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Prof.ª. Dr.ª Maria Raquel Caetano Nome da disciplina: Aspectos históricos e emancipatórios da educação Estudo do Pensamento Histórico-filosófico na Educação 02 TEXTO BASE 02 Aspectos históricos e emancipatórios da educação 2 INTRODUÇÃO Como diz Maria Lucia Aranha (2006,p.6), “somos seres históricos, já que nossas ações e pensamentos mudam no tempo, à medida que enfrentamos os problemas não só da vida pessoal, como também da experiência coletiva”. É assim que produzimos a nós mesmos e a cultura a que pertencemos. Pensar o passado, porém, não é um exercício de saudosismo, curiosidade ou erudição: o passado não está morto, porque nele se fundam as raízes do presente. Para compreender os fundamentos histórico-filosóficos da educação, é fundamental resgatar a história e o pensamento dos homens ao longo do tempo, reconstituirmos a ação dos homens e dos fatos relevantes que são variados ao longo do tempo. Compreender como os homens pensam através dos períodos históricos ampliam a nossa compreensão de mundo e, por isso, pode nos instrumentalizar na existência prática e cotidiana nas diversas atividades exercidas. São esses fundamentos que nos permitem ter acesso a algumas reflexões que se voltam para a realidade com a qual convivemos, na qual estamos inseridos e por que somos responsáveis pela mudança ou permanência da educação. Assim, os pressupostos histórico-filosóficos da Educação, se tornam ainda mais significativos para os profissionais, propiciando-lhes reflexões sobre que homem pretende formar. Nossa proposta é apresentar o pensamento filosófico na história com o objetivo de auxiliar na compreensão sobre a concepção de conhecimento, homem e mundo nos principais períodos do pensamento filosófico. A última parte do material faz uma reflexão sobre a influência do pensamento histórico-filosófico na ciência. Apresentamos ao longo do texto questões para reflexão, vídeo e sugestões de leitura que fazem parte da construção do conhecimento TEXTO BASE 02 Aspectos históricos e emancipatórios da educação 3 sobre o tema. No final do texto, há uma atividade avaliativa que deve ser apresentada no AVA/moodle. 1.Considerações Iniciais1 Como todas as outras criações e instituições humanas, a Filosofia está na História e tem uma história. Está na História: a Filosofia manifesta e exprime os problemas e as questões que, em cada época de uma sociedade, os homens colocam para si mesmos, diante do que é novo e ainda não foi compreendido. A Filosofia procura enfrentar essa novidade, oferecendo caminhos, respostas e, sobretudo, propondo novas perguntas, num diálogo permanente com a sociedade e a cultura de seu tempo, do qual ela faz parte. Tem uma história: as respostas, as soluções e as novas perguntas que os filósofos de uma época oferecem tornam-se saberes adquiridos que outros filósofos prosseguem ou, frequentemente, tornam- se novos problemas que outros filósofos tentam resolver, seja aproveitando o passado filosófico, seja criticando-o e refutando-o. Além disso, as transformações nos modos de conhecer podem ampliar os campos de investigação da Filosofia, fazendo surgir novas disciplinas filosóficas, como também podem diminuir esses campos, porque alguns de seus conhecimentos podem desligar-se dela e formar disciplinas separadas. Assim, por exemplo, a Filosofia teve seu campo de atividade aumentado quando, no século XVIII, surge a filosofia da arte ou estética; 1 O presente texto está baseado no Livro ‘Convite a Filosofia’ de Marilena Chauí. Esta obra é de livre acesso. TEXTO BASE 02 Aspectos históricos e emancipatórios da educação 4 no século XIX, a filosofia da história; no século XX, a filosofia das ciências ou epistemologia, e a filosofia da linguagem. Pelo fato de estar na História e ter uma história, a Filosofia costuma ser apresentada em grandes períodos que acompanham, às vezes de maneira mais próxima, às vezes de maneira mais distante, os períodos em que os historiadores dividem a História da sociedade e do pensamento filosófico. 2. Os principais períodos do pensamento filosófico 2.1. Pensamento filosófico antigo (do século VI a.C. ao século VI d.C.) Compreende os quatro grandes períodos da Filosofia greco-romana, indo dos pré-socráticos aos grandes sistemas do período helenístico. Deste período, abordaremos os principais filósofos que se destacaram: Sócrates (469–399 a.C.) Não deixou nada escrito, os relatos sobre seu trabalho partem de seus discípulos. Em praça pública Sócrates conversava com jovens independentemente de sua classe socioeconômica onde indicava a importante tarefa de unir o fazer com o saber. “Conheça-te a ti mesmo” frase que revelava a preocupação com o autoconhecimento e preocupação do mesmo com a busca da essência do homem. Através do diálogo chegava-se a dois momentos: a ironia que significava a interrogação dos argumentos colocados e a maiêutica que é o momento que livre de seus orgulhos os sujeitos concebem seu conhecimento próprio. A ironia que Sócrates utiliza é justamente o que aponta aos sujeitos, que os mesmos deveriam cuidar a arrogância com que utilizavam seus saberes, lembrando então que a maior virtude do sábio é admitir que é ignorante, por isso a frase “Sei que nada sei”. A maiêutica TEXTO BASE 02 Aspectos históricos e emancipatórios da educação 5 como seu próprio significado diz “arte de trazer a luz” possibilitaria aos sujeitos à construção das ideias, livre de pretensões. Considerado o marco da Filosofia e fundador da filosofia moral, Sócrates serve para a divisão da mesma como pré e pós-socrática, podemos perceber quão valioso foi este pensador que buscou dentro do amor pela sabedoria o desenvolvimento dos valores morais. Por não distinguir a quem levaria seus ensinamentos, Sócrates foi condenado a beber o veneno de cicuta por ser uma ameaça social e um corruptor de jovens, além ser injusto com os deuses de sua cidade. Sócrates morreu sem renunciar seus princípios morais. Platão (427–347 a.C.) foi discípulo de Sócrates e fundador da primeira Academia, uma escola filosófica que foi uma das primeiras escolas de Ensino Superior do ocidente. Platão diferentemente dos demais filósofos coloca que o conhecimento é desenvolvido da transição do mundo das sombras para o mundo das ideias (mito da caverna). Mito da Caverna: baseado em um mito para explicar como se desenvolve o conhecimento, Platão coloca que vivemos em um mundo das sombras, prisioneiros de uma caverna assistindo as ilusões dos reflexos do mundo real nas paredes da caverna. Se o homem tivesse contato com a luminosidade do real ficaria livre de todas as ilusões AGORA RESPONDA: Como podemos interpretar o mito e relacioná-lo com o conhecimento e a educação? O pensamento platônico aponta que a evolução do conhecimento é justamente de trazer para fora o conhecimento intrínseco do homem. Para Platão, o ser eterno e universal habita o mundo racional, da essência e da realidade pura. Para chegar ao conhecimento verdadeiro este coloca TEXTO BASE 02 Aspectos históricos e emancipatórios da educação 6 a dialética como caminho. A dialética colocaria as impressões do mundo sensível em discussão para enfim possibilitar o acesso ao mundo das ideias, ou seja, ao pensamento racional. Quando Platão morreu, o pensador mais indicado para substituí- lo na Academia foi Aristóteles (384–322 a.C.) Pai da ciência moderna Aristóteles desenvolveu a lógica como forma de favorecer o raciocínio. Baseado no mundo real, Aristóteles utilizou em seus pensamentos dois elementos a matéria e a forma. Aranha (2006)aponta que o realismo aristotélico explica o devir (ou movimento). Todo ser tende a atualizar a forma que tem em si como potência, a atingir a perfeição que lhe é própria e o fim a que se destina aqui neste trecho de Aranha vemos os dois conceitos aristotélicos que é o ato, ou seja, o homem em seu estado atual e a potência que é aquilo que o homem tem a possibilidade de ser, ou seja, o devir. 2.2. Pensamento filosófico patrístico (do século I ao século VII) Inicia-se com as Epístolas de São Paulo e o Evangelho de São João e termina no século VIII, quando teve início a Filosofia medieval. A patrística resultou do esforço feito pelos dois apóstolos intelectuais (Paulo e João) e pelos primeiros Padres da Igreja para conciliar a nova religião – o Cristianismo - com o pensamento filosófico dos gregos e romanos, pois somente com tal conciliação seria possível convencer os pagãos da nova verdade e convertê-los a ela. A Filosofia patrística liga- se, portanto, à tarefa religiosa da evangelização e à defesa da religião cristã contra os ataques teóricos e morais que recebia dos antigos. Divide-se em patrística grega (ligada à Igreja de Bizâncio) e patrística latina (ligada à Igreja de Roma) e seus nomes mais importantes foram: Justino, Santo Ambrósio, São Gregório Nazianzo, São João Crisóstomo, Isidoro de Sevilha, Santo Agostinho, Beda e Boécio. TEXTO BASE 02 Aspectos históricos e emancipatórios da educação 7 A patrística foi obrigada a introduzir ideias desconhecidas para os filósofos greco-romanos: a ideia de criação do mundo, de pecado original, de Deus como trindade una, de encarnação e morte de Deus, de juízo final ou de fim dos tempos e ressurreição dos mortos, etc. Precisou também explicar como o mal pode existir no mundo, já que tudo foi criado por Deus, que é pura perfeição e bondade. Introduziu, sobretudo com Santo Agostinho e Boécio, a ideia de “homem interior”, isto é, da consciência moral e do livre-arbítrio, pelo qual o homem se torna responsável pela existência do mal no mundo. Para impor as ideias cristãs, os Padres da Igreja as transformaram em verdades reveladas por Deus (através da Bíblia e dos santos) que, por serem decretos divinos, seriam dogmas, isto é, irrefutáveis e inquestionáveis. Com isso, surge uma distinção, desconhecida pelos antigos, entre verdades reveladas ou da fé e verdades da razão ou humanas, isto é, entre verdades sobrenaturais e verdades naturais, as primeiras introduzindo a noção de conhecimento recebido por uma graça divina, superior ao simples conhecimento racional. Dessa forma, o grande tema de toda a Filosofia patrística é o da possibilidade de conciliar razão e fé, e, a esse respeito, havia três posições principais: 1. Os que julgavam fé e razão irreconciliáveis e a fé superior à razão (diziam eles: “Creio porque absurdo”). 2. Os que julgavam fé e razão conciliáveis, mas subordinavam a razão à fé (diziam eles: “Creio para compreender”). 3. Os que julgavam razão e fé irreconciliáveis, mas afirmavam que cada uma delas tem seu campo próprio de conhecimento e não devem misturar-se (a razão se refere a tudo o que concerne à vida temporal dos homens no mundo; a fé, a tudo o que se refere à salvação da alma e à vida eterna futura). TEXTO BASE 02 Aspectos históricos e emancipatórios da educação 8 2.3. Pensamento filosófico medieval (do século VIII ao século XIV) Abrange pensadores europeus, árabes e judeus. É o período em que a Igreja Romana dominava a Europa, ungia e coroava reis, organizava cruzadas à Terra Santa e criava, à volta das catedrais, as primeiras universidades ou escolas. E, a partir do século XII, por ter sido ensinada nas escolas, a Filosofia medieval também é conhecida com o nome de Escolástica. A Filosofia medieval teve como influências principais Platão e Aristóteles. A Filosofia medieval além de Platão e Aristóteles, sofreu uma grande influência das ideias de Santo Agostinho. Durante esse período surge propriamente a Filosofia cristã, que é, na verdade, a teologia. Um de seus temas mais constantes são as provas da existência de Deus e da alma, isto é, demonstrações racionais da existência do infinito criador e do espírito humano imortal. A diferença e separação entre infinito (Deus) e finito (homem, mundo), a diferença entre razão e fé (a primeira deve subordinar-se à segunda), a diferença e separação entre corpo (matéria) e alma (espírito), O Universo como uma hierarquia de seres, onde os superiores dominam e governam os inferiores (Deus, arcanjos, anjos, alma, corpo, animais, vegetais, minerais), a subordinação do poder temporal dos reis e barões ao poder espiritual de papas e bispos: eis os grandes temas da Filosofia medieval. Outra característica marcante da Escolástica foi o método por ela inventado para expor as ideias filosóficas, conhecida como disputa: apresentava-se uma tese e esta devia ser ou refutada ou defendida por argumentos tirados da Bíblia, de Aristóteles, de Platão ou de outros Padres da Igreja. Assim, uma ideia era considerada uma tese verdadeira ou falsa dependendo da força e da qualidade dos argumentos encontrados nos vários autores. Por causa desse método de disputa - TEXTO BASE 02 Aspectos históricos e emancipatórios da educação 9 teses, refutações, defesas, respostas, conclusões baseadas em escritos de outros autores -, costuma-se dizer que, na Idade Média, o pensamento estava subordinado ao princípio da autoridade, isto é, uma ideia é considerada verdadeira se for baseada nos argumentos de uma autoridade reconhecida (Bíblia, Platão, Aristóteles, um papa, um santo). Os teólogos medievais mais importantes foram: Santo Anselmo, Santo Tomás de Aquino, Santo Alberto Magno, Guilherme de Ockham, Roger Bacon, São Boaventura. Do lado árabe: Avicena, Averróis, Alfarabi e Algazáli. Do lado judaico: Maimônides, Nahmanides, Yeudah bem Levi. 2.4. Pensamento filosófico da Renascença (do século XIV ao século XVI) É marcada pela descoberta de obras de Platão desconhecidas na Idade Média, de novas obras de Aristóteles, bem como pela recuperação das obras dos grandes autores e artistas gregos e romanos. São três as grandes linhas de pensamento que predominavam na Renascença: 1. Aquela proveniente de Platão, nela se destacava a ideia da Natureza como um grande ser vivo; o homem faz parte da Natureza como um microcosmo (como espelho do Universo inteiro) e pode agir sobre ela através da magia natural, da alquimia e da astrologia, pois o mundo é constituído por vínculos e ligações secretas (a simpatia) entre as coisas; o homem pode, também, conhecer esses vínculos e criar outros, como um deus. 2. Aquela originária dos pensadores florentinos, que valorizava a vida ativa, isto é, a política, e defendia os ideais republicanos das cidades italianas contra o Império Romano-Germânico, isto é, contra o poderio dos papas e dos imperadores. Na defesa do ideal republicano, os escritores resgataram autores políticos da Antiguidade, historiadores e juristas, e propuseram a “imitação dos TEXTO BASE 02 Aspectos históricos e emancipatórios da educação 10 antigos” ou o renascimento da liberdade política, anterior ao surgimento do império eclesiástico. 3. Aquela que propunha o ideal do homem como artífice de seu próprio destino, tanto através dos conhecimentos (astrologia, magia, alquimia), quanto através da política (o ideal republicano), das técnicas (medicina, arquitetura, engenharia, navegação) e das artes (pintura, escultura, literatura, teatro). A efervescência teórica e prática foi alimentada com as grandes descobertas marítimas, que garantiam ao homem o conhecimento de novos mares, novos céus, novas terras e novas gentes,permitindo-lhe ter uma visão crítica de sua própria sociedade. Essa efervescência cultural e política levou a críticas profundas à Igreja Romana, culminando na Reforma Protestante, baseada na ideia de liberdade de crença e de pensamento. À Reforma, a Igreja respondeu com a Contrarreforma e com o recrudescimento do poder da Inquisição. Os nomes mais importantes desse período são: Dante, Giordano Bruno, Maquiavel, Montaigne, Erasmo, Tomás Morus, Jean Bodin, Kepler e Nicolau de Cusa. 2.5. Pensamento filosófico moderno (do século XVII a meados do século XVIII) Empirismo e Iluminismo Após o Renascimento e o surgimento da ciência moderna, as preocupações filosóficas passaram a indagar como se dará o processo do conhecimento. O empirismo, ao contrário do racionalismo, acredita que dependemos sim das experiências sensíveis. Surgido na Inglaterra o empirismo é resultante de toda a situação pela qual a burguesia passava (fim do absolutismo monárquico). Na epistemologia, surgiu o empirismo TEXTO BASE 02 Aspectos históricos e emancipatórios da educação 11 e, na parte política, nascia o liberalismo. Alguns autores de destaque do empirismo que podemos citar são: Bacon, Locke, Berkeley, Hobbes e Hume. Esse período é marcado por três grandes mudanças intelectuais: 1. Aquela conhecida como o “surgimento do sujeito do conhecimento”, isto é, a Filosofia, em lugar de começar seu trabalho conhecendo a Natureza e Deus, para depois referir-se ao homem, começa indagando qual é a capacidade do intelecto humano para conhecer e demonstrar a verdade dos conhecimentos. Em outras palavras, a Filosofia começa pela reflexão, isto é, pela volta do pensamento sobre si mesmo para conhecer sua capacidade de conhecer. O ponto de partida é o sujeito do conhecimento como consciência de si reflexiva, isto é, como consciência que conhece sua capacidade de conhecer. O sujeito do conhecimento é um intelecto no interior de uma alma, cuja natureza ou substância é completamente diferente da natureza ou substância de seu corpo e dos demais corpos exteriores. Por isso, a segunda pergunta da Filosofia, depois de respondida a pergunta sobre a capacidade de conhecer, é: Como o espírito ou intelecto pode conhecer o que é diferente dele? Como pode conhecer os corpos da Natureza? 2. A resposta à pergunta acima constituiu a segunda grande mudança intelectual dos modernos, e essa mudança diz respeito ao objeto do conhecimento. Para os modernos, as coisas exteriores (a Natureza, a vida social e política) podem ser conhecidas desde que sejam consideradas representações, ou seja, ideias ou conceitos formulados pelo sujeito do conhecimento. Isso significa, por um lado, que tudo o que pode ser conhecido deve poder ser transformado num conceito ou numa ideia clara e distinta, TEXTO BASE 02 Aspectos históricos e emancipatórios da educação 12 demonstrável e necessária, formulada pelo intelecto; e, por outro lado, que a Natureza e a sociedade ou política podem ser inteiramente conhecidas pelo sujeito, porque elas são inteligíveis em si mesmas, isto é, são racionais em si mesmas e propensas a serem representadas pelas ideias do sujeito do conhecimento. 3. Essa concepção da realidade como intrinsecamente racional e que pode ser plenamente captada pelas ideias e conceitos preparou a terceira grande mudança intelectual moderna. A realidade, a partir de Galileu, é concebida como um sistema racional de mecanismos físicos, cuja estrutura profunda e invisível é matemática. O “livro do mundo”, diz Galileu, “está escrito em caracteres matemáticos.” A realidade, concebida como sistema racional de mecanismos físico matemáticos, deu origem à ciência clássica, isto é, à mecânica, por meio da qual são descritos, explicados e interpretados todos os fatos da realidade: astronomia, física, química, psicologia, política, artes são disciplinas cujo conhecimento é de tipo mecânico, ou seja, de relações necessárias de causa e efeito entre um agente e um paciente. A realidade é um sistema de causalidades racionais rigorosas que podem ser conhecidas e transformadas pelo homem. Nasce a ideia de experimentação e de tecnologia (conhecimento teórico que orienta as intervenções práticas) e o ideal de que o homem poderá dominar tecnicamente a Natureza e a sociedade. Predomina, assim, nesse período, a ideia de conquista científica e técnica de toda a realidade, a partir da explicação mecânica e matemática do Universo e da invenção das máquinas, graças às experiências físicas e químicas. Existe também a convicção de que a razão humana é capaz de conhecer a origem, as causas e os efeitos das paixões e das emoções e, TEXTO BASE 02 Aspectos históricos e emancipatórios da educação 13 pela vontade orientada pelo intelecto, é capaz de governá-las e dominá- las, de sorte que a vida ética pode ser plenamente racional. A mesma convicção orienta o racionalismo político, isto é, a ideia de que a razão é capaz de definir para cada sociedade qual o melhor regime político e como mantê-lo racionalmente. Nunca mais, na história da Filosofia, haverá igual confiança nas capacidades e nos poderes da razão humana como houve no Grande Racionalismo Clássico. Os principais pensadores desse período foram: Francis Bacon, Descartes, Galileu, Pascal, Hobbes, Espinosa, Leibniz, Malebranche, Locke, Berkeley, Newton, Gassendi. 2.6. Pensamento filosófico da Ilustração ou Iluminismo (meados do século XVIII ao começo do século XIX) Esse período também crê nos poderes da razão, chamada de As Luzes (por isso, o nome Iluminismo). O Iluminismo afirma que: pela razão, o homem pode conquistar a liberdade e a felicidade social e política (a Filosofia da Ilustração foi decisiva para as ideias da Revolução Francesa de 1789); **a razão é capaz de evolução e progresso, e o homem é um ser perfectível. A perfectibilidade consiste em liberar-se dos preconceitos religiosos, sociais e morais, em libertar-se da superstição e do medo, graças ao conhecimento, às ciências, às artes e à moral; **o aperfeiçoamento da razão se realiza pelo progresso das civilizações, que vão das mais atrasadas (também chamadas de “primitivas” ou “selvagens”) às mais adiantadas e perfeitas (as da Europa Ocidental); **há diferença entre Natureza e civilização, isto é, a Natureza é o reino das relações necessárias de causa e efeito ou das leis naturais universais e imutáveis, enquanto a civilização é o reino da liberdade e da finalidade TEXTO BASE 02 Aspectos históricos e emancipatórios da educação 14 proposta pela vontade livre dos próprios homens, em seu aperfeiçoamento moral, técnico e político. Nesse período há grande interesse pelas ciências que se relacionam com a ideia de evolução e, por isso, a biologia terá um lugar central no pensamento ilustrado, pertencendo ao campo da filosofia da vida. Há igualmente grande interesse e preocupação com as artes, na medida em que elas são as expressões por excelência do grau de progresso de uma civilização. Data também desse período o interesse pela compreensão das bases econômicas da vida social e política, surgindo uma reflexão sobre a origem e a forma das riquezas das nações, com uma controvérsia sobre a importância maior ou menor da agricultura e do comércio, controvérsia que se exprime em duas correntes do pensamento econômico: a corrente fisiocrata (a agricultura é a fonte principal das riquezas) e a mercantilista (o comércio é a fonte principal da riqueza das nações). Os principais pensadores do período foram: Hume, Voltaire, D’Alembert, Diderot, Rousseau, Kant, Fichte e Schelling (embora este último costume ser colocado como filósofo do Romantismo). 2.7. Pensamento filosófico contemporâneoAbrange o pensamento filosófico que vai de meados do século XIX e chega aos nossos dias. Esse período, por ser o mais próximo de nós, parece ser o mais complexo e o mais difícil de definir, pois as diferenças entre as várias filosofias ou posições filosóficas nos parecem muito grandes porque as estamos vendo surgir diante de nós. Na contemporaneidade, o pensamento filosófico começou a questionar se a razão traria mesmo a libertação da humanidade. Após muitas descobertas tecnológicas e científicas viu-se que o homem parece TEXTO BASE 02 Aspectos históricos e emancipatórios da educação 15 estar preso a ideologias e produtos do mercado tecnológico e pouco conseguiu se libertar sendo que a própria razão lhe aprisionou em um mundo superficial e mercadológico. A razão que serviria para a libertação, em muitos casos demonstrou não estar coincidindo com tal pressuposto. As guerras, as desigualdades e a destruição do meio ambiente são exemplos destas incoerências do mundo racional. Dois grandes movimentos culturais surgiram em meio a esta realidade. O primeiro foi o Romantismo, que surgiu no final do século XVIII juntando a arte e a filosofia. Este movimento surgiu como oposição ao mundo racional que a humanidade estava enfrentando, a crítica estava no modo mecânico que a as relações estavam se tornando e a aposta na valorização dos sentimentos era requerida por este movimento. Com o romantismo, surgiram características pátrias, valorização dos costumes e tradições nacionais. Os escritores mais ilustres desta linha de pensamento são: Schleguel, Novalis, e Hölderlin, Schiller e Goethe. O segundo foi o Idealismo Alemão começou a se desenvolver no final do século XIX e teve como fundador Johann Gottlieb Fichte (1726–1814). O idealismo é a doutrina que põe o Eu como o criador da realidade objetiva. A realidade como uma criação do espírito humano e como algo exterior ao homem é um não-Eu criado pelo Eu. Surge, também, na segunda metade do século XIX, o positivismo com Augusto Comte. Esta matriz filosófica refletia empolgação da burguesia com a prosperidade do acúmulo de capital e da expansão industrial. A frase que está em nossa bandeira, Ordem e Progresso é o lema do positivismo. Principais filósofos Auguste Comte (1798–1857) TEXTO BASE 02 Aspectos históricos e emancipatórios da educação 16 Lei dos Três Estados: • Teológico (representa o ponto de partida da inteligência humana); • Metafísico (ponte de transição); • Positivo (estágio maduro e definitivo da evolução racional). O Método das Ciências Naturais para as Humanas. As verdades são evidenciadas pelas comprovações empiristas. O Idealismo Dialético surgiu com Hegel (1770–1831) considerado um dos últimos grandes teóricos vindos do idealismo alemão. Para Hegel, a realidade deveria ser entendida como um espírito. O espírito é entendido como sujeito, onde a mudança existe e a realidade não é estática. Por isso, a ideia do movimento dialético, que revela as diferenças e igualdades que a realidade apresenta. Alguns autores fizeram críticas ao pensamento hegeliano: Feuerbach, Schopenhauer, Kierkegaard e Marx (embora Marx, em outros autores e obras, é considerado materialista). Friedrich Hegel (1770–1831) • Dialética de Heráclito: vir-a-ser. • O ser é processo, é movimento e transformação. • Uma parte precisa ser negada para o ser manifestar-se. • O pensamento que revela o conhecimento. • Dialética: Tese x antítese = síntese; Espírito Absoluto se desvela no Tempo, no Espaço e na História. Karl Marx (1818 – 1883) Alemão, filósofo, economista, jornalista e militante político, viveu em vários países da Europa no século XIX de 1818 a 1883. Na busca de um caminho epistemológico, ou de um caminho que fundamentasse o conhecimento para a interpretação da realidade histórica e social que o TEXTO BASE 02 Aspectos históricos e emancipatórios da educação 17 desafiava, superou (no sentido de incorporar e ir além) as posições de Hegel no que dizia respeito à dialética e conferiu-lhe um caráter materialista e histórico. Para o pensamento marxista, importa descobrir as leis dos fenômenos de cuja investigação se ocupa; o que importa é captar, detalhadamente, as articulações dos problemas em estudo, analisar as evoluções, rastrear as conexões sobre os fenômenos que os envolvem. Isto, para este pensador, só foi possível a partir da reinterpretação do pensamento dialético de Hegel. A separação sujeito- objeto, promovida pela lógica formal, não satisfazia a estes pensadores que, na busca da superação desta separação, partiram de observações acerca do movimento e da contraditoriedade do mundo, dos homens e de suas relações. A lógica formal não consegue explicar as contradições e amarra o pensamento impedindo-lhe o movimento necessário para a compreensão das coisas. Se o mundo é dialético (se movimenta e é contraditório) é preciso um Método, uma teoria de interpretação, que consiga servir de instrumento para a sua compreensão, e este instrumento lógico pode ser o método dialético tal qual pensou Marx. O método dialético que desenvolveu Marx, o método materialista histórico e dialético, é método de interpretação da realidade, visão de mundo e práxis. A reinterpretação da dialética de Hegel, diz respeito, principalmente, à materialidade e à concreticidade. Para Marx, Hegel trata a dialética idealmente, no plano do espírito, das ideias, enquanto o mundo dos homens exige sua materialização. É com esta preocupação que Marx deu o caráter material (os homens se organizam na sociedade para a produção e a reprodução da vida) e o caráter histórico (como eles vêm se organizando através de sua TEXTO BASE 02 Aspectos históricos e emancipatórios da educação 18 história). Marx construiu a ideia de categorias para as análises da realidade, uma delas é a contradição. Uma categoria para se constituir enquanto tal deve ser constituída a partir da realidade, do real, do material e a partir do movimento da realidade determinada historicamente. No entanto, a elaboração de uma categoria se dá a partir do movimento de captação desse real(concreto) situado historicamente e transposto para a ideia e assim ser sintetizado no pensamento. A categoria é constitutiva da realidade e constituída a partir dela. As categorias do método materialista histórico dialético não são fórmulas e sim sínteses que apreendem o movimento do real, sendo, ao mesmo tempo, lógicas e históricas, o que lhes garantem também o caráter de transitoriedade. Isso porque se as categorias são expressões do real, ao se modificarem este real se modificam também as próprias categorias. Muitos estudos tem sido empreendidos neste século para a identificação e análise da metodologia do pensamento marxista, como Gramsci (1991); Kosik (1976); Kopnin (1978); Ianni (1985); Konder (1981, 1991); Frigotto (1989); entre outros. O materialismo histórico é uma maneira de pensar as ideias que determinam a consciência humana, ou seja, para Marx, são as condições materiais instituída pela sociedade que propiciam ao ser humano sua consciência – pensar desta ou daquela maneira. Essas condições materiais são determinadas a partir das relações sociais de produção e da divisão social do trabalho. Mas por que materialismo histórico? Para CHAUÍ (1997): TEXTO BASE 02 Aspectos históricos e emancipatórios da educação 19 Materialismo porque somos o que as condições materiais (as relações de produção) nos determinam a ser e a pensar. Histórico porque a sociedade e a política não surgem de decretos divinos nem nascem da ordem natural, mas dependem da ação concreta dos seres humanos no tempo. Observe a charge abaixo:Fonte:https://ecosdetuntum.blogspot.com/2015/11/materialismo-historico.html .Acesso em 28 de fev. 2021. RESPONDA: Qual a relação da charge com o materialismo? Quer saber mais? Leia o texto complementar O materialismo histórico-dialético e a Educação, de Marília Freitas de Campos Pires. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414- 32831997000200006&lng=en&nrm=iso>. Leia também: BASES EPISTEMOLÓGICAS DO POSITIVISMO E DO MATERIALISMO DIALÉTICO: NOTAS PARA REFLEXÃO – No Saiba Mais https://ecosdetuntum.blogspot.com/2015/11/materialismo-historico.html TEXTO BASE 02 Aspectos históricos e emancipatórios da educação 20 Outra corrente filosófica da Contemporaneidade é o existencialismo, este movimento tem como foco a existência humana e pode ser chamada de filosofias da existência. O existencialismo se caracteriza por entender que o homem é representado como um real imperfeito, a liberdade é condicionada, a vida não é linear e é feita de sofrimentos e angústias. As teorias desta corrente surgiram no século XX e tem como representantes maiores: Schopenhauer, Kierkegaard, Nietzsche e Husserl. Temos também a Filosofia Analítica que percebe na linguagem a ligação desta com o mundo real, fazendo assim uma análise lógica da linguagem. Essa análise é feita com conceitos, enunciados para clarear possíveis erros nas interpretações, inclusive para eles a maioria dos problemas filosóficos surgem de equívocos interpretativos. Wittgenstein, Russel, Austin e Ryle são os grandes pensadores da filosofia analítica. Na Alemanha havia também a Escola de Frankfurt que era formada por um número significativo de pensadores do Instituto de Pesquisas Sociais de Frankfurt. Deste modo a teoria crítica desenvolveu-se com o apoio de Adorno, Horkheimer, Benjamin, Marcuse, Fromm e Habermas. E, para finalizar, a história da Filosofia temos no mundo contemporâneo a filosofia pós-moderna que surge a partir da crítica ao projeto moderno. Esta filosofia acredita que a pluralidade de ideias não pode ser comandada por um projeto moderno fracassado, que cotidianamente se mostra incapaz mesmo com a razão de lidar com as diferenças do outro. Algumas características da filosofia pós-moderna são: ceticismo teórico e o anti-humanismo. Os principais autores desta linha são: Michel Foucault, Baudrillard, Derrida e Lytoard. TEXTO BASE 02 Aspectos históricos e emancipatórios da educação 21 3. A Filosofia e a Ciência2 Para além do que já estudamos, é importante lembrar que a filosofia e a história influenciaram a CIÊNCIA, a tecnologia e várias outras áreas em seus diferentes períodos. A ciência se renova e se modifica a cada momento, seus modelos ou paradigmas mudam devido aos avanços do conhecimento. A razão humana muda através dos tempos; por isso, precisamos conhecer como o conhecimento científico se apresenta nos diferentes períodos históricos. Será que a Ciência, em todos os períodos históricos do mundo ocidental, foi construída da mesma maneira? Será que o mundo antigo concebeu esse tipo de conhecimento do mesmo modo que o mundo moderno? Se houver diferença, será que a Ciência antiga é mais ou menos científica do que a que fazemos hoje? Pense nessas questões. O que você acha, então? Uma é mais científica do que a outra? Sim? Não? Por quê? Para responder a essas questões é importante investigar como a Ciência vem sendo construída ao longo da História do mundo ocidental. 2 Esse texto está baseado em outros dois: A Ciência na história de Angela M. Souza Martins e Valéria Wilke e Paradigma da Ciência moderna, de Marco Silva e Valéria Wilke (2009). TEXTO BASE 02 Aspectos históricos e emancipatórios da educação 22 De uma forma geral, a Ciência greco-romana e medieval apresentava as seguintes características: não utilizava a técnica e o experimento; especulava racionalmente os fenômenos humanos e da natureza; não se preocupava em aplicar de modo prático o conhecimento; não aplicava a linguagem matemática na investigação científica. Mas, a partir dos séculos XVI e XVII, o mundo passa por mudanças significativas, o homem torna-se o centro do universo, abrindo novas perspectivas no campo sociocultural, político e econômico. Podemos caracterizar esse período com os seguintes aspectos: • nascimento de um novo modo de produção – o capitalismo; • desenvolvimento da navegação, do comércio e da manufatura; • descoberta de novos mundos – chegada às Américas; • diminuição da influência religiosa sobre as ideias culturais e políticas; • implantação de uma visão antropocêntrica (o homem é o centro do universo); • questionamento do pensamento e dos dogmas católicos; • intensa produção intelectual e artística, com uma nova leitura da cultura greco-latina. Esses aspectos provocam mudanças no plano das ideias e na maneira de conhecer a realidade. Surge, nesse período, uma nova forma de racionalidade que cria procedimentos que possam intervir e agir na natureza. Nesse ambiente nasce a Ciência moderna, que se fundamenta no conhecimento racional e na experimentação (observação racional e controlada da realidade); essa nova Ciência procura investigar e compreender a natureza, assim como dominá-la e transformá-la. De acordo com Descartes, por meio do conhecimento científico devemos nos TEXTO BASE 02 Aspectos históricos e emancipatórios da educação 23 tornar senhores da natureza. Mas quais seriam as características da Ciência moderna e contemporânea? 3.1. Características da Ciência Moderna e Contemporânea A ciência moderna e contemporânea inaugura um novo modo de conhecer o mundo. Há uma preocupação em conhecer profundamente a natureza, como também em agir sobre ela. Vejamos quais são as principais características dessa ciência. Saber ativo – busca-se conhecer porquê e como os fenômenos acontecem. Procura descrever com precisão como esse fenômeno ocorre e, se possível, propõe uma intervenção na natureza, transformando-a ou criando algo que tenha aplicabilidade. Valorização do método – embora o método tenha sido discutido pelos filósofos na Antiguidade e na Idade Média, os pensadores modernos priorizaram a questão: como posso conhecer verdadeiramente a realidade? Vários pensadores (DESCARTES, BACON, LOCKE, HUME, entre outros) responderam que somente através de um método rigoroso e claro poder-se-ia conhecer efetivamente a realidade. Aceitaram como fonte do conhecimento a experiência e a razão. Surgem novos métodos, baseados nessas fontes, para investigar a realidade. Entre esses métodos destacamos o método experimental, que representa um marco para a Ciência moderna. Método experimental – exige inicialmente a observação de um determinado fenômeno; essa observação poderá ser feita por meio dos nossos sentidos ou com algum instrumento de precisão (microscópio, telescópio, termômetro etc.). Depois o cientista formula hipóteses sobre o que foi observado e em seguida verifica essas hipóteses. Ele testa essas TEXTO BASE 02 Aspectos históricos e emancipatórios da educação 24 hipóteses realizando um processo de experimentação, podendo repetir os fenômenos, variar as condições da experiência, testar os fenômenos em outros ambientes etc. Quando confirma a sua hipótese, o cientista faz generalizações, criando, em alguns casos, leis. No método experimental, o uso da Matemática é imprescindível, porque ela permite medir e quantificar determinados fenômenos; por isso afirmamos que a Ciência moderna privilegia a quantidade, e não a qualidade, como a Ciência greco-romana e medieval. A linguagem matemática – outro aspecto importante da Ciência moderna econtemporânea é o uso da Matemática; a linguagem matemática possibilitava medir e verificar com notável precisão os fenômenos observados pelos cientistas. A Matemática auxiliava a execução da experimentação. Essas características marcam o pensamento científico moderno e contemporâneo, mas, no século XIX, aparecem as Ciências Humanas, que provocam de imediato o seguinte questionamento: é possível existir uma Ciência cujo objeto de estudo é o homem? Podemos usar nas Ciência Humanas a mesma metodologia das Ciências da Natureza (Física, Química, Biologia, Astronomia etc.)? Além disso, até o século XIX, o homem era estudado exclusivamente pela Filosofia, que apresenta uma metodologia de pesquisa diferente da Ciência. Outro fator a considerar era que as Ciências da Natureza já haviam definido seus métodos de investigação da realidade, mostrando o caminho da pesquisa científica. Nesse contexto, a princípio as Ciências Humanas tendem a copiar o modelo científico das Ciências da Natureza, mas os cientistas esbarram na complexidade de seu objeto de estudo, o homem, que não podia ser tratado como “uma coisa” ou “um fenômeno” investigado exclusivamente através da experimentação; além disso, as relações humanas e sociais TEXTO BASE 02 Aspectos históricos e emancipatórios da educação 25 não podiam ser tratadas como algo a ser experimentado ou compreendidas por meio da Matemática. Surgiam questões importantes: como poderíamos observar/experimentar uma determinada sociedade? Como estabelecer leis para o que é subjetivo como, por exemplo, o psiquismo humano? A partir dessas indagações, inicia-se a busca de um método científico que possa dar conta do estudo científico do homem e das relações humanas. Essa busca possibilita novos caminhos para a investigação científica. As Ciências Humanas trabalham com as interpretações, entre elas, a hermenêutica e a fenomenologia. Com essas contribuições, foi possível demonstrar que os fenômenos humanos são dotados de sentido e significação, são históricos, possuem leis próprias, são diferentes dos fenômenos naturais e podem ser tratados cientificamente. Mas, é importante que se diga: nenhuma ciência é neutra. TEXTO BASE 02 Aspectos históricos e emancipatórios da educação 26 Para concluir esse Texto Base, observe o conteúdo da ‘tira’ do Armandinho. PARA REFLETIR: Que relação podemos fazer com o pensamento filosófico? AVALIAÇÃO I: Nesta atividade avaliativa você deverá preencher a Ficha de produção de apontamentos reflexivos. Destacará quatro temas, dois temas do Texto Base 1 e dois sobre o estudo realizado no Texto Base 2. O material encontra-se no AVA/MOODLE. TEXTO BASE 02 Aspectos históricos e emancipatórios da educação 27 Referências ARANHA, Maria Lúcia de A. História da educação e da pedagogia: geral e do Brasil. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2006. CHAUÍ. Marilena. Convite a Filosofia. Ed. Ática, São Paulo, 2000. MARTINS. Ângela M.S; WILKE. Valéria. A Ciência na história. In: FLORENTINO, Adilson. Fundamentos da educação 1. v.1 / Adilson Florentino. – Rio de Janeiro: Fundação CECIERJ, 2009. PIRES, Marília Freitas de Campos. O materialismo histórico-dialético e a Educação. Interface , Botucatu, v. 1, n. 1,1997. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414- 32831997000200006&lng=en&nrm=iso>. acesso em 15 de março de 2021. SILVA. Marco; WILKE. Valéria. Paradigma da Ciência Moderna. In: FLORENTINO, Adilson. Fundamentos da educação 1. v.1 / Adilson Florentino. – Rio de Janeiro: Fundação CECIERJ, 2009.
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