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Analgésicos Opióides - Opióide é o termo genérico utilizado para definir toda substância, natural ou sintética, cuja ação analgésica se dá através da interação com os receptores opióides (Mµ, Delta e Kappa) e pode ser antagonizada pela naloxona. - Os receptores específicos para opíodes existe devido a existência de opiódes endógenos (endorfina, dinorfina, encefalina). µ (mu) , δ (delta) e κ (kappa) – mais periféricos acoplados a proteína G. Características: o Alta afinidade com alcalóides opióides o Antagonista:naloxona. o Locais : Pele, articulações e músculos Corno posterior da medula espinhal Substância cinzenta periaquedutal Sistema límbico Hipotálamo Córtex cerebral o Outros locais não relacionados a dor: mm. Liso, mm. Intestinais, esfíncter anal, núcleo do trato solitário -> depressão respiratória. Classificação Segundo sua origem: - Alcalóides do ópio (codeína, morfina), - Opióides semi-sintéticos (buprenorfina) ou - Sintéticos (metadona). Segunda sua potência: Para tratamento de dores discretas a moderadas: opióides fracos. Possuem teto de analgesia: doses mais elevadas resultam em efeitos adversos Fosfato de codeína: 1/10 da potência analgésica da morfina. Ação depende da conversão em morfina. Efeitos colaterais: obstipante e emetizante. Tramadol: atua nos receptores opióides um fracamente. Aumenta a liberação de serotonina e inibe a receptação de noradrenalina e da serotonina, inibe a sensibilização dos receptores NMDA. Efeitos colaterais: espamogênico na musculatura lisa, efeito obstipante desprezível, causa menos náuseas que a codeína. Xerostomia, irritabilidade, cefaleia, náuseas, vômitos, tonturas, diaforese. Dextropropoxifeno: derivado sintético da metadona. Afinidade pelo receptor µ e exerce atividade inibitória no receptor NMDA. Apresenta potência analgésica e efeitos colaterais menos intensos que a codeína. Pouca probabilidade de causar dependência. Para tratamento de dores moderadas a intensas: opióides fortes. Agonistas Puros Morfina: muito utilizado para dor crônica. Metadona: É 5 a 10 vezes mais potente do que a morfina; Não apresenta metabólitos ativos; Intervalos cômodos de administração (8/8 h ou 12/12 h); Baixo custo; Antagonismo do receptor NMDA (potencial eficácia em dor neuropática); Baixo potencial para abuso; Menor incidência de efeitos adversos, com analgesia semelhante aos outros opióides. Oxicodona Meperidina: administração prolongada é tóxica ao SNC. Maior risco de depressão respiratória. Usada somente em dor crônica. Fentanil: potente agonista mu. 75 a 125 vezes mais potente que a morfina. Duraçãod e efeito curta. Permite administração cutânea. Sufentanila Alfentanila Agonistas Parciais Buprenorfina: agonista parcial mu, agonista delta, antagonista do receptor kappa. 30 vezes mais potente que a morfina. Dissociação lenta do receptores mu analgesia prolongada. Possibilidade de induzir dependência física. Agonistas-antagonistas Nalbufina: antagonista dos receptores mu. Pode reverter a depressão respiratória. Agonista dos receptores kappa o que lhe confere sedação e analgesia. Antagonistas Naloxona: potente antagonista competitivos opióides puro. Reverte o efeito dos opióides em elevadas concentrações. Usada para reverter os efeitos dos opióides. Constitui instrumento diagnóstico para dependência física -> síndrome de abstinência. Indicação e uso - Mais indicados para dor prolongada, em peso e contínua. - O tratamento deve ser iniciado com doses baixas, administradas a intervalos fixos e adaptadas a cada caso. A dose noturna deve ser duplicada. - Vias: oral, retal, sublingual, intramuscular, intravenosa, transdérmica, epidural, intratecal, intraventricular, intrapleural, intraperitoneal, intra-articular ou nos troncos nervosos. Mecanismo de Ação - Na substância cinzenta periaquedutal: ativa o sistema descendente inibitório da dor. - Nos núcleos da base e tronco encefálico: liberação de dopamina. - No sistema límbico: modifica as respostas emocionais à dor. - No córtex cerebral: modifica os processamentos cognitivos associados à dor. -No corno dorsal da medula: a morfina atua mimetizando as ações opióides endógenas. CDME tem alta densidade de interneurônios com encefalina e dinorfina. Receptores opióides nas aferências nociceptivas e nos dendritos dos neurônios pós-sinápticos do corno dorsal. Duas ações inibitórias o Inibição pós-sináptica produzida pelo aumento da condutância do K+ - hiperpolarização. o Inibição pré-sináptica da liberação de glutamato, substância P e outros neurotransmissores dos terminais pré-sinapticos dos neurônios sensitivos através da inibição dos canais de Ca dependente de voltagem. Resultado: dificuldade de propagar o estímulo doloroso. - Nos terminais periféricos (pele, articulações e músculos): quando em estados de inflamação ativação dos receptores opióides redução da liberação de neuropeptídios algiogênicos (substância P). - Na superfície de células imunes (que provavelmente também sintetizam opióides endógenos): regula a função de granulócitos e mononucleares. Efeitos colaterais - Tolerância: é definida como a necessidade de aumentar gradativamente a dose medicamentosa para se obter o mesmo efeito analgésico inicial. Tolerância não é um problema de significância maior na prática clínica, principalmente na população oncológica. Antagonistas dos receptores NMDA parecem minimizar o aparecimento deste fenômeno e têm sido utilizados em associação com os opióides. - Dependência física: caracteriza-se pelo aparecimento da síndrome de abstinência com a interrupção abrupta do opióide ou com a administração de um antagonista. Dependência física não constitui um problema clínico, na medida em que a dose do opióide pode ser gradativamente diminuída. - Dependência psicológica: seria o uso do opióide no sentido de experimentar o seu efeito euforizante em detrimento do alívio da dor. A prevalência é na realidade menor do que se supõe. Incidência maior na população com dor crônica benigna, principalmente naqueles pacientes com história prévia de fármaco-dependência. - Disfunção cognitiva: seria um outro motivo de preocupação com o uso de opióides por um período prolongado. Tem duração transitória. A literatura disponível é conflitante, com alguns trabalhos demonstrando esta disfunção e outros negando. - Depressão respiratória: redução dos centros respiratórios bulbares. Geralmente ocorre em pacientes que apresentam apneia do sono, doença pulmonar obstrutiva crônica, obesidade mórbida ou após cirurgias abdominais. - Sedação ou euforia: efeitos no SNC (sedação->depressão do snc). - Náuseas e vômitos: agem diretamente na zona quimiorreceptora do bulbo. -Constipação: ativação de receptores na musculatura lisa gastrointestinal que diminuem a sua motilidade. - Outros: depressão do centro da tosse, liberação de histamina, rigidez torácica, prurido, sonolência, boca seca. Objetivos 1) Caracterizar a dor da paciente quanto à temporalidade e à fisiopatologia. 2) Discutir as bases anátomo-fisiológicas e os mecanismos fisiopatológicos da dor (tipos de fibras, receptores, vias, modulação). 3) Discutir a relação dos anestésicos locais com os principais receptores da dor. 4) Explicar os fenômenos de hiperalgesia primária e secundária. 5) Explicar fisiologicamente o mecanismo do "wind up" pela ativação dos receptores NMDA levando à sensibilização central e à dor crônica. Classificação da dor • Quanto à temporalidade: Dor aguda: transitória, de minutos a algumas semanas. É associada a lesões em tecidos ou órgãos, ocasionadas por inflamação, infecção, traumatismo ou outras causas. Normalmente desaparece quando a causa é corretamente diagnosticada e tratada. Dor crônica: duração prolongada, de vários meses a vários anos; quase sempre associada a uma doença crônica.Pode ser também consequência de uma lesão já tratada. Exemplos: dor ocasionada pela artrite reumatóide (inflamação das articulações), dor do paciente com câncer, dor relacionada a esforços repetitivos durante o trabalho, dor nas costas e outras. Dor recorrente: apresenta períodos de curta duração que se repetem com frequência, podendo ocorrer durante toda a vida, mesmo sem estar associada a um processo específico. Um exemplo clássico é a enxaqueca. • Quanto à fisiopatologia: Dor nociceptiva: deve-se à ativação dos nociceptores e da transmissão, modulação e interpretação de seus impulsos. Dor neuropática: decorre de lesão, de qualquer tipo, inflingida ao sistema nervoso periférico ou central. Dor mista: decorre da mistura dos dois mecanismos Dor psicogênica: não há qualquer substrato orgânico para a dor, sendo ela de natureza puramente psíquica. • Quanto à normalidade (?): Dor fisiológica: um estímulo de baixa intensidade é interpretado como inócuo e não-doloroso (receptores de alto limiar). Dor fisiopatológica: alterações centrais e periféricas fazem que estímulos de baixa intensidade levem à dor facilmente devido ao rebaixamento do limiar de estímulo dos nociceptores (alodinia). Fisiopatologia da dor Funcionamento normal - divide-se em quatro fases: 1) Transdução: o estímulo doloroso é recebido pelos nociceptores e transduzido em potencial de ação. • Nociceptores: Tipo Aδ: utilizam fibras Aδ. Tipo I: respondem a estímulos mecânicos em condições normais. Podem responder a estímulos térmicos ou químicos de longa duração, ou quando estão sensibilizados. Tipo II: respondem a estímulos térmicos. Quando sensibilizados, podem responder também a estímulos químicos. Tipo C: utilizam as fibras C. Polimodais: respondem a estímulos mecânicos, térmicos e químicos. Mecano-insensíveis: respondem somente a estímulos térmicos e químicos Termonociceptores: somente estímulos térmicos Quimonociceptores: somente estímulos químicos Nociceptores silenciosos (10-20% das fibras C da pele, articulações e vísceras): não respondem a nenhum estímulo em condições normais. Quando são sensibilizados por mediadores químicos nos tecidos inflamados, passam a responder a diversos estímulos (especialmente químicos e mecânicos), podendo até tornar-se espontaneamente ativos. São especialmente importantes nas dores viscerais. • Mecanismos de transdução: três hipóteses Canais iônicos sensíveis à distensão: abrem-se e geram despolarização. Proteínas de membrana sensíveis a estímulos mecânicos: ativam sistemas de segundos mensageiros que influenciam o funcionamento de canais iônicos; baixando o limiar de ativação, aumentando seu tempo de abertura ou diminuindo o tempo de inativação. Estímulo mecânico de células não-neuronais: liberarão substâncias algogênicas que irão atuar sobre os nociceptores. 2) Condução: o impulso é conduzido ao corno posterior da medula espinhal. Em 70% dos casos, os estímulos chegam pelas raízes dorsais. Em 30%, pelas raízes ventrais, mas são dirigidos aos cornos posteriores. Lâminas de Rexed (de I a X): são divisões do corno posterior da medula espinhal. A mais importante é a lâmina II, onde há alta concentração de receptores opióides, alfa-adrenérgicos, gabaérgicos, serotoninérgicos, entre outros. Há um verdadeiro cross-talk entre esses receptores. Fibras A-delta: responsáveis pela “dor rápida ou epicrítica”, que trafega por vias oligossinápticas e informa a possível existência de lesão. Fazem sinapse preferencialmente nas lâminas I, II e V e X. Fibras C: responsáveis pela “dor lenta ou protopática”, que trafega por vias multissinápticas e informa sobre detalhes da lesão. Fazem sinapse preferencialmente nas lâminas I, II e V. Trato de Lissauer: trajeto realizado pelas fibras, que ascendem e descendem alguns segmentos da medula espinhal antes de fazer sinapses no corno posterior. • Tratos: Espinorreticular Espinomesencefálico Espinotalâmico: participam principalmente as fibras Aδ Via neoespinotalâmica: filogeneticamente mais recente, oligossináptica, rápida, responsável pela discriminação e localização da dor (somatotopia). Envolve uma cadeia de três neurônios: I – Corpo celular no gânglio da raiz dorsal II – Corpo celular no corno posterior da medula espinal III – Corpo celular no tálamo, em especial o núcleo ventral póstero-lateral (VPL). Daí os axônios chegam ao córtex somestésico. Via paleoespinotalâmica: mais lenta, multissináptica, filogeneticamente mais antiga, que faz conexões com a formação reticular e o sistema límbico (responsável pela resposta afetivo-motivacional à dor). Não tem somatotopia. Possui uma cadeia de quatro neurônios: I – Corpo celular no gânglio da raiz dorsal II – Corpo celular no corno posterior da medula III – Corpo celular na formação reticular IV – Corpo celular nos núcleos intralaminares do tálamo, que depois se projetam a diversas áreas do córtex. 3) Modulação espinhal: o impulso doloroso é modificado antes de ascender aos níveis superiores do sistema nervoso central. Pode sofre atenuação ou amplificação. Neurônios do corno posterior da medula: Neurônios nociceptivos específicos: são superficiais e de alto limiar Neurônios dinâmicos de amplo espectro: ficam nas lâminas mais profundas e respondem a estímulos nociceptivos e não-nociceptivos. Não sinalizam dor habitualmente. Se sensibilizados, porém, tornam-se hiperresponsivos, interpretando estímulos táteis não-dolorosos como dolorosos, gerando o fenômeno da alodinia. Hiperatividade simpática: pode ser gerada pela dor, em decorrência de uma ativação reflexa da coluna intermédio- lateral, determinando da resistência vascular periférica, da frequência cardíaca, da demanda de O2 pelo miocárdio. Aumento da tensão da musculatura esquelética: ocorre espasmo muscular reflexocompressão da microcirculação localconcentração de substâncias algiogênicas na periferiador 3.1) Modulação supra-espinhal: Ocorre decussação para os sítios supra-espinhais por tratos situados no quadrante ântero-lateral da medula espinhal. Sistema supressor de dor endógeno: ocorre modulação descendente por meio de tratos nervosos que fazem sinapse no corno posterior, oriundos de núcleos de níveis superiores (corno da substância periaquedutal cinzenta, locus coeruleus e núcleo magno da rafe). Abordagens terapêuticas nesse sistema: levam ao aumento de neurotransmissores e contribuem para analgesia. Acupuntura: noradrenalina, serotonina, beta- endorfinas no líquor. Drogas antidepressivas: inibem a recaptura de serotonina e noradrenalina. Teoria do portão da dor: as fibras grossas (Aβ) responsáveis pela mecanocepção estimulam interneurônios inibitórios que suprimem os sinais transmitidos pelas fibras finas (Aδ e C) no corno posterior da medula espinal. 4) Percepção: as projeções talamocorticais levam a informação dolorosa ao córtex, onde é percebida como informação final. Córtex somatossensorial primário (S1): dimensão sensório-discriminativa da dor. Córtex somatossensorial secundário (S2): intensidade da dor Córtex cingulado: dimensão afetivo-emocional da dor. Suas aferências derivam dos núcleos mediais e intralaminares do tálamo. Funcionamento patológico Dor nociceptiva: • Hiperalgesia primária: fenômeno que ocorre na zona da lesão, manifesta-se por dor espontânea e aumento da sensibilidade aos estímulos de qualquer tipo. Lesão tecidualprocesso inflamatório, levando à liberação de mediadores químicos de células lesadas, células do sistema imune, dos aferentes primários e de terminações nervosas simpáticasdiminuição no limiar de estímulo dos nociceptores . Alterações fenotípicas dos nociceptores: a inflamação tecidual gera aumento de receptores N1 da bradicinina, substância P, NO e glutamato nos nociceptores. Ativação dos nociceptores silenciosos:por mecanismo pouco claro relacionado à ação de substâncias algogênicas como as prostaglandinas e a bradicinina. Substâncias algogênicas: Exógenas ou irritantes: podem atuar sobre receptores específicos (em especial os receptores vaniloides) ou alterar as propriedades da membrana ou do metabolismo celular; gerando despolarização e potenciais de ação. Exemplos: capsaicina (pimenta) e formol. Endógenas: são várias substâncias (tabela) que geram sensibilização (redução do limiar de ação) ou excitação (rápida despolarização). Alguns dos mecanismos: Receptores ionotrópicos: sua ativação promove a abertura de canais iônicos e gera despolarização. Exemplos: glutamato, ATP, prótons. Receptores metabotrópicos: ativa enzimas (fosfolipase C, andeilciclase) que geram segundos mensageiros (AMPcíclico, diacilglicerol, trifosfato de inositol e Ca+2). Esses mensageiros modulam o funcionamento de canais iônicos ou receptores por meio da fosforilação com o uso de enzimas intracelulares. Fosfolipase C Serotonina, bradicinina e Substância P AdenilciclaseSerotonina e estímulos térmicos Sensibilização indireta: algumas citocinas (IL-1B, TNF-α) promovem a síntese de substâncias algogênicas. • Hiperalgesia secundária (Sensibilização central): mediada por glutamato e aspartato. Ocorre principalmente no corno posterior da medula*. * Há estudos que demonstram sensibilização em estruturas supra-espinhais, em especial o tálamo e o córtex. Também estão relacionadas com os receptores NMDA. Receptores Não-NMDA: são ativados no processamento da dor fisiológica. Receptores NK1 e mGluR1: produzem sensibilização central por meio da ativação indireta (2º mensageiro) dos receptores NMDA. Receptores N-metil-D-aspartato (NMDA): não são ativados habitualmente. Necessitam de estímulo doloroso mantido ou crônico. No estado de repouso, costumam estar bloqueados por um íon Mg+2. Estímulo doloroso crônico ou mantido: Liberação de glutamatoativação do NMDAinfluxo intracelular de Ca+2ativação da NO-sintaseliberação de NO (atua como um neurotransmissor volátil) Liberação de glutamato. trifosfato de inositol (IP3) Influxo de Ca+2 Substância PFofolipase C diacilglicerolAtivação da Fosfoquinase C (PKC) fosforilação dos receptores NMDA resistência ao bloqueio por Mg+2. Ativação dos receptores NMDAativação dos genes de expressão precoce (c-fos e c- jun)transcrição gênica proteínas nucleares fos e jun, consideradas marcadores da nocicepçãoLTP e amplificação (wind-up) da resposta neurônios mais sensíveis a impulsos nervosos ( seria um mecanismo molecular de memória?). • Relação com os anestésicos: Prevenção de hiperalgesia secundária: relacionada com os antagonistas de NK1 e de NMDA. Anestésicos locais: relacionados com o bloqueio de canais de sódio Analgesia local: relacionada com o bloqueio de receptores vaniloides. • Substâncias de ação anti-álgica: opióides produzidos pelo sistema imune, que atuam sobre receptores específicos (μ, δ e κ). Esses receptores são responsáveis pelo efeito analgésico da administração local de opióides. Modulação da dor • Opióides endógenos Modulam a dor de duas maneiras: ̵ Bloqueiam a liberação de neurotransmissores através da inibição do influxo de Ca+2 nos terminais pré-sinápticos ̵ Hiperpolarizam os neurônios por meio da abertura da canais de K+. Tipos: ̵ Encefalinas: ligam-se aos receptores δ. ̵ Β-endorfinas: ligam-se aos receptores μ. ̵ Dinorfinas: ligam-se aos receptores κ. • Teoria do portão da dor: Fibras Aβ (do tato) estimulam um interneurônio no corno posterior da medula espinhal que inibe o 2º neurônio da via da dor, impedindo a transmissão do sinal doloroso aos níveis corticais. • Sistema de modulação descendente: Substância cinzenta periaquedutal: recebe sinais do hipotálamo, córtex somatossensorial e amígdala. Estimula principalmente o núcleo magno da rafe. Núcleo magno da rafe serotonina Área ventral tegumental dopamina Locus coeruleus adrenalina/noradrenalina • Analgesia induzida pelo estresse: Estresseativação dos tratos descendentes dos núcleos da rafe e liberação de endorfinas hormonais pela glândula hipófise (β-endorfinas) e suprarrenais (semelhantes a encefalinas). • Níveis de modulação da dor: I – Nociceptor: modulado pela produção de β-endorfinas (receptores . Os analgésicos também diminuem a síntese de mediadores inflamatórios, dessensibilizando os receptores. II – Corno dorsal da medula espinhal: ̵ Produção de dinorfinas, encefalinas e β-endorfinas. ̵ Controle do portão da dor III – Sistema de ativação descendente (mesencéfalo): encefalinas e β-endorfinas. IV – Sistema hormonal (tálamo e sist. Límbico): ̵ Sistema límbico modulado por meio de opióides (encefalinas e endorfinas). ̵ Envolve a substância cinzenta periventricular no hipotálamo, a glândula hipófise e a suprarrenal. Liberação de ACTH (Cortisol) e β-endorfinas V – Nível cortical: inibição cortical da dor por encefalinas e influenciada por fatores culturais, entre outros. • Problema 2: 1) Discutir a fisiopatologia da dor nociceptiva visceral e sua relação com o sistema nervoso autônomo. 2) Explicar as bases anatômicas das dores viscerais referidas. 3) Discutir a função biológica da dor aguda como fenômeno de alerta e o significado do IAM silencioso no diabetes mellitus 4) Explicar a fisiopatologia da dor psicogênica. • Classificação da dor quanto ao tipo: Dor somática superficial: decorre da estimulação de nociceptores do tegumento. É bem localizada e apresenta qualidade bem distinta (picada, pontada, rasgando, queimadura). É proporcional à intensidade do estímulo. Dor somática profunda: dor nociceptiva consequente da ativação de nociceptores nos músculos, fáscias, ligamentos e articulações (sistema locomotor). É mais difusa que a somática superficial, de localização imprecisa, usualmente descrita como dolorimento, dor surda, profunda ou descrita como cãibra (no caso da contração muscular isquêmica) Intensidade proporcional à do estímulo. Pode manifestar-se como dor referida. Dor visceral: dor decorrente da ativação dos nociceptores viscerais. É difusa, de difícil localização e descrita como uma dor surda, vaga, contínua, profunda, tendendo a acentuar-se com a solicitação funcional do órgão acometido. Componentes da dor visceral: Dor visceral verdadeira: comprometimento da própria víscera. Tende a se localizar próximo ao órgão que a origina. Dor somática profunda: comprometimento do peritônio, pleura parietal ou raiz do mesentério. Dor referida: comprometimento do diafragma, nervo frênico, vesícula biliar (todos podem gerar dor no ombro) ou do reflexo viscerocutâneo. Dor irradiada: comprometimento da raiz nervosa ou nervo estimulado algicamente. Qualidades de dor visceral: Dolorida, surda vísceras maciças e processos não-obstrutivos das vísceras ocas Cólica processos obstrutivos das vísceras ocas Pontadas ou fincadas comprometimento da pleura parietal Constrictiva, em aperto isquemia miocárdica. Queimação, ardor comprometimento por HCl (úlcera duodenal). Fisiopatologia da dor nociceptiva visceral 1) Estímulo dos nociceptores viscerais: distensão, tração, contração espasmódica, isquemia e processos inflamatórios. 2) Transmissão do sinal doloroso: • Nervos autonômicos simpáticos: Cardíacos médio e inferior (T1 a T5): coração Esplâncnico maior, menor e médio, esplâncnicos lombares: Maior parte do trato gastrointestinal (T5 a L2): terço inferior do esôfago, estômago, fígado, vias biliares, pâncreas, intestino delgado, cólon ascendente e transverso. Maior parte do trato genitourinário (T10 a L2): lembrar que a bexiga e a uretra proximal recebem inervação simpática e parassimpática. • Nervos autonômicos parassimpáticos: Vago: inervação dolorosa dos 2/3superiores do esôfago e de todo o parênquima pulmonar (dor quase inexistente) Glossofaríngeo: terço posterior da língua e faringe Esplâncnicos pélvicos (S2, S3 e S4): cólon descendente, sigmoide, reto e boa parte da bexiga e uretra proximal. • Trajetos: Diferenças entre as vias viscerais e somáticas: Quanto à lateralização: as vias viscerais costumam ser bilaterais e não unilaterais, como as somáticas. Aferentes nociceptivos viscerais pélvicos: parecem cursar por uma via própria na profundidade do funículo posterior, próximo à linha mediana. 3) Percepção: • Pouca localização e qualificação da dor visceral - deve-se aos seguintes fatores: Vias viscerais costumam ser bilaterais Grande ramificação dos nervos viscerais – um mesmo nervo participa da inervação de diversas vísceras. Pequeno número de aferentes viscerais – compõem 10% das fibras da raiz dorsal Elevado número de fibras C (condução lenta) – há 1 fibra A para 10 fibras C. Chegada dos aferentes de uma única víscera a múltiplos segmentos medulares. • Fisiopatologia da dor visceral referida: Fibras somáticas: nociceptor (neurônio 1º)gânglio da raiz dorsalcorno posterior da medula (neurônio 2º)decussaçãotrato espinotalâmico lateralnúcleo central posterior do tálamo (neurônio 3º)córtex Fibras viscerais (vísceras e peritônio visceral): nociceptor (neurônio 1º)gânglios simpáticosraiz posterior (ramos comunicantes brancos)corno posterior da medula (neurônio 2º)decussação trato espinotalâmico lateralnúcleo central posterior do tálamo (neurônio 3º)córtex Dor visceral referida: fibras somáticas e viscerais carreiam impulsos a neurônios secundários comuns, originando percepção de dor em área que não coincide exatamente com aquela de origem dos estímulos. Problema 3 1) Caracterizar a dor de Pedro (obstrutiva aguda): tipo, local, duração, irradiação, sinais e sintomas associados, temporalidade, fisiopatologia e diagnóstico diferencial com outras dores da mesma região. 2) Mecanismo fisiopatológico da dor nociceptiva visceral por obstrução de víscera oca. 3) Bases anatômicas da dor irradiada. 4) Métodos objetivos e subjetivos de avaliação da dor aguda na criança e no adulto. 5) Mecanismo de ação dos AINES, indicações, contraindicações, reações adversas, dos seletivos e não seletivos (ver nomes principais). Cólica renal • Fisiopatologia Obstrução aguda do ureter: taxa de filtração glomerularProstaglandina (PGI2vasodilatação do córtex renal, PGE2Vasodilatação da medula renal e inibição do ADH)pressão luminal TromboxanoA2 (vasoconstritor)contr. musc. das paredes ureteraisprodução de ácido láticoirrita as fibras Aδ e C. pressão luminaldilatação das estrut. renaistaxa de filtração glomerular e isquemia do parênquima Ativação dos nociceptores: cápsula renaldor renal pelve renal e ureter proximaldor renoureteral Conexões dos plexos (sintomas): Plexo renal, mesentérico e celíaconáusea, vômitos, queda da peristalse intestinal Bases anatômicas da dor irradiada A dor se irradia para as áreas inervadas pelo segmento da medula que supre a região afetada. Métodos de avaliação da dor A dor é um processo multidimensional que envolve aspectos cognitivos, comportamentais e culturais. Sofre diversas influências. A avaliação é realizada por meio de anamnese e exame físico adequados, em conjunto possíveis exames laboratoriais. Escalas de dor: avaliam a intensidade dolorosa. Podem ser numéricas, escalas de categorias de expressões verbais, escalas analógicas visuais (ou quantitativas não numéricas), fisiológicas e a comportamentais. Anti-inflamatórios não esteroides • Vias de administração: Oral: quase todos estão disponíveis sob a forma de comprimido, cápsula, granulado, suspensão, solução (gotas) ou comprimido revestido. Sublingual: absorção rápida e boa aderência ao tratamento. Tópica e transdérmica: são úteis para dor musculoesquelética (tendinite, artrite, síndrome miofascial, bursite, etc.), sendo de fácil uso. Retal: usada para analgesia após operações pediátricas Intravenosa: promove analgesia rápida, sendo usada frequentemente para dor pós-operatória e outras causas de dor aguda. Venosa Regional: Articular: Muscular: dolorosa; devendo ser evitada. • Indicações: Alívio de dor leve ou moderada (aguda ou crônica) Alívio de dor intensa em associação com outros agentes ou técnicas Pouco utilizados em pacientes com dor neuropática • Locais de ação: Efeito central: Efeito periférico: • Mecanismo de ação: Funcionamento normal: Ácido araquidônico Cicloxigenase 1 (Cox-1)Prostanoides (prostaglandinas, leucotrienos e hidroxiácidos). Inflamação: produção de prostanoides pela cicloxigenase 2 (Cox-2). Bloqueio das Cox pelos AINEs: gera inibição da formação de prostaglandinas (principal efeito) e prostaciclinas. Inibição das funções dos neutrófilos: inibem sua ativação e reduzem a migração e quimiotaxia para o local da agressão, Interferência com as funções dos linfócitos Inibição da lipoxigenase • Ação central: Mecanismo pouco entendido. Relacionado ao bloqueio parcial de prostaglandina sintetase central, diminuindo a passagem da dor. Pode haver mecanismos associados a opióides, serotonina e NO. Pode envolver também a facilitação de vias inibitórias descendentes ou a inibição da inflamação periférica por meio de mecanismos centrais diferentes da inibição de prostaglandina. Dor neuropática: os anti-inflamatórios regulam genes imediatos e podem diminuir o c-Fos e a IL-kappa B (envolvida na ativação de citocinas IL-1, IL-6, IL-8, TNF-α, IFN-β). Módulo 301 – problema 03 Cólica Renal Caracterização da dor aguda por obstrução ureteral - O quadro clínico é de dor lombar em cólica, muito intensa, com irradiação ântero- inferior que pode atingir o hipogástrio ou os genitais. - Quando a interrupção ao fluxo urinário ocorre no terço distal, a cólica pode iniciar-se na fossa ilíaca ipsilateral e irradiar-se no sentido ântero-inferior e/ou póstero-superior, e provocar sintomas irritativos vesicais como disúria, polaciúria e sensação de resíduo pós- miccional. - Características marcantes: dor muito intensa sem fatores de melhora ou piora. - Intermitente, porém os ciclos de dor não respeitam um padrão de aparecimento, sendo geralmente inesperados. Sintomas e sinais associados - Hematúria microscópica ou macroscópica. - Náuseas e vômitos estão frequentemente associados aos episódios mais intensos de cólica nefrética. Decorrentes do reflexo viscero-visceral renointestina (inervação esplâncnica comum do intestino e da cápsula renal). - Palidez cutânea, sudorese e taquicardia. Fonte: http://www.uronline.unifesp.br/uronline/ed0999/colica.htm Fisiopatologia da cólica renal - Obstrução aguda elevação da pressão intraluminar da pelve, dos cálices e dos túbulos renais dilatação decréscimo da taxa de filtração glomerular e lesão dos complexos juncionais entre as células tubulares passagem de solutos urinários para o sangue. Para aumentar a taxa de filtração glomerular liberação de prostaciclinas e prostaglandinas pelo rim vasodilatação aumento do aporte sanguíneo nas primeiras horas. Depois de algumas horas: aumento da concentração de um dos mais potentes vasoconstritores conhecidos, o Tromboxano A2 intensa vasoconstrição renal isquemia do parênquima dor - Obstrução aumento da pressão distensão das paredes do sistema coletor estimulação dos terminais nervosos dor - Elevadas pressões intraluminares (dilatação das estruturas renais até a cápsula renal) + acentuada isquemia do parênquima (mais tardia) dor. Fonte: Guia prático de urologia Fisiopatologia da dor nociceptiva visceral de vísceras ocas -Estímulos inflamatórios, distensão, isquemia ou espasmos geram a ativação de nociceptores visceraisque em condição fisiológica estão silentes estímulo é levado pelas fibras tipo C que trafegam nos feixes nervosos autônomos - No gânglio espinhal da raiz dorsal: influências recíprocas (sistema simpático pode influenciar por meio de noradrenalina) fibras de dor ascendem pelos tratos: espinotalâmico, http://www.uronline.unifesp.br/uronline/ed0999/colica.htm espinoreticulotalâmica, espinomesencefálico sistema líbico e formação reticular-> contribuem para a resposta neurovegetativa. - As interações reciprocas entre fibras C e fibras do sistema autônomo levam às manifestações: vômito (estimulação dos centros medulares do vômito), sudorese, dentre outros sintomas autonômicos. - Vísceras ocas Espasmo e/ou distensão excessiva: estimulação mecânica dos nociceptores ou diminuição do fluxo sanguínea gerando isquemia. Bases anatômicas da dor irradiada - Sentida a distância de sua origem, porém necessariamente em estruturas inervadas pela mesma raiz nervosa ou nervo onde está ocorrendo o estímulo. - Dor sentida no trajeto do nervo a partir de uma irritação do mesmo. Território de irradiação pode ser predito pelo mapa dermatométrico. Avaliação da dor - Levar em consideração que a dor é um processo multidimensional que envolve aspectos sensitivos, cognitivos, comportamentais e culturais. Além disso, sofrendo influências diversas. - Tentativa de avaliar a dor que é algo subjetivo em algo objetivo e mensurável. -Anamnese completa e exame clínico são vitais e investigação laboratorial ou radiológica podem ser necessárias. Intensidade da Dor - Avaliada através de escalas. Escalas numéricas, escalas de categorias de expressões verbais, escalas analógicas visuais (ou quantitativas não numéricas), fisiológicas e as comportamentais. Crianças Escala de Avaliação Comportamental da Dor Faces, Pés, Atividade, Choro e Consolo - A variação em cada item é de zero a 2, sendo que os valores podem ser no mínimo zero e no máximo 10. Zero é considerado ausência de dor e 10: dor muito intensa - Quando a criança não pode falar ou compreender e utilizar o relato de dor nos instrumentos de mensuração da dor, o comportamento é a primeira forma de comunicação da sua dor. Escala de Dor Comportamental Observacional - Para crianças de 1 a 7 anos. - Comatório entre zero e 2: ausência de dor, 3 a 4: dor moderada e 5 a 6: dor intensa. Escala numérica - Quantifica a dor através de números. - Zero representa ausência de dor e 10 a pior dor possível. - Pode ser aplicada gráfica ou verbalmente. - Apresenta dificuldades de aplicação em pacientes com alterações cognitivas ou baixo nível educacional. - Limitação da necessidade do paciente ser capaz de abstrair para conseguir completá- lo. - Rápido e prático. Escala visual analógica - Consiste em uma linha reta, desenhada ou impressa, de tamanho determinado (10 cm), com os descritores verbais ausência de dor e a pior dor possível em cada uma de suas extremidades, respectivamente. - O paciente traça uma linha transversal no intervalo que melhor representa a intensidade da sua dor. - Observador mede a distância entre a marcação e o início da linha em cm. - Exige maior nível cognitivo do paciente, ela pode ser inadequada em pacientes com baixa escolaridade; com alterações cognitivas e/ou alterações visuais. - Necessidade de controle motor por marte do paciente. Escala Verbal - O paciente quantifica a sua experiência dolorosa utilizando descritores como ausência de dor, dor branda, dor moderada, dor intensa e dor insuportável. - Inadequada nos casos em que haja alterações cognitivas graves ou introspecção para entender as palavras. - Facilidade de aplicação. Escala de expressão facial -Consiste em seis desenhos de faces ordenados de forma crescente em nível de intensidade da dor ou angústia. - Solicita-se que o paciente escolha a face que melhor representa a sua dor atua - Pode ser utilizada em crianças a partir dos 3 anos de idade e em idosos com demência. -Limitação de aplicação em pacientes com comprometimento cognitivo grave. - É considerado um dos instrumentos mais fáceis de completar pelos pacientes como também é um dos seus preferidos. Escalas multidimensionais Questionário de Dor McGill - Avalia os aspectos sensoriais, afetivos e avaliativos refletidos na linguagem usada. - Avalia algumas dimensões da experiência dolorosa em quatro grandes grupos: os componentes sensitivos, discriminativos e tempoespaciais; os afetivos, emocionais, neurovegetativos e punitivos; os avaliativos da condição geral da dor e os do grupo miscelânea. -Descritores organizados em escalas ascendentes em pequenos subgrupos. - O índice de dor é obtido pela somatória dos valores dos descritores. Local - Representações gráficas. Antiinflamatórios não esteroidais Indicações - Alívio de dor leve ou moderada, aguda ou crônica. Para dor intensa associada a outras medidas terapêuticas. - Mais frequentes indicações: Dor aguda pós-operatória ou trauma Afecções viscerais (dismenorréia, cólica nefrética, etc.) Lesões tegumentares, musculares e articulares Afecções inflamatórias Cefaleia Dor oncológica - Pouco utilizadas em pacientes que apresentam dor neuropática Mecanismo de Ação - Os AINEs possuem efeito central e periférico. Produção das prostaglandinas, leucotrienos e hidroácidos - Normalmente produzidos pela COX-1. Durante a inflamação, grande quantidade de prostanóides é formada devido à indução de outra enzima, a cicloxigenase-2 (COX-2). - Na lesão tissular, a enzima fosfolipase provoca liberação de ácido aracdônico da membrana celular. O ácido aracdônico gera diversas substâncias: Mecanismo de ação - Os AINE bloqueiam a conversão do ácido aracdônico em prostaglandinas (principal mecanismo de ação) e prostaciclinas. Estão envolvidos no processo inflamatório e na sensibilidade das vias de transmissão da dor, central e periférica, catalisadas pela cicloxigenase (COX). - Em grandes concentrações inibem a síntese de leucotrienos. - Competem com as prostaglandinas (PG) pelo sítio receptor, reduzindo assim seu efeito. - Os AINEs inibem a liberação das PG induzida pelo pirogênio no hipotálamo. Este fenômeno, associado a vasodilatação, resulta na ação antipirética dos AINEs. - Mecanismos independentes da inibição da COX: Inibição da função de neutrófilos; Interferência com a função dos linfócitos; Inibição da lipoxigenase. - Efeitos diversos dos AINEs: Alteram a liberação, a captação e reduzem a concentração de ácidos graxos livres dos leucócitos; Inibem a formação de lipídeos corporais na membrana; Inibem a migração e a quimiotaxia de leucócitos, especialmente dos neutrófilos, para o local da agressão; Estabilizam as membranas lisossômicas; Antagonizam a bradicinina; Inibem a ativação de neutrófilos; Desacoplam a fosforilação oxidativa dos hepatócitos e das cartilagens; Inibem a síntese de mucopolissacarídeos e de superóxidos; Causam liberação de corticosteróides; Inibem radicais livres; Diminuem a formação de superóxidos pelos neutrófilos; Inibem a atividade da fosfolipase-C; Inibem a agregação de neutrófilos. Ação Central - Bloqueando o processamento da dor na medula espinhal. - Bloqueio parcial de prostaglandina sintetase central, diminuindo a passagem da dor. - O efeito central pode envolver mecanismos associados a opióide, serotonina e NO. - Pode envolver também a facilitação de vias inibitórias descendentes ou a inibição da inflamação periférica através de mecanismos centrais diferentes do bloqueio da PG. - Os antiinflamatórios regulam genes imediatos e podem diminuir o c-Fos e a IL-kappa B (envolvida na ativação de citocinas IL-1, IL-6, IL-8, fator alfa de necrose tumoral e interferon- beta). Inibidores da COX-2 - Desenvolvimento de inibidores seletivos da COX-2, presente nos processosinflamatórios, inibindo pouco a COX-1. - Exemplos: celecoxibe rofecoxib, eterocoxib e valdecoxib. - Melhor tolerabilidade gástrica. - A COX-1 também produz PG na inflamação os inibidores seletivos de COX-2 podem ser menos eficazes para alívio da dor. - COX-2 é importante para a homeostase e faz parte da função fisiológica em algumas situações, como contração uterina e funcionamento adequado dos rins. Efeitos colaterais - Podem causar retenção de líquido, insuficiência renal ou hipertensão arterial. - Efeitos deletérios sobre o encéfalo. Efeitos colaterais Alterações gastrointestinais - Decorrente de inibição da COX-1, expressa na mucosa GI, prostaglandinas contribuem para secreção de muco e bicarbonato. - Podem diminuir diretamente a superfície da barreira hidrofóbica da mucosa, devido à capacidade de se ligar aos fosfolípides e os antiinflamatórios sistêmicos secretados na bile podem provocar úlcera e sangramento, devido a essa interação. - Os mecanismos envolvidos são: 1. Alteração (lesão de células epiteliais) da barreira da mucosa para íons hidrogênio, modificando a diferença de potencial negativo transmembrana. A barreira impede a entrada de H+ da luz para a mucosa. 2. Bloqueio da produção de PG que possuem efeito protetor contra a lesão. 3. Diminuição da formação de muco, que é estimulada por PG. 4. Diminuição da secreção de bicarbonato, que é estimulada por PG. 5. Diminuição de ATP pelo antiinflamatório; a mucosa, especialmente do fundo gástrico, depende de glicólise aeróbica. 6. Problemas na recuperação celular; a regeneração do epitélio após lesão necessita de 24 horas e, com lesão constante, não consegue se recuperar. - Lesões: úlcera, erosão, hemorragia e perfuração gástrica e duodenal. Alterações renais - Efeitos deletérios na função renal, especialmente na homeostase e manutenção da perfusão e filtração glomerular. - Diminuição do fluxo sangüíneo renal (dependente de PG) e retenção de sódio. - Pode haver alteração do clearance de creatinina de maneira súbita ou lenta. -A regulação do FSR através das PG é clinicamente significante em paciente com insuficiência cardíaca (IC), insuficiência renal (IR) ou doença hepática, mas não no indivíduo normal. Alterações hepáticas - Os antiinflamatórios podem provocar lesão colestática com alterações de transaminases, GGT e bilirrubinas. Alterações hematológicas - Alteração da adesividade plaquetária, por inibição da COX, com diminuição da produção de tromboxano-A2 das plaquetas, podendo aumentar o tempo de sangramento. O paracetamol, a dipirona e os inibidores da COX-2 não inibem a adesividade plaquetária. - As complicações hematológicas são raras, porém graves. Podem ocorrer anemia hemolítica, agranulocitose, trombocitopenia e anemia aplástica. O risco de anemia aplástica é maior com exposição prolongada. Alterações dermatológicas - O segundo lugar em frequência e ocasionalmente são graves, como a necrose epidérmica tóxica, porém geralmente são leves (prurido ou erupção cutânea). Reações alérgicas e de hipersensibilidade - A inibição seletiva da via da cicloxigenaseprovoca desvio da via metabólica para a via da lipoxigenase, com aumento de LTC4, LTD4e LTE4, substâncias que provocam alergia, ativando as células imunológicas. Alterações diversas - Efeitos colaterais comuns: náusea, vômito, tontura, sedação, moleza, ansiedade, dispepsia, indigestão e boca seca. - Podem causar: palpitação, arritmia, taquicardia, edema, anemia aplástica, leucopenia, anemia hemolítica, agranulocitose, prurido, urticária, fotodermatite e hiperemia cutânea. Problema 4 1. Caracterizar a dor da Sra. Márcia e explicar as alterações estruturais na coluna vertebral relacionadas a possíveis causas de dor lombar. 2. Explicar os mecanismos fisiopatológicos da dor nociceptiva inflamatória aguda dando ênfase à participação das cininas e interleucinas na gênese e modulação da dor. 3. Discutir os fatores de risco associados e o mecanismo fisiopatológico da cronificação da dor (Wind up) 4. Diferenciar dor aguda e dor crônica. 5. Descrever quais os corticoides utilizados na prática clínica, discutir os mecanismos de ação dos corticoides, suas indicações como anti-inflamatório e seus efeitos colaterais. 6. Discutir a situação de prescrição medicamentosa por profissional não médico e automedicação. Dor lombar • Possíveis causas: Disco intervertebral: degeneração discal (a partir dos 20 anos), resultado principalmente de fatores traumáticos e genéticos. O traumatismo agudo ou crônico repetitivo causa inicialmente fissuras no ânulo fibroso, induzindo a uma resposta inflamatória e dor. Há presença de Fosfolipase A2, óxido nítrico e prostaglandina E no disco (substratos que geram inflamação). Núcleo pulposo: o núcleo doloroso tem pH ácido, enquanto o núcleo degenerado indolor é levemente alcalino ou neutro. A acidez possivelmente estimula os nociceptores existentes na periferia do ânulo. Facetas articulares: parecem ser o segundo local mais frequente de dor lombar. As cápsulas e membranas sinoviais dessas articulações recebem inervação dolorosa. Hipertrofia sinovial ou capsular, formação de tecidos cicatriciais, desgaste articular facetário e esclerose do osso adjacente são geradores potenciais de inflamação e dor. Essas alterações também podem estreitar o canal vertebral e o forâmen intervertebral, resultando em uma compressão nervosa (estenose de canal ou foraminal). Deslizamento de vértebras: pode ser gerado devido à progressão da degeneração na coluna lombar, sendo mais comum em L4-L5 e L3-L4. Músculos lombares: na hiperatividade do sistema nervoso simpático (por exemplo, na ansiedade crônica), os fusos musculares entram em espasmos, podendo resultar em tensão muscular e aparecimento de nódulos que desencadeiam dor ao serem estimulados. Em pessoas com distúrbio emocionais, são comuns dores musculares de múltiplas localizações e nódulos reativos. Articulação sacroilíaca: a dor dessa articulação é frequentemente associada com a insuficiência dos ligamentos sacroilíacos anteriores. Fatores metabólicos: podem acelerar a degeneração dos tecidos e reduzir o limiar de lesão para o aparecimento da dor. Diabetes mellitus: a degeneração discal é mais rápida, há pior nutrição do disco e maior incidência de espondilolistese. A neuropatia diabética pode simular uma radiculopatia compressiva. Fatores psicossociais: pouco compreendidos. Acredita-se que em estados crônicos de dor, o SNC cria um circuito padrão gerador que mantém a dor mesmo na ausência de um estímulo ativo. A persistência desse circuito parece ser amplamente influenciada pelas emoções. Há associação de dor crônica com depressão, insatisfação no trabalho, raiva, frustração e alcoolismo. Alterações extrínsecas: podem manifestar-se como dor referida. Relacionam-se a doenças gastrointestinais, gênito-urinárias ou vasculares. Dor e citocinas • Neuromediadores inflamatórios no sistema nervoso periférico: Prostaglandina e bradicinina: ativam segundos mensageiros que causam redução do limiar de disparo da fibra nervosa Neurotrofinas: aumentam a síntese de substância P e do peptídeo relacionado ao gene da calcitonina (CGRP) nas fibras C. Reduzem a atividade do ácido gama-aminobutírico (GABA), tanto nas terminações nervosas quanto nas centrais (o que gera despolarização). • Sensibilização central: Sensibilização sináptica clássica: gerada pela liberação de aminoácidos excitatórios (aspartato e glutamato), de peptídeos (substância P e CGRP) e de neurotrofinas (NGF, BDNF) no corno dorsal da medula espinhal. Outros efeitos: os segundos mensageiros gerados pelas substâncias inflamatórias ativam outros fatores transcricionais; em especial o NF-κB, que regula os genes das cicloxigenases tipo 2, óxido nítrico sintetase, prostaglandina-sintetase-2, IL-6, IL-1β, dinorfina, moléculas de adesão vascular e intercelular. Wind up: a estimulação crônica gera remoção do bloqueio voltagem-dependente exercido pelo Mg+2 nos receptores NMDA, gerando influxo de cálcio e aumento da resposta à dor. Potenciação de longo termo: estímulos repetidos geram alterações citoplasmáticas, gerando resposta sináptica prolongada e excitatória. • Citocinas: TNF: tem a capacidade de iniciar a cascata de ativação de outras citocinas e de fatores tróficos. Corticosteroides O principal glicocorticoide é o cortisol (hidrocortisona). • Regulação: Hormônio liberador de corticotropina (CRH) – HipotálamoHormônio adrenocorticotrófico (ACTH) - HipófiseCortisol (córtex da suprarrenal)Feedback negativo com hipotálamo Outros fatores que interferem na produção de Cortisol: Hormônio anti-diurético (ADH), ocitocina, catecolaminas, estados de febre, hipoglicemia, estresse, alteração do ciclo vigília-sonopodem alterar o ritmo circadiano da secreção de ACTH Situações de ansiedade, de cirurgia, de dor excessiva, infecções, traumatismos graves, hipovolemia e choque aumento na liberação de CRH e ACTH, com aumento 15 a 20 vezes os valores basais de cortisol (nesses casos o mecanismo de feedback não é efetivo). Secreção cíclica de cortisol: Indivíduos que dormem à noite: pico às 8h e mínima liberação entre as 18 e 24h. Indivíduos que dormem durante o dia e trabalham durante a noite: pico entre 18 e 24h. • Tipos de glicocorticoides: Ação curta: cortisona e hidrocortisona suprimem o ACTH por 8 a 12h. Ação intermediária: prednisona, prednisolona, metilprednisolona e triancinolona suprimem o ACTH por 12 a 36 horas. Ação longa: dexametasona e betametasonasupressão do ACTH por 36 a 72h • Mecanismo de ação dos glicocorticoides: Atuam praticamente sobre todos os órgãos e tecidos. Ligam-se a receptores específicos e atuam como fatores de transcrição. Transativação: induzem a síntese de proteínas anti-inflamatórias e de proteínas que atuam no metabolismo sistêmico (por exemplo, para gliconeogênese). É responsável pela maioria dos efeitos adversos. Transrepressão: ocorre interação proteica entre os glicocorticoides e outros fatores de transcrição, como a proteína ativadora 1 (AP-1) e o fator nuclear kB (NF-kB), por interação proteína-proteína e promovem efeito inibitório de suas funções. Por essa via, a síntese de proteínas pró-inflamatórias, como as IL-6 e IL-2, TNF-α e prostaglandinas é reduzida. É responsável pela maioria dos efeitos clínicos procurados (anti-inflamatório e imunossupressor). • Efeitos anti-inflamatórios e imunossupressores: Suprime a resposta imune celular e levemente a resposta imune humoral; Suprime a produção de mediadores pró-inflamatórios – TNFα, IL – 1, IL – 12, IFN γ, prostaglandinas e leucotrienos; Diminui a produção fibroblástica de fosfolipase A2, cicloxigenase – 2, prostaglandinas e metaloproteinases. • Efeitos adversos: • Problema 5 1. Classificar e definir a dor de Sofia. 2. Discutir a fisiopatologia da dor neuropática periférica (principalmente no D.M. e principais neuropatias periféricas – metabólicas, tóxicas e infecciosas 3. Explicar o mecanismo fisiopatológico da alodínia e da hiperalgesia na neuropatia diabética. 4. Definir o termo analgésico adjuvante e citar as principais classes de medicamentos usadas para esse fim. 5. Explicar o mecanismo de ação dos anticonvulsivantes e sua indicação no tratamento da dor neuropática 6. Discutir o impacto da polineuropatia diabética sobre o cotidiano de seus portadores. Dor neuropática Dor que resulta de lesão ou disfunção do sistema nervoso periférico ou central. • Principais causas de dor neuropática: Lesões traumáticas de: nervos periféricos nervos cranianos raízes dorsais medula espinal certas regiões do encéfalo (vias sensitivas, núcleos sensitivos, tálamo, córtex sensitivo) Neuropatias periféricas dolorosas: Localizadas: síndromes compressivas (entrapment e neoplasias) dor complexa regional (distrofia simpaticorreflexa, causalgia) membro fantasma e dor de coto de amputação neuralgia pós-herpética mononeuropatia diabética neuropatia isquêmica poliarterite nodosa pós-radioterapia Difusas (polineuropatias e mononeurites múltiplas): diabética alcoólica amiloidose AIDS hipotireoidismo neuropatias sensitivas hereditárias doença de Fabry deficiência de vitamina do complexo B neuropatias tóxicas auto-imunes vasculites paraneoplásica • Doenças medulares: esclerose múltipla lesões isquêmicas mielopatias infecciosas e degenerativas siringomielia compressões (tumores, degeneração discal) Doenças encefálicas: siringobulbia acidente vascular encefálico esclerose múltipla doença de Parkinson Dor neuropática periférica: Dor que resulta de lesão ou disfunção do sistema nervoso periférico. • Dor por lesão do sistema nervoso periférico: Lesão aos nervos periféricos: Ativação de macrófagos: secreção de citocinas e mediadores inflamatórios: interleucinas, fator de necrose tumoral (TNF), interferon (IFN), fator de crescimento transformante β. Células de Schwann: secreção de fatores de crescimento para regeneração nervosa Fator de crescimento nervoso – GNF: aumenta a síntese, transporte e o conteúdo neuronal de peptídeos algiogênicos (subst. P e peptídeo relacionado ao gene da calcitonina) nas terminações nervosas centrais e periféricas. Sensibilização das fibras C: resultante do somatório dos fatores citados Hiperalgesia: resposta a estímulos térmicos e mecânicos inócuosdor geralmente em queimação. Pode haver alodínia mecânica e térmica. Sensibilização das fibras grossas: Parestesias: aparecem sem a dependência de estímulos. • Mecanismos fisiopatológicos: Impulsos ectópicos: aparecem após a lesão da fibra nervosa, ocorrendo aumento do número de canais de íons (especialmente canais de sódio dependentes de voltagem - VDNC). O acúmulo de canais pode gerar potenciais de ação espontâneos (impulsos ectópicos). Lesão total da fibra nervosa: faz com que o pedaço distal degenere e o pedaço proximal (que contém o corpo celular) prolifere. A proliferação do corpo celular vai gerar uma massa pouco organizada de fibras nervosas (neuroma) onde há acúmulo de receptores e canais iônicos, com destaque para os VDNC. O acúmulo de canais torna o neuroma sensível a estímulos externos e ao sistema nervoso simpático (devido ao acúmulo de receptores adrenérgicos alfa-2). Lesão parcial da fibra nervosa: em condições normais, os VDNC se acumulam nas intersecções entre as bainhas de mielina (nódulos de Ranvier) para aumentar a velocidade do impulso nervoso. A lesão parcial das fibras provoca desmielinização dos neurônios sensitivos, gerando acumulação dos VDNC nas zonas desmielinizadas, que podem tornar-se fonte de impulsos ectópicos. Interações efáticas entre as fibras nervosas: a lesão das fibras leva a uma desorganização histológica que gera interações entre elas (como se elas se aproximassem demais), de modo que as alterações na concentração de sódio e potássio que ocorrem devido à passagem do potencial de ação geram despolarização das fibras vizinhas e podem desencadear potenciais de ação nelas. Esse mecanismo explica como um estímulo inócuo pode ser percebido como doloroso (alodinia). Interações não-efáticas entre as fibras nervosas: a ativação sincrônica e rítmica de um grande número de fibras (devido à presença de um foco de impulsos ectópicos, por exemplo), leva à ativação das fibras vizinhas por meios desconhecidos. Sensibilização dos nociceptores: pode ocorrer devido ao de NGF (fator de crescimento neuronal). O NGF é secretado normalmente por fibroblastos e células de Schwann, sendo necessário à sobrevida dos nociceptores. O aumento excessivo dele ocorre em lesões inflamatórias e nos casos em que as fibrassensitivas degeneradas deixam de absorver NGF, gerando um aumento relativo de sua concentração. Sistema nervoso simpático: os neuromas são sensíveis ao sistema nervoso simpático devido à alta concentração de receptores adrenérgicos alfa-2. Além disso, recebem abundante enervação de fibras simpáticas pós-ganglionares, tornando-se sensíveis à atividade do sistema nervoso simpático e às aminas circulantes (catecolaminas). Inflamação dos troncos nervosos: ocorre quando o processo inflamatório local leva à produção de substâncias algogênicas pelos macrófagos e células de Schwann. Essas substâncias podem ativar os nervi nervorum (nervos que enervam os troncos nervosos), provocando uma dor referida ao tronco nervoso ou provocar o aparecimento de impulsos ectópicos, gerando uma dor referida ao território enervado. É bastante observado em nevralgias pós-herpéticas. Sensibilização Central • Alterações no corno posterior da medula espinhal: Aumento dos campos receptivos e veiculação de estímulos inócuos ao corno posterior - devido aos seguintes fatores: Desorganização sináptica Brotamento das fibras Aβ (grossas) Formação de sinapses das fibras Aβ com as fibras C Redução da expressão de receptores opióides nos axônios e de receptores μ no gânglio sensitivo Aumento de receptores de CGRP e substância P Aumento da atividade do glutamato nos receptores NMDA e redução do GABA Fenômeno do Wind up nas fibras C. Hipoatividade das unidades inibitórias segmentares e do sistema supressor suprassegmentar dependente de monoaminas. Dor neuropática por lesão central: • Lesão medular: ocorre dor neuropática em 60-70% dos casos, sendo intensa em um terço. A dor é atribuída à hiperatividade neuronal segmentar e a uma modificação do padrão de chegada dos estímulos sensitivos ao tálamo. Lesão transversal da medula: ocorre expansão dos campos receptivos e hiperatividade dos neurônios justapostos aos segmentos lesados do corno posterior. Lesão das vias inibitórias descendentes: estimulam ainda mais o corno posterior. • Lesão encefálica: relacionada às lesões das vias inibitórias descendentes e ao comprometimento da via espino-tálamo-cortical. Sintomas: são muito variados. Disestesias (em queimação contínua ou não, em aperto) caracterizadas por um retardo do aparecimento após o estímulo ser aplicado, diferentemente das lesões periféricas, quando a resposta é imediata. Fisiopatologia: a região ventral posterior do tálamo é a disfunção mais importante, mesmo quando a lesão é extratalâmica. Pode haver modificações nos canais de sódio talâmicos. Desaferentação: parece exercer o papel mais importante na gênese da dor encefálica. A dor central encefálica seria um produto do desequilíbrio entre a atividade glutamatérgica no núcleo ventral posterior do tálamo e as unidades gabaérgicas intratalâmicas e corticotalâmicas. Tratamento da dor neuropática O tratamento da dor neuropática costuma ser difícil e muitas vezes desapontador. Além de medicamentos, podem se requerer medidas neurocirúrgicas, bloqueios anestésicos, infusão regional de simpaticolíticos, infiltrações, neuroestimulação com eletrodos e infusões intratecais de drogas, não esquecendo as terapias fisiátricas, psicológicas e ocupacionais que ajudem o paciente a conviver com a dor e ter recuperação funcional. AINES praticamente não funcionam. As principais drogas usadas na prática clínica são os antidepressivos tricíclicos e os bloqueadores dos canais de sódio (dos quais diversos são anticonvulsivantes). • Anticonvulsivantes (bloqueadores dos canais de sódio): Principais drogas: difenil-hidantoína, carbamazepina, oxcarbazepina, lamotrigina, gabapentina, topiramato, clonazepam, zonisamida e pregabalina. • Medicamentos analgésicos adjuvantes: são geralmente administrados por outras razões que não a dor. Entretanto, em determinadas circunstâncias, eles podem aliviar a dor. Por exemplo, alguns antidepressivos também são analgésicos inespecíficos e são utilizados no tratamento de muitos tipos de dor crônica, incluindo a lombalgia, as cefaléias e a dor neuropática. Os medicamentos anticonvulsivantes (p.ex., carbamazepina) e os anestésicos locais orais (p.ex., mexiletina) são utilizados no tratamento da dor neuropática. Muitos outros medicamentos são analgésicos adjuvantes e o médico pode sugerir tentativas com medicamentos diferentes para os indivíduos que apresentam uma dor crônica de difícil controle. Neuropatia diabética dolorosa Patogênese • Metabólica: Mio-inositol: A hiperglicemia pode reduzir a receptação de mio-inositol no nervo diabético; o que comprometeria a função da Na/K+ ATPase, resultando em alteração da condução nervosa e consequente lesão mielino-axonal. Metabolismo do poliol: A hiperglicemia ativa a enzima aldose-redutase, convertendo glicose em poliol, sorbitol e frutose. O sorbitol se acumula no nervo, gerando hipertonicidade e acúmulo de água. O acúmulo de sorbitol e frutose aumentaria a distância entre os capilares, produzindo hipóxia neural e estresse oxidativo. Tudo isso resultaria em redução da velocidade de condução nervosa. • Vascular: Comprometimento da microcirculação: espessamento da membrana basal e estreitamento do lúmen capilar degeneração das células endoteliaisisquemia neuronal. • Inflamatória: Ocorre reação inflamatória na parede vascularredução do lúmen capilarisquemia neuronaldor intensa. • Aspectos psicossociais O principal problema é a depressão devido às dores altamente incapacitantes, impedindo as pessoas de realizar tarefas cotidianas. Além disso, vivem reclamando de dor, o que incomoda as outras pessoas e gera reclusão. Há distúrbios do sono devido à dor. A depressão potencializa a dor e se agrava devido à irreversibilidade do quadro. • Problema 6 1. Discutir a fisiopatologia da neuralgia herpética aguda e da neuralgia pós-herpética. 2. Conhecer o quadro clínico da infecção pelo herpes-zoster e a via das infecções agudas. 3. Conhecer o mecanismo de ação analgésica dos antidepressivos tricíclicos, dos opióides e seus efeitos colaterais. 4. Discutir os possíveis fatores de risco para o desenvolvimento da neuralgia pós-herpética e sua prevenção. Herpes zoster Neuralgia herpética aguda Fase aguda da doença. • Fisiopatologia Infecção inicial por varicela zoster vírus penetra no sistema nervoso e fica latente por anos. Reativação viral: desencadeada por depressão do sistema imune (gerada por vários motivos). Ganglionite local propagação da infecção do nervo por todo o trajeto até a pele Erupção vesicular: restrita a 1-3 dermátomos. Corno dorsal: há invasão para o corno dorsal da medula espinhal produzindo monorradiculoneurite. ̵ Há lesão neural e edema local secundário à resposta inflamatória fluxo sanguíneo endoneuralagravamento da lesão nervosa. ̵ Estimulação simpática: a dor aumenta os impulsos simpáticos, que, devido à lesão neuronal do CPME, geram dor devido à estimulação patológica do neurônio sensitivo primário. Outros desdobramentos: a infecção ainda pode avançar pelo SNC levando à inflamação das leptomeninges e dos cornos anteriores e posteriores da medula ipsilateral, podendo avançar para o lado contralateral. Infecção no SNC parece ser comum, mas subclínica. Neuralgia pós-herpética Ocorre cerca de 30 dias após o surgimento das erupções cutâneas. • Fisiopatologia Aumento da sensação álgica – gerada por: ̵ Atividade simpática: estimulada pela dor na fase aguda. Em condições normais, age separadamente do neurônio aferente primário. ̵ Inflamação no corno dorsal: gera lesão nervosa e da sensibilidade. Permite que a atividade simpática aumente a atividade do neurônio aferente primário. ̵ Brotamento das fibras Aβ: ocorre durante a inflamação do CPME, numa tentativa de reparo da lesão. Geram sinapses anormais com as vias de condução do estímuloálgico Alodínia. Sensibilização periférica e central Dor Quadro Clínico • Neuralgia herpética aguda: Dor: ̵ Pode ser associada ou não a parestesia e disestesia no dermátomo acometido. ̵ Intensidade variável, podendo ir de parestesia leve e sensação de dormência até dor intensa (mais comum). ̵ Em queimação, lancinante ou contínua. A mais comum é a dor aguda, lancinante e em fisgada. Erupções cutâneas: ̵ Surgem 1-5 dias após o início da dor. ̵ Regridem em 7 dias e cicatrizam após um mês; podendo resultar em pigmentação e cicatriz local permanentes. Transmissão viral: ocorre tanto por meio da secreção das vesículas como pela saliva enquanto houver lesões vesiculares. Situações raras: ̵ Déficit motor: as disestesias e parestesias se explicam pela invasão viral do CPME. Pode haver paralisia motora devido à extensão da doença para áreas motoras da medula ou encéfalo. ̵ Zoster sine herpete: há a dor característica do herpes zoster sem lesão evidente. É evidenciada pelo aumento de anticorpos contra o vírus. Pode ser mais grave que os quadros usuais, afetando níveis diferentes do sistema nervoso. • Neuralgia pós-herpética: Dor: caráter crônico, insistente e extremamente incômoda, contínua e espontânea, com episódios passíveis de exacerbação. Pode ser espontânea e contínua. Os paroxismos são intensos e lancinantes. A dor em queimação é a mais comum. ̵ Alodínia: Estática: o simples tocar na pele desencadeia dor. Dinâmica: um movimento suave, como o de um pincel, desencadeia dor. Hipoestesia ou anestesia regional: possuem graus variáveis e usualmente se associam à alodínia. Comprometem 1-3 dermátomos. Outros sintomas: hiperestesia, disestesia, parestesia e prurido. Diagnóstico Nos dois casos, o diagnóstico é clínico. O herpes sine herpete pode dificultá-lo. Nesses casos, pode-se fazer detecção no líquido cefalorraquidiano e dosagem de anticorpos para Vírus Varicela Zoster. Epidemiologia Neuralgia pós-herpética: ocorre em 10-15% dos indivíduos. Fatores de risco: ̵ Idade avançada ̵ Cor branca ̵ Estresse psicológico ̵ Trauma físico ̵ Dor intensa na fase aguda ̵ Rash cutâneo exuberante. ̵ A ausência de alodinia na fase inicial da doença é sinal de bom prognóstico. ̵ Sítio envolvido: o Menor risco: mandíbula, pescoço, região sacral ou lombar; o Risco moderado: região torácica o Alto risco: acometimento trigeminal, especialmente ramo oftálmico. Tratamento ̵ Antivirais: aceleram a cicatrização do rash cutâneo e reduzem a dor aguda e a frequência de neuralgia pós-herpética. Não são 100% eficazes. ̵ Analgésicos simples: controle da dor aguda. ̵ Antidepressivos tricíclicos: são eficazes. Principais: amitriptilina, nortriptilina, imipramina, desipramina, maprotilina. ̵ Anticonvulsivantes: são eficazes. Principais: fenitoína, lamotrignina, topiramato, pregabalina, gabapentina, carbamazepina, oxcarbamazepina. • Problema 7 1) Caracterizar a dor de Guilherme (dor espontânea em todo o lado paralisado de intensidade moderada, contínua, persistente, semelhante a choques elétricos e que não cede com analgésicos). 2) Descrever a fisiopatologia e o quadro clínico em pacientes com dor central por lesão talâmica. 3) Entender o mecanismo fisiopatológico da alodínia e hiperalgesia decorrentes de lesão central. 4) Discutir o mecanismo de ação dos antidepressivos e anticonvulsivantes e sua indicação no tratamento da dor neuropática central. 5) Discutir os fatores relacionados com a percepção da dor e o tratamento multidisciplinar. Dor neuropática central Definida como dor em consequência direta a uma lesão ou doença que afeta o sistema nervoso central somatossensorial. Dor por lesão medular Ocorre em 60-70% dos indivíduos, com dor intensa em um terço deles. Dor em queimação é mais comum em pacientes com lesão medular. • Fisiopatologia: Hiperatividade segmentar: após a lesão, ocorre modificação no padrão de chegada de estímulos sensitivos ao tálamo. Gerada pelos seguintes fatores: ̵ Lesão das vias inibitórias descendentes ̵ Expansão dos campos receptivos: ocorre especialmente na leão transversal da medula. Alterações a nível talâmico: da atividade neuronal que representa as áreas deaferentadas no núcleo ventral posterior, envolvendo excitação por glutamato, aspartato e ativação de receptores NMDA. Dor por lesão encefálica A causa mais comum é a dor pós-AVE, desenvolvendo-se em 8% dos pacientes; sendo moderada a intensa em 5% deles. Os sintomas aparecem após 1-2 meses após a lesão, mas também podem levar anos. • Fisiopatologia: ocorre um erro no reparo da lesão (neuroplasticidade). Comprometimento do tálamo (região ventral posterior): é o fato mais importante. Ocorre mesmo quando a lesão é extratalâmica. ̵ Sensibilização: realizada por glutamato e ativação de receptores NMDA Wind up. ̵ Canais de Na+: possivelmente devido ao Wind up. Desinibição da via paleoespinotalâmica: gerada pela lesão da via neoespinotalâmica (aceitar). Possíveis alterações que gerariam alodínia e hiperalgesia (não vi em fontes): ̵ Comprometimento (desaferentação) do sistema supressor endógeno ̵ Alterações dos campos receptivos e sensibilização do tálamo • Quadro clínico: não há nenhum sintoma patognomônico. Principais sintomas: ̵ Disestesia espontânea (85%) ̵ Dor de intensidade entre 3-6. Piora com estresse ou frio e melhora com descanso ou distração. ̵ Dor espontânea: descrita como queimação, dolorimento, formigamento, aperto e “congelamento”. ̵ Dor intermitente: descrita como lancinante ou em pontadas. ̵ Dores em áreas maiores são mais frequentes. Dor no hemicorpo é mais comum em pacientes com lesão talâmica. ̵ Achado chave: combinação entre hiperatividade e hipoatividade sensorial na área dolorosa. • Tratamento: baseado na tentativa e erro. É de difícil controle. A dosagem é limitada pelos efeitos colaterais e a resposta ao tratamento é moderada na maioria dos casos. Antidepressivos: agem na dor central por mecanismos pouco claros. Envolvem bloqueio do NMDA, ativação do sistema opióide endógeno, e efeito antiinflamatório periférico e central. ̵ Tricíclicos: são considerados primeira linha para dor neuropática. ̵ Seletivos: menos eficientes. Utilizados como segunda escolha. Anticonvulsivantes: reduzem a hiperexcitabilidade neuronal. Possuem eficácia bem documentada. Opióides: aliviam a dor neuropática, mas são considerados segunda escolha. Terapia de neuroestimulação: consiste em estimulação cerebral profunda e estimulação magnética transcraniana. Agem por mecanismos desconhecidos. Necessitam de várias sessões para aumentar a efetividade. Taxa de sucesso de 45-50% em um ano. Não há recomendação de tratamento preventivo. • Problema 8 1) Conhecer o quadro clínico da cefaleia entendendo quais são as cefaleias 1ªs e 2ªs. 2) Discutir a fisiopatologia, quadro clínico, diagnóstico, tratamento e profilaxia da enxaqueca. 3) Explicar a importância dos fatores desencadeantes e de medidas preventivas no controle da enxaqueca. 4) Discutir o mecanismo de ação dos triptanos e suas indicações no tratamento da enxaqueca. O caso de Lúcia (problema): sintomas visuais, caracterizados por pontos de luminosidade intermitente que duravam cerca de 5min, seguidos de dor de cabeça periorbital, leve, progredindo para forte intensidade, de localização unilateral (regiões frontal ou temporal), caráter pulsátil, associado a náuseas e fotofobia, que termina de forma gradual após 4 a 72h. Não melhora com AINES. Há história na família. O médico prescreveu um triptano. Cefaleias Cefaleia primária: ̵ Crônica, de apresentação episódica ou contínua e de natureza disfuncional, o que significa a não participação de processos estruturais na etiologia da dor. ̵ Sem etiologia demonstrável pelos exames clínicos e laboratoriais usuais. ̵ Exemplos: migrânea, cefaleia do tipo tensional e em salvas. • Migrânea: Sem aura:̵ Cefaleia recorrente, manifestando-se em crises de 4 a 72h de duração. ̵ Localização unilateral, caráter pulsátil, intensidade moderada ou forte, exacerbação por atividade física rotineira e associação com náusea ou fotofobia e fonofobia. Com aura: ̵ Aura: transtorno recorrente que se manifesta na forma de crises de sintomas neurológicos focais reversíveis, que se desenvolvem geralmente entre 5 e 20min e duram menos de 60min. É sucedida por uma cefaleia com as mesmas características descritas na migrânea sem aura. Menos comum: a aura pode ser sucedida por uma cefaleia sem as características de migrânea ou pode não haver cefaleia alguma. ̵ Aura típica com cefaleia migranosa: consiste em sintomas visuais, sensitivos ou da fala. Possui evolução gradual, duração menor do que uma hora e reversibilidade completa, além de associar-se a uma cefaleia que preenche os critérios para migrânea sem aura. ̵ Aura típica com cefaleia não-migranosa: associa-se a uma cefaleia que não preenche os critérios para migrânea sem aura. ̵ Aura típica sem cefaleia: a crise se resume à aura, com ausência da fase álgica. É chamada enxaqueca sine enxaqueca. ̵ Migrânea hemiplégica familiar: migrânea com aura que inclui paresia e pelo menos um parente de primeiro ou segundo grau apresentando aura migranosa que inclui paresia. ̵ Migrânea hemiplégica esporádica: apresenta os mesmos sintomas da migrânea hemiplégica familiar, mas sem parentes de primeiro ou segundo grau envolvidos. ̵ Migrânea do tipo basilar: sintomas de aura claramente originados do tronco encefálico e/ou em ambos os hemisférios cerebrais simultaneamente, mas sem nenhuma paresia. Sintomas: disartria, vertigem, zumbido, hipoacusia, diplopia, sintomas visuais ocorrendo simultaneamente nos campos temporal e nasal dos dois olhos, ataxia, diminuição do nível de consciência, parestesias bilaterais simultâneas. ̵ Migrânea retiniana: crises recorrentes de distúrbio visual monocular, incluindo cintilações, escotomas ou amaurose, associado à cefaleia da migrânea. Ocorre cefaleia que preenche os critérios de migrânea sem aura que se inicia durante os sintomas visuais ou até 60min depois. • Cefaleia do tipo tensional: Cefaleia do tipo tensional episódica infrequente: episódios infrequentes de cefaleia durando de minutos a dias. A dor é tipicamente bilateral, com caráter em pressão ou aperto, de intensidade fraca a moderada e não piora com atividade rotineira. Não há náusea, mas fotofobia e fonofobia podem estar presentes. ̵ Associada a dolorimento pericraniano: ocorre aumento da sensibilidade pericraniana à palpação manual. ̵ Não associada a dolorimento pericraniano Cefaleia do tipo tensional episódica frequente: episódios frequentes de cefaleia com as mesmas características da infrequente. ̵ Associada a dolorimento pericraniano ̵ Não associada a dolorimento pericraniano Cefaleia em salvas: crises de dor forte, estritamente unilateral, na região orbital, supraorbital, temporal ou em qualquer combinação dessas áreas, durando de 15-180min e ocorrendo desde uma vez a cada dois dias, até 8x ao dia. As crises se associam a um ou mais dos seguintes aspectos (todos ipsilaterais à dor): hiperemia conjuntival, lacrimejamento, congestão nasal, rinorreia, sudorese na fronte e na face, miose, ptose, edema palpebral. Durante as crises, a maioria dos pacientes fica inquieta ou agitada. ̵ Cefaleia em salvas episódica ̵ Cefaleia em salvas crônica Hemicrania paroxística: crises similares às da cefaleia em salvas quanto à dor e os sintomas e sinais associados, porém mais frequentes e de duração mais curta. Ocorrem mais comumente em mulheres e respondem de maneira absoluta à indometacina. ̵ Hemicrania paroxística episódica ̵ Hemicrania paroxística crônica: cefaleia breve, unilateral, de curta duração, neuralgiforme, com hiperemia conjuntival e lacrimejamento ipsilaterais. É muito mais breve do que qualquer outra cefaleia trigêminoautonômica. Cefaleia secundária: ̵ São provocadas por doenças demonstráveis pelos exames clínicos ou laboratoriais. A dor seria uma consequência de uma agressão ao organismo, de ordem geral ou neurológica. ̵ Exemplos: cefaleias associadas às infecções sistêmicas, disfunções endócrinas, intoxicações, hemorragia cerebral, meningites, encefalites ou lesões expansivas do SNC. Enxaqueca (migrânea) Reação neurovascular anormal em um organismo geneticamente vulnerável, que se exterioriza por episódios recorrentes de cefaleia e manifestações associadas que geralmente dependem de fatores desencadeantes. Dois fatores fundamentais: o endógeno (genético) e o exógeno (ambiental), cuja conjugação é fundamental para o desencadeamento da crise. • Epidemiologia: ̵ É a segunda cefaleia primária mais comum. ̵ Pico de prevalência nos adultos de 25-55 anos. ̵ Antes dos 12 anos de idade, é mais comum nos meninos. A partir da adolescência, ocorre preponderância feminina. ̵ A caracterização genética é imprecisa. É provável que a herança seja multifatorial. • Fisiopatologia Depressão alastrante: ocorre com os fatores desencadeantes (problemas emocionais, cansaço, estresse). ̵ Depressão da atividade elétrica cerebral: inicialmente ocorre uma onda de excitação e depois inibição neuronal. ̵ Gera alterações no meio extracelular, resultantes da liberação de potássio, óxido nítrico e glutamato pela despolarização neuronal. ̵ Aura: ocorre devido a uma hipoperfusão alastrante (queda do fluxo sanguíneo cerebral), superior ao limiar da isquemia. Visual: inicia-se no polo occipital e avança para as outras regiões. Não relacionada a fenômenos visuais: inicia-se primariamente no lobo frontal. Ativação do sistema trigeminovascular: principal sistema nociceptivo cefálico, constituído pelo trigêmeo e pelas terminações nervosas meníngeas e perivasculares intracranianas. ̵ Depressão alastrante gera: Expressão de c-fos ativação do sistema trigeminovascular. Liberação de íons H+, K+, NO e ácido araquidônico no espaço extracelular despolarização das terminações perivasculares do trigêmeo. Ativação metabólica do tronco cerebral: integra estruturas que participam da transmissão e modulação da dorponto gerador das crisesafeta diretamente o núcleo do trigêmeo. ̵ Estimulação do núcleo caudal do trigêmeo: são ricos em moléculas nociceptivas (subst. P, neurocinina A, e peptídeo relacionado com o gene da calcitonina [CGRP]). Estimulação do complexo trigêmino-espinhal cascata de fenômenos neuroquímicos perivasculares. Estimulação do núcleo caudal do trigêmeocondução nervosa antidrómica das fibras do trigêmeoLiberação de CGRP e subst. P nas terminações sensitivas (fibras C) perivasculares. Dor: sensibilização das terminações nervosas meníngeas e perivasculares intracranianas. • Quadro clínico: Fatores desencadeantes (principais): ̵ Problemas emocionais (ansiedade ou depressão); ̵ Modificação do ciclo vigília-sono (excesso ou privação do sono); ̵ Cansaço, ̵ Estresse, ̵ Excesso de atividade física, ̵ Alterações hormonais, ̵ Jejum prolongado, ̵ Alimentos: gordurosos, leite e derivados, temperos condimentados, chocolate, laranja, banana, abacate, refrigerantes, bebidas alcoólicas, falta ou excesso de café, ̵ Exposição a odores fortes e penetrantes; ̵ Exposição a estímulos luminosos intensos e/ou intermitentes. Fases clínicas – variam intensamente, mas podem ser divididas em quatro fases: ̵ Sintomas Premonitórios: são descritos pelos pacientes como surgindo horas a dias antes das crises: anorexia, dificuldade de concentração, irritabilidade, bocejos repetidos, alterações do humor, apetite ou sono e distúrbios do sistema digestório. ̵ Aura: sintomas oriundos do sistema nervoso central, com duração de 5-20min (máximo de 1h), podendo anteceder a dor, acompanhá-la ou surgir como manifestação isolada da crise. Sintomas visuais: o Fosfenos – pontos de luminosidade intermitente; o Escotomas
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