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Avaliação formativa 1 - Antropologia Jurídica

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Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG 
Faculdade de Direito 
Disciplina: Antropologia Jurídica 
Professora: ​Nathalia Lipovetsky e Silva 
Acadêmico: Luiz Phelipe da Silva Maia Carneiro 
 
Avaliação Formativa 1 
Qualquer crítica que vise analisar o “nascimento” da antropologia, deve antes 
de tudo situar o contexto e os propósitos em torno do momento em questão. A 
importância desses detalhes se faz necessário, pois seus desdobramentos são 
consequências dos objetivos e metas estabelecidas pelos estados nacionais 
colonizadores. 
 
O avanço do capitalismo comercial e neocolonialismo europeu, entre o séc. 
XVI e XVIII, exigiu a presença de um estudioso apto a aprender o que um povo tem 
para ensinar a si e à sua comunidade, sendo nomeado como antropólogo o 
responsável por tal pesquisa, profissional este que se dedicaria a antropologia, o 
estudo do homem na sua totalidade. Sendo uma modalidade de estudo 
desenvolvida pelos colônias européias, consequentemente nos séculos seguintes, a 
antropologia foi utilizada a serviço do “velho continente” como um dispositivo de 
dominação e legitimação. 
 
A antropologia cultural e a antropologia social se destacam entre as vertentes 
do campo antropológico, para alguns estudiosos de maneira dissociada, ou como a 
mesma coisa partindo de pontos diferentes, segundo Lévi-Strauss. Indiferente da 
maneira que vamos encarar o estudo antropológico, se faz necessário enfatizar que 
o etnocentrismo e o racismo, faziam parte do universo subjetivo e material dos 
“senhores” das grandes metrópoles, isso acarretou em metodologias de pesquisa e 
estudo que não enxergava as demais sociedades povos como “diferentes”, mas sim 
como “inferiores”. 
 
Quando Heder nos escreve: 
“Homens de todas as regiões do globo que haveis perecido ao longo das 
épocas, não vivestes apenas para adubar a terra com vossas cinzas, para que ao 
final dos tempos a cultura europeia derramasse felicidade sobre vossa posteridade. 
A própria ideia de uma cultura europeia superior é um insulto flagrante à majestade 
da Natureza.” 
 
Sua crítica se remete ao processo de dominação europeu sobre os diversos 
povos da América, África e da Ásia, que foram escravizados, massacrados e 
assassinados em prol de um projeto político de supremacia racial patriarcal 
econômica e cultural. Ele evoca o sofrimento do povos ao nos falar sobre os 
períodos de perecimento, aos frutos colhidos pela dominação quando se remete ao 
processo de adubação por meio das cinzas, para que hoje a cultura europeia se 
intitule superior após séculos de dominação de povos, que até hoje sofrem 
consequências diretas de tal processo. Sua crítica finaliza com o protesto de que a 
suposta “superioridade cultural europeia” é um insulto à diversidade cultural das 
demais nações. 
 
Herder ocupou um local importante na história da literatura alemã, por ser um 
crítico da estética clássica e da imitação dos antigos, sendo assim seus escritos 
desempenharam um papel notável ao confrontar o pensamento supremacista 
europeu. Sua crítica ao termo ​Cultur ​atinge a antropologia de maneira direta, pois tal 
palavra se remete ao propósito inicial desse campo de estudo, logo toda crítica a 
concepção de cultura e sua aplicação, passa necessariamente por uma crítica a 
antropologia. 
 
A escritora nigeriana ​Chimamanda Ngozi Adichie, em uma palestra sobre o 
seu livro, “O perigo de uma história única”, nos fala sobre a nossa vulnerabilidade 
perante uma narrativa de uma história única. A antropologia pela perspectiva 
europeia se enquadra nesse contexto perigoso de uma história única, em que 
costumes, tradições e hábitos são narrados e descritos sobre uma ótica racista e 
etnocêntrica. Nações dos quatro cantos da Terra sofreram por séculos nas mãos 
dos colonizadores, portanto todo estudo feito sobre esta ótica supremacista não 
consegue narrar ou descrever a riqueza cultural dos povos, e toda aplicação da 
palavra ​Cultur ​segundo Herder, compôs um projeto político de dominação que 
buscou comparar e inferiorizar sociedades para a ascensão do velho continente.