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Prof.ª. Dr.ª Maria Raquel Caetano 
 
Nome da disciplina: Aspectos históricos e emancipatórios da educação 
Estudo do Pensamento Histórico-filosófico na Educação 
 
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Aspectos históricos e emancipatórios da educação 
 
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 INTRODUÇÃO 
 
 Como diz Maria Lucia Aranha (2006,p.6), “somos seres 
históricos, já que nossas ações e pensamentos mudam no tempo, à 
medida que enfrentamos os problemas não só da vida pessoal, como 
também da experiência coletiva”. É assim que produzimos a nós mesmos 
e a cultura a que pertencemos. Pensar o passado, porém, não é um 
exercício de saudosismo, curiosidade ou erudição: o passado não está 
morto, porque nele se fundam as raízes do presente. Para compreender 
os fundamentos histórico-filosóficos da educação, é fundamental resgatar 
a história e o pensamento dos homens ao longo do tempo, 
reconstituirmos a ação dos homens e dos fatos relevantes que são 
variados ao longo do tempo. 
 Compreender como os homens pensam através dos períodos 
históricos ampliam a nossa compreensão de mundo e, por isso, pode nos 
instrumentalizar na existência prática e cotidiana nas diversas atividades 
exercidas. São esses fundamentos que nos permitem ter acesso a 
algumas reflexões que se voltam para a realidade com a qual 
convivemos, na qual estamos inseridos e por que somos responsáveis 
pela mudança ou permanência da educação. Assim, os pressupostos 
histórico-filosóficos da Educação, se tornam ainda mais significativos 
para os profissionais, propiciando-lhes reflexões sobre que homem 
pretende formar. 
 Nossa proposta é apresentar o pensamento filosófico na história 
com o objetivo de auxiliar na compreensão sobre a concepção de 
conhecimento, homem e mundo nos principais períodos do pensamento 
filosófico. A última parte do material faz uma reflexão sobre a influência 
do pensamento histórico-filosófico na ciência. 
 Apresentamos ao longo do texto questões para reflexão, vídeo e 
sugestões de leitura que fazem parte da construção do conhecimento 
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Aspectos históricos e emancipatórios da educação 
 
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sobre o tema. No final do texto, há uma atividade avaliativa que deve ser 
apresentada no AVA/moodle. 
 
1.Considerações Iniciais1 
 
 
 Como todas as outras criações e instituições humanas, a Filosofia 
está na História e tem uma história. 
 Está na História: a Filosofia manifesta e exprime os problemas 
e as questões que, em cada época de uma sociedade, os homens colocam 
para si mesmos, diante do que é novo e ainda não foi compreendido. A 
Filosofia procura enfrentar essa novidade, oferecendo caminhos, 
respostas e, sobretudo, propondo novas perguntas, num diálogo 
permanente com a sociedade e a cultura de seu tempo, do qual ela faz 
parte. 
 Tem uma história: as respostas, as soluções e as novas 
perguntas que os filósofos de uma época oferecem tornam-se saberes 
adquiridos que outros filósofos prosseguem ou, frequentemente, tornam-
se novos problemas que outros filósofos tentam resolver, seja 
aproveitando o passado filosófico, seja criticando-o e refutando-o. Além 
disso, as transformações nos modos de conhecer podem ampliar os 
campos de investigação da Filosofia, fazendo surgir novas disciplinas 
filosóficas, como também podem diminuir esses campos, porque alguns 
de seus conhecimentos podem desligar-se dela e formar disciplinas 
separadas. 
 Assim, por exemplo, a Filosofia teve seu campo de atividade 
aumentado quando, no século XVIII, surge a filosofia da arte ou estética; 
 
1 O presente texto está baseado no Livro ‘Convite a Filosofia’ de Marilena Chauí. Esta 
obra é de livre acesso. 
 
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no século XIX, a filosofia da história; no século XX, a filosofia das ciências 
ou epistemologia, e a filosofia da linguagem. 
 Pelo fato de estar na História e ter uma história, a Filosofia costuma 
ser apresentada em grandes períodos que acompanham, às vezes de 
maneira mais próxima, às vezes de maneira mais distante, os períodos 
em que os historiadores dividem a História da sociedade e do pensamento 
filosófico. 
 
 
2. Os principais períodos do pensamento filosófico 
 
 
2.1. Pensamento filosófico antigo (do século VI a.C. ao século 
VI d.C.) 
 
 Compreende os quatro grandes períodos da Filosofia greco-romana, 
indo dos pré-socráticos aos grandes sistemas do período helenístico. 
Deste período, abordaremos os principais filósofos que se destacaram: 
Sócrates (469–399 a.C.) Não deixou nada escrito, os relatos sobre seu 
trabalho partem de seus discípulos. 
 Em praça pública Sócrates conversava com jovens 
independentemente de sua classe socioeconômica onde indicava a 
importante tarefa de unir o fazer com o saber. “Conheça-te a ti mesmo” 
frase que revelava a preocupação com o autoconhecimento e 
preocupação do mesmo com a busca da essência do homem. Através do 
diálogo chegava-se a dois momentos: a ironia que significava a 
interrogação dos argumentos colocados e a maiêutica que é o momento 
que livre de seus orgulhos os sujeitos concebem seu conhecimento 
próprio. A ironia que Sócrates utiliza é justamente o que aponta aos 
sujeitos, que os mesmos deveriam cuidar a arrogância com que 
utilizavam seus saberes, lembrando então que a maior virtude do sábio 
é admitir que é ignorante, por isso a frase “Sei que nada sei”. A maiêutica 
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como seu próprio significado diz “arte de trazer a luz” possibilitaria aos 
sujeitos à construção das ideias, livre de pretensões. 
Considerado o marco da Filosofia e fundador da filosofia moral, Sócrates 
serve para a divisão da mesma como pré e pós-socrática, podemos 
perceber quão valioso foi este pensador que buscou dentro do amor pela 
sabedoria o desenvolvimento dos valores morais. Por não distinguir a 
quem levaria seus ensinamentos, Sócrates foi condenado a beber o 
veneno de cicuta por ser uma ameaça social e um corruptor de jovens, 
além ser injusto com os deuses de sua cidade. Sócrates morreu sem 
renunciar seus princípios morais. 
 Platão (427–347 a.C.) foi discípulo de Sócrates e fundador da 
primeira Academia, uma escola filosófica que foi uma das primeiras 
escolas de Ensino Superior do ocidente. Platão diferentemente dos 
demais filósofos coloca que o conhecimento é desenvolvido da transição 
do mundo das sombras para o mundo das ideias (mito da caverna). 
 
Mito da Caverna: baseado em 
um mito para explicar como se 
desenvolve o conhecimento, Platão 
coloca que vivemos em um mundo 
das sombras, prisioneiros de uma 
caverna assistindo as ilusões dos 
reflexos do mundo real nas paredes 
da caverna. Se o homem tivesse 
contato com a luminosidade do real 
ficaria livre de todas as ilusões 
 
AGORA RESPONDA: Como podemos interpretar o mito e relacioná-lo 
com o conhecimento e a educação? 
 
 O pensamento platônico aponta que a evolução do conhecimento 
é justamente de trazer para fora o conhecimento intrínseco do homem. 
Para Platão, o ser eterno e universal habita o mundo racional, da essência 
e da realidade pura. Para chegar ao conhecimento verdadeiro este coloca 
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a dialética como caminho. A dialética colocaria as impressões do mundo 
sensível em discussão para enfim possibilitar o acesso ao mundo das 
ideias, ou seja, ao pensamento racional. 
 Quando Platão morreu, o pensador mais indicado para substituí-
lo na Academia foi Aristóteles (384–322 a.C.) Pai da ciência moderna 
Aristóteles desenvolveu a lógica como forma de favorecer o raciocínio. 
Baseado no mundo real, Aristóteles utilizou em seus pensamentos dois 
elementos a matéria e a forma. Aranha (2006)aponta que o realismo 
aristotélico explica o devir (ou movimento). Todo ser tende a atualizar 
a forma que tem em si como potência, a atingir a perfeição que lhe é 
própria e o fim a que se destina aqui neste trecho de Aranha vemos os 
dois conceitos aristotélicos que é o ato, ou seja, o homem em seu estado 
atual e a potência que é aquilo que o homem tem a possibilidade de ser, 
ou seja, o devir. 
 
2.2. Pensamento filosófico patrístico (do século I ao século 
VII) 
 
 Inicia-se com as Epístolas de São Paulo e o Evangelho de São João 
e termina no século VIII, quando teve início a Filosofia medieval. 
A patrística resultou do esforço feito pelos dois apóstolos intelectuais 
(Paulo e João) e pelos primeiros Padres da Igreja para conciliar a nova 
religião – o Cristianismo - com o pensamento filosófico dos gregos e 
romanos, pois somente com tal conciliação seria possível convencer os 
pagãos da nova verdade e convertê-los a ela. A Filosofia patrística liga-
se, portanto, à tarefa religiosa da evangelização e à defesa da religião 
cristã contra os ataques teóricos e morais que recebia dos antigos. 
 Divide-se em patrística grega (ligada à Igreja de Bizâncio) e 
patrística latina (ligada à Igreja de Roma) e seus nomes mais 
importantes foram: Justino, Santo Ambrósio, São Gregório Nazianzo, São 
João Crisóstomo, Isidoro de Sevilha, Santo Agostinho, Beda e Boécio. 
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 A patrística foi obrigada a introduzir ideias desconhecidas para os 
filósofos greco-romanos: a ideia de criação do mundo, de pecado original, 
de Deus como trindade una, de encarnação e morte de Deus, de juízo 
final ou de fim dos tempos e ressurreição dos mortos, etc. Precisou 
também explicar como o mal pode existir no mundo, já que tudo foi criado 
por Deus, que é pura perfeição e bondade. 
 Introduziu, sobretudo com Santo Agostinho e Boécio, a ideia de 
“homem interior”, isto é, da consciência moral e do livre-arbítrio, pelo 
qual o homem se torna responsável pela existência do mal no mundo. 
 Para impor as ideias cristãs, os Padres da Igreja as transformaram 
em verdades reveladas por Deus (através da Bíblia e dos santos) que, 
por serem decretos divinos, seriam dogmas, isto é, irrefutáveis e 
inquestionáveis. Com isso, surge uma distinção, desconhecida pelos 
antigos, entre verdades reveladas ou da fé e verdades da razão ou 
humanas, isto é, entre verdades sobrenaturais e verdades naturais, as 
primeiras introduzindo a noção de conhecimento recebido por uma graça 
divina, superior ao simples conhecimento racional. Dessa forma, o grande 
tema de toda a Filosofia patrística é o da possibilidade de conciliar razão 
e fé, e, a esse respeito, havia três posições principais: 
 
1. Os que julgavam fé e razão irreconciliáveis e a fé superior à razão 
(diziam eles: “Creio porque absurdo”). 
2. Os que julgavam fé e razão conciliáveis, mas subordinavam a razão à 
fé (diziam eles: “Creio para compreender”). 
3. Os que julgavam razão e fé irreconciliáveis, mas afirmavam que cada 
uma delas tem seu campo próprio de conhecimento e não devem 
misturar-se (a razão se refere a tudo o que concerne à vida temporal dos 
homens no mundo; a fé, a tudo o que se refere à salvação da alma e à 
vida eterna futura). 
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 2.3. Pensamento filosófico medieval (do século VIII ao século 
XIV) 
 
 
 Abrange pensadores europeus, árabes e judeus. É o período em 
que a Igreja Romana dominava a Europa, ungia e coroava reis, 
organizava cruzadas à Terra Santa e criava, à volta das catedrais, as 
primeiras universidades ou escolas. E, a partir do século XII, por ter sido 
ensinada nas escolas, a Filosofia medieval também é conhecida com o 
nome de Escolástica. A Filosofia medieval teve como influências principais 
Platão e Aristóteles. A Filosofia medieval além de Platão e Aristóteles, 
sofreu uma grande influência das ideias de Santo Agostinho. Durante 
esse período surge propriamente a Filosofia cristã, que é, na verdade, a 
teologia. Um de seus temas mais constantes são as provas da existência 
de Deus e da alma, isto é, demonstrações racionais da existência do 
infinito criador e do espírito humano imortal. 
 A diferença e separação entre infinito (Deus) e finito (homem, 
mundo), a diferença entre razão e fé (a primeira deve subordinar-se à 
segunda), a diferença e separação entre corpo (matéria) e alma 
(espírito), O Universo como uma hierarquia de seres, onde os superiores 
dominam e governam os inferiores (Deus, arcanjos, anjos, alma, corpo, 
animais, vegetais, minerais), a subordinação do poder temporal dos reis 
e barões ao poder espiritual de papas e bispos: eis os grandes temas da 
Filosofia medieval. 
 Outra característica marcante da Escolástica foi o método por ela 
inventado para expor as ideias filosóficas, conhecida como disputa: 
apresentava-se uma tese e esta devia ser ou refutada ou defendida por 
argumentos tirados da Bíblia, de Aristóteles, de Platão ou de outros 
Padres da Igreja. Assim, uma ideia era considerada uma tese verdadeira 
ou falsa dependendo da força e da qualidade dos argumentos 
encontrados nos vários autores. Por causa desse método de disputa - 
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teses, refutações, defesas, respostas, conclusões baseadas em escritos 
de outros autores -, costuma-se dizer que, na Idade Média, o pensamento 
estava subordinado ao princípio da autoridade, isto é, uma ideia é 
considerada verdadeira se for baseada nos argumentos de uma 
autoridade reconhecida (Bíblia, Platão, Aristóteles, um papa, um santo). 
 Os teólogos medievais mais importantes foram: Santo Anselmo, 
Santo Tomás de Aquino, Santo Alberto Magno, Guilherme de Ockham, 
Roger Bacon, São Boaventura. Do lado árabe: Avicena, Averróis, Alfarabi 
e Algazáli. Do lado judaico: Maimônides, Nahmanides, Yeudah bem Levi. 
 
2.4. Pensamento filosófico da Renascença (do século XIV ao 
século XVI) 
 
 É marcada pela descoberta de obras de Platão desconhecidas na 
Idade Média, de novas obras de Aristóteles, bem como pela recuperação 
das obras dos grandes autores e artistas gregos e romanos. 
 São três as grandes linhas de pensamento que predominavam na 
Renascença: 
1. Aquela proveniente de Platão, nela se destacava a ideia da 
Natureza como um grande ser vivo; o homem faz parte da Natureza 
como um microcosmo (como espelho do Universo inteiro) e pode 
agir sobre ela através da magia natural, da alquimia e da astrologia, 
pois o mundo é constituído por vínculos e ligações secretas (a 
simpatia) entre as coisas; o homem pode, também, conhecer esses 
vínculos e criar outros, como um deus. 
2. Aquela originária dos pensadores florentinos, que valorizava a vida 
ativa, isto é, a política, e defendia os ideais republicanos das 
cidades italianas contra o Império Romano-Germânico, isto é, 
contra o poderio dos papas e dos imperadores. Na defesa do ideal 
republicano, os escritores resgataram autores políticos da 
Antiguidade, historiadores e juristas, e propuseram a “imitação dos 
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antigos” ou o renascimento da liberdade política, anterior ao 
surgimento do império eclesiástico. 
3. Aquela que propunha o ideal do homem como artífice de seu 
próprio destino, tanto através dos conhecimentos (astrologia, 
magia, alquimia), quanto através da política (o ideal republicano), 
das técnicas (medicina, arquitetura, engenharia, navegação) e das 
artes (pintura, escultura, literatura, teatro). A efervescência teórica 
e prática foi alimentada com as grandes descobertas marítimas, 
que garantiam ao homem o conhecimento de novos mares, novos 
céus, novas terras e novas gentes,permitindo-lhe ter uma visão 
crítica de sua própria sociedade. Essa efervescência cultural e 
política levou a críticas profundas à Igreja Romana, culminando na 
Reforma Protestante, baseada na ideia de liberdade de crença e de 
pensamento. À Reforma, a Igreja respondeu com a Contrarreforma 
e com o recrudescimento do poder da Inquisição. Os nomes mais 
importantes desse período são: Dante, Giordano Bruno, Maquiavel, 
Montaigne, Erasmo, Tomás Morus, Jean Bodin, Kepler e Nicolau de 
Cusa. 
 
2.5. Pensamento filosófico moderno (do século XVII a meados 
do século XVIII) 
 
 
 Empirismo e Iluminismo 
 
 Após o Renascimento e o surgimento da ciência moderna, as 
preocupações filosóficas passaram a indagar como se dará o processo do 
conhecimento. O empirismo, ao contrário do racionalismo, acredita que 
dependemos sim das experiências sensíveis. Surgido na Inglaterra o 
empirismo é resultante de toda a situação pela qual a burguesia passava 
(fim do absolutismo monárquico). Na epistemologia, surgiu o empirismo 
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e, na parte política, nascia o liberalismo. Alguns autores de destaque do 
empirismo que podemos citar são: Bacon, Locke, Berkeley, Hobbes e 
Hume. Esse período é marcado por três grandes mudanças intelectuais: 
 
1. Aquela conhecida como o “surgimento do sujeito do conhecimento”, 
isto é, a Filosofia, em lugar de começar seu trabalho conhecendo a 
Natureza e Deus, para depois referir-se ao homem, começa indagando 
qual é a capacidade do intelecto humano para conhecer e demonstrar a 
verdade dos conhecimentos. Em outras palavras, a Filosofia começa pela 
reflexão, isto é, pela volta do pensamento sobre si mesmo para conhecer 
sua capacidade de conhecer. O ponto de partida é o sujeito do 
conhecimento como consciência de si reflexiva, isto é, como consciência 
que conhece sua capacidade de conhecer. O sujeito do conhecimento é 
um intelecto no interior de uma alma, cuja natureza ou substância é 
completamente diferente da natureza ou substância de seu corpo e dos 
demais corpos exteriores. 
 Por isso, a segunda pergunta da Filosofia, depois de respondida a 
pergunta sobre a capacidade de conhecer, é: Como o espírito ou intelecto 
pode conhecer o que é diferente dele? Como pode conhecer os corpos da 
Natureza? 
 
2. A resposta à pergunta acima constituiu a segunda grande mudança 
intelectual dos modernos, e essa mudança diz respeito ao objeto do 
conhecimento. Para os modernos, as coisas exteriores (a Natureza, a vida 
social e política) podem ser conhecidas desde que sejam consideradas 
representações, ou seja, ideias ou conceitos formulados pelo sujeito do 
conhecimento. 
 Isso significa, por um lado, que tudo o que pode ser conhecido 
deve poder ser transformado num conceito ou numa ideia clara e distinta, 
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demonstrável e necessária, formulada pelo intelecto; e, por outro lado, 
que a Natureza e a sociedade ou política podem ser inteiramente 
conhecidas pelo sujeito, porque elas são inteligíveis em si mesmas, isto 
é, são racionais em si mesmas e propensas a serem representadas pelas 
ideias do sujeito do conhecimento. 
 
3. Essa concepção da realidade como intrinsecamente racional e que 
pode ser plenamente captada pelas ideias e conceitos preparou a terceira 
grande mudança intelectual moderna. A realidade, a partir de Galileu, é 
concebida como um sistema racional de mecanismos físicos, cuja 
estrutura profunda e invisível é matemática. O “livro do mundo”, diz 
Galileu, “está escrito em caracteres matemáticos.” A realidade, concebida 
como sistema racional de mecanismos físico matemáticos, deu origem à 
ciência clássica, isto é, à mecânica, por meio da qual são descritos, 
explicados e interpretados todos os fatos da realidade: astronomia, física, 
química, psicologia, política, artes são disciplinas cujo conhecimento é de 
tipo mecânico, ou seja, de relações necessárias de causa e efeito entre 
um agente e um paciente. 
 A realidade é um sistema de causalidades racionais rigorosas que 
podem ser conhecidas e transformadas pelo homem. Nasce a ideia de 
experimentação e de tecnologia (conhecimento teórico que orienta as 
intervenções práticas) e o ideal de que o homem poderá dominar 
tecnicamente a Natureza e a sociedade. 
 Predomina, assim, nesse período, a ideia de conquista científica e 
técnica de toda a realidade, a partir da explicação mecânica e matemática 
do Universo e da invenção das máquinas, graças às experiências físicas 
e químicas. 
 Existe também a convicção de que a razão humana é capaz de 
conhecer a origem, as causas e os efeitos das paixões e das emoções e, 
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pela vontade orientada pelo intelecto, é capaz de governá-las e dominá-
las, de sorte que a vida ética pode ser plenamente racional. 
 A mesma convicção orienta o racionalismo político, isto é, a ideia 
de que a razão é capaz de definir para cada sociedade qual o melhor 
regime político e como mantê-lo racionalmente. 
 Nunca mais, na história da Filosofia, haverá igual confiança nas 
capacidades e nos poderes da razão humana como houve no Grande 
Racionalismo Clássico. Os principais pensadores desse período foram: 
Francis Bacon, Descartes, Galileu, Pascal, Hobbes, Espinosa, Leibniz, 
Malebranche, Locke, Berkeley, Newton, Gassendi. 
 
2.6. Pensamento filosófico da Ilustração ou Iluminismo 
(meados do século XVIII ao começo do século XIX) 
 
 Esse período também crê nos poderes da razão, chamada de As 
Luzes (por isso, o nome Iluminismo). O Iluminismo afirma que: pela 
razão, o homem pode conquistar a liberdade e a felicidade social e política 
(a Filosofia da Ilustração foi decisiva para as ideias da Revolução Francesa 
de 1789); 
**a razão é capaz de evolução e progresso, e o homem é um ser 
perfectível. A perfectibilidade consiste em liberar-se dos preconceitos 
religiosos, sociais e morais, em libertar-se da superstição e do medo, 
graças ao conhecimento, às ciências, às artes e à moral; 
**o aperfeiçoamento da razão se realiza pelo progresso das civilizações, 
que vão das mais atrasadas (também chamadas de “primitivas” ou 
“selvagens”) às mais adiantadas e perfeitas (as da Europa Ocidental); 
**há diferença entre Natureza e civilização, isto é, a Natureza é o reino 
das relações necessárias de causa e efeito ou das leis naturais universais 
e imutáveis, enquanto a civilização é o reino da liberdade e da finalidade 
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proposta pela vontade livre dos próprios homens, em seu 
aperfeiçoamento moral, técnico e político. 
 Nesse período há grande interesse pelas ciências que se 
relacionam com a ideia de evolução e, por isso, a biologia terá um lugar 
central no pensamento ilustrado, pertencendo ao campo da filosofia da 
vida. Há igualmente grande interesse e preocupação com as artes, na 
medida em que elas são as expressões por excelência do grau de 
progresso de uma civilização. Data também desse período o interesse 
pela compreensão das bases econômicas da vida social e política, 
surgindo uma reflexão sobre a origem e a forma das riquezas das nações, 
com uma controvérsia sobre a importância maior ou menor da agricultura 
e do comércio, controvérsia que se exprime em duas correntes do 
pensamento econômico: a corrente fisiocrata (a agricultura é a fonte 
principal das riquezas) e a mercantilista (o comércio é a fonte principal 
da riqueza das nações). 
 Os principais pensadores do período foram: Hume, Voltaire, 
D’Alembert, Diderot, Rousseau, Kant, Fichte e Schelling (embora este 
último costume ser colocado como filósofo do Romantismo). 
 
2.7. Pensamento filosófico contemporâneoAbrange o pensamento filosófico que vai de meados do século XIX 
e chega aos nossos dias. Esse período, por ser o mais próximo de nós, 
parece ser o mais complexo e o mais difícil de definir, pois as diferenças 
entre as várias filosofias ou posições filosóficas nos parecem muito 
grandes porque as estamos vendo surgir diante de nós. 
 Na contemporaneidade, o pensamento filosófico começou a 
questionar se a razão traria mesmo a libertação da humanidade. Após 
muitas descobertas tecnológicas e científicas viu-se que o homem parece 
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estar preso a ideologias e produtos do mercado tecnológico e pouco 
conseguiu se libertar sendo que a própria razão lhe aprisionou em um 
mundo superficial e mercadológico. A razão que serviria para a libertação, 
em muitos casos demonstrou não estar coincidindo com tal pressuposto. 
As guerras, as desigualdades e a destruição do meio ambiente são 
exemplos destas incoerências do mundo racional. 
 Dois grandes movimentos culturais surgiram em meio a esta 
realidade. O primeiro foi o Romantismo, que surgiu no final do século 
XVIII juntando a arte e a filosofia. Este movimento surgiu como oposição 
ao mundo racional que a humanidade estava enfrentando, a crítica estava 
no modo mecânico que a as relações estavam se tornando e a aposta na 
valorização dos sentimentos era requerida por este movimento. Com o 
romantismo, surgiram características pátrias, valorização dos costumes 
e tradições nacionais. Os escritores mais ilustres desta linha de 
pensamento são: Schleguel, Novalis, e Hölderlin, Schiller e Goethe. 
 O segundo foi o Idealismo Alemão começou a se desenvolver no 
final do século XIX e teve como fundador Johann Gottlieb Fichte 
(1726–1814). O idealismo é a doutrina que põe o Eu como o criador da 
realidade objetiva. A realidade como uma criação do espírito humano e 
como algo exterior ao homem é um não-Eu criado pelo Eu. 
 Surge, também, na segunda metade do século XIX, o positivismo 
com Augusto Comte. Esta matriz filosófica refletia empolgação da 
burguesia com a prosperidade do acúmulo de capital e da expansão 
industrial. A frase que está em nossa bandeira, Ordem e Progresso é o 
lema do positivismo. 
 
Principais filósofos 
 
Auguste Comte (1798–1857) 
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Lei dos Três Estados: 
• Teológico (representa o ponto de partida da inteligência humana); 
• Metafísico (ponte de transição); 
• Positivo (estágio maduro e definitivo da evolução racional). 
O Método das Ciências Naturais para as Humanas. 
As verdades são evidenciadas pelas comprovações empiristas. 
 
O Idealismo Dialético surgiu com Hegel (1770–1831) considerado 
um dos últimos grandes teóricos vindos do idealismo alemão. Para Hegel, 
a realidade deveria ser entendida como um espírito. O espírito é 
entendido como sujeito, onde a mudança existe e a realidade não é 
estática. Por isso, a ideia do movimento dialético, que revela as 
diferenças e igualdades que a realidade apresenta. Alguns autores 
fizeram críticas ao pensamento hegeliano: Feuerbach, Schopenhauer, 
Kierkegaard e Marx (embora Marx, em outros autores e obras, é 
considerado materialista). 
Friedrich Hegel (1770–1831) 
• Dialética de Heráclito: vir-a-ser. 
• O ser é processo, é movimento e transformação. 
• Uma parte precisa ser negada para o ser manifestar-se. 
• O pensamento que revela o conhecimento. 
• Dialética: Tese x antítese = síntese; Espírito Absoluto se desvela no 
Tempo, no Espaço e na História. 
 
Karl Marx (1818 – 1883) 
 Alemão, filósofo, economista, jornalista e militante político, viveu 
em vários países da Europa no século XIX de 1818 a 1883. Na busca de 
um caminho epistemológico, ou de um caminho que fundamentasse o 
conhecimento para a interpretação da realidade histórica e social que o 
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desafiava, superou (no sentido de incorporar e ir além) as posições de 
Hegel no que dizia respeito à dialética e conferiu-lhe um caráter 
materialista e histórico. Para o pensamento marxista, importa 
descobrir as leis dos fenômenos de cuja investigação se ocupa; o que 
importa é captar, detalhadamente, as articulações dos problemas em 
estudo, analisar as evoluções, rastrear as conexões sobre os fenômenos 
que os envolvem. Isto, para este pensador, só foi possível a partir da 
reinterpretação do pensamento dialético de Hegel. A separação sujeito-
objeto, promovida pela lógica formal, não satisfazia a estes pensadores 
que, na busca da superação desta separação, partiram de observações 
acerca do movimento e da contraditoriedade do mundo, dos homens e 
de suas relações. 
 A lógica formal não consegue explicar as contradições e amarra o 
pensamento impedindo-lhe o movimento necessário para a compreensão 
das coisas. Se o mundo é dialético (se movimenta e é contraditório) é 
preciso um Método, uma teoria de interpretação, que consiga servir de 
instrumento para a sua compreensão, e este instrumento lógico pode ser 
o método dialético tal qual pensou Marx. 
 O método dialético que desenvolveu Marx, o método materialista 
histórico e dialético, é método de interpretação da realidade, visão 
de mundo e práxis. A reinterpretação da dialética de Hegel, diz 
respeito, principalmente, à materialidade e à concreticidade. Para 
Marx, Hegel trata a dialética idealmente, no plano do espírito, das ideias, 
enquanto o mundo dos homens exige sua materialização. 
 É com esta preocupação que Marx deu o caráter material (os 
homens se organizam na sociedade para a produção e a reprodução da 
vida) e o caráter histórico (como eles vêm se organizando através de sua 
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Aspectos históricos e emancipatórios da educação 
 
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história). Marx construiu a ideia de categorias para as análises da 
realidade, uma delas é a contradição. Uma categoria para se constituir 
enquanto tal deve ser constituída a partir da realidade, do real, do 
material e a partir do movimento da realidade determinada 
historicamente. 
 No entanto, a elaboração de uma categoria se dá a partir do 
movimento de captação desse real(concreto) situado historicamente e 
transposto para a ideia e assim ser sintetizado no pensamento. A 
categoria é constitutiva da realidade e constituída a partir dela. 
 As categorias do método materialista histórico dialético não são 
fórmulas e sim sínteses que apreendem o movimento do real, sendo, ao 
mesmo tempo, lógicas e históricas, o que lhes garantem também o 
caráter de transitoriedade. Isso porque se as categorias são expressões 
do real, ao se modificarem este real se modificam também as próprias 
categorias. 
 Muitos estudos tem sido empreendidos neste século para a 
identificação e análise da metodologia do pensamento marxista, como 
Gramsci (1991); Kosik (1976); Kopnin (1978); Ianni (1985); Konder 
(1981, 1991); Frigotto (1989); entre outros. 
 
O materialismo histórico é uma maneira de pensar as ideias que 
determinam a consciência humana, ou seja, para Marx, são as condições 
materiais instituída pela sociedade que propiciam ao ser humano sua 
consciência – pensar desta ou daquela maneira. Essas condições 
materiais são determinadas a partir das relações sociais de produção e 
da divisão social do trabalho. Mas por que materialismo histórico? 
Para CHAUÍ (1997): 
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Aspectos históricos e emancipatórios da educação 
 
19 
 
 
 
 
Materialismo porque somos o que as condições materiais (as relações de 
produção) nos determinam a ser e a pensar. Histórico porque a sociedade 
e a política não surgem de decretos divinos nem nascem da ordem 
natural, mas dependem da ação concreta dos seres humanos no tempo. 
 
Observe a charge abaixo:Fonte:https://ecosdetuntum.blogspot.com/2015/11/materialismo-historico.html 
.Acesso em 28 de fev. 2021. 
RESPONDA: Qual a relação da charge com o materialismo? 
 
Quer saber mais? Leia o texto complementar 
 
O materialismo histórico-dialético e a Educação, de Marília Freitas de 
Campos Pires. Disponível em 
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-
32831997000200006&lng=en&nrm=iso>. 
 
Leia também: BASES EPISTEMOLÓGICAS DO POSITIVISMO E DO 
MATERIALISMO DIALÉTICO: NOTAS PARA REFLEXÃO – No Saiba Mais 
 
https://ecosdetuntum.blogspot.com/2015/11/materialismo-historico.html
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 Outra corrente filosófica da Contemporaneidade é o 
existencialismo, este movimento tem como foco a existência humana 
e pode ser chamada de filosofias da existência. O existencialismo se 
caracteriza por entender que o homem é representado como um real 
imperfeito, a liberdade é condicionada, a vida não é linear e é feita de 
sofrimentos e angústias. As teorias desta corrente surgiram no século XX 
e tem como representantes maiores: Schopenhauer, Kierkegaard, 
Nietzsche e Husserl. 
 Temos também a Filosofia Analítica que percebe na linguagem a 
ligação desta com o mundo real, fazendo assim uma análise lógica da 
linguagem. Essa análise é feita com conceitos, enunciados para clarear 
possíveis erros nas interpretações, inclusive para eles a maioria dos 
problemas filosóficos surgem de equívocos interpretativos. 
 Wittgenstein, Russel, Austin e Ryle são os grandes pensadores da 
filosofia analítica. 
 Na Alemanha havia também a Escola de Frankfurt que era 
formada por um número significativo de pensadores do Instituto de 
Pesquisas Sociais de Frankfurt. Deste modo a teoria crítica 
desenvolveu-se com o apoio de Adorno, Horkheimer, Benjamin, Marcuse, 
Fromm e Habermas. 
 E, para finalizar, a história da Filosofia temos no mundo 
contemporâneo a filosofia pós-moderna que surge a partir da crítica 
ao projeto moderno. Esta filosofia acredita que a pluralidade de ideias 
não pode ser comandada por um projeto moderno fracassado, que 
cotidianamente se mostra incapaz mesmo com a razão de lidar com as 
diferenças do outro. Algumas características da filosofia pós-moderna 
são: ceticismo teórico e o anti-humanismo. Os principais autores desta 
linha são: Michel Foucault, Baudrillard, Derrida e Lytoard. 
 
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3. A Filosofia e a Ciência2 
 
 
 Para além do que já estudamos, é importante lembrar que a 
filosofia e a história influenciaram a CIÊNCIA, a tecnologia e várias outras 
áreas em seus diferentes períodos. 
 A ciência se renova e se modifica a cada momento, seus modelos 
ou paradigmas mudam devido aos avanços do conhecimento. A razão 
humana muda através dos tempos; por isso, precisamos conhecer como 
o conhecimento científico se apresenta nos diferentes períodos históricos. 
 Será que a Ciência, em todos os períodos históricos do mundo 
ocidental, foi construída da mesma maneira? Será que o mundo antigo 
concebeu esse tipo de conhecimento do mesmo modo que o mundo 
moderno? Se houver diferença, será que a Ciência antiga é mais ou 
menos científica do que a que fazemos hoje? Pense nessas questões. 
 
O que você acha, então? Uma é mais científica do que a outra? 
Sim? Não? Por quê? 
 Para responder a essas questões é importante investigar como a 
Ciência vem sendo construída ao longo da História do mundo ocidental. 
 
2 Esse texto está baseado em outros dois: A Ciência na história de Angela M. Souza 
Martins e Valéria Wilke e Paradigma da Ciência moderna, de Marco Silva e Valéria Wilke 
(2009). 
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 De uma forma geral, a Ciência greco-romana e medieval 
apresentava as seguintes características: não utilizava a técnica e o 
experimento; especulava racionalmente os fenômenos humanos e da 
natureza; não se preocupava em aplicar de modo prático o 
conhecimento; não aplicava a linguagem matemática na investigação 
científica. 
 Mas, a partir dos séculos XVI e XVII, o mundo passa por mudanças 
significativas, o homem torna-se o centro do universo, abrindo novas 
perspectivas no campo sociocultural, político e econômico. Podemos 
caracterizar esse período com os seguintes aspectos: 
• nascimento de um novo modo de produção – o capitalismo; 
• desenvolvimento da navegação, do comércio e da manufatura; 
• descoberta de novos mundos – chegada às Américas; 
• diminuição da influência religiosa sobre as ideias culturais 
e políticas; 
• implantação de uma visão antropocêntrica (o homem é o centro do 
universo); 
• questionamento do pensamento e dos dogmas católicos; 
• intensa produção intelectual e artística, com uma nova leitura da cultura 
greco-latina. 
 Esses aspectos provocam mudanças no plano das ideias e na 
maneira de conhecer a realidade. Surge, nesse período, uma nova forma 
de racionalidade que cria procedimentos que possam intervir e agir na 
natureza. Nesse ambiente nasce a Ciência moderna, que se fundamenta 
no conhecimento racional e na experimentação (observação racional e 
controlada da realidade); essa nova Ciência procura investigar e 
compreender a natureza, assim como dominá-la e transformá-la. De 
acordo com Descartes, por meio do conhecimento científico devemos nos 
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tornar senhores da natureza. Mas quais seriam as características da 
Ciência moderna e contemporânea? 
 
3.1. Características da Ciência Moderna e Contemporânea 
 
 A ciência moderna e contemporânea inaugura um novo modo de 
conhecer o mundo. Há uma preocupação em conhecer profundamente a 
natureza, como também em agir sobre ela. Vejamos quais são as 
principais características dessa ciência. 
Saber ativo – busca-se conhecer porquê e como os fenômenos 
acontecem. Procura descrever com precisão como esse fenômeno ocorre 
e, se possível, propõe uma intervenção na natureza, transformando-a ou 
criando algo que tenha aplicabilidade. 
Valorização do método – embora o método tenha sido discutido pelos 
filósofos na Antiguidade e na Idade Média, os pensadores modernos 
priorizaram a questão: como posso conhecer verdadeiramente a 
realidade? 
 Vários pensadores (DESCARTES, BACON, LOCKE, HUME, entre 
outros) responderam que somente através de um método rigoroso e claro 
poder-se-ia conhecer efetivamente a realidade. Aceitaram como fonte do 
conhecimento a experiência e a razão. Surgem novos métodos, baseados 
nessas fontes, para investigar a realidade. Entre esses métodos 
destacamos o método experimental, que representa um marco para a 
Ciência moderna. 
Método experimental – exige inicialmente a observação de um 
determinado fenômeno; essa observação poderá ser feita por meio dos 
nossos sentidos ou com algum instrumento de precisão (microscópio, 
telescópio, termômetro etc.). Depois o cientista formula hipóteses sobre 
o que foi observado e em seguida verifica essas hipóteses. Ele testa essas 
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hipóteses realizando um processo de experimentação, podendo repetir 
os fenômenos, variar as condições da experiência, testar os fenômenos 
em outros ambientes etc. Quando confirma a sua hipótese, o cientista faz 
generalizações, criando, em alguns casos, leis. 
 No método experimental, o uso da Matemática é imprescindível, 
porque ela permite medir e quantificar determinados fenômenos; por isso 
afirmamos que a Ciência moderna privilegia a quantidade, e não a 
qualidade, como a Ciência greco-romana e medieval. A linguagem 
matemática – outro aspecto importante da Ciência moderna econtemporânea é o uso da Matemática; a linguagem matemática 
possibilitava medir e verificar com notável precisão os fenômenos 
observados pelos cientistas. A Matemática auxiliava a execução da 
experimentação. 
 Essas características marcam o pensamento científico moderno e 
contemporâneo, mas, no século XIX, aparecem as Ciências Humanas, 
que provocam de imediato o seguinte questionamento: é possível existir 
uma Ciência cujo objeto de estudo é o homem? Podemos usar nas Ciência 
Humanas a mesma metodologia das Ciências da Natureza (Física, 
Química, Biologia, Astronomia etc.)? 
 Além disso, até o século XIX, o homem era estudado 
exclusivamente pela Filosofia, que apresenta uma metodologia de 
pesquisa diferente da Ciência. Outro fator a considerar era que as 
Ciências da Natureza já haviam definido seus métodos de investigação 
da realidade, mostrando o caminho da pesquisa científica. 
 Nesse contexto, a princípio as Ciências Humanas tendem a copiar 
o modelo científico das Ciências da Natureza, mas os cientistas esbarram 
na complexidade de seu objeto de estudo, o homem, que não podia ser 
tratado como “uma coisa” ou “um fenômeno” investigado exclusivamente 
através da experimentação; além disso, as relações humanas e sociais 
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não podiam ser tratadas como algo a ser experimentado ou 
compreendidas por meio da Matemática. 
Surgiam questões importantes: como poderíamos 
observar/experimentar uma determinada sociedade? Como 
estabelecer leis para o que é subjetivo como, por exemplo, o 
psiquismo humano? 
 
 A partir dessas indagações, inicia-se a busca de um método 
científico que possa dar conta do estudo científico do homem e das 
relações humanas. Essa busca possibilita novos caminhos para a 
investigação científica. As Ciências Humanas trabalham com as 
interpretações, entre elas, a hermenêutica e a fenomenologia. 
 Com essas contribuições, foi possível demonstrar que os 
fenômenos humanos são dotados de sentido e significação, são 
históricos, possuem leis próprias, são diferentes dos fenômenos naturais 
e podem ser tratados cientificamente. 
 Mas, é importante que se diga: nenhuma ciência é neutra. 
 
 
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26 
 
 
 
 Para concluir esse Texto Base, observe o conteúdo da ‘tira’ do 
Armandinho. 
 
 
 
PARA REFLETIR: Que relação podemos fazer com o pensamento 
filosófico? 
 
 
 
 
 
AVALIAÇÃO I: 
 
Nesta atividade avaliativa você deverá preencher a Ficha de 
produção de apontamentos reflexivos. Destacará quatro temas, dois 
temas do Texto Base 1 e dois sobre o estudo realizado no Texto Base 2. 
O material encontra-se no AVA/MOODLE. 
 
 
 
 
 
 
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Referências 
 
ARANHA, Maria Lúcia de A. História da educação e da pedagogia: geral e 
do Brasil. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2006. 
 
CHAUÍ. Marilena. Convite a Filosofia. Ed. Ática, São Paulo, 2000. 
 
MARTINS. Ângela M.S; WILKE. Valéria. A Ciência na história. In: 
FLORENTINO, Adilson. Fundamentos da educação 1. v.1 / Adilson 
Florentino. – Rio de Janeiro: Fundação CECIERJ, 2009. 
 
PIRES, Marília Freitas de Campos. O materialismo histórico-dialético e a 
Educação. Interface , Botucatu, v. 1, n. 1,1997. Disponível em 
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-
32831997000200006&lng=en&nrm=iso>. acesso em 15 de março de 
2021. 
 
SILVA. Marco; WILKE. Valéria. Paradigma da Ciência Moderna. In: 
FLORENTINO, Adilson. Fundamentos da educação 1. v.1 / Adilson 
Florentino. – Rio de Janeiro: Fundação CECIERJ, 2009.

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