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1 INOVAÇÕES NO VAREJO BRASILEIRO: O CASO MAGAZINE LUIZA Arthur Rocha Vidigal Polyana Rocha Benfeita Projeto de Graduação apresentado ao curso de Engenharia de Produção da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro de Produção. Orientadores: Roberto Ivo da Rocha Lima Filho Klitia Valeska Bicalho de Sá Rio de Janeiro 2019 i Vidigal, Arthur Rocha Benfeita, Polyana Rocha Inovações no varejo brasileiro: o caso Magazine Luiza/ Vidigal, Arthur Rocha; Benfeita, Polyana Rocha – Rio de Janeiro: UFRJ/Escola Politécnica, 2019. XV, 95 p.: il.; 29,7 cm. Orientadores: Roberto Ivo da Rocha Lima Filho Klitia Valeska Bicalho de Sá Projeto de Graduação – UFRJ/ POLI/ Curso de Engenharia de Produção, 2019. Referências Bibliográficas: p. 87-89. 1. Magazine Luiza; 2.Valuation; 3.Estratégia. I. Lima Filho, Roberto Ivo da Rocha; Bicalho de Sá, Klítia Bicalho. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, Curso de Engenharia de Produção. III. Inovações no varejo brasileiro: o caso Magazine Luiza. ii “Nossa maior fraqueza está em desistir. O caminho mais certo de vencer é tentar mais uma vez.” (EDISON, THOMAS) iii AGRADECIMENTOS Eu, Arthur Rocha Vidigal, agradeço a Deus que me proporcionou a oportunidade de cursar Engenharia de Produção em uma das melhores escolas do Brasil. Agradeço aos meus pais que estiveram comigo em todos os momentos fazendo o possível e o impossível para que eu pudesse chegar onde cheguei. Agradeço ao meu irmão, meu primeiro amigo, que está comigo desde sempre. Agradeço ao meu amor, Polyana, e parceira em todos os trabalhos realizados durante esta graduação pela paciência, carinho e perseverança – com você esses 5 anos se tornaram muito mais fáceis e prazerosos. Obrigado também aos familiares que sempre estiveram por perto e sempre deram todo o apoio – avós, tios e primos. Aos amigos de dentro e de fora da universidade agradeço pela presença e pelo caminho que trilhamos juntos. Eu, Polyana Rocha Benfeita, agradeço em primeiro lugar aos meus pais que sempre acreditaram em mim e me deram todo suporte e apoio para que eu pudesse realizar os meus sonhos, não importa aonde estivessem, perto ou longe. Sem a educação que eles me deram, não me tornaria o que sou hoje. Agradeço às minhas amigas, que tive o prazer de conhecer, pelos momentos vividos dentro e fora da sala de aula, tornando os cinco anos que passei na Ilha do Fundão muito mais agradáveis. Em especial, gostaria de agradecer à minha dupla de trabalho e namorado, Arthur Rocha, pelo companheirismo, carinho, ajudas, conselhos e, principalmente, paciência não só durante esse projeto final como também durante todos os nossos anos juntos. Com ele, as horas de trabalho se tornaram bem mais divertidas e leves. Aproveito para estender meus agradecimentos à sua família pelo acolhimento e jantares oferecidos durantes os dias de trabalho. Em conjunto, agradecemos aos nossos orientadores Klitia Bicalho e Roberto Ivo, pela grande ajuda dada na elaboração deste trabalho. Todos os comentários e sugestões de vocês foram valiosíssimos e nem todos os agradecimentos do mundo poderiam transmitir o quanto somos gratos. Dedicamos este trabalho também a vocês. iv Aos professores agradeço por todas as perguntas respondidas, por todos os conhecimentos transmitidos, por toda a atenção disponibilizada e pela força de vontade de vocês. Professor não é profissão, é vocação. Nosso muitíssimo obrigado. Finalmente, agradecemos à UFRJ. Instituição gigante que nos proporcionou uma nova visão de mundo, contato com pessoas muito diferentes que foram extremamente enriquecedores e que nos fizeram crescer como seres humanos. Orgulho de pertencer à maior e orgulho da maior ser uma Universidade Pública. v Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/UFRJ como parte dos requisitos necessários para obtenção do grau de Engenheiro de Produção Inovações no varejo brasileiro: o caso Magazine Luiza Arthur Rocha Vidigal e Polyana Rocha Benfeita Dezembro/2019 Orientadores: Klitia Valeska Bicalho de Sá e Roberto Ivo da Rocha Lima Filho Curso: Engenharia de Produção O presente trabalho busca compreender como as mudanças no cenário econômico e tecnológico vem impactando também a concorrência no mercado varejista através de um estudo de caso da organização que podemos chamar de principal player do varejo brasileiro, a Magazine Luiza. Para tanto, foi preciso analisar as principais variáveis que caracterizam o contexto econômico do país, o comportamento dos consumidores, que tem se tornado cada vez mais exigente, além do advento das novas tendências tecnológicas, como o omnichannel, m-commerce e marketplace. Estas análises atreladas a compreensão da dinâmica competitiva no setor proporcionam uma perspectiva pela qual se pode compreender o porquê do crescimento da Magazine Luiza nos últimos anos. Não são todas empresas que conseguem acompanhar esse cenário dinâmico. Finalmente, realizou- se uma análise do posicionamento estratégico da organização e o cálculo do valor da empresa, podendo concluir que a Magazine Luiza parece estar bem posicionada e tomando as decisões que proporcionarão à organização resultados cada vez melhores. Palavras chaves: Magazine Luiza; Valuation; estratégia. vi Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of the requirements for the degree of Industrial Engineer. Innovations in brazilian reatail industry: Magazine Luiza’s case Arthur Rocha Vidigal e Polyana Rocha Benfeita Dezembro/2019 Advisors: Klitia Valeska Bicalho de Sá e Roberto Ivo da Rocha Lima Filho Course: Industrial Engineering This paper seeks to understand how changes in the economic and technological scenario have also impacted competition in the retail market through a case study of the organization that nowadays is the main player of Brazilian retail, Magazine Luiza. Therefore, it was necessary to analyze the main variables that characterize the country's economic context, consumer behavior, which has become increasingly demanding, and the advent of new technological trends, such as omnichannel, m-commerce and marketplace. These analyzes linked to the understanding of the competitive dynamics in the sector provide a perspective by which one can understand why Magazine Luiza is growing so much in recent years. Not all companies can keep up with this dynamic scenario. Finally, an analysis of the strategic positioning of the organization and the calculation of the company's value was performed. It can be concluded that Magazine Luiza seems to be well positioned and making the decisions that will provide the organization with better and better results. Key words: Magazine Luiza; Valuation; strategy. vii LISTA DE SIGLAS B Coeficiente Beta BRICS Bloco composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul BOPS Buy Online and Pick-up at the Store BP Balanço Patrimonial CAGR Compound Annual Growth Rate CaPex Capital Expenditure CAPM Capital Asset Pricing Model CD Centro de Distribuição CEO Chief Executive Office CMV Custo de Mercadoria Vendida CNPJ Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica CPF Cadastro de Pessoa Física D Dívida Depr Depreciação DFC Discounted Cash Flow DRE Demonstrativo de Resultado do Exercício E Equity EBIT Earnings Before Interests and Taxes ETC Eticetera FC Fluxo de Caixa g Crescimento na Perpetuidade g&a% Despesas Gerais e Administrativascomo percentual da Receita GMD Gasto Médio Diário IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística viii I.BR Inflação Brasileira ICF Intenção de Consumo das Famílias IPCA Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo I.US Inflação Americana JIT Just in Time Kd Custo da Dívida Ke Custo do Equity MBPS Megabits MGLU3 Ação da Magazine Luiza NCG Necessidade de Capital de Giro PCP Planejamento e Controle da Produção P&D Pesquisa e Desenvolvimento PIB Produto Interno Bruto PMC Pesquisa Mensal de Comércio Rf Retorno de Título Livre de Risco Rm Retorno do Mercado ROE Return Over Equity ROIC Return Over Invested Capital s% Despesas de Vendas como percentual da Receita S.A Sociedade Anônima SBVC Sociedade Brasileira de Varejo e Comércio T Imposto de Renda TV Televisão VPL Valor Presente Líquido WACC Weighted Average Cost of Capital ix ÍNDICE DE FIGURAS FIGURA 1: LOJA MAGAZINE LUIZA, 1957 ............................................................................................................ 20 FIGURA 2: ORGANOGRAMA MAGAZINE LUIZA ...................................................................................................... 22 FIGURA 3: PARTICIPAÇÃO NO PIB A PREÇOS CORRENTES ........................................................................................ 24 FIGURA 4: EVOLUÇÃO DO CONSUMO DAS FAMÍLIAS ............................................................................................... 25 FIGURA 5: CRESCIMENTO DO PIB REAL ............................................................................................................... 25 FIGURA 6: EVOLUÇÃO DA TAXA DE INFLAÇÃO BRASILEIRA........................................................................................ 26 FIGURA 7: EVOLUÇÃO DA TAXA SELIC .................................................................................................................. 27 FIGURA 8: EVOLUÇÃO DA TAXA DE DESEMPREGO .................................................................................................. 28 FIGURA 9: EVOLUÇÃO DA INTENÇÃO DE CONSUMO DAS FAMÍLIAS ............................................................................ 28 FIGURA 10: CRESCIMENTO DO E-COMMERCE NO MUNDO ....................................................................................... 29 FIGURA 11: CRESCIMENTO DO E-COMMERCE NO BRASIL ......................................................................................... 31 FIGURA 12: CRESCIMENTO EM NÚMEROS DE PEDIDOS NO M-COMMERCE ................................................................... 32 FIGURA 13: RELEVÂNCIA DE TER FRETE GRÁTIS ...................................................................................................... 34 FIGURA 14: PERCENTUAL DE PEDIDOS COM RECLAMAÇÃO DE FRETE .......................................................................... 35 FIGURA 15: ANÁLISE DE MARKET SHARE ............................................................................................................. 40 FIGURA 16: RETORNO SOBRE PATRIMÔNIO LÍQUIDO .............................................................................................. 41 FIGURA 17: RETORNO SOBRE PATRIMÔNIO LÍQUIDO HISTÓRICO (5 ANOS) .................................................................. 42 FIGURA 18: NÚMERO DE LOJAS POR ESTADO ........................................................................................................ 49 FIGURA 19: PRESENÇA GEOGRÁFICA DA MAGAZINE LUIZA NOS ESTADOS BRASILEIROS .................................................. 49 FIGURA 20: PENETRAÇÃO DA MAGAZINE LUIZA POR CLUSTER .................................................................................. 51 FIGURA 21: VARIAÇÃO DA AÇÃO MGLU3 E VARIAÇÃO DO ÍNDICE IBOVESPA .............................................................. 55 FIGURA 22: EVOLUÇÃO DA TAXA SELIC ................................................................................................................ 57 FIGURA 23:CICLO OPERACIONAL E CICLO FINANCEIRO ............................................................................................ 60 FIGURA 24: EVOLUÇÃO DE DIAS DE CLIENTES ....................................................................................................... 61 FIGURA 25: EVOLUÇÃO DE DIAS DE ESTOQUE ....................................................................................................... 62 FIGURA 26: EVOLUÇÃO DE DIAS DE FORNECEDORES .............................................................................................. 63 FIGURA 27: INVESTIMENTOS DA MAGAZINE LUIZA EM 2018 ................................................................................... 65 FIGURA 28: PROJEÇÃO DO INVESTIMENTO EM TECNOLOGIA E P&D (EM R$MM)........................................................ 69 FIGURA 29: PROJEÇÃO DO INVESTIMENTO EM LOGÍSTICA (EM R$MM) .................................................................... 70 FIGURA 30: PROJEÇÃO DE OUTROS INVESTIMENTOS (EM R$MM) ............................................................................ 71 FIGURA 31: CRESCIMENTO DE VENDAS ONLINE...................................................................................................... 72 FIGURA 32: CRESCIMENTO DE VENDAS VIA MARKETPLACE ....................................................................................... 73 FIGURA 33: PROJEÇÃO DE RECEITA DE VENDAS ONLINE – CENÁRIO OTIMISTA .............................................................. 74 FIGURA 34: PROJEÇÃO DE RECEITA DE VENDAS ONLINE – CENÁRIO MODERADO ........................................................... 75 FIGURA 35: PROJEÇÃO DE RECEITA DE VENDAS ONLINE – CENÁRIO PESSIMISTA ............................................................ 76 FIGURA 36: RECEITA DE VENDAS LOJAS FÍSICAS ...................................................................................................... 77 FIGURA 37: EVOLUÇÃO DA MARGEM BRUTA ........................................................................................................ 78 FIGURA 38: EVOLUÇÃO DAS MARGENS BRUTAS .................................................................................................... 79 FIGURA 39: EVOLUÇÃO DO S% .......................................................................................................................... 80 FIGURA 40: EVOLUÇÃO DO G&A% ..................................................................................................................... 81 FIGURA 41: EVOLUÇÃO DA EQUIVALÊNCIA PATRIMONIAL ....................................................................................... 82 x ÍNDICE DE TABELAS TABELA 1: COMPARAÇÃO ENTRE MÉTODOS DE VALUATION ..................................................................................... 18 TABELA 2: PONTOS DE RUPTURA CRIADOS PELO OMNICHANNEL ................................................................................ 38 TABELA 3: ANÁLISE DE DUPONT DO RETORNO SOBRE PATRIMÔNIO LÍQUIDA DA MAGAZINE LUIZA ................................. 42 TABELA 4: ANÁLISE DE DUPONT DO RETORNO SOBRE PATRIMÔNIO LÍQUIDA DA VIA VAREJO ......................................... 43 TABELA 5:ANÁLISE DE DUPONT DO RETORNO SOBRE PATRIMÔNIO LÍQUIDA DA B2W DIGITAL ...................................... 44 TABELA 6: CLUSTERIZAÇÃO DOS MUNICÍPIOS BRASILEIROS ....................................................................................... 50 TABELA 7: RESUMO DA ANÁLISE DE PENETRAÇÃO DA MAGAZINE LUIZA ...................................................................... 50 TABELA 8: QUANTIDADE DE LOJAS POR MUNICÍPIO BRASIL VS. SÃO PAULO (ESTADO) ................................................... 52 TABELA 9: D/E RATIO – EMPRESAS VAREJISTAS MUNDIAIS ..................................................................................... 55 TABELA 10: TAXA DE JUROS BÁSICA DE DIVERSOS PAÍSES .........................................................................................57 TABELA 11: CÁLCULO DA NCG E DA VARIAÇÃO DE CAPITAL DE GIRO ........................................................................ 64 TABELA 12: DISTRIBUIÇÃO DOS INVESTIMENTOS .................................................................................................... 65 TABELA 13: INVESTIMENTOS POR LOJA (EM R$MM): ............................................................................................ 66 TABELA 14: POTENCIAL DE ABERTURA DE NOVAS LOJAS........................................................................................... 67 TABELA 15: POTENCIAL DE ABERTURA DE LOJAS .................................................................................................... 68 TABELA 16: TAXA DE CRESCIMENTO DOS INVESTIMENTOS ........................................................................................ 69 TABELA 17: CÁLCULO DOS FATORES PARA PROJEÇÃO DE RECEITA DE LOJAS FÍSICAS ....................................................... 77 TABELA 18: FLUXO DE CAIXA PROJETADO (R$MM) .............................................................................................. 83 TABELA 19: CAIXA LÍQUIDO ............................................................................................................................... 83 TABELA 20: FLUXO DE CAIXA PROJETADO COM A PERPETUIDADE NO ÚLTIMO ANO ....................................................... 84 TABELA 21: VALOR PRESENTE DO FLUXO DE CAIXA E DA PERPETUIDADE ..................................................................... 84 TABELA 22: EVOLUÇÃO DO MARKETCAP DA MAGAZINE LUIZA (MGLU3)................................................................... 85 xi Sumário 1. Introdução ............................................................... Erro! Indicador não definido. 1.1. Objetivo de estudo ........................................................................................ 13 1.2. Questões Problema ....................................................................................... 13 1.3. Contribuição ................................................................................................. 14 1.4. Limitações ..................................................................................................... 14 1.5. Estrutura do Projeto .................................................................................... 14 2. Metodologia ............................................................. Erro! Indicador não definido. 3. Magazine Luiza ....................................................... Erro! Indicador não definido. 3.1. Histórico ........................................................................................................ 20 3.2. Cultura ........................................................................................................... 23 4. Análise de Ambiente ............................................... Erro! Indicador não definido. 4.1. Cenário Econômico Brasileiro e Varejo ..................................................... 24 4.1.1. Inflação ........................................................................................................ 26 4.1.2. Taxa Selic .................................................................................................... 27 4.1.3. Taxa de Desemprego .................................................................................. 28 4.1.4. Intenção de Consumo ................................................................................. 28 4.2. Evolução do e-commerce e Tendência Tecnológica................................... 29 4.2.1. Crescimento do e-commerce .................................................................. 29 4.2.2. Barreiras .................................................................................................. 33 4.2.3. Tendência tecnológica: Omnichannel ................................................... 35 4.3. Análise de Concorrentes .............................................................................. 38 4.4. Novos Entrantes ............................................................................................ 44 5. Posicionamento Estratégico da empresa .............. Erro! Indicador não definido. 5.1. Tecnologia e Logística .................................................................................. 45 5.2. Localização .................................................................................................... 48 6. Valuation ................................................................. Erro! Indicador não definido. 6.1. Cálculo do WACC ........................................................................................ 53 6.1.1. Beta .......................................................................................................... 53 6.1.2. Custo do Equity ...................................................................................... 56 6.1.3. Custo da Dívida ....................................................................................... 57 6.1.4. WACC ..................................................................................................... 58 6.2. Cálculo da Necessidade de Capital de Giro ............................................... 59 6.2.1. Cálculo do ciclo financeiro ..................................................................... 59 6.2.2. Contas a receber de clientes ................................................................... 60 6.2.3. Estoque .................................................................................................... 61 6.2.4. Pagamento de fornecedores ................................................................... 62 6.2.5. Gasto médio diário ................................................................................. 63 xii 6.2.6. Necessidade de Capital de Giro ............................................................. 64 6.3. Investimento .................................................................................................. 64 6.3.1. Lojas Físicas ............................................................................................ 66 6.3.1.1. Novas Lojas ......................................................................................... 66 6.3.1.2. Lojas Antigas ....................................................................................... 68 6.3.2. Tecnologia e P&D ................................................................................... 68 6.3.3. Logística ................................................................................................... 70 6.3.4. Outros ...................................................................................................... 71 6.4. Projeções de Crescimento ............................................................................ 71 6.4.1. Vendas online .......................................................................................... 71 6.4.2. Canais físicos ........................................................................................... 76 6.5. Projeções de Margens e Percentuais ........................................................... 78 6.5.1. Margem Bruta ........................................................................................ 78 6.5.2. % Despesas com Vendas ........................................................................ 79 6.5.3. % Despesas Gerais e Administrativas .................................................. 80 6.5.4. Outros ...................................................................................................... 81 6.5.4.1. Perda de Liquidação Duvidosa .......................................................... 81 6.5.4.2. Outras Receitas Operacionais Líquidas ........................................... 81 6.5.4.3. Equivalência Patrimonial ...................................................................81 6.6. Projeção do Fluxo de Caixa ......................................................................... 82 6.7. Cálculo da Dívida Líquida ........................................................................... 83 6.8. Resultado ....................................................................................................... 83 7. Análises de Sensibilidade ....................................... Erro! Indicador não definido. 8. Precificação do Ativo .............................................. Erro! Indicador não definido. 9. Conclusão ................................................................ Erro! Indicador não definido. 10. Bibliografia ............................................................................................................ 88 13 1. INTRODUÇÃO 1.1. Objetivo de estudo O objetivo principal do presente trabalho é analisar as oportunidades e riscos para a empresa Magazine Luiza S.A, referida como Magalu, manter ou mesmo ampliar os bons resultados dos últimos anos. O fluxo de caixa futuro da empresa será estimado para determinação do valor da empresa como previsto pela metodologia de fluxo de caixa descontado. Ser capaz de crescer com manutenção de rentabilidade e com o menor uso de capital em ambientes cada vez mais competitivos são desafios constantes para as empresas varejistas e para investidores deste setor que precisam estar constantemente vigilantes pois no varejo pequenos erros podem significar falências de empresas com longos históricos de bons resultados. A criação de valor de uma empresa, segundo Koller, T., Goedhart, M. e Wessels D. (2010), é a base para sua sobrevivência. Ainda segundo os autores, para que uma organização seja capaz de criar valor ela precisa combinar dois componentes fundamentais: Retorno sobre Investimento ou Retorno sobre Capital Investido (Return Over Invested Capital (ROIC)) e Crescimento. Como objetivos relacionados ao objetivo principal temos: (1) avaliar a estratégia da Magalu utilizando para isto conceitos e modelos propostos por Rumelt, R. (2011), Ghemawat, P. (2000) e Hayes, R. (2008) e (2) avaliar como a organização está posicionada para se adequar às tendências tecnológicas emergentes do Varejo. 1.2. Questões Problema Como há três grandes blocos de temas que serão abordados no presente projeto de graduação, as questões problemas seguem a mesma segmentação. Sobre o primeiro bloco, as questões que se busca responder são: - Qual é o valor da Magazine Luiza? - O preço da ação e o Valuation estão em linha? Sobre o segundo bloco: - Quais são as competências centrais da Magazine Luiza? - Como ela está posicionada frente ao ambiente, principalmente no contexto das tendências tecnológicas que emergem no Varejo? Sobre o terceiro bloco: 14 - Quais são as vantagens competitivas da Magazine Luiza frente a outros grandes players do varejo? - Como elas se sustentam ao longo do tempo? 1.3. Contribuição A geração de valor para os acionistas de uma empresa envolve muitas variáveis que são dinâmicas e relacionadas entre si caracterizando uma complexidade que faz com que acadêmicos e gestores busquem nos estudos de casos sobre empresas fontes de inspiração e conhecimento. A importância deste trabalho será contribuir com um estudo de caso, que abordará aspectos financeiros estratégicos, acerca de uma das organizações brasileiras de maior crescimento dos últimos anos visando compreender como ela está posicionada frente ao ambiente de mudanças do varejo brasileiro e mundial. 1.4. Limites O fato da empresa foco e outras empresas do setor citadas serem listada na B3 facilitou a obtenção de informações sobre o histórico de resultados e objetivos estratégicos da empresa foco. Não foram realizadas entrevistas com funcionários ou clientes da Magazine Luiza e outras empresas o que poderia representar uma limitação para o trabalho. No entanto, por ser uma empresa aberta, os funcionários da empresa não poderiam oferecer informações diferentes ou adicionais àquelas já disponíveis publicamente. 1.5. Estrutura do Projeto O presente trabalho contará com a estrutura apresentada a seguir: Inicialmente, será feita uma caracterização da organização, abordando aspectos referentes à cultura, à estrutura da organização e histórico. Logo em seguida serão analisadas as grandes variáveis do cenário econômico tais como juros, inflação, taxa de desemprego e PIB para que se possa compreender qual a tendência para o mercado varejista nos próximos anos. Após a análise do contexto econômico em geral, serão analisadas questões específicas do mercado de varejo online que tem sido responsável pelo grande crescimento de muitos players no setor varejista, inclusive a Magazine Luiza. 15 Posteriormente será realizada uma análise dos players mais relevantes do mercado levando em consideração principalmente aspectos financeiros tais como crescimento e taxas de retorno. A seguir, haverá uma análise acerca do posicionamento estratégico da organização, onde serão abordados aspectos tais como tecnologia e logística, de forma geral, e será realizada também uma análise geográfica da penetração da Magazine Luiza nos municípios brasileiros. Finalmente após análises do cenário econômico, dos principais concorrentes e de fatores internos da organização, será elaborado um Valuation da Magazine Luiza para posterior comparação com o valor de mercado da empresa. 16 2. METODOLOGIA O presente trabalho utiliza a metodologia de Estudo de Caso. Segundo Baxter e Jack (2008), tal metodologia é adequada quando se busca compreender um fenômeno complexo, o que é o caso de avaliar as perspectivas de valor para Magazine Luiza no contexto que a rodeia. Serão abordados aspectos qualitativos, ou seja, questões relacionadas ao cenário brasileiro, aos concorrentes nacionais e internacionais e à evolução da estratégia da organização. Também serão analisados fatores quantitativos como os principais indicadores financeiros da companhia e seus resultados ao longo do tempo. Ainda conforme Baxter e Jack (2008), a metodologia de Estudo de Caso é indicada quando se pretende responder perguntas abertas dos tipos como e por que. Com relação aos blocos de estratégia e concorrência explicitados na seção 1.1, estas são precisamente as questões levantadas. Na mesma linha, Yin (1994) defende que a metodologia de Estudo de Caso é adequada quando se busca compreender um acontecimento complexo – neste caso as perspectivas para a performance da Magazine Luiza – que depende fortemente do contexto que a rodeia. Tellis (1997, p.5) proporciona, a partir de sua revisão bibliográfica, uma abordagem da condução de um estudo de caso que contempla: 1) Desenho e Condução do Caso: A partir do entendimento inicial do contexto e da formulação de questões de pesquisa que guiarão o caso, é estruturada uma abordagem de coleta de dados quantitativa – a partir de demonstrações financeiras e relatórios – e qualitativa – a partir de notícias e outros textos científicos; 2) Análise de Dados: Os dados qualitativos darão insumos para o estudo da estratégia da Magazine Luiza, enquanto os dados quantitativos serão a base para a construção do Valuation; 3) Conclusões do Estudo: Por fim, serão respondidas as questões mais importantes que constam na seção de Questões de Pesquisa – a saber se o Valuation da Magazine Luiza e o preço da ação estão em linha e se a Magalu possui vantagens competitivas sustentáveis. 17 Segundo Koller, T., Goedhart, M. e Wessels D. (2010) para que uma organização crie valor é necessário que ela: (1) cresça e (2) tenha um ROIC alto, relativamente ao seu custo de capital. Indo além, os autores propõem um corolário que diz que qualquer ação que não gera aumento de Fluxode Caixa não cria valor. Ainda segundo eles, para que uma empresa tenha um ROIC expressivo – sempre em relação ao seu custo de capital – é necessário que ela desenvolva vantagens competitivas sustentáveis no longo prazo. No entanto, avaliar se a construção de uma vantagem competitiva se manterá sustentáveis depende de avaliar tendências para o setor e para a performance dos concorrentes visando avaliar se os maiores crescimentos e/ou maiores rentabilidades, e/ou maiores retornos do capital investido da empresa foco são sustentáveis. Não apenas Koller, T., Goedhart, M. e Wessels D. (2010) abordam a relação de ROIC e de vantagens competitivas, mas Ghemawat (2010) cita, em concordância com os primeiros, que para entender estas duas variáveis é fundamental compreender a estrutura de mercado, principalmente as dinâmicas que se dão entre a empresa, seus clientes, seus concorrentes, seus parceiros e seus fornecedores. Ambas as obras citam fatores que sustentam o ROIC, sustentação essa sempre ligada à capacidade de uma organização gerar e manter vantagens competitivas – seja através do ciclo de vida do produto, da capacidade de lançar novos produtos, das competências centrais que a organização possui e outros fatores. Hayes (2008) traz luz para o papel fundamental da estratégia de operações na construção de vantagem competitiva e propõe uma análise das diferentes fontes de diferenciação de operações como bons canais de distribuição etc. Ao avaliar o caso da Magazine Luiza, uma das grandes varejistas mundiais, é impossível deixar de falar de aspectos relacionados à estratégia de operações da organização. 18 Ainda segundo Koller, T., Goedhart, M. e Wessels D. (2010) os principais métodos para a construção do Valuation de uma organização são: (1) Fluxo de Caixa Descontado da Organização, (2) Lucro Econômico Descontado, (3) Valor Presente Ajustado, (4) Fluxo de Caixa do Capital e (5) Fluxo de Caixa do Equity. Cada método possui as seguintes vantagens para aplicação: Tabela 1: Comparação entre métodos de Valuation Fonte: Koller, T., Goedhart, M. e Wessels D. (2010), p.104 O método selecionado para calcular o Valor da Magazine Luiza foi o método do Fluxo de Caixa Descontado da Organização. Este método consiste em: 1) Projetar o Fluxo de Caixa futuro da organização; a. Projetar as principais variáveis do Demonstrativo de Resultado (Receitas, Custo da Mercadoria Vendida (CMV), Despesas de Vendas, Despesas Gerais e Administrativas) e alcançar uma projeção do Lucro Antes das Taxas e Imposto de Renda (Earnings Before Interests and Taxes (EBIT)); b. Projetar os Investimentos e a variação de Capital de Giro futuros; 2) Calcular o Custo Médio Ponderado de Capital (Weighted Average Cost of Capital (WACC)); 3) Calcular o Valor Presente Líquido da organização a partir do Fluxo de Caixa da Empresa projetado descontado da taxa WACC; 19 4) Se o objetivo for não o valor da empresa, mas a parte da empresa dos acionistas é preciso descontar do valor da empresa obtido em 3 o Valor Presente da Dívida Líquida, sabendo que: a. Dívida Líquida = Dívida Bruta - Caixa 20 3. MAGAZINE LUIZA 3.1. Histórico O Magazine Luiza foi fundado pelo casal Pelegrino José Donato e Luiza Trajano Donato quando adquiriram uma pequena loja de presentes, chamada de A Cristaleira, em 1957, em Franca, no interior de São Paulo. A Cristaleira tornou-se Magazine Luiza em um concurso cultural de rádio realizado com os próprios clientes. Durantes as décadas seguintes, a companhia inaugura sua primeira loja de departamentos e vive um período de expansão de seus negócios para outras cidades. Em 1981, com vocação visionária, o Magazine Luiza é uma das primeiras redes a implementar um sistema de computação nas lojas. Em 1991, foi criada a holding LTD para gerenciar os diversos outros negócios da família e, logo depois, Luiza Helena Trajano, sobrinha do casal fundador, assume o comando da rede iniciando uma grande transformação no modelo de gestão. Figura 1: Loja Magazine Luiza, 1957 Fonte: site Magazine Luiza Na década de 90, sob gestão de Luiza Helena, o Magazine Luiza cria o primeiro modelo de comércio eletrônico do mundo, as Lojas Eletrônicas - venda de produtos por meio de terminais multimídia, com vendedores orientando aos clientes, sem necessitar de produtos em exposição ou no estoque -, e surgem as estratégias de marketing mais copiadas do varejo brasileiro, como a Liquidação Fantástica e o Só Amanhã. Em 1999, o site magazineluiza.com é criado. 21 Mais tarde, o Magazine Luiza cria a LuizaCred em parceria com Unibanco, para aumentar a oferta de crédito aos clientes, e a LuizaSeg, empresa de seguros, em parceria com Cardif. Realiza a aquisição das Lojas Líder, Rede Wanel, Lojas Arno, Lojas Base, Kilar, Madol e Lojas Maia, conquistando a expressiva marca de 20 milhões de clientes em suas lojas, passando a estar em 16 Estados do Brasil, e atinge 16,6 mil colaboradores em 2010. No ano seguinte realiza a sua 13ª aquisição, o Baú da Felicidade, junto ao Grupo Silvio Santos. E em 2013, assina o contrato de compra e venda de 100% de capital social da Campos Floridos, detentora do site Época Cosméticos. Cria também a TV Luiza, a Rádio Luiza e o Portal Luiza, veículos de comunicação interna exclusivos para informar os colaboradores da rede, ratificando sua política de transparência e comunicação direta. Em 2006, o Magazine Luiza ganha mais um sócio, o fundo internacional Capital Group, detentor de 12,4% da empresa. Em 2010 a empresa conquista um recorde histórico de crescimento de 30%, enquanto o comércio cresceu 10,3% no país. No ano seguinte, Magazine Luiza abre o capital da empresa, tornando-se uma das oito empresas mais populares na Bolsa de Valores do Brasil. Magazine Luiza já recebeu diversos prêmios como “A Melhor Empresa para a Mulher Trabalhar no Brasil”, “A Melhor Empresa para se Trabalhar no Brasil” por 9 anos consecutivos e “Melhor Empresa na Prática do Falar com seus Colaboradores”. Atualmente, o Magazine Luiza conta com mais de 1000 lojas, doze centros de distribuição e três escritórios, espalhados por 18 Estados brasileiros. Sua estrutura organizacional conta com um Conselho Administrativo, Presidência, Superintendência e 4 principais áreas: Administração e Controle, Finanças, Comercial e Operações, como pode ser visto na Figura 2. A companhia figura entre as maiores varejistas do País, oferecendo produtos para a casa da família brasileira por meio de multicanais. Os principais produtos comercializados pela empresa estão nos setores de telefonia, informática, eletrodomésticos, móveis, eletroeletrônicos, presentes, brinquedos, hobby e lazer. 22 Figura 2: Organograma Magazine Luiza 2019 Fonte: site Magazine Luiza A empresa possui uma iniciativa forte de inovação e tecnologia. Em 2011 traz ao mercado uma iniciativa de social commerce, o Magazine Você, oferecendo a oportunidade de empreendedores criarem sua loja virtual sem a necessidade de grandes investimentos. Inaugurou, em 2013, sua mais tecnológica loja de toda a rede, que conta com um mostruário interativo que possibilita a exposição dos produtos de uma forma completamente inovadora. Em 2014, Magazine Luiza criou o LuizaLabs, um laboratório de Tecnologia e Inovação, dentro do núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento, com o objetivo de criar produtos e serviços com foco no varejo e lança aplicativo oficial para smartphones e tablets. A empresa viabilizou também uma comunicação multicanal com o cliente, criando o Marketing Multicanal, envolvendo cada vez mais as lojas físicas e o site. É nesse momento que a vendedora virtual Lu passa a representar a marca nas redes sociais, TV e tabloides impressos. 23 3.2. Cultura 1) Missão Ser uma empresa competitiva, inovadora e ousada que visa sempre o bem-estar comum.2) Visão Ser o grupo mais inovador do varejo nacional, oferecendo diversas linhas de produtos e serviços para a família brasileira. Estar presente onde, quando e como o cliente desejar, seja em lojas físicas, virtuais ou online. Encantar sempre o cliente com o melhor time do varejo, um atendimento diferenciado e preços competitivos. 3) Valores e Princípios Respeito, Desenvolvimento e Reconhecimento: nós colocamos as pessoas em primeiro lugar. Elas são a força e a vitalidade da nossa organização; Ética: nossas ações e relações são baseadas na verdade, integridade, honestidade, transparência, justiça e bem comum; Simplicidade e Liberdade de Expressão: buscamos a simplicidade nas nossas relações e processos, respeitamos as opiniões de todos e estamos abertos a ouvi-las, independentemente da posição que ocupam na empresa; Inovação e Ousadia: cultivamos o empreendedorismo na busca de fazer diferente, por meio de iniciativas inovadoras e ousadas; Crença: acreditamos em um Ser Supremo, independentemente de religião, bem como nas pessoas, na empresa e no nosso País; Regra de Ouro: faça aos outros o que gostaria que fizessem a você. 24 4. ANÁLISE DE AMBIENTE 4.1. Cenário Econômico Brasileiro e Varejo O setor de atuação da Magazine Luiza é o Varejo, e neste item faremos uma revisão sobre o que é varejo e como se dá a interação desta atividade econômica com o cenário econômico brasileiro, que é o contexto de atuação da Magazine Luiza. Segundo Kotler (2007), um varejista é qualquer organização que venda produtos ou serviços para o consumidor final, independentemente de haver produzido ou não o bem. A Sociedade Brasileira de Varejo e Comércio (SBVC) segue na mesma linha de Kotler e define varejo dizendo que o varejo é toda atividade econômica da venda de um bem ou um serviço para o consumidor final, ou seja, uma transação entre um CNPJ e um CPF. O varejo está presente no dia a dia da grande maioria dos consumidores brasileiros, seja a compra de um alimento realizada no supermercado ou uma roupa comprada em um shopping contribui de forma significativa para a atividade econômica de um país, ou seja, para seu Produto Interno Bruto (PIB) na medida que o consumo representa mais de 60% do PIB como mostrado na figura 3. Figura 3: Participação no PIB a Preços Correntes Fonte: Dados IBGE. Elaboração própria Nas figuras 4 e 5 apresenta-se o efeito causa-consequência que o consumo das famílias representou no comportamento do PIB neste mesmo horizonte temporal. 25 Figura 4: Evolução do Consumo das Famílias Fonte: Dados IBGE e PMC de Julho de 2019. Elaboração própria Figura 5: Crescimento do PIB Real Fonte: Dados IBGE. Elaboração própria Vale citar também que o segundo semestre do ano costuma apresentar um crescimento acelerado por conta do movimento do varejo no natal, então é possível que os resultados do consumo das famílias de 2019, e consequentemente o PIB, venham ainda melhores. Segundo a Pesquisa Mensal de Comércio (PMC) de Julho de 2019, as principais causas que tem contribuído para um aquecimento da atividade do varejo são a redução da inflação e a melhoria nas condições de crédito para pessoas físicas no país. Na pesquisa da SBVC (2019) ainda são levantadas mais duas variáveis que contribuíram com esse avanço da atividade de varejo. Estas variáveis são a taxa de desemprego, que tem caído lentamente, e a intenção de consumo das famílias. 4,80% 3,50% 3,50% 2,30% -3,20% -4,30% 1,00% 1,80% 1,20% 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 1S2019 Consumo das Famílias 26 4.1.1. Inflação Figura 6: Evolução da Taxa de Inflação Brasileira Fonte: Dados IBGE. Elaboração própria A inflação brasileira, após os anos mais conturbados da recessão, está se mantendo dentro da meta estabelecida pelo banco central e mesmo com a retomada tímida do crescimento econômico parece estar contida. Muito se debate atualmente acerca da diferença entre manter uma inflação baixa por causa de falta de consumo e manter a inflação baixa por conta de políticas econômicas eficazes. No contexto atual do Brasil, podemos observar que desde 2017 há uma retomada do crescimento da atividade varejista, que talvez seja uma das mais importantes para entender o efeito do crescimento na taxa de inflação, e do PIB, mantendo a inflação em patamares baixos. De fato, a atividade econômica está aquém do que foi antes da recessão e isto é um dos fatores que contribui para a baixa inflação, entretanto vale reconhecer que não é o único. De qualquer maneira, fato é que uma baixa inflação representa conservação do poder de compra da população, o que é um excelente indicador para a atividade varejista. 27 4.1.2. Taxa Selic Figura 7: Evolução da Taxa Selic Fonte: Dados Banco Central do Brasil. Elaboração própria A evolução da Taxa Selic, a taxa de juros básica da economia brasileira, revela que uma das prioridades do governo é a expansão do crédito com o intuito de fomentar um crescimento da atividade econômica, tentando fazer com que capitais sejam deslocados de poupanças e alocados em atividades de investimento. Além do crédito ao consumidor ficar mais barato, uma vez que as taxas de juros do mercado possuem, em geral, uma correlação perfeita com a Taxa Selic, o crédito também ficará mais baixo para que empresários façam movimentos de expansão, corroborando para um aumento de competitividade na economia, sendo um efeito direto deste cenário mais competitivo a melhora de preços para o consumidor final. É possível concluir, portanto, que as famílias ganham duas vezes com a redução dos juros da economia: tanto no crédito para consumo, quanto na maior oferta de bens por preços mais competitivos. 28 4.1.3. Taxa de Desemprego Figura 8: Evolução da Taxa de Desemprego Fonte: Dados IBGE. Elaboração própria Desde 2016, a Taxa de Desemprego do país é elevada com impacto negativo para o crescimento do país. No entanto, ao observar o gráfico da figura 8, é possível observar uma pequena redução da taxa de desemprego o que representa um bom sinal. O gráfico possui um efeito “dente de serra” com tendência de queda – a Taxa de Desemprego é menor nos 3º e 4º trimestres dado principalmente o aquecimento da atividade econômica puxada pelo aumento do consumo nestas épocas do ano. Com a diminuição da Taxa de Desemprego, a confiança e o consumo das famílias e o PIB tende a aumentar. 4.1.4. Intenção de Consumo Figura 9: Evolução da Intenção de Consumo das Famílias Fonte: Dados Fecomercio. Elaboração própria 29 O índice de Intenção de Consumo das Famílias (ICF) é um indicador calculado pela Fecomercio e que busca sintetizar a propensão de compra futura, em termos de curto e médio prazo, das famílias. Utilizado como uma espécie de previsão de demanda, este índice busca ajudar empresas a se planejarem para atender as necessidades de compras futuras da população. Como é possível observar na figura 9, há uma tendência de crescimento, se considerarmos os últimos dois anos, ainda que aparente ser uma variável sazonal. Isto indica que a atividade do varejo pode continuar aquecendo no curto/ médio prazo. 4.2. Evolução do e-commerce e Tendência Tecnológica 4.2.1. Crescimento do e-commerce O comércio eletrônico, mais conhecido como e-commerce, tem crescido de maneira interrupta nos últimos anos por acompanhar a transformação da sociedade oferecendo principalmente conforto e praticidade ao consumidor. Em 2018, o e- commerce apresentou 24.1% de crescimento no mundo, segundo EBIT/NIELSEN, atingindo cerca de 2.9 trilhões de dólares em vendas. O crescimento discriminado de cada subcontinente pode ser visualizado na figura 10: Figura 10: Crescimento do e-commerce no mundo Fonte: eMarketer | Worldwide Retaile-commerce Sales by Region | 2018 – All categories No mapa é possível perceber que o continente Ásia-Pacífico (30.3%) apresenta o maior crescimento em e-commerce em 2018, além da maior participação em vendas, seguida pela África e Oriente Médio (22.6%) e Central e Leste Europeu (20.6%). Já em 2019, o cenário começa a mudar um pouco, segundo a eMarketer. A tendência é que a 30 América Latina passe a apresentar um crescimento de 21.3%, assim como a África e Oriente Médio, vindo logo após do líder em crescimento, a Ásia-Pacífico (25%), com tendência de crescimento menor que em 2018. Tal panorama pode representar o início de um período de maturação para o subcontinente asiático e pacífico, podendo tornar a América Latina o subcontinente que apresenta o maior crescimento de e-commerce nos próximos anos. Dentre os países da América Latina, o Brasil detém cerca de mais de um terço de todo o crescimento de e-commerce do subcontinente, ou seja, 34%. Logo após encontra- se o México com 28.9% e Argentina com 6.3%. O Brasil apresentou um crescimento de e-commerce de 12% por dois semestres consecutivos, primeiro de 2018 e 2019, além de obter um crescimento de 20% no volume de pedidos via e-commerce neste último. Segundo o 40º Webshoppers da EBIT/NIELSEN, dos consumidores do primeiro semestre de 2019, 5.3 milhões fazem sua primeira compra online, ou seja, são novos consumidores representando cerca de 18.1% do total de consumidores do período. O relatório ainda diz que dentre as regiões do país, o Norte e Sul são destaques de maior crescimento de vendas em e-commerce, apresentando 36% e 29% de crescimento respectivamente, como pode ser visto na figura 11. Por outro lado, a região com maior faturamento é a região Sudeste, com 14.9 bilhões de reais em vendas no primeiro semestre de 2018, confirmando que essa região ainda concentra a maior parte das vendas de e- commerce no Brasil, cerca de 60%, sendo 34% do faturamento do país apenas do estado de São Paulo. 31 Figura 11: Crescimento do e-commerce no Brasil Fonte: EBIT/NIELSEN, 40º Webshoppers A chegada do e-commerce no Brasil se dá na década de 90, um pouco atrasado se compararmos com os mercados mais desenvolvidos do primeiro mundo, como Estados Unidos e Europa. Entre 1995 e 2006, algumas marcas varejistas como Magazine Luiza, Ponto Frio e Lojas Americanas abrem um canal de vendas online se tornando os pioneiros nesse segmento. Com o decorrer dos anos, com o avanço tecnológico e lançamento dos smartphones, o faturamento do e-commerce no Brasil em 2018 alcança a marca dos 50 bilhões de reais, demonstrando uma certa maturidade do mercado brasileiro permitindo um crescimento mais consistente e homogêneo. 32 Além disso, o maior canal de vendas na América Latina é via dispositivo móvel, tornando o m-commerce uma realidade atual no subcontinente. No Brasil, de todos os pedidos do e-commerce, cerca de 42.8% foram realizados pelo m-commerce, que apresentou um crescimento em janeiro de 2019 de cerca de 41%, contra os 12% de crescimento do e-commerce no mesmo período. É possível perceber no gráfico da figura 12 que o número de pedidos via dispositivos móveis no país tem apresentado um crescimento quase que exponencial nos últimos semestres, representando um canal de grande potencial de vendas. Tal crescimento pode ser explicado pela ascensão da classe C nos últimos anos no país, além da disseminação do uso de smartphones. Figura 12: Crescimento em números de pedidos no m-commerce Fonte: EBIT/NIELSEN, 40º Webshoppers Analisando o comportamento do consumidor brasileiro, é possível perceber que ele não está mais limitado a vendas através de apenas um canal, seja apenas físico ou online. Hoje em dia, os canais precisam estar conectados e se retroalimentarem, tornando a jornada do consumidor mais complexa. O cliente quer ser atingido através da divulgação de um produto, vê-lo presencialmente, testá-lo, realizar a compra online, ter a possibilidade de receber sua compra de maneiras diferentes, entre outros caminhos utilizando diversos canais como loja física, desktop e smartphone. Entretanto, apesar de 7 a cada 10 brasileiros possuírem um smartphone, segundo a eMarketer, 41% dos brasileiros afirmam que sua conexão ainda é instável para realizar compras online. Como principais motivadores de compra do público brasileiro temos os sites de busca em primeiro lugar e as redes sociais em seguida. No primeiro semestre de 2019, o Facebook e Instagram se destacam como os maiores destinos dos internautas. Além disso, a rota global do e-commerce tem evoluído constantemente. As categorias de produtos de entretenimento, turismo e bens duráveis ainda são os mais representativos em termos de volume de vendas, porém o consumo online de bens não duráveis tem amadurecido no 33 país. Dentre esses produtos, se destacam moda e acessórios, perfumaria, cosméticos e saúde. Desta forma, com o amadurecimento do consumo de bens não-duráveis no Brasil, a frequência de compras por meio do e-commerce acaba tornando-se maior, configurando-se na categoria de heavy user – aqueles que realizam três ou mais compras dentro de seis meses. Enquanto isso, nos países mais maduros com relação ao e- commerce, o momento do consumo está na categoria de alimentos e bens perecíveis, como a entrega de alimentos frescos. Atrelado a tendência de consumo de bens não duráveis, alimentos e bens perecíveis, o ticket médio vem se tornando cada vez menor, o que acaba mudando a dinâmica do comércio online. Tal decréscimo também tem relação com o canal de compra do consumidor. As compras via dispositivo móvel geralmente possuem um ticket médio menor que as realizadas via desktop, o que acaba representando uma interessante característica do comportamento do consumidor. Dentre os meios de pagamento utilizados pelo consumidor brasileiro, o cartão de crédito é utilizado em 67% dos pedidos no e-commerce, sendo mais da metade realizado à vista, e os boleto bancário em 19% das compras no primeiro semestre de 2019 (EBIT/NIELSEN, 40º Webshoppers). É possível perceber também que em compras à vista, o ticket médio é menor que em compras com parcelamento. 4.2.2. Barreiras Há três principais barreiras para uma penetração ainda maior do comércio virtual no Brasil: a logística, a internet e as necessidades do consumidor. A melhoria destes fatores representa uma oportunidade de crescimento para o e-commerce brasileiro. Estes fatores são imprescindíveis para que compras online aconteçam e sejam frequentes no país. Acrescenta-se a isto a melhoria da distribuição de renda no Brasil que permitirá um aumento mais sustentado do mercado consumidor brasileiro. O Brasil é um país com uma grande extensão territorial sendo considerado o quinto maior país do mundo, com 8.51 milhões de quilômetros quadrados de extensão, além de possuir uma malha logística precária. Os desafios estão no tempo de entrega, preço do frete, segurança para a realização da entrega e até mesmo locais que não têm cobertura por empresas de transporte. O prazo médio de entrega de uma mercadoria chega a ser 14 dias dependendo da região do país, o que representa um número muito elevado se comparado com outros 34 países, como Estados Unidos e China, que possuem o prazo de um dia. Além do prazo médio longo, o preço do frete no país tem um grande impacto na decisão de compra do cliente brasileiro. Atualmente, esse valor pode variar bastante dependendo da localidade. Cerca de 60% dos brasileiros preferem pagar mais barato no frete, mesmo com prazos de entregas maiores, o que torna a possibilidade da presença de frete grátis um fator relevante. Ao analisar os Top 10 players do mercado brasileiro, é possível perceber que, em 2017, a relevância de ter frete grátis como uma opção cresceu cerca de 20% e a partir deste momentotem se mantido constante (EBIT/NIELSEN, 39º Webshoppers). Tal relevância se dá pela maior satisfação do cliente e menor número de reclamações a respeito do frete quando o mesmo é gratuito. Figura 13: Relevância de ter frete grátis Fonte: EBIT/NIELSEN, 39º Webshoppers Na figura 14 é apresentado o percentual de pedidos com reclamações para cada valor de frete. É possível perceber que as reclamações tendem a ocorrer com maior frequência quando o valor do frete é maior. Por exemplo, com o frete grátis, 4.5% dos pedidos recebem reclamações contra 10.6% nos pedidos com frete entre R$100.00 e R$500.00. 35 Figura 14: Percentual de pedidos com reclamação de frete Fonte: EBIT/NIELSEN, 39º Webshoppers Além da barreira logística, a internet é um fator limitando do avanço do e- commerce no Brasil. A velocidade da internet no país é uma das mais lentas do mundo, ocupando a 111ª posição no ranking mundial de 2018, com velocidade média de 4,84 megabits por segundo. Taiwan (26,7 mbps), Singapura (19,1 mbps) e Jersey (18,8 mbps) lideram o ranking (ATLAS AND BOOTS, 2018). No Brasil, apenas 2.9% dos usuários brasileiros possuem internet com velocidade acima de 10 mbps e apenas 17% possuem banda larga no celular, segundo AKAMAI (2016). Por fim, outra barreira é a atual necessidade do consumidor de ser atingido por diversos canais e ter uma experiência completa ao fazer compras. É fácil imaginar que a experiência do consumidor será muito melhor na medida que o online e o offline estiverem conectados e complementares. Em 2018, o brasileiro visitou cerca de 8 canais diferentes para fazer suas compras, segundo a EBIT/NIELSEN, o que mostra um caráter de urgência em relação a evolução tecnológica de integração dos canais de vendas no Brasil, tornando as empresas varejistas em empresas omnichannel. O vendedor que oferecer uma experiência completa do consumidor, desde a sua intenção de comprar até o pós-venda tende a criar vantagens. Toda a jornada do cliente é importante e impacta a relação do mesmo com a marca. O consumidor moderno está cada vez mais preocupado em ter uma experiência simples, prática e rápida. 4.2.3. Tendência tecnológica: omnichannel De acordo com Mirsch, Lehrer e Jung (2016) uma empresa é omnichannel quando não há barreiras para uma jornada fluída dos clientes entre canais, ou seja, todos os canais 36 de vendas da organização são completamente integrados. No próximo parágrafo, é possível ver como seria a jornada omnichannel. Suponha um indivíduo que gostaria de comprar um carro. Ele tem uma ideia de quanto estaria disposto a pagar e das principais características que o atraem no produto. Em um cenário de unicanalidade, esse indivíduo não teria contato com a marca até colocar os pés na loja física, por exemplo, onde (1) receberia informações do vendedor, (2) compararia os modelos a partir do ponto de vista do vendedor, (3) precisaria pensar e/ou levar as informações para casa e tomar a decisão. Na proposta do omnichannel, onde o cliente encontra-se no “centro dos canais”, todas as análises e comparações poderiam ser feitas online no site da marca, por exemplo. Em caso de dúvidas adicionais o cliente poderia abrir uma conversa no chat ou por telefone. Por fim, para realizar a compra, uma vez que já possui todas as informações que precisa, iria à loja física (ou então, o carro poderia até mesmo ser entregue em sua casa – mas ainda é comum ir às concessionárias quando se vai comprar um carro). É importante frisar que conforme o cliente utiliza diferentes canais, a informação que a empresa adquiriu sobre ele durante a “jornada” não é perdida e, inclusive, é utilizada para aumentar a taxa de sucesso da compra, ou seja, a cada vez que o cliente muda de canal não é como se ele fosse “um novo cliente”, porque a empresa já possui um histórico do relacionamento e fez uma boa gestão do conhecimento acerca da informação do cliente. Com este exemplo ilustrativo, é possível compreender como a omnicanalidade tem o potencial para ser um fator importante para a compra na medida que tem o potencial para atender as necessidades modernas do cliente tornando tudo mais prático, simples e rápido. Porém, para ser uma empresa omnichannel é importante se atentar para dois principais fatores: 1) Os processos precisam ser fluidos e sem ruptura ao longo de uma jornada omnichannel; 2) Os sistemas precisam estar integrados para gerar uma customização em massa. A implantação dos sistemas e adoção da tecnologia para se tornar uma empresa omnichannel podem ocorrer de forma rápida, gerando maior impacto financeiro para empresa, ou ser realizado gradativamente de maneira a suavizar este impacto. Ademais, existem 3 principais pontos de ruptura criados pelo omnichannel no gerenciamento das organizações. O primeiro ponto de ruptura está ligado a relação da empresa com seu cliente. Para o cliente, não importa se a compra vai ser toda online, ou se vai começar em uma loja física e terminar online, o foco principal é melhorar o 37 atendimento e usar os canais para agregar valor à compra. O segundo ponto de ruptura está ligado à Teoria das Restrições aplicada à Cadeia de Suprimentos (GOLDRATT, 2011). Por exemplo, uma empresa que é multicanal e possui um e-commerce geralmente fará suas vendas online e pagará (ou cobrará do cliente) um frete desde seu centro de distribuição e até o endereço do cliente. Já uma empresa omnichannel terá uma vantagem considerável, pois através de inteligência no tratamento de seus dados e de seu modelo de negócios, cada uma das lojas pode se tornar um “mini” centro de distribuições, reduzindo consideravelmente valores de frete em termos de quilômetros percorridos por entrega. E, além disso, uma empresa omnichannel pode oferecer ao cliente a opção de retirada em loja fisíca, o que pode acabar reduzindo ainda mais os custos de frete. O questionamento, no entanto, é se o número de entregas, com esse novo modelo de negócios, pode crescer consideravelmente com cada vez mais produtos sendo entregues em casa e, consequentemente, aumento de custos com fretes, se não for repassado ao cliente. O terceiro ponto de ruptura é em relação a estoques envolvendo a lógica JIT (Just in Time), cujo princípio abordado por Corrêa e Corrêa (2013, 2ªed.) de produção sem estoques se torna mais um desafio. Em organizações que vendem produtos altamente customizados e que compram produtos acabados de seus fornecedores - como é o caso de muitas empresas - não ter estoque e ainda tentar atender o cliente com extrema velocidade pode acabar sendo um grande desafio. Dessa maneira, não apenas as previsões de vendas poderão ser melhores como também permitirá o desenvolvimento de estratégias mais colaborativas com fornecedores para atender seus clientes com maior qualidade e eficiência. Classificação Descrição Causa Ponto de Ruptura Relação da empresa com seus clientes Desejo dos clientes por uma experiência entre canais de seja flúida Cadeia de Suprimentos e Logística Necessidade de entregar produtos nas casas dos clientes otimizando custos Gestão de Estoques Trade-off: Velocidade e Confiabilidade no atendimento vs. Estoque Mínimo 38 Tabela 2: Pontos de ruptura criados pelo omnichannel Fonte: Elaboração própria Portanto, uma empresa omnichannel tem o potencial para conseguir conhecer melhor o perfil de consumo de seu cliente e direcionar melhor seus produtos, acabando com as barreiras físicas e aumentando a gama de produtos oferecidos ao cliente com maior rapidez e com menor custo de frete já que a entrega vem de uma loja próxima à casa dele. Além disso, possibilita experiências diferentes como o cliente ir à loja retirar um produto de uma compra feita online (BOPS – Buy Online and Pick-up at the Store), fazendo-o visitar a loja, criar um relacionamento com o vendedor ever produtos novos fisicamente que não tinha visto em outros canais. Todos estes benefícios podem impactar no aumento da receita da empresa, mas tal aumento de receita precisa vir associada a uma operação, eficiente para que a rentabilidade não seja prejudicada. Atrelado ao omnichannel, outras tendências tecnológicas que estão impactando e tendem a impactar mais ainda o modelo de negócio das empresas varejistas é a evolução da Inteligência Artificial e Big Data. A Inteligência Artificial está voltada para modernização de atendimento de loja e de experiência de compra em um primeiro momento sendo uma tecnologia presente no mundo físico e com potencial de estar presente em todas as operações olhando no futuro. Já com o Big Data, é possível captar mais dados dos clientes, ajudando na análise das informações e permitindo um trabalho com dados mais assertivos. 4.3. Análise de Concorrentes McNair (1985) apresenta a teoria do “Ciclo do varejo” as descrever que empresas varejistas, em geral, entram para competir em um mercado com pequenas margens e pequenos preços, contando com uma estrutura enxuta. A fase seguinte seria a fase de maturação, onde esse novo entrante começa a se consolidar no mercado, investir em infraestrutura, novas localizações para pontos de venda e centros de distribuição, e aumentar suas margens e preços. Após atingir a maturidade, as empresas entrariam na fase chamada pelo autor de “Fase da Vulnerabilidade” quando possuem muitos ativos e margens decrescentes, dada a entrada de novos entrantes como ele mesmo fora um dia. No entanto, com os avanços tecnológicos que ocorreram nas últimas décadas novas teorias e novas organizações surgiram. O caso Walmart, por exemplo, um varejista que investiu intensivamente em estrutura logística, diversificação de produtos, pontos de venda e segue competindo por preços. Empresas como a Amazon, a JD.com e a Alibaba, 39 gigantes do varejo que possuem dentre suas competências centrais o desenvolvimento de tecnologia, também competem por preço e estão vencendo a concorrência em diversos mercado por conta da manutenção deste diferencial competitivo muito beneficiado pela escala. Exemplos disto são os casos Amazon vs. ToysRUs e Amazon vs. Borders. De fato, o varejo tem mudado muito nas últimas décadas e com a aplicação intensiva de tecnologia, automação e ganhos de escala, somados a concorrência do setor, tem se tornado cada vez mais difícil para os varejistas aumentarem seus preços para obter melhores margens. A melhora de margens tende a vir de ganhos de eficiência operacional com os benefícios destes ganhos compartilhados com o consumidor. No Brasil a situação não é diferente. O acesso à informação e diferentes possibilidades de lojas para comprar bens faz com que o consumidor seja mais minucioso com o quanto irá pagar para adquirir um bem. Sabendo disso, empresas com a Magazine Luiza buscam ganhar cada vez mais escala em suas operações para poder ganhar a confiança e posteriormente o pedido de compra do cliente final. Mas obviamente que esta dificuldade de aumentar preços representa um risco para os varejistas. O efeito das novas tecnologias do varejo em manutenção ou mesmo redução de preços tem sido inclusive uma das causas levantadas por alguns economistas para a queda da inflação generalizada no mundo. Ainda com o varejo não seja um oligopólio clássico pela alta fragmentação do setor, a formação de grandes players do varejo nos permite caracterizar tais mercados como quase oligopólios na média que os resultados das empresas são muito impactados pelas decisões dos concorrentes. Os dois principais concorrentes da Magazine Luiza no Brasil são a Via Varejo, dona de grandes marcas como Casas Bahia e Ponto Frio, e a B2W digital, pertencente ao grupo Americanas. 40 Figura 15: Análise de Market Share Fonte: Dados DFPs das Empresas. Elaboração própria A figura 15 retrata em seu eixo vertical o Market Share relativo, dado pela relação entre o Market Share de um concorrente e o Market Share do maior player do mercado, que neste caso é a Via Varejo com uma receita líquida de aproximadamente R$ 26,93 milhões. No eixo vertical está a Taxa Composta de Crescimento Anual (CAGR) considerando o desempenho de cada uma das organizações nos últimos 4 anos. As áreas dos círculos representam a receita proporcionalmente entre os concorrentes. É possível observar que o maior player do mercado, a Via Varejo, está com a sua posição de liderança ameaçada pela Magazine Luiza, uma vez que a CAGR desta é cerca de duas vezes maior do que a daquela. No entanto, além de analisar o crescimento dos players do mercado é necessário observar também como está o retorno sobre patrimônio líquido das empresas, lembrando que a combinação entre crescimento e retorno sobre investimento é o que verdadeiramente gera valor no longo prazo Koller, T., Goedhart, M. e Wessels D. (2010). 41 Figura 16: Retorno sobre Patrimônio Líquido Fonte: Dados DFPs das Empresas. Elaboração própria É importante, entretanto, avaliar os retornos por um período de tempo maior, pois investimentos são feitos em momentos diferentes pelas empresas, o que significa que há períodos de maiores e menores investimentos vividos pela empresa, afetando diretamente seu ROE. Vale ainda ressaltar que bons resultados históricos passados não garantem bons resultados históricos futuros (como é o caso da própria Via Varejo até 2014) e que há outros fatores que influenciam e determinam se uma organização será líder, seguidora ou até expulsa de determinado mercado. No entanto, como há uma análise mais ampla do setor discutida no presente trabalho, a análise do ROE pode ser comparada a um tipo de velocidade instantânea, ou seja, dado determinado histórico e o ROE do presente qual das empresas apresenta melhores perspectivas de se sobressair no mercado, com seus respectivos stakeholders. Para dar seguimento com a análise foram analisados os ROEs destes três maiores players do cenário do varejo brasileiro nos últimos 5 anos conforme se observa na figura 17. 42 Figura 17: Retorno sobre Patrimônio Líquido histórico (5 anos) Fonte: Dados DFPs das Empresas. Elaboração própria É possível observar que, exceto 2015, a Magazine Luiza tem apresentado bons resultados. Ao olhar para o ano de 2014 apenas, onde a Via Varejo que possuía uma receita mais de duas vezes maior que a Magazine Luiza também apresentava um ROE elevado que foi corroído nos anos seguintes. A B2W, como é possível observar, apresente resultados negativos de maneira recorrente nos últimos 5 anos. Para uma melhor compreensão do caso de cada empresa, foi elaborada uma decomposição do ROE pelo método de DuPont. É possível observar cada um dos casos nas tabelas a seguir. Tabela 3: Análise de DuPont do Retorno sobre Patrimônio Líquida da Magazine Luiza Fonte: Elaboração própria, baseado nas DFPs da Magazine Luiza Ao analisar a Magazine Luiza à luz da decomposição do ROE proposta por DuPont, percebe-se que em quase todas as dimensões a Magazine Luiza tem melhorado Magazine Luiza ROE e DuPont 2014 2015 2016 2017 2018 Receita Líquida 9.779 8.978 9.509 11.984 15.590 Lucro Líquido 129 -66 87 389 597 Ativo Total 5.251 5.502 6.101 7.420 8.797 Patrimônio Líquido 668 576 622 2.074 2.303 ROE 19,2% -11,4% 13,9% 18,8% 25,9% Margem Líquida 1,3% -0,7% 0,9% 3,2% 3,8% Giro de Ativo 1,86 1,63 1,56 1,62 1,77 Alavancagem 7,86 9,56 9,81 3,58 3,82 ROE DuPont 19,2% -11,4% 13,9% 18,8% 25,9% 43 ao longo do tempo. Considerando os anos analisados há pouca alteração no giro de ativo. No mesmo horizonte, no entanto, houve uma excelente melhora da Margem Líquida que saltou de 1,3% para 3,8%, sendo a grande responsável pelo aumento do ROE. Com destaque para o aumento de margem de 2017 para 2018, houve um aumento de 30% na Receita Líquida, mantendo umaestrutura de custos semelhante, o que fez com que a margem subisse tanto. Este aumento da receita se deve a pelo menos 3 fatores que serão discutidos nas seções seguintes deste trabalho: (1) Abertura de novas lojas; (2) Crescimento do e-commerce 1P; (3) Crescimento do marketplace. A alavancagem diminuiu no período, o que impactou negativamente o ROE, mas também trouxe outras melhorias como a redução dos riscos atrelados ao negócio. Nos anos de 2014 a 2016, por exemplo, é possível observar que o ROE foi altamente influenciado pela grande alavancagem (entre 7 e 10) o que de certa maneira sinaliza um certo risco para os stakeholders. Tabela 4: Análise de DuPont do Retorno sobre Patrimônio Líquida da Via Varejo Fonte: Elaboração própria, baseado nas DFPs da Via Varejo A Via Varejo parece estar andando, de certa forma, na contramão da Magazine Luiza. A partir de 2014 houve uma corrosão da margem líquida e um grande aumento na alavancagem da organização. Apesar do giro se manter mais ou menos estável, estas outras duas variáveis são fundamentais para a construção de uma empresa com retornos saudáveis. Indo mais a fundo para compreender os resultados ora baixos e ora negativos da Via Varejo a partir de 2015, notou-se que o crescimento do endividamento fez com que os resultados financeiros ficassem cada vez mais negativos, correndo o baixo lucro existente. Via Varejo ROE e DuPont 2014 2015 2016 2017 2018 Receita Líquida 22.674 19.268 19.819 25.641 26.928 Lucro Líquido 871 14 -95 168 -245 Ativo Total 10.717 10.671 10.708 12.204 13.544 Patrimônio Líquido 4.293 4.246 2.808 2.773 2.523 ROE 20,3% 0,3% -3,4% 6,1% -9,7% Margem Líquida 3,8% 0,1% -0,5% 0,7% -0,9% Giro de Ativo 2,12 1,81 1,85 2,10 1,99 Alavancagem 2,50 2,51 3,81 4,40 5,37 ROE DuPont 20,3% 0,3% -3,4% 6,1% -9,7% 44 Tabela 5:Análise de DuPont do Retorno sobre Patrimônio Líquida da B2W Digital Fonte: Elaboração própria, baseado nas DFPs da B2W Digital O caso da B2W talvez seja um pouco diferente das outras duas, pois há uma mudança brusca de modelo de negócios em curso. A B2W nos últimos anos foi reduzindo suas vendas no e-commerce 1P e aumentando suas vendas 3P (marketplace). A vantagem desta mudança é a redução dos dias de estoque, já que o estoque fica por conta dos vendedores que participam do marketplace. Além disso, organizações 3P também possuem maiores margens (como é o caso da Amazon), uma vez que cobram um percentual sobre a venda. Neste caso, praticamente não há um Custo de Mercadoria Vendida, pois o que ocorre é a prestação de um serviço – conectar vendedor e comprador. Isto inclusive explica o porquê de o preço da ação estar subindo nos últimos anos mesmo com a empresa performando com prejuízos após prejuízos. Dado esse cenário e observando a tese defendida por Koller, T., Goedhart, M. e Wessels D. (2010), é possível concluir que a Magazine Luiza está criando mais valor que seus concorrentes, tanto a Via Varejo quanto a B2W. Este cenário é favorável para a Magazine Luiza que passa a ter como principal foco manter o crescimento, uma vez que tem obtido bons retornos sobre patrimônio líquido com um modelo de negócios que vem se mostrando ganhador. No entanto, vale ressaltar que os desafios para as empresas varejistas são permanentes, já que o mercado possui alta concorrência e baixas barreiras de entrada de forma geral. 4.4. Novos Entrantes Como o recorte de análise é exclusivamente o Brasil, os concorrentes diretos analisados foram grandes empresas do mercado brasileiro. A partir daí, pode-se B2W Digital ROE e DuPont 2014 2015 2016 2017 2018 Receita Líquida 7.963 9.014 8.601 7.121 6.488 Lucro Líquido -163 -418 -486 -411 -397 Ativo Total 7.635 9.948 10.241 12.623 13.031 Patrimônio Líquido 3.079 2.706 3.077 3.905 3.537 ROE -5,3% -15,4% -15,8% -10,5% -11,2% Margem Líquida -2,0% -4,6% -5,7% -5,8% -6,1% Giro de Ativo 1,04 0,91 0,84 0,56 0,50 Alavancagem 2,48 3,68 3,33 3,23 3,68 ROE DuPont -5,3% -15,4% -15,8% -10,5% -11,2% 45 considerar como novos entrantes empresas como Amazon e Alibaba que ainda possuem uma presença pequena no país. Para a Alibaba, uma das principais dificuldades é a realização de entregas rápidas. Segundo a reportagem do site terra, o prazo médio de entrega da empresa para clientes brasileiros gira em torno de um mês. Como pontos positivos estão a expertise na compreensão do consumidor brasileiro e os preços extremamente baixos, chegando a fazer sentido para o consumidor brasileiro pagar o preço do produto importado e as taxas de importação, e ainda assim sair ganhando em comparação com a compra em algum varejista interno. Isto pode ser explicado por 48,1% dos consumidores brasileiros considerarem preço baixo como determinante para a realização de uma compra. A Amazon está presente a mais tempo no Brasil, mas em 2016 ainda possuía um MarketShare pequeno (aproximadamente 0,5%) conforme observado pelo InsperTeam no CFA Institute Research Challenge de 2017. O que pode explicar esta baixa penetração no mercado brasileiro é o mix de produtos reduzido em comparação com o mix oferecido em outros países como Estados Unidos, por exemplo. O Brasil possui uma oferta de serviços de entrega, de forma geral, precária se comparada com outros países. Além disso ser uma barreira de entrada por si só, o fato de a Magazine Luiza ter desenvolvido a Malha Luiza e contar com mais de 1.000 pontos físicos que segundo eles funcionam como minicentros de distribuição dificulta ainda mais a tarefa de novos entrantes. Atualmente, a Magazine Luiza consegue entregar a maior parte de seus produtos em cerca de 48 horas segundo o Relatório MGLUDAY (2018), o que se comparado com um mês de prazo dos novos entrantes chineses é um enorme diferencial competitivo. 5. POSICIONAMENTO ESTRATÉGICO DA EMPRESA 5.1. Tecnologia e Logística A atual estratégia da Magazine Luiza é transformação digital. Nas palavras da Companhia: “Nosso objetivo é transformar o Magazine Luiza, passando de uma empresa de varejo tradicional com uma forte plataforma digital, para uma empresa digital, com pontos físicos e calor humano”. Para sustentar essa estratégia, a empresa se sustenta com 5 principais pilares: i. Inclusão Digital: o principal objetivo com esse pilar é trazer ao acesso de muitos o que é privilégio de poucos, por meio de produtos 46 conectados. A baixa penetração desses produtos de tecnologia no mercado oferece uma oportunidade para se tornarem referência e os vendedores da Magazine Luiza são os principais atores dessa mudança oferecendo orientações aos clientes. ii. Digitalização das lojas físicas: implementação dos projetos do Mobile Vendas, Mobile Montador e Mobile Estoquista com o objetivo de ganhar produtividade dentro das lojas e revolucionar a experiência do cliente perpetuando a importância do contato físico. - Mobile Vendas: lojas foram habilitadas e treinadas para efetuarem vendas utilizando smartphones, e foi disponibilizado acesso gratuito à internet sem fio, proporcionando uma experiência de compra mais rápida e amigável para os clientes. - Mobile Montador: rotas de montagem de móveis ficaram mais rápidas e ferramenta também elimina atividades administrativas nas centrais de montagem, que podem focar cada vez mais na excelência do atendimento ao cliente. - Mobile Estoquista: projeto que visa aumento de produtividade e ganho de eficiência do funcionário permitindo melhorar a jornada de compra do cliente, reduzindo o tempo de espera dentro das lojas para retirar seu produto comprado. iii. Transformar o site em uma plataforma digital: vender produtos de outros varejistas, distribuidores ou até mesmo de canais de venda direta de indústrias no modelo marketplace. Essa estratégia permite o aumento do mix de produtos. iv. Cultura Digital: valorizou velocidade, inovação e pessoas em primeiro lugar, incentivando
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