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2021.1 – MED UNIFTC Melissa Cristina Turma A – TUT 03 Introdução O termo crise epiléptica refere-se à alteração transitória do comportamento decorrente das deflagrações rítmicas, sincrônicas e desordenadas de populações de neurônios cerebrais. O termo epilepsia refere-se a um distúrbio da função cerebral caracterizado pela ocorrência periódica e imprevisível de crises epilépticas. Essas crises podem ser “não epilépticas” quando são deflagradas no cérebro normal por tratamentos como eletrochoque ou convulsivantes químicos, ou “epilépticas” quando ocorrem sem provocação direta. Os agentes farmacológicos em uso clínico atual inibem as crises convulsivas, por esta razão, são conhecidos como anticonvulsivantes. Ainda não está claro se qualquer um desses agentes evita o desenvolvimento da epilepsia (epileptogênese). As crises epilépticas parecem originar-se do córtex cerebral, mas não de outras estruturas do sistema nervoso central (SNC) como o tálamo, tronco enefálico ou cerebelo. Fisiopatologia A crise convulsiva ocorre devido a excitação excessiva de neurônios, causando a despolarização das membranas e consequente liberação de neurotransmissores predominantemente excitatório. Com base nisso, inicia-se o a administração de fármacos que reduzem a liberação de neurotransmissores por diferentes mecanismos (bloqueadores de canal de sódio e cálcio, que diminuem a despolarização da membrana neuronal, os que estimulam a transmissão gaba, antagonista de glutamato ou ainda, os que se ligam as proteínas das vesículas dos neurônios pré- sinápticos reduzindo a liberação de neurotransmissores na fenda sináptica). Classificação 1- Crises Parciais: a. Parciais Simples. b. Parciais Complexas. c. Secundariamente Generalizada. 2- Crises Generalizadas: a. Ausência (pequeno mal). b. Tônico-Clônicas (grande mal): Alternação de contrações musculares generalizadas (tônica) e movimentos repetitivos de extensão e flexão (clônus). Þ Repare que, durante a fase tônica os canais de sódio estão em pela atividade, ou seja, abertos para que haja um desenfluxo de sódio. Com relação aos canais de cloreto, a atividade cessa ao longo da fase tônica. Os canais de cálcio, se abrem para que haja um grande influxo de cálcio e alta despolarização. Þ Na fase clônica, que enquanto a atividade da membrana está baixa (seta preta) a atividade do canal de sódio está menor que a de cloreto (seta verde). Assim, quando a voltagem da membrana sobe (seta rosa), é resultado de um aumento da atividade de canal de sódio e redução de atividade do canal de cloreto (seta amarela). Resultando nas contrações. Þ Ou seja, uma crise convulsiva é um reflexo de uma alta atividade de canais de sódio/cálcio e diminuição de canais de cloreto. c. Tônicas. d. Mioclônicas. e. Atônicas. 3- Crises não-classificadas: a. Convulsões neonatais. b. Espasmos do latente. Mecanismo de Ação o Potencialização da neurotransmissão GABAérgica: Podendo acontecer ou por um fornecimento de um análogo do GABA, administração de barbitúricos e benzodiazepínicos, através da utilização de um fármaco de inibe a degradação Farmacologia ANTICONVULSIVANTES ANTICONVULSIVANTES 2021.1 – MED UNIFTC Melissa Cristina Turma A – TUT 03 do neurotransmissor GABA e que no final irá ter um efeito de potencializar a neurotransmissão GABAérgica (inibitória). Observe nessa imagem, exemplos de fármacos que atuam potencializando essa via: • Vigabatrina: participa inibindo a degradação do GABA, através da inibição da ação da GABA-Transferase, enzima inicial no processo de degradação GABAérgica • Valproato: participa inibindo a degradação do GABA, através da inibição da ação da GABA-Transferase, enzima inicial no processo de degradação GABAérgica. Além disso, atua no semialdeído succínico desidrogenase, uma etapa mais tardia de metabolização GABAérgica. Diminuindo a degradação do GABA e potencializando a resposta inibitória. • Tiagabina: Atua inibindo no transporte do GABA e o mantendo mais tempo na fenda sináptica. • Benzodiazepinas: São ativadores alostéricos. • Barbitúricos: São ativadores alostéricos e agonistas GABA. Dúvida: — Qual a diferença de um fármaco ser ativador alostérico e outro ser ativador alostérico e agonista GABA? Ambos fármacos ativadores se ligam ao receptor GABA (canal de cloreto) e estimulam a interação receptor- neurotransmissor GABA. Já o agonista, interage com o alvo desencadeando a abertura do canal. O Barbitúrico possui ambas funções. o Bloqueio de canais iônicos (Na+ e Ca+2): Diminuindo a despolarização neuronal. • Fármacos que bloqueiam os canais de sódio: Carbamazepina, Fenilhidantoína, Topiramato, Iamotrigina, Valproato e Zonisamida. • Fármacos que bloqueiam os canais de cálcio: Valproato e Etosuximida. o Antagonismo de neurotransmissores excitatórios (glutamato): Bloqueando a atividade excitatória nos seus respectivos receptores (NMDA e AMPA). O Glutamato possui tanto receptores inotrópicos como metabotrópico. Todos receptores excitatórios e utilizando inibidores de receptores, consegue-se diminuir a resposta neuronal. o Inibição da liberação de neurotransmissores via proteína 2A da vesícula sináptica: Essa proteína é importante a mobilização das vesículas. E ao fármaco interagir com essa proteína, diminui a capacidade das vesículas em serem liberadas na fenda sináptica. Menos glutamato será liberado na fenda sináptica. • Levetiracetam: Além de, diminuir a liberação de glutamato, interage com canais de cálcio nos neurônios pré-sinápticos, dificultando também a liberação de vesículas. Ademais, funciona como um antagonista de receptores AMPA. 2021.1 – MED UNIFTC Melissa Cristina Turma A – TUT 03 Diretrizes 1- Adultos com epilepsia focal – carbamazepina, fenitoína e ácido valproico. 2- Crianças com epilepsia focal – carmabazepina. 3- Idosos com epilepsia focal – iamotrigina e gabapentina. Hidantoínas o Fenitoína: Þ Possui funcionalidade anticonvulsivante, antiarrítmico, antineurálgico, miorrelaxante esquelético e inibidor da secreção / síntese de colagenase. Þ É usado nas crises tônico-clônicas generalizadas, parciais complexas e parciais simples. Þ Efeito colateral grave: hiperplasia gengival. Þ Indutor enzimático: induz inúmeras enzimas microssomais. Þ As enzimas que metaboliza esse fármaco ficam saturadas mesmo em doses terapêuticas. Ou seja, a dose necessária excede a capacidade de seu metabolismo natural. Þ A fenitoína tem atividade anticonvulsivante sem causar depressão geral do SNC. Em doses tóxicas, esse pode produzir sinais de excitação e, nas doses letais, pode causar um tipo de rigidez de descerebração. Dibenzazepinas o Carbamazepina: Þ Possui funcionalidade de anticonvulsivante, antipsicótico, antineurálgico, antimaníaco e antidiurético. Þ Isolado ou em associação com outros anticonvulsivantes. Þ Crises parciais, especialmente as complexas, tônico- clônicas generalizadas (primeira escolha). Þ Potente indutor enzimático. Þ Induz a síntese de enzimas microssomais hepáticas responsáveis por sua própria biotransformação: a consequência disso é fazer ajustes de doses ao longo do tratamento. Þ Assim como a fenitoína, a carbamazepina limita as deflagrações repetitivas dos potenciais de ação evocados pela despolarização persistente dos neurônios da medula espinal ou do córtex. Importante: — Como a fenitoína e a Carbamazepina atuam? O mecanismo majoritário é a inibição de canais de sódio. Além disso, deprimem a transmissão sináptica no sistema de ativação reticular, tálamo e estruturas límbicas. Triazínicos o Lamotrigina: Þ Tratamento de crises parciais e crises tônico-clônicas generalizadas não controladas com outros fármacos (reserva). Þ Produzbloqueio de canal de sódio. Þ Bloqueia canais de cálcio. Þ Parece reduzir a transmissão excitatória glutamatérgica. Ácido Valproico Þ Reduz a frequência de vários tipos de crises epiléticas, porém é mais eficaz em crises generalizadas do que nas parciais. Þ Indicado nas crises de ausência, fotossensíveis e tônico- clônicas generalizadas. Þ Epilepsia mioclônica juvenil. Þ O valproato bloqueia descargas repetitivas e sustentadas de alta frequência resultantes das correntes de sódio. Þ Bloqueio dos receptores NMDA. Þ O valproato facilita a síntese de GABA estimulando a GAD. Þ Em alta concentração, o valproato inibe GABA-T no cérebro, bloqueando a degradação de GABA. Þ A ação é semelhante à da fenitoína e da carbamazepina e parece ser mediada pela recuperação prolongada da inativação dos canais de Na+ regulados por voltagem. O ácido valproico não modifica as respostas neuroniais à aplicação iontoforética de GABA. Gabapentina Þ Análogo do GABA. Þ Uso em paciente com epilepsia parcial e em pacientes com crises tônico - clônicas. Þ Eleva os níveis de GABA, alterando a síntese ou revertendo o transportador de GABA. Þ Inibe canais de Ca2+ ativados por correntes de alta voltagem. Þ Alterar o metabolismo do GABA, sua liberação não- sináptica ou sua recaptação por transportadores de GABA. Þ A gabapentina inibe a extensão tônica das patas traseiras no modelo de convulsão por eletrochoque, inibindo também as convulsões clônicas induzidas por eletrochoque e pelo pentilenotetrazol. A eficácia desse fármaco nesses dois modelos é semelhante à do ácido valproico e isto o diferencia da fenitoína e da carbamazepina. Levetiracetam e Brivaracetam Þ Ligando-se especificamente à proteína 2A da vesícula sináptica; Þ Interferindo com a exocitose e liberação de neurotransmissores na fenda sináptica. Caso clínico 01: Jessie é uma menina de 10 anos de idade com paralisia cerebral discinética diagnosticada aos 3 anos de idade. A paralisia cerebral manifesta-se na forma de movimentos coreoatetóides contorcidos das mãos e dos pés, que dificultam a menina a sentar-se ou a ficar em pé. Ela utiliza órteses especialmente ajustadas nos pés e nas pernas e uma cadeira de rodas para percorrer os corredores da escola. Quando Jessie tinha 5 anos, sofreu a primeira convulsão, que foi do subtipo tônico-clônico 2021.1 – MED UNIFTC Melissa Cristina Turma A – TUT 03 generalizado. Foi mantida com fenitoína e conseguiu um controle bastante satisfatório das convulsões nos últimos anos. As convulsões tendem a ocorrer apenas em relação a doenças infecciosas ou fadiga excessiva. Nessa última semana, enquanto a família estava viajando para visitar parentes na Flórida, Jessie começou a apresentar tosse e febre baixa. Foi estabelecido o diagnóstico de pneumonia no atendimento de urgência de uma clínica, e a menina começou a tomar eritromicina para os sintomas pulmonares. Passados 4 dias, a febre cedeu, e houve melhora da tosse. Todavia, ontem, os pais observaram que estava muito sonolenta, o que atribuíram à sua recente viagem de volta para casa. Hoje, na escola, o fisioterapeuta percebeu que Jessie tinha menos coordenação do que o normal. Jessie teve dificuldade em manter a parte superior do corpo imóvel na cadeira de rodas e parecia estar instável enquanto estava sentada. A menina também se queixou de tontura durante a fisioterapia de rotina. A mãe de Jessie marcou uma consulta urgente com o seu neurologista, o Dr. Black. Ele observou que Jessie tinha nistagmo e ataxia de tronco, além de apresentar acentuada diminuição da coordenação dos membros. Foi solicitada a determinação dos níveis séricos de fenitoína, cujo resultado demonstrou níveis elevados de 34 μg/mL (normal, 10- 20 μg/mL). Questões: Caso clínico 02: Um homem de 18 anos de idade com história clínica de epilepsia desde a infância apresenta-se via ambulância no pronto-socorro (PS) devido ao estado de mal epiléptico. Ele foi estabilizado, finalmente, por doses repetidas de lorazepam por via IV. Sua mãe afirma que ele teve história de nascimento sem intercorrências, nenhum traumatismo craniano prévio. Anteriormente o paciente tratava-se com o antiepiléptico fenitoína, embora tenha abandonado recentemente o tratamento. Sua última convulsão foi há três meses e, geralmente, é controlada se toma a medicação regularmente. Embora o paciente encontra-se confuso, mas tem exames neurológico e cardiovascular normais. O médico opta por outro fármaco antiepiléptico com menos efeitos adversos. Questões: Qual é o mecanismo de ação da fenitoína? Quais são os principais efeitos adversos da fenitoína?
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