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Clostridioses Adrielly Alves Araújo Doença causada pela invasão de tecidos por bactérias presentes normalmente no ambiente, principalmente no solo. Pode servir de alerta para a ocorrência de imunossupressão na ave, seja por fatores estressantes ou mesmo por doenças virais. Etiologia As bactérias do gênero Clostridium são bastonetes gram positivos, isolados ou formando cadeias curtas, anaeróbios estritos, e formadores de esporos - forma de resistência ao ambiente quando em condições ambientais adversas, exemplo, ambiente com oxigênio. No meio ambiente geralmente estão na forma esporulada e quando nos animais encontram tecidos com poucas concentrações de oxigênio voltando a sua forma germinativa e produzindo toxinas durante sua replicação, toxinas essas que determinam os quadros clínicos nos animais. Podem ser isolados em ágar sangue bovino (inespecífico) ou em meios específicos para isolamento de clostrídios. O cultivo deve ser feito em câmara de anaerobiose em 37oC por 5 dias, sendo que algumas colônias podem ser observadas 48h após a semeadura. Colônias são puntiformes (1-3mm de diâmetro), arredondadas, elevadas, translúcidas, que se disseminam formando um véu, algumas podem ser hemolíticas (C. perfringens). Epidemiologia As principais clostridioses em aves são: - Botulismo, uma toxi-infecção causada pelo C. botulinum tipo C e sua exotoxina, acomete galinhas, patos, faisões e perus. - Dermatite gangrenosa, causada pela associação entre C. perfringens, C. septicum e S. aureus, que acomete galinhas e perus. - Enterite necrótica, causada pelo C. perfringens tipo A ou C em galinhas, codornas e perus. - Enterite ulcerativa, causada por C. colinum em galinhas, perus, codornas, perdizes e outras aves. - Doença de Tyzzer em papagaios causada pelo C. piliforme. - Enterite grave e enterotoxemia em avestruzes, principalmente os mais jovens por C. difficile. As clostridioses em aves são em sua maioria toxi-infecções ou intoxicações, ou seja, causadas pelas toxinas que a bactéria libera estando no organismo (toxi-infecção) ou apenas pela ingestão da toxina (intoxicação). A cama úmida é o principal fator predisponente para ocorrência das clostridioses, além da presença de carcaças na cama - fontes de contaminação. Botulismo Causada pela ingestão da toxina produzida pelo C. botulinum tipo C - uma intoxicação. É mais frequente nos meses mais quentes do ano, com mortalidade que pode atingir 40% dependendo da dose da toxina ingerida pela ave. Também pode ocorrer o Botulismo Tóxico-Infeccioso no qual as aves ingerem a bactéria que se multiplica no intestino produzindo a toxina - uma toxi-infecção. Abutres, corvos e urubus são resistentes à toxina botulínica por apresentarem substâncias no trato digestivo que a neutraliza. Patogenia Ingestão da toxina botulínica, absorção, vai para neurônios e placas motoras bloqueando a liberação de acetilcolina impedindo a passagem de impulsos nervosos para os músculos = paralisia flácida, principalmente nas coxas, asas, pescoço e terceira pálpebra das aves, evoluindo para parada cardiorrespiratória e óbito. Sinais clínicos Os sinais são inespecíficos, de paralisia flácida que leva a sinais de fraqueza, incoordenação, ataxia, paresia de asas, pernas, pescoço, ave sentada e com as asas caídas, penas do pescoço podem se desprender facilmente (não observado em perus) eventualmente podem ter diarreia. O período de incubação depende da dose da toxina ingerida podendo variar de poucas horas até 1-2 dias. Sua mortalidade e taxa de recuperação também dependem da dose ingerida. Diagnóstico Normalmente sem lesões macro ou micro, diagnóstico fechado apenas pela detecção da toxina botulínica no soro das aves - amostra de eleição, pois após a morte das aves a carcaça (tecidos) podem ser infectados durante a decomposição apresentando crescimento de clostrídios e resultando em falso positivos. Diferencial Doença de Marek, Encefalomielite aviária, Doença de Newcastle, Influenza aviária: doenças com sinais neurológicos. Tratamento Podem se recuperar em casos de ingestão de baixas doses, devem ser mantidas isoladas com acesso à água e alimento. Administração de selenito de sódio, vitaminas A, D e E podem reduzir a mortalidade em frangos de corte. Além disso, pode ser feito tratamento com antimicrobianos (principalmente em aves ornamentais ou de estimação) para o caso de toxi-infecções. Profilaxia e controle Remoção das carcaças e outras fontes de replicação dos clostrídios, remoção da cama úmida/contaminada, desinfetantes hipoclorito de sódio e formalina para eliminação dos esporos do ambiente, controle de larvas de moscas (também carregam clostrídios), redução do pH da água o que inibe o crescimento de clostrídios e equilibra a microbiota intestinal. Dermatite gangrenosa Também chamada de dermatite necrótica ou celulite é uma infecção aguda do tecido subcutâneo causada pela associação entre C. perfringens tipo A, C. septicum, S. aureus, entre outras bactérias oportunistas. Acomete principalmente frangos de corte de 4-8 semanas de idade e poedeiras comerciais de 6-20 semanas, sendo que geralmente é uma sequela/oportunizada/indicativo de doenças imunossupressoras primárias causadas por vírus. Pode ser predisposta pela presença de cama úmida, manejo deficiente de bebedouros, pouca ventilação, alta densidade, entre outros fatores estressores, imunossupressores e até genéticos que favorecem o aparecimento de lesões na pele das aves, além disso é mais comum em lotes de machos uma vez que possuem o empenamento mais lento o que aumenta o grau de exposição à cama. Patogenia Doenças predisponentes imunossupressoras oportunizam a infecção de feridas na pele pelas bactérias causadoras da doença pelo contato com a cama contaminada causando lesões histolíticas e necróticas principalmente próxima a cabeça, asas, peito, coxas e abdômen, musculatura acinzentada, necrose nos músculos esqueléticos e presença de gás nas lesões subcutâneas. Geralmente não apresenta lesões viscerais, mas podem ocorrer lesões no fígado. Sinais clínicos As aves apresentam diversos graus de depressão, com inapetência, incoordenação, ataxia, fraqueza nas patas e morte em 24h. Diagnóstico Lesões macroscópicas associadas ao isolamento microbiano. Diferencial Doenças micóticas, dermatite de contato, dermatite ulcerativa em perus e celulite por colibacilose. Tratamento Antimicrobianos para controle de surtos. Profilaxia e controle Vacinação adequada das aves contra doenças virais imunossupressoras e correto manejo de cama e para evitar fatores estressores às aves. Redução do pH da água para melhorar o sistema imunológico das aves. Limpeza e desinfecção das instalações com desinfetantes fenólicos - ação sobre os esporos. Enterite necrótica É causada pelo C. perfringens tipo A ou tipo C, em galinhas jovens (2 semanas a 6 meses de idade), frangos de corte (2-5 semanas) e perus (7-12 semanas). Essas bactérias já estão presentes nos intestinos de aves saudáveis, sendo o fator predisponente da doença o desequilíbrio da microbiota intestinal, causado por dietas que tenham farinha de peixe ou níveis elevados de trigo, cevada ou centeio, camas com altos níveis de fibras, e infecções por coccídios. Patogenia As rações com farinha de peixe, altos níveis de grãos e cama fibrosa favorecem a multiplicação de clostrídios no intestino, produzem toxinas que produzem os sinais clínicos. Sinais clínicos Fezes escuras e diarreicas, com manchas de sangue, apatia, anorexia, penas arrepiadas, em casos mais crônicos, pode-se ter edema, hemorragia e necrose de membros pélvicos. Na necropsia se tem enterite fibrinosa, intestinos friáveis, líquido de coloração acastanhada e odor fétido com lesões predominantemente no jejuno e íleo, distensão e gás nos cecos, fígado com focos necróticos. As lesões no intestino podem ser severas a ponto de romper as alças intestinais causando peritonite. Diagnóstico Histopatológico - presença das bactérias na mucosa intestinal, isolamento microbiológico a partir do conteúdointestinal e/ou nódulos linfóides hemorrágicos no intestino. Diferencial Enterite ulcerativa, Eimeria brunetti, porém podem haver associações entre o coccídio e o clostrídio. Tratamento Antimicrobianos para redução da excreção dos agentes nas fezes, remoção da farinha de peixe da ração, uso de probióticos - mantém a microbiota equilibrada, suplementação com lactose - reequilíbrio da microbiota. Profilaxia e controle Limpeza e desinfecção para eliminação dos esporos do ambiente, aplicação de cloreto de sódio sobre o piso após a limpeza para evitar recidivas, boas práticas de manejo. Enterite ulcerativa Causada pelo C. colinum que afeta principalmente diversas aves, porém as codornas são as mais suscetíveis podendo ter mortalidade de 100% em codornas jovens. Afeta aves jovens, galinhas e codornas de 4-12 semanas de idade e perus de 3-8 semanas. Assim como a enterite necrótica, seus fatores predisponentes incluem, vírus imunossupressores, coccidioses, doenças intercorrentes e outros fatores estressores/imunodepressores. As aves infectadas podem se tornar portadores e fazer a manutenção da bactéria no meio. Patogenia Sua transmissão se dá por água/alimento ou cama contaminados com a bactéria causando uma doença aguda que mata as aves em até 3 dias ou então de forma mais crônica, mata de 1-2 semanas. Sinais Clínicos Morte súbita, diarreia esbranquiçada e aquosa no início, depois enterite hemorrágica (duodeno), sonolência, anorexia, pescoço retraído, penas eriçadas, perda de massa muscular do peito. As aves que sobrevivem à fase aguda apresentam alterações inflamatórias, seguidas de necrose e ulceração, no intestino, cecos, que apresentam conteúdo escuro. Na necropsia observa-se enterite hemorrágica no duodeno, petéquias na serosa e mucosa intestinal, úlceras perfurativas que podem levar à peritonite. Na microscopia pode-se observar a descamação do epitélio da mucosa, edema da parede intestinal, infiltração linfocitária e necrose dos vilos até a submucosa. Diagnóstico Sinais, lesões e isolamento, imprint e coloração de gram de amostras de fígado, fixação de complemento, imunofluorescência direta. Diferencial Enterite necrótica, coccidioses (coinfecção pode acontecer), histomoníase. Tratamento Antimicrobianos - estreptomicina em codornas de forma terapêutica e profilática (60g/tonelada de ração). Profilaxia e controle Troca de cama - a bactéria pode ficar nela indefinidamente. Controle contra coccidioses e contra vírus imunossupressores e outros fatores estressantes.
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