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FUNDAMENTOS DO METABOLISMO DE FÁRMACOS Flavio da Silva Emery Química Farmacêutica Medicinal Bibliografia BARREIRO, E. J., FRAGA, C. A. M. “Química Medicinal: as bases moleculares da ação dos fármacos”, Artmed Editora, 2001. Cap. 1: “Aspectos gerais da ação dos fármacos”, p. 35-51. SILVERMAN, R. B. “The organic chemistry of drug design and drug action”, Academic Press, 2004, 2nd Ed. Cap. 7: “Drug metabolism” p. 405-495. WERMUTH, C. G. (ed.) “The practice of medicinal chemistry”, Elsevier Academic Press, 2003, 2nd Ed. Cap. 31: J. Magdalou, S. Fournel-Gigleux, B. Testa, M. Ouzzine. “Biotransformation reactions” p.517-543. Cap. 32: “Chemical mechanisms of toxicity: basic knowledge for designing safer drugs” p. 545-560. WILLIAMS, D. A., LEMKE, T. L. (Eds). “Foye´s Principles of Medicinal Chemistry” Lippincott Williams & Wilkins, 2002, 5th Ed. Cap. 8: D. A. Williams “Drug metabolism” p. 174-233. Porque uma substância química deve ser metabolizada? Produção de anticorpos Organismo invasor O CH3 OH C5H11 1-THC Pequenas moléculas O COOR OR C5H11 H O OH OH H HO COO - R = -glucuronil Produção de enzimas Quem realiza a metabolização? Compostos estranhos ao organismo XENOBIÓTICOS (geralmente lipofílicos) Compostos hidrofílicos Eliminação (urina) fígado Fígado, rins, pulmões, trato gastrointestinal Enzimas não específicas Fármaco inativo metabólito ativo (bioativação) Fármaco ativo metabólito ativo (mesma atividade, toxicidade) Fármaco ativo metabólito inativo (bioinativação) Princípio geral do metabolismo N NH O O O O TALIDOMIDA Década de 60 • Indicada para redução do desconforto matinal em gestantes • nascimento de 12.000 crianças com deformações congênitas • R - sedativo / analgésico • S - metabólitos eletrofílicos reagem com nucleófilos orgânicos (teratogenicidade) O estudo do metabolismo dos fármacos permite: • estabelecer a cinética de formação e as estruturas químicas dos metabólitos; • determinar a velocidade e o sítio de absorção majoritário; • determinar os níveis de concentração e depósito plasmático e tissular do fármaco e metabólitos (estabelecimento da meia vida média); • determinar a principal via de eliminação; • determinar os sítios moleculares vulneráveis metabolicamente; • compreender as interações metabólicas entre fármacos administrados simultaneamente; • determinar a toxicidade dos metabólitos e correlacioná-la com a estrutura química; • fornecer novos protótipos com atividades farmacológicas distintas • bioativação de pró-fármacos Fatores que afetam o metabolismo: Genéticos: diferenças de expressão das enzimas de metabolização (ex: maior sensibilidade de japoneses e chineses ao etanol) Fisiológicos: metabolismo prejudicado em pessoas muito jovens e idosos • diferenças sexuais, gravidez, • doenças (especialmente hepáticas), estado nutricional Farmacodinâmicos: dose, posologia, via de administração, depósito tecidual, ligação a proteínas plasmáticas Ambientais: competição metabólica entre fármacos e xenobióticos Reações metabólicas Biotransformação (fase I) Conjugação (fase II) oxidação redução hidrólise Glicuronidação glutationa Sulfatação glicina acetilação metilação Quais as principais reações metabólicas? Metabolismo Fase I (i) Oxidação Hidroxilação alifática ou aromática N-, or S-oxidação N-, O-, S-dealquilação (ii) Redução Redução de Nitro a hidroxilamina/ amina Redução de carbonila ao álcool (iii) Hidrólise Ester ou amida ao ácido/álcol e amina Hidrazidas ao ácido e hidrazina substituída O OH N H O OH N H OH Propranolol (-blocker) O O CO 2 H OH CO 2 H Aspirin (Analgesic) N N H O O 2 N N N H O NH 2 Nitrazepam (hypnotic) N NH 2 NH N NH 2 NH OH Debrisoquine (anti-hypertensive) Phase II Metabolism (i) Glicuronidação Ácido carboxílico, alcool, fenol, amina (ii) Amino ácidos Ácidos carboxílicos (iii) Acetilação Aminas (iv) Sulfatação álcool, fenol, amina (v) Conjugação glutationa (gly-cys-glu) Compostos halogenados, epóxidos, óxidos de areno, quinona- iminas OH OH NH O CHCl 2 O 2 N O OH OH OH OH O NH O CHCl 2 O 2 N CO 2 H Chloramphenicol (antibiotic) O OH OH N H O O OH N H S O OH OPrenalterol (-blocker) Reações da Fase I do metabolismo enzimas microssomais hepáticas Reações oxidativas: Citocromo P450, Flavina monooxigenase (FMO), desidrogenases, -oxidases, Processos microssomais de biotransformação Complexo enzimático citocromo P450 Enzimas ligadas às membranas (oxidases de função mista): • flavoproteína – NADPH-CYP450 redutase – carreador de elétrons do NADPH para CYP450 • proteína heme – citocromo P450 – sítio de ligação e ativação do O2 e sítio de ligação do substrato Ambas contém flavina mononucleotídeo (FMN) e flavina dinucleotídeo (FAD) • associadas a lipídeos (fosfatidilcolina) – manutenção do ambiente negativamente carregado 17 isoformas de CYP450 Isoformas humanas do CYP450 expressas no fígado 3A4/5 - 34% Isoformas que não metabolizam fármacos – 19% 1A2 – 13% 2A6 – 4% 2B6 – 1% 2C – 19% 2D6 – 3% 2E1 – 7% Oxidam substâncias endógenas (esteróides, ácidos biliares, vitaminas lipossolúveis, etc.) 3 A 4 /5 – 3 6 % 1 A 1 – 3 % 2 C 8 /9 – 1 7 % 2 C 1 8 /1 9 – 8 % 2 D 6 – 2 1 % 2 E 1 – 4 % Metabolização de fámacos clinicamente importantes Metabolismo oxidativo da cafeína N N N N O H3C O CH3 CH3 cafeína N N H N N O H3C O CH3 paraxantina N N N N O H3C O CH3 CH3 Ácido 1,3,7-trimetilúrico OH CYP450 1A2 CYP450 3A CYP450 Fe N N N N 3+ HOOC HOOC PROTOFORFIRINA FÉRRICA IX N N N N Fe IV O S N N N N Fe IV O H S R R Deslocamento de 1 elétron do anel aromático N N N N Fe III O H S R Deslocamento [1,2] de hidreto O H H R N N N N FeIII S RHO R O H H HIDROXILAÇÃO AROMÁTICA SILVERMAN, R. B.“The organic chemistry of drug design and drug action”, Academic Press, 2004, 2nd Ed. Cap. 7: “Drug metabolism” p. 405-495. M. R. Wester et al. J. Biol. Chem. 2004, 279, 35630. PDB ID 1R9O – CYP450 2C9 (2.0Å) R O H H R OH R OH OH R OH SG R OH X rearranjo epóxido hidrolase H2O glutationa S-transferase GSH nucleófilos macromoleculares Possíveis reações com óxidos de areno R O H R O H H B H + Exemplos de reações que podem ocorrer com o óxido de areno: • abertura do epóxido catalisada por hidrolase OH HO O DNA NH N N O NHN O O OPO O O- OH HO HO GUANINA DESOXINUCLEOTÍDEO • abertura do epóxido catalisada biomacromoléculas regiosseletividade Benzopireno diol Anel mais ativado – mais rico em elétrons NH COO - Na + ClCl diclofenaco Dois anéis aromáticos Anéis aromáticos desativados (grupos retiradores de elétrons: -Cl, -N+R3, -COOH, -SO2NHR) Geralmente mais resistentes à hidroxilação COOH (H3CH2CH2C)2NO2S probenecid N H Cl Cl N H HN + Cl - cloreto de clonidina (anti-hipertensivo) Dois anéis aromáticos Hidroxilação ocorre no anel mais rico em elétrons N H N O Cl diazepam(anticonvulsivante) N S Cl Nclorpromazima (antipsicótico) Anéis aromáticos desativados de poluentes ambientais resistentes à oxidação aromática: alta lipofilicidade e baixa metabolização (persistência no organismo) O O Cl ClCl Cl 2,3,7,8-tetraclorodibenzo-p-dioxina ClnClm misturas de bifenil policlorados AFLATOXINA CYP450 O O O O O OCH3 H H O O O O O OCH3 H H O DNA O O O O O OCH3 H H OH HN N N N O H2N CARCINOGENICIDADE DA AFLATOXINA Posição benzílica Oxidação de carbonos benzílicos N N O CH3 H3C N N O CH3 H2C OH Oxidação de carbonos benzílicos metaqualona 2-hidroximetaqualona Oxidação de carbonos alílicos N NHO H3CO N NHO H3CO OH quinidina 3-hidroxiquinidina N CH3 HO N CH3 HO N CH3 HO OH HO + pentazocina Metabólito trans Metabólito cis Oxidação de carbonos à carbonilas (C=O) e iminas (C=N) N N O H3C Cl N N O H3C Cl OH diazepam 3-hidroxidiazepam Oxidação em carbonos alifáticos e alicíclicos R R R OH OH oxidação -1 oxidação HN N H O O O HN N H O O O OH amobarbital Exemplos de reações oxidativas da fase 1 do metabolismo catalisadas pelo CYP450 – N,S,O-desalquilações N N CH3 CH3 N N H imipramina desimipramina O N CH3 OHH3CO O N CH3 OHHO codeína morfina N N N H N S H3C N N N H N SH 6-metilmercaptopurina 6-mercaptopurina Metabolismo da papaverina Exemplos de reações oxidativas da fase 1 do metabolismo de hidrocarbonetos alifáticos e alicíclicos catalisadas pelo CYP450 H3C S N H O O O N H S N H O O O N H OHTolbutamida Oxidação metílica COOH COOH COOH + OH OH Ibuprofen Oxidação da cadeia alquílica lateral N H O CH3 N H O CH3O Exemplos de reações oxidativas da fase 1 do metabolismo de hidrocarbonetos alifáticos e alicíclicos catalisadas pelo CYP450 Fenmetrazina Oxidação de anel heterocíclico OH O OH O Ácido valpróico desidrogenação Exemplos de reações oxidativas da fase 1 do metabolismo de alcenos catalisadas pelo CYP450 N CH3 N CH3 O cicloeptadina Epoxidação de ligação dupla O NH2 CARBAMAZEPINA O NH2 CYP450 O O NH2 OH epóxido hidrolase HO Abertura estereosseletiva do epóxido Exemplos de reações oxidativas da fase 1 do metabolismo de compostos aromáticos catalisadas pelo CYP450 HN O HN O OH ACETANILIDA ACETAMINOFENO N H NH O O N H NH O O OH FENITOÍNA N- e S-oxidações catalisadas por flavina monooxigenase (FMO) FMO – mecanismo distinto do CYP450 Catalisa oxidação dos heteroátomos N e S, mas não promove desalquilações N – secundários, terciários, ciclícos, arilaminas, hidroxilaminas, hidrazinas Aminas terciárias acíclicas e cíclicas para N-óxidos Aminas secundárias acíclicas e cíclicas para hidroxilaminas e nitronas N-alquil e N,N-dialquilaril aminas para hidroxilaminas Tióis, dissulfetos e tioéteres para sulfonas e sulfóxidos Ciclo catalítico da FMO hepática N N NH N O O R H3C H3C N H N NH N O O R H3C H3C N R O NH2 H H O OH + N H N NH N O O R H3C H3C O O HSUBSTRATO R H B PRODUTO OXIDADO N N NH N O O R H3C H3C OH H B H2O NADPH Exemplos de reações oxidativas da fase 1 do metabolismo catalisadas pela flavina monooxigenase (FMO) – compostos nitrogenados R3 N R1 R2 + Enz FAD OOH R3 N R1 R2 O Enz FAD OH+ Aminas terciárias acíclicas e cíclicas para N-óxidos N O OH CH3 ATROPINA N S N CLORPROMAZINA N N CH3 NICOTINA Aminas secundárias acíclicas e cíclicas para hidroxilaminas e nitronas H N R1 R2 + Enz FAD OOH HO N R1 R2 Enz FAD OH + Enz FAD OOH O N R1 R2O Enz FAD OH N-alquil e N,N-dialquilaril aminas para hidroxilaminas H N R Ar + Enz FAD OOH HO N R Ar Enz FAD OH Hidrazinas 1,1-dissubstituídas H2N N R1 R2 + Enz FAD OOH H2N N R1 R2 Enz FAD OH O Exemplos de reações oxidativas da fase 1 do metabolismo catalisadas pela flavina monooxigenase (FMO) – compostos com enxofre Tióis e dissulfetos R SH R S S R R S S R O R1 S R1 S R2 O R2 R1 S R2 O O SULFÓXIDO SULFONA Tioéteres H N H N N S HN N Me Me CN cimetidina sulindaco Oxidações não microssomais Oxidações de álcoois – álcool desidrogenase / NAD OH O HOH O Oxidações de aldeídos – aldeído desidrogenase / NAD O H O OH Oxidações de bases purínicas – xantina oxidase e xantina desidrogenase N N N H N SH N N N H N SH HO 6-MERCAPTOPURINA ÁCIDO 6-MERCAPTOÚRICO Desaminação oxidativa de aminas Monoamino oxidase (MAO) e diamino oxidase (DAO) R NH2 + O2 R NH R O + NH4 + Reações redutivas: NADPH-citocromo C redutase N S H N NH2 O O O O O O N S O O O N S H N NH2 O O O O HO O N S O O O SULTAMICILINA esterase OH + N S H N NH2 O O OH OAMPICILINA SULBACTAMA Reações hidrolíticas: ésteres e amidas enzimas plasmáticas, hepáticas, renais, outros tecidos FÁRMACOS COLINÉRGICOS E ANTICOLINÉRGICOS: ação de esterases N N N O O N O O decametônio succinilcolina Antagonistas nicotínicos H3C O N O CH3 CH3 CH3 H2N O N O CH3 CH3 CH3 CH3 acetilcolina betanecol Agonistas muscarínicos Fase II - Reações de conjugação Excreção na urina ou na bile Efeito de primeira passagem – presença de funções lábeis na estrutura do fármaco, que permitem que o mesmo sofra reação de fase II diretamente, diminuindo sua meia-vida O3SO P O OH O OPO3H2 OH O N N N N H2N R OH OSO3 + R Conjugação com sulfato sulfotransferase SO4 -2 + ATP 1. ATP-sulfurilase 2. APS - fosfoquinase 3-fosfoadenosina-5´-fosfossulfato + ADP + PPi (PAPS) (PAPS) UDP – glucuronato Ácido glucurônico uridina difosfato – UDPGA forma do ácido glucurônico ativada O HO COO OH OH O P O O O P O O O OH OH O N NO O R-OH O HO COO OH OHRO Conjugação com ácido glucurônico Conjugação com glutationa (GSH) HS H N COOH NH2 O OHN HOOC E Gly Glu Cys + substrato eletrofílico glutationa S-transferase S H N COOH NH2 O OHN HOOC E aduto de glutationa -glutamil transpeptidase Glu S NH2 OHN HOOC E cisteinil glicinase Gly S NH2 OHO E N-acetilase S NH OHO E O acetil CoACoA derivado ácido mercaptúrico
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