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Demências 1 Demências Conceitos Os 5 "is": IATROGENIA INSUFICIÊNCIA COGNITIVA INSTABILIDADE E QUEDAS INCONTINÊNCIA IMOBILIDADE DEFINIÇÃO → síndrome clínica adquirida, caracterizada por prejuízo progressivo das habilidades cognitivas, grave o suficientes para interferir nas atividades sociais e ocupacionais habituais do indivíduo. Características É uma síndrome (conjunto de sinais, que podem ter várias causas) e não uma doença. Presença de déficit cognitivo, acometendo a memória e pelo menos mais uma área da cognição além da memória. Sensório preservado. Prejuízo funcional. Domínios cognitivos MEMÓRIA → capacidade de armazenar informações; LINGUAGEM → capacidade de compreensão e expressão orla e escrita; FUNÇÃO EXECUTIVA → capacidade de planejamento, abstração (entender as entrelinhas), sequenciamento, monitoramento e desempenho de atividades complexas; GNOSIA → capacidade de reconhecer objetos, cores, pessoas; PRAXIA → capacidade motora (coordenação, sequência motora); Demências 2 HABILIDADE VISUOESPECIAL → capacidade da percepção espacial e das relações dos objetos e locais. Queixas clínicas Normalmente, o paciente não reclama muito, é mais a família etc. Dificuldade de aprender informações novas; dificuldades para executar atividades complexas (dirigir, trabalhar etc); não saber o que foi fazer no local ou o que foi buscar; perder objetos pela casa; guardar objetos em locais impróprios; esquecer objetos (chaves, dinheiro etc); não dar recados; não tomar medicamentos de forma adequada; esquece de compromissos, de pagar contas; esquecer nomes; repetitividade (contar sempre a mesma história etc); dificuldade para localização espacial; baixa capacidade de julgamento; repetir e perseverar em ações; insistir que aquela não é a sua casa; não distinguir a realidade do que passa na TV; deixar de realizar tarefas manuais ou artesanais; perda de "bom senso" (comentários impróprios, jocosidade, alterações de sexualidade, mudanças de aspectos morais prévios, trocar de roupa em público). Diagnóstico diferencial I SÍNDROMES DEPRESSIVAS: Queixas cognitivas (memória, atenção, concentração) - o próprio paciente percebe; Início mais recente e mais preciso de sintomas; Progressão rápida; Queixas enfatizadas e detalhadas; Pequenos esforço para realizar tarefas; Prejuízo precoce de atividades sociais; Respostas do tipo "não sei". ESTADOS CONFUSIONAIS (DELIRIUM): Alteração cognitiva global devida a alteração orgânica; Início agudo e curso flutuante; Demências 3 Diminuição do estado de alerta e atenção; Hiper ou hipoatividade psicomotora; Alucinações visuais/auditivas. Muitas vezes, o paciente fica depressivo por conta dos sintomas cognitivos e vice-versa → deve-se tratar a depressão e fazer mais testes cognitivos. Diagnóstico Anamnese PRIMEIROS SINAIS E SINTOMAS INÍCIO ABRUPTO OU NÃO ORDEM DE INSTALAÇÃO DOS SINTOMAS USO DE FÁRMACOS QUE COMPROMETEM A COGNIÇÃO AVALIAÇÃO DO COMPROMETIMENTO PARA REALIZAR AS ATIVIDADES DIÁRIAS HISTÓRIA FAMILIAR AVALIAÇÃO DO ESTADO MENTAL → apatia ou desinibição, mudança do humor ou da afetividade, ideias delirantes, alucinações visuais ou complexas, comportamento repetitivo, alterações do sono, hábitos alimentares ou comportamento sexual. Exame físico AVALIAR: Sinais de risco para doenças cerebrovasculares HAS, arritmias e sopros carotídeos); Carências nutricionais; Doenças sistêmicas; Sinais neurológicos (alteração da marcha, assimetria de força muscular, sinais extrapiramidais, reflexo de preensão palmar, reflexo de sucção). Demências 4 Avaliação cognitiva Deve ser considerada em conjunto com os dados da anamnese + exame físico. DEMÊNCIA: COM comprometimento estrutural do SNC DEMÊNCIAS PRIMÁRIAS → demência é a manifestação principal (ALZHEIMER, DFT, LEWY) ou demência pode ser a manifestação principal (PARKINSON, PSP, HUNTINGTON) DEMÊNCIAS SECUNDÁRIAS → VASCULAR, TUMORES, INFECÇÕES, HIDROCEFALIA SEM comprometimento estrutural do SNC CAUSAS TÓXICOMETABÓLICAS Diagnóstico diferencial II Causas potencialmente reversíveis INDUZIDAS POR DROGAS DESORDENS METABÓLICAS → hipo ou hipertireoidismo, hipo ou hipercalcemia, doença de Cushing o Addison, insuficiência renal, insuficiência hepática, hipóxia ou hipercapnia DPOC TRANSTORNOS NUTRICIONAIS → deficiência de B12, folato ou tiamina (demência de Korsakoff) INFECÇÕES → neurossífilis, neurocriptocose, meningites/encefalites, HIV, doenças priônicas -progressão rápida Creutzfeldt-Jakob = vaca louca) HIDROCEFALIA DE PRESSÃO INTERMITENTE NEOPLASIAS PRIMÁRIAS OU SECUNDÁRIAS TRAUMAS → hematomas subdurais crônicos, intraparenquimatosos VASCULUTES Causas irreversíveis Demências 5 DOENÇA DE ALZHEIMER DEMÊNCIA COM CORPÚSCULOS DE LEWY DEMÊNCIA VASCULAR OUTRAS DEMÊNCIAS DEGENERATIVAS → frontotemporal, Parkinson, PSP Paralisia Supranuclear Progressiva), Huntington. obs.: MISTA → paciente com alterações cognitivas leves e teve um AVC e piorou ou paciente já com alzheimer e tem alterações vasculares consideráveis Exames complementares EXAMES LABORATORIAIS → hemograma completo, função renal, função hepática, função tireoidiana, eletrólitos, glicemia, urina rotina, sorologias HIV, VDRL, dosagem de vitaminas (folato, B12 NEUROIMAGEM → serve para diagnóstico diferencial; TC de crânio, RM cerebral (se possível), SPECT (tomografia por emissão de pósitrons; injeta glicose submarcada, cérebro capta nas partes mais saudáveis; suporte no diagnóstico, suspeita de demência frontotemporal - área frontotemporal capta menos substância - e degeneração córticobasal - área córticobasal capta menos substância), volumetria por RM, espectroscopia de prótons Demências 6 por RM e PER (diagnóstico diferencial com comprometimento cognitivo leve, monitorização da progressão de DA, pesquisa) EXAME DE LCR LÍQUIDO CEFALORRAQUIDIANO → demência com idade 65 anos; curso rapidamente progressivo; apresentação e curso atípicos; hidrocefalia comunicante; suspeita de doença inflamatória ou infecciosa no SNC. Doença de Alzheimer (DA) Causa mais frequente de demência. O principal fator de risco é a idade. 30% das pessoas que morrem depois dos 65 anos, preenchem critérios anatomopatológicos para a DA. Existe uma forma familiar de início precoce e a forma mais comum é de início tardio. A forma pré-senil 10% tem padrão de transmissão genética AD Chr 1, 14 e 21. Influências genéticas e do meio ambiente são consideradas na etiopatogenia. Os genes PS1 Chr 14, APP Chr 21 e PS2 Chr1 estão implicados na forma familiar. O alelo E4 do gene APOE Chr 19 é fator de risco para DA de início tardio. O alelo E2 é protetor e o E3 é neutro. Fatores de risco IDADE HISTÓRIA FAMILIAR FATORES GENÉTICOS TRAUMA DE CRÂNIO SEXO FEMININO? BAIXO NÍVEL EDUCACIONAL Fisiopatologia Ainda é pouco compreendida. Há acúmulo da proteína beta amiloide (placas senis) extracelulares devido metabolismo anormal da APP. Há acúmulo de emaranhados neurofibrilares intracelulares ENF em decorrência de mutações no gene da proteína TAU Ocorre inflamação cerebral mediada por complemento. Demências 7 Demências 8 Sinais e sintomas Percepção dos familiares, em geral, é maior que dos pacientes. Exame neurológico é normal nas fases iniciais. SINTOMA INICIAL → ESQUECIMENTO DE FATOS RECENTES Piora progressiva dos sintomas com perda funcional evidente. Outros sinais de perda cognitiva aparecem com o tempo → funções executivas, habilidades visuoespaciais, linguagem, praxias. Sintomas neuropsiquiátricos são mais comuns nas fases mais avançadas. DEMÊNCIA LEVE → esquecimento de fatos recentes, repetitividade, disfunção executiva, podem aparecer sintomas neuropsiquiátricos (apatia, depressão); DEMÊNCIA MODERADA → dependência para atividades da vida cotidiana, dificuldade para se lembrar de eventos mais significativos, desorientação no tempo e/ou espaço,déficit de linguagem, outros sintomas neuropsiquiátricos (psicose, agressividade); DEMÊNCIA GRAVE → necessidade de auxílio para atividades básicas de vida diária, redução significativa da fala, disfagia, dificuldades à marcha, incontinência esfincteriana. Demências 9 Quanto mais avançada a DA, menor a pontuação do MEEM. Diagnóstico Eminentemente clínico. HISTÓRIA CLÍNICA → 60 anos, alterações cognitivas com repercussões funcionais, piora progressiva, gradual e contínua, progressão variável 220 anos) TESTES DE SCREENING → MEEM, fluência verbal, teste do relógio Demências 10 ENTREVISTAS ESTRUTURADAS → CAMDEX/CAMCOG, ENEDAM, bateria de avaliação do CERAD EXAMES COMPLEMENTARES → exames laboratoriais normais, neuroimagem (atrofia principalmente de hipocampo e estruturas mesiais temporais). DIAGNÓSTICO DEFINITIVO = biópsia cerebral, anatomopatológico. Tratamento TRATAMENTO MEDICAMENTOSO: Modificador da doença → em estudo; Sintomático → inibidores da AChE; antagonista de receptor NMDA (diminuição do depósito de substâncias potencialmente causadoras). RIVASTIGMINA, DONEPEZIL, GALANTAMINA (inibidores de AChE) = fases leve e moderada (mas pode continuar na grave); cuidado com efeitos adversos; MEMANTINA = fases moderada e grave (antagonistas de receptores de neurotransmissão glutamatérgica). TRATAMENTO NÃO MEDICAMENTOSO: apoio familiar, reabilitação cognitiva, apoio psicológico, adaptação ambiental. Evitar drogas anti-colinérgicas. Controle da agitação e das alucinações - antipsicóticos, antidepressivos, sedativos, anticonvulsivantes. O QUE NÃO FUNCIONA → terapia anti-aging, medicina ortomolecular, terapêutica antioxidante, vitamina E, ômega 3, AINES, estatina, ginko biloba. Demência vascular Segunda causa mais prevalente de demência. Compreende uma variedade de síndrome demências secundárias a comprometimento vascular do SNC. Quadro clínico varia conforme a apresentação. Tratamento basicamente dos fatores de risco e sintomas (ex.: drenagem, tratar hipertensão, diabetes, dislipidemia; tratar alterações de comportamento Demências 11 etc). Demência Multiinfartos Resultante de infartos corticais e subcortais múltiplos, geralmente, resultantes de suboclusão de grandes artérias por tromboembolismo. Possui uma evolução típica em degraus (piora (súbita), mantém, piora, mantém etc) → piora a cada evento vascular. Demência de infarto único estratégico Resultado de lesão pequena mas localizada em áreas corticais ou subcorticais funcionalmente importante - giro angular esquerdo, tálamo (relacionados com a memória). Piora súbita causada por evento vascular. Infartos lacunares Múltiplos infartos lacunares nos núcleos da base, ponte e substância branca frontal. Evolução em degraus (mas não tanto intenso). Demência de Binswanger (microvascular) Comprometimento extenso e predominante de substância branca. Causada por doença cerebral microvascular ("mini infartos") periventricular. Apresentação clínica semelhante ao Alzheimer - piora lenta. Demências 12 Demência por hipoperfusão (encefalopatia hipóxica) Parada cardíaca prolongada ou sépsia ou hipotensão grave que gera isquemia cerebral. Múltiplas formas de lesão - dispersas por todo o cérebro. Demência hemorrágica Resultante de hematoma subdural crônico, hemorragia subaracnóidea e hematoma cerebral associado a angiopatia amiloide. Quadro cognitivo e motor - rebaixamento súbito do nível de consciência. Com a drenagem cirúrgica, pode haver melhora. Demências 13 Demência por Corpúsculos de Lewy (DCL) Demência degenerativa primária. Sinoclueínapatia. Início entre 6080 anos. Mais frequente em homens. Demências 14 Curso progressivo, rápido e flutuante. Sintomas precoces. Quedas frequentes (passos curtos). SINTOMAS PSIQUIÁTRICOS → alucinações visuais complexas; SINTOMAS EXTRAPIRAMIDAIS → rigidez, bradicinesia, tremores disautonomia, hipomimia facial, instabilidade postural. Nesse caso, a demência não é sintoma principal. Sintomas psiquiátricos e extrapiramidais aparecem em curto espaço de tempo entre um e outro. Diagnóstico clínico. Diagnóstico por imagem apenas para diagnóstico diferencial. Depósito dos corpúsculos no cérebro inteiro Parkinson fica nos núcleos da base - podem ter sintomas semelhantes). TRATAMENTO: LEVODOPA INIBIDORES DE AChE - RIVASTIGMINA, DONEPEZIL, GALANTAMINA ANTAGONISTA DE RECEPTORES DE NEUROTRANSMISSÃO GLUTAMATÉRGICA. EVITAR DROGAS ANTICOLINÉRGICAS Pode-se usar também antipsicóticos - porém cuidado com hiperssensibilidade a antipsicóticos típicos (podem travar o paciente devido a efeitos extrapiramidais). Demência fronto temporal Inicialmente, denominada demência de Pick - variante fronto temporal e afasia primária progressiva (afeta mais a fala). Início entre 45 e 65 anos. Incidência igual em homens e mulheres. Evolução em 210 anos. Grave. Alterações de personalidade e comportamento importantes e precedem as alterações de memória. Atrofia frontal e/ou temporal unilateral ou bilateral. Demências 15 50% tem herança familiar com modo de herança autossômica dominante. TRATAMENTO → sintomático. Hidrocefalia de pressão intermitente Também chamada de hidrocefalia de pressão normal HPN - antigo. CAUSAS: Idioática Hemorragia subaracnoide, trauma, meningite TRÍADE: Distúrbio de marcha Incontinência urinária Demências 16 Déficit cognitivo Geralmente, nessa ordem. NEUROIMAGEM: Ventriculomegalia (desproporcional ao grau de atrofia) Parênquima cerebral normal Tamanho do lobo temporal normal. TRATAMENTO → TAP teste = avaliação da marcha antes e após pulsão lombar (derivação ventrículoperitonial - pulsão do ventrículo para o peritônio - diminuição da pressão); se melhorar, TAP teste positivo. Melhora por uns 3 anos e depois volta. Conclusões Demência não é uma alteração normal do envelhecimento. O diagnóstico é eminentemente clínico. O diagnóstico diferencial é amplo. É importante o diagnóstico precoce e a identificação de causas reversíveis.
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