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Anna lillian canuto bittencourt Ideias gerais • A artrite séptica é definida como um processo inflamatório envolvendo a articulação, infectada por microorganismo que pode ou não ser detectado; • O principal fator de risco é a presença de uma doença articular prévia; - Sendo que a artrite reumatoide é a principal, devido à combinação de danos, medicamentos imunossupressores e má condição da pele. • Condições que causam perda da integridade da pele e condições associadas a imunidade comprometida são outros fatores de risco importante para artrite séptica; • É uma doença incomum, mas não rara. - Responsável por 2 casos a cada 100.000 pessoas por ano. Patogênese • Bacteremia oculta é provavelmente a causa usual; • A sinóvia é um tecido vascular que não possui membrana basal protetora, o que a deixa vulnerável a infecção bacteriana; • A pioartrite GRAM – pode surgir por bacteremia devido ao uso de drogas injetáveis ou perda da integridade do trato gastrintestinal ou urinário; • Ocasionalmente, a pioartrite é resultado direto de um trauma penetrante, como mordidas de animais, ou uso errôneo de drogas injetáveis; • A maioria dos casos é causada por bactérias GRAM +; • Os Staphylococcus aureus, os principais causadores de pioartrite, produzem várias adesinas de superfície que se ligam a proteínas da matriz extracelular; • Como acontece o acometimento articular: 01. As bactérias, ao chegarem na articulação, liberam toxinas e enzimas que geram danos à cartilagem; Pioartrite Anna lillian canuto bittencourt 02. Além disso, a invasão bacteriana gera uma inflamação local que vai seguir por três caminhos: 2.A. Os neutrófilos, da inflamação, liberam espécies reativas de oxigênio e proteases lisossomais, que são geram mais danos na cartilagem; 2.B. A liberação de citocina, devido à inflamação, ativa as metaloproteinases da matriz do hospedeiro, as quais fazem autodigestão da cartilagem; 2.C. A inflamação gera um acúmulo de exsudato purulento na sinóvia que faz com que a pressão nessa articulação diminua e, consequentemente, haja o menor fluxo sanguíneo sinovial. Isso gera uma anóxia da cartilagem, já que ela é avascular e depende do fluxo sanguíneo sinovial. 03. Todas as alterações levam para um dano da cartilagem, gerando a artrite séptica. Etiologia e Quadro clínico Artrite não gonocócica: • O Staphylococcus aureus é o causador mais comum de artrite séptica não gonocócica; - Responsável por 52% de casos da AS; • A maioria dos casos surge como resultado da bacteremia transitória causada por uma lesão na pele ou mucosa; • O Staphylococcus aureus é uma bactéria GRAM + e é produtora de toxinas; • O Staphylococcus aureus resistente a meticilina (MRSA) tem ganhado importância na artrite séptica; - Boston (EUA): 25% dos casos; - Califórnia (EUA): 50% dos casos; - São Paulo: 36% dos casos. • Além do Staphylococcus aureus há outros cocos GRAM + (como o S. pyogenes e o grupo viridans) e bacilos GRAM – (Escherichia coli, Salmonella, Pseudomonas, entre outros); • O Haemophylus influenzae só é comum em crianças entre um mês e cinco anos de idade não vacinadas; • Predomina em crianças, idosos, pacientes imunocomprometidos ou usuários de drogas endovenosas; • Os pacientes com artrite séptica não gonocócica geralmente apresentam monoartrite francamente inflamatória; • As articulações mais acometidas são o joelho, o quadril, o tornozelo, o punho e o ombro; • Líquido sinovial com aspecto turvo ou purulento com contagem leucocitária bastante alta; Anna lillian canuto bittencourt - 25.000-250.000 leucócitos/mm³ (média de 100.000/mm³). Artrite gonocócica: • É causada pela Neisseria gonorrhoeae, um diplococo GRAM -; • É sexualmente transmissível; - Na mulher, causa: cercite, salpingite, uretrite e proctite; - No homem, causa: proctite. • Predomínio na faixa etária dos adultos jovems (20-30 anos) sexualmente ativos; • Pode se apresentar de duas formas: 01. Síndrome Artrite-Dermatite (Fase Poliarticular ou Fase Gonococcemia): - Quadro inicial de febre alta, calafrios e lesões de pele, acompanhadas de envolvimento poliarticular (artralgia/artrite); - As lesões cutâneas ocorrem em 75% dos casos e têm preferência pelas extremidades, especialmente as mãos, apresentando-se como pústulas ou vesículas indolores, com base eritematosa, frequentemente com centros necróticos ou hemorrágicos; - Tenossinovite em múltiplos tendões, principalmente em punhos, tornozelos, mãos, pés e tendão de Aquiles; - Hemocultura frequentemente positiva; - Culturas do líquido sinovial frequentemente negativas. 02. Artrite supurativa (fase monoarticular): • Monoartrite com predominância no joelho, tornozelo e punho; • Hemocultura: negativa; • Culturas do líquido sinovial: positiva em 30% dos casos; Quando devemos pensar em artrite séptica não gonocócica? Em qualquer monoartrite! Principalmente associada à febre alta, de início agudo e acentuada flogose articular. Anna lillian canuto bittencourt Diagnóstico • A coloração de GRAM e a cultura do líquido sinovial devem sempre ser realizadas em qualquer caso de artrite; • A antibioticoterapia deve ser adiada até que o líquido sinovial seja coletado; • As colorações de GRAM do líquido sinovial são úteis, porém nem sempre dão positivas: - Positivas em 71% de artrite séptica GRAM +; - Positivas em 40-50% de artrite séptica GRAM -; - Positivas em mais ou menos 25% dos casos de artrite séptica gonocócica. • Os pacientes devem ser tratados quando o líquido sinovial for branco e/ou a contagem de leucócitos exceda 50.000/mm³; - CUIDADO! Leucócitos menor que isso não exclui artrite séptica. • Em 1/3 dos casos de artrite séptica, o paciente apresenta bacteremia associada, o que faz com que a hemocultura seja positiva; Histórico e Exame físico de Artrite infecciosa: • Dor intensa; • Aumento da temperatura; • Edema importante; • Hiperemia; • Dor à movimentação ativa e passiva; • Dor não alivia com repouso. Anna lillian canuto bittencourt • O diagnóstico de artrite séptica gonocócica é baseado na síndrome clínica compatível com a infecção disseminada e isolamento da bactéria em amostras cervicais, uretrais, retais ou orofaríngeas; • Explicações possíveis para as culturas negativas de líquido sinovial em casos de suspeita de artrite séptica: - O diagnóstico clínico da artrite séptica pode ser equivocado; - O líquido sinovial foi obtido após o início dos antibióticos; - Um pequeno número de bactérias estava presente, talvez por causa da rápida fagocitose dos neutrófilos; - A quantidade de líquido sinovial plaqueado era inadequado; - As bactérias infectantes podem ter requisitos de crescimento exigente. • TC e RM podem confirmar a presença de derrames e inflamação nas articulações que estão difícil de avaliar clinicamente, como nas articulações do ombro, quadril, sacroilíaca e esternoclavicular; - Também ajuda a excluir osteomielite em ossos adjacentes. Tratamento • Como a artrite séptica é rápida, antibióticos de amplo espectro são geralmente garantidos até que os dados da cultura sejam liberados; • Os regimes iniciais de antibiótico devem incluir algum que pegue o Staphylococcus aureus resistente a meticilina, como a vancomicina; • Um medicamento contra GRAM -, como cefepima, pode ser adicionado se os pacientes estiverem muito doentes ou com maior risco de infecção por GRAM -, como idosos, imunocomprometidosou usuários de drogas intravenosas; • A artrite séptica associada a picadas de humanos ou animais deve ser tratada com agentes ativo contra a flora oral, como ampicilina-sulbactam; • Pacientes sexualmente ativos com síndromes clínicas sugestivas de infecção gonocócica disseminada devem receber ceftriaxona. • Uma vez que o organismo causador foi identificado, a terapia deve ser restringida com base em dados de sensibilidade; Anna lillian canuto bittencourt • Os dados sobre a duração da terapia são escassos: - Artrite em adultos deve ser tratada por pelo menos 3 semanas; - Em crianças com artrite séptica não complicada, apenas 10 dias de antibioticoterapia podem ser suficientes; - A artrite séptica gonocócica pode ser tratada com 2 semanas de ceftriaxona; - Como a osteomielite é comum em infecções das articulações cartilaginosas, como as articulações esternoclavicular e sacroilíaca, cursos de antibióticos de 6 semanas são recomendados. Complicações • O prognóstico está diretamente relacionado com os fatores de risco e a virulência do agente causador, mas principalmente com a rapidez e precisão com que é feito o diagnóstico e a terapia; • Em 50% dos casos, ocorre lesão articular permanente; • Os fatores de risco para pior prognóstico: - Idade maior que 65 anos; - Envolvimento poliarticular; - Imunossupressão por doença ou tratamento. • As complicações podem gerar desde uma perda funcional da articulação até artrodese, cirurgia para colocar prótese ou amputação. Referências GOMES, Rafael Santos; DE ARAÚJO, Daniel Brito; FLATO, Uri Adrian Prync. Diagnóstico da monoartrite aguda na emergência. Rev Bras Clin Med, v. 7, p. 104-110, 2009. HASSAN, Ahmed S. et al. Peripheral bacterial septic arthritis: review of diagnosis and management. JCR: Journal of Clinical Rheumatology, v. 23, n. 8, p. 435-442, 2017. ROSS, John J. Septic arthritis of native joints. Infectious Disease Clinics, v. 31, n. 2, p. 203-218, 2017.
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