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Emergências Obstétricas - 8º semestre - UNIFTC Nícia Torres Estrela Gestaçã� ectópic�: Definição: qualquer implantação fora da cavidade uterina. Locais de acometimento: ● Comuns: trompas, ovários, peritônio, cérvice e ligamento largo; ● Raros: fígado, baço, diafragma e espaço retroperitoneal. Prevalência: cerca de 2% → vem aumentando ao longo dos anos (fertilização assistida - aumenta o risco do evento - e melhoria das técnicas diagnósticas). Gestações heterotópicas: gestação intrauterina + gestação ectópica. PATOGÊNESE E FATORES DE RISCO: Alto risco: ● Cirurgia prévia sobre a trompa: risco diretamente relacionado com a técnica utilizada ○ Salpingoplastia; ○ Laqueadura tubária. ● Exposição ao dietilestilbestrol intraútero: aumenta em 9 vezes o risco de gestação ectópica. ● Uso de DIU (cobre ou hormonal): em caso de falha do método, a chance da gravidez ectópica é maior do que nas pacientes usuárias de outros métodos ou não usuárias de qualquer método. ● Gestação ectópica prévia: especialmente nas pacientes submetidas a tratamento cirúrgico conservador (ex: metotrexato). ● Salpingites e endossalpinges: Chlamydia trachomatis e Neisseria gonorrhoeae; ● Alterações anatômicas da trompa: divertículos, hipoplasia e tumores; ● Endometriose. Moderado Risco: ● Infertilidade tratada com indutores da ovulação:; ● Infecção pélvica prévia (tuberculose genital); ● Múltiplos parceiros sexuais. Pequeno Risco: ● Cirurgias abdominais prévias (p.e.: apendicectomia); ● Uso frequente de duchas vaginais; ● Tabagismo: moderado ou baixo risco, dependendo da intensidade do hábito; ● Início da atividade sexual com < 18 anos de idade; ● Fertilização in vitro. Outros: ● Idade aumentada (> 35 anos); ● Raça negra; ● Falha de anticonceptivos à base de progestogênios (inclusive a pílula de emergência) → alteram a mobilidade tubária, facilitando a implantação ectópica. FORMAS RARAS: Gestação ovariana: 0,5 a 3% das gestações ectópicas Implantação superficial ou profunda Patogênese: passagem do ovo fecundado para a cavidade peritoneal → rotura precoce do órgão→ hemorragia (não grave). Referência: Medcurso 1 Emergências Obstétricas - 8º semestre - UNIFTC Nícia Torres Estrela ● Ovo in situ por um coágulo sanguíneo (mola ovárica) OU ● Reabsorção total do ovo. Critérios de Spiegelberg (caracterização): 1. Trompa intacta no lado afetado; 2. Saco gestacional ocupando a topografia ovariana; 3. Útero conectado à gravidez pelo ligamento ovariano; 4. Tecido ovariano na parede do saco gestacional. Sintoma mais frequente: dor pélvica crônica. Tratamento: ● Inicial: medicamentoso; ● Se rotura: ooforectomia parcial; ● Sangramentos incontroláveis: ooforectomia total. Gestação angular ou cornual ou intersticial: Representa cerca de 2 a 3% das gestações ectópicas (rara) ● Diagnóstico tardio; ● Maiores riscos de sangramento e rotura uterina. Nidação: um dos cornos uterinos. Tratamento: mesmas orientações da gestação tubária. ● Sangramentos profusos: ressecção de tecido miometrial ou histerectomia. Gestação cervical: Implantação do ovo no canal cervical. Forma menos comum de gestação ectópica (0,5%). Quanto mais alta a implantação (mais próxima do istmo): maiores são as chances do embrião se desenvolver e causar hemorragia. Características: ● Sangramento vaginal indolor; ● Colo alargado ou distendido e hiperemiado ou cianótico. ● Gravidez até 20 semanas → quase sempre necessita de intervenção cirúrgica devido ao sangramento. Critérios diagnósticos: 1. Glândulas cervicais presentes no lado materno da placenta; 2. Placenta ligada intimamente à cérvice; 3. Não existência de elementos fetais no corpo uterino; 4. Placenta abaixo da entrada dos vasos uterinos ou abaixo da reflexão peritoneal na superfície anteroposterior do útero. Tratamento: ● Metotrexato; ● Histerectomia: se falha na terapia medicamentosa ou casos de hemorragia de grande monta e gestação adiantada. Gestação abdominal: Primária ou secundária à implantação inicial do embrião na trompa seguida de abortamento para a cavidade abdominal, com posterior reimplantação do saco gestacional (fundo de saco de Douglas ou omento). 1,4% das gestações ectópicas. Riscos: hemorragias maternas, infecções, obstrução intestinal ou de vias urinárias e malformações fetais estruturais. Diagnóstico clínico: difícil ● Suspeita: dor aos movimentos fetais, dificuldade em delimitar o contorno uterino, altura de fundo uterino menor que a Referência: Medcurso 2 Emergências Obstétricas - 8º semestre - UNIFTC Nícia Torres Estrela esperada para a idade gestacional com presença de partes fetais fora da cavidade uterina e apresentação anômala persistente. Métodos diagnósticos auxiliares: USG, TC, RNM e prova com ocitocina. Tratamento: ● Medicamentoso: gestações iniciais; ● Laparotomia: gestações tardias → manter placenta intacta; ● Conservador: casos de estabilidade hemodinâmica materna, feto vivo e gravidez avançada (> 26 semanas), ausência de grandes malformações e sofrimento fetal, placenta localizada no abdome inferior (distante do fígado e baço) e saco amniótico íntegro. Hospitalização: sempre indicada. GESTAÇÃO TUBÁRIA: 95-98% dos casos de GE. Localizações ● Frequentes (95-99%): ampola e região ístmica; ● Muito raras: infundíbulo. Rotura: mais provável quando o ovo está localizado no istmo. Produção hormonal semelhante a uma gravidez tópica: pode trazer dificuldade para o diagnóstico. Sintomas clássicos de gravidez ectópica: dor abdominal (mais frequente); amenorreia; sangramento vaginal (de intensidade variável)→ pelo menos um desses pode ocorrer tanto na presença de rotura tubária ou na sua ausência. Manifestações clínicas: Aguda: Rotura tubária: 30% dos casos, manifestações mais intensas. Geralmente ocorre espontaneamente OU por trauma associado ao coito ou ao exame bimanual. ● Hemorragia intraperitoneal; ● Dor aguda e intensa na fossa ilíaca ou no hipogástrio; ● Choque; ● Sinais de irritação peritoneal e hemorragia abdominal: ○ Sinal de Laffon: dor no ombro (irritação do nervo frênico); ○ Sinal de Blumberg (descompressão abdominal dolorosa) ○ Sinal de Cullen: equimose periumbilical; ○ Sinal de Proust: dor à mobilização do colo uterino e abaulamento e dor no fundo de saco de Douglas. Pode ocorrer: náuseas, vômitos, lipotimia e sinais de descompensação hemodinâmica. Hemograma: pode não evidenciar alterações significativas durante as primeiras horas após o início da hemorragia. OBS: a paciente pode apresentar sinais de choque sem apresentar sangramento externo importante. Subaguda: 70% dos casos de gestação tubária (porção ampular). Não ocorre rotura tubária. Desconforto abdominal: devido ao crescimento do saco gestacional ectópico e distensão da trompa Separação incompleta: o trofoblasto fica aderido à camada muscular da trompa provocando hemorragia intraperitoneal persistente (menos intensa). Diagnóstico: Referência: Medcurso 3 Emergências Obstétricas - 8º semestre - UNIFTC Nícia Torres Estrela Suspeita: dor pélvica aguda com atraso ou irregularidade menstrual. Quadros de rotura: agudos, dor abdominal intensa e choque → fácil diagnóstico e rápida intervenção (evitar morbidades maiores). Quadros subagudos: maior investigação e diagnóstico diferencial com outras afecções, como: ● Ameaça de abortamento; ● Gravidez normal; ● Rotura de cisto folicular; ● Rotura de corpo lúteo; ● Torção de ovário; ● Tumores de ovário; ● Endometriose; ● Miomatose; ● Doença inflamatória pélvica; ● Salpingites; ● Afecções extragenitais (apendicite, litíase renal, diverticulite etc.). Investigação: ● Sempre procurar uma história de atraso menstrual (ausente em até 1/3 dos casos); ● Quadro clínico (bastante variável); ● Exames complementares (importante para a confirmação diagnóstica). Critérios que visam diagnóstico precoce e diminuição da mortalidade materna: ● Dosagem isolada e seriada de beta-hCG; ○ Negativo: afasta a possibilidade de GE (não há gravidez sem elevação do beta-hCG); ○ beta-hCG > 1.000 UI/L: gestaçãoem 95% dos casos. ○ beta-hCG > 1.500 mUI/ml: SE NÃO visualizar imagem de saco gestacional à USG transvaginal, suspeitar de gestação ectópica; ○ beta-hCG < 1.000 mUI/ml: só diagnostica gestação ectópica se houver visualização da vesícula vitelina, do polo fetal ou atividade cardíaca na massa. ● USG transvaginal: imagem intrauterina de gravidez quando o beta-hCG é positivo; caso isso não ocorra, suspeita-se de GE. ○ Diagnóstico confirmado: presença anexial de anel tubário e massa complexa anexial com líquido livre na cavidade peritoneal ou pelo sinal do halo. ○ Saco gestacional: visualizado com 4 semanas; ○ Vesícula vitelínica: visualizada com 5 semanas; ● Dopplerfluxometria; ● Culdocentese: aspiração de líquido sanguinolento, não coagulado, pelo fundo de saco de Douglas. Não é sinal específico de gestação ectópica. ● Dosagem de progesterona sérica: quando USG indisponível ou inconclusiva, e os níveis de hCG não foram auxiliares. ○ > 25 ng/ml: gestações tópicas; ○ > 25 ng/ml: gestações ectópicas; ○ < 10 ng/ml: gestações anormais (abortamento ou gravidez ectópica); ● Curetagem uterina (casos muito específicos): pode confirmar gravidez intrauterina, mas tem alto risco de interromper uma gestação viável. ○ Indicação: mulheres com hCG abaixo do limite discriminatório e que apresentem uma taxa de elevação anormal ● Laparoscopia ou laparotomia: indicada em todos os casos onde não foi possível esclarecer o diagnóstico através de outros métodos complementares. Diagnóstica e terapêutica para GE. Tratamento: Conduta depende de variáveis, como: ● Estabilidade hemodinâmica; ● Integridade da trompa; ● Desejo de nova gravidez; Referência: Medcurso 4 Emergências Obstétricas - 8º semestre - UNIFTC Nícia Torres Estrela ● Características do saco gestacional; ● Acesso a diferentes terapias. Estratégias terapêuticas: ● Tratamento Cirúrgico Radical (salpingectomia): retirada da trompa acometida. ○ Indicações: ■ mulheres com sangramento incontrolável; ■ gravidez ectópica recorrente na mesma tuba; ■ trompa uterina muito lesada OU ■ saco Gestacional (SG) > 5 cm. ○ Vantagens: melhor abordagem cirúrgica para mulheres com trompa contralateral normal, menos complicações que a salpingostomia e não altera fertilidade. ● Tratamento Cirúrgico Conservador (salpingostomia): enucleação do ovo com conservação da trompa que é deixada aberta (cicatrização por 2ª intenção). ○ Indicações: ■ 1 ª opção para a paciente que apresentar trompa contralateral doente e com pretensões reprodutivas futuras; ■ Ectopia tubária de pequenas dimensões na ampola íntegra. ○ < 10%: quadro de gravidez ectópica persistente após salpingostomia → devem ser seguidas até o valor do beta-hCG atingir 5 mUI/ml; ● Tratamento Medicamentoso: Metotrexato (antagonista do ácido fólico); ○ Condições associadas a melhores resultados: saco gestacional < 3,5 cm; embrião sem atividade cardíaca; beta-hCG < 5.000 mUI/ml; ○ Esquemas de administração: ■ Injeção diretamente no saco gestacional em dose única (50 mg); ■ Injeção IM em dose única (50 mg/m²); ■ Injeção IM em dias alternados (1 mg/kg). ● Conduta Expectante: 10-15%, quadro clínico estável, beta-hCG declinante e com nível inicial de 1.000 a 1.500 mUI/ml. Tratamento cirúrgico: Instabilidade hemodinâmica: laparotomia com salpingectomia (devido a rotura tubária). ● Tratar choque; ● Cirurgia tubária radical por salpingectomia, com conservação da porção intersticial. Estabilidade hemodinâmica: laparoscopia com salpingectomia. ● Tratamento cirúrgico ou medicamentoso se: supõe que não houve ruptura tubária e há desejo de nova gestação, além de massa anexial < 5 cm. Cirurgia laparoscópica conservadora + terapia medicamentosa: maiores índices de permeabilidade tubária e gestação tópica subsequente. Cirurgia laparoscópica: preferida sempre que houver condições clínicas para sua realização ● Mais benéfica do que a cirurgia laparotômica; ● Menor manipulação; ● Evita formação de aderências; ● Dor pós-operatória menos intensa; ● Recuperação mais rápida; ● Permite a visualização direta das tubas uterinas e da pelve→ diagnóstico adequado da suspeita de gravidez ectópica, inconclusiva à USG. ● Depende da habilidade do cirurgião e da equipe. Laparotomia (cirurgia abdominal aberta): ● Instabilidade hemodinâmica: ● Laparoscopia indisponível. Referência: Medcurso 5
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