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Colibacilose aviária Adrielly Alves Araújo Infecção causada por Escherichia coli, pode causar lesões mais localizadas ou sistêmicas causando o quadro chamado de colisepticemia. Etiologia A bactéria Escherichia coli é uma bactéria normal da microbiota intestinal, possui cepas comensais que inclusive ajudam na produção de alguns fatores e vitaminas, e cepas patogênicas oportunistas que ficam controladas mantendo-se em 10-20% da microbiota. São bacilos curtos, gram negativos, não esporulados, anaeróbios facultativos e móveis (flageladas), lactose positivas (fermentam a lactose presente no ágar MacConkey - adquirindo coloração rosa mais forte). Existem diversos patótipos que afetam diferentes espécies animais, o responsável pela doença em aves é o patótipo APEC. Possui antígenos: somático (LPS ou O), flagelar (H), cápsula (K) e fímbrias (F), adesinas, toxinas, aerobactina, plasmídeos, colicina, resistências a proteínas do soro. Existem vários sorogrupos identificados, classificados de acordo com os antígenos O em mais ou menos virulentos, sendo os O2, O21, O36, O50, O78, O88, O119 e O152 os mais prevalentes em aves no Brasil. No homem o sorotipo mais importante é o O157:H7, causador de toxi-infecções alimentares com diarreia, vômito e risco de óbito. Epidemiologia A colibacilose geralmente é uma afecção secundária a agentes imunossupressores e fatores estressores, e causa uma doença geralmente sistêmica, manifestações gastrintestinais, articulares, reprodutivos, pulmonares, oculares, cardíacos, renais, sendo uma das principais doenças da avicultura industrial mundial, causando grandes perdas econômicas. Normalmente, no trato digestivo das aves, a Escherichia coli pode estar presente em concentrações acima de 106 UFC/g de fezes, o que favorece uma excreção contínua para o ambiente e a permanência por longos períodos de tempo no ambiente, contaminando água e alimentos, principais vias de transmissão da bactéria, além da transmissão pela contaminação fecal da casca dos ovos - principal via de transmissão para pintinhos e que causa alta mortalidade embrionária, ou pós eclosão por onfalite. Outra forma de transmissão é a transovariana, quando a matriz apresenta quadro de salpingite por colibacilose. Roedores e aves silvestres são importantes reservatórios da bactéria. As aves de 4-9 semanas de idade são mais suscetíveis a quadros respiratórios, enquanto que as adultas são mais predispostas a quadros reprodutivos como salpingite (inflamação da tuba uterina) devido a colonização bacteriana nesse local quando o nível de estrógeno está alto (período de postura). Fatores predisponentes podem incluir alta densidade, baixa ventilação, altas concentrações de amônia, elevada umidade da cama, variações de temperatura, desinfecção deficiente, micotoxicose (imunossupressor), agentes imunossupressores como os vírus da bronquite infecciosa, pneumovirose aviária, Bordetella avium, Mycoplasma galisepticum, eimeriose, ascaridiose. Patogenia O APEC causa principalmente quadros de aerossaculite, polisserosite e septicemia, quadros extraintestinais em galinhas, perus e outras aves. A Escherichia coli é normal no trato digestivo, porém nos tecidos ela causa uma resposta inflamatória aguda devido a liberação de LPS e outros antígenos que causam lesões no endotélio vascular levando ao aumento da permeabilidade vascular o que causa edema nos tecidos, membranas e cavidades. Eventualmente essa exsudação pode se tornar mais caseosa e evoluir para fibrose (mais crônico). As infecções localizadas mais comuns são celulite e onfalite em pintinhos, salpingite nas adultas, e síndrome da cabeça inchada. Nas infecções sistêmicas se tem quadros de colisepticemia e doenças respiratórias crônicas, coligranuloma (abscessos em vísceras e/pele), além de sequelas da colisepticemia, fibrina na cavidade da ave, etc. Celulite Frangos de corte, principalmente, levando à condenação da carcaça por “aspecto repugnante” devido ao acúmulo de exsudato purulento, hemorrágico e caseoso no tecido subcutâneo, principalmente na região abdominal. A celulite pode ser causada pela inoculação de fezes contaminadas na pele por arranhaduras feitas no momento da apanha para o abatedouro, causando uma infecção rápida que ao chegar no abatedouro as aves já apresentam lesões de pele. Pode estar relacionada também a surtos de colibacilose durante a criação, ou na má qualidade dos pintinhos em criações de alta densidade. A infecção não se restringe à pele, com a inoculação das bactérias na pele, essas podem migrar e causar quadros sistêmicos posteriormente causando abscessos no fígado e musculatura. Onfalite Proveniente da contaminação dos ovos, a bactéria penetra no embrião e pode causar morte embrionária (principalmente quando infecção no período final de incubação) ou nascimento de pintinhos com onfalite, nos quais a bactéria se dissemina em pouco tempo causando pericardite, pode apresentar morte súbita, retenção de saco vitelínico, deficiência na transferência dos anticorpos maternos e no ganho de peso. A principal causa de onfalite em pintinhos é a colibacilose (70% das vezes), porém outros agentes como Proteus, Bacillus e Enterococcus também podem causar a infecção. Salpingite Em aves adultas. Podem se infectar por via aerógena, e devido à proximidade do saco aéreo abdominal esquerdo com o oviduto e atração pelos hormônios vão para o oviduto. Pode ocorrer também por infecção ascendente a partir da cloaca. Há formação de lesões caseosas no oviduto que persiste por meses, as aves afetadas podem morrer em 6 meses e as que sobrevivem raramente retomam a postura. Degeneração e flacidez dos folículos ovarianos, ooforite (inflamação dos folículos), derrame de folículos na cavidade abdominal ou sua ruptura pode causar peritonite fibrinosa com mortalidade aguda. Síndrome da cabeça inchada Comum, geralmente decorre da associação da Escherichia coli com o vírus da bronquite infecciosa ou pneumovírus, que causa celulite aguda ou subaguda na área da cabeça e olhos, seguindo-se de quadro respiratório de sinusite, edema peri e infraorbitário. Pode haver comprometimento neurológico com torcicolo, opistótono e incoordenação motora. Pode durar de 2-3 semanas, com mortalidade variável de 3-4%, queda na postura, agravamento de doenças respiratórias, podendo ser causada pela própria E. coli que antes estava apenas na região da cabeça e tem sua disseminação respiratória oportunizada. As aves com síndrome da cabeça inchadaapresentam edema facial (causado pelas citotoxinas e LPS), celulite, sinusite caseosa, lesões no nervo óptico e meninges. Colisepticemia e doença respiratória complicada E. coli, na corrente sanguínea (disseminada), começa pela infecção oportunizada no trato respiratório por algum outro agente imunossupressor em aves jovens (4-9 semanas) que apresentam a forma respiratória que então evolui para septicêmica. Suas principais lesões são aerossaculite, pericardite, perihepatite = tríade da condenação de carcaça. Podem morrer rapidamente, sem mesmo apresentarem sinais, em 6h, as que sobrevivem ficam com sequelas de infecções em outros locais que provavelmente levarão a morte da ave mais tarde. Sequelas Sinovite, osteoartrite, meningoencefalite, panoftalmite, artrite, etc. Diagnóstico Isolamento microbiológico a partir de órgãos e sangue total, sorologia para verificação da presença de antígenos e sorotipagem dos antígenos isolados, PCR, necropsia. Isolamento Sangue total, do coração ou fígado, swabs de lesões fibrinopurulentas, medula óssea, cultivados em ágar MacConkey, ágar eosina azul de metileno (EMB, seletivo para E. coli, no qual suas colônias ficam com coloração verde metálica), e depois fazer a série bioquímica para enterobactérias. Diferencial Mycoplasma (aerossaculite), Chlamydophila (aerossaculite e pericardite), Pasteurella e Salmonella (pericardite e septicemia), Bacteroides (abscessos no fígado), vírus respiratórios no geral. Tratamento Antimicrobianos de classe III, que são menos utilizados em humanos, assim evitam problemas de resistência em humanos. Porém o tratamento pode ser inviável economicamente ou mesmo ineficiente pela existência de cepas multirresistentes. Profilaxia e controle Medidas gerais de biosseguridade, evitar o estresse das aves, maior tempo de vazio sanitário, desprezar ovos sujos, uso de probióticos, vitaminas A, E, D e C na ração, vacinas bacterinas geralmente são muito específicas para cada sorogrupo, oferecendo baixa imunização cruzada. Existem pesquisas para fazer vacinas utilizando-se o pili bacteriano como antígeno, de forma que tenha alta imunidade cruzada entre os diferentes sorogrupos.