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Pesquisa em educação MARIA DA CONCEIÇÃO MAGGIONI POPPE 1ª Edição Brasília/DF - 2018 Autores Maria da Conceição Maggioni Poppe Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário Organização do Livro Didático....................................................................................................................................... 4 Introdução ............................................................................................................................................................................. 6 Capítulo 1 O Debate sobre Pesquisa em Educação................................................................................................................ 9 Capítulo 2 Pesquisadores e Pesquisas em Educação ..........................................................................................................24 Capítulo 3 O Incentivo à Pesquisa nas Instituições de Ensino Superior ......................................................................38 Capítulo 4 Programas do Governo para Formação de Professores .................................................................................50 Capítulo 5 Professor reflexivo e professor-pesquisador: conceitos e perspectivas ..................................................65 Capítulo 6 Modalidades de Pesquisa e a Elaboração do Projeto de Pesquisa............................................................77 Referências ........................................................................................................................................................................92 4 Organização do Livro Didático Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização do Livro Didático. Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. Cuidado Importante para diferenciar ideias e/ou conceitos, assim como ressaltar para o aluno noções que usualmente são objeto de dúvida ou entendimento equivocado. Importante Indicado para ressaltar trechos importantes do texto. Observe a Lei Conjunto de normas que dispõem sobre determinada matéria, ou seja, ela é origem, a fonte primária sobre um determinado assunto. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. 5 ORGanIzaçãO DO LIvRO DIDátICO Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Posicionamento do autor Importante para diferenciar ideias e/ou conceitos, assim como ressaltar para o aluno noções que usualmente são objeto de dúvida ou entendimento equivocado. 6 Introdução A pesquisa em educação tem ampliado cada vez mais seu debate nos cursos de formação de professores. Nesse sentido, as discussões neste Livro Didático traduzem uma crescente preocupação da formação em pesquisa na formação docente. O curso de Pedagogia segue esse caminho e tem sido uma arena de disputas políticas e curriculares, inserindo e excluindo disciplinas, conforme novas diretrizes e orientações curriculares se organizam diferentemente. O mais importante é perceber o ganho dessas discussões e a possibilidade de produzir conhecimento desde a formação inicial. A formação em pesquisa é um debate que não deve se restringir a uma única disciplina no currículo do curso de Pedagogia. Pensando nisso é que a Faculdade UnyLeya inseriu a disciplina de Pesquisa em Educação e o convite deste desafio coube a mim. Bem, para seu conhecimento, sou formada em Psicologia e fiz mestrado e doutorado em Educação, todos os cursos na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Fiz, também, uma pós-graduação em Terapia Familiar (UFRJ) e outra pós-graduação em Gestão de Ensino a Distância (UFJF). Foi, no entanto, no mestrado e no doutorado que aprofundei as discussões sobre o curso de Pedagogia e desenvolvi minhas pesquisas com base nele. No mestrado, a dissertação teve como tema “Sentidos de prática em currículo de curso de Pedagogia” e no doutorado a tese foi “Processos de identificação docente em currículo de Pedagogia”. Nesta disciplina você irá encontrar partes das duas pesquisas, a dissertação porque tem um levantamento das diretrizes curriculares de formação de professores dos anos 2000, e na tese porque discuto os processos de identificação docente a partir da discussão da formação em pesquisa na formação inicial em Pedagogia, produzindo novos sentidos de docência. Aproveitar as discussões de minhas pesquisas, contudo, não foi a tônica deste Livro Didático, pois, muitas outras discussões precisam ser debatidas nesta disciplina, bem como, é importante apresentar aspectos práticos da pesquisa para você que está em formação. O foco não foi a elaboração do Trabalho de Conclusão de Curso, no entanto, esta habilidade necessita ser desenvolvida no curso em conjunto com a disciplina de Metodologia da Pesquisa e a própria Orientação em TCC. Portanto, essas três disciplinas do currículo do curso de Pedagogia da Faculdade UnyLeya desenvolvem discussões e geram competências fundamentais na formação para pesquisa dos nossos estudantes. Minha sugestão é que leia atentamente este Livro Didático e, também, todo material da disciplina para poder tirar suas dúvidas nos espaços compartilhados da plataforma. Boas leituras! 7 IntRODuçãO Objetivos » Apresentar os debates no campo da pesquisa em educação, destacando o papel da pesquisa na formação de professores. » Compreender os principais programas de governo para a formação de professores, que incentivam e influenciam as pesquisas. » Conhecer os conceitos e aprofundar o debate sobre professor reflexivo e professor- pesquisador, que contribuíram na configuração das diretizes oficiais de formação de professores dos anos 2000. » Identificar as principais modalidades e procedimentos de pesquisa para produção de um projeto de pesquisa. 9 apresentação Neste capítulo, procuro situar o panorama atual dos debates sobre pesquisa em educação, com foco no curso de Pedagogia. Contudo, não se trata de fazer um percurso histórico do desenvolvimento das pesquisas e seus debates, mas sim, de mostrar como vêm se consolidando as pesquisas em educação no âmbito dessa formação. Nos pontos abordados, busco contemplar a formação inicial do pedagogo, iniciando a discussão com base nos documentos oficiais e problematizando a valorização da profissão docente com destaque nas pesquisas atuais nesse campo de formação do pedagogo. Objetivos » Apresentar as discussões que perpassam os fóruns da área da educação e os documentos oficiais sobre a relevância da pesquisa na formação do professor. » Destacar a forma como os documentos oficiais e os debates estão problematizando a valorização da profissão docente no cenário atual. » Contextualizardemandas próprias do curso de Pedagogia a partir de dados de pesquisa e de debates da área. 1 CAPÍTULO O DEBatE SOBRE PESQuISa EM EDuCaçãO 10 CAPÍTULO 1 • O DEBatE SOBRE PESQuISa EM EDuCaçãO As Diretrizes Oficiais do Curso de Pedagogia Iniciamos com esta breve análise sobre os documentos oficiais do curso de Pedagogia, uma vez que é fundamental situá-lo em relação ao que considero como parte estrutural e estruturante dos debates da pesquisa em educação. Atualmente, os cursos de Licenciatura estão organizados pelas Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação inicial em nível superior (cursos de licenciatura, cursos de formação pedagógica para graduados e cursos de segunda licenciatura) e para a formação continuada, instituídas pela RESOLUÇÃO CNE/CP nº 2, de 1º de julho de 2015, pois antes desta, havia duas diretrizes oficiais separadamente: » RESOLUÇÃO CNE/CP nº 2, de 19 de fevereiro de 2002, que instituía a duração e a carga horária dos cursos de licenciatura, de graduação plena, de formação de professores da Educação Básica em nível superior. » RESOLUÇÃO CNE/CP nº 1, de 15 de maio de 2006, que instituía Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação em Pedagogia, licenciatura. Trata-se, portanto, de uma diferença significativa que mantinha documentos distintos, enquanto que, nas atuais diretrizes de 2015, houve a unificação para formação inicial de professores em nível superior e formação continuada. Pode-se observar que essa produção de documentos que diferiam, tanto na forma como foram redigidos, quanto nos anos em que foram publicados, assim como para o público alvo ao qual se direcionavam, é significativa das diferentes concepções em disputa para os cursos de licenciatura e de Pedagogia, particularmente para este, que foi enfatizado em outro documento. Ainda com relação a essa diferença, Pimenta afirma que “a pedagogia é um campo de conhecimento específico da práxis educativa que ocorre na sociedade. Diferente dos demais que não têm a educação como objeto específico de análise, mas que a ela podem se voltar” (PIMENTA, 2002 e 2004). Penso que o curso de Pedagogia tem se firmado no entendimento de uma formação que compreende um conjunto de conhecimentos, das ciências de referência (Psicologia, Sociologia, Antropologia entre outras), de diferentes saberes que formam um professor generalista por excelência. As diretrizes de 2006 tiveram amplo debate nos fóruns representativos da área de Pedagogia, no entanto, nem todas as propostas foram incorporadas às diretrizes pelos formuladores responsáveis no MEC. Saiba mais Saiba mais consultando os links abaixo: http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CP022002.pdf http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/rcp01_06.pdf 11 O DEBatE SOBRE PESQuISa EM EDuCaçãO • CAPÍTULO 1 As diretrizes de 2006, contudo, “demarcam novo tempo e apontam para novos debates no campo da formação do profissional da educação no curso de pedagogia, na perspectiva de se aprofundar e consolidar sempre mais as discussões e reflexões em torno desse campo” (AGUIAR et al., 2006, p. 828). Esses autores afirmam que os debates não terminaram em relação ao curso de Pedagogia, mesmo depois de aprovadas as diretrizes de 2006. As instituições formadoras trabalharam intensamente para implementar os novos currículos reformulados em decorrência dessas diretrizes e, ao mesmo tempo, muitos questionamentos dos formadores enfatizavam novos desafios na formação do pedagogo que impactavam a identidade do curso. Desde essa época, a docência foi vista com prioridade para a formação do pedagogo com a defesa do exercício profissional. A concepção da centralidade docente é um processo em disputa no curso de Pedagogia e não devemos considerar somente uma situação ou um acontecimento como marco de mudança, como no caso da formulação das diretrizes. O mais relevante é perceber que os diferentes sentidos atribuídos à função do pedagogo estão em convívio e, por vezes, esse entendimento nos leva a posições até ambivalentes, das quais muitos pedagogos também se sentem assim quanto à sua função. Nota-se uma difusão das novas oportunidades de atuação do pedagogo como, por exemplo, pedagogo empresarial ou pedagogo hospitalar entre outras. Para Pimenta é preciso “reinventar os saberes pedagógicos tendo por base a prática social da educação” (IBID, p. 47). As diretrizes de 2006 reforçam a docência como ação educativa e processo pedagógico, mas também, podemos entender que, se por um lado evidencia e valoriza o papel do professor, por outro lado passa a exercer mais controle com limitações na autonomia profissional do professor – que é um pedagogo. Observa-se que, cada vez mais, os professores da educação básica, área privilegiada de atuação dos pedagogos, são assediados por pesquisadores da educação interessados em consultar suas práticas. É assim que muitas pesquisas produzem dados e apontam resultados como exitosos ou como fracassados sobre a atuação do professor da educação básica. Contudo, é importante lembrar que esse universo de pesquisa é parte da realidade do professor e o constitui permanentemente, muito embora as análises sobre essa atuação não considerem, por vezes, essa formação em processo na atuação docente e, desse modo, podem gerar desconfortos entre os professores sobre tantos dizeres e discursos das pesquisas sobre a sua prática. Por outro lado, são por meio das pesquisas que se elaboram novas propostas metodológicas de ensino, currículos são reformulados e processos didáticos são constituídos, contribuindo significativamente na melhoria da educação básica e na formação dos docentes que nela atuam. Afinal, os pilares da universidade que compreendem ensino, pesquisa e extensão são indissociáveis dos fazeres docentes e geram oportunidades diretamente relacionadas ao vínculo universidade- 12 CAPÍTULO 1 • O DEBatE SOBRE PESQuISa EM EDuCaçãO escola tanto em pesquisa quanto em produção de saberes docentes por meio de uma dinâmica contínua de debates entre essas instituições. Outro ponto em destaque desde as diretrizes de 2006 e reforçado nas diretrizes de 2015 é a prática de gestão nas atividades docentes, e que pode nos lembrar do modelo do pedagogo especialista que compreendia as extintas habilitações e, no entanto, atualizam-se para atender as novas demandas sociais e as políticas educacionais. Outra vez é possível reconhecer o papel das pesquisas que não somente levantam polêmicas como também influenciam formuladores de políticas curriculares e documentos oficiais, provocando pressões por meio de críticas nos fóruns de debates. Nesse sentido, vale perceber o importante momento de disputas na formulação das diretrizes e a influência das pesquisas e dos debates que estas promovem num cenário de instabilidade e de contradições nos cursos de formação de professores. As atuais diretrizes 2015 unificam a formação de professores com o seguinte título: “Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação inicial em nível superior (cursos de licenciatura, cursos de formação pedagógica para graduados e cursos de segunda licenciatura) e para a formação continuada”, conforme Resolução CNE/CP nº 2, de 1º de julho de 2015. Essas diretrizes expressam no Art. 2º: As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação Inicial e Continuada em Nível Superior de Profissionais do Magistério para a Educação Básica aplicam-se à formação de professores para o exercício da docência na educação infantil, no ensino fundamental, no ensino médio e nas respectivas modalidades de educação (Educação de Jovens e Adultos, Educação Especial, Educação Profissional e Tecnológica, Educação do Campo, Educação Escolar Indígena, Educação a Distância e Educação Escolar Quilombola), nas diferentes áreas do conhecimento e com integração entre elas, podendo abranger um campo específico e/ou interdisciplinar. (BRASIL, 2015) Saiba mais Saiba mais consultando o link: <http://pronacampo.mec.gov.br/images/pdf/res_cne_cp_02_03072015.pdf> A abrangência da atuação docente é a marca principal dessas diretrizes, bem como destaco a valorização da pesquisa e do estudo de diferentes áreas como processo continuado de formação. Desta forma, destaco a seguir alguns artigos e parágrafos para que tenhamos a dimensão de 13 O DEBatE SOBRE PESQuISa EM EDuCaçãO • CAPÍTULO 1 como a pesquisa teve força nos debates e se tornou ponto de referência nesse documento de 2015, vejamos: CAPÍTULO I DAS DISPOSIÇÕES GERAIS Art. 3º, § 5º São princípios da Formação de Profissionais do Magistério da Educação Básica: V - a articulação entre a teoria e a prática no processo de formação docente, fundada no domínio dos conhecimentos científicos e didáticos, contemplando a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão; Art. 4º A instituição de educação superior que ministra programas e cursos de formação inicial e continuada ao magistério, respeitada sua organização acadêmica, deverá contemplar, em sua dinâmica e estrutura, a articulação entre ensino, pesquisa e extensão para garantir efetivo padrão de qualidade acadêmica na formação oferecida, em consonância com o Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI), o Projeto Pedagógico Institucional (PPI) e o Projeto Pedagógico de Curso (PPC). Parágrafo único. Os centros de formação de estados e municípios, bem como as instituições educativas de educação básica que desenvolverem atividades de formação continuada dos profissionais do magistério, deverão contemplar, em sua dinâmica e estrutura, a articulação entre ensino e pesquisa, para garantir efetivo padrão de qualidade acadêmica na formação oferecida, em consonância com o plano institucional, o projeto político-pedagógico e o projeto pedagógico de formação continuada. CAPÍTULO II FORMAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DO MAGISTÉRIO PARA EDUCAÇÃO BÁSICA: BASE COMUM NACIONAL Art. 5º II - à construção do conhecimento, valorizando a pesquisa e a extensão como princípios pedagógicos essenciais ao exercício e aprimoramento do profissional do magistério e ao aperfeiçoamento da prática educativa; III - ao acesso às fontes nacionais e internacionais de pesquisa, ao material de apoio pedagógico de qualidade, ao tempo de estudo e produção acadêmico-profissional, viabilizando os programas de fomento à pesquisa sobre a educação básica; CAPÍTULO III DO(A) EGRESSO(A) DA FORMAÇÃO INICIAL E CONTINUADA Art. 7º II - a pesquisa, a análise e a aplicação dos resultados de investigações de interesse da área educacional e específica; 14 CAPÍTULO 1 • O DEBatE SOBRE PESQuISa EM EDuCaçãO VII - identificar questões e problemas socioculturais e educacionais, com postura investigativa, integrativa e propositiva em face de realidades complexas, a fim de contribuir para a superação de exclusões sociais, étnico-raciais, econômicas, culturais, religiosas, políticas, de gênero, sexuais e outras; XI - realizar pesquisas que proporcionem conhecimento sobre os estudantes e sua realidade sociocultural, sobre processos de ensinar e de aprender, em diferentes meios ambiental-ecológicos, sobre propostas curriculares e sobre organização do trabalho educativo e práticas pedagógicas, entre outros; XII - utilizar instrumentos de pesquisa adequados para a construção de conhecimentos pedagógicos e científicos, objetivando a reflexão sobre a própria prática e a discussão e disseminação desses conhecimentos; XIII - estudar e compreender criticamente as Diretrizes Curriculares Nacionais, além de outras determinações legais, como componentes de formação fundamentais para o exercício do magistério. (BRASIL, 2015, grifos do autor) Extraí alguns pontos de três dos oito capítulos que compõem as diretrizes 2015, nos quais a relevância da pesquisa na formação inicial docente está marcada em negrito de tal forma que é possível verificar a insistência da questão para os formuladores desse documento. Portanto, a vivência investigativa é fundamental na formação de professores, com ambiência em monitoria e pesquisa, por exemplo, principalmente no caso das instituições públicas. Porém, a ambiência colaborativa é fundante da valorização de investigação na formação docente e esta é uma prática tanto nas instituições públicas quanto privadas, inclusive, no ensino a distância, cuja prática colaborativa é uma expertise própria desta modalidade. Pensando que tempo e espaço para atividades coletivas é uma questão nas novas diretrizes e uma prática já comum no ensino a distância, fica o desafio de instituir e promover mais atividades coletivas com o intuito de valorizar a investigação e despertar o futuro professor para a pesquisa em educação. A Valorização dos Profissionais de Educação Algumas questões sobre a formação do pedagogo foram abordadas acima, contudo, as transformações de um curso antigo, como é o caso deste, tem se traduzido em muitas polêmicas, cujos documentos oficiais as representam. atenção Na Faculdade UnyLeya, utilizamos a ACA – Atividade de Contextualização e Atualidades – que deve ser realizada em grupo, tendo como referência a pesquisa para sua produção. Trata-se de um procedimento de pesquisa com produção colaborativa, cuja formação inicial deve estimular o fomento à pesquisa. 15 O DEBatE SOBRE PESQuISa EM EDuCaçãO • CAPÍTULO 1 Desde a Reforma Universitária de 1968 que a estrutura curricular do curso de Pedagogia teve mudanças significativas, conforme Resolução nº 252/69 CFE que introduziu as habilitações técnicas no curso de Pedagogia (SAVIANI, 2007) e que vigorou até a promulgação da LDB nº 9.394/96, na qual o Art. 62 institui: A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos superiores de educação, admitida, como formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nas quatro primeiras séries do ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade Normal. (LDB - Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. LEI No. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. D.O.U. de 23 de dezembro de 1996) A Resolução/CFE nº 2/69, que incorporou o Parecer/CFE 252/69 e fixou o mínimo de conteúdo e de duração a ser observado na organização do Curso de Pedagogia, reafirmou um modelo, cuja tradição é a diferença em relação a se formar pedagogo/especialista e a se formar professor dos anos iniciais. As diretrizes de 2015, entretanto, trazem em seu cerne a formação de professores tanto para o pedagogo quanto para as outras licenciaturas, sem distinção. Um ano antes, foi elaborado o Plano Nacional de Educação, Lei do PNE (nº 13.005/2014), que apresenta 20 Metas e inaugura uma nova fase para as políticas educacionais brasileiras. São Metas e várias estratégias para a educação básica e a educação superior que, entre outros temas, inclui a valorização dos profissionais de educação. Nesse sentido, a profissionalização docente torna-se uma preocupação das políticas educacionais brasileiras, alinhando documentos e estabelecendo metas e estratégias. Não se esquecendo de que fez parte desse processo, também, a necessidade de articular as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação Inicial e Continuada, em Nível Superior, e as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica. Saiba mais Saiba mais consultando o link: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm > Saiba mais Saiba mais consultando o link abaixo de texto explicativo: http://www.simposioestadopoliticas.ufu.br/imagens/anais/pdf/EC13.pdf, cujo título é “DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS PARA O CURSO DE PEDAGOGIA: análise histórica e política”, de autoria de Mônica Luiz de Lima Ribeiro e Maria Irene Miranda (UFU). 16 CAPÍTULO 1 • O DEBatE SOBRE PESQuISa EM EDuCaçãO Saiba mais META 17 PNE: 17 - Valorização do professor Valorizar os(as) profissionais do magistério das redes públicas da Educação Básica, a fim de equiparar o rendimento médio dos(as) demais profissionais com escolaridadeequivalente, até o final do 6º ano da vigência deste PNE. FONTE: http://www.observatoriodopne.org.br/metas-pne/17-valorizacao-professor, acesso 14/11/16. Em relação ao último ponto comentado acima, vale reconhecer a necessidade de articular a formação do professor à educação básica, a universidade à escola, a teoria à prática. Nessa articulação, um dos pontos centrais é a pesquisa que transita nesses diferentes contextos na busca de solução dos problemas com inovação das práticas, das didáticas e das metodologias. Entre os pontos que foram apresentados nas diretrizes de 2015 como “considerando”, apontam-se: Os princípios que norteiam a base comum nacional para a formação inicial e continuada, tais como: a) sólida formação teórica e interdisciplinar; b) unidade teoria-prática; c) trabalho coletivo e interdisciplinar; d) compromisso social e valorização do profissional da educação; e) gestão democrática; f ) avaliação e regulação dos cursos de formação. (BRASIL, 2015) Novamente podemos destacar nesses pontos “unidade teoria-prática” e “trabalho coletivo e interdisciplinar”, dos quais a pesquisa articula e favorece ações dessa natureza. Por isso mesmo, as diretrizes confirmam sobre a relação com a pesquisa quando apontam a valorização do profissional de educação e, também, a valorização investigativa nessa formação, quando propõe a “articulação entre graduação e pós-graduação e entre pesquisa e extensão como princípio pedagógico essencial ao exercício e aprimoramento do profissional do magistério e da prática educativa” – mais um dos pontos “considerando”. A necessidade de melhorar a formação de professores, mediante maior qualificação e definição do perfil profissional, assume centralidade em todos os discursos no âmbito das políticas educacionais e, assim, maior organicidade entre os documentos como no caso o PNE 2014 e as Diretrizes 2015. Saiba mais Elaboração: Todos Pela Educação Contexto Dos 2,2 milhões de docentes que atuam na Educação Básica do país, aproximadamente 24% não possuem formação de nível superior (Censo Escolar de 2014). Após 2006, prazo dado às redes públicas e privadas para cumprir a obrigatoriedade do 17 O DEBatE SOBRE PESQuISa EM EDuCaçãO • CAPÍTULO 1 diploma de nível superior para os docentes (LDB/1996), somente os já formados puderam participar de concursos, mas os indicadores só refletem o fato a partir de 2010. Daquele ano até 2014, o número de diplomados cresceu quase 10 pontos percentuais (68,9%, em 2010, a 76,2%, em 2014). Vale ressaltar que os dados por região mostram grande disparidade entre o Norte e o Nordeste, onde há menos docentes com formação adequada, e as outras regiões do Brasil. E boa parte dos professores da Educação Infantil ainda não tem magistério nem curso superior (em 2014, eram 15,3%, segundo o INEP). Fonte: http://www.observatoriodopne.org.br/metas-pne/15-formacao-professores, acesso 14/11/16. Os dados acima se referem ao contexto da META 15 do PNE “Formação de Professores”, que assim expressa: Garantir, em regime de colaboração entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, no prazo de 1 ano de vigência deste PNE, política nacional de formação dos profissionais da educação de que tratam os incisos I, II e III do caput do art. 61 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, assegurado que todos os professores e as professoras da educação básica possuam formação específica de nível superior, obtida em curso de licenciatura na área de conhecimento em que atuam. (http://www.observatoriodopne.org.br/metas-pne/15-formacao-professores, acesso 14/11/16) A preparação para a pesquisa, como valorização da profissão docente e do pedagogo, aproxima de uma antiga polêmica que iniciou nos debates sobre professor reflexivo e professor-pesquisador nas concepções de Schön (2000) e Zeichner (1998), respectivamente, que abordaremos na última unidade deste Livro Didático. No entanto, adianto que muitas vezes foi interpretado como provocação o fato de mudar a posição do professor para uma condição menos passiva, pois, contrariamente, com base nesses conceitos, temos a possibilidade de reconhecer que o professor pode produzir conhecimento e, ao mesmo tempo, contribuir na busca de soluções para problemas cotidianos da sala de aula e gerar aproximação entre a academia e a escola. A pesquisa na formação de professores, contudo, não pode acontecer com base em reducionismos ou equívocos que representem fragilidade epistêmica (BORTOLINI, 2009). Pois, é preciso garantir o rigor científico, no qual o curso de formação deve se pautar nesta preparação ainda que, na visão de Lüdke, há a preocupação de que: ... sabemos que a formação “teórica” do professor, com aulas de metodologia, não é suficiente. Mas sabemos também que as minipesquisas, cabíveis dentro dos limites dos cursos de formação, em geral não passam de arremedos artificiais, que não têm possibilidade de preencher de modo satisfatório quase nenhum dos requisitos da formação do pesquisador. (2012, p. 49). A preocupação de Lüdke é tão legítima quanto a importância de se manter oportunidade de pesquisa na formação do pedagogo, pois, a continuidade dos estudos e a possibilidade dos 18 CAPÍTULO 1 • O DEBatE SOBRE PESQuISa EM EDuCaçãO egressos retornarem para programas de pós-graduação lato sensu e stricto sensu é mais uma forma de valorização do profissional professor. Lüdke ainda complementa que “pessoalmente não tenho dúvida de que é necessário introduzir o futuro professor no universo da pesquisa, em sua formação inicial e também na formação continuada, garantindo assim a possibilidade de exercício do magistério de maneira muito mais crítica e autônoma” (IBID, P.51). Portanto, propiciar a atitude investigativa na formação é muito importante na medida em que quanto mais se pesquisa sobre educação mais ainda pode se constituir o exercício crítico e a atitude autônoma deste professor/pedagogo. Neste sentido que André defende, também, ensino e pesquisa na formação docente quando explicita que “os cursos de formação têm um importante papel: o de desenvolver, com os professores, essa atitude vigilante e indagativa, que os leve a tomar decisões sobre o que fazer e como fazer nas suas situações de ensino, marcadas pela urgência e pela incerteza”(2012, p. 59). Por outro lado, penso que não podemos deixar de nos preocupar com a qualidade da forma como se faz pesquisa, ou melhor, “sem comprometer o próprio estatuto da pesquisa” como conclui Lüdke (IBID, p. 52). Os documentos oficiais, já comentados, passaram pela evolução destes e de outros debates e expressam a valorização de um contexto investigativo com ambiência em pesquisa na formação de professores. Aspecto que também reforça a valorização dos profissionais de educação, na medida em que altera seu processo formativo e amplia sua forma de atuação. Mas, não posso deixar de comentar uma polêmica sobre a pesquisa quando aplicada nas escolas de educação básica, pois como escreve André: Os pesquisadores muitas vezes assumem uma atitude de juiz das práticas escolares dos professores, atribuem à pesquisa um papel prescritivo, fazem denúncias pouco fundamentadas, ditam a verdade, criando, com isso, indisposições e resistências perfeitamente compreensíveis. Muitos professores e demais profissionais das escolas, por sua vez, desenvolvem uma grande expectativa em relação à pesquisa, acreditando que ela pode dar respostas imediatas ou apontar soluções aos intrincados problemas da prática escolar cotidiana e, como isso não acontece, mostram-se céticos quanto a seu valor e sua utilidade. Passam, então, a fazer sérias críticas aos resultados das pesquisas, acusando-os ora de simplistas demais, ora de complexas demais, ora de muito vagos, ora de contraditórios. (2012, p. 63) Trata-se de embates entre professores da escola básica e professores-pesquisadores de nível superior, do qual estes podem estar mais distantes das salas de aula dedicando-se mais às pesquisas,enquanto os professores das escolas básicas estão mais envolvidos com o “calor” dos 19 O DEBatE SOBRE PESQuISa EM EDuCaçãO • CAPÍTULO 1 acontecimentos nas salas de aula. Dessa forma, ocorrem desencontros nestas aproximações entre professores e pesquisadores sem que a escola tenha proveito das pesquisas nem os professores. Estabelecer uma relação de apoio e confiança é fundamental neste contexto da relação universidade-escola. O Curso de Pedagogia no Brasil Finalizando este capítulo, considero importante o conhecimento de alguns pontos específicos do curso de Pedagogia para que possamos entender as demandas próprias deste no contexto da pesquisa em educação. Faço, assim, um breve resumo sobre o curso de Pedagogia, destacando momentos e cenários mais significativos. Destaco, desse modo, inicialmente, três cenários básicos referentes ao curso de Pedagogia, que são: 1. 1939 – ano de criação do curso de Pedagogia pelo Decreto-Lei nº 1.190, de 4 de abril de 1939, que acontece no momento em que se institui a formação do magistério em nível superior no Brasil. Esta alteração legal tem repercussões, também, profissionais que afetarão as formas sociais de compreensão e valorização da formação docente. 2. 1969 – redefinição da estrutura curricular do curso de Pedagogia conforme Resolução nº 252/69 CFE que introduziu as habilitações técnicas no curso de pedagogia (SAVIANI, 2007, p. 363). Esta resolução reforçou o desenvolvimento que tornou tradicional a diferença em relação a formar pedagogo/especialista e formar professor dos anos iniciais. 3. 1996 – promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9.394/96 que representou uma conquista ao situar a formação de professores da educação infantil e anos iniciais ao nível superior. A justificativa é a necessidade de oferecer uma formação mais bem fundamentada teoricamente e ampliar a visão crítica e reflexiva da docência como fator de melhoria da qualidade da formação profissional de professores. E, mais recentemente três documentos no cenário dos anos 2000 a serem considerados: 1. 2006 – Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação em Pedagogia, licenciatura. Nestas deixam de existir as habilitações para os cursos, apenas são mantidas ênfases para o exercício da docência na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, nos cursos de Ensino Médio de modalidade Normal e em cursos de Educação Profissional, na área de serviços e apoio escolar, bem como em outras áreas nas quais sejam previstos conhecimentos pedagógicos. 2. 2014 – PNE que estabelece diretrizes, metas e estratégias de concretização no campo da educação por meio de atuais 20 metas estratégicas a serem cumpridas num período de 10 anos. É uma lei ordinária, prevista no artigo 214 da Constituição Federal. 20 CAPÍTULO 1 • O DEBatE SOBRE PESQuISa EM EDuCaçãO 3. 2015 – Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação inicial em nível superior (cursos de licenciatura, cursos de formação pedagógica para graduados e cursos de segunda licenciatura) e para a formação continuada. Nesta destacam-se, além da docência, as competências com gestão e pesquisa para a formação de professores. Em consulta realizada no site do INEP, buscando conhecer levantamentos realizados sobre o curso de Pedagogia, localizei na SINOPSE DA EDUCAÇÃO SUPERIOR o seguinte: Quadro 1 - Oferta de Vagas em Cursos de Pedagogia/INEP 2013 Nº de Instituições que oferecem o Curso de Pedagogia Vagas Oferecidas Ingresso Total Concluintes Privada 841 321.183 186.838 77.078 Pública 154 35.638 29.714 18.933 total 995 356.821 216.552 96.011 Fonte: Dados obtidos na SINOPSE EDUCAÇÃO SUPERIOR – 2013 – INEP (acesso em 05/06/2015). O quadro acima apresenta uma dimensão do quantitativo de ingressantes e concluintes do curso de Pedagogia e é possível constatar a grande oferta de vagas, do qual se destaca como um curso superior muito procurado e com grande contingente de ingressantes. Entretanto, há uma redução significativa no número de concluintes, seja por reprovações e/ou evasões, cuja estatística do INEP não faz inferências. Evidencia-se, dessa forma, o quanto é importante a pesquisa em educação voltada para o campo da formação inicial e que, quanto mais pesquisas e debates existirem sobre o curso de Pedagogia ainda assim não cessam as possibilidades investigativas, uma vez que se refere a um universo de longa história, muita abrangência e complexas necessidades. No RESUMO TÉCNICO DO CENSO DA EDUCAÇÃO BÁSICA de 2013, que é o mais recente, a consulta dos dados no item 10, FUNÇÕES DOCENTES, aponta o seguinte: Educação Infantil – Percentual de Docentes por Grau de Formação em turma de etapa única – Brasil – 2013 Sem Formação Superior 40% Com Formação Superior 60% Ensino Fundamental – Anos Iniciais - Percentual de Docentes por Grau de Formação em turma de etapa única – Brasil – 2013 Sem Formação Superior 27,5% Com Formação Superior 72,4% Ensino Fundamental – Anos Finais – Percentual de Docentes por Grau de Formação em turma de etapa única – Brasil – 2013 Sem Formação Superior 13,2% Com Formação Superior 86,8% Ensino Médio – Percentual de Docentes por Grau de Formação em turma de etapa única – Brasil – 2013 Sem Formação Superior 7,3% Com Formação Superior 92,7% Fonte: Adaptado MEC/Inep/Deed. www.inep.gov.br. Acesso, 05/09/16. 21 O DEBatE SOBRE PESQuISa EM EDuCaçãO • CAPÍTULO 1 Os dados acima confirmam a necessidade crescente, conforme progridem os níveis de ensino, de formação continuada dos professores atuantes na educação básica e assim por diante. Na discussão deste item 10 existe a afirmação de que: O Plano Nacional de Educação (PNE), em seu diagnóstico, define que a qualidade do ensino só poderá existir se houver a valorização dos profissionais do magistério, a qual só será alcançada por meio de uma política global capaz de articular a formação inicial, as condições de trabalho, o salário, a carreira e a formação continuada. (p. 35). A título de curiosidade e informação destaco abaixo as novas deliberações da condição do Plano Nacional de Educação, conforme a Emenda Constitucional nº 59 de 2009: PLANOS DE EDUCAÇÃO A Emenda Constitucional nº 59/2009 mudou a condição do Plano Nacional de Educação (PNE), que passou de uma disposição transitória da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394/1996) para uma exigência constitucional com periodicidade decenal, o que significa que planos plurianuais devem tomá-lo como referência. O plano também passou a ser considerado o articulador do Sistema Nacional de Educação, com previsão do percentual do Produto Interno Bruto (PIB) para o seu financiamento. Os planos estaduais, distrital e municipais devem ser construídos e aprovados em consonância com o PNE. Fonte: http://pne.mec.gov.br/2-uncategorised?start=12 , acesso 12/09/16. Voltando à Sinopse da Educação Superior, mesmo documento do INEP comentado anteriormente, destaca-se o quadro que apresento a seguir: Quadro 2 – Número de Docentes Atuando na Educação Básica e Proporção por Grau de Formação – Brasil – 2007- 2013. Ano Número de docentes Proporção de docentes por grau de formação Ensino Fundamental Ensino Médio Educação SuperiorIncompleto Completo Total Normal/ Magistério Sem Normal/ Magistério 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 1.880.910 2.003.700 1.991.606 2.023.748 2.069.251 2.095.013 2.141.676 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,1 0,1 0,6 0,5 0,5 0,4 0,4 0,3 0,2 30,8 32,5 31,6 30,5 28,6 26,5 24,9 25,3 25,7 24,5 22,5 19,0 16,0 13,9 5,5 6,7 7,1 8,1 9,6 10,5 11,0 68,4 66,8 67,8 68,8 70,9 73,1 74,8 FONTE: MEC/Inep/Deed. (acesso em 05/06/2015). Nota: 1) O docente foi computado apenas uma vez, mesmo atuando em mais de uma etapa/modalidade. 2) Não inclui auxiliares da educação infantil. 3) Não inclui os professores de turmas de atividade complementar e de Atendimento Educacional Especializado (AEE). 22 CAPÍTULO 1 • O DEBatE SOBRE PESQuISaEM EDuCaçãO Nota-se primeiramente um quantitativo igualmente grandioso, mas que demonstra a defasagem em relação à formação universitária mínima, que desde a LDB nº 9.394/96 regulamenta as exigências para os professores de todas as etapas de ensino, conforme os artigos 61 e 62 desta LDB. O que chama a atenção nesta tabela acima é que 17 anos depois ainda não tem a devida correspondência em relação à formação universitária. Nota-se que este enorme contingente de não concluintes do curso de Pedagogia e de professores sem a formação mínima, conforme regulamento legal, expressa o quanto ainda estamos distantes de atender um padrão de qualidade do profissional docente da educação básica. Portanto, este é mais um dos argumentos para valorização do profissional de educação por meio de uma formação mais qualificada que prepare o futuro egresso para o enfrentamento dos principais problemas e debates no campo educacional, com sólido conhecimento dos processos investigativos necessários a sua atuação e que possam fortalecer a pesquisa em educação. Por fim, considero que a prática de ensino no curso de Pedagogia sempre é vista como estratégica na formação, ocupando um lugar privilegiado, contudo, a prática de pesquisa ainda não tem a mesma relevância e os formadores devem empenhar esforços neste sentido de valorizar a pesquisa. Não estou de modo nenhum desconsiderando a prática de ensino que é parte estratégica da formação do professor. Mas, penso que criar uma tensão em relação à prática de ensino e despertar o debate no sentido da abertura de novas oportunidades nos cursos de formação de professores, com relação à formação em pesquisa, é uma proposta inovadora que representa uma aposta na função investigativa de um professor – aqui, no nosso caso – da educação básica, o pedagogo. A valorização da pesquisa em educação em cursos de formação de professores segue ao encontro da valorização desse profissional, assim como, na busca constante de aprimoramento da atuação docente entendendo que esta tem um papel de destaque na sociedade com a formação de jovens cidadãos. Resumo Neste capítulo: » Vimos a importância de conhecermos os debates que constituem a área da educação e contribuem na formulação de documentos e diretrizes dos cursos de formação de professores. » Verificamos a crescente valorização da profissão docente registrada em documentos e metas da educação que foram produzidos em 2014 e 2015, influenciando os temas e abordagens das pesquisas em educação. 23 O DEBatE SOBRE PESQuISa EM EDuCaçãO • CAPÍTULO 1 » Conhecemos a grandiosa tarefa da universitarização docente, uma vez que os dados de pesquisa apontam para a defasagem entre a formação atual dos professores da educação básica e as metas definidas pelo Plano Nacional de Educação – Lei do PNE nº 13.005/2014. » Contextualizamos o momento atual dos debates na área da formação do professor da educação básica por meio da abordagem dos temas mais polêmicos em educação que mobilizam as pesquisas em educação. 24 apresentação Neste capítulo, situo a constituição do campo da Pesquisa em Educação, reconhecendo este campo como complexo e multideterminado. No entanto, destaco o papel da Universidade, ou melhor, do Ensino Superior na formação para pesquisa, em particular, nos cursos de formação de professores. Posteriormente, apresento uma discussão sobre os dilemas científicos das pesquisas em educação, utilizando a contribuição dos principais autores e pesquisadores do campo. Objetivos » Apresentar breve percurso da constituição do campo da pesquisa em educação. » Destacar os debates teóricos sobre formar para pesquisa na formação de professores. » Discutir os dilemas científicos das pesquisas e os caminhos investigativos dos pesquisadores em educação. 2 CAPÍTULO PESQuISaDORES E PESQuISaS EM EDuCaçãO 25 PESQuISaDORES E PESQuISaS EM EDuCaçãO • CAPÍTULO 2 a Constituição do Campo de Pesquisa em Educação Destaquei no capítulo anterior, entre outros pontos, o papel social da Universidade na produção de pesquisas, entretanto, devemos lembrar que as primeiras pesquisas no campo da pesquisa educacional ocorreram fora da Universidade. Foi no INEP (anteriormente, Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos) criado em 1937 que ocorreram as primeiras pesquisas sobre educação e, desde então, grandes avanços se sucederam em relação aos iniciais esforços desse instituto de pesquisa. Na universidade, a implantação dos programas de pós-graduação stricto-sensu (mestrado e doutorado) teve fortes investimentos a partir dos anos de 1960, quando a pesquisa na área da educação começou a se expandir. Nesse sentido, podemos afirmar que a pesquisa na área educacional é recente, contudo, mostra-se cada vez mais forte e consistente, com o avanço de diferentes programas de pós-graduação em todo país, a participação dos pesquisadores em congressos nacionais e internacionais, a divulgação das pesquisas pelo portal da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e o aumento de publicações das pesquisas por meio de livros impressos e de formatos eletrônicos. As pesquisas em educação seguiram, inicialmente, as metodologias quantitativas privilegiadas pela pesquisa na área das ciências exatas para, somente depois, instituir também as metodologias qualitativas, respeitando as características da relação sujeito-sujeito, próprias das ciências humanas, no processo de fazer pesquisa em educação. Mais recentemente, ambas as metodologias, quantitativas e qualitativas, são valorizadas e utilizadas nas pesquisas, procurando sempre evitar preconceitos e respeitando o rigor científico por excelência. Estamos, assim, tratando de investigação de cunho mais interpretativo cuja realidade não pode ser aprisionada a uma única visão. Para refletir VALE LEMBRAR que a realidade social está condicionada pelo momento histórico e o lugar. Portanto, situada conforme o tempo e o lugar, com resultados provisórios. E, PRINCIPALMENTE, por quem interpreta esta realidade – o pesquisador. Na pesquisa qualitativa, o pesquisador é o instrumento principal, pois é ele quem define o problema a ser investigado, faz a seleção dos instrumentos a serem utilizados, produz os dados para análise e apresenta os resultados para que outros pesquisadores prossigam com novas pesquisas. atenção Metodologias se referem a: » Referenciais teóricos; » Conjunto de técnicas; » Potencial criativo do pesquisador. 26 CAPÍTULO 2 • PESQuISaDORES E PESQuISaS EM EDuCaçãO A forma como se organizam os dados, a base teórica que fundamenta as discussões e as relações subjetivas que o pesquisador constrói é que dão sentido e interpretações singulares sobre fatos, pessoas e acontecimentos pesquisados. Trata-se de uma mudança paradigmática muito significativa, conforme estabelece Thomas Khun. Veiga-Neto, quando se refere ao conceito de paradigma de Khun, escreve o seguinte: Não somos livres para ver e compreender qualquer coisa, de qualquer maneira, senão a partir dos ‘esquemas’ dados por um paradigma. Assim, o paradigma funciona como uma fonte dos métodos e das próprias perguntas possíveis – e respectivas respostas – numa dada comunidade científica. Desse modo, Khun mostra o caráter radicalmente social não apenas da prática científica, como também do próprio conhecimento científico. (VEIGA-NETO, 2007, p. 40). Afinal fazemos pesquisa pensando em situações num determinado contexto histórico-social e com base nos recursos científicos de uma determinada época, pois “cada paradigma corresponde uma particular visão de mundo” (IBID, p. 41). Saiba mais Thomas Kuhn foi um daqueles pesquisadores da Filosofia da Ciência que defenderam o contexto de descoberta, o qual privilegia os aspectos psicológicos, sociológicos e históricos como relevantes para a fundamentação e a evolução da ciência. Para Kuhn, a ciência é um tipo de atividade altamente determinada que consiste em resolver problemas (como um quebra-cabeça) dentro de uma unidade metodológica chamada paradigma. Este, apesar de sua suficiente abertura, delimita os problemas a serem resolvidos em determinado campo científico. É ele que estabelece o padrão de racionalidade aceito em uma comunidade científica sendo, portanto, o princípio fundante de uma ciência para a qual são treinados os cientistas. Fonte: http://brasilescola.uol.com.br/filosofia/a-filosofia-ciencia-thomas-kuhn.htm, acesso 05/09/16. Pesquisamos porque buscamos, em sentido mais amplo, um determinado conhecimento. Quando fazemos pesquisa, no entanto, importa perceber o quanto grande parte dos conhecimentos e leituras que já possuímos perpassam nossos textos, além das discussões de que participamos nos debates das disciplinas e quaisquer outros fóruns que contribuem em nossas reflexões. Considero, portanto, que a neutralidade do pesquisador é uma quimera cujas ciências humanas desmistificam quanto mais avançam as pesquisas. Por isso é tão importante explicar de onde se fala, quais metodologias foram adotadas e esclarecer o processo de construção em pesquisa. Não importa se você é um pesquisador iniciante ou experiente, é preciso situar o leitor sobre os caminhos metodológicos e os aportes teóricos, ou seja, quais os modelos explicativos utilizados. Não é porque a pesquisa está sendo feita por um pesquisador iniciante que pode negligenciar ou “falhar” no modelo explicativo, pois, dessa forma, perderá os critérios de rigor e a aceitação na comunidade científica. Lembremos, então: 27 PESQuISaDORES E PESQuISaS EM EDuCaçãO • CAPÍTULO 2 Importante: ETAPAS BÁSICAS DA PESQUISA: Definição do problema: Pesquisar e explorar as pesquisas sobre o tema. Planejamento da pesquisa: Definir os objetivos da pesquisa, a metodologia e as técnicas para produção dos dados. Execução da pesquisa: Preparar e aplicar as técnicas previamente definidas. Analisar os dados produzidos e concluir. Comunicação dos resultados: Produzir relatório e apresentar o resultado. As etapas do destaque acima são básicas para fazer pesquisa científica, claro que podemos desmembrar cada um dos itens sugeridos em outros tantos procedimentos. Porém, estes itens já tratam do que é considerado pesquisa no meio acadêmico e científico. Por conseguinte, desde a formação no curso de Pedagogia, devem ser respeitadas essas etapas e critérios ao se fazer pesquisa seja para produção do Trabalho de Conclusão de Curso seja para minipesquisas dentro das disciplinas curriculares ou quaisquer outras experiências dos estudantes. Para tal, no entanto, é necessário que o estudante tenha suporte teórico, técnico e supervisão de um professor experiente. O acompanhamento do passo a passo para fazer pesquisa é fundamental e deve ser incluído na matriz curricular, com espaço tempo de pesquisa. Atualmente, muitos formadores somam experiências em pesquisa e devem estender essas experiências aos estudantes, mesmo que sua disciplina não seja diretamente associada ao campo da pesquisa em educação. O fato de transmitir seus conhecimentos sobre o fazer pesquisa, bem como dinamizar os debates mais polêmicos da educação, pode instigar a necessidade investigativa nos estudantes em relação às questões que ainda estariam pouco elucidadas ou deficientemente refletidas/conscientizadas. Portanto, despertar os estudantes em formação para o universo da pesquisa também é um importante papel dos formadores, tanto em relação à articulação teoria e prática dos conteúdos quanto para a aproximação entre universidade e escola. Dessa forma, o formador auxilia o estudante a romper barreiras entre o conhecimento e a realidade, procurando estabelecer relações que possam contribuir nos fazeres da sala de aula, lócus de sua futura profissão. Esse é um aprendizado na formação do pedagogo que poderá ser multiplicado, quando o egresso, na sua atuação docente na educação básica deverá estimular seus alunos por meio de debates com questionamentos da realidade, utilizando materiais que contribuam na reflexão e conscientização dos problemas. A pesquisa em educação tem essa função multiplicadora de práticas investigativas como um compromisso docente. Pedro Demo discutiu uma proposta pioneira de didática e prática de pesquisa que foi estruturada no fim dos anos de 1990 para uma faculdade alternativa voltada aos profissionais da educação 28 CAPÍTULO 2 • PESQuISaDORES E PESQuISaS EM EDuCaçãO infantil e séries iniciais do Ensino Fundamental de Belém, e abordou a questão destacando alguns pontos. Vejamos a seguir: Sintetizando São componentes fundamentais: a. Necessita de orientação do professor, no sentido básico do termo: liberdade de expressão, iniciativa própria, mas construída com os necessários cuidados formais de uma proposta científica. b. Toda prática deve ter a sua elaboração teórica, para realizar em plenitude o confronto da teoria com a realidade histórica; jamais se trata de prática dispersa, intermitente, esporádica, sem rumo, sem método, sem compromisso com resultados; para tanto, é mister reconstruir teoricamente a prática, no que se garante também que a prática é fonte de conhecimento e não só aplicação decorrente. c. Toda prática deve ser construída em fases aproximativas e cumulativas, até completar-se, para permitir acompanhamento adequado por parte do orientador e por parte do próprio aluno; por vezes, frente a ideias que se imaginam alternativas, dispensa-se cuidado metódico e teórico, acreditando que do descuido surja criatividade; seria errôneo aprisionar a prática em esquemas rígidos e rituais, como seria errôneo definir bagunça irresponsável como estratégia de criação. d. Toda prática deve estar no contexto da formação acadêmica, unindo saber & mudar, desde a aplicação teórica até a fundação científica do sujeito social e profissional. e. Deve existir espaço para prática coletiva, no sentido de se construírem projetos comuns em contexto de negociação e diálogo, ainda que a elaboração teórica deva ser individual, para se garantir que todos produzam pessoalmente. (DEMO, 2000, pp. 101-102). É possível observar uma orientação do princípio investigativo, com rigor a ser seguido, e valorização da produção do conhecimento, ou seja, produção em pesquisa com construção própria do estudante. Na apresentação da trajetória curricular desta proposta, a pesquisa é a forma de avaliação das disciplinas com orientação do professor formador. Podemos considerar uma condição ideal da pesquisa na formação, da qual não é fácil seguir o modelo, contudo, a pesquisa em educação no âmbito da formação do professor de educação básica já é uma realidade, embora em menor escala porque muitas vezes está restrita a produção do Trabalho de Conclusão de Curso. Mas, mesmo considerando somente a produção do TCC é uma experiência em pesquisa na formação docente que deve se desdobrar no despertar investigativo das questões educacionais que atravessam as disciplinas do currículo e as práticas do estágio. Pedro Demo finaliza o texto com uma expectativa bem forte ao expressar o seguinte: Espera-se um ‘profissional recriado’, muito diferente dos vigentes, capaz de construir um projeto próprio educativo e assistencial, ao mesmo tempo competente cientificamente e participativo politicamente. Agentes lídimos de mudança, com base no saber e na cidadania. (IBID, p. 116). 29 PESQuISaDORES E PESQuISaS EM EDuCaçãO • CAPÍTULO 2 Um texto que foi produzido 15 anos antes das atuais diretrizes, nas quais há uma defesa do fortalecimento do papel investigativo do professor a ser conduzido na formação. Não sabemos se Pedro Demo preconizou essa defesa da inserção da pesquisa na formação docente, mas certamente problematizou sua necessidade e despertou para a capacidade de alterar a maneira de preparar os professores com base na pesquisa como princípio educativo. Vemos, então, que muito antes da instituição e valorização do processo investigativo no campo da formação de professores pelas diretrizes de 2015,teóricos e pesquisadores já defendiam essa necessidade como fundamental. Numa outra linha de pensamento que situa o debate, Menga Lüdke, em 2001, pesquisadora do campo da formação de professores, organizou um livro com as produções de pesquisadores, cujo título da obra é “O professor e a pesquisa” fruto de um estudo sobre as relações entre o professor da educação básica e a pesquisa. Inúmeras questões motivaram esses estudos da pesquisadora, das quais recortei algumas para citar com base na introdução da obra (p. 9): » Podem-se articular pesquisa e prática no trabalho e na formação de professores? » É viável a integração da pesquisa no dia a dia do professor das escolas da rede básica? » Que tipo de pesquisa seria essa e como se prepararia para ela o professor? » É possível e recomendável ao professor investigar sua própria prática? Trata-se de questionamentos que continuam impulsionando debates e podemos, aqui também, trabalhar com a motivação/reflexão dessas questões da relação entre pesquisa e docência. Entender, assim, que a pesquisa em educação é mobilizada pelos embates do campo educacional e pelas demandas que constantemente se originam da prática educativa. Contudo, a aproximação entre a academia e a escola é sempre um ponto crítico comentado nos debates, conforme expressa Lüdke: ... no Brasil, a reflexão sobre os professores pesquisadores e sobre a pesquisa colaborativa [entre universidade e escola] aparece com um movimento de autocrítica da academia acerca de seu distanciamento das práticas escolares e dos desafios enfrentados... (IBID, p. 27). É o caso de perguntarmos: Como avançar na pesquisa em educação mesmo com estes distanciamentos? É um desafio a ser enfrentado a todo o momento, pois os estudos não devem se distanciar dos acontecimentos escolares que expressam possíveis avanços e retrocessos das práticas docentes, bem como os resultados de propostas implementadas. Todo esse movimento de valorização do professor e da pesquisa em educação, embora não seja um único movimento, mas que aqui estou propondo articular, foi uma progressiva construção 30 CAPÍTULO 2 • PESQuISaDORES E PESQuISaS EM EDuCaçãO engendrada pela reação antes hegemônica de racionalidade técnica para a formação do professor. Muitos debates reagiram à concepção da racionalidade técnica, na qual se questionava a separação entre teoria e prática na formação de professores cujo entendimento principal seria de que o trabalho de produção intelectual estaria diferenciado da execução da própria atividade docente. Desde as diretrizes oficiais para formação de professores dos anos 2000 (DCN/02 e DCP/06, comentadas no capítulo anterior), que essa formação é ainda mais problematizada, uma vez que esses documentos inauguram uma nova racionalidade para a formação docente conforme alguns estudos apontam (ANDRADE; FERREIRA et al, 2004; DIAS, 2009; POPPE, 2011). Nessa nova racionalidade, a centralidade prática é destacada como aspecto relevante a ser implementado nos currículos de formação inicial, visando superar os impasses na relação teoria/ prática e, deste modo, instrumentalizar os professores em formação, para o enfrentamento dos problemas cotidianos da escola, em relação aos saberes e fazeres da docência. Podemos perceber, desde então, que não houve uma garantia, mas foi uma tentativa de superação do distanciamento entre teoria e prática, assim como a busca da aproximação entre cursos de formação em instituições superiores e as escolas da educação básica. É muito importante notarmos que as tentativas implementadas a partir das diretrizes, de acordo com os novos currículos nas unidades formadoras, são fruto tanto dos debates quanto das pesquisas em educação que influenciam esses debates e apontam perspectivas de mudança consideradas relevantes ao novo profissional de educação. Portanto, é um processo contínuo de pesquisa e de reflexão, produzindo novos debates e novos documentos para serem implementados na formação de professores e, por conseguinte, alterando a forma como estes irão atuar na educação básica. De certo modo, o parágrafo anterior atende à discussão da primeira pergunta extraída do estudo de Lüdke, apontado acima, articulando pesquisa e prática no trabalho e na formação docente. A outra questão é até que ponto as instituições formadoras irão atender essa demanda e promover essa articulação, uma vez que depende de uma iniciativa própria institucional, pois não existe um amparo legal de obrigatoriedade. De qualquer forma, quanto mais pesquisas acontecem, vinculadas aos programas de pós-graduação de todo país, e quanto mais programas governamentais relacionados à pesquisa na formação inicial docente estiverem à disposição dos estudantes, melhor será a condição de instrumentalização para pesquisa, particularmente, no campo educacional que é nosso interesse. Nesse sentido, os estudantes terão meios de contribuir para reflexão e solução dos problemas advindos da prática em sua formação. As pesquisas em educação buscam principalmente resolver problemas educacionais e promover sua prática, embora estas sejam carregadas de dúvidas, questionamentos e críticas, pois, não é somente experimentar a prática e tratá-la como uma realidade imutável. Ao contrário, o papel da pesquisa em educação é sempre gerar certo incômodo quanto a certezas e afirmações conclusivas apressadas. Chamar atenção para lacunas, silenciamentos, é uma função bastante importante 31 PESQuISaDORES E PESQuISaS EM EDuCaçãO • CAPÍTULO 2 do pesquisador e dos instrumentos investigativos, bem como das formas interpretativas nos resultados das pesquisas. Pois, aqueles pontos que num dado momento se mostram apagados podem vir a ser expressos de outra forma por novas pesquisas e, deste modo, produzirem outros sentidos na compreensão de fatos, sujeitos e fenômenos pesquisados. Beillerot (2012, p. 74) destaca três características que considera procedimentos básicos para fazer pesquisa, que são: 1. uma produção de conhecimentos novos: na qual infere que nem sempre os estudantes produzem conhecimentos novos - estrito senso de pesquisa - quando convidados a resolver problemas na formação, mas são resultados novos para estes; 2. uma produção rigorosa de encaminhamentos: que aponta para o rigor científico com a possibilidade de procedimentos controlados e criteriosos, dos quais a pesquisa de estudantes flexibiliza e adapta sem necessariamente saber explicitar esta forma; 3. uma comunicação de resultados: para as pesquisas, é fundamental a comunicação dos resultados, não sendo considerada uma pesquisa por si mesma sem o diálogo com os pares. Esse autor, aprofundando sobre finalidades das pesquisas, ainda, aponta a possibilidade de uma transformação das ações e práticas a partir dos conhecimentos produzidos na pesquisa. Mas, considero ainda mais relevante sua seguinte questão: Em que a formação pela pesquisa seria necessária para formar profissionais mais competentes? Penso que essa é uma questão chave para nós nessa disciplina, contudo, nada simples de responder. O que talvez possamos afirmar, por enquanto, é que despertar o interesse investigativo é uma contribuição na formação e, no mínimo, pode ser uma forma de enfrentar situações mais conservadoras tão comuns em muitos espaços escolares. Certamente a formação inicial não irá esgotar a formação para a pesquisa, mas é um bom começo para mudanças na qualidade do profissional de educação que precisa avançar. Beillerot afirma que: ... é por um trabalho de formação que os jovens professores podem tornar-se mais conscientes de sua subjetividade em ação, e encontrar as vias de uma melhor objetividade, adaptada às situações com as quais eles se defrontam, até elaborarem um ponto de vista suficientemente distanciado para constituírem objetos de pesquisa. (IBID, p. 90). Possivelmente, o conjunto das perguntas de Lüdke, anteriormente destacado, pode ser respondido pelo que expressa Magda Soares, influentepesquisadora da alfabetização e letramento, neste trecho a seguir: ... professor não é, certamente, apenas aquele que ensina em determinada ‘área específica’, professor é também aquele que atua na instituição social, política 32 CAPÍTULO 2 • PESQuISaDORES E PESQuISaS EM EDuCaçãO e cultural, que é a escola, participando (consciente ou inconscientemente, de maneira competente ou não) das lutas políticas que se travam nela e por ela, e das experiências sociais e culturais que se desenvolvem no contexto escolar – lutas e experiências que ensinam tanto quanto (ou mais do quê) as ‘áreas específicas’ em que ensinam. (2012, p. 92). Pensar sobre essas lutas e experiências requer uma habilidade reflexiva própria do ato investigativo que estamos discutindo para ser valorizado na formação, como é o caso dos debates da pesquisa em educação. Outro aspecto abordado por Magda Soares é a crítica da separação entre produção e socialização do conhecimento que, respectivamente, a pesquisa trataria do conhecimento produzido e o ensino se incumbiria da socialização desse conhecimento. A autora pensa, e concordo, que não se deve separar processo (produção) do produto (socialização), pois estaríamos dissociando ‘método’, seja ele de pesquisa, de ensino ou de aprendizagem, do ‘conteúdo’. Fonte: http://image.slidesharecdn.com/reading59-140906043604-phpapp01/95/reading59-24-638.jpg?cb=1409979038, Angela Mia De la Veja - Lifted by Literature Girl; 24, acesso 10/09/16. A imagem acima é uma escultura da artista plástica Angela Mia De La Vega, na qual podemos observar a curiosidade de uma jovem para a leitura e, assim, refletirmos: Como poderá um professor despertar/estimular seu aluno para um conteúdo sendo que ele próprio desconhece o processo desse conhecimento em forma de conteúdo? Apropriar-se do processo tanto quanto do produto é uma tarefa a ser encorajada e disponibilizada na formação de professores, de modo a articular conhecimentos teóricos e práticos como 33 PESQuISaDORES E PESQuISaS EM EDuCaçãO • CAPÍTULO 2 vivência formativa. Magda Soares resume essa ideia da articulação pesquisa e formação muito bem, vejamos: [...] defendemos a articulação entre pesquisa e formação, valorizando, nessa articulação, as pesquisas realizadas em diferentes abordagens, mas destacando como primordial as pesquisas feitas pelos próprios professores, o que implica incluir nos programas de formação (inicial e continuada) objetivos e condições para formar professores que produzam conhecimentos acerca do trabalho docente. (IBID, p. 118). A pesquisa em educação é essa produção sobre o trabalho docente, as práticas e metodologias de ensino e tantas outras questões que os debates não cessam de instigar entre professores e pesquisadores. Essa potencialidade da pesquisa em educação mobiliza formadores, mas também, deve mobilizar formandos, comprometendo todos estes com o processo educacional e com todas as questões deste. Os pesquisadores devem estar atentos para o cenário dos temas em discussão, dos quais muitos se afirmam e outros se mostram ainda ausentes no campo educacional, e podem significar as lacunas a serem pensadas e problematizadas. Reforço que a valorização da pesquisa em curso de Pedagogia, embora ainda seja um aspecto polêmico na formação de professores (LÜDKE, 2001; ANDRÉ, 2012), aos poucos adquire status e prestígio da pesquisa, principalmente, quando a instituição formadora estabelece como requisito curricular a defesa pública da monografia. Essa obrigatoriedade no currículo, da defesa pública do TCC, juntamente com uma ambiência em pesquisa no conjunto das disciplinas do curso, torna- se uma experiência singular para discentes, docentes e orientadores. Pois, a formação desses futuros professores está efetivamente marcada por um percurso em pesquisa que não é somente a formalidade de fazer um Trabalho de Conclusão de Curso como requisito curricular, mas sim, a perspectiva de colocar em discussão pensamentos, relações teórico-práticas e conceitos que as pesquisas desenvolvem e se articulam com os caminhos investigativos da pesquisa em educação. Dilemas Científicos das Pesquisas em Educação Se até os dias atuais os critérios de rigor científico são exaustivamente discutidos nos meios acadêmico e científico, a pesquisa em educação não fica isenta desse dilema. Entre os debates epistemológicos, Beillerot considera as seguintes constatações e evidências de que: » não se pode ser científico sozinho; » um trabalho não é científico porque o seu autor o proclama, mas porque os outros assim o admitem; 34 CAPÍTULO 2 • PESQuISaDORES E PESQuISaS EM EDuCaçãO » ‘professorar’ a cientificidade é uma postura militante, talvez necessária, mas que deve ser diferenciada de uma posição epistemológica; » a propósito das disciplinas sociais e humanas, não há qualquer acordo, nem entre os pesquisadores das ciências da natureza com relação a essas disciplinas, nem entre os próprios pesquisadores dessas disciplinas. (2012, p. 81). O autor afirma a necessidade de prudência para se considerar uma produção em pesquisa como científica, evitando permanecer no debate sobre a noção de cientificidade, ou seja, o relevante é a produção propriamente dita. Na medida em que algumas pesquisas são excluídas do critério de cientificidade é possível que estas deixem de ser necessárias e sejam invalidadas, sendo um risco de perda da produção. Seguindo a análise de Beillerot quanto à finalidade das pesquisas, o autor destaca dois grandes grupos são eles: » Aquelas que visam à produção de conhecimento do ângulo específico da análise dos processos de fatos e fenômenos estudados; » Aquelas que visam a permitir diretamente, pelos conhecimentos novos produzidos, uma transformação das ações e práticas. (IBID, p. 84). A pesquisa em educação no âmbito da formação de professores tem maior vinculação com a segunda no que se refere à pesquisa aplicada, da qual professores da educação básica por vezes também se vinculam e/ou contribuem. Afinal, as demandas que se originam das práticas de sala de aula exigem sempre novos saberes e práticas pedagógicas. Nessas pesquisas práticas, Beillerot chama atenção para pelo menos três modelos: o primeiro é o método comparativo, semelhante aos modelos experimentais a fim de avaliar as práticas mais eficazes; um segundo modelo, utilizando diferentes técnicas a fim de elucidar um objeto prático como objeto de pesquisa; e o terceiro modelo de pesquisa-ação, com diversas maneiras de produzir conhecimentos desde que relacionando a produção de conhecimentos com a ação educativa. Mesmo com os dilemas apontados, o autor defende a necessidade de formação para pesquisa na formação de professores, pois, “a pesquisa seria suscetível de formar os jovens docentes no espírito crítico, na dúvida metódica, no comportamento racional, assim como no cuidado de responder com elegância às situações encontradas” (IBID, p. 88). É uma iniciação à pesquisa, ou melhor, aos caminhos investigativos tão necessários a um futuro formador de crianças e jovens cidadãos. É preciso ter clareza dos limites da investigação na formação para pesquisa em curso de formação de professores, mas igualmente, é preciso buscar ampliar esses limites e ascender à condição da pesquisa em educação. 35 PESQuISaDORES E PESQuISaS EM EDuCaçãO • CAPÍTULO 2 Fisher escreve sobre os pequenos ‘dramas’ na elaboração de propostas de pesquisa em educação, dos quais destaco a discussão sobre os aspectos humanos em que a autora problematiza a construção de um objeto de investigação e considera que “é, sobretudo, expô-lo em suas condições mais amplas de emergência, situando-o em relação a outros conjuntos ou objetos similares” (2007, p. 64). Se o pesquisador, iniciante ou não, isola seu objeto de investigação da relação que este tem com aspectos sociais, políticos e culturais, por exemplo, já pode perder toda possível potência deste objeto para sua pesquisa, naturalizando e descontextualizandoos fenômenos a serem investigados. Fisher afirma, ainda, que é preciso: suspender o consolador estado das certezas para, no lugar delas, construir e pensar fatos, coisas, dados, situações inquietantes de nosso tempo, a partir de alguns conceitos que nos propiciem exatamente complexificar esse real que nos é dado provisoriamente para acessar. (IBID, p. 61). Os aspectos que destaco acima, levantados por Fisher, tratam de dois dilemas fundamentais da pesquisa em educação para serem instigados ao pesquisador, a saber: 1. A capacidade de relacionar o objeto de investigação com um contexto mais amplo, a ser considerado nos caminhos da pesquisa. 2. A capacidade de o pesquisador ser inquietante quanto às certezas sobre o que pensa, observa e analisa. Esses dois destaques devem ser trabalhados na formação do professor, posto que são possibilidades de aprendizagem sobre uma prática ativa, reflexiva e potencialmente produtora de novas práticas. Na medida em que o professor não naturaliza suas experiências nem tampouco aceita passivamente análises prontas do outro com simplificações e esquematizações, seja este outro um técnico da escola, um gestor, um documento oficial. O professor poder ter o princípio da dúvida e buscar sua própria análise dos fatos e fenômenos; é um aprendizado a ser constituído na formação, sem perder de vista as teorias. A questão é permitir, e formar com esta base, um ‘estranhamento’ em relação ao que é observado como cotidiano e familiar. Faço um convite à observação de duas obras de arte a seguir, vejamos: O quadro abaixo é do pintor surrealista espanhol Salvador Dalí, de 1936, intitulado Premonição da guerra civil, cujas figuras estão representadas grotescamente e causam forte impacto ao observador acostumado com uma estética humana diferente desse contexto. O objetivo do pintor foi justamente mostrar seu desacordo com a guerra, considerada desnecessária e terrível aos seus olhos, ou seja, conforme a sua forma de observação e compreensão dessa realidade. 36 CAPÍTULO 2 • PESQuISaDORES E PESQuISaS EM EDuCaçãO Fonte: <http://www.auladearte.com.br/estetica/images/dali.jpg>,. Acesso 16/09/16. Este outro quadro a seguir é do pintor espanhol Pablo Picasso na sua fase cubista, de 1937, intitulado A mulher chorando e retrata sua amada Dora Maar, na mesma época do quadro anterior de Dalí em que ocorria a guerra civil espanhola. Época em que Picasso pintou o seu mais famoso quadro Guernica, retratando o massacre de mulheres e crianças na Guerra Civil Espanhola. Um período histórico da Espanha que gerou muitas formas de manifestações artísticas, procurando extravasar todo o horror da guerra civil. Contudo, a série de quadros de Picasso “Mulheres Chorando” tem uma expressão peculiar do artista. Fonte: <http://www.pablopicasso.org/images/paintings/the-weeping-woman.jpg>. Acesso 16/09/16. Em ambos os quadros, os pintores têm uma estética distorcida das figuras e tratam de uma reação ao contexto de horror da guerra civil espanhola. A visão de cada um sobre a guerra é representada diferentemente sobre o mesmo fenômeno. Isso pode nos levar a considerar que os fenômenos podem ser os mesmos para um conjunto de pessoas, contudo, cada um pode ter sua própria observação e análise. A pesquisa é regida por esse mesmo princípio, no qual cada pesquisador produz os dados e a análise dos mesmos, conforme seus conhecimentos teóricos, métodos e técnicas utilizados na pesquisa. Assim, encerramos este segundo capítulo, acentuando a ideia de que pesquisa em educação deve fazer parte do currículo na formação de professores, desde que respeitando os princípios científicos e as características de produção do conhecimento nas ciências humanas. 37 PESQuISaDORES E PESQuISaS EM EDuCaçãO • CAPÍTULO 2 Resumo Neste capítulo: » vimos a importância de conhecermos os debates que constituem o campo da Pesquisa em Educação, com toda complexidade das questões próprias das ciências humanas; » destacamos o papel da formação para pesquisa na formação de professores, com particular ênfase no curso de Pedagogia que forma o professor da Educação Básica; » conhecemos alguns dos dilemas científicos das pesquisas em educação, mas que não somente a ela dizem respeito; » debatemos sobre a atitude investigativa como princípio do pesquisador em formação, com destaque para a contextualização dos fenômenos objeto de pesquisa. 38 apresentação Neste capítulo, abordo a pesquisa inserida no currículo do curso de Pedagogia, buscando destacar seu valor e a forma como os estudantes se apropriam das ferramentas investigativas. Na sequência, apresento os programas governamentais de incentivo à melhoria da formação de professores que se aplicam às Universidades públicas e/ou privadas. Trata-se de um importante instrumento que significa investimento na qualidade da formação de professores, embora não se restrinja à pesquisa. Contudo, representa um aspecto fundamental para a formação de professores, cujas instituições de ensino superior podem implementar e valorizar a fim de criar uma ambiência em pesquisa desde a formação inicial. Objetivos » Discutir a forma como a pesquisa pode fazer parte do currículo do curso de Pedagogia, com a inserção de disciplinas que promovam o debate sobre ciência, metodologia e pesquisa. » Conhecer os programas governamentais para melhoria da formação inicial de professores. » Debater a importância da ambiência em pesquisa na formação inicial de professores, na qual a relação entre universidade e escola tem seu destaque. 3 CAPÍTULO O InCEntIvO À PESQuISa naS InStItuIçÕES DE EnSInO SuPERIOR 39 O InCEntIvO À PESQuISa naS InStItuIçÕES DE EnSInO SuPERIOR • CAPÍTULO 3 O currículo do curso de Pedagogia e a formação para pesquisa Ao tratarmos do incentivo à pesquisa no ensino superior, devemos fazer um parêntese com relação à grade de disciplinas do curso de Pedagogia cuja obrigatoriedade é ter pelo menos uma que se refira à Metodologia da Pesquisa, ofertando os principais instrumentos para fazer pesquisa. Essas ferramentas servirão de alicerce para produção do Trabalho de Conclusão de Curso, mas não somente para isso, pois pode também despertar o desejo investigativo que podemos considerar de grande valor para a atividade docente. O ementário da disciplina de Metodologia da Pesquisa deve contemplar o conhecimento sobre a ciência e as formas de fazer pesquisa, assim como preparar os estudantes para a produção da monografia. Afinal estamos diante de um estudante ainda inexperiente do ponto de vista de fazer pesquisa e a formação inicial precisa despertar para esse compromisso profissional que poderá torná-lo diferente na qualidade da atuação docente. A pesquisa para produção do Trabalho de Conclusão de Curso é uma investigação que cumpre este papel de focar a relação de interesse dos estudantes para determinados temas da pesquisa em educação. Vale, portanto, lembrar o papel dos professores/orientadores e suas respectivas práticas e discursos, os quais atravessam a formação e as pesquisas dos estudantes. Um documento que poderia ser mais bem aproveitado nessas discussões é o Projeto Pedagógico do Curso, que contempla um conjunto de dados de considerável valor para as pesquisas, das quais estudantes pouco se apropriam e/ou investigam. Aproveito, assim, para fazer um convite a fim de que consulte este documento que pode servir de análise em trabalhos acadêmicos. Portanto, considerar documentos já existentes, assim como o ementário de disciplinas, como material de pesquisa pode ser uma forma singular de fazer pesquisa acadêmica contemplando formatos já existentes para que sejam analisados e reinterpretados. Na educação básica, outros documentos também podem ser usados para levantamento de dados como, por exemplo, diários de classe, caderno dos alunos, Projeto Político-Pedagógico, livro didático, livro paradidático, e tantos outros materiais que circulam no dia a dia das escolas. Penso que inúmeras possibilidades