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Raquel Bauer Tarefa 1


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Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro – Departamento de Letras
Tópicos e Estudos em Literatura II – Turma LET 1878
Aluna: Raquel Bauer Gomes da Silva Mat: 1620986 Prof: Júlio Diniz
Proposta de Atividade 1
A primeira curiosidade que achei interessante na entrevista foi a busca pelas origens de Clarice, primeiro pelo seu nome e depois sua nacionalidade. Isso faz me levou diretamente ao vídeo da palestra de Noemi Jaffe, que justifica a questão do estranhamento. 
Clarice era uma estranha desde pequena, quando inventava histórias e depois na adolescência, que se definiu como caótica, intensa e fora da realidade e quando adulta, assume um papel quase triplo: a dona de casa amorosa, a escritora genial e a não-escritora. Clarice nunca quis assumir esse papel de escritora justamente para libertar a escritora que havia em si, pois escrevia quando tinha vontade em períodos de liberdade e hiatos “em que a vida fica intolerável”. Além disso, assumia que seu lado maternal era mais fácil, pois a criança era mais fácil de lidar que os adultos, já que a fantasia ainda as fascinava e o adulto é triste e solitário.
Outro aspecto da Clarice escritora é justamente esta solidão em que se colocava, já que o escritor não tem o papel de alterar a realidade, mas de desabrochar as coisas. Por isso, o rótulo de escritora não a pertencia, pois entendia que as coisas simples eram recebidas de forma complicadas e ela mesma era uma pessoa simples, que não enfeitava as coisas. 
Na entrevista de Paulo Gurgel Filho, temos a ideia desse lado da Clarice mulher, que trocava cartas com os amigos, que despertou o lado maternal ao escrever livros para o filho e que tinha uma ideia estranha também da existência de Deus. Além das amizades próximas e do tratamento maternal também com os bichos de estimação, seu filho chama a atenção para uma crônica em especial, Banho de Mar, em que uma epifania (cheiro do mar) a desperta. Isso é muito presente nos textos de Clarice. Outro apontamento que Gurgel faz é como a escritora se popularizou ao longo dos anos, já que o texto de Clarice geralmente escreve em forma de parábola, de maneira quase bíblica, onde não há tempo nem trama. Logo, essa popularização de Clarice é explicada porque suas frases isoladamente contém um sentido. Além disso, começar a escrever crônicas pra jornal auxiliou a disseminar sua popularidade.
Pode-se também justificar toda a questão do início da entrevista e a intenção do fascínio e da epifania na crônica Banho de Mar na questão do estranhamento, que no uso popular do vocábulo, é repulsivo, porém essa repulsão não deve ser obrigatoriamente negativa. 
Em A Legião Estrangeira, fica muito claro a estranheza de quem tem atitudes de não pertencimento, de quem é estrangeiro. Essa pessoa que não pertence a um grupo ou se considera estranho a todo lugar. Assim Clarice se via, uma eterna estrangeira em todo lugar. Isso também gerava o fascínio e era justamente esse fascínio que é envolvente e singular e lança um olhar de espanto. Clarice tinha essa capacidade de ver o mundo através desse olhar infantil, como se estivesse vendo algo pela primeira vez, o olhar de fora, o espanto. 
No conto “O Mineirinho”, ela transcende e descreve esse espanto ao narrar a cena de um assaltante que levou treze tiros. O seu espanto se faz na quantidade das balas e narra bala a bala o espanto com a violência que presencia. Platão descrevia isso como o maravilhamento que se origina a arte, já que ao se maravilhar com algo e transpor esse maravilhamento na arte. Essa visão infantil e de espanto, já que quando nos tornamos adultos, o que é espantoso não nos espanta mais – fazendo uma alusão à Carone. Podemos fazer isso até mesmo a tempos atuais, onde deixamos de nos espantar e nosso olhar não possui mais o fascínio infantil. 
Na arte, a escritora relaciona que o inacabado é que interessa a arte, já que é o que está em transformação e Clarisse atribui a essa transformação a uma epifania, que a partir de James Joyce, deixa de ser uma revelação grandiosa para ser um acontecimento marcado sem importância aparente, de maneira individual, assim como Proust e a madeleine e Clarice em seu conto O Ovo e a Galinha. 
Considero que Clarice era uma escritora que escrevia sem pensar, sem um planejamento, era como não-saber escrever, ultrapassando uma área do conhecimento, como se essa pessoa escritora fizesse seu ofício através desse olhar infantil, mas de forma irracional, sem o conhecimento das outras Clarices. Uma maneira voluntária, epifânica, uma forma de transmitir suas mensagens, mas de uma maneira incomum. De maneira estranha, como era Clarice e sua literatura.