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1. INTRODUÇÃO A modelagem matemática, de uma forma simples, resume-se à criação de um modelo matemático (um padrão ou fórmula matemática) para explicação ou compreensão de um fenômeno natural. Esse fenômeno pode ser de qualquer área do conhecimento. Atualmente, podemos perceber o uso da modelagem matemática na criação de bovinos, produção de materiais para construção civil, movimentação de animais, teoria da decisão, crescimento de cidades, controle biológico de pragas e outros. O atual papel da educação matemática é formar cidadãos aptos para o convívio em sociedade, respeitando as diferenças, agindo de forma crítica e reflexiva diante das situações cotidianas. Através do uso da modelagem matemática na sala de aula podemos trabalhar a interdisciplinaridade, a transversalidade, mostrando ao aluno como a matemática pode ser útil em sua vida fora do ambiente escolar e como ela interage com as demais áreas do conhecimento. O aluno passa a perceber a importância da matemática para a compreensão de fenômenos naturais, como é possível “prever” alguns acontecimentos utilizando fórmulas e modelos e isso acaba despertando seu interesse pela ciência. A introdução da modelagem matemática pode ser feita através da resolução de problemas, trazendo para dentro de sala a realidade do aluno, uma vez que a matemática só fará sentido para os educandos quando ela se tornar significativa e prazerosa. As diversas situações-problemas farão com que a capacidade de interpretação melhore, o aluno assuma uma posição crítica ao tentar resolvê-las e consiga analisar que pode haver mais de uma solução e que há vários caminhos para chegar até elas. Observe que isso é essencial para a solução de situações que são vividas por todos nós diariamente. Precisamos de cidadãos matematicamente alfabetizados que, ao se depararem com seus problemas econômicos, no comércio, na medicina e em outras situações diárias, consigam resolvê-los de forma rápida e precisa. 1 2. MODELAGEM MATEMÁTICA Com o auxílio da matemática o homem utiliza representações que são capazes de explicar e interpretar fenômenos em estudo. A estas representações damos o nome de modelo. O uso da Matemática como linguagem simbólica conduz a uma representação da situação problema em termos matemáticos. Um modelo matemático pode ser entendido como um conjunto de símbolos e relações matemáticas que representa uma situação, um fenômeno ou um objeto real a ser estudado. Os modelos matemáticos podem ser expressos através de gráficos, tabelas, equações, sistemas de equações, etc. Por outro lado, um conjunto de regras e procedimentos que guiam o modelador na obtenção de um modelo matemático que represente um problema extra matemático, utilizando-se para isso técnicas matemáticas, conhecimentos científicos, experiência e criatividade é o que denominamos Modelagem Matemática. A Modelagem Matemática “consiste na arte de transformar problemas da realidade em problemas matemáticos e resolvê-los interpretando suas soluções na linguagem do mundo real”. Ela permite a realização de previsões e tendências e é eficiente a partir do momento que tomamos consciência de que estamos trabalhando sobre representações de um sistema ou parte dele. É um processo dinâmico, onde, partindo-se de um problema real, associado a um conjunto de hipóteses, é obtido um modelo que forneça possíveis soluções para o problema. Como método de pesquisa, tem uma orientação metodológica a ser seguida. Neste sentido, foram elaborados diferentes esquemas visando descrever as etapas pertinentes a um processo de Modelagem Matemática. Um esquema encontrado com freqüência na literatura é composto pelas seguintes etapas: • Definição do problema: a partir de uma situação real é identificado o problema a ser estudado. Em seguida devem-se obter os dados necessários para sua solução. • Simplificação e formulação de hipóteses: Os dados são examinados e selecionados de modo que preservem as características do problema, isto é, é feita uma simplificação. • Dedução do modelo matemático: Nesta etapa substitui-se a linguagem em que se encontra o problema para uma linguagem matemática coerente. 2 • Resolução do problema matemático: é a fase em que, utilizando-se recursos da Matemática, procura-se uma solução do problema matemático formulado. • Validação: é a fase em que a aceitação do modelo encontrado é analisada. Assim, os dados reais são comparados com os dados fornecidos pelo modelo. Caso o modelo seja considerado não válido, deve-se retornar à formulação de hipóteses e simplificações e reiniciar o processo. • Aplicação do modelo: Caso seja considerado válido, o mesmo é utilizado para compreender, explicar, analisar, prever ou decidir sobre a realidade em estudo. Esta é a fase que possibilita o intervir, o exercitar, o manejar situações associadas ao problema. Estas etapas não representam uma prescrição rigorosa, mas constitui uma seqüência de procedimentos norteadores que podem proporcionar maior êxito no estudo de problemas por meio da Modelagem Matemática. Biembengut e Hein (2003) dizem que a formulação de modelos interpretativos dos fenômenos naturais e sociais é inerente ao ser humano. Os mesmos autores, citando Granger (1969) dizem que: “(...) o modelo é uma imagem que se forma na mente, no momento em que o espírito racional busca compreender e expressar de forma intuitiva uma sensação, procurando relacioná-la com algo já conhecido, efetuando deduções” (p. 11). Bassanezi (2004) diz que se cria o modelo quando se procura refletir sobre uma porção da realidade, na tentativa de explicar, de entender ou de agir sobre ela (a realidade). Assim, entendemos por modelo a representação de algo que foi compreendido e expresso de alguma maneira que se possam fazer relações com o mundo ao redor, através de predições, explicações, manipulações, formulações. Se usarmos um conjunto de símbolos e relações matemáticas a fim de traduzir um fenômeno ou problema real, estaremos utilizando um modelo matemático (Biembengut e Hein, 2003), pois, como afirma Bassanezi (2004), “Um modelo matemático é um conjunto consistente de equações ou estruturas matemáticas, elaborado para corresponder a algum 3 fenômeno – este pode ser físico, biológico, social, psicológico, conceitual ou outro modelo matemático” (p. 174). 3. MODELO E MODELAGEM MATEMÁTICA Para Biembengut e Hein (2000, p.11), “a idéia de modelagem suscita a imagem de um escultor trabalhando com argila produzindo um objeto”. Na concepção dos autores, esse objeto que representa sua idéia é um modelo, e o processo de obtenção desse modelo é a modelagem. Tenho plena compreensão que o termo modelo é sempre ambíguo, e, dependendo do estudo, cada autor se aventura em dar uma definição. Contudo muitas situações do mundo real podem apresentar problemas que requeiram soluções e decisões provenientes da matemática, seja qual for o caso, a resolução de um problema, em geral quando quantificado, requer uma formulação matemática detalhada. Nessa perspectiva, a idéia de modelo apresentada a partir das reflexões feitas anteriormente, cria uma nova roupagem, a relação com a matemática e passa a ser denominado modelo matemático. Vejamos alguns conceitos encontrados na literatura: • “Um conjunto de símbolos e relações matemáticas que traduz, de alguma forma, um fenômeno em questão ou um problema de situação real, é denominado de Modelo Matemático” (BIEMBENGUT e HEIN, 2000, p. 12). • “Modelo matemático de um fenômeno, é um conjunto de símbolos e relações matemáticas que traduzem de alguma forma o objeto estudado” (BASSANEZI, 2002, p. 20). Destaforma, podemos dizer que “a Matemática com suas expressões, equações, funções, fórmulas, tabelas, formas e teorias, é um conjunto de modelos” (CHAVES, 2005). Em relação à forma de utilização de um Modelo Matemático, Chaves (2005, p.9) apoiada em Biembengut e Hein (2003), frisa que: ... Um modelo matemático só é um modelo, se servir de referência ou se permitir ser reproduzido para a resolução de problemas semelhantes que originaram o modelo, além de ser mola propulsora para o desenvolvimento de outros conhecimentos. 4 Para Bassanezi (2002, p.20), a importância do modelo matemático “consiste em ter uma linguagem concisa que expresse nossas idéias de maneira clara e sem ambigüidade...” [grifos meus]. Portanto, pode-se notar, que os caminhos para se chegar a um Modelo Matemático não são muito simples, alguns esforços deverão ser feitos para se chegar a melhor representação matemática, ou seja, o tipo de modelo a ser utilizado dependerá da situação analisada, das variáveis selecionadas e dos recursos disponíveis. Para chegarmos a um Modelo Matemático, temos que passar por um processo denominado de Modelagem Matemática. • D’ambrosio (1986), Modelagem Matemática, “é um processo muito rico de encarar situações e culmina com a solução efetiva do problema real e não com a simples resolução formal de um problema artificial”. • Biembengut e Hein (2000, p.12), definem Modelagem Matemática como “uma arte, ao formular, resolver e elaborar expressões que valham não apenas para uma situação particular, mas que também sirvam posteriormente para outras aplicações”. • Blum (1995) define Modelagem Matemática, “como sendo um processo de construção de modelos que transforma uma situação real em uma situação matemática. • Bassanezi (2002, p.16), Modelagem Matemática, “consiste na arte de transformar problemas da realidade em problemas matemáticos e resolvê-los interpretando suas soluções na linguagem do mundo real”. • Barbosa (2003, p.53), define Modelagem Matemática, na perspectiva da Matemática Aplicada, como “todo o processo de abordagem de um problema não matemático, envolvendo a construção do modelo [matemático]”, partindo de uma situação real até a construção de um modelo através da utilização de ferramentas e entes matemáticos, como gráficos, equações e inequações para representar certos aspectos de uma situação real. Acredito que, além da característica motivadora inerente à aplicação da Modelagem Matemática no ensino da Matemática, esse processo contribui de forma significativa para reflexões, não só relativas a “matematização” do modelo em estudo e na escolha das técnicas para a resolução destes modelos incluindo as tecnologias disponíveis, mas também -e talvez principalmente- para interpretações das soluções encontradas na linguagem do mundo real, 5 possibilitando o ensino de uma matemática crítica, onde o conhecer reflexivo na forma proposta por Skovsmose (2004, p.115-116) tem a mesma importância do conhecer matemático e do conhecer tecnológico. Na seqüência, pretendo à luz das reflexões feitas por alguns dos pesquisadores apontados no inicio deste capítulo, entre outros -que produziram e ainda produzem conhecimentos sobre Modelagem Matemática discutir a organização e condução de atividades baseadas nesse ambiente de ensino e de aprendizagem, com objetivo de apresentar uma forma de materializar essa nova tendência em nossa realidade curricular. 4. MODELAGEM MATEMÁTICA COMO ESTRATÉGIA DE ENSINO E APRENDIZAGEM Embora seja alicerçada na Matemática Aplicada, na Educação Matemática a modelagem assume perspectivas distintas. A sua aplicação no contexto escolar conduz a algumas mudanças quanto à organização dos trabalhos e quanto aos objetivos da utilização. A essência de um processo de Modelagem consiste na transposição de um problema real para um universo matemático. No entanto, quando o processo de construção e utilização de modelos se desenvolve em sala de aula, deve-se atribuir atenção especial ao cenário pedagógico, isto é, as questões relativas ao ensino e à Matemática do currículo escolar ocupam um lugar de destaque. A Modelagem matemática tem sido reconhecida como uma alternativa pedagógica na condução do processo de ensino e aprendizagem em cursos regulares submetidos a programas e cronogramas preestabelecidos. Entre os argumentos que têm sido usados para justificar e sugerir a criação de um espaço para introduzir atividades de Modelagem Matemática na estrutura curricular de Matemática, citamos: • O desenvolvimento de aspectos sociais. O conflito gerado na interação dos indivíduos pode beneficiar mutuamente as pessoas que se encontram em um mesmo nível de desenvolvimento cognitivo, mas que analisam uma determinada situação com perspectivas diferentes. As atividades desenvolvidas em grupos podem proporcionar o desenvolvimento do senso de responsabilidade, a auto-estima, a cooperação e a criticidade. Nestes grupos são valorizadas qualidades sociais, tais como capacidade de 6 negociar, de comunicar-se na linguagem do grupo, de partilhar responsabilidades e de trabalhar em equipe [7]. • Reconhecimento do papel da Matemática na sociedade. A Matemática tem sido utilizada como argumento para apresentar sugestões e soluções à problemas políticos e sociais. É encarada como a palavra final em virtude de dados estatísticos e resultados matemáticos, os quais muitas vezes são utilizados como base nas argumentações. Este poder de conter o argumento definitivo é sustentado pelo que denominam de “ideologia da certeza”[5]. Assim, é importante que todo indivíduo conheça e reconheça o papel importante que a Matemática tem na vida, seja ela no âmbito acadêmico, profissional ou social. Em o autor salienta que “se a Matemática é tão importante na sociedade parece natural que no ensino da Matemática se mostre o porquê e como”. • Aquisição de conceitos matemáticos e suas aplicações. As dificuldades encontradas pelos alunos no aprendizado da Matemática ultrapassam os limites do ensino fundamental e médio, chegando ao curso superior. Essa situação acarreta um alto grau de desistência e/ou reprovação nas disciplinas de Matemática e outras que necessitam dos conteúdos matemáticos. Por outro lado, se o aluno não teve a oportunidade durante a sua vida acadêmica, de participar ativamente da elaboração e solução de problemas, coletando dados, sugerindo hipóteses, encontrando a solução, este provavelmente não conseguirá solucionar os problemas encontrados no setor profissional. Assim, é preciso uma educação que incentive a resolução de problemas mostrando onde e como se aplica a Matemática. A aplicação de conceitos matemáticos em situações do dia-a-dia exige que essa capacidade seja desenvolvida e ainda que, devemos trabalhar em sala de aula com “verdadeiras situações problemas” [15]. Segundo uma atividade de Modelagem Matemática pode apoiar os alunos na aquisição e compreensão dos conteúdos matemáticos como também promover atividades e habilidades que estimulem a criatividade e a solução de problemas. Para a apresentação de novos conceitos a partir de situações reais, pode ser uma base concreta para desenvolver os conceitos, como também ter um importante papel motivador. • Desenvolvimento do conhecimento reflexivo. Em o autor afirma que “a Matemática está formatando nossa sociedade” e completa seu pensamento quando nos fala que a 7 Matemática intervém na realidade quando nos oferece não apenas discussões de fenômenos, mas também modelos para a alteração de comportamento. Afirma ainda que agimosde acordo com a Matemática, e diante disto, entende que é necessário desenvolver uma competência crítica nos alunos que possa possibilitá-los a lidar com o desenvolvimento social e tecnológico que estamos presenciando. Essa forma específica de saber está relacionada com uma dimensão do conhecimento, chamada por Skovsmose de conhecimento reflexivo. Este autor afirma que o conhecimento reflexivo se refere “à competência de refletir sobre o uso da Matemática e avaliá-lo”. • Processos cognitivos desenvolvidos pelos alunos. De acordo com, o conhecimento construído através dos modelos é um saber contextualizado e com significado. O aluno é agente desse processo de construção, onde ele observa, coleta dados, procura soluções e toma decisões. Se o conceito for construído pelo aluno será facilmente resgatado quando necessário. Alguns aspectos cognitivos foram desenvolvidos por um grupo de alunos e observados em: Compreensão de situações extra matemáticas, atribuição de significados aos aspectos matemáticos, aplicação de conhecimentos, introdução de novos conceitos, elaboração de estratégias próprias. 5. COMO UTILIZAR A MODELAGEM MATEMÁTICA EM SALA DE AULA Em observamos que em um ambiente de ensino e aprendizagem os trabalhos de Modelagem Matemática podem ser desenvolvidos de forma gradativa com os alunos, respeitando diferentes momentos: • Momento 1: abordar com todos os alunos, situações em que está em estudo a dedução, utilização, análise e exploração de um modelo matemático a partir de uma situação problema já estabelecida. • Momento 2: o professor sugere uma situação problema já estabelecida, juntamente com um conjunto de informações, e os alunos realizam a formulação das hipóteses e a dedução do modelo durante uma investigação e, finalmente, validam o modelo encontrado para o problema em estudo. 8 • Momento 3: os alunos, divididos em grupos, são incentivados a conduzirem um processo de modelagem a partir de um problema escolhido por eles, assessorados pelo professor. Uma vez estabelecido o problema, os alunos procedem à coleta de informações e dados necessários para encontrar uma possível solução. O processo de validação do modelo leva o aluno a analisar, tomar decisões, discutir, descobrir, explorar, experimentar o novo. 9 6. CONCLUSÃO Enfim a Modelagem Matemática tem como objetivo interpretar e compreender os mais diversos fenômenos do nosso cotidiano, devido ao “poder” que a Modelagem proporciona pelas aplicações dos conceitos matemáticos. Podemos descrever estes fenômenos, analisá-los e interpretá-los com o propósito de gerar discussões reflexivas sobre tais fenômenos que cercam nosso cotidiano. A Modelagem Matemática é uma metodologia alternativa para o ensino da Matemática que pode ser utilizada no Ensino Fundamental e no Ensino Médio e veio a ser explorada para tentar esclarecer estas dúvidas, ou seja, tem o objetivo de interpretar e compreender os mais diversos fenômenos do nosso cotidiano; e se trabalhada de maneira criativa, motivadora e eficaz, ela pode proporcionar diversos benefícios, como por exemplo, motivação, facilitação da aprendizagem, preparação para futuras profissões, desenvolvimento do raciocínio, desenvolvimento do aluno como cidadão crítico, compreensão do papel sócio-cultural da Matemática tornando-a mais importante e agradável. 10 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS • BASSANEZI, Rodney C. Ensino-Aprendizagem com Modelagem Matemática. São Paulo: Contexto, 2002. • D’AMBROSIO, Ubiratan. Etnomatemática. São Paulo: Ática, 1990. • http://www.ufpa.br/npadc/gemm/documentos/docs/Doc_12.pdf • http://www2.ufpa.br/eji/epamm/MC%20Modelagem%20Matem %C3%A1tica%20com%20TIC.pdf 11 http://www.ufpa.br/npadc/gemm/documentos/docs/Doc_12.pdf http://www2.ufpa.br/eji/epamm/MC%20Modelagem%20Matem%C3%A1tica%20com%20TIC.pdf http://www2.ufpa.br/eji/epamm/MC%20Modelagem%20Matem%C3%A1tica%20com%20TIC.pdf