embarcaram nas décadas de 40, 50 e 60, no chamado “processo de substituição de 
importações” que possibilitou uma rápida industrialização desses países. 
 
 
 
4.1 – As novas teorias de Vernom e Linder 
 
 De tudo que se disse até aqui, pode-se concluir que o pensamento predominante, 
desde Adam Smith (metade do século XVIII) até Heckscher Ohlin (primeira metade do 
século XX) era de que o comércio internacional trazia benefícios recíprocos para os países 
e que as trocas externas eram determinadas pela diferença e diversidade estruturais de 
recursos entre os países. Esta crença, no entanto, começou a ser objeto de críticas a partir da 
década de 50, notadamente nos anos 60 e 70. Dentre as várias abordagens teóricas que 
subsidiaram essas críticas, duas merecem destaque: a de S. Linder e a de R. Vernon. 
 
A Abordagem de Linder 
 
 As bases e conclusões das teorias de comércio internacional centradas na 
abundância relativa de fatores e nas diferenças de usos dos mesmos foram revistas a partir 
da evidência de que os fluxos de comércio mais intensos e de valores mais expressivos não 
ocorriam entre países com diversidade e diferenças acentuadas na dotação re recursos. Ao 
contrário, ocorriam justamente entre os países que apresentavam semelhantes níveis médios 
de renda e semelhantes estruturas internas de demanda agregada. 
 
 Como expoente desta nova abordagem, Linder mostrou que o comércio exterior é 
uma extensão, para fora do país, de suas atividades econômicas desenvolvidas 
internamente. Na verdade, a intensidade dos rios no sentido de estender os padrões de 
procura ou demanda interna para além das fronteiras do próprio país. 
 
 Segundo esta concepção, a decisão dos empresários de produzir determinado bem é 
fortemente motivada pela percepção de que existem necessidades insatisfeitas dentro do seu 
próprio país – o que se traduz em oportunidades de ganho visíveis. Se esses 
empreendimentos, levados assim a feito, são bem sucedidos, o empresário começa a 
perceber que o mercado local é pequeno e insuficiente e que é possível ampliar o comércio. 
Evidentemente, somente após um longo período de produção para o mercado doméstico é o 
que os empresários concretizam a idéia de que é possível ganhar mais produzindo para 
outros países. Mas, uma vez alcançado este estágio,nada impede que as exportações 
passem a ser proporcionalmente maiores que a produção absorvida no próprio país. E, 
quanto menor o país de origem, tanto maior a probabilidade de as exportações aumentarem 
sua participação na oferta agregada. 
 
 Na realidade, do ponto de vista comercial, fronteiras nada mais são que linhas 
traçadas arbitrariamente e que são cruzadas facilmente, tão logo surjam oportunidades de 
negócios do outro lado. E, a bem da verdade, quanto menor for o país, tanto mais cedo 
essas linhas são cruzadas. Nesse sentido, o comércio internacional é apenas uma extensão – 
para além das fronteiras – da rede de atividade econômica do próprio país. 
 
 Explorando mais ainda esta visão, Linder foi mais longe, sugerindo que o comércio 
exterior – que surge a partir dos excedentes de produção domésticos – pode de constituir, 
nos países importadores, na base de iniciativas de produção substitutivas de importações. 
Isto ocorre a partir do momento em que a demanda interna pelo produto importado torna 
significativa, transformando-se em motivação para novos e novos empreendimentos nos 
países importadores. 
 
 Observa-se que, inicialmente, no país. A exportador, a ação empresarial interna 
antecedeu-se ao comércio exterior, estabelecendo fluxos de exportação para outros países. 
Depois, nestes países importadores, o comércio exterior antecedeu-se às iniciativas locais 
substitutivas das importações. E é justamente dessa transmissão de capacidades de 
produção entre os países que surgem os ganhos mais expressivos do comércio 
internacional. 
 
A Abordagem de Vernon 
 
 Uma outra abordagem desenvolvida na mesma época e com pressupostos 
semelhantes aos de Linder a de Vernon – que correlacionou os fluxos do comércio e os 
investimentos internacionais à teoria do ciclo de vida dos produtos. Por este novo enfoque, 
um país inovador, industrialmente avançado, desenvolve determinado produto, atendendo à 
procura interna, quanto à externa. As exportações, no entanto, só se mantêm dinâmicas nas 
fases de introdução e de maturação do produto. Mais à frente, ou sejam mais tarde, após a 
maturação do produto, a procura interna tende a estabilizar-se ou, quanto muito, a crescer 
mais lentamente. Em conseqüência, a produção interna declina, por duas razões básicas: as 
forças internas de produção já estarão concentradas e direcionadas para outros produtos 
novos; e, os países para os quais se realizavam exportações tornaram-se produtores e 
também exportadores. 
 
 
 Assim, a exemplo da concepção de Linder, no modelo de Vernom, as inovações se 
antecipam aos mercados. A absorção interna insuficiente e a existência de mercados 
externos estimulam as exportações. Estas por seu turno, levam à criação de novos 
mercados, que conduzem à viabilização de novas iniciativas empresariais, muitas das quais 
por investimentos de origem externa. 
 
 Na verdade, pode-se concluir que os ganhos decorrentes dessas cadeias de 
transmissão de novos padrões de procura e de oferta seriam, mais que as vantagens 
recíproca preconizadas pelas abordagens clássicas, os benefícios efetivos das redes 
mundiais de intercâmbio econômico-comercial. 
 
O Comércio de Produtos Industrializados 
 
 Vários estudiosos do comércio internacional têm questionado a validade da teoria de 
Heckscher-Ohlin quando esta afirma que o comércio internacional é determinado pelas 
diferenças de dotação de fatores. A razão para tais críticas reside na constatação dos 
seguintes fatos: 
 
 Existência de um intenso e crescente comércio entre países que apresentam 
dotações de recursos bastante semelhantes, como é o caso dos países da Europa 
Ocidental. Pela teoria de Hecksher-Ohlin, esse comércio deveria ser pequeno, sendo 
mais adequado para o comércio com estruturas produtivas diferentes, como estgre 
os países industrializados e os produtores de bens primários-agrícolas e, 
 A grande troca de produtos bastante similares entre países, com por exemplo, as 
exportações de carros alemães para França e vice-versa – o que, em princípio, 
contraria a teria de Heckscher-Ohlin 
 
A partir dessas constatações, surgiram diversos argumentos que procuraram explicar 
esses aparentes ortodoxos, mostrando que o comércio de produtos industrializados é 
influenciado pelos seguintes fatores principais: 
 
 Economias de escala – que, em resumo, quer dizer que à medida que a escala de 
produção aumenta, os custos se reduzem e, com isso, os países se beneficiam com o 
comércio e, por conseqüência, aumenta o bem estar dos consumidores com os 
preços menores. 
 A demanda dos consumidores – à medida que a renda per capita vai se elevando, os 
consumidores vão diversificando e sofisticando seus gostos. Ou seja, o crescimento 
da renda provoca não só aumento na demanda por mais carros, mas por carros de 
mais qualidade (teoria de Linder) 
 O ciclo do produto – baseado na teoria de Vernom, esta tese argumenta que os 
produtos novos são desenvolvidos e produzidos primeiramente numa economia 
mais industrializada (Estados Unidos, por exemplo).Isso é explicado porque nessa 
economia a renda é alta e, conseqüentemente, a demanda é maior, a mão-de-obra é 
mais qualificada e as técnicas de produção são mais desenvolvidas.Uma vez que o 
produto se tornou de consumo geral dentro do país, começa-se a busca externa por 
novos mercados consumidores – o que é atendido pelas exportações. 
Posteriormente, a produção desse produto é transferida para países menos 
desenvolvidos, porém agora já em condições de produzi-lo, enquanto no país de 
origem estão surgindo novos e mais sofisticados produtos para atenderem a 
demanda interna, também cada vez mais exigente. 
 
À vista dessas explicações, pode-se concluir que, a rigor, a teoria de Heckscher-Ohlin 
se aplicaria quase que exclusivamente ao comércio de produtos agrícolas que, de fato, é 
explicado pelas diferenças de dotação de fatores entre os países. 
 
	1.0 - INTRODUÇÃO AO COMÉRCIO INTERNACIONAL
	1.1- Alguns Conceitos Básicos.
	1.1- PRINCIPAIS DIFERENÇAS ENTRE O COMÉRCIO INTRAREGIONAL E O COMÉRCIO EXTERIOR.
	Variação No Grau de Mobilidade dos Fatores de Produção
	Natureza de Mercado
	Existência de Barreiras Aduaneiras e Outras Restrições
	Logas Distâncias
	Variações de Ordem Monetária
	Variações de Ordem Legal
	1.2- Textos Complementares.
	COMENDO POEIRA
	EDUCAR OU MORRER
	2.0 AS VANTAGEMS DO COMÉRCIO INTERNACIONAL
	2.1 – O PONTO DE VISTA DOS MERCANTILISTAS
	2.2 – A Teoria das Vantagens Absolutas (Adam Smith)
	Ilustração da Teoria da Vantagem Absoluta
	2.3 – Exercício 01
	2.4 Exercício 02
	3.0 - TEORIA DAS VANTAGENS COMPARATIVAS
	As hipóteses de Ricardo
	3.1- Teoria das Vantagens Iguais
	4.0- A dotação de Fatores e a Moderna Teoria de Comércio Internacional – O modelo de Heckscher-Ohlin
	O Teorema de Hecksher-Ohlin
	4.1 – As novas teorias de Vernom e Linder
	A Abordagem de Linder
	A Abordagem de Vernon
	O Comércio de Produtos Industrializados

Continue navegando