Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Clamidiose aviária Adrielly Alves Araújo É uma doença de grande importância na avicultura e como zoonose. Etiologia Atualmente é chamada de Chlamydophila psittaci a espécie que mais acomete aves e humanos, causando a clamidiose nas aves e psitacose em humanos. Possui formulações morfológicas: Corpo elementar (CE) e Corpo reticular (CR). O Corpo elementar é a forma infectante da bactéria, ele é metabolicamente inerte, esférico, denso e imóvel, e se encontra no ambiente. O Corpo reticular é intracelular, metabolicamente ativo com parede fina e flexível. Possuem a parede externa semelhante à bactérias gram negativas = possuem LPS e proteínas semelhantes à elas. São sensíveis ao calor, desinfetantes, tetraciclinas e derivados, porém os corpos elementares, por serem mais resistentes, podem sobreviver por meses, à dessecação e luz solar se estiverem em fezes ou secreções. A Chlamydophila é intracelular obrigatória, por isso quando no ambiente assume uma forma de resistência. Existem seis sorotipos descritos, não espécies específicos e que não apresentam imunidade cruzada, dos quais os humanos são sensíveis a todos. Um hospedeiro pode se infectar, inclusive, simultaneamente por mais de um sorotipo. Epidemiologia Pode se apresentar de forma superaguda, aguda, crônica ou inaparente, sendo as formas crônica e inaparente importante epidemiologicamente uma vez que as aves permanecem como portadoras e eliminando a bactéria por longos períodos sem apresentar sinais clínicos. Seus principais transmissores, entre aves e para os humanos, são os psitacídeos. Criações de patos e perus também apresentam risco de transmissão para seus trabalhadores, sendo que nessas criações, surtos geram grandes prejuízos econômicos devido a alta mortalidade, uso de microbianos para o tratamento, descarte de carcaças no abatedouro e tratamento dos humanos. As galinhas parecem ser mais resistentes à infecção quando comparadas a perus, patos, pombos e os psitacídeos que são os mais suscetíveis. A transmissão se dá por inalação, ingestão, contato direto com as secreções, e mesmo a transmissão vertical que é menos comum, mas pode acontecer. Sua morbidade é elevada devido ao rápido ciclo da bactéria. A mortalidade é variável, mas geralmente alta, principalmente para os psitacídeos. As aves jovens geralmente são mais suscetíveis. A coinfecção por outros patógenos como E. coli e/ou Salmonella pode agravar a doença e elevar a mortalidade, Patogenia Seu ciclo de infecção é bem rápido, em torno de 48h. A ave se infecta, o corpo elementar penetra nas células e se torna corpo reticular que cresce e se multiplica e se transforma em corpo elementar para ser liberado no ambiente, excretado. Inclusive, células infectadas podem produzir células filhas já infectadas perpetuando a infecção. A Chlamydophila psittaci pode permanecer em estágio letárgico em situações desfavoráveis à ela, porém diferente da forma de Corpo elementar. Quando em situações como estresse ou carência de nutrientes na célula hospedeira elas ficam mais letárgicas e se multiplicam menos, e quando voltam a melhores condições elas voltam a sua atividade metabólica normal se multiplicando e eliminando os corpos elementares em secreções: conjuntival, cloacal, orofaríngea e nasal, também podem se dispersar pelo ar infectando as células epiteliais respiratórias dos hospedeiros. O trato respiratório superior é o sítio de instalação primário da bactéria, e é um dos sítios com maiores concentrações do agente, assim como o cloacal. Em aves adultas a melhor forma de detecção é pela cloaca. Resposta imune Por serem microrganismos intracelulares os anticorpos produzidos não são eficientes, uma vez que só atingem a membrana da célula hospedeira. Assim, mesmo com a alta produção de anticorpos, a defesa humoral não é eficiente e as bactérias continuam a eliminar os corpos elementares mantendo os títulos de anticorpos altos persistentemente, principalmente em psitacídeos. Sinais clínicos São bastante variáveis. A forma superaguda acomete principalmente aves jovens e pode causar morte súbita com ausência de sinais ou lesões. A forma aguda geralmente apresenta sinais respiratórios, trato respiratório como sítio primário de infecção, mas também podem apresentar sinais devido à infecção do trato digestório, genito-urinário (transmissão vertical) e nervoso (sonolência, depressão, anorexia, asas caídas, desidratação, conjuntivite, tremores). A forma crônica tem sinais ainda mais inespecíficos como emagrecimento progressivo, conjuntivite, alterações respiratórias leves/sutis, podendo passar despercebidos. A forma assintomática geralmente acontece em aves adultas acometidas por cepas mais brandas, não são identificadas no plantel e permanecem como portadoras eliminando as bactérias, contaminando o ambiente. Outros sinais inespecíficos além dos já citados são alterações no empenamento, queda no desempenho reprodutivo e infecções bacterianas secundárias que agravam o quadro clínico da ave e dificultam o diagnóstico. Diagnóstico Alterações macroscópicas: esplenomegalia e baço de consistência amolecida, pode ou não conter focos esbranquiçados ou petéquias. Hepatomegalia e fígado de consistência friável, coloração amarelada a esverdeada, focos necróticos na superfície capsular ou de corte. Saco pericárdio espessado com inflamação purulenta, serosa ou fibrinosa. Pulmões congestos e cavidade pleural com fibrina. Sacos aéreos turvos. Congestão intestinal, principalmente nas serosas. Isolamento: bactéria de difícil isolamento e que exige biossegurança laboratorial rigorosa por se tratar de uma zoonose. Amostras de swab de conjuntiva, orofaringe, cloaca, traqueia, fezes, tecidos acometidos. ELISA-antígeno: prova direta que detecta o agente. Imunofluorescência direta de imprints ou esfregaços. Esses 2 podem resultar em falso positivos por reações inespecíficas com outras bactérias gram negativas, principalmente quando a partir de amostras de fezes e cloaca. PCR é o exame de escolha para aves e humanos, exclui outros agentes. Para a detecção de portadoras inaparentes, a coleta de amostras deve ser repetida em períodos de 3-5 dias e/ou coleta de amostras de diferentes sítios para aumentar a sensibilidade diagnóstica. Sorologia: fixação de complemento é a mais indicada, outras aglutinação em látex, aglutinação de CEs, RIFI, ELISA indireto. Pode ser usado como diagnóstico na forma de sorologia pareada que, com o aumento de 4x os títulos é consideradoinfecção recente, porém é mais indicado o uso da PCR para diagnóstico, e a sorologia para monitoramento dos plantéis. Diferencial: salmonelose, micoplasmose, pasteurelose, colibacilose, enterite. Profilaxia e controle É uma doença de notificação obrigatória. Biosseguridade, biossegurança, quarentena. Vacinas são testadas, mas ainda não disponíveis uma vez que não apresentam resposta imune duradoura = bactérias intracelulares. É uma doença ocupacional, em seres humanos ela é transmitida por aerossóis presentes nas penas, secreções ou tecidos de aves, levando a infecção do trato respiratório superior, bacteremia, infecção do baço e fígado, nova bacteremia e então infecção pulmonar. Parece gripe - miagia, hipertermia, calafrios, quando agravada pode causar pneumonia grave, tromboflebite e quadros neurológicos por meningite e encefalite. Tratamento É difícil e muitas vezes ineficaz uma vez que os corpos elementares não são sensíveis aos antimicrobianos. Pode ser tentado, tetraciclinas orais ou intramusculares (oral melhor), por 45 dias. O tratamento controla a doença mas não a erradica.
Compartilhar