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Resumo Toxicologia Animais Peçonhentos

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Aluna: Letícia Moura Alcântara
Acidentes botrópicos
· Características gerais
As serpentes do gênero Bothrops são classificadas como solenóglifas e ovovivíparas, têm fosseta loreal, final da cauda lisa e apresentam, de modo geral, comportamento agressivo. 
De acordo com as espécies animais envolvidas e em ordem decrescente de sensibilidade, podem ser citadas: equina, ovina, bovina, caprina, canina, suína e felina. 
Os cães se acidentam, particularmente, nos focinhos e membros anteriores. Já os grandes animais, como bovinos, apresentam maior incidência de picadas na região da cabeça, úbere e membros. Os equinos são afetados, na maioria das vezes, na região da cabeça. o que provoca graves riscos respiratórios no local da picada, decorrentes da presença de edema, dificultando, assim, a respiração.
· Composição do veneno e mecanismo de ação
95% do peso seco do veneno botrópico são proteínas, que apresentam atividades proteolíticas e são denominadas metaloproteases. 
A hialuronidase é responsável pela rápida absorção e dispersão do veneno entre os tecidos animais. A hemotoxina e a citolisina determinam as reações inflamatórias locais e provocam necrose nos tecidos e no epitélio vascular. As fosfolipases A2 e as esterases produzem alteração da permeabilidade das membranas com a liberação de substâncias vasoativas como a histamina e a bradicinina. O acidente botrópico caracteriza-se por promover ação necrosante, coagulante, vasculotóxica e nefrotóxica. 
A ação coagulante do veneno botrópico é conhecida como “tipo trombina” e é decorrente da transformação do fibrinogênio em fibrina, da ativação do fator X e da ação da protrombina. Desse modo, o veneno botrópico atua interferindo na hemostasia. 
O quadro hemorrágico é atribuído à ação vasculotóxica das hemorraginas, as quais destroem a membrana basal do endotélio vascular e, como consequência, provocam ruptura capilar. 
· Sinais clínicos
Observa-se no local da picada edema sero-hemorrágico, gelatinoso, espesso e amarelado com sangue vermelho-escuro. O tecido necrótico e a secreção purulenta podem estar presentes no local da picada se a lesão apresentar evolução de alguns dias.
Os animais acidentados apresentam, inicialmente, prostração, inapetência, apatia e taquipnéia. As reações locais (edema, equimose e hemorragia) aparecem rapidamente e o animal apresenta intensa sensibilidade dolorosa. De maneira geral, os animais mantêm os membros flexionados até que a dor diminua ou esteja controlada e por conta disso, podem apresentar claudicação. 
Em casos nos quais a picada ocorre na cabeça, particularmente na região do focinho, há evidência de dispnéia e insuficiência respiratória decorrentes do edema intenso no local da picada e ao redor. 
Em casos graves, os animais apresentam-se em decúbito lateral, hipotensão, hipotermia, choque hipovolêmico, sudorese e êmese. 
· Diagnóstico
Anamnese, evolução do quadro clínico, sinais clínicos, exames complementares e resposta à soroterapia anti-botrópica. 
Exames complementares: leucocitose com neutrofilia, linfopenia e trombocitopenia, com consequente aumento no tempo de coagulação. Há diminuição no número de hemácias, ALT, FA e CK podem estar aumentados.
· Tratamento
Soroterapia com uso de soro antibotrópico, na dose que neutralize, no mínimo, 100 mg do veneno por via IV, de preferência, lentamente. Administrações adicionais podem ser feitas com a metade da dose inicial caso o sangue se apresente incoagulável. Além disso, o animal deve ser mantido na fluidoterapia e devem ser sempre internados, pelo menos nas primeiras 24-48 horas.
Acidentes crotálicos
· Características gerais
Têm dentição solenóglifa, fosseta loreal, guizo na extremidade da cauda e são ovovivíparas ou vivíparas. A serpente apresenta bote veloz, mas não demonstra comportamento agressivo, a não ser quando se sente ameaçada. 
Geralmente, a dor no local da picada não é tão intensa. A letalidade é maior do que em Bothrops.
· Composição do veneno e mecanismo de ação
A principal fração do veneno é o complexo crotoxina, formado por uma fração básica com atividade fosfolipase A2 (crotoxina B) e uma fração ácida sem atividade enzimática, denominada crotapotina (crotoxina A).
A crotoxina induz uma falha na liberação de acetilcolina nas terminações nervosas motoras, atuando provavelmente nos canais iônicos, ocasionando a morte do animal em decorrência da paralisia respiratória, causada pelo bloqueio periférico da transmissão neuromuscular. No entanto, a fração do veneno que contém a crotapotina e a fosfolipase A2 lesa as fibras musculares esqueléticas, especialmente as do tipo I, provocando a ruptura de organelas intracelulares. Como consequência, ocorre 0 influxo de cálcio e efluxo de creatina cinase (CK). Há liberação de mioglobina e aumento das atividades de enzimas marcadoras de lesão muscular como CK, lactato desidrogenase (LDH) e aspartato aminotransferase (AST).
O animal apresenta necrose de coagulação, podendo evoluir para a rabdomiólise e miosite necrótica focal como resposta a necrose de coagulação. Além disso, a crotoxina induz agregação plaquetária, tendo uma ação semelhante à da trombina e transforma, assim, 0 fibrinogênio em fibrina. Portanto, diferentemente do que ocorre no acidente botrópico, no acidente crotálico não são observadas, de maneira geral, hemorragias.
Portanto, as principais ações do veneno crotálico são: neurotóxica, miotóxica-sistêmica, coagulante e hemolítica.
· Sinais clínicos
Equinos, ovinos e bovinos são os mais suscetíveis, seguidos, em ordem decrescente, pelos caprinos, caninos, coelhos, suínos, felinos e hamsters. 
São observados transtornos de locomoção, fasciculações musculares, flacidez da musculatura facial, sialorréia, ptose palpebral, midríase, oftalmoplegia, disfagia, alteração na fonação, insuficiência respiratória aguda e depressão neurológica grave. Também são observadas mialgia, devido a fração miotóxica do veneno, mioglobinúria e insuficiência renal aguda.
· Diagnóstico
Anamnese, sinais clínicos, captura da serpente (se possível) e dados laboratoriais. 
O aumento nos níveis séricos das enzimas CK, LDH e AST, em decorrência da rabdomiólise, é um bom indicador de acidente crotálico. A coloração da urina, de marrom escuro a preta, e a presença de mioglobina reforçam o diagnóstico.
O plasma do animal acometido pode apresentar-se com uma coloração avermelhada nas primeiras horas do acidente crotálico, provavelmente em decorrência da hemólise. Há, também, na fase inicial do acidente, leucocitose com neutrofilia com desvio à esquerda e diminuição moderada do número de eosinófilos e linfócitos. 
As lesões renais no acidente crotálico produzem oligúria e anúria, verificando-se a elevação sérica de ureia, creatinina, ácido úrico, fósforo e potássio.
No local da inoculação do veneno, há resposta inflamatória e grave miosite purulenta. Alterações hepáticas e miocárdicas são degenerativas. A musculatura no local da picada apresenta uma área delimitada com coloração esbranquiçada em razão da degeneração e necrose ocorridas.
· Tratamento
Soroterapia específica (soro anti-crotálico) capaz de neutralizar, no mínimo, 50 mg do veneno via IV. Administrações adicionais podem ser feitas com a metade da dose inicial caso o animal não apresente melhora. O animal acidentado deve sempre ser internado, pois pode haver várias complicações sistêmicas e a recuperação completa pode demorar uma semana ou mais. A produção urinária e a coloração da urina devem ser monitoradas por meio de sondagem vesical. Também podem ser utilizados diuréticos. 
Fluidoterapia, água oferecida por meio de uma seringa, alimentação enteral ou parenteral, umedecimento dos olhos do animal para que se evite o ressecamento da córnea, troca da posição de decúbito do animal e a administração de analgésicos para a mialgia.
Acidente escorpiônico 
· Características gerais
A espécie Tityus serrulatus (escorpião amarelo) é a de maior importância no Brasil, principalmente pela gravidade dos acidentes que provoca. Os escorpiões T. bahiensis (escorpião marrom) e T. stigmurus tambémcausam acidentes em determinadas regiões do país.
· Composição do veneno e mecanismo de ação
O veneno apresenta em sua composição uma fração tóxica denominada tityustoxina e uma neurotoxina, sendo a Ts1 a majoritária. Sua ação ocorre pela ligação da toxina em canais de Na+ (sódio) pós-ganglionares, promovendo a despolarização das membranas nas terminações nervosas periféricas por influxo do sódio, estimulando, assim, o sistema simpático e parassimpático, com liberação maciça de acetilcolina e catecolaminas. Outras toxinas escorpiônicas atuam em canais de K+ (potássio) pós-ganglionares, mas com função bloqueadora, não permitindo o retorno do K+ para a célula, que se acumula no meio extracelular. 
A ação do veneno sobre o sistema nervoso simpático, liberando grande quantidade de catecolaminas, e/ou a ação direta do veneno sobre os cardiomiócitos, que estimula o maior influxo de Ca²+ (cálcio) a essas células, provocando aumento do inotropismo (força de contração do coração) e alterações estruturais, são os mecanismos que explicam o efeito miocardiotóxico do veneno escorpiônico.
O efeito inotrópico positivo inicial, associada à maior demanda de oxigênio em razão da liberação maciça de catecolaminas, seria o responsável pela deterioração da função cardíaca que ocorre posteriormente.
· Sinais clínicos
Os animais acidentados por escorpiões apresentam quadro clínico de dor local, sendo que o animal geralmente lambe ou mesmo morde o local da picada, que pode apresentar discreto edema local; mesmo assim, o ponto exato da picada geralmente não pode ser visualizado. Por causa da dor, o animal se locomove sem apoiar o membro afetado, que se torna hipersensível, e pode apresentar vocalizações, inquietação ou até agressividade. Também são observados sudorese, êmese, hipermotilidade gastrintestinal, agitação, hiperatividade, taquicardia sinusal ou bradicardia, arritmias cardíacas, taquipneia e hiperpneia ou bradipnéia. Nos casos mais severos, verifica-se hipertensão ou hipotensão arterial, falência cardíaca, edema pulmonar e choque. Alguns animais podem, ainda, apresentar convulsões.
Sudorese, hipermotilidade gastrintestinal, bradicardia e hipotensão ocorrem em função da sobrecarga de acetilcolina liberadas pelos sistemas simpático e parassimpático. Já a liberação maciça de catecolaminas pode ocasionar hiperglicemia, arritmias cardíacas, hipertensão arterial, podendo evoluir para edema agudo de pulmão e falência cardiocirculatória. 
· Diagnóstico
Anamnese, sinais clínicos e exames complementares.
Os animais acidentados podem apresentar hiperglicemia, leucocitose com neutrofilia, mioglobinemia e mioglobinúria. Os níveis da atividade de amilase, CK, LDH e AST podem estar aumentados (indicativos de ação cardiotóxica).
Os principais achados eletrocardiográficos são taquicardia sinusal, com complexos ventriculares prematuros, marcapasso migratório e bloqueio átrio-ventricular. 
· Tratamento
A administração da soroterapia adequada é o tratamento mais eficaz, principalmente em animais. No entanto, a disponibilidade deste medicamento é muito baixa. 
Dessa forma, o objetivo da terapia é aliviar os sinais clínicos, instituindo tratamento de suporte. Para tanto, são indicados vasodilatadores, anticolinérgicos, antieméticos, corticosteróides, analgésicos e anticonvulsivantes, de acordo com o quadro clínico do paciente. 
Acidentes causados por veneno de sapo
· Características gerais
Os acidentes com os sapos ocorrem principalmente em cães, que tentam brincar ou ingerir o sapo, abocanhando o anfíbio, ou quando fazem a limpeza das patas após o contato. A maior frequência dos acidentes ocorre no período noturno, que é o de maior atividade dos sapos.
· Composição do veneno e mecanismo de ação
Nas espécies de sapos de interesse veterinário no Brasil, há dois grupos de compostos químicos: as aminas biogênicas e os derivados esteróides.
As principais aminas biogênicas são adrenalina, noradrenalina, bufoteninas, di-hidrobufoteninas e bufotioninas. A adrenalina é um agonista do sistema nervoso autônomo simpático; a ação em receptores α1 resulta em vasoconstrição na pele e nas vísceras, em β1 tem efeitos inotrópico e cronotrópico no coração, e em β2 causa broncodilatação e vasodilatação na musculatura. A noradrenalina atua nos receptores α1 e β1, com os mesmos efeitos descritos para a adrenalina. A serotonina, uma indolalquilamina, é um potente vasoconstritor e atua como neurotransmissor em centros específicos do cérebro e, possivelmente, de alguns nervos periféricos; seus efeitos afetam a termorregulação, os ciclos do sono e o controle motor dos músculos periféricos. A bufotenina, a di-hidrobufotenina e a bufotionina, em grande quantidade, produzem alucinações, apreensão, depressão, tremores, hiperestesia, hipertermia, vômitos e diarreia.
Os derivados esteróides são o colesterol, o ergosterol e o γ-sisteosterol, que constituem a fração neutra do veneno, e as bufotoxinas e os bufadienolídeos, que possuem ação similar aos digitálicos e também promovem alucinações. Estes compostos inibem a bomba de Na+/K+ das fibras cardíacas, aumentando a concentração intracelular de Na+, o que inibe a entrada deste em troca da saída de Ca2+, que tem sua concentração intracelular aumentada. Assim, há aumento da força de contração cardíaca, mas com diminuição da frequência cardíaca por ação vagal reflexa; nos animais intoxicados pelo veneno dos sapos, geralmente há este efeito suplantado pelas ações da adrenalina e da noradrenalina em receptores β1. Também há redução na velocidade de condução do impulso elétrico cardíaco do nodo sinusal ao nodo atrioventricular, com disparos de focos ectópicos ventriculares e contrações ventriculares prematuras, podendo levar à fibrilação ventricular.
· Sinais clínicos
A ocorrência dos sinais clínicos tem rápido início e pode se restringir ao local do contato ou chegar a um envolvimento sistêmico, que pode evoluir para a morte do animal. Nos quadros leves, há irritação da mucosa,
salivação bastante abundante, com formação de espuma branca ou avermelhada, incontinência fecal e inapetência por algumas horas. Nos quadros moderados, além dos sintomas anteriores, também podem ocorrer vômitos, depressão, fraqueza, ataxia ou incoordenação motora, midríase, prostração, sinais neurológicos, anormalidades do ritmo cardíaco, diarreia e micção espontânea. Nos casos graves, também podem estar presentes diarreia, dor abdominal, decúbito esternal, pupilas não responsivas à luz, agravamento das anormalidades no ritmo cardíaco, edema pulmonar, cianose, convulsões, nistagmo, opistótono, estupor e colapso, podendo ocorrer fibrilação ventricular e óbito.
· Diagnóstico
Anamnese, sinais clínicos, exames complementares e diagnóstico diferencial com inseticidas anticolinesterásicos, piretróides, estricnina, presença de corpo estranho no trato digestório superior e outras causas de arritmias cardíacas, como medicamentos simpatomiméticos e plantas como azaléia (Rhododendron spp.), espirradeira (Nerium oleander) e dedaleira (Digitalis purpurea).
Ao eletrocardiograma, os achados mais comuns em cães são arritmia sinusal, taquicardia sinusal e ritmo sinusal normal, que podem evoluir para taquicardia ventricular multiforme e fibrilação ventricular potencialmente fatal. 
Os achados de patologia clínica incluem o aumento da atividade sérica da fração MB da creatinoquinase (CK-MB) e da concentração de troponina Ic, que são marcadores de lesão miocárdica, e discreto aumento da atividade sérica de alanina aminotransferase (ALT) e aspartato aminotransferase (AST). A hipercalemia é frequente.
À necropsia, são observadas lesões ulcerativas na mucosa do trato gastrintestinal e podem ser encontrados fragmentos do sapo. Outros achados que podem estar presentes são congestão hepática e renal, congestão, edema e hemorragia pulmonar decorrentes da falência cardíaca e discreta esplenomegalia.
· Tratamento
Devem ser feitos remoção do veneno, fluidoterapia, controle das alterações cardiovasculares e respiratórias, analgesia ou anestesia.
Como medida inicial, a bocaou mucosa afetada do paciente deve ser lavada com água em abundância para promover a remoção do veneno que ainda esteja no local. Como a sialorreia é importante para a eliminação do veneno, a administração de atropina é contraindicada por diversos autores, além de agravar os quadros de taquicardia ou potencializar a taquicardia ventricular.
Anti-histamínicos e corticoides podem ser administrados por reduzirem o edema perivascular cerebral e os efeitos lesivos da bufotoxina na mucosa oral.
A taquicardia ventricular multiforme e as arritmias cardíacas podem ser controladas com a administração de propranolol. O controle das convulsões pode ser feito com a administração de diazepam ou pentobarbital sódico.
Acidentes causados por abelhas
· Composição do veneno e mecanismo de ação
O veneno das abelhas é uma mistura complexa de aminas biogênicas, peptídeos e proteínas. A melitina, um peptídeo, perfaz 50% do veneno e é responsável pela maioria dos efeitos lesivos. Há também a fosfolipase A2 que produz efeito hemolítico. 
A melitina tem propriedade hemolítica, cardiotóxica e citotóxica. Essa substância apresenta a propriedade de diminuir a tensão superficial da água da membrana plasmática, destruindo as membranas biológicas. A melitina age, de maneira sinérgica, com a fosfolipase A2 sobre os fosfolipídeos da membrana e também como fator de difusão.
A apamina interfere na permeabilidade iônica de certas membranas celulares, causando diminuição do fluxo de potássio, com consequente redução do tônus inibitório e aumento da excitabilidade. Essa substância possui ação neurotóxica, principalmente sobre as funções da medula espinal.
O degranulador de mastócitos é responsável pelo aparecimento de eritema e dor localizada em uma ferroada. Esse princípio ativo causa um efeito normalmente mediado por histamina e pela ação citolítica sobre os mastócitos.
· Sinais clínicos
As cores escuras atraem mais as abelhas do que as cores claras; portanto, a incidência de acidentes em animais com a pelagem escura é maior.
O acidente mais frequente é aquele que envolve vítimas que recebem uma ou poucas picadas. O quadro clínico, nesse caso, geralmente se limita a uma reação inflamatória local.
Uma outra possibilidade de alteração ocorre quando 0 animal, sensibilizado ou sensível, desenvolve a reação de hipersensibilidade tipo I ou choque anafilático, mesmo com uma única picada.
O terceiro tipo de acidente, que tem maior gravidade, é conhecido como múltiplas picadas por abelhas. Os animais acometidos apresentam inúmeros ferrões pelo corpo, agitação, náusea, êmese, hipotensão, fraqueza generalizada, torpor, taquicardia, taquipneia, edema pulmonar, mialgia generalizada, incoordenação, tremores e espasmos, nistagmos, convulsões e coma. O quadro clínico pode evoluir rapidamente para a morte em decorrência da cardiotoxicidade do veneno. Como manifestações clínicas tardias aparecem hematúria, hemoglobinúria, hematomas, rabdomiólise, insuficiência renal aguda, CID e alterações na coagulação sanguínea. 
· Achados laboratoriais
Diminuições de hematócrito e de hemoglobina e trombocitopenia. A hemoglobinúria é evidente, e a lesão renal, provocada pela necrose tubular aguda decorrente da deposição de cilindros de hemoglobina nos túbulos, é comum nos animais acometidos. A urinálise revela proteinúria, bilirrubinúria, presença de hemácias, leucócitos e descamação celular. 
A leucocitose com neutrofilia, desvio à esquerda, linfopenia e eosinopenia são dados comuns no leucograma. Essa situação deixa os acidentados mais susceptíveis às infecções secundárias.
· Tratamento
Não há antiveneno específico. O animal deve receber cuidados de suporte e monitoração constante. Dessa forma, os animais acometidos devem receber fluidoterapia para manter a volemia e oxigenoterapia, para garantir a ventilação.
A administração de adrenalina, via SC, é indicada na fase precoce do acidente, pois é difícil diferenciar a reação anafilática do envenenamento pela toxina melífera. Os animais muito agitados e com mialgia intensa devem ser sedados, por exemplo, com benzodiazepínicos. Para controlar os efeitos produzidos pela liberação de histamina, o uso de de anti-histamínicos H1 e H2 é indicado na fase precoce da intoxicação. 
Os animais devem ser medicados, ainda, com hidrocortisona e antibiótico e anti-hemorrágicos. 
Os ferrões das abelhas que permanecem nos animais devem ser retirados rapidamente com o auxílio de uma pinça rente à pele, ou então os pêlos dos animais devem ser raspados.
Acidentes por Loxosceles (aranha marrom)
· Características gerais
São muito comuns nas regiões Sudeste e Sul do Brasil. O veneno dessas aranhas apresenta toxicidade elevada. São pouco agressivas, picando somente quando são comprimidas. São encontradas principalmente no interior de residências, refugiando-se em roupas e armários. 
· Composição do veneno e mecanismo de ação
O veneno loxoscélico possui um componente protéico chamado esfingomielinase D, que atua sobre a esfingomielina das membranas endoteliais, hemácias e plaquetas, causando a ruptura destas. 
A esfingomielinase D também atua como fator quimiotático para neutrófilos, acarretando o recrutamento dessas células inflamatórias para o local da lesão. O influxo de neutrófilos promove agregação plaquetária, resultando em coagulação intravascular nos capilares ao redor da lesão produzindo, assim, necrose dérmica. 
Outras substâncias ativas encontradas no veneno são: hialuronidase, lipase, fosfatase alcalina, esterases e proteases.
· Sinais clínicos
O acidente por Loxosceles é um dos mais perigosos, pois, no momento da picada, a vítima não sente dor. Esse efeito se manifesta somente após 12 horas, verificando-se dor local, inchaço, mal-estar e febre. 
O loxoscelismo apresenta duas formas: a cutânea, que ocorre na grande maioria dos casos e caracteriza-se pelo aparecimento de lesão inflamatória no ponto da picada, evoluindo para necrose e ulceração; e a cutâneo-visceral, na qual verifica-se que os animais acometidos apresentam, além das alterações cutâneas descritas anteriormente, anemia, icterícia cutâneo-mucosa e hemoglobinúria. A insuficiência renal aguda é a complicação mais temida.
· Lesões
Na necropsia, observa-se necrose no local da picada e em áreas adjacentes; congestão e hemorragia, principalmente nos rins e no edema. 
· Tratamento
Uso de antiinflamatórios não esteroidais, que não do tipo ácido acetilsalicílico. No local da picada, recomenda-se realizar compressas frias e antissépticas. Os antibióticos devem ser empregados por via sistêmica, caso haja infecções secundárias. Além disso, recomenda-se hiperhidratação, para impedir a lesão renal e transfusões sanguíneas, quando houver hemólise muito intensa, com quadro de anemia extrema. 
Acidentes por Phoneutria (aranha armadeira)
Quando essa aranha se sente ameaçada, pode saltar até 30 cm para atacar. Essa aranha se distribui basicamente na América do Sul, principalmente no Brasil, sendo as maiores causadoras de acidentes na região Sudeste do país. Possui hábito noturno. 
· Composição do veneno e mecanismo de ação
O veneno dessa aranha tem efeito neurotóxico, e os animais acidentados apresentam dor local de intensidade variável, edema, eritema e parestesia nos pontos da inoculação. Pode apresentar, de acordo com a dose inoculada, efeito cardiotóxico com a presença de dilatação cardíaca e arritmias. 
· Sinais clínicos
Os acidentes são classificados em três tipos: os considerados leves ocorrem na maior parte dos casos, com alterações predominantemente locais. Os animais mostram dor intensa e imediata, os sinais locais são de edema e eritema discretos e duas pequenas lesões causadas pelas quelíceras. No do tipo moderado, os animais ainda manifestam dor intensa e, além disso, náusea e vômitos, taquicardia, sudorese, hipotensão arterial e agitação psicomotora. As alterações graves normalmente aparecem em animais jovens. Os sinais são, além daqueles descritos nos casos moderados, arritmias cardíacas, insuficiência cardíaca, edema pulmonar, convulsões e coma.
· Tratamento
O tratamentoé feito com a infiltração de lidocaína sem vasoconstritor no local da picada. Podem ser utilizados também antiinflamatórios ou até mesmo opióides. Recomenda-se também o uso de compressas mornas. 
A observação dos animais deve ser de, pelo menos, 3 horas nos casos leves, 6 horas para moderados e, pelo menos, 24 horas para acidentes graves.

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