Buscar

ARTRITE SÉPTICA

Prévia do material em texto

Raquel da Silva Rogaciano Ferreira – Medicina Unime 
 
A artrite séptica é a infecção articular por invasão direta do microorganismo. Esse microorganismo causa o 
processo infeccioso, diferentemente da artrite reativa, a qual é reacional. 
A artrite séptica é uma urgência, pois a infecção articular tem potencial de destruição articular e perda da 
funcionalidade. Sua evolução ocorre de forma mais distinta, determinada pela interação entre o 
microorganismo e o hospedeiro. 
Cada tipo de microorganismo leva a determinado comportamento, por exemplo é diferente a infecção 
fúngica da bacteriana. A situação do hospedeiro também tem relevância quanto a sua 
imunocompetência. 
Quando falamos sobre Artrite Séptica AGUDA, nos referimos à infecção bacteriana (gonocócica e não 
gonocócica), já a Artrite Séptica CRÔNICA, nos referimos a fungos e micobacterias (geralmente em 
hospedeiros imunocomprometidos). 
A cartilagem articular é não vascularizada, dependente do liquido sinovial para transporte de oxigênio, e 
por não vascularizada é suscetível a anóxia. A membrana sinovial é vascularizada, geralmente é por onde 
o microorganismo chega. Além disso, a membrana sinovial não possui proteção/barreira para impedir a 
passagem desses microorganismos, deixando então a articulação suscetível à infecção. 
Na artrite séptica aguda não gonocócica, possui o germe mais comum o Staphylococcus aureus, é o mais 
comum em todas as idades (crianças, idosos, pacientes imunocomprometidos, usuários de drogas 
endovenosas e portadores de alterações articulares de base. Durante a bacteremia o principal fator de 
risco para desenvolvimento de artrite bacteriana é a existência de lesão articular prévia, como artrite 
reumatoide, osteoartrose... 
A não gonocócica é a artrite aguda mais comum. Sua clínica é caracterizada por monoartrite 
(principalmente em MMII – joelhos, quadril, tornozelo. Em MMSS – ombro e punho) Ao exame físico, nota-se 
o bloqueio articular acompanhado de dor intensa. Outras manifestações são : febre, sintomas 
constitucionais (astenia..). 
O diagnóstico se dá por análise do líquido sinovial que se apresenta turvo e as vezes purulento, com 
contagem de leucócitos alta (com predomínio neutrofílico), glicose baixa e proteína e lDH altas. Outros 
métodos são bacterioscopia e cultura que em 90 % dos casos resultam positivas. 
O tratamento se dá através da administração de Penicilina G cristalina, oxacilina ou ceftriaxone. A via oral 
deve ser evitada por ser menos eficaz. A administração de antibióticos intra articulares deve ser evitada por 
risco de sinovite asséptica. 
A terapia deve ser realizada de acordo com o patógeno: 
 Staphylococcus aureus sensível – Oxacilina por 3 – 4 semanas. 
 MRSA – Vancomicina por 3-4 semanas 
 Gonococos – Ceftriaxone por 7 a 14 dias 
 Estreptococos – Penicilina G cristalina por 2 semanas 
 Haemophilus influenzae – Ceftriaxone por 2 semanas 
 Gram negativos entéricos – Ceftriaxone ou levofloxacina por 3-4 semanas. 
 
Na artrite séptica aguda gonocócica, o principal agente é a Neisseria gonorrhoeae, que é um diplococo 
Gram negativo sexualmente transmissível, por isso mais comum em adulto sexualmente ativo. Se inicia em 
 
 
Raquel Rogaciano - Medicina Unime - 2021.1 
aparelho geniturinário e se estende por via hematogênica para os tecidos e articulações. A infecção 
disseminada ocorre em 3% dos pacientes com infecção gonocócica. São de maiores risco: pacientes < 40 
anos, mulher, menstruação recente, gravidez ou puerpério imediato, deficiência congênitas ou adquiridas, 
Lúpus Eritematoso Sistêmico. Existem outros mecanismos de disseminação, porém a principal é a via 
hematogênica. 
Existem outros agentes, de acordo com a faixa etária, como recém nascidos (Streptococcus grupo B), 1 – 5 
anos (Haemophilus influenzae), > 5 anos (Streptococcus pyogenes), nos idosos (Estreptococos e bacilos gram 
negativos). Outros agentes de acordo com a situação clínica. 
O quadro clínico possui fases: 
 Fase Bacterêmica: febre, sintomas constitucionais, tríade da artrite séptica gonocócica (poliartrite + 
tenossinovite + dermatite) 
 Fase Supurativa: Monoartrite, quando o gonococo invade o interior do espaço articular. 
Exames complementares: Hemocultura (isolar o microorganismo); Artrocentese com análise do líquido 
sinovial (na fase monoarticular) (avaliar a citologia, cultura, bacterioscopia e pesquisa de cristais); 
Hemograma (leucocitose), PCR, VHS. 
Tratamento da A.S. Gonocócica se inicia com Ceftriaxone (1g IV ou IM a cada 24 horas) até que melhore 
os sintomas locais e sistêmicos + Azitromicina de dose única. O tratamento leva 7 dias. Se for em fase 
supurativa, o tratamento leva de 7 a 14 dias, além da lavagem articular por artroscopia (raramente é 
necessária). Lembrar de Tratar parceiro. 
Classificação do líquido sinovial: 
Normal: alta viscosidade, incolor, leucócitos 0-200, polimorfonuclear < 25% 
Tipo I : Não inflamatório: alta viscosidade, amarelo claro, leucócitos 200-2000, polimorfonuclear < 50%, 
geralmente por osteoartrite. 
Tipo II: Inflamatório: viscosidade diminuída, alaranjado, pouco turvo, leucócitos : 2mil – 50mil, 
polimorfonuclear> 50%, geralmente por artropatias inflamatórias, gota, pseudogota... 
Tipo III : séptico: viscosidade diminuída, purulento, turvo, leucócitos > 50 mil – 100 mil, polimorfonuclear > 75%, 
geralmente por artrites sépticas, e pseudosépticas (doenças com muita inflamação – artrite reumatoide, 
gota, artrite reativa – quando muito inflamadas.) 
Tipo IV : Hemartrose: alta viscosidade, vermelho, leucócitos similar ao sangue, polimorfonuclear: similar ao 
sangue, geralmente em traumas, sinovites, neoplasia, charcot, distúrbios da coagulação. 
 
Prognóstico 
Na infecção estafilocócica, 50% evoluem com perda da função articular, em contraste a infecção 
gonocócica tem um bom prognóstico. A osteomielite pode ser complicação de artrite séptica ou causa. O 
método de imagem mais sensível para detecção é a cintilografia óssea. Nos casos de osteomielite é 
realizada extração de material ósseo para determinar o agente causal, o mais comum continua sendo o S. 
aureus. 
 
REFERÊNCIA: 
1. Goldenberg, Don L. Sexton, Daniel J. Septic arthritis in adults. Post TW, ed. UpToDate.Waltham, MA: 
UpToDate Inc.2021 
2. Imboden, Jonh B. Hellman, David B. Stone, John H. Current Reumatologia: diagnóstico e 
tratamento. 3. ed. Porto Alegre: AMGH, 2014. 
3. Vasconcelos, José Tupinambá Sousa., et al. Livro da Sociedade Brasileira de Reumatologia. 1. ed. 
Barueri [SP]: Manole, 2019 
 
http://www.uptodate.com./
http://www.uptodate.com./

Continue navegando