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Indaial – 2020 Ensino da LitEratura VisuaL Prof.ª Ana Regina e Souza Campello 1a Edição Copyright © UNIASSELVI 2020 Elaboração: Prof.ª Ana Regina e Souza Campello Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: C193e Campello, Ana Regina e Souza Ensino da literatura visual. / Ana Regina e Souza Campello. – Indaial: UNIASSELVI, 2020. 172 p.; il. ISBN 978-65-5663-066-3 1. Literatura surda. – Brasil. 2. Literatura visual. – Brasil. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 370 aprEsEntação Acadêmico! Seja bem-vindo ao Livro Didático de Ensino da Litera- tura Visual. Durante seus estudos observará que seguimos uma abordagem dialógica com produções e autores Surdos e ouvintes no que se refere à iden- tificação de obras e autores acerca da literatura visual/surda. A literatura surda tem uma tradição diferente da literatura da comuni- dade ouvinte, que culturalmente transmitem suas histórias oral e escrita. Já a literatura visual/surda se manifesta nas histórias contadas em sinais e aos pou- cos foi inserindo-se a cultura escrita na Língua Portuguesa e no sistema SW. Na Unidade 1, serão estudadas as modalidades das línguas de sinais e orais por meio de produções de textos em língua de sinais e orais. Serão contextualizados os conceitos da Literatura Surda e a Literatura Visual quan- do relacionado a comunidade Surda. Além disso, conheceremos o que alguns estudiosos consideram os primeiros registros literários brasileiros que se tem história, de autores Surdos e ouvintes aqui no Brasil, bem como algumas particularidades dos artefatos culturais como parte essencial da literatura visual/surda. Outrossim, na Unidade 1 a figura do profissional tradutor/ator Surdo aparece no cenário e na elaboração dos materiais literários visuais. Na Unidade 2, apresentaremos aspectos relevantes em relação literatura vi- sual e sua historicidade acerca de produções literárias visuais na modalidade escrita na Língua Portuguesa. Versaremos sobre as diversas formas de se traduzir a litera- tura visual/surda como era anteriormente face a face com suas piadas, metáforas entre outros e posteriormente com o uso da tecnologia. Também serão discutidas a literatura visual/surda em espaços não formais frequentados pela Comunidade Surda, como Ensino de Jovens e Adultos, Bibliotecas, museus entre outros. Finalizaremos com a Unidade 3, a qual tem o objetivo de catalogar e reunir um acervo de textos literários que são contados nas comunidades surdas entre os surdos, e entre os ouvintes participantes dessa comunidade, trazendo o conceito e metodologia para o ensino da literatura visual/surda e seu letramen- to, o que envolve a produção de materiais em escrita de sinais também. Será ex- planado as produções visuais literárias na educação básica para alunos surdos e ouvintes, enfatizando a importância da disciplina de língua portuguesa como apoio para produção e promoção da literatura visual/surda. Articularemos a formação do docente, abordando brevemente as ementas dos cursos de licencia- turas consideradas significativas na promoção da Literatura visual/surda como: Pedagogia, Bacharelado em Letras/Libras e Pedagogia bilíngue. Bons estudos! Prof.ª Ana Regina e Souza Campello Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novi- dades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagra- mação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilida- de de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assun- to em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complemen- tares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! LEMBRETE sumário UNIDADE 1 —ENSINO DA LITERATURA VISUAL .................................................................... 1 TÓPICO 1 —PRODUÇÕES DE TEXTOS EM LÍNGUA DE SINAIS E ORAIS ......................... 3 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 3 2 MODALIDADES: LÍNGUA DE SINAIS E ORAL ........................................................................ 4 2.1 A LÍNGUA DE SINAIS – VISÃO HISTÓRICA .......................................................................... 5 2.2 A LÍNGUA PORTUGUESA – CONTEXTO HISTÓRICO ......................................................... 7 3 PRODUÇÃO TEXTUAL DA LÍNGUA ORAL ............................................................................... 9 4 PRODUÇÃO TEXTUAL DA LÍNGUA DE SINAIS .................................................................... 11 5 MODELO DE METODOLOGIA DE ENSINO DE LIBRAS COMO L1 PARA PRODUÇÃO TEXTUAL/VISUAL ................................................................................ 12 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 17 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 18 TÓPICO 2 —LITERATURA VISUAL COMO ARTEFATO CULTURAL .................................. 19 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 19 2 BREVE CONCEITO DA LITERATURA SURDA ....................................................................... 19 3 LITERATURA VISUAL .................................................................................................................... 21 3.1 REGISTROS LITERÁRIOS DA COMUNIDADE SURDA BRASILEIRA – PARTICULARIDADES ................................................................................................................. 23 4 CARACTERÍSTICA DOS AUTORES LITERÁRIOS DA LITERATURA VISUAL .............. 27 5 PRODUÇÃO DE MATERIAIS COMO ARTEFATO DA LITERATURA VISUAL ............... 29 5.1 DICIONÁRIOS .............................................................................................................................. 34 5.2 LIVROS ESCRITOS POR AUTORES SURDOS E OUVINTES ............................................... 34 5.3 POESIAS ESCRITAS PELAS PESSOAS SURDAS EM LÍNGUA PORTUGUESA ............... 35 RESUMO DO TÓPICO 2.....................................................................................................................37 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 38 TÓPICO 3 —PRODUÇÕES LITERÁRIAS EM LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA – LSB ...................................................................................................... 39 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 39 2 TRADUTOR/ATOR E A LITERATURA VISUAL ....................................................................... 39 3 ELABORAÇÃO DE MATERIAIS LITERÁRIOS VISUAIS ....................................................... 42 4 PRODUÇÕES LITERÁRIAS .......................................................................................................... 47 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 50 RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 55 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 57 UNIDADE 2 —CONHECENDO A LITERATURA VISUALITERÁRIA ................................... 59 TÓPICO 1 —LITERATURA VISUALITERÁRIA E SUAS CARACTERISTICAS ................... 61 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 61 2 HISTORICIDADE DE PRODUÇÃO LITERÁRIA VISUAL – CONTRIBUIÇÕES NA MODALIDADE ESCRITA ................................................................... 61 3 PRODUÇÃO LITERÁRIA EM LÍNGUA DE SINAIS – REPRESENTIVIDADE SURDA ..................................................................................................... 67 3.1 FACE A FACE ................................................................................................................................ 70 3.2 PIADAS .......................................................................................................................................... 72 3.3 COMÉDIA STAND UP ................................................................................................................ 73 3.4 METÁFORAS ................................................................................................................................ 73 4 UMA REFLEXÃO DE GÊNEROS TEXTUAIS E SUAS FUNÇÕES NA COMUNIDADE SURDA .......................................................................................................... 75 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 76 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 77 TÓPICO 2 — LITERATURA VISUAL/SURDA NA ERA DIGITAL .......................................... 79 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 79 2 COMUNIDADE SURDA E A ERA DIGITAL ............................................................................. 79 3 PRODUÇÕES VISUALITERÁRIA NA ERA DIGITAL ............................................................. 81 3.1 PRODUÇÃO EM VÍDEOS ........................................................................................................... 81 3.2 PRODUÇÕES DO INES .............................................................................................................. 83 3.3 PRODUÇÕES - POESIAS EM LIBRAS ...................................................................................... 85 3.4 PRODUÇÕES – MANIFESTAÇÕES ARTÍSTICAS .................................................................. 85 3.5 AS PRODUÇÕES COM UMA LINGUAGEM ESTÉTICA PARA SURDOS ........................ 85 3.6 TV LIBRAS ..................................................................................................................................... 86 3.7 TV INES .......................................................................................................................................... 87 4 LITERATURA VISUAL EM ESCRITA DE SINAIS – CONTRIBUIÇÃO DIGITAL ............ 89 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 93 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 94 TÓPICO 3 — PRODUÇÕES LITERÁRIAS PRODUZIDAS PELOS AUTORES SURDOS EM LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA - LSB ................................... 95 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 95 2 HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL NO BRASIL.................................................. 95 3 COMUNIDADE SURDA E OS ESPAÇOS NÃO FORMAIS NA PROMOÇÃO DA LITERATURA VISUAL ............................................................................................................ 97 3.1 A ASSOCIAÇÃO DOS SURDOS ............................................................................................... 98 3.2 CENTRO DE CIÊNCIAS .............................................................................................................. 98 3.3 EJA – ENSINO DE JOVENS E ADULTOS................................................................................. 99 3.4 BIBLIOTECAS ............................................................................................................................. 100 3.5 MUSEUS ....................................................................................................................................... 101 3.6 PLANETÁRIO ............................................................................................................................. 103 3.7 JARDIM BOTÂNICO ................................................................................................................. 104 3.8 ESPAÇOS MUSICAIS ................................................................................................................. 104 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 108 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 111 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 112 UNIDADE 3 —LETRAMENTO ATRAVÉS DA LITERATURA VISUAL................................ 113 TÓPICO 1 —LITERATURA VISUAL NO LETRAMENTO ....................................................... 115 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 115 2 CONCEITO DE LETRAMENTO ......................................................................................................... 115 3 CONCEITO DE LETRAMENTO VISUAL ................................................................................. 117 4 METODOLOGIA DO LETRAMENTO VISUAL ...................................................................... 121 5 LETRAMENTO VISUAL EM ESCRITA DE SINAIS ............................................................... 124 RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 127 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 128 TÓPICO 2 — LITERATURA VISUAL NO ENSINO FUNDAMENTAL ................................. 129 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................129 2 PRODUÇÃO VISUALITERÁRIA NO ENSINO FUNDAMENTAL – SÉRIES INICIAIS ............................................................................................................................ 129 2.1 PRODUÇÕES LITERÁRIA NO 1° ANO ................................................................................. 132 2.2 PRODUÇÕES LITERÁRIA NO 2º ANO .................................................................................. 133 2.3 PRODUÇÕES LITERÁRIA NO 3° ANO ................................................................................. 135 2.4 PRODUÇÕES LITERÁRIA NO 4° ANO ................................................................................. 135 2.5 PRODUÇÕES LITERÁRIA NO 5° ANO ................................................................................. 136 3 A DISCIPLINA DE LÍNGUA PORTUGUESA COMO APOIO ............................................. 137 4 A LITERATURA VISUAL E O REGISTRO EM VÍDEOS ...................................................... 137 5 ENSINO DA LITERATURA VISUAL SOB O OLHAR DA ASL ........................................... 139 RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 143 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 144 TÓPICO 3 — LITERATURA VISUAL NA FORMAÇÃO DOS PROFESSORES .................. 145 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 145 2 CONCEITO DA FORMAÇÃO DE PROFESSORES ................................................................. 145 2.1 LICENCIATURA EM LETRAS / LÍNGUA PORTUGUESA ................................................. 147 2.2. PEDAGOGIA .............................................................................................................................. 148 2.3 LICENCIATURA E BACHARELADO EM LETRAS/LIBRAS .............................................. 149 2.4 PEDAGOGIA BILÍNGUE .......................................................................................................... 150 3 DILEMA LINGUÍSTICO NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES ......................................... 151 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 155 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 158 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 160 1 UNIDADE 1 — ENSINO DA LITERATURA VISUAL OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • conhecer as produções de textos em Língua de Sinais e Orais; • entender a literatura visual como artefato cultural; • caracterizar as diferentes produções literárias produzidos pelos autores Surdos; • analisar as diversas produções de vídeos em Língua de Sinais Brasileira (LSB). Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – PRODUÇÕES DE TEXTOS EM LÍNGUA DE SINAIS E ORAIS TÓPICO 2 – LITERATURA VISUAL COMO ARTEFATO CULTURAL TÓPICO 3 – PRODUÇÕES LITERÁRIAS EM LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA (LSB) Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 3 TÓPICO 1 — UNIDADE 1 PRODUÇÕES DE TEXTOS EM LÍNGUA DE SINAIS E ORAIS 1 INTRODUÇÃO A literatura é um dos meios mais antigos de comunicação entre as culturas. Ela é capaz de transmitir emoções e elementos culturais às gerações posteriores, de contar e recontar histórias e narrativas consideradas importantes para manter viva a cultura daquele povo ou comunidade. Etimologicamente, como bem destaca Marisa Lajolo “a forma latina literatura nasce de outra palavra igualmente latina: littera, que significa letra, isto é, sinal gráfico que representa, por escrito, os sons da linguagem” (LAJOLO, 1986, p. 29). Assim, a literatura envolve a arte de escrever e de ocupar-se com as palavras. Neste viés, a literatura perpassa por vários contextos em diferentes épocas, em todo o mundo, e com várias influências da sociedade. Compagnon (2009) traz o conceito da época do romantismo, “A literatura, instrumento de justiça e de tolerância, e a leitura, experiência de autonomia, contribuem para a liberdade e para a responsabilidade do indivíduo” (COMPAGNON 2009, p. 34). Aqui no Brasil, a nossa literatura teve grande influência na época do cristianismo. Passado muitas décadas, a palavra literatura sempre nos remete letras e palavras. Porém a literatura não necessariamente envolve só as letras e palavras escritas. Assim, o conceito de literatura não se esgota pois se constrói através das diversas linguagens. Com respeito à literatura e à cultura surda, mesmo que entre a comunidade surda, o acesso ao mundo literário não seja tão amplo quanto o é na cultura ouvinte, as crianças, jovens e adultos Surdos também podem ter o mesmo conhecimento literário, por muitas modalidades, leitura visual por imagens, ou contadas em sua língua materna (L1) pelo sistema gestual visual, por meio do sistema de escrita de sinais (SW) ou mesmo pela modalidade de escrita na Língua Portuguesa (L2). Neste tópico, vamos abordar produções textuais em duas modalidades distintas: a modalidade oral auditiva, que é baseada na ação de ouvir e de falar; e a modalidade visual, que se restringe no viso-gestual, cuja visualidade e uso das mãos são utilizados para se comunicar. Iremos demonstrar que apesar das duas diferenças de modalidades, isso não impede de conhecermos as suas estratégias, metodologias e procedimentos da produção textual em língua de sinais e língua oral. UNIDADE 1 —ENSINO DA LITERATURA VISUAL 4 2 MODALIDADES: LÍNGUA DE SINAIS E ORAL A comunicação é uma característica inerente a todos os seres humanos, seja ela verbal ou não, a comunicação é importante para viver em sociedade, com- partilhar experiências, interagir com diferentes línguas e culturas, além de poder manifestar diversos sentimentos. Em geral, para aprender a se comunicar em língua de sinais ou oral, é preciso começar através de educação informal no contexto familiar e social, e posteriormente, para aprimorar tanto uma língua como a outra, faz-se necessário uma instrução for- mal/escolar. Isso quer dizer que irão passar por um processo de alfabetização, ter o conhecimento das regras gramaticais, com uso de atividades de leitura e uso da escrita. No caso do aluno surdo o acesso a uma educação formal bilíngue, ou seja, o aprendizado em Libras e língua portuguesa concomitantemente potencializará o seu ensino-aprendizado na escrita e leitura das duas línguas. Destacamos aqui o uso da prosódia que é a parte gramatical nas línguas orais e que caracteriza a entonações das vozes durante a fala. Nas línguas de sinais essas entonações se apresentam pelo uso das expressões faciais e corporais. Cada expressão facial e corporal denuncia a sutileza da comunica- ção dos surdos, como quando um surdo movimenta a cabeça de um lado para outro, dependendo do contexto, pode significar: desdém, agonia e/ou raiva. Sentimentos de alegria logo são percebidos pelo olhar, movimentos nos ombros e tronco. São carac- terísticas linguísticas nas quais presenciamos a prosódia em língua de sinais. A língua de sinais, ou sinalizada, de modalidade viso-gestual, são capazes de expor pensamentos, ideias, opiniões e descrever meticulosamente os contextos igualmente às línguas orais auditivas. Toda sua visualidade se dá principalmente pelo uso das mãos dos seus usuários ao se comunicar. A língua oral ou falada é baseada na modalidade oral-auditiva,as comuni- dades falantes/ ouvintes, podem se comunicar por meio da escrita e, principalmente, por meio da fala, mas também se utilizam de expressões corporais e faciais, quando não precisam ou não querem verbalizar. Por meio da fala, grupos e comunidades ouvintes podem expor os pensamentos, ideias, opiniões e trocar informações. Agora, brevemente contextualizaremos características históricas da lín- gua brasileira de sinais — Libras – e a língua portuguesa, com o objetivo e enten- dermos a produção de materiais de literatura visual/surda aqui no Brasil. TÓPICO 1 —PRODUÇÕES DE TEXTOS EM LÍNGUA DE SINAIS E ORAIS 5 2.1 A LÍNGUA DE SINAIS – VISÃO HISTÓRICA A língua de sinais é uma língua utilizada pela comunidade surda ou “povo Surdo” e possui estrutura gramatical, assim como outras línguas oficiais. A língua de sinais utilizada no Brasil teve sua origem na França, quando chegou aqui no Brasil mesclou-se com a língua dos Surdos que participavam e estudavam no Instituto Imperial dos Surdos Mudos (fundado em 1855), no Rio de Janeiro. Aqui, no Brasil, nossa língua de sinais é chamada de Língua Brasileira de Si- nais (Libras), reconhecida como língua da comunidade surda pela Lei 10.436/2002 e o seu Decreto 5.626/2005 que determina a formação de professores de Libras, bem como dá diretrizes para formação de Intérprete e Tradutores em Libras. Apesar de seu reconhecimento oficial, ressaltamos que ainda é uma língua em situação de risco, que carece de documentação linguística. Assim, Quadros e Silva (2017) destacam a importância da preservação da Língua Brasileira de Si- nais e sua promoção por meio da criação do Inventário Nacional da Língua de Sinais Brasileira (LSB). Quadros e Silva (2017, p. 143) deixam claro a importância dessas ações quando dizem que “permitirá não apenas às comunidades usuárias dessas línguas, mas a toda população do país, reconhecer o valor e a riqueza de suas particularidades linguísticas e das perspectivas culturais nelas imbuídas”. O Inventário Nacional da Língua Brasileira de Sinais (Libras), é um projeto executado pela parceria entre o Instituto de Investigação e Desenvolvimento em Política Linguística (IPOL) e a UFSC, em convênio com o Instituto do Patrimônio Histórico E Artístico (IPHAN/MinC). Disponível em: https://bit.ly/3hMLlEu. NOTA A língua de sinais do Brasil, Libras, como conhecemos, foi trazida pelo primeiro professor e Diretor do, hoje, Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES), em 1855. Ele trouxe da França várias disciplinas que eram ensinadas na língua de sinais francesa e, aos poucos, essas disciplinas foram se misturando com a língua de sinais utilizados pelos alunos Surdos do Instituto. Conforme nos informa o INES: Essa proposta continha as disciplinas de Língua Portuguesa, Aritmética, Geografia, História do Brasil, Escrituração Mercantil, Linguagem Arti- culada, Doutrina Cristã e Leitura sobre os Lábios. [...] A língua de sinais praticada pelos surdos no Instituto – de forte influência francesa, em fun- ção da nacionalidade de Huet – foi espalhada por todo Brasil pelos alu- nos que regressavam aos seus Estados ao término do curso. Nas décadas UNIDADE 1 —ENSINO DA LITERATURA VISUAL 6 FIGURA 1 – PROF. HUET E A ICONOGRAFIA DE SINAIS DOS SURDOS-MUDOS FONTE: a) Oliveira (2014, p. 10); b) <https://bit.ly/3jRcLLl>. Acesso em: 20 nov. 2019. iniciais do século XX, o Instituto oferecia, além da instrução literária, o ensino profissionalizante. A conclusão dos estudos estava condicionada à aprendizagem de um ofício. Os alunos frequentavam, de acordo com suas aptidões, oficinas de sapataria, alfaiataria, gráfica, marcenaria e ar- tes plásticas. As oficinas de bordado eram oferecidas às meninas que fre- quentavam a instituição em regime de externato (BRASIL, 2016, p. 4-5). Observamos que o INES, aqui no Brasil, caminhou junto à mesma didática educacional que existia na França para os surdos na época. Além disso, o objetivo do INES era e ainda é não somente dar uma educação formal, mas profissionalizar os surdos para terem oportunidades iguais do ouvinte no mercado de trabalho. Dessa forma, os dialetos da língua francesa de sinais foram mesclados, com a língua de sinais falada aqui no Brasil e criou-se o primeiro dicionário chamado de Icono- grafia de Surdos Mudos, produzido pelo “repetidor” Flausino de Gama, ex-aluno do INES. Fique atento, no próximo tópico aprofundaremos nossos estudos na obra Iconografia de Surdos Mudos, de Flausino de Gama. ESTUDOS FU TUROS a) b) TÓPICO 1 —PRODUÇÕES DE TEXTOS EM LÍNGUA DE SINAIS E ORAIS 7 Nesse sentido, a criação do curso de Letras Libras licenciatura e bacharelado vem fomentar estudos, pesquisas, coletas, reflexões e discussões sobre a historicida- de das línguas de sinais, contribuindo significativamente para o reconhecimento e a valorização da língua, bem como da cultura e das identidades surdas, evitando assim a sua “zona de risco”, ou seja, a não preservação das línguas de sinais aqui no Brasil. Apesar da Língua de Sinais ser uma língua gestual visual, não quer dizer que todas as modalidades visuais existentes, como as gravuras, em geral, os si- nais gráficos fazem parte das línguas de sinais. Dessa forma, a língua de sinais se difere dos símbolos pictográficos e das línguas orais-auditivas de muitas formas, com as descritas a seguir: • tem sua gramática própria; • te realizam pelo canal visual: uso dos “olhos” em vez da audição; • utilização do espaço por expressões faciais e até movimentos gestuais percep- tíveis pela visão. É um legitimo sistema linguístico estudado pelos linguistas de todo o mun- do, atende eficazmente às necessidades de comunicação entre os indivíduos surdos e ouvintes usuários. Conforme Campello (2008, p. 22) “eles são Surdos sinalizantes e visuais, e culturalmente os sinais e as suas imagens estão sempre incorporados, vinculados, traduzidos pelos corpos, expressões faciais e pelas mãos”. FIGURA 2 – LEGITIMIDADE DA LIBRAS FONTE: <https://blog.cancaonova.com/maosqueevangelizam/files/2009/09/imagem.jpg?fi- le=2009/09/imagem.jpg>. Acesso em: 20 nov. 2019. 2.2 A LÍNGUA PORTUGUESA – CONTEXTO HISTÓRICO A língua portuguesa, originária de Portugal, trouxe sua estrutura grama- tical que foi mesclada com a língua dos índios que moravam no Brasil e dos ne- gros que vieram trabalhar aqui como escravos. A língua portuguesa foi uma lín- gua proclamada como única língua do Brasil pelo Marquês de Pombal, em 1758, com o objetivo de não mais usarem a língua indígena: tupi, e, também, devido à religião que dominava na época imperial. UNIDADE 1 —ENSINO DA LITERATURA VISUAL 8 Você sabe quantas línguas tem aqui no Brasil? Saiba a resposta acessando o link: http://ipol.org.br/tag/linguas-do-brasil/. DICAS Iremos, agora, discorrer sobre nossos estudos em produções textuais em LS e na modalidade escrita. Antes, faz-se necessário relembrar os conceitos do que é comunicação, linguagem, língua, leitura e literatura, veja: • “Língua: sistema de signos orais que permitem a comunicação entre mem- bros de uma comunidade” (CEGALLA, 2005, p. 541). • “Linguagem: faculdade que o ser humano tem de associar uma imagem acús- tica de um som vocal a um conceito e de utilizar o resultado para exterioriza- ção do pensamento e interação social” (CEGALLA, 2005, p. 541). • “Comunicação: transmissão de informação” (CEGALLA, 2005, p. 219). • “Leitura: arte de ler” (CEGALLA, 2005, p. 535). A trajetória da língua portuguesa é sempre bem destacada no ensino de cur- sos de Letras. Segundo Anísio Teixeira (1989 apud FIALHO; FIDELIS, 2008), a trajetó- ria da língua portuguesa aqui no Brasil é grandemente influenciada pela classe inte- lectual da época que vinha da Europa, e da comunidade jesuíta, conforme a seguir: O Brasil nasceu assim sob a influência de uma classe intelectual que trazia consigo, além da paixão pelas Letras e saber da época, o prestí- gio do poder e da influência. Embora o país não tivesse formalmente uma universidade, para todos osefeitos ela existiu com os colégios dos padres jesuítas e os estudos menores das Letras Humanas (gramática, retórica, poesia), Latim, Grego e Hebraico, com predominância do La- tim como língua da cultura intelectual, estudos que se continuavam na Universidade de Coimbra. Até o começo do Século XIX, a Univer- sidade do Brasil foi a Universidade de Coimbra onde iam estudar os brasileiros, depois dos cursos no Brasil. Nessa universidade, gradu- aram-se, nos primeiros três séculos, mais de 2.500 nascidos no Brasil (TEIXEIRA, 1989 apud FIALHO; FIDELIS, 2008, s.p.). Assim, semelhante à nossa língua portuguesa — que foi trazida de outro pais, no caso Portugal e suas influencias — a nossa língua brasileira de sinais tam- bém se originou da língua de sinais francesa, que, inicialmente, incorporou os si- nais brasileiros e, hoje, com orgulho, temos a Língua Brasileira de Sinais — Libras. Após brevemente contextualizarmos a historicidade das origens envol- vendo as modalidades das línguas orais e sinalizadas, abordaremos como cada língua, dentro de sua modalidade, se comporta ao produzir seus textos. TÓPICO 1 —PRODUÇÕES DE TEXTOS EM LÍNGUA DE SINAIS E ORAIS 9 3 PRODUÇÃO TEXTUAL DA LÍNGUA ORAL As línguas cientificamente reconhecidas, trazem, consigo, a importância da alfabetização, para os usuários daquela língua, é o princípio para que as comu- nidades inseridas nessa linguagem adquiram o gosto por escrever e ler. O MEC, nos Parâmetros Curriculares Nacionais e a Língua Portuguesa (BRASIL, 2011), norteia especificidades da relação com a escrita e leitura e a Língua Portuguesa: Conhecimento atualmente disponível a respeito do processo de leitura indica que não se deve ensinar a ler por meio de práticas centradas na decodificação. Ao contrário, é preciso oferecer aos alunos inúmeras opor- tunidades de aprenderem a ler usando os procedimentos que os bons lei- tores utilizam. É preciso que antecipem, que façam inferências a partir do contexto ou do conhecimento que possuem, que verifiquem suas suposi- ções — tanto em relação à escrita; propriamente, quanto ao significado. Partindo dessa premissa da história da ação de ler, “Saber ler e escrever, já entre os gregos e romanos, significava possuir as bases de uma educação adequada para a vida” (MARTINS, 1994, p. 22 apud TAFAREL, 2017, s.p.). Historicamente, esta educação não visava apenas o desenvolvimento de ha- bilidades intelectuais e espirituais, mas também aptidões para que o cidadão se inte- grasse efetivamente na sociedade. Entendemos aqui a importância da leitura e escrita por meio de produção textual para qualquer comunidade linguística. Neste contex- to, trazemos Antunes (2003, p. 41) com uma concepção interacionista da linguagem, quando diz que, “as línguas só existem para promover a interação entre as pessoas”. Seguindo essa visão interacionista, podemos dizer que a escrita é a união da interação dos sujeitos ao se produzir um texto. Segundo Koch (2002, p. 17), “o texto passa a ser considerado o próprio lugar da interação e os interlocutores, como sujeitos ativos que — dialogicamente — nele se constroem e são construí- dos [...]”. Destacamos que, há diversas formas de realização de um texto, ou seja, dependendo da situação comunicativa entre os sujeitos, o texto pode passar de uma pequena mensagem a uma redação por exemplo. No contexto, educacional “cabe ao professor, portanto, criar condições para que os alunos possam apropriar-se de características discursivas e linguísti- cas de gêneros diversos, em situação de comunicação real” (LOPES-ROSSI, 2005, p. 80-81). Assim, notamos que a partir da linguagem e da reunião de característi- cas gramaticais importantes, podemos fazer uma ligação coesiva entre elas, e, por • “Literatura: arte de compor ou escrever trabalhos em prova ou verso com o objetivo de atingir a sensibilidade ou emoção do leitor ou do ouvinte” (CE- GALLA, 2005, p. 543). Assim, compreendermos os conceitos das nomenclaturas envolvidas na produção textual das línguas orais e de sinais significa mergulharmos com mais propriedade nos estudos à frente. UNIDADE 1 —ENSINO DA LITERATURA VISUAL 10 Acompanhem um exemplo de metodologia de ensino na língua portuguesa para incentivar a produção textual e adquirir o conhecimento da escrita e suas regras gramaticais. Disponível em: https://bit.ly/2EtLsqn. DICAS fim, produzir um texto. Você já tinha parado para pensar em todo esse processo quando produz um texto? Então, conheça mais sobre a importância da produção textual a fim de produzir literatura. Vilarinho (2020), nos traz algumas orientações para se produzir um bom texto, ao dizer que é preciso iniciar com um tema de acordo com o interesse dos alunos, cha- mando atenção para as características do tipo de texto, personagens, o tempo e o espaço e também da importância da conclusão, o qual é o momento em que o acontecimento da história é apresentado. Para isso, o professor precisa preparar no seu plano de aula: • primeira aula: trazer os recortes de jornal do tema; • segunda aula: pesquisar o tema na biblioteca ou nos computadores para que leiam; • o professor precisa dar dicas das referências bibliográficas nas quais os alunos vão pesquisar; • o professor pode ainda ler alguma história de um recorte de jornal ou pedir para que um dos alunos conte a história, e depois pendurar no mural da sala uma lista com os elementos da história para que os alunos não se esqueçam do que aprenderam. Ela continua, depois que os alunos estiverem familiarizados com a temática su- gerida, estarão prontos para produzir uma história coletiva. Como sugestão, o professor pode pedir que os alunos narrem a história enquanto vai escrevendo. Alguns dão suges- tões de personagens, outros de tempo, de espaço, dos acontecimentos e assim por diante. Após a conclusão do texto, o professor faz a correção ortogramatical com todos os alunos. Primeiramente é feita a leitura da produção textual e, depois, começa a revisão coletiva. Durante a revisão, o professor vai visualizando o que pode ser mudado, por exemplo: quando há muitas repetições de verbos, nomes de personagens ou de reprodução de expressões orais (“aí ela”, “daí ele”), o professor pode pergun- tar a turma o que pode ser colocado no lugar. Se há muita repetição do nome João, coloca-se “ele” no local; verbos iguais coloca-se um sinônimo; as expressões orais poderão ser substituídas por “então”, “logo” etc. TÓPICO 1 —PRODUÇÕES DE TEXTOS EM LÍNGUA DE SINAIS E ORAIS 11 Associado a esta análise de texto, se explica o uso dos pronomes, a impor- tância de conhecer mais verbos, o uso dos conectivos textuais para maior clareza etc. Após a correção, o professor pode repassar as alterações para seus alunos. Acadêmico, trouxemos essa síntese metodológica em didática na língua portuguesa, como um exemplo, para o professor de alunos no caso (ouvinte), pode instigar seus alunos a sentir a necessidade de produzir seus próprios textos, após a explicação teórica e prática. Fique à vontade para escolher a metodologia que mais se adequa ao seu contexto. Acesse o PDF do livro: Leitura e produção de texto, do professor Tarcísio José Pereira. Com orientações de produção textual na língua portuguesa. Disponível em: https:// bit.ly/3g8B6Kh. DICAS 4 PRODUÇÃO TEXTUAL DA LÍNGUA DE SINAIS Na língua de sinais, a produção textual ocorre de acordo com a particularida- de que as pessoas surdas carregam em si. Já sabemos que é bem comum pessoas sur- das que são filhos de pais ouvintes não adquirirem a língua de sinais como sua língua materna. O que pode causar um atraso no contato com a língua de sinais, afetando o processo cognitivo, emocional e raciocínio das pessoas Surdas na fase escolar. Agora, quando a aquisição da Língua de Sinais como L1 acontece desde a infância, é muito comum ver as experiências lúdicas, a espontaneidade na criação textual das próprias pessoas surdas presentes nas Associações de Surdos, nos esportes promovidos pelas FederaçõesDesportivas, ou nos pátios das escolas e estes apresentam uma determinada estrutura que se gerou culturalmente e está representada através de narrativas surdas. Portanto, as práticas sócio-discursivas entre os surdos despertam a cria- ção textual em Libras, refletindo diferentes níveis de expressões diferente por estarem em ambientes diferentes. Perceba que estamos nos referindo à produção textual não escrita e sim visual. Assim, o Surdo que quer ingressar no mundo acadêmico letrado, precisa estar atento, pois quanto mais ele dominar sua língua nativa com experiências visuais mais preparado para usufruir e compartilhar co- nhecimentos acadêmicos ele estará. Porém, a aquisição da língua escrita como (L2), continua tendo sua importância para o Surdo. UNIDADE 1 —ENSINO DA LITERATURA VISUAL 12 FIGURA 3 – MODELO DO PROFESSOR BILÍNGUE FONTE: <https://bit.ly/2P5KOkN>. Acesso em: 20 nov. 2019. Para fazermos uma produção textual/visual coerente em língua de sinais, é importante conhecermos e entendermos algumas metodologias baseadas em estudos realizados entre professores e alunos surdos. É o que veremos a partir de agora. 5 MODELO DE METODOLOGIA DE ENSINO DE LIBRAS COMO L1 PARA PRODUÇÃO TEXTUAL/VISUAL Na perspectiva da educação brasileira, a escola deve oferecer acesso a todos os seus alunos sem distinção. Assim, reconhecer as especificidades do seu alunado, significa ser um professor que esteja sempre buscando uma formação que o prepare para desenvolver práticas de ensino aprendizagem que contemple esses alunos. Nes- se sentido, recordamos a Lei 10.436/2002 — Lei Libras — e seu Decreto 5.262/2005: Art. 5º A formação de docentes para o ensino de Libras na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental deve ser realizada em curso de Pedagogia ou curso normal superior, em que Libras e a Língua Portuguesa escrita tenham constituído línguas de instrução, viabilizando a formação bilíngue (grifo nosso) (BRASIL, 2005, p. 2). Observamos que, a lei dá preferência para o professor surdo ensinar Libras tanto como L1 para surdos, como L2 para ouvintes. Contudo, destacamos que para ser professor bilíngue é necessário muito mais do que dominar a língua de sinais, é preci- so saber ensinar e instruir, transmitir, informar, conversar, dialogar, expor problemas, obter respostas e tudo na ênfase dialógica junto aos alunos Surdos/ouvintes. Perlin e Rezende (2011, p. 34) nos dizem sobre o jeito de ensinar do professor surdo veja: TÓPICO 1 —PRODUÇÕES DE TEXTOS EM LÍNGUA DE SINAIS E ORAIS 13 Esta desconstrução no entender do professor surdo é o jeito de ensinar que melhor aproxima o conhecimento do sujeito surdo e que faz dele um sujeito que desenvolve atitudes próprias diante da vida e indepen- dência do ouvinte. É a Didática na forma cultural própria. Assim, embora professores ouvintes possam ser bilíngues, entendemos que a preferência pelo o professor surdo no ensino de Libras como L1 ou L2 tem suas subjetividades relacionadas a uma didática própria da comunidade surda. FIGURA 4 – INSTRUÇÃO EM LIBRAS FONTE: <https://bit.ly/333ca3t>. Acesso em: 20 nov. 2019. As autoras Basso, Strobel e Masutti (2009), na sua metodologia de ensino de Li- bras como L1, mostram que é importante analisar a relação que envolve uma dinâmica de inter-relação entre corpo, espaço e movimento. Portanto, diferente de uma dinâmica presente nas línguas orais, as línguas de sinais convivem com o cênico como um ele- mento de atribuição de sentidos. Por isso, o ambiente ou espaço físico não é um mero componente ou detalhe, é um elemento decisivo para a produção de textos em Libras. Nesse sentido, a pedagogia do professor bilíngue surge da sua própria forma de construção de sentidos que é visual e há um ganho muito grande para os alunos surdos quando o professor partilha da mesma experiência de ser surdo. As autoras continuam explanando que: [...] cabe à escola promover essa conscientização do aprendizado em língua de sinais e sua gramática através de: atividades linguísticas – que se referem ao estudo da língua em situações de uso, ou seja, nas atividades dialógicas, nas quais o aluno seja colocado dian- te do maior número possível de textos sinalizados ou escritos em sinais; atividades epi linguísticas – centradas na reestruturação do texto de forma a que o aluno possa manipular a linguagem, construir hipóteses, transfor- mar as expressões, buscar novas significações, ou seja, que o aluno seja ca- paz de produzir, interpretar e compreender qualquer texto que circule em seu contexto de forma autônoma e crítica; UNIDADE 1 —ENSINO DA LITERATURA VISUAL 14 atividades metalinguísticas – que é o trabalho de sistematização gramática l propriamente dito, ou seja, a conceitualização e nomenclatura convencional, na qual o aluno possa refletir conscientemente sobre a língua de sinais por meio da própria língua de sinais (BASSO; STROBEL; MASUTTI, 2009, p. 25). Após o aprendizado por meio das atividades teóricas citadas anterior- mente, é preciso seguir alguns procedimentos na elaboração do material confor- me a seguir: • A elaboração de materiais escritos em sinais (sistema SW); • O registro em sinais (vídeos). FIGURA 5 – CONTAÇÃO DE HISTÓRIA E ESCRITA DE SINAIS FONTE: <https://bit.ly/2BBuKnN>; <https://bit.ly/3hWrDGP>. Acesso em: 20 nov. 2019. Um dos aspectos mais significativos da cultura surda e que precisa ser preservado e estimulado nas escolas bilíngues é a narração de histórias em sinais. Em geral, os surdos são ótimos contadores de história. Essa particularidade do povo surdo deve fazer parte do cotidiano da sala de aula no ensino de Libras como L1, ou em qualquer outro espaço utilizado na educação dos surdos. Mas, como trabalhar capturando as narrativas? Apresentamos aqui um modelo da metodologia de produção textual surda baseado no texto da discipli- na: Metodologia de Ensino de Libras como L1 para Surdos, da UFSC pelas auto- ras Basso, Strobel e Masutti (2009, p. 29-30): • Introduzir as crianças surdas pequenas no mundo das histórias surdas, promovendo encontros na Associação de Surdos ou tra- zendo surdos mais velhos para contar histórias na sala de aula. Os assuntos podem ser os mais variados, desde que haja a oportuni- dade de vivenciar a língua de forma espontânea. A presença de adultos surdos mais velhos estimula o aprendizado das crianças e adolescentes surdos, servem de modelo linguístico e cultural e de- senvolvem de uma identidade surda sadia. Sempre que possível, as histórias podem ser filmadas para usos futuros. • Contar histórias para as crianças, criadas pelo próprio professor a) b) TÓPICO 1 —PRODUÇÕES DE TEXTOS EM LÍNGUA DE SINAIS E ORAIS 15 ou trazidas por ele para a sala de aula. Podem-se criar histórias sobre fatos vividos, experiências, histórias engraçadas, histórias de suspense e de terror, que estimulam a imaginação dos alunos e auxiliam a desenvolver o hábito de prestar atenção, fazer infe- rências, antecipar situações e levantar hipóteses sobre o enredo, deduzir e tirar conclusões. • Analisar histórias contadas: quem são as personagens, onde acon- tece a história, em que tempo, qual a sequência dos fatos, qual o ponto mais importante, como é o desfecho. Ao comentar a his- tória, o professor apresenta as múltiplas faces da narrativa, am- pliando as possibilidades linguísticas dos alunos, os conceitos e atribuindo sentido e significado às situações; • Extrapolar o texto narrativo trazendo elementos que complemen- tam as informações do texto em sinais. Por exemplo, ao contar uma história acontecida em outro lugar ou época, localizá-lo geo- gráfica e historicamente, estabelecendo relações de espaço e tem- po; trazer figuras ou fotografias que ilustrem e auxiliem a com- preensão dos alunos, entre outros recursos; • Estimular as narrativas a partir de livros de literatura com ima- gens (sem texto escrito), explorando as situações, personagens e recursos visuais que compõem o enredo; • Ao utilizar as histórias em sinaisexistentes no mercado, sejam livros em escrita de sinais, vídeos ou CD-ROM, enfatizar os as- pectos visuais dos textos, a construção do enredo, os elementos constitutivos. Fazer comparações entre versões de uma mesma história também é muito interessante e incentiva o aluno a ob- servar vários pontos de vista sobre um mesmo tema ou assunto. Também estimular os alunos a observarem as diferentes constru- ções textuais – os elementos considerados importantes, as esco- lhas linguísticas, as marcações espaciais de tempo verbal, classifi- cadores, expressões não manuais e escolha do léxico. FIGURA 6 – HISTÓRIA INFANTIL EM LIBRAS FONTE: <https://bit.ly/2P0JBeN>. Tempo recortado: 1:18 de 5.59. Acesso em: 20 nov. 2019. Com todas estas orientações em uma pedagogia visual, a produção textu- al sinalizada ou escrita para o Surdo passa a ter uma finalidade social que repre- senta a forma como o autor interpreta a vida e o mundo do qual faz parte. Nesse contexto, trouxemos o exemplo de um verso de um poema escrito na modalidade L2 por uma poeta surda acompanhe: UNIDADE 1 —ENSINO DA LITERATURA VISUAL 16 Eu olho pela janela Outra janela me olha Que doido seria se a janela sorrisse! Lá, a luz acende E eu me vejo pensando... Será ela, janela, piscando para mim? Seria esse o sorriso dela? FONTE: ROSA, E. F. Borboletas poéticas. Porto Alegre: Vivilendo, 2017. Perceba, no texto, a poetisa surda segue uma coerência linguística da língua oral escrita, conseguimos sentir a emoção que ela quer transmitir igualmente a auto- res ouvintes mesmo que não esteja em registro de vídeo. Ao ler, você diria que esse texto foi produzido por uma autora surda? Bem, é claro que o texto passou por uma revisão da editora, mas, com certeza, as ideias e as emoções são da poetisa surda. Os mesmos recursos e metodologias propostos para os surdos no ensino de Libras como L1, podem ser utilizados para ensinar Libras como L2 na produ- ção textual para ouvintes. Nesse sentido, pode acontecer o bimodalismo, ou seja, a mistura da língua de sinais e a língua oral auditiva, que para o ouvinte não trará prejuízos linguísticos, pois ele estará aprendendo uma segunda língua. Diferentemente para os surdos, a metodologia de ensino por meio do bi- modalismo, não é considerada a mais adequada para o ensino aprendizagem de surdos, além de ferir a gramática da Libras, podem trazer sérios prejuízos e atra- sos linguísticos no aprendizado da língua portuguesa, como L2, para eles. Ainda há muitas escolas em que professores ouvintes resistem em apren- der a Língua de Sinais por julgar ser de uma estrutura linguística complexa de- mais, daí a preferência de mesclar o ensino através de bimodalíssimo. Destacamos que todos esses aspectos considerados aqui se tornam importantes ao ensinar li- teratura visual para qualquer público. Porém, cada profissional Surdo ou ouvinte pode e deve adaptar a metodologia conforme sua realidade. 17 Neste tópico, você aprendeu que: RESUMO DO TÓPICO 1 • Há diferenças linguísticas entre as modalidades em língua de sinais e língua oral. • É importante aprimorar a língua de sinais ou oral, por meio da educação formal. • Na língua oral, a produção textual, é a reunião de palavras que compõem a Língua Portuguesa. • Na língua sinalizada, a produção textual é a composição de sinais e expressões faciais e corporais como fazendo parte de sua gramática. • Um dos aspectos mais significativos da cultura surda e que precisa ser preservado e estimulado nas escolas bilíngues é a narração de histórias em sinais. • Contar e recontar histórias, fatos e experiências vividas deve fazer parte do cotidiano da sala de aula de Libras como L1, e ouvinte de Libras como L2, para produção textual em LS. • Para o público ouvinte a contação de história pode ser feita através da oralidade e a Língua de Sinais como L2. • A instrução em Libras preferencialmente deve ser feita pelos professores bilíngues. • A característica do professor bilíngue, seja surdo ou ouvinte não significa ser somente proficiente em língua de sinais, mas, saber, ensinar informar, conversar, dialogar. • O bimodalismo ainda é uma metodologia utilizada, por muitos professores ouvintes que consideram a gramática da LS complexa demais para ensinar. 18 1 Veja o filme Eu sou Surda e não sabia, disponível no endereço https://www. youtube.com/watch?v=Vw364_Oi4xc e responda as seguintes perguntas: a) O filme em questão foi produzido no ano 2009 na França, mostra a experiência de uma surda, hoje adulta, que lembra muitos detalhes e seus sentimentos de ser surda e não saber desde a sua infância e principalmente na época escolar. Naquela época, a família e as escolas estavam preparadas para esse contexto? b) Considerando a época do filme e com base nos fundamentos teóricos expostos em sala de aula, nas escolas por onde passou até seus pais matricularem ela no instituto de surdos, qual foi o método de ensino utilizada no filme? Justifique. 2 Colete em sua cidade os discursos narrativos de professores surdos e ouvintes que condizem com as práticas da Pedagogia Surda e compartilhe na sala de aula. AUTOATIVIDADE 19 TÓPICO 2 — UNIDADE 1 LITERATURA VISUAL COMO ARTEFATO CULTURAL 1 INTRODUÇÃO Dando continuidade aos estudos do ensino da literatura visual, neste tópico, iremos contextualizar sobre os artefatos culturais da comunidade surda muito utilizada nas narrativas de literatura visual. Abordaremos a diferença entre os conceitos relacionados à literatura visual, como fazendo parte da literatura surda. As duas temáticas — Literatura Surda e Visual — estão entrelaçadas, mas, por muitos motivos, passam por características distintas. Dessa forma, é dada a importância de conhecermos e aprendermos as diversas produções das Litera- turas visuais dentro da literatura surda. Além de analisarmos sobre a criação, adaptação e tradução, estratégias e objetivos na produção de Literatura Visual em detrimento ao público Surdo, e para conhecimento do público ouvinte. 2 BREVE CONCEITO DA LITERATURA SURDA FIGURA 7 – LITERATURA SURDA FONTE: <https://bit.ly/3f8LH6E>. Acesso em: 18 de nov. 2019. É bem comum quando lemos literatura surda e literatura visual associar- mos aos mesmos conceitos. Primeiro, precisamos esclarecer que a literatura surda envolve o visual, assim, não tem como falarmos de literatura surda e não relacio- nar à visualidade. Mas, vamos desmitificar a respeito desses termos a fim de nos concentrarmos na literatura visual produzida pelas comunidades surdas. Uma 20 UNIDADE 1 —ENSINO DA LITERATURA VISUAL autora que explana muito bem sobre a literatura surda é Karnopp (2006, p. 7), vejam como ela expressa o conceito da literatura surda. É aquele que a produção de textos literários em sinais, que traduz a experiência visual, que entende a surdez como presença de algo e não como “falta”, que possibilita outras representações de surdos e que con- sidera as pessoas surdas como um grupo linguístico e cultural diferente. Atente para quando ela diz que a literatura surda “entende a surdez como presença de algo e não como falta” Karnopp (2006, p. 7) continua afirmando que a literatura surda envolve: [...] pesquisas que objetivam registrar, escrever, filmar e divulgar a produção literária de surdos, encontram, em geral, os seguintes di- lemas: as dificuldades da tradução da experiência visual ou, talvez, o desconhecimento da língua de sinais e das situações cotidianas dos narradores, do significado de suas lutas, de sua língua, dos costumes e das situações bilíngues. É possível, no entanto, encontrar formas de registrar as histórias que traduzam a modalidade visual que os sur- dos utilizam para narrar suas histórias de vida, piadas, mitos, lendas... Sem perder o movimento que as mãos produzem, as expressões cor- porais e faciais que vão construindo e desvendando o enredo, as per- sonagens, o cenário. Interessa-nos, portanto, analisar os registros do mundo surdo — de suas diferenças linguísticase culturais — e trazer à tona os textos produzidos por/para surdos (KARNOPP, 2006, p. 7). Notamos pela citação da autora que são várias as características envolvidas na a literatura surda. Por ser de uma cultura diferente suas narrativas são manifestadas através das histórias contadas por meio visuais (sinais/imagens). Isso demonstra a ver- dadeira identidade surda corroborando para que as pessoas surdas se identifiquem como parte do “povo Surdo” ou membros Surdos dentro da “comunidade surda”. Antigamente, as histórias e narrativas eram somente contadas em línguas sinais entre os próprios surdos e sem nenhum registro visual ou escrito. Os dife- rentes gêneros textuais, como piadas, histórias, narrativas, anedotas, ou seja, “ga- nhos linguísticos Surdos”, e relatos que outrora mostravam a “opressão do ou- vintismo” começaram a desaparecer. Junto a estas transformações, profissionais Surdos/ouvintes se unem na causa educacional e social da comunidade Surda brasileira, para resgatar e promover na sociedade a literatura surda que sempre esteve presente, porém sem protagonismo. TÓPICO 2 —LITERATURA VISUAL COMO ARTEFATO CULTURAL 21 FIGURA 8 – LITERATURA SURDA FONTE: <https://bit.ly/39ADDuj>. Acesso em: 20 de nov. 2019. Compreendemos, ainda segundo Karnopp (2006), que uma das principais carac- terísticas da literatura surda, é o registro do mundo Surdo, por meios escritos ou visuais, isso quer dizer que, sua produção, pode se dar tanto por Surdos como por ouvintes en- volvidos na divulgação dos artefatos culturais e linguísticos da comunidade surda. Já no caso da literatura visual, veremos a importância de serem produ- zidas pela visualidade das mãos, principalmente por pares Surdos sem muita interrupção de ouvintes, como um bem pertencente à cultura e identidade surda, por meio textos de vários gêneros literários produzidos pela comunidade surda. Destacamos que, a literatura visual também faz parte da literatura ouvinte, consi- derando que, existem muitas opções de leituras imagéticas sem palavras, porém no contexto da cultura da comunidade ouvinte. 3 LITERATURA VISUAL O ser humano desenvolve sua linguagem materna, por meio dos signos e significados da língua a qual sua comunidade faz parte. Conforme já visto, no caso do ouvinte, estes signos estão associados a oralidade à escrita, e os surdos as- sociam o visual e os significados dos sinais, assim, a comunicação dos surdos vem por expressão sinalizadas. Quanto à leitura e à escrita, tanto do ouvinte quanto do surdo, está associado à compreensão de todo o repertorio simbólico adquiri- dos e compreendidos da língua da comunidade o qual pertence. Essas características comunicacionais entre ouvintes e surdos, faz com que muitos concluam que o interesse e a capacidade visual que as pessoas surdas 22 UNIDADE 1 —ENSINO DA LITERATURA VISUAL têm em comparação aos ouvintes é muito maior. De certa forma, isso acontece, porém, não se deve levar como uma regra, considerando que em cada um de nós, independente se somos surdos ou ouvintes, existe um canal de comunicação que individualmente mais se destaca seja (visual, auditivo cinestésico). No contexto da literatura visual para crianças Surdas, Rosa (2006, p. 62- 63) relata que: O desenho é importante para as crianças terem o visual e maior facili- dade em perceber o conteúdo do livro. Além disso, desenhos de sinais expressam e marcam a cultura surda. Possuem a possibilidade de leitu- ra, pois dentro tem a escrita de língua de sinais. (...) Para compreender a escrita da língua de sinais a pessoa precisa conhecer a estrutura da escrita de Língua de Sinais. E, por último, a leitura do português, que também é importante para aprender a lê-lo. O objetivo desses itens é ajudar e compreender a cultura surda. (...) Além de material impresso, a mídia (CD/DVD) é muito importante para surdos, pois apresenta visual para todos do Brasil e é um meio mais fácil para entender o livro. O fato é quando o sujeito Surdo traz uma narrativa da comunidade surda, com suas histórias interessantes, que usam as mãos e a visão, já é considerada uma literatura visual, representadas pelo povo surdo. De acordo com Porto e Peixoto (2011, p. 167): Para refletir sobre literatura visual é preciso que pensemos que esta mo- dalidade de texto surgiu no momento em que as pessoas surdas se apro- priaram do saber sobre o poder de produção imagética de sua língua. Assim, trazemos de forma sucinta o conceito de literatura Visual quando relacionada à comunidade Surda, por Mourão (2011), quando diz que as histórias em literatura visual em geral emocionam e exploram o que visualmente é produ- zido na língua de sinais, que através do olhar podemos sentir e entender. É algo que faz rir pela piada, emocionar pelo poema etc. O surdo “ouve” pela visão. Lebedeff (2010, p. 181) diz: De acordo com Carter, Carter e Fleischer (2005), os surdos se reúnem em associações e eventos sociais possuindo suas próprias instituições e tra- dições. Segundo os autores: os surdos se unem e se aproximam em fun- ção da língua de sinais e, a partir dela, desenvolvem sua própria cultura. Notamos como as tradições, eventos e reuniões das associações ou em vários contextos da comunidade surda são importantes na produção de literatura visual. Leite e Guimarães (2014, p. 5) disserta que: Nesse processo de construção de identidade do sujeito surdo e a sua re- lação com os seus pares, a contação de histórias e a Literatura Surda se constituem como fatores relevantes, promovendo a reflexão, a criticidade, a autonomia, dentre a consolidação de outras aprendizagens. Ao conside- rar a literatura como instrumento essencial na formação do imaginário do TÓPICO 2 —LITERATURA VISUAL COMO ARTEFATO CULTURAL 23 sujeito surdo, o contar e recontar histórias por meio da Língua Brasileira de Sinais possibilita significar a fantasia e produzir novos conhecimentos na ressignificação de outros contextos, utilizando a sua língua natural. Dessa forma, diferente da literatura visual produzida pela comunidade ouvinte, a literatura visual produzida pela comunidade surda se configura uma modalidade dentro da literatura surda. Portanto, devemos estar atentos ao fato de que nem todos os materiais literários visuais que encontramos faz parte da literatura visual de autoria da comunidade surda e somente para uso da comuni- dade surda. Por isso ficam algumas perguntas para identificar a literatura visual/ surda: o que aquela produção revela sobre a cultura surda? Que efeito a literatura visual pode ter na educação e na identidade do aluno Surdo? Se interessou em saber a diferença entre a literatura visual produzida no Brasil para ouvintes e surdos? Então veja mais sobre Literatura Visual em: https://bit.ly/39Ca7ob. DICAS 3.1 REGISTROS LITERÁRIOS DA COMUNIDADE SURDA BRA- SILEIRA – PARTICULARIDADES Os novos estudos linguísticos, permitiram criar muitas possibilidade e ex- ploração de textos literários sinalizados gravados. Os diferentes gêneros textuais, como piada, histórias, narrativas, anedotas, e dicas que mostram a “opressão do ouvintismo” pareciam estar desaparecendo. Mas, pessoas surdas de mais idade continuam passando esse legado aos Surdos mais jovens, e, então, de geração em geração continuam persistindo nas memórias do povo Surdo. Nesse sentido, uma ferramenta que tem auxiliado na divulgação da litera- tura visual são os estudos nos cursos relacionados a linguística da Libras, univer- sitários ou não cujos textos dos cadernos de estudos estão na língua portuguesa, incentivando os Surdos a exercitarem a escrita e leitura na língua oficial do país — Língua portuguesa — sem deixar de apresentar suas atividades também em Libras. Esse processo sem dúvida tem colaborado muito para a aceitabilidade do surdo que passou a ser reconhecida junto à sociedade ouvinte. Dessa forma, começou a surgir entre a comunidade surda várias opções de produção como: literatura comentada, dicionário, glossário, literaturaprodu- zida pelos autores Surdos e ouvintes: poesias, história infantil, fábulas etc., bem como pesquisas nos gêneros textuais (criadas, adaptadas ou traduzidas), tornan- do-se mais presentes nas comunidades surda e ouvinte. 24 UNIDADE 1 —ENSINO DA LITERATURA VISUAL Literatura comentada é uma seleção de textos, notas estudos biográficos históricos e críticos. Esse tipo de literatura também está inserido na comunidade surda. NOTA Historicamente, o primeiro registro de documento produzido no Brasil para orientar a aprendizagem e consulta de sinais manuais para pessoas interessadas em comunicar-se com surdos foi a literatura surda Iconografia dos Signaes dos Surdos-Mudos publicado em 1875, criado por iniciativa de Flausino José da Costa Gama, que fora aluno do Imperial Instituto dos Surdos-Mudos, hoje INES, com o apoio do então diretor Dr. Tobias Leite. Que tal se aprofundar e conhecer mais sobre esse registro histórico visto por alguns estudiosos como a primeira literatura Surda brasileira? O termo iconografia foi utilizado na época de forma errônea como sinônimo de criação de símbolos. ATENCAO Sofiato e Reily (2011) mostra que a Iconografia dos Signaes dos Surdos-Mu- dos, é uma obra em que os verbetes foram traduzidos em língua francesa para a língua portuguesa. Na época, o objetivo desse material era difundir a língua de sinais aos vizinhos que viviam em volta do Instituto Nacional de Educação de Surdos, por isso, acabou ficando restrito e conhecido na região do RJ, hoje sendo resgatado pelos historiadores. Esta iconografia do “repetidor", como ficou conhecido Flausino da Gama aqui no Brasil, teve como grande referência a obra do professor surdo francês Pierre Pelissier, intitulada L'Enseigment Primaire dês Sourds-Muets Mis a La Portée de Tour Le Monde Avec Une Inconographie des Signes, datada de 1856. Ao que tudo indica, ele teve acesso à obra original do professor francês. Note, na figura a seguir, trazemos um exemplo de dois sinais (instruído, ignorante), que foram adaptados da língua de sinais francesa para a obra de Flausino da Gama. TÓPICO 2 —LITERATURA VISUAL COMO ARTEFATO CULTURAL 25 FIGURA 9 – OBRA DO PROFESSOR FRANCÊS SURDO PIERRE PÉLLISIER ADAPTADO POR GAMA FONTE: Sofiato e Reily (2012, p. 579) Rocha (2007) descreve Flausino da Gama como “repetidor” no Instituto do Imperial Instituto dos Surdos-Mudos, porque tinha de assistir à aula e depois repetir as lições do professor aos alunos que tinha sob a sua responsabilidade. Além de muitas outras incumbências. INTERESSA NTE Para saber mais a respeito do professor surdo francês Pierre Péllissier não deixe de pesquisar o artigo intitulado Justaposições: o primeiro dicionário brasileiro de língua de sinais e a obra francesa que serviu de matriz. Disponível em: https://bit.ly/39HdN87. DICAS Nesta época aqui no Brasil, não existiam dicionários de língua de sinais ou outro material similar, de forma que Flausino da Gama, o repetidor, propôs empregar os sinais franceses como se fossem brasileiros, culminando com a cria- ção de uma língua de sinais “originalmente” brasileira, mas com grande influên- cia da língua de sinais francesa. Então, entendemos que, os sinais apresentados na obra brasileira, portanto, são uma “mistura” ou uma mescla da língua francesa de sinais com a língua brasileira usada naquela época no Brasil. Independente da intenção de Flausino da Gama, sua obra é motivo de mui- to orgulho, como fazendo parte de um dos primeiros registros de literatura visual/ surda que se tem estudos aqui no brasil, tanto para os surdos brasileiros quanto para ouvintes, envolvidos com os estudos da Língua Brasileira de Sinais — Libras, porque 26 UNIDADE 1 —ENSINO DA LITERATURA VISUAL Segundo Sofiato e Reily (2011) dos 382 sinais presentes do dicionário produzido por Flausino da Gama com reprodução dos sinais franceses, 38 ainda existem. Um deles refere- se, por exemplo, ao “eu”, que é representado pelo dedo indicador apontado para a própria pessoa. Outro é o sinal de silêncio, representado pelo indicador em riste colado aos lábios. IMPORTANT E esse material representa o primeiro esforço de criar um dicionário para língua de sinais no país. Valorizam-se dois aspectos na obra de Flausino da Gama: o seu pionei- rismo — por ter sido desenhado na década de 1800 — e o fato de Flausino ser surdo. Destacamos que, mesmo durante o período em que, os Surdos estavam pri- vados de usar sua língua materna devido aos regimentos impostos pelo congresso de Milão em 1880, ainda que tímida a literatura visual continuou a ser produzida nos espaços em que os Surdos se reunião. Por isso, de acordo com autores Porto e Peixoto (2011, p. 7) “Para refletir sobre literatura visual é preciso que pensemos que esta modalidade de texto surgiu no momento em que as pessoas surdas se apro- priaram do saber sobre o poder de produção imagética de sua língua”. A citação relaciona de forma efetiva a literatura e cultura surda, e a relação do saber no Brasil com a época do instituto imperial, hoje o INES. Isso quer dizer que, foi a partir do século XIX que a comunidade surda brasileira se deu conta de quanto saberes possuíam e necessitavam repassar. São histórias de suas vidas, descobertas linguísticas e muito mais. E hoje podemos contar e recontar com muito orgulho. 27 4 CARACTERÍSTICA DOS AUTORES LITERÁRIOS DA LITERATURA VISUAL FIGURA 10 – EXPERIÊNCIA DAS MÃOS LITERÁRIAS FONTE: <https://bit.ly/333ecAA>. Acesso em: 18 de nov. 2019. A maioria dos autores surdos concordam que a literatura surda, por ser um material visual, e pelo uso de libras, não poderia ter a inclusão da língua portuguesa, porque tanto a gramática como a tradução da Língua Portuguesa (LP) não condiz com os pensamentos das Línguas de Sinais (LS) produzidos. Um exemplo são os sinais polissêmicos que, ao serem traduzidos da LP para LS, sua tradução pode ficar incompleta e quase infiel. Um dos motivos é devido à polissemia na LP, a qual se dá em relação às pala- vras de significantes iguais, mas com significados distintos. Militão e Mendonça (2017, p. 5) mostram a diferença da polissemia nas línguas orais e de sinais acompanhe: Expressões polissêmicas são resultados de processos de processos de extensão de significados que só podem ser explicados dentro de um contexto. Nas línguas orais a origem é da mesma palavra, enquanto nas línguas de sinais a origem vem do mesmo sinal. Podemos afirmar, por exemplo, que no sinal LARANJA e SÁBADO há uma polissemia, visto que o Ponto de Articulação (PA), assim como o Movimento (M) e a Configuração de Mão (CM) são iguais, ou seja, o Significante (Sinal) é igual nos dois casos. Assim, diferente das línguas orais, a polissemia nas línguas de sinais está imbuída de uma especificidade, na qual se centraliza principalmente o espaço linguístico se utilizando de parâmetros como: PA, M, CM, tornando-se uma mar- ca subjetiva tanto ao escrever como contar histórias. Por isso, a importância dos 28 linguistas em língua de sinais continuarem suas pesquisas na área com o fim de colaborar com seu conhecimento em apoio a comunidade surda. Portanto, agora vamos nos ater em descrever características principais dos autores Surdos e ouvintes que escrevem a Literatura visual, para comunida- de Surda. Autores Surdos (usuários natos da LS), e autores não surdos que, neste caso, não se refere somente a autores ouvintes, mas também a surdos, porém que na sua grande maioria não tem identidade surda, vamos entender melhor. • Autores “Surdos”: de identidade surda, que, dependendo do contexto que cres- ceram, não tiveram a oportunidade de serem instruídos na L2 na modalidade escrita. No entanto, isso não os impede de serem expressivos nas suas narrativas literárias, ou que são incapazes de produzir uma literatura visual. Transmitem todos os sentimentos envolvidos por meio da gramática da língua de sinais. O pesquisador americano e sócio-linguista, James Woodward, em 1972 criou as designaçõesde “Surdo” e “surdo”, o termo com letra maiúscula é usado para aqueles que se identificam com a identidade e cultura surdas, enquanto que o mesmo termo em letra minúscula é aplicado àqueles que têm apenas problemas de audição. Disponível em: https://bit.ly/2CVQTOq. ATENCAO • Autores “não surdos”: aqueles cujo foi oportunizado uma educação, dentro do sistema bilíngue, ou seja, são usuários da língua de sinais como L1 e apren- deram a L2 na modalidade escrita. Esses podem se considerar letrados ao serem escritores dos seus próprios textos. Destacamos que entre estes autores, na maioria das vezes, suas identidades não se configuram como Surda, ficam entre as identidades flutuantes, de transição e hibridas. Neste grupo estão in- clusos, também, autores ouvintes engajados na causa da comunidade Surda. Souza (1998, p. 4) defende que, muitas vezes, as literaturas surdas, apesar da sua utilidade está voltada mais especificamente para a tradução “que usam como parâmetro de normalização, o ouvintismo que busca “ouvintizar” os sur- dos”. Neste contexto, existe um movimento de alerta, ou de cuidado, pois alguns autores “não surdos” não querem comungar os pensamentos do “povo Surdo”. Isso se dá pela sua diferença de ideologia, de ritmo de tradução e pelo uso da gra- maticalização da Língua Portuguesa sobre a língua de sinais brasileira. Por outro lado, a grande maioria desses autores não surdos está em comunhão com o povo Surdo, o que resulta em produções literárias fascinantes. 29 O ouvintismo “Trata-se de um conjunto de representações dos ouvintes, a partir do qual o surdo está obrigado a olhar-se e a narrar-se como se fosse ouvinte” (SKLIAR, 1998, p. 15). IMPORTANT E A autora Surda e Portuguesa, Morgado (2011, p. 21), define a Literatura visual como “aquela que é contada em Língua de sinais, seja fruto de tradução ou não, podendo ter um tema relacionado com Surdos ou não”. Nesse contexto, podemos dizer que os ouvintes que auxiliam em estudos e pesquisas linguísticas em língua de sinais e que, de certa forma, fazem parte da comunidade Surda, produzem vários textos relacionados literatura visual. Então, conseguiram entender as diferenças entre autores Surdos e não surdos? Outro ponto é atenção ao uso dos artefatos culturais da comunidade Surda, em geral estes estarão presentes ou incutidos no tipo de literatura visual produzida pela comunidade Surda, assim, prossigamos. Você já estudou sobre as identidades Surdas, que tal relembrar lendo o artigo a seguir? Disponível em: https://bit.ly/2BGV93M. DICAS 5 PRODUÇÃO DE MATERIAIS COMO ARTEFATO DA LITERATURA VISUAL Toda comunidade linguística produz artefatos culturais, não são somente as formas atuais de culturas materiais como: maneiras de vestir-se, de comunicar- se, mas, também, o que podemos ver e sentir ao entrarmos em contato com a cultura daquela determinada comunidade, por exemplo: seus valores e normas estabelecidos entre seus membros. Sobre os artefatos culturais da comunidade Surda, Strobel (2008, p. 37) vai mais além para explicar seu conceito: “[...] não se refere apenas a materialismos culturais, mas àquilo que na cultura constitui produções do sujeito que tem seu próprio modo de ser, ver, entender e transformar o mundo”. 30 Além disso, a participação/interação dos surdos e ouvintes envolvidos na comunidade Surda, ter um caráter comunitário mesmo, e auxílio de poder contar um com o outro, o que, com certeza, auxilia para produção desses artefatos culturais, nesse contexto, Bauman (2003, p. 19) adverte a seguir: Mais do que com uma ilha de “entendimento natural”, ou um “círculo aconchegante” onde se pode depor as armas e parar de lutar, a comunidade realmente existente se parece com uma fortaleza sitiada, continuamente bombardeada por inimigos (muitas vezes invisíveis) de fora e frequentemente assolada pela discórdia interna; trincheiras e baluartes são os lugares onde os que procuram o aconchego, a simplicidade e a tranquilidade comunitárias terão que passar a maior parte de seu tempo. Mais do que aconchego, tensão; mais do que conforto, vigilância [...]. O autor compara a comunidade de forma geral a uma “ilha”, mostrando a importância da união, como se a comunidade a qual pertencemos nos protegesse de todos os infortúnios que a vida nos coloca, mostrando realmente a importância de depender uns dos outros. Mas, em especifico, a comunidade Surda, por ser um gru- po menor frente aos ouvintes, necessita mais de apoio, veja na continuação do autor: A comunidade de pessoas surdas, usuária de uma língua de sinais, en- frenta esses desafios e outros desafios. Neste sentido é que as mudanças e o reconhecimento legal da língua de sinais não são suficientes. A cul- tura surda, a experiência visual e o uso da língua de sinais sustentam o encontro e a vida da comunidade surda (BAUMAN, 2003, p. 19). Assim, para manter a cultura e identidade do povo surdo, a oficialização da língua de sinais não é suficiente, é preciso estarem, de fato, engajados com a luta de toda a comunidade Surda. Nesse sentido, o médico neurologista Oliver Sacks (1998, p. 15), afirma que “somos notavelmente ignorantes a respeito da surdez”. O fato é que o povo Surdo compartilha a sua língua de sinais e artefatos culturais dentro da sociedade ouvinte que usa a língua majoritária (língua portuguesa) e, neste contexto, há o receio como já destacado do desaparecimento ou até mesmo a falta do controle da língua de sinais por parte da comunidade Surda, que vem lutando há muitos anos para manter o ritmo e suas perseveranças da cultura, língua e identidade. Mourão (2011) destaca a historicidade da literatura Surda através da experiência “visual-literária” pela constituição e empoderamento do povo surdo. Veja, no quadro a seguir, criado pelo autor: 31 QUADRO 1 – OS SENTIDOS DA EXPERIÊNCIA VISUALITERÁRIA PELA CONSTITUIÇÃO E EMPO- DERAMENTO PELO POVO SURDO FONTE: MOURÃO (2016, p. 206) 1 No Brasil, a partir das décadas de 80 e 90, desconhecimento da Literatura Surda e tradução. Também não existia ensino de Literatura Surda como disciplina na escola e projeto social, pois não havia profissionais nessa área. 2 A língua de sinais e/ou roda das mãos já existia em forma literária espontânea sem perceber em si mesmo as significações literárias. 3 Bilíngues e biculturais das artes literárias. 4 Transmitida as mãos literárias para outras em toda a situação dos encontros surdos, comunidades surdas e fampilia surda. 5 Visualiterárias foram absorvidas às expressões dos artistas pelos filmes e desenhos animados, revistas em quadrinhos como os gibis, quadros e outros similares de expressividade sem língua escrita. 6 Experiência visualiterária apresenta registros e marcas nas obras dos sujeitos surdos. 7 Pesquisadores da área de Literatura Surda e curso de Letra/Libras ou outra área de formação/oficinas passam a distribuir aos surdos significados literárias e colaboram para o despertadar das mãos literárias. 8 As maõs literárias são acessíveis no espaço literário das mãos e recursos materiais impressos, digitais, em sites e nas redes sociais. Por todos esses aspectos relacionados até o momento que, aqui no Brasil, não há muitos estudos referentes a pesquisas de Língua de sinais no século passado. Mas, temos observado a perpetuação na produção de materiais em Libras que, na sua maioria, com os desenhos dos sinais e de pessoas sinalizantes sem movimentos, se utilizando de glosas. Conforme o exemplo a seguir: FIGURA 11 – SINAL EM LIBRAS TRISTE FONTE: Silva (2011, p. 11) O sinal anterior, inserido em um dicionário, significa, em Libras, EU TRISTE e/ou TRISTE, (glosa) vem junto com o sistema de escrita. Reparem que a frase “EU TRISTE” ou o sinal TRISTE, tem todas as características do pensamento da língua de sinais brasileira como primeira língua das pessoas, principalmente por meio da expressão, que, mesmo no desenho, conseguimos olhar e sentir. A glosa entra como um sistema de escrita complementar