Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 O exame físico morfológico do recém-nascido (RN) fornece informações importantes para o diagnóstico clínico de doenças genéticas. Dependendo das características e do número dos achados, o médico pode decidir quanto à solicitação de exames de imagem, exames séricos específicos ou do cariótipo. Durante a primeira avaliação do RN, a anamnese completa com dados sobre consanguinidade, história familiar de doenças genéticas ou malformações ajuda na investigação. Algumas doenças genéticas já apresentam sinais intraútero, sendo possível suspeitar de alguma síndrome pelo exame ultrassonográfico, enquanto outras apresentam alterações observáveis somente no período pós-natal. • SÍNDROME DE DOWN – trissomia do 21 A Síndrome de Down (SD) é a anomalia cromossômica mais frequente nos seres humanos e a causa mais prevalente de deficiência intelectual (presente em 100% das pessoas com SD, em geral leve a moderada). As pessoas com SD apresentam potencial de se desenvolver pela ampla neuroplasticidade que pode ser estimulada desde os primeiros meses de vida pela família, profissionais de saúde e educação. O diagnóstico clínico de SD baseia-se no reconhecimento de características físicas. A segurança do diagnóstico clínico aumenta quanto mais características específicas da SD forem identificadas na criança e descritas como sinais cardinais de Hall. O pediatra precisa considerar que o cariótipo não é obrigatório para o diagnóstico da SD, pois ele se baseia no fenótipo e, portanto, nas características físicas da criança, mas é fundamental para orientar o aconselhamento genético da família. A SD tem sua apresentação clínica explicada por um desequilíbrio da constituição cromossômica, a trissomia do cromossomo 21, que pode ocorrer principalmente por trissomia livre, translocação ou mosaicismo. Crianças com SD evoluem com déficit de desenvolvimento psicomotor, intelectual e pondero-estatural e quanto mais precoce são instituídas as medidas preventivas melhor o prognóstico. O cuidado com a saúde da criança com SD inicialmente deve estar focado no apoio e informação à família, no diagnóstico das doenças associadas. Após a comunicação do diagnóstico de SD devem ser solicitados: cariótipo, ecocardiograma e hemograma. A triagem para hipotireoidismo nos RNs é realizada pelo teste do pezinho. Poderão ser solicitados outros exames conforme a avaliação clínica. Trissomia simples: não disjunção cromossômica de origem meiótica (95% dos casos) o Sexo feminino: 47, XX + 21 o Sexo masculino: 47, XY + 21 Translocação: rearranjo cromossômico com ganho de material genético o Sexo feminino: 46, XX, t (14,21) (14q21q) o Sexo masculino: 46, XY, t (14,21) (14q21q) Mosaicismo: 2 linhagens celulares o Uma normal com 46 cromossomos o E outra trissômica com 47 cromossomos (cromossomo 21 extra) 2 • O ecocardiograma deve ser solicitado já na maternidade ou estar agendado para quando o recém-nascido receber alta, tendo em vista que 50% das crianças apresentam cardiopatias, mesmo sem ausculta de sopros cardíacos, sendo as mais comuns: comunicação interatrial, comunicação interventricular e defeito do septo atrioventricular total. o Caso o primeiro exame esteja normal não é necessário repeti-lo. o Recomenda-se o uso de anticorpo monoclonal contra o Vírus Sincicial Respiratório (Palivizumabe) para os cardiopatas com repercussão hemodinâmica, nos dois primeiros anos de vida. • O hemograma é solicitado para afastar alterações hematológicas como reações leucemoides, policitemia, leucemia e doença mieloproliferativa transitória. Deve ser realizado semestralmente nos 2 primeiros anos e anualmente ao longo da vida da pessoa com SD. • A função tireoidiana (TSH, T3 e T4 livre) deve ser avaliada ao nascimento (triagem neonatal), aos 6 e aos 12 meses e após, anualmente. • As avaliações de acuidade auditiva e visual deverão ser realizadas aos 6 e aos 12 meses, e posteriormente anualmente. Nos exames oftalmológicos poderão ser detectados erros de refração, catarata congênita, glaucoma, nistagmo e estenose do ducto lacrimal nos exames oftalmológicos. Quanto à alteração da acuidade auditiva, especial atenção deve ser dada aos episódios de otite média serosa que acometem 50% a 70% das crianças e potencialmente podem levar à hipoacusia. O acompanhamento clínico da criança com SD: • Entre 2 e 10 anos → desenvolvimento de autonomia para as atividades de vida diária e atividades instrumentais da vida cotidiana, além de autocuidado, socialização, aquisição de habilidades sociais, escolaridade e acompanhamento pondero estatural, atenção especial para TEA. • Maior de 10 anos e adolescente → orientação vocacional, atenção aos distúrbios emocionais ou psiquiátricos, além de orientação quanto à sexualidade, prevenção de gravidez e doenças sexualmente transmissíveis. Recomenda-se a investigação de instabilidade atlanto-axial com radiografia da coluna cervical em posição neutra em perfil, flexão e extensão na idade pré-escolar (3 anos, repetindo aos 10). • Se a distância do atlas-axis for maior de 5 mm, deve-se encaminhar para o ortopedista e rigorosamente serem evitados movimentos de flexão e extensão total da coluna cervical, realizados em cambalhotas, mergulhos, cavalgada, futebol, ginástica e durante o preparo anestésico para uma cirurgia. • Há indicação cirúrgica para os casos sintomáticos com alteração radiográfica de coluna cervical ou aqueles com distância maior de 9,9 mm. • O estudo radiológico dinâmico da coluna cervical deve ser realizado em qualquer momento na vigência de dor cervical, torcicolo, fraqueza de membros superiores, tontura ou alterações intestinais e vesicais. IMUNIZAÇÃO • Varicela 1 ano com reforço aos 4 anos • Hepatite 1 ano com reforço 18 meses • Pneumocócica com 3 doses 3 • SÍNDROME DE EDWARDS – trissomia do 18 É causada pela trissomia do cromossomo 18, sendo a trissomia mais frequente, após a síndrome de Down. Essa síndrome também está associada à idade materna, pois mais da metade dos casos são gerados por mães com mais de 35 anos. São características: baixo peso ao nascer, devido à restrição de crescimento intrauterino, e fenótipo caracterizado por cabeça pequena, alongada e estreita, com occipital proeminente. A viabilidade do afetado varia com a gravidade de expressão dos comprometimentos cardiovasculares e respiratórios, que, quando são pequenos ou não expressados, podem favorecer uma boa sobrevida, podendo atingir a idade adulta. • Manifestações clínicas o Fissuras palpebrais pequenas o Diâmetro bifrontal estreito o Microcefalia o Micrognatia o Fenda labial e palatina o Aparência pequena e prematura o Hipotonia no período neonatal, seguida de hipertonia o Dificuldade no ganho de peso o Hipoplasia dos tecidos subcutâneo, adiposo e dos músculos esqueléticos o Orelhas com implantação baixa, lembrando orelhas de fauno o Pescoço curto com excesso de pelos o Hernia inguinal ou umbilical e/ou diástase dos retos o Punhos cerrados com o 2° dedo sobre o médio e 5° sobre o quarto o Pé torto congênito (formato de mata borrão ou cadeira de balanço) o Hirsutismo na fronte e no dorso o Cardiopatia congênita (>90%) ▪ Defeitos do septo ventricular e ducto arterioso ▪ Doença polivalvular A ecocardiografia fetal, especialmente quando realizada por volta das 20 semanas de gestação, pode detectar malformação cardíaca congênita, o que sugere a presença da trissomia do cromossomo 18. • As crianças com síndrome de Edwards apresentam prognóstico bastante reservado • SÍNDROME DE PATAU – trissomia do 13 A síndrome é originada pela trissomia do cromossomo 13, causando, nos afetados, um quadro grave e repleto de malformações congênitas, que muitas vezes leva ao aborto. Ao nascer, apresentam-se com baixo peso. Somente 10% sobrevivem além do primeiro ano de vida. Os pacientesapresentam deficiência mental severa, surdez, geralmente são cegos e têm dificuldade de alimentação, além do desenvolvimento neuropsicomotor deficitário. São comuns crises de apneia, cianose e convulsões. • Manifestações clínicas: o Microftalmia o Fenda labial e palatina (60 a 80%) o Microcefalia o CIV, PCA, CIA (805) o Polidactilia, clinodactilia o Unhas hipoplásicas 4 • SÍNDROME DE TURNER A síndrome de Turner não tem relação com a idade materna e é uma monossomia do X, gerando um cariótipo 45 (X,0). Restringe-se a indivíduos fenotipicamente femininos. Quanto à genitália externa, permanece infantil, com hipoplasia do monte de Vênus. A hipoplasia da genitália interna é caracterizada por gônadas em fita e derivados müllerianos hipoplásicos. Em 20% dos casos, há presença de malformações cardiovasculares, sendo a coarctação da aorta expressa em mais de 50% delas. Em cerca de 50% dos casos, podem existir vícios de rotação e fusão renal, definidos como “rins em ferradura” ou hidronefrose, hipoplasia renal, bifidez pieloureteral e, eventualmente, hipertensão arterial. O desenvolvimento neuropsicomotor varia muito. O principal marco clínico é a baixa estatura no sexo feminino, com ou sem os demais estigmas; toda menina adolescente que não acompanhe o estirão da sua faixa etária deve, necessariamente, ser investigada para afastar a síndrome de Turner. Habitualmente, ocorre ausência ou redução dos estrogênios e do pregnanodiol, paralela a uma elevada concentração de hormônio folículo-estimulante (FSH), o que determina um hipogonadismo primário. O cariótipo habitualmente define o diagnóstico. O tratamento atualmente proposto é a utilização de hormônio de crescimento, podendo este ser associado a hormônios femininos no momento adequado para favorecer o desenvolvimento oportuno da maturação sexual secundária e, inclusive, a indução de ciclos menstruais. • SÍNDROME DE KLINEFELTER A Síndrome de Klinefelter é uma síndrome genética restrita aos homens, cujo diagnóstico é difícil antes da puberdade devido aos sinais que são pouco nítidos e, por isso, não justificam o exame cromossômico. A presença de testículos pequenos ou anomalias de genitália externa podem levar à suspeita de síndrome em recém nascidos ou crianças. As alterações são decorrentes de hipogonadismo puberal. A síndrome decorre de aneuploidia dos cromossomos sexuais, com cariótipo (47, XXY) em mais de 80% dos casos. Podendo o diagnóstico dessa síndrome ser realizado por meio de cariótipo, espermograma, exames de sangue para dosar os hormônios estrogênio, folículo-estimulante, luteinizante e testosterona. As principais características são: atrofia testicular, infertilidade e ginecomastia, além da estatura elevada, com alteração das proporções corpóreas e características sexuais secundárias masculinas que não se desenvolvem suficientemente. 5 1. Qual é a cardiopatia congênita que está mais associada aos portadores de síndrome de Down? a) Transposição das grandes artérias b) Defeito do septo atrioventricular total c) Tetralogia de Fallot d) Dupla via de saída do ventrículo direito 2. Um lactente de 4 meses apresenta hipotonia generalizada, orelhas pequenas, epicanto, clinodactilia e espaçamento do 1° e do 2° pododáctilos. Para qual dos seguintes problemas a criança apresenta maior risco? a) Leucemia b) Persistência do canal arterial c) Convulsões d) Perda auditiva 3. Um recém-nascido a termo, pesando 1800g, apresenta as seguintes dismorfias: occipito proeminente, fendas palpebrais pequenas, orelhas displásicas e pequenas, esterno curto, camptodactilia com sobreposição de dedos (2° e 5° quirodáctilos sobre 3° e 4°), calcâneos proeminentes com pé “em cadeira de balanço”. Além disso, está evoluindo com déficit de sucção e dificuldade de ganho ponderal. De acordo com o caso, esse fenótipo é sugestivo de síndrome de: a) Down b) Patau c) Turner d) Edwards 4. São alterações comuns em crianças com síndrome de Down, além da cardiopatia: a) Instabilidade atlanto-occipital, imunidade celular comprometida e atresia de duodeno. b) Pé cavo varo, processos infecciosos bacterianos e disfunção da tireoide. c) Fêmur curto congênito, hipotireoidismo congênito e imunidade humoral comprometida. d) Báscula posterior da pelve, imunidade celular comprometida, catarata e erro de refração. 5. Recém-nascido apresenta-se com hipotonia, reflexo de Moro prejudicado, face plana, fissuras palpebrais voltadas para cima, orelhas pequenas e displásicas, hiperflexibilidade das articulações, pescoço curto, clinodactilia do quinto dedo, prega palmar única e displasia pélvica. Para esta situação, analise as alternativas abaixo: I- Existe 50% de chance de haver algum defeito cardíaco II- A maioria destes pacientes apresentará problemas comportamentais III- Tem uma chance aumentada de desenvolver leucemia a) I e II apenas b) I e III apenas c) II e III apenas d) I, II e III e) III apenas 6 6. Isabel nasceu com hipotonia, reflexo de Moro diminuído, fácies arredondada, pele frouxa na região dorsal do pescoço, clinodactilia do 5° dedo das mãos, fissuras palpebrais oblíquas, pregas epicânticas, língua protrusa, ponte nasal achatada, orelhas pequenas, hiperextensibilidade articular, diástase de reto e hérnia umbilical. Além dessas alterações, pode-se afirmar que, nas pessoas com essas alterações: a) As cardiopatias congênitas ocorrem em menos de 5% dos casos e compõem defeito do septo atrioventricular, comunicação interventricular, comunicação interatrial, persistência do canal arterial e tetralogia de Fallot. b) Podem ocorrer malformações do trato gastrintestinal, como atresia de duodeno, estenose pilórica, má rotação, pâncreas anular e ânus imperfurado. c) Não ocorre nenhum grau de retardo mental d) O indivíduo apresenta, na idade adulta, altura compatível com seu alvo genético 7. Uma criança de 4 anos de idade, comparece ao ambulatório acompanhado de sua mãe, porque foi encaminhado do Centro de Saúde pois apresenta-se com feições grosseiras e perda progressiva dos marcos do desenvolvimento. Ao exame físico, apresenta hepatoesplenomegalia. Considerando este quadro clínico, a causa mais provável é: a) Trissomia de Patau b) Mucopolissacaridose c) Intolerância hereditária à frutose d) Distúrbio do metabolismo de carboidrato 8. Uma recém nascida a termo pesou 3250g ao nascimento. O exame físico na sala de parto evidenciou face achatada, fenda palpebral oblíqua, epicanto, pele abundante no pescoço, sulco entre o hálux e o 2° artelho, hipotonia muscular generalizada e reflexo de Moro débil. Dentre os exames complementares rotineiramente indicados para o melhor acompanhamento deste paciente, estão: a) Ecocardiograma e dosagem sérica de cortisol b) Audiometria de tronco cerebral e dosagem sérica de TSH, T3 e T4 c) Tomografia computadorizada de crânio e cariótipo d) Eletroneuromiografia e fundo de olho e) Ultrassonografia de abdome global e radiografia de articulações coxofemorais 9. Em crianças portadoras de síndrome de Down pode-se afirmar que: a) Um comportamento bastante comum é a agressividade. b) A maioria tem problemas comportamentais. c) O desenvolvimento social é relativamente preservado. d) O desenvolvimento é afetado igualmente em todas as áreas. 10. Lactente de 67 dias de vida aguarda cariograma para confirmar diagnóstico de trissomia do cromossomo 21 e tem, na sua forma total, diagnóstico ecocardiográfico da cardiopatia congênita mais encontrada nesta síndrome. As anormalidades no exame físico, decorrentes da cardiopatia, mais esperadas são: a) Cianose e taquicardia. b) Hepatomegalia e taquipneia. c) Deficiência de crescimento e cianose. d) Diminuição dos pulsos nos membros inferiores e taquicardia. 7 11. Em qual das situações relacionadasa seguir o exame do cariótipo provavelmente não ajudará no esclarecimento do diagnóstico? a) Paciente com cardiopatia congênita complexa isolada. b) Paciente com fenda labial e palatina, microcefalia, polidactilia e cardiopatia congênita. c) Menina com baixa estatura, pescoço alado e cúbito valgo. d) Paciente com microcefalia, hipertonia generalizada, região occipital proeminente, cardiopatia congênita, flexão anormal dos quirodáctilos, retroflexão dos primeiros pododáctilos. e) Paciente com 15 anos de idade, com alta estatura, hipogonadismo, ginecomastia e dificuldade no aprendizado escolar. GABARITO 1) B 6) B 11) A 2) D 7) B 3) D 8) B 4) A 9) C 5) B 10) B
Compartilhar