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8ºAula Prática de ensino da Matemática Objetivos de aprendizagem Ao término desta aula, vocês serão capazes de: • conhecer a modalidade da Educação de Jovens e Adultos; • conhecer e analisar diferentes tipos de metodologias que contribuem para práticas de ensino na Educação de Jovens e Adultos. Na Educação de Jovens e Adultos ( EJA), assim como no Ensino Fundamental e Médio, o ensino de matemática deve ser pensado de modo que a aversão por esta disciplina seja eliminada. Os alunos que frequentam esta modalidade de ensino retomam os estudos por vários motivos, assim, é fundamental que o professor estimule seus alunos e desperte neles o interesse e a compreensão da importância e do uso cotidiano desta disciplina. Nesta aula, analisemos um pouco a Educação de Jovens e Adultos para melhor compreensão das dificuldades em se trabalhar com esse público e conheceremos metodologias que podem melhorar o ensino aprendizagem. Bons estudos! Fonte: <http://www.dsvc.com.br/2014/01/matriculas-para- educacao-de-jovens-e-adultos/logo-eja/>. Acesso em: 25 jan 2019. 105 Prática de Ensino em Matemática II 64 Seções de estudo 1. O ensino-aprendizagem na Educação de Jovens e Adultos 2. Fatores que dificultam o trabalho na EJA e metodologia que podem ser adotadas 1 - O ensino-aprendizagem na educaçao de jovens e adultos Fonte: <http://portaldaejachapadadonorte.blogspot.com/2010/10/ao-defrontar-se- com-o-mundo-as-pessoas.html>. Acesso em: 25 jan 2019. A Educação de Jovens e Adultos é uma modalidade de ensino garantida pela Constituição Federal de 1988 e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação 9394/96 e que visa dar oportunidade de formação escolar para aqueles que possivelmente não tiveram acesso ou não puderam concluir tanto o Ensino Fundamental como o Ensino Médio na idade apropriada. Como afirmam Silva e Sant’Anna (2010), a EJA é uma modalidade de ensino específica da Educação Básica que se destina a um público ao qual foi negado o direito à educação por diferentes motivos, seja por falta de vagas, pelas condições socioeconômicas desfavoráveis ou mesmo pela inadequação do sistema de ensino. Na Educação de Jovens e Adultos os estudantes têm muitas peculiaridades em vários sentidos, dentre elas podemos citar: o tempo de afastamento dos estudos, as dificuldades de aprendizagem, um público e diferentes faixas etárias, formado por adolescentes, jovens e adultos que estão em busca de melhores condições de trabalho e, consequentemente de vida. Nesse sentido, Silva e Sant’Anna (2010, p. 73) abordam a peculiaridade dos alunos desta modalidade de ensino e afirmam que são “[...] homens/mulheres; filhos/pais/mães; trabalhadores/trabalhadoras; empregados/desempregados, ou que estão em busca do primeiro emprego; moradores urbanos e moradores rurais”. Em relação aos professores da Educação de Jovens e Adultos, os autores ressaltam como particularidade a necessidade de formação profissional e de construção de mais conhecimento para atuar neste campo de educação. Como em qualquer outra modalidade de ensino, na Educação de Jovens e Adultos a matemática apesar de sua importância, é a disciplina considerada por muitos como vilã dentre as outras, sendo ela uma das responsáveis pelos altos índices de reprovação. Atualmente, há crescentes reflexões, discussões e pesquisas a respeito das dificuldades de aprendizagem na matemática em todos os níveis e modalidades de ensino, inclusive na Educação de Jovens e Adultos. Oliveira e Bitencourt (2015) pactuam e afirmam que na última década do século XXI, aumentaram o número de pesquisas preocupadas com o ensino de Matemática em diferentes modalidades, o que é o caso da Educação de Jovens e Adultos - EJA. Em relação à heterogeneidade da clientela da Educação de Jovens e Adultos, reunidos numa mesma turma, é essencial que o professor seja um profissional comprometido com o fazer pedagógico e com as transformações de vida de seus alunos e que construa uma prática de ensino que tente atender às necessidades diferentes de aprendizagem. Quanto às características da Educação de Jovens e Adultos, as Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica destacam algumas: A EJA realizada nas instituições escolares caracteriza-se como uma proposta pedagógica consideração os conhecimentos da experiência de vida de jovens, adultos e idosos, ligadas às vivências cotidianas individuais e coletivas, bem como ao mundo do trabalho (BRASIL, 2013, p. 452). As Diretrizes Curriculares ainda afirmam que a maioria dos alunos desta modalidade de ensino são trabalhadores, que têm muitas responsabilidades, pouco tempo de lazer e que desejam melhorar suas condições de vida. Para Silva e Silva (2016), a explicação é que normalmente os alunos que estudam nesta modalidade de ensino foram excluídos por vários motivos, porém tais alunos têm objetivos que os levam a retornar às salas de aula, entre eles podemos citar: a permanência no emprego; necessidade de encontrar um emprego melhor; a inserção no mercado de trabalho e o convívio social. Segundo Camboim e Marchand (2010), a modalidade de ensino direcionada a jovens e adultos tem ocupado um papel importante no processo de democratização das escolas brasileiras nas últimas décadas. Ressaltam ainda que as discussões da Educação de Jovens e Adultos giram em torno de como proporcionar a essa clientela o acesso a uma educação de qualidade. Baseando-se na argumentação acima, ressalta- se que um currículo de Matemática para jovens e adultos de acordo com Brasil (2002, p. 12) deve “[...] criar condições para que se torne agente da transformação de seu ambiente, participando mais ativamente no mundo do trabalho, das relações sociais, da política e da cultura”. Para Oliveira e Paludo (2010), o grande desafio da Educação de Jovens e Adultos não é a reentrada no sistema escolar das pessoas que estavam fora da escola, mas sim a permanência dos mesmos nos cursos, com participação, responsabilidade e autonomia no sistema de ensino. Destaca- se a importância que o professor tem para a permanência desses alunos nas escolas e Paz e Santos (2010) defendem que os professores precisam ter a capacidade de olhar para além do conteúdo e saber entender a dificuldade de cada aluno 106 65 que está retornando à escola. Os educandos trazem consigo uma bagagem de experiências vividas e a escola precisa de um espaço de reflexão e crítica, onde sejam valorizadas e ocorra a troca destas experiências entre professores e alunos. É crucial que o professor da Educação de Jovens e Adultos busque meios diferenciados de ensinar proporcionando uma aprendizagem mais significativa, de maneira que levem os alunos a fazer uma relação entre o que aprendem na escola e sua realidade social. O ensino-aprendizagem da matemática requer concentração, persistência e para os alunos da Educação de Jovens e Adultos a certeza de que o conhecimento adquirido irá de alguma forma ajudar em suas atividades do cotidiano. Muitos desses alunos esperam aprender uma matemática para aplicar no comércio, na feira livre etc. Dessa maneira, a contextualização dos conteúdos de matemática é uma necessidade constante e faz com que as aulas sejam mais produtivas e interessantes. Muitos educadores discutem essa prática e demonstram a preocupação com a qualidade do ensino da Matemática. D’Ambrósio (2005) afirma nessa direção que: Contextualizar a Matemática é essencial para elementos de Euclides com o panorama cultural da Grécia antiga? Ou a adoção da numeração do mercantilismo nos séculos XIV e XV? E não se pode entender Newton descontextualizado. (D’AMBRÓSIO, 2005, p.76-77). Na Educação de Jovens e Adultos, trabalhar a matemática de maneira atraente e que prenda a atenção dos alunos é o grande desafio para os professores e, para que isso seja possível, é necessário um esforço não somente do professor, mas de todos os envolvidos direta ou indiretamente com a educação. 2 na eja e metodologiasque podem ser adotadas Em qualquer nível ou modalidade de ensino, estudar a matemática necessita tempo e perseverança, mas também de um acompanhamento de um professor preparado e que seja criativo, inovador em suas práticas de ensino. Santos (2018), em sua tese de mestrado relata que várias são as dificuldades enfrentadas na EJA e apontadas por professores que participaram do II e III Diálogo Formativo das Diretrizes Curriculares da EJA em 2017, tais como: Grande evasão causada pelo cansaço físico; distância entre a escola e o local de serviço; “certificação em detrimento da formação - cultura da pressa”; sentimento de exclusão diante de uma classe com diferenças de idades significativas. Uma pergunta que vem à tona: Como seria o currículo ideal à Educação escolar para uma escola mais inclusiva, acolhedora em relação aos jovens e adultos? Para Santos (2007), quando se fala em currículo, implica pensar e analisar criticamente o que as escolas estão fazendo ou pretendem fazer e é necessário um currículo com objetivos e metas transcendentes, [...] para além das estratégias de viabilização do acesso a conhecimentos básicos para o seu uso funcional em situações planejadas previamente, prescindindo de uma visão humana integral de Ser Humano – sensível, criativo, emocional, racional, individual, social… – que está em permanente interação com outro Ser Humano, num determinado contexto – diverso e complexo – no qual suas ações se concretizam como um grupo. À gestão da Educação cabe, então, o debruçar sobre esses elementos, fatos, situações e o planejamento de estratégias para ações que, por sua vez, otimizem a concretização de fatos sociais em vias do bem comum (SANTOS 2007, p. 7). D’Ambrósio (1999) propõe que o currículo proporcione aos jovens e adultos os instrumentos necessários para que possam eliminar iniquidades e violações da dignidade humana para que se tenha uma justiça social e tenha uma formação educacional de cidadãos críticos e conscientes de sua responsabilidade social. A mudança da sociedade, a diversidade cultural e as tecnologias são indicadores de uma nova direção e organização curricular. De acordo com Knijnik (1996), bem como Kistemann Junior (2014), o currículo de matemática deve visar à justiça social e à equidade que possibilita que cada aluno esteja habilitado a processar criticamente as informações que tem acesso, possa escrever e produzir significados para seus discursos, gestos, códigos e representações gráficas. O currículo deve providenciar também o desenvolvimento da capacidade do aluno de fazer inferências e refletir sobre suas conclusões obtidas a partir dos dados que produziu. Nogueira e Darsie (2009) afirmam que a Educação de Jovens e Adultos não tem mais como finalidade suprir e compensar a escolaridade para aqueles que foram excluídos do processo de escolarização e acesso aos bens culturais que a escola poderia ter proporcionado, mas sim as funções: • Reparadora: Não só à restauração de um direito negado (direito a uma escola de qualidade), mas também ao reconhecimento da igualdade ontológica de todo e qualquer ser humano de ter acesso a um bem real, social e simbolicamente importante; • Equalizadora: Relaciona-se à igualdade de oportunidade que possibilite maiores condições de acesso e permanência na escola, permitindo aos indivíduos nova inserção no mundo do trabalho, na vida social, nos espaços da estética e na abertura dos canais de participação; • Qualificadora: Mais que uma função, e sim o próprio 107 Prática de Ensino em Matemática II 66 sentido da EJA, correspondendo às necessidades de atualização e de aprendizagem continuas decorrentes dos ideais de uma educação permanente, que tem como base o caráter incompleto do ser humano cujo potencial de desenvolvimento e de educação pode se atualizar em quadros escolares ou não escolares (NOGUEIRA e DARSIE, 2009, p. 5) Com isso, a contextualização é algo extremamente importante para essa modalidade de ensino que é formada por estudantes trabalhadores que muitas vezes trabalham de dia e frequentam as aulas no período noturno e para isso necessitam de motivação para continuar frequentando as aulas. É relevante levar também em consideração os conhecimentos prévios dos alunos, pois possibilita o reconhecimento e a valorização deles diante dos novos conhecimentos que adquirirão durante as aulas de matemática. É extremamente importante envolver os alunos em atividades que sejam úteis para alcançar seus objetivos, pois além de mostrar a importância que a matemática tem em suas vidas, também resgata nos alunos o entusiasmo que perderam quando se distanciaram dos bancos escolares. Há diferentes formas de se ensinar a matemática para desenvolver o raciocínio lógico e fazer com que o aluno da Educação de Jovens e Adultos observe a matemática em seu cotidiano. De acordo com Dante (1991), uma delas é através da resolução de problemas. Um dos principais objetivos do ensino de matemática é fazer o aluno pensar produtivamente e, para isso, nada melhor que apresentar-lhe o motivem a querer resolvê-las (DANTE, 1991, p.11) Esse método se utilizado pelo professor, faz com que o aluno perceba a importância que a matemática tem na sociedade, dessa forma, resolvendo problemas, o estudante desenvolve habilidade de elaborar um raciocínio lógico, uma estratégia de resolução e de fazer uso inteligente e eficaz dos recursos disponíveis. Ao tentar resolver situações problemas, o aluno passa por inúmeras dificuldades e dentre elas a falta de compreensão dos textos matemáticos. Para diminuir essa dificuldade é imprescindível que o professor trabalhe o letramento matemático. O grande desafio do professor de matemática é chamar a atenção e consequentemente atrair os alunos de forma significativa e que seja capaz de provocar reflexões entre eles em relação à presença da matemática no dia a dia de cada um. Portanto, o objetivo de ensinar a matemática vai além de desenvolver o pensamento científico e o raciocínio lógico nos alunos. É também proporcionar uma formação que lhes permita o domínio do conteúdo matemático em situações de contexto diversificado e as competências matemáticas necessárias para lidar com elas. Segundo Duarte (2009) os estudantes jovens, adultos e idosos, não hesitam quando se deparam com certas dificuldades e as resolvem utilizando seus saberes matemáticos, porém “como esse saber não é reconhecido enquanto conhecimento matemático pela sociedade, ele mesmo, assumindo isso, embora inconscientemente, afirma que não conhece nada de matemática e que é ignorante” (DUARTE, 2009, p. 17). Neste sentido, o professor deve incentivá-los e mostrar que os métodos utilizados por eles são matemáticos e que vários povos durante a evolução da matemática desenvolveram mecanismos para resolver situações que se apresentavam em seu cotidiano. Em relação à prática intencionalmente dirigida, segundo Duarte (2009), os alunos poderão reproduzir condensadamente essa evolução da matemática, recriando o conhecimento matemático “para si”. Não se trata de agir como se esse conhecimento estivesse criado “em si”, [...] nem de apenas “dar” para eles o conhecimento já criado, como seria a proposta tradicional, mas de organizar as condições para que eles possam recriar esse conhecimento “para si”. (DUARTE, 2009, p. 18) Podemos verificar que trabalhar a história da matemática e sua evolução com seus dados históricos, permite aos alunos reconhecerem que o conhecimento matemático desenvolvido por eles em seu cotidiano, também caracteriza um saber matemático que é adequado e que satisfaz os critérios por eles estabelecidos para a realidade vivida por eles. Eagleton (2005) salienta a importância da cultura popular num contexto acadêmico, já Beserra e Barreto (2014, p.165) reforçam a importância cultural na escola e afirmam que “a questão cultural é relevante no tocante ao processo de aprendizagem”. Baseando-sena história da matemática, podemos mostrar as estratégias aplicadas pelos povos primitivos e que as mesmas foram úteis e necessárias para a realidade desses povos para aquela época. Ressaltamos ainda que não era um conhecimento aprendido e desenvolvido em sala de aula. O professor, em sua prática de ensino não só para os alunos da Educação de Jovens e Adultos, mas em qualquer nível ou modalidade de ensino, contribuirá para que seus alunos percebam que são capazes de desenvolver o seu próprio conhecimento e, amparados pelos paradigmas vigentes da matemática, poderão aprimorá-los para ser utilizado em seu dia a dia. Quanto à seleção de temas é importante aplicar os que possibilitem a conscientização concernente às injustiças sociais, conteúdos que ajudem a compreender a complexidade humana em que vivemos. A aprendizagem deve ser globalizada, orientada para a transdisciplinaridade, buscando elos entre conteúdos e disciplinas que, por séculos, foram isoladas, e procurar conhecer as ligações entre essas disciplinas e conteúdos não sendo destacada a importância maior ou menor de cada uma delas para o aprendizado. D’Ambrósio (2001, p. 10) entende que o conhecimento fragmentado: a capacidade de reconhecer e enfrentar as situações novas, que emergem de um mundo cuja complexidade natural acrescenta-se a complexidade resultante desse próprio conhecimento – transformado em ação – que incorpora novos fatos à realidade através da tecnologia. 108 67 Por essa razão, a EJA deve ofertar uma educação de qualidade para todos, uma vez que atende classes heterogêneas respeitando suas diversidades culturais, sendo necessário: objetivos, metodologias de trabalho, currículos e tipo de avaliação apropriada para essa clientela. O aluno deve ser o foco do processo educativo e não os conteúdos a serem ensinados. Eles possuem ritmos de aprendizagem e estruturas de pensamento diferentes e dessa forma ao retornarem para escola, trazem consigo experiências e angústias e a volta à escola se dá pela busca de realização e do êxito profissional bem como condição necessária para melhores posições sociais ou, até mesmo, por satisfação de necessidades reais que a sociedade impõe. Nesse contexto, o Programa Etnomatemática idealizado por Ubiratan D’Ambrósio tem como objetivo desenvolver e estimular a criatividade e criticidade no ambiente escolar. Mas, somente será possível com um novo currículo e práticas de ensino como um fator determinante de recuperação da autoestima, que considere os saberes e a realidade dos alunos, suas concepções, os conhecimentos e sua linguagem. Novas abordagens teóricas se fazem necessárias, a partir de pressões produzidas no amplo espectro do espaço social pelas fortes desigualdades e discriminações a que os grupos “minoritários” estão submetidos e suas decorrentes consequências. [...] É neste contexto que se situa o surgimento da Etnomatemática (KNIJNIK, 1996, p.12). O professor em suas práticas de ensino deve aguçar o interesse por investigar e mostrar que coexistem diferentes maneiras de resoluções numa mesma atividade e as diferenças e/ou igualdades pessoais e a diversidade dos meios de aprendizagem não são, ou não deveriam ser, um obstáculo para a conquista do conhecimento. A Etnomatemática é uma das novas concepções ou tendências para o ensino de Matemática. Segundo D’Ambrósio (2016), na epistemologia da palavra, etno significa ambientes naturais e culturais; matema significa explicar, conhecer, aprender; tica são as maneiras e modos. Para Souza Ribeiro (2014) ,essa concepção ou tendência nãos e prende à busca da matemática das etnias, mas envolve a dinâmica cultural do conhecimento cultural matemático, relacionado ao contexto social, político e cultural. Essa concepção ou tendência Etnomatemática adapta- se à Educação de Jovens e Adultos por ser uma clientela que está em sua maioria em transição da subordinação para autonomia, no âmbito social, econômico e cultural (LIMA; SILVA, 2014). Os alunos reconhecendo suas próprias raízes por meio da Etnomatemática terão um referencial para que eles se fortaleçam culturalmente e emocionalmente. De acordo com Souza (2016), um currículo na perspectiva da Etnomatemática é voltado para diversidade, defendendo uma “dinâmica dos encontros culturais”, uma “ética da diversidade” e uma educação para a paz. Com essas características o currículo se potencializa estabelecendo relações entre discurso mais amplo e práticas com referências para realidade e orientando quaisquer intenções pedagógicas. D’Ambrósio (1999b, 2019) propõe um currículo passeado nesse programa e vertentes do trivium que é formado pela literacia, materacia e tecnocracia. 2.1 - Concepção trivium curricular: literacia, materacia e tecnocracia O currículo na concepção trivum busca disponibilizar instrumentos socioculturais, preocupando-se com a criticidade e criatividade de seus usos, formando indivíduos críticos fornecendo a eles ferramentas para que isso ocorra efetivamente. Na disciplina de matemática, os alunos necessitam de competências que, aliadas ao trivium curricular, que ainda é pouco explorado, possuem boas condições de contribuir para melhorar o processo ensino-aprendizagem da matemática. De acordo com Souza (2015), a etnomatemática ajuda a ter uma atitude de respeito com as formas de conhecimento geradas pelos grupos e os modos de desenvolvimento da organização intelectual e social desses conhecimentos, implicando ações inevitáveis aos indivíduos e ao ambiente que nos cercam. Relacionando-se intimamente com a qualidade do conhecimento produzido, o trivium possui grande impacto na sociedade. D’Ambrósio (2016, p. 127) sintetiza a proposta como: [...] o reconhecimento de uma dinâmica curricular que contraria a rigidez, característica dos currículos atualmente adotados nos sistemas escolares. Essa rigidez manifesta-se em objetivos, conteúdos, métodos e avaliação que a eles se subordina. [...]Com a falsa aceitação de homogeneidade cultural e cognitiva, ignoram- se as maneiras próprias que o aluno tem para explicar e lidar com fatos e fenômenos naturais e sociais (D’AMBROSIO, 2016, p. 127). Vejamos o que significa: Literacia, materacia e tecnocracia. • Literacia: De acordo com o mentor do trivium, D’Ambrósio (2016) a literacia é a capacidade de processar informações, bem como o uso da linguagem escrita e falada, signos e gestos, códigos e números que ajudam as pessoas a lidarem com a rotina de seu dia a dia. Está ligada à habilidade de processar e utilizar informações presentes em suas vidas através da leitura, escrita, cálculo e interpretar suas representações utilizando a criticidade, criatividade e diferentes meios de comunicação e da Internet. • Materacia: Segundo D’Ambrósio (2016) a materacia refere-se ao manejo do entendimento e do sequenciamento de códigos e símbolos para a elaboração de modelos e sua aplicação do dia a dia. É esperado com isso o desenvolvimento da criatividade e da capacidade de desempenhar em situações novas, analisando essas posições e as consequências da atuação individual do aluno. Nesse contexto, o papel do professor é ser o mediador do 109 Prática de Ensino em Matemática II 68 processo de aprendizagem. sobre as práticas humanas numa sociedade complexa, capitalista e excludente e em que medida leituras e práticas matemático- educativas podem auxiliar no entendimento dessa sociedade. [...] Ao promover a materacia em sala de aula de Matemática, o professor está propiciando o desenvolvimento das habilidades dos alunos concernente à leitura, interpretação e inferência de dados advindos de vários cenários, os quais os alunos convivem em seu cotidiano (KISTEMANN JUNIOR, 2014, p. 148). A materacia permite ao aluno a aquisição de instrumentos intelectuais necessários para análise simbólica, incluindo tanto os professores como os estudantes num ambiente investigativo em que o professor além de mediador é impulsionadordos interesses dos alunos. Fornece instrumentos simbólicos e analíticos que ajudarão a desenvolver a criatividade e permitindo compreender e resolver novas situações problemas em seu cotidiano. Com desenvolvimento da crítica dos códigos e resultados, o aluno poderá reconhecer implicações, interpretações e analisar consequências e possibilidades futuras. • Tecnoracia: Para D’Ambrósio (2016), é a capacidade dos alunos de usar e combinar diferentes instrumentos lógicos que os ajudem a resolver problemas encontrados na vida diária com a finalidade de avaliarem a razoabilidade dos resultados e sua contextualização. No entendimento de Rosa e Orey (2008) ,a tecnocracia é a incorporação e a utilização de diferentes instrumentos matemáticos que se adequam a cada situação, como por exemplo, a calculadora, os softwares, os programas de computador e outros instrumentos que têm como objetivo auxiliar os alunos na tomada de decisão. Sousa (2016, p. 6) apresenta uma síntese do currículo etnomatemático baseado na obra de D’Ambrósio: Fonte: SOUZA (2016, p. 6) A proposta curricular de D’Ambrósio (1999 b, 2016), vem contribuir contra a exclusão, marginalização de povos e vai ao encontro das sociedades e culturas. Nessa proposta tenta-se mostrar com os mesmos valores, os conhecimentos de diferentes povos bem como instituir o respeito mútuo e reduzir a exploração e discriminação de outras culturas. Portanto, o professor da Educação de Jovens e Adultos precisa criar estratégias que valorizem a cultura do aluno conjugada à preocupação com o conhecimento científico, aumentando com isso a maneira de se ver e se estar no mundo, enfrentar desafios, ousar, superar o imaginário da escola que o aluno deixou de frequentar. Retomando a aula Estamos indo bem até aqui, para encerrar nossa oitava e última aula vamos recordar... 1 - O ensino-aprendizagem na educaçao de jovens e adultos A Educação de Jovens e Adultos é uma modalidade de ensino específica da Educação Básica onde os alunos têm muitas peculiaridades: muito cansaço físico, dificuldades de aprendizagem, muito tempo afastado da escola, distância do emprego até a escola, público de diferentes faixas etárias que vai desde adolescentes, jovens, adultos e idosos. Para os alunos da Educação de Jovens e Adultos, apesar da matemática ser importante, ela é vista como nas outras modalidades de ensino como uma disciplina vilã e responsável por inúmeras reprovações. 2 - Fatores que dificultam o trabalho na eja e metodologias que podem ser adotadas Para o ensino de alunos da Educação de Jovens e Adultos, o professor precisa fazer uso de metodologias que motivem ainda mais essa clientela. As propostas metodológicas utilizadas nas outras modalidades do ensino podem e devem ser postas em prática na EJA, porém adaptadas para esses alunos. A contextualização é imprescindível uma vez que os alunos já possuem um grande conhecimento prático vivido em seu cotidiano. Outra proposta interessante é a elaboração do currículo voltado para a Etnomatemática, que idealizado por Ubiratan D’Ambrósio vem contribuir para um ensino aprendizagem eficaz e prazeroso para os alunos da EJA. 110 69 BESERRA, V.; BARRETO, M. O. Trajetória da Educação de Jovens e Adultos: histórico no Brasil, perspectivas atuais e conscientização na alfabetização de adultos. Cairu em Revista, Cairu, ano 3, n. 4, p. 164-190, jul./ago. 2014. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão. Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica. Brasília, DF: MEC, 2013. CAMBOIM, M.; MARCHAND, P. S. 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Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=Zo1BLFqQLMI>. Os desafios da Educação de Jovens e Adultos - 1º Bloco. Disponível em: <https://www.youtube.com/ watch?v=vOyWBZuMHBQ>. Os desafios da Educação de Jovens e Adultos - 2º Bloco. Disponível em: <https://www.youtube.com/ watch?v=c-dqb2C0IxM>. Vale a pena assistir ABAR, Celina Ap. A. P.; BARBOSA, Lisbete M. WebQuest: um desafio para o professor. São Paulo: Avercamp, 2008. ALMEIDA, M. Prática e Formação de Professores na Integração de Mídias. IN: _______. Integração das Tecnologias na Educação. Secretaria de Educação a Distância. Brasília: Ministério da Educação, Seed, 2005. 204p. ALVES, Eva Maria Siqueira. A ludicidade e o ensino de matemática. Campinas: Papirus, 2001. BARATO, J. N. Um jeito novo, simples e moderno de educar. Disponível em: < htpp:// Webquet,futuro.usp/artigo/textos- jarbas.html.> Acesso em: 15 nov 2018. BERTI, Nivia Martins. O ensino de matemática no Brasil: buscando uma compreensão histórica. 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