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Código Logístico 58972 Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-6544-8 9 7 8 8 5 3 8 7 6 5 4 4 8 A negociação efetiva possibilita reduzir o impacto das crises econômicas que podem envolver todos os agentes de uma sociedade, sejam pessoas físi- cas ou organizações. Entre os resultados de uma negociação bem-sucedida, estão o aumento da renda, a possibilidade de novos investimentos, a aproximação de pessoas, a análise de alternativas e a ampliação da prosperidade. Cada capítulo deste livro é destinado à compreen- são de aspectos estruturais e de maior relevância das negociações. São tratados os princípios e as habilidades básicas que dizem respeito ao tema, além de sua relação com a crise econômica. Em seguida, são apresentadas algumas técnicas de negociação, bem como as estratégias, os tipos, o estudo da matriz de negociação complexa e a teoria dos jogos. Esta obra apresenta informações relevantes ao estudo da negociação empresarial e colabora para o entendimento dessa área dentro das corporações. NEGOCIAÇÃO EM PRESARIAL Antonio Pescum a Junior Negociação Empresarial IESDE 2019 Antonio Pescuma Junior © 2019 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito do autor e do detentor dos direitos autorais. Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: Rawpixel.com/Shutterstock Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ P563n Pescuma Junior, Antonio Negociação empresarial / Antonio Pescuma Junior. - 1. ed. - Curitiba [PR] : IESDE Brasil, 2019. 98 p. Inclui bibliografia ISBN 978-85-387-6544-8 1. Desenvolvimento organizacional. 2. Negociação (Administração de empresas). I. Título. 19-60411 CDD: 658.4052 CDU: 005.574 Antonio Pescuma Junior Doutor em Ciências pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP). Mestre em Economia Política pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC- SP). Bacharel em Economia pela Universidade Paulista (Unip). Professor em cursos de MBA e consultor. Participante do Grupo de Avaliação de Tecnologias em Saúde (Repats). Integrante do Comitê de Diálise junto à Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN). Sumário Apresentação 7 1 Princípios de negociação 9 1.1 Conceitos e objetivos sobre negociação 9 1.2 A negociação em um cenário de crise 21 1.3 A negociação e os retornos financeiros: as empresas e os acionistas 23 2 Técnicas de negociação 29 2.1 Habilidades básicas das equipes de negociação 29 2.2 Formas de negociação 34 2.3 Negociações complexas 37 2.4 A teoria dos jogos 42 3 Ética nas negociações 49 3.1 O conceito de ética 49 3.2 Por que ser ético nas negociações? 51 3.3 Como obter lucros com ética? 54 3.4 Case: As empresas transnacionais na diálise 58 4 Gestão de conflitos 65 4.1 Os conflitos nas negociações 65 4.2 Emoção, inteligência e negociação 69 4.3 A efetividade na negociação: o espírito empreendedor 71 5 A negociação internacional 81 5.1 Teoria das Vantagens Comparativas e negociação internacional 81 5.2 Acordos oligopolísticos: uma negociação entre parceiros? 86 5.3 As incorporações, fusões e aquisições das empresas transnacionais 90 Gabarito 97 Apresentação No mundo contemporâneo, muitas pessoas ou corporações realizam negociações com a intenção de aprimorar seus resultados financeiros. Dessa forma, com o objetivo de verificar as reais potencialidades do mercado na atual fase do capitalismo, é relevante aprofundarmos nossos conhecimentos relacionados às negociações. A negociação efetiva possibilita reduzir o impacto das crises econômicas que podem envolver todos os agentes de uma sociedade, sejam pessoas físicas ou organizações. Entre os resultados de uma negociação bem-sucedida, podemos mencionar o aumento da renda, a possibilidade de novos investimentos, a aproximação de pessoas, a análise de alternativas e a ampliação da prosperidade. Portanto, cada capítulo deste livro é destinado à compreensão de aspectos estruturais e de maior relevância das negociações. Começaremos com os princípios e as habilidades básicas que dizem respeito ao tema, além de o relacionarmos com a crise econômica. Em seguida, iremos observar algumas técnicas de negociação, bem como as estratégias, os tipos, o estudo da matriz de negociação complexa e a teoria dos jogos. Posteriormente, abordaremos os princípios éticos durante determinada negociação, explorando um case que trata das empresas transnacionais na diálise. Para complementar, falaremos sobre os conflitos nas negociações, com considerações sobre o papel das emoções e sua relação com o espírito empreendedor. Por fim, estudaremos a negociação internacional, analisando a Teoria das Vantagens Comparativas, os acordos no mercado em formato de oligopólio e os processos de incorporação, fusão e aquisição de companhias. Em suma, esta obra apresenta informações relevantes para o estudo da negociação empresarial e colabora para o entendimento dessa área dentro das corporações. Bons estudos! 1 Princípios de negociação A negociação é um assunto de grande importância no mundo atual, principalmente por fornecer elementos importantes para conseguir maior renda, diversificar as atividades, realizar investimentos, atrair pessoas, analisar alternativas, dentre outros benefícios. Os resultados advindos de uma boa negociação podem ser expressos tanto para uma pessoa física quanto para um corpo coletivo ou para uma organização empresarial. No entanto, para que tenhamos um cenário pleno e eficaz a partir de uma negociação, é fundamental verificarmos quais escolhas permeiam o objeto que será negociado e quais retornos serão concretizados no futuro. Na sociedade em que vivemos, permeada por alternativas e desejos de consumo, há uma diversidade de realidades, virtuais e reais, sendo, desse modo, fundamental saber negociar. A premissa fundamental consiste em verificar quais serão os valores – humanos, éticos e financeiros – gerados por uma negociação. Dessa forma, é necessário ter conhecimento de que o movimento de recursos financeiros no mundo onde vivemos ocorre em uma imensa velocidade, com movimentações financeiras de elevado vulto entre corporações e instituições bancárias. A principal contribuição da negociação baseia-se em ser uma ferramenta fundamental para a geração de riqueza e ampliação do bem-estar dos indivíduos e das corporações. O ponto estratégico desse instrumento relaciona-se à habilidade de estar presente no momento certo e com a atitude correta, e ter instinto apurado para controlar as emoções e as decisões que devem ser tomadas em um processo de negociação. Neste capítulo iremos desenvolver pontos bastante importantes com relação ao escopo teórico e prático da negociação. Desse modo, no item 1.1, iremos aprender os principais conceitos e objetivos relacionados à negociação. Em seguida, no item 1.2, iremos estudar quais seriam as opções para a realização de negociações em circunstâncias de crise econômica. E, por fim, no item 1.3, iremos investigar a relação entre as grandes companhias e os seus investidores. 1.1 Conceitos e objetivos sobre negociação A negociação é entendida na literatura como um jogo entre dois ou mais agentes em busca de interesses que possam se concretizar a partir de uma atitude voltada para a arte de negociar. Esse conceito está relacionado a alguns aspectos que merecem ser investigados: planejamento, influência, adaptação e aprendizado. Wheeler (2013) aborda essa questão mencionando as possíveis mudanças que uma negociação pode gerar ao longo de sua execução, devido à adaptabilidade dos agentes envolvidos. O conceito de negociação não é algo estático, ou seja, que não muda ao longo do tempo, mas depende de preferências e delineamento de estratégias bem definidas, com possíveisdesacordos Negociação Empresarial10 entre as partes envolvidas. Katz (1955) relaciona o comportamento humano ao conceito de negociação, principalmente perante as possíveis alternativas e a geração de valor dentro de uma organização, quando os princípios adotados na negociação são pautados na ética. Os interesses e o desejo em um máximo resultado mediante uma negociação permeiam a realização de novas ideias e projetos, com diferentes perspectivas. Como afirma Keynes (1996), o homem tem desejo incessante de obter mais e procura sempre buscar alternativas que maximizem o seu lucro ao longo do tempo, ou, além disso, seus ganhos potenciais, sendo, portanto, definido como animal spirit, conceito atrelado à tendência humana para empreender, negociar e almejar o lucro. Dessa forma, o ser humano pode se colocar como trabalhador, prestador de serviço ou assalariado. Em todos esses casos, o conceito de negociação está estritamente relacionado ao animal spirit, em que o indivíduo, detentor dos seus recursos, tem como principais objetivos a manutenção e a expansão de sua rentabilidade (KEYNES, 1996; CHICK, 1983). O conceito da negociação é bastante amplo e tem várias interpretações. Sendo assim, para um entendimento mais aprofundado sobre o tema, convém compreender qual é o papel do dinheiro nas negociações e sua relação com a geração de lucro. Além disso, é fundamental compreender que as negociações estão imersas em um circuito imaginário, porém concreto e real, denominado fluxo circular de renda. De modo preliminar, importa considerar que em um fluxo de renda, expresso por uma quantidade de dinheiro, a circulação de moeda ocorre entre as famílias e empresas envolvidas. Dito de outra forma, os consumidores, ou as famílias, vendem sua força de trabalho para as empresas em troca de um salário – condição fundamental para sua subsistência – e compram os serviços produzidos pela empresas, definindo-se, assim, o fluxo circular de renda. Por meio desse exemplo, compreendemos, de maneira simples, essa etapa inicial do processo e do fluxo de renda entre estes dois atores: famílias e companhias. A troca monetária ocorre a partir da venda do tempo despendido durante a elaboração de um produto, da prestação de um serviço ou da intermediação de atividades com outras companhias. A negociação é permeada de um movimento de interações que misturam a lógica e a emoção, principalmente quando a iminência de perda pode ocorrer com certa frequência em um “jogo” entre as partes envolvidas. Portanto, antes de compreendermos o que está por trás dos movimentos de negociação e seus objetivos, é necessário visualizarmos que esses fluxos – financeiros e monetários – circulam de uma forma que obedecem a certos comportamentos e necessidades, tanto empresariais quanto individuais. Por meio do fluxo circular de renda, é possível notar a complexidade da definição de negociação em uma perspectiva de mercado e com certas características peculiares para cada agente envolvido. Observe, na Figura 1, como ocorre o fluxo de renda entre as famílias e instituições, com ou sem governo, e com o resto do mundo (outros países). É pertinente destacar que todo dinheiro gerado nesse fluxo é permeado por negociações entre as empresas e seus fornecedores, entre as famílias e as empresas, entre o governo e as empresas, além de outras interações. iminência: condição. Princípios de negociação 11 Figura 1 – As negociações presentes no fluxo circular de renda • Pagamento de salários • Remuneração aos fornecedores • Aspectos legais • Obtenção de crédito bancário • Financiamentos • Infraestrutura • Tecnologias • Distribuição de produtos/serviços • Importação/exportação • Isenção de impostos • Pagamento de impostos • Mercado financeiro • Meio ambiente • Cobrança de impostos • Distribuição de impostos • Aspectos legais • Financiamentos • Subsídios • Intervenções no mercado • Acordos políticos • Resto do mundo • Barreiras alfandegárias • Metas econômicas • Mercado financeiro • Tecnologias • Meio ambiente • Restrições/comércio • Relações cambiais • Aspectos legais • Restrições políticas • Imigração • Barreiras culturais • Ética internacional • Meio ambiente • Dependência estrutural • Exploração de países • Guerras • Conflitos diplomáticos • Consumo • Outras famílias • Crédito • Aspectos legais • Impostos • Empreendedorismo • Usufruto/impostos • Saúde • Educação • Aposentadoria • Mercado financeiro • Tecnologias EMPRESAS GOVERNOFAMÍLIAS RESTO DO MUNDO Fluxo circular de renda Fonte: Elaborada pelo autor. Observe que cada item presente na Figura 1 está relacionado a um tipo de negociação e a formas de se obter vantagem perante uma situação em detrimento de outra, com diversos atores e instituições. Portanto, pode-se dizer que a negociação é um conjunto complexo de cenários repletos de interesses em jogo, com perspectivas de vários níveis de maturação temporal, com prazos, metas, parâmetros, medidas financeiras, taxas, portarias governamentais e objetivos específicos. Os diversos atores (empresas, governo, famílias e resto do mundo) que pertencem ao fluxo circular de renda podem ser entendidos como agentes econômicos que contribuem para a geração de riqueza e manutenção de bem-estar a partir da construção de um cenário ideal. No entanto, cada ator tem um campo de atuação com papéis distintos, além de ter um conceito específico de negociação e um determinado objetivo em relação às partes envolvidas. Dessa forma, iremos verificar os atores envolvidos, a negociação pertinente e o objetivo das partes. É importante mencionar que a nossa intenção neste item não é o desenvolvimento aprofundado de todas as negociações entre os atores em um fluxo circular de renda, pois o que pretendemos propor, a princípio, é um entendimento da interação entre as diversas situações e a busca de equilíbrio entre as partes. A noção de equilíbrio vem a partir da concepção teórica e analítica dos economistas da vertente clássica ou neoclássica, que afirmam haver uma possibilidade plausível de obtenção de equilíbrio entre os agentes presentes em um processo de negociação e defendem o livre mercado, com a participação mínima do governo. O equilíbrio seria o ponto no qual a quantidade procurada de determinado bem ou serviço fosse igual à quantidade que uma empresa ou um indivíduo disponibiliza em um mercado. O ponto Negociação Empresarial12 de equilíbrio em um mercado competitivo é um conceito que representa a base dos raciocínios da escola pertencente à Economia Política, denominada mainstream (HUNT, 2013). No entanto, o equilíbrio em uma negociação não é tarefa simples e, na realidade, não pode ser alcançado sem a perda de algum agente integrante da negociação. É interessante observar que as negociações sempre estarão moldadas em alguma postura política: os adeptos ao pensamento mainstream desejam um governo minimalista e restritivo, já os keynesianos defendem uma participação do Estado para o desenvolvimento econômico, com o aumento dos gastos. A partir desse contexto, iremos aprofundar nosso estudo com um olhar bastante atento aos itens e aos atores apresentados na Figura 1. Além disso, iremos descobrir quais são as negociações envolvidas, seus objetivos e possíveis consequências para cada uma delas. 1.1.1 As empresas As empresas em uma economia são responsáveis por geração de empregos, pagamento e geração de impostos, diversificação de ideias, movimento empreendedor, giro financeiro, marketing e sua aplicabilidade, dentre outras funções. No entanto, para que funcione, é necessário que uma empresa realize as atividades de negociação das mais diversas formas e dimensões. As atividades de negociação, além de estarem em um fluxo circular de renda, estão alocadas em espaços e dimensões distintos. A Economia Política colabora para a compreensão dessas dimensões com autores de representatividade no contexto científico, no qual a Ciência Econômica marca presença. Diante disso, a Economia Política seapresenta, ao longo da história, com várias vertentes e arcabouços teóricos: clássicos, neoclássicos, keynesianos, pós-keynesianos, estruturalistas, formalistas e marxistas, entre outras linhas de pensamento. Todas essas correntes teóricas se materializam no campo dos acordos financeiros e das negociações (HUNT, 2013). Portanto, a Economia Política é compreendida pela investigação de três dimensões (FREEMAN; MORAN, 2002): • Dimensão econômica: o contexto empresarial está inserido em um complexo conjunto de empresas, fornecedores e pessoas, desempenhando um papel importante na economia. • Dimensão política: a política incorpora diversas instituições, com diferentes atores (provedores, usuários, profissionais, pagadores e governantes); com a análise de Portarias; com o papel das empresas estrangeiras; com o público e o privado no mercado. • Dimensão social: introduziu o direito, o cuidado e o acesso dos consumidores aos produtos e serviços; promoveu os aspectos legais junto aos funcionários, as normas e a ética. O Quadro 1, a seguir, apresenta as dimensões abordadas pela Economia Política e seus principais questionamentos. Princípios de negociação 13 Quadro 1 – Metodologia da Economia Política aplicada nas empresas Dimensões Questionamentos relacionados às negociações das empresas Econômica • Como as empresas produzem seus produtos ou ofertam seus serviços? • Qual será o volume financeiro despendido na produção? Qual será o lucro gerado? • Qual é o papel dos concorrentes e fornecedores? Há liberdade nas negociações? • Como são distribuídos os produtos e ofertados os insumos? • Como são dimensionados os projetos de investimento? • Quais são as negociações para o pagamento de salários? Política • Quais são as negociações entre as empresas e o governo? • Quais são as barreiras de comunicação entre os gestores no âmbito das negociações internas das empresas? Social • Qual é o impacto no consumo dos produtos pelos indivíduos? • Os direitos dos consumidores e funcionários são assegurados? Fonte: Elaborado pelo autor. Agora que você compreendeu as dimensões, vamos retomar alguns itens da Figura 1, com o objetivo de verificar a dimensão para cada uma das negociações, o principal objetivo e as possíveis consequências. Na negociação denominada Remuneração aos fornecedores, realizada pelas empresas, por exemplo, o seu conceito está vinculado à relação produtiva ou industrial, sendo uma condição fundamental para a produção dos produtos e escoamento ou distribuição no mercado. Dito de outra forma, sem uma boa negociação com os fornecedores haveria problemas financeiros, perda de credibilidade junto ao mercado e, consequentemente, diminuição das margens de lucro perante seus concorrentes. Desse modo, o item Remuneração aos fornecedores deve ser investigado com a base metodológica da Economia Política pertencente ao campo da dimensão industrial. Ainda sobre o item Remuneração aos fornecedores, a negociação deve estar pautada na construção de um cenário que proporcione o aumento dos prazos para o pagamento dos insumos e produtos adquiridos pela empresa, além de um bom desconto. É importante também mencionar que o grau de dependência perante os fornecedores deve ser minimizado ao longo do tempo, principalmente pela busca de outras alternativas, visto que, quanto maior for o número de fornecedores, maior será a probabilidade de “barganhar” descontos aos recursos para a produção do serviço ofertado no mercado. Veja que estamos analisando um cenário específico de negociação empresa versus fornecedores. Por outro lado, durante a vida de uma companhia, há diversas situações de negociação realizadas ao longo do tempo, com diversos interesses, e cada uma com uma lógica específica. Após essa consideração, vejamos outro item na Figura 1 relacionado às empresas: o conjunto de negociações referentes à Importação/exportação pelas companhias. Para deixar mais clara a ideia relacionada a esse conceito, quando pensamos em importar ou exportar algum produto, primeiramente, devemos verificar uma variável de extrema importância nessa negociação: o câmbio. barganhar: negociar; permutar. Negociação Empresarial14 Dito de outra forma, caso a moeda nacional esteja valorizada perante as moedas estrangeiras, vale a pena importar; caso contrário, se as outras moedas estiverem valorizadas, vale a pena exportar. Portanto, as negociações atreladas às importações ou exportações devem ter essa variável – o câmbio – como peça fundamental nas análises. É importante destacar que as negociações relacionadas ao câmbio ocorrem entre empresas e fornecedores junto ao governo, principalmente a partir de transações comerciais entre países. As negociações entre o Brasil e o mundo são expressas pela quantidade de produtos exportados e importados pelo país. Quanto maior é o volume de exportações, maior é o saldo da balança comercial brasileira perante o exterior. Isso significa que as receitas em dólar aumentam, com a geração de uma maior receita em dólar. No caso do Brasil, há predominância de produtos relacionados às commodities, produtos alimentícios, dentre outros – a maior parte deles é exportada, atribuindo ao Brasil a característica de ser um país exportador1. Dentro da metodologia da Economia Política, verificamos que as transações realizadas a partir do câmbio, sendo o elemento balizador, estão inteiramente relacionadas à dimensão industrial ou econômica, principalmente por lidar com conversões de moedas e interesses peculiares e financeiros nas transações entre empresas e entre governos. Veja que conseguimos identificar a dimensão para os dois exemplos citados, bem como a forma que pode ser conduzida. Agora, em relação às empresas, vamos supor que você seja gestor de um serviço de medicina diagnóstica, uma área de grande importância na saúde que realiza procedimentos de exames laboratoriais e utiliza máquinas para a sua operacionalização (ultrassom, endoscopia, colonoscopia, dentre outros). Pensando no item Tecnologias, presente na Figura 1, como poderíamos analisar se uma nova máquina seria incorporada a um serviço de saúde como o de medicina diagnóstica? Tem alguma ideia? De que maneira iniciaríamos uma negociação com as empresas que fornecem os equipamentos? Iríamos substituir uma máquina por outra com mais inovações? É importante saber que as negociações no segmento da saúde são bastante diferentes das usuais, como, por exemplo, uma indústria que produz sapatos – principalmente em virtude do cuidado com os pacientes, da segurança, do relacionamento com a Secretaria de Saúde do Estado (SES), com os convênios e as seguradoras, com os médicos e demais profissionais de saúde, com a sociedade, dentre outros atores. A saúde está inserida, portanto, em um ambiente político e em um ambiente próximo a uma indústria, com fornecedores, empresas associadas, produtos e serviços2. A partir do entendimento de que a saúde está imersa em um complexo industrial, primeiramente, o gestor do serviço de medicina diagnóstica deve analisar alguns elementos, fazendo as seguintes perguntas: • Qual é o número médio de pacientes atendidos na unidade (mês a mês e ano a ano)? • A máquina atual proporciona elevada manutenção? 1 Para saber mais sobre os produtos produzidos no Brasil e os que são importados, acesse a plataforma Comex Stat, pertencente ao Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços: http://comexstat.mdic.gov.br. 2 Para saber mais sobre o Complexo Industrial da Saúde e seus componentes estruturais, acesse: http://www6.ensp. fiocruz.br/repositorio/sites/default/files/arquivos/ComplexoSaude.pdf. Princípios de negociação 15 • Quais são os insumos que o maquinário atual necessita para sua operacionalização? São caros? Qual é a relação entre a quantidade de insumos e pacientes atendidos? • Em termos de economia, quantidade de exames realizados, acurácia no diagnóstico e outros fatores, quais são as principais vantagens da máquina nova comrelação à antiga? • Qual será o treinamento realizado na equipe de médicos e biomédicos para a utilização dessa nova máquina? Quem vai pagar? A empresa ou o serviço? • Haverá subsídio governamental para a aquisição da máquina? Qualquer decisão relacionada a um novo investimento deve ser pautada na realização de um Projeto de Viabilidade Econômica3, visando ao detalhamento de custos, benefícios, escala, público-alvo, demanda, oferta, localidade, acesso etc. A partir dos questionamentos levantados, verificamos que uma negociação não pode ser realizada por impulso, sem análises, parâmetros e critérios. Dito de outra forma, é fundamental verificar o custo envolvido, os benefícios gerados e o impacto para todos os envolvidos. Nesse caso, seria um movimento de geração de valor para todos os participantes em um serviço de medicina diagnóstica, com o objetivo fundamental de angariar lucros para a empresa, melhorias na estrutura, maiores salários para os colaboradores e efetividade no atendimento aos indivíduos – uma situação de bem-estar para o negócio e para a coletividade. Nesse exemplo, a empresa, na saúde, estaria inserida na dimensão econômica, com repercussões sociais e políticas, principalmente relacionadas aos pacientes e aos financiadores do novo maquinário que seria utilizado. Além das perguntas que formulamos, para complementar a análise, é bom termos conhecimento de que quando o capital disponível não é suficiente para a aquisição de um equipamento, tecnologia ou para a ampliação da capacidade instalada em uma empresa, é utilizado um mecanismo de extrema importância: o financiamento governamental por agência de fomento, como a do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES4), que financia projetos para melhorias nas empresas, disponibilizando verbas governamentais para adquirir equipamentos e para projetos específicos, com impacto social. 1.1.2 Governo Após a análise de algumas negociações que podem ser realizadas nas empresas, vamos estudar um pouco o ambiente do governo, uma entidade muito importante para a regulação de todo o fluxo de renda em determinada economia. Alguns defendem que o governo, representado pelo Estado, deve participar mais das negociações, já outros preferem que tenhamos um Estado mínimo. Para entendermos essa discussão, com uma influência muito forte nas negociações, vamos investigar alguns autores da Economia Política. 3 O SEBRAE disponibiliza interessantes informações a respeito disso. Para saber mais, acesse: http://www.sebrae. com.br/sites/PortalSebrae/Busca?q=%20viabilidade%20econômica. 4 Para mais informações, acesse: https://www.bndes.gov.br/wps/portal/site/home/financiamento/produto/bndes- saude-investimentos. angariar: obter. Negociação Empresarial16 Alguns pensadores pertencentes à escola keynesiana defendem uma maior participação do governo, dizendo que é fundamental ter regras para o “jogo das negociações”, que o mercado não pode operar sozinho e que o governo, representado pelo Estado, deve fornecer os bens e serviços necessários para a população como um todo, visto que ela tem os direitos adquiridos, principalmente pelo pagamento de impostos. Desse modo, o governo realiza negociações das mais diversas formas; não publica apenas portarias ou decretos, mas negocia com entidades de empresários, estipula regras para o destino de dinheiro para áreas específicas, opera no mercado financeiro, organiza a arrecadação de impostos, além de outras negociações. Além disso, o governo administra os recursos financeiros arrecadados na sociedade e sua distribuição por meio de um fundo público, que é organizado mediante a seguridade social, com valores monetários destinados para educação, assistência e saúde (SALVADOR, 2010). Portanto, todas as negociações realizadas pelo aparato governamental devem estar associadas às fontes e aos destinos desse enorme quantum de recursos financeiros. Para melhor entendimento, vamos desenvolver – assim como no Quadro 1 relacionado às empresas – alguns exemplos associados às negociações governamentais. O Quadro 2, a seguir, ilustra as principais perguntas para iniciarmos o entendimento desse setor tão importante no fluxo de renda de uma economia. Quadro 2 – Metodologia da Economia Política aplicada no governo Dimensões Questionamentos relacionados às negociações do governo Econômica • Quais são as principais prioridades governamentais para a ampliação da capacidade instalada na economia? Estradas, ferrovias, hidrovias? • Como o dinheiro arrecadado por impostos é aplicado? • De que forma o governo financia suas atividades? No mercado acionário? Pela geração de emprego e renda? Política • Qual é o posicionamento político do governo? Expansionista? Restritivo? • De que forma as leis são aprovadas? • Há equilíbrio entre as forças políticas? Social • As pessoas são atendidas quando têm necessidades relacionadas à saúde, educação, aposentadoria? • Há comunicação entre sociedade e governo? • Há lutas sociais? Fonte: Elaborado pelo autor. Todas as estratégias governamentais se relacionam às empresas, aos indivíduos, à sociedade e ao resto do mundo, ou seja, nada é isolado, com um único destino. Por outro lado, no atual cenário em que vivemos, a tendência será a de um governo minimalista, com menor participação do Estado na economia, tendo uma postura restritiva nas negociações. Apesar desse comportamento governamental, com cortes orçamentários, o objetivo das negociações é diminuir o fluxo de dinheiro destinado pelo Estado às atividades econômicas. Essa preocupação com os gastos governamentais está relacionada ao seguinte questionamento: Como seria possível oferecer todos os benefícios a todos? Princípios de negociação 17 Seria possível? A princípio, com a arrecadação de impostos, poderíamos pensar que isso seria viável, no entanto, a quantidade de produtos governamentais e serviços oferecidos para a população está diretamente relacionada às negociações realizadas junto a empresas para o fornecimento desses benefícios, ou seja, tudo é negociado – a quantidade, o preço, a forma como serão distribuídos, a qual nível de renda – com regras e um conjunto de etapas estabelecidas politicamente e dentro de uma lógica de mercado. O Estado, para oferecer os bens e serviços necessários à população, negocia com empresas. Os programas habitacionais, por exemplo, são ofertados pelo governo por meio de acordos com construtoras e empresas do segmento privado. Não havendo uma situação ideal de diálogo, a negociação nem sempre ocorre de modo harmonioso, surgindo embates, lutas por direitos e interesses por lucros. Aliás, todas as negociações têm como objetivo fundamental o lucro. Para termos alguns exemplos (cases) de sua aplicabilidade no caso do governo, vejamos o item Metas econômicas na Figura 1. A construção de ideais para o desempenho da economia interfere e influencia em todas as negociações para obtenção de financiamentos, preços e quantidades de produtos no mercado, insumos adquiridos pelas empresas, geração de renda e perspectivas para a população com relação ao emprego, dentre outras consequências. As Metas econômicas se relacionam diretamente às Políticas Econômicas e têm papel fundamental no fornecimento de condições favoráveis ou não ao mercado composto de empresas no mundo real ou produtivo e ao mercado acionário (investidores) – tudo repleto de negociações entre agentes do governo e empresas5. Sobre o item Metas econômicas, ainda, é importante destacar que as medidas de ordem econômica se baseiam em diferentes aspectos e negociações, entre eles a definição do valor para a taxa de juros. Essa taxa é uma medida que serve de base para todas as negociações no mercado – empréstimos, financiamentos, aplicações financeiras, novos projetos, dentre outras aplicações. De uma forma bem simples, quanto maior for a taxa, maior será o custo para o crédito, menor será o estímulo para os investidores produzirem, e maior será a tendência emaplicar o dinheiro em algum fundo bancário. Veja que uma única mudança nessa variável pode alterar todo um conjunto de negociações em diversos setores, envolvendo empresas e indivíduos. Pensando na metodologia da economia política para o governo, a decisão sobre o valor dessa taxa está inserida em uma dimensão política e econômica, principalmente pela constatação de que tudo é negociado no Comitê de Política Monetária (Copom). Por exemplo, no dia 19 de junho de 2019, o Copom decidiu manter a taxa básica de juros da economia em 6,5%, sendo que o mercado sempre reage de uma forma ou de outra, com maior ou menor otimismo. Essas reações no mercado propiciam maior ou menor volume financeiro na economia, com repercussões em todos os setores, inclusive com relação ao número de contratações e ao reflexo no nível de emprego. Todas as negociações entre os atores pertencentes ao fluxo de 5 Para mais informações, recomenda-se a leitura da obra Para além da política econômica, do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), com diversos temas de interesse, em especial o artigo de Carneiro (2018) intitulado “Navegando a contravento: uma reflexão sobre o experimento desenvolvimentista do Governo Dilma Rousseff”, disponível em: https://www.eco.unicamp.br/images/arquivos/para-alem-da-politica-economica.pdf. Negociação Empresarial18 renda da economia se prepararam para a definição de um valor para a taxa de juros, com acordos e negociações definidos nesse patamar6. Foi bastante interessante perceber como o governo pode atuar, com múltiplas consequências, não somente em uma única dimensão. As negociações podem estar vinculadas a mais de uma dimensão, sendo possível verificar as consequências de determinada decisão em diferentes contextos. Para deixar mais clara a compreensão dos conceitos e objetivos das negociações, vamos examinar, na Figura 1, outro item do governo: Meio ambiente. Negociações governamentais nesse contexto são medidas adotadas, às vezes punitivas, contra empresas que exploram e danificam o meio ambiente. Um exemplo marcante foi o desastre na cidade de Mariana (MG), uma fatalidade ambiental que ocorreu em novembro de 2015, graças ao rompimento de uma barragem, deixando 19 mortos, 296 desaparecidos e 300 famílias desalojadas na cidade. Essa situação ocasionou várias negociações entre o governo, empresas e famílias. O processo contra os envolvidos ainda está em negociação e ninguém foi punido até o momento7. É importante verificar que, nesse caso, as três dimensões precisam ser analisadas, principalmente com questionamentos acerca das negociações que serão conduzidas. O Quadro 3 sintetiza as principais perguntas para a nossa análise. Quadro 3 – A tragédia em Mariana (MG): Qual é o desfecho das negociações? Dimensões Questionamentos relacionados à tragédia em Mariana (MG) Econômica • Qual foi o impacto financeiro gerado pelo rompimento da barragem? • Qual foi a perda de faturamento das empresas na região? • Qual foi a perda em valores monetários pela destruição do meio ambiente? Política • Qual é o envolvimento dos familiares com a empresa e o governo? Há diálogo? • Qual é o nível de negociação entre o governo e as empresas? • Como os investidores da Vale reagiram à situação? Social • Qual é a negociação para aliviar o sofrimento das famílias? • Qual foi o impacto social na perda de empregos? Qual será a negociação para suprir essa perda de renda? Fonte: Elaborado pelo autor. Poderíamos enumerar várias negociações com diversos objetivos: alguns para a defesa das empresas, outros para a proteção dos investidores e das famílias. Perceba que esse nível de negociação está imerso em uma complexidade que merece atenção especial, principalmente com relação ao impacto para as gerações futuras. Quando determinado acontecimento gera sequelas das mais variadas, denominamos, em economia, como externalidades. Varian (2003) aborda esse conceito afirmando que existem externalidades positivas e negativas. Dito de outra forma, o acidente gerou diversos efeitos 6 Veja a evolução da taxa de juros (SELIC) de 2012 a 2019, acessando: https://g1.globo.com/economia/ noticia/2019/06/19/copom-mantem-taxa-basica-de-juros-em-65percent-ao-ano.ghtml. 7 Para saber mais, acesse: https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2019/03/09/apos-quase-tres-anos-e- meio-responsaveis-pela-tragedia-em-mariana-ainda-nao-foram-punidos.ghtml. Princípios de negociação 19 negativos para toda a sociedade e para o mundo, com perdas que ultrapassam qualquer tipo de medida monetária. 1.1.3 Famílias As famílias são responsáveis por um elemento muito importante para a acumulação de dinheiro em uma economia: fornecem mão de obra para a realização de trabalhos dos mais diversificados, com baixo nível de instrução ou com elevado conhecimento prático e tecnológico. De certa forma, as famílias colaboram para a manutenção de uma quantidade de pessoas dispostas a trabalhar por um salário definido no mercado, resultado da interação entre os profissionais disponíveis e a procura por trabalhadores em diversos setores com diferentes objetivos dentro do fluxo circular de renda. Devido ao maior uso de tecnologias e plataformas digitais, e à diminuição do papel da indústria como elemento para geração de empregos, a força de trabalho apresenta ao longo das décadas um valor cada vez menor comparado a sua capacidade real de oferecer serviços para as empresas, principalmente pelo aumento do desemprego e pela diminuição da capacidade de compra das famílias nesse processo. Marx (1980) aborda a questão da força de trabalho em detalhes, afirmando que os capitalistas exploram os trabalhadores mediante a extração da mais-valia. Para exemplificar esse conceito, imagine que uma pessoa trabalha como atendente de caixa na Empresa X, que vende hambúrgueres, e recebe um salário de R$ 792,00 ao mês. Você já se perguntou quantos hambúrgueres esse trabalhador vende por dia? Talvez mais de cem, não acha? Suponha que sejam vendidos cem hambúrgueres por dia – totalizando R$ 2.000,00 por mês. Considerando que o atendente de caixa da Empresa X trabalhe 20 dias – e que o preço médio de cada unidade seja de R$ 20,00 –, o faturamento gerado por ele corresponde a aproximadamente R$ 40.000,00 ao mês. Sendo R$ 792,00 o salário mensal desse trabalhador, a mais-valia gerada para o empreendimento será de R$ 39.208,00. Apesar de a ideia de Marx (1980) ter um fundamento razoável, cada indivíduo deve buscar a melhor alternativa para os seus rendimentos, mediante sua capacidade e grau de instrução. Além disso, pensando no fluxo circular de renda, temos trabalhadores qualificados e trabalhadores com menor grau técnico, sendo que ambos colaboram para o consumo. Para complementar, na análise baseada em Marx (1980), não há uma consideração sobre todos os custos que o empreendedor tem para operacionalizar seu negócio e os riscos assumidos. O trabalhador está em uma situação confortável, com seus direitos e seu salário, enquanto o capitalista (empreendedor) tem todas as chances de sucesso ou fracasso no seu empreendimento. Portanto, devemos ter um olhar sempre crítico com relação às diversas interpretações. Continuando com a nossa análise, de acordo com a Figura 1, podemos notar um item dependente das famílias, porém de extrema importância para as empresas: o Consumo. Vamos analisar esse comportamento das famílias frente à negociação. Primeiramente, o ato de consumo está relacionado a uma perspectiva psicológica dos agentes, principalmente ao grau de satisfação gerado pela aquisição de produtos e serviços Negociação Empresarial20 produzidos pelas empresas. Dito de outra forma, os trabalhadores transformam seus salários em produtos e serviços, e esse movimento é mediado por negociações relacionadas a preço, prazo e disponibilidade financeira. Sabendo-se que as necessidades dos indivíduos e os recursos são escassos, há uma tendência ao endividamento das famílias ao longo do tempo,principalmente pelo desejo de adquirir bens acima do potencial nível de renda. Esse é um problema muito comum em países em desenvolvimento como o Brasil, marcados por valores baseados no consumo de produtos em excesso, sem controle e sem um planejamento financeiro adequado. Desse modo, as negociações das famílias estarão junto aos bancos – para diminuir o ônus da dívida contraída – e junto às empresas, pleiteando por aumentos salariais. Pensando na matriz de dimensões, com bases na Economia Política, as negociações entre famílias, empresas e até governo podem ser exemplificadas de acordo com o seguinte raciocínio: quanto maior for o grau de instrução das famílias, menor será o nível de endividamento – consequência direta de uma organização financeira efetiva. O consumo está atrelado à disponibilidade de dinheiro para a compra, um aspecto econômico. Para complementar, o uso de cartões de crédito e formas de financiamento também são circunstâncias econômicas. O grau de negociação estará em diminuir o impacto desse endividamento ou de gerar uma satisfação que supere as expectativas, com melhorias no bem- -estar das famílias. Um autor de relevância, Schumpeter (1976), comenta o impulso gerado devido às novas tecnologias (celulares, computadores, dentre outros itens) e as consequências para o consumo, com implicações em renda e mudanças nos padrões de comportamento. 1.1.4 Resto do mundo O resto do mundo é composto de muitos países e negociações das mais variadas formas, com diversos tipos e conceitos, graus de abrangência, objetivos, prazos, perdas para alguns e ganhos para outros. Um exemplo são as guerras entre países. Você sabia que as negociações de armas estão relacionadas ao desempenho econômico dos países? Quando determinado país, como os EUA, possui uma indústria de armamentos desenvolvida, há um efeito multiplicador na economia, com a geração de empregos e renda. Snowdon e Vane (2005) abordam os efeitos multiplicadores e mencionam que as decisões governamentais têm um efeito sobre o aumento da renda, principalmente quando ocorrem gastos governamentais. No caso do item Guerras, as negociações são políticas para verificar os possíveis nichos de mercado8 em prol da ampliação da quantidade de armamentos entre os países. A análise das dimensões no caso do resto do mundo é uma tarefa complexa. Vejamos o case a seguir: Produção de armamentos no mundo. 8 O conceito de nicho de mercado refere-se a futuros negócios (VARIAN, 2003), e tem relação direta com oportunidades de ganhos, principalmente em implementação de uma nova estratégia, busca por novos clientes, análises de demanda, distribuição, desenvolvimento de novos produtos, dentre outras ideias. pleiteando: lutando; brigando. Princípios de negociação 21 Um importante estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) sobre o Mapeamento da base industrial de defesa (2016) demonstra quais negociações circundam as políticas de armamento no país. Para complementar, dentro do escopo da Economia Política, podemos pensar da seguinte forma sobre as negociações no segmento de armamentos: • Qual é o reflexo de um aumento dos investimentos nesse setor? • A indústria de armamentos solucionaria a violência? • Há impacto tecnológico e científico em outras áreas de conhecimento, como a medicina? • Qual é o relacionamento político com outros países? Seria amistoso produzir armas em larga escala? Como pudemos perceber, as consequências de uma política de armamentos no país têm ligação direta com um ambiente político favorável para essa iniciativa e terá, sem dúvidas, consequências, para a sociedade como um todo. Resta saber se os efeitos compensarão os danos sociais advindos da produção de armamentos. Desse modo, tudo deve ser analisado dentro da perspectiva das negociações, priorizando-se equilíbrio entre os diversos atores envolvidos ou ocasionando uma desordem total, o que somente o futuro poderá esclarecer. Diante disso, pudemos compreender que o conceito de negociação abrange mais de uma dimensão, ou seja, não é algo estático no tempo, e que as dimensões dialogam entre si, sendo que uma única negociação pode ocasionar resultados em mais de uma dimensão. Os exemplos ilustraram como aplicar essa metodologia pertencente ao escopo da Economia Política, principalmente por abordar o grau de abrangência dos conceitos da negociação, expressos pelas dimensões econômica, política e social. O entendimento do fluxo de renda e dos atores envolvidos colabora para a compreensão das infinitas possibilidades de negociação existentes na sociedade capitalista na qual vivemos. Na sequência, serão abordados aspectos relacionados a um fenômeno discutido mundialmente: a crise econômica. Seria possível negociar em momentos de crise? É possível auferir retornos? Como isso ocorre? O fluxo de renda é alterado em momentos de crise? O comportamento humano assume novas formas diante de uma crise? 1.2 A negociação em um cenário de crise A crise econômica é um fenômeno complexo, com diversas considerações que devem ser analisadas com cuidado e atenção. O entendimento da crise para os indivíduos, as empresas e para a sociedade, consiste na verificação de um fenômeno que interfere em nossas vidas, principalmente com relação a ganho de dinheiro, bem-estar e novas oportunidades. No item anterior, estudamos que o fluxo circular de renda é bastante útil para verificarmos várias negociações e percebemos que os conceitos a elas relacionados são muito amplos e precisam ser delineados caso a caso. auferir: obter; ter como resultado. Negociação Empresarial22 Os exemplos apresentados no item 1.1 elucidaram esse contexto e serviram de base efetiva para a compreensão das dimensões presentes em uma negociação executada pelos diversos atores que fazem parte do fluxo circular de renda. No entanto, nem sempre o dinheiro se movimenta com facilidade em uma economia, levando a rupturas e bloqueios produtivos, desencadeando-se, assim, em uma crise sem precedentes. As rupturas em uma economia de mercado estão relacionadas aos ciclos que o movimento capitalista de produção desenvolve ao longo do tempo. A compreensão desses ciclos colabora para visualizar que em determinados momentos há um volume de negociações maior do que as expectativas e, em outros, há uma escassez de recursos financeiros para novos projetos, tendo uma crise econômica como reflexo direto. Schumpeter (1976) afirma que nas economias há ciclos de expansão e de declínio, tendo como consequência um maior volume de negociações auferidas e decisões concretizadas. Desse modo, em uma situação de expansão, o lucro será ampliado; por outro lado, em um cenário de crise, as estratégias de negociação estarão relacionadas à sobrevivência das famílias e empresas. Diante disso, precisamos entender como funciona a geração de lucro em uma sociedade de mercado, que é o objetivo fundamental de qualquer tipo de negociação empresarial. Qualquer empreendimento necessita de um capital inicial para ser operacionalizado, definido com a variável C (capital). Esse volume de recurso financeiro é utilizado na produção com a compra de insumos (matérias-primas) e a utilização de máquinas e pessoas para a concretização de um produto9. Após a utilização desse capital – elaboração de uma mercadoria (M) –, podendo ser um produto ou serviço, o capitalista vende para o mercado a um preço superior ao de todo o custo de produção, realizando o lucro na operação. Todas as negociações que estudamos no item 1.1 obedecem a essa lógica de operacionalidade. No entanto, em momentos de crise, esse fluxo de dinheiro ocorre com menor vigor e não há geração de lucro e renda. Qual seria o motivo dessa paralisação financeira? Para entender esse processo, vamos analisar o exemplo da crise do subprime em 200810, um momento na história com um número expressivo de pessoas com dívidas e com alto risco para a captação de crédito. Nesse contexto, a valorização dos imóveis nos EUA, duranteos anos que antecederam a crise, superaram qualquer expectativa humana de compreensão e seus valores aumentavam de modo geométrico, com a propagação do otimismo em toda a economia norte-americana. Assim, quando uma família adquiria um bem imóvel, consequentemente uma hipoteca era emitida no mercado de ações, com aumentos no seu valor, bem como na valorização do bem adquirido pelos familiares, nesse caso, a moradia. Havia uma dívida bancária como lastro e as famílias adquiriram uma dívida de longo prazo para a aquisição de bens. 9 Marx (1980) desenvolve um raciocínio bastante interessante a respeito dessa lógica, por meio do qual podemos entender que a produção pode ser relacionada a um produto ou à oferta de um serviço específico. 10 Saiba mais em: https://web.bndes.gov.br/bib/jspui/bitstream/1408/8344/1/RB%2030%20Analisando%20a%20 Crise%20do%20Subprime_P_BD.pdf. Princípios de negociação 23 Devido ao espírito de maiores ganhos a todo custo, e com a elevada valorização dos imóveis e das hipotecas comercializadas no mercado acionário, os indivíduos compravam outros imóveis, com dívidas, sendo um movimento avassalador de ganhos futuros. Tudo valorizava. Por outro lado, o custo real da produção de um apartamento ou de uma casa era bem inferior ao valor transacionado no mercado e as negociações ocorriam em um movimento sem precedentes. Perceba que os ganhos eram abusivos e as dívidas sobre os bens eram muito superiores ao valor real dos imóveis. Consequentemente, especuladores nesse ambiente de negociação perceberam essa diferença entre o custo real e o valor negociado. Essa informação foi dissipada e as famílias, bem como os acionistas, pararam de pagar os financiamentos e os dividendos das hipotecas, ocorrendo um fenômeno denominado manada no mercado financeiro, o que desencadeou a crise do subprime – alto risco e elevada desvalorização. Assim, as ações representativas das empresas iniciaram um movimento de queda e milhares de investidores iniciaram a venda dos seus papéis. Consequentemente, as grandes companhias de capital aberto perderam sua capacidade de captar dinheiro no mercado e diminuíram sua ampliação nos investimentos na economia, desencadeando-se a crise. Perceba que a causa fundamental da crise foi a especulação excessiva pelos agentes, com negociações sem ética, sem dimensionamento e com consequências drásticas para toda a sociedade. Harvey (2010) colabora para o entendimento da crise, com considerações a respeito do distanciamento da realidade produtiva e do mundo das ações comercializadas no mercado acionário. Mesmo diante desses ciclos, com ou sem crise, é possível realizar negociações com efetividade em um fluxo circular de renda em qualquer momento? Em expansão ou recessão? Como podemos entender esse distanciamento do mundo real e o mundo das grandes corporações? É possível continuar a negociar? 1.3 A negociação e os retornos financeiros: as empresas e os acionistas No atual contexto do capitalismo, marcado por um conjunto de empresas que controlam a produção mundial de bens e serviços, é muito importante compreender como dinamizar uma negociação. Quando nos deparamos com os diversos tipos de mercado, verificamos que há sempre um conjunto minoritário de empresas que dominam a oferta de produtos e serviços nas economias no mundo. Essas companhias que se organizam em um formato de oligopólio11 têm o total controle da produção e estipulam os preços mais favoráveis para as suas negociações. Chesnais (1996) comenta a respeito da mundialização do capital no mundo e descreve como as empresas realizam suas operações, produtivas ou especulativas. 11 O oligopólio corresponde a uma organização de mercado com presença de poucas empresas oferecendo o mesmo produto, com pouca diferenciação (PINDYCK; RUBINFELD, 2010). Negociação Empresarial24 Nesse contexto, verificamos uma nova particularidade na circulação das mercadorias, dos bens e dos serviços na economia, com consequências para todos os tipos de negociação presentes no fluxo circular de renda que aprendemos no item 1.1 deste capítulo. De uma forma bastante ampla, as transações comerciais estão marcadas por um processo denominado financeirização e todas as negociações estão relacionadas ao quantum financeiro que circula nas contas bancárias, nos fluxos financeiros entre os bancos, nos empréstimos, financiamentos, além de outras formas de transação. O papel-moeda perde seu valor e o uso de cartões de débito e crédito assume uma forma preponderante em todos os tipos de negociação. Inclusive a necessidade de notas de dinheiro diminuiu, pois os agentes preferem transacionar suas negociações a partir de instrumentos monetários ou virtuais. Paulani (2009) descreve o crescimento dos ativos financeiros no mundo e a diminuição dos ativos reais. Essa constatação desencadeia um volume de negociações superiores no mercado acionário e um desestímulo para as atividades na realidade, sendo uma condição fundamental para o aumento do desemprego e a diminuição na quantidade de indústrias12. Pochmann (2001) comenta que, para o capital, expresso por uma quantidade elevada de recursos financeiros, é mais atrativo investir no mercado especulativo com diferentes alternativas e possibilidades. No entanto, o crescimento da renda e do emprego é afetado com o desencadeamento de crises. Acerca desse cenário, como seria possível negociar? Vejamos alguns itens para reflexão: • No mundo contemporâneo, marcado por grandes empresas e acionistas, há oportunidade para pequenos investidores operarem no mercado de ações ou de capitais? • Apesar da financeirização, há o desenvolvimento de novos projetos e novas ideias no mundo real, com possibilidades de crescimento? • Como otimizar as escolhas? Como negociar nesse contexto? • Devemos seguir, de modo categórico, o fluxo circular de renda? É fato constatado que o número de opções no mercado para investimentos, previdência e compra de ações aumentou no decorrer dos anos, principalmente a partir da abertura das fronteiras geográficas, fenômeno denominado globalização. A velocidade das informações financeiras e o fluxo de dinheiro no mundo assumem uma nova perspectiva. Nesse cenário, a negociação envolve o conhecimento das informações das empresas, transparência nos dados, ética, coerência nas políticas de investimento, dentre outras variáveis. Esse comportamento nas grandes companhias é denominado Governança Corporativa. A Governança Corporativa pode ser entendida como um processo no qual os empreendimentos e os negócios podem ser avaliados com estratégias que possam melhorar o relacionamento entre os investidores, a direção da companhia, o conselho da administração, as 12 Para saber mais a respeito da financeirização e a relação do mundo real com o financeiro, marcado pelo uso de cartões, dentre outras formas de negociação virtuais, acesse: https://exame.abril.com.br/blog/voce-e-o-dinheiro/ entendendo-a-financeirizacao. Princípios de negociação 25 entidades que regulam e verificam se a empresa atua de acordo com as normas e, além disso, outras instituições envolvidas (ANDRADE; ROSSETTI, 2009). Portanto, há uma nova forma de negociar, expressa pela utilização de plataformas virtuais para investimentos, tanto para pequenos investidores quanto para aqueles mais representativos. Hoje em dia, qualquer pessoa, não somente uma grande organização, pode operar no mercado financeiro e aplicar uma quantidade de dinheiro em algum “papel” ou ação representativa de uma empresa de capital aberto. No entanto, é necessário ter cuidado com essas plataformas disponíveis para negociação, pois são operações de risco. Uma observação importante com relação a essas plataformas é que não há uma “fórmula mágica” para ganhar dinheiro. Assim, todas as operações nesse mercado estão indexadas a alguma taxa de administração e as ações assumem diferentes valores, sendo um ambiente de extrema volatilidade. A volatilidade expressa um movimento agressivo de mudançasnos preços do papéis negociados, com grandes possibilidades de perdas. Lima (2015) comenta o risco e a possibilidade de perdas ou ganhos nas operações, principalmente entre a relação do grau de conhecimento dos investidores e os critérios de decisão. Inclusive, no mundo corporativo, marcado pela presença de empresas de capital aberto, em bolsa, a publicação de relatórios anuais é frequente, sendo um requisito obrigatório a essas companhias para oferecerem um grau de transparência em suas operações financeiras e produtivas. Esses dados, contendo indicadores, projeções futuras, índices de liquidez, dentre outros, servem para o “mapeamento” da situação da companhia para os investidores, com o objetivo potencial de captação de recursos financeiros. Ao realizar negociações nesse mercado é fundamental utilizar técnicas13 para apurar a projeção do retorno esperado por um investimento no mercado de ações. O retorno esperado é o quanto se deseja ganhar, mediante as incertezas na operação. Apesar das possibilidades de ganhos no mercado financeiro, há alternativas para negociação no mercado real, presente no fluxo circular de renda estudado neste capítulo, relacionadas a ideias inéditas e bem planejadas. Esse movimento de desenvolvimento de novas ideias é denominado empreendedorismo e envolve um conjunto de ideias ou uma única estratégia para a implementação de um novo negócio no mercado. Assim como no mercado de ações, é muito importante o conhecimento para iniciar o número de negociações necessárias ao projeto que o empreendedor tem em mente. Para a realização de um projeto, é fundamental o conceito de viabilidade econômica de um negócio, com a descrição de todos os custos associados, receitas futuras, estudo de mercado, alternativas para escoar a produção, público-alvo, dentre outros itens de importância. Devemos perceber que em ambos os casos, tanto o virtual (mercado de ações) quanto o real (projetos), é fundamental que o investidor, para negociar, tenha um conjunto de ferramentas e conhecimentos para analisar se a opção desejada, ou escolha, é adequada ao cenário econômico daquele período. 13 A análise fundamentalista e a análise gráfica são técnicas distintas muito utilizadas pelos investidores. Para saber mais, acesse o material publicado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM): https://www.investidor.gov.br/ portaldoinvestidor/export/sites/portaldoinvestidor/publicacao/Livro/livro_TOP_analise_investimentos.pdf. Negociação Empresarial26 Um projeto econômico deve, a princípio, averiguar uma relação entre o quanto se pretende investir e o custo de oportunidade associado àquela escolha. A definição de custo de oportunidade em uma negociação está associada a quanto se deixa de ganhar com a decisão de determinado tipo de investimento ou dispêndio de dinheiro, seja ele produtivo ou especulativo. Um exemplo interessante consiste na decisão de negociar a compra de um carro zero km. Quando determinada pessoa tem uma quantia em dinheiro para a compra de um carro, ela deve pensar nos seguintes itens: • Qual seria a perda monetária caso aplicasse o dinheiro no banco? • Qual será o custo médio de multas ao longo do uso do veículo? • Qual será o custo de pagamento de impostos (IPVA) e seguros? • Qual será o custo da depreciação (manutenção) do veículo, incluindo reposição de peças, pneus, óleo etc.? • Qual será a desvalorização monetária do veículo ao longo do tempo? • Qual será o risco de assaltos? • Qual será o gasto com garagem ou estacionamento? • Quais serão os riscos de batidas ou perda total (sinistro)? Diante de tais itens, qual seria sua conclusão? É viável economicamente ter um carro? A decisão de comprar um carro zero km está associada a uma quantidade razoável de perdas, portanto o custo de oportunidade é elevado na aquisição de um veículo, ou seja, não vale a pena economicamente. É claro que devemos levar em consideração alguns aspectos: o gosto pessoal pelo carro, ter crianças pequenas, depender do veículo para o trabalho, ter idosos na família, utilização por uma empresa ou para ferramenta de trabalho, dentre outros aspectos. Dessa forma, é importante perceber que uma negociação envolve várias circunstâncias dependendo dos interesses em jogo, das perspectivas, dos riscos atrelados, do retorno auferido, da possibilidade de novos negócios, da criação de sinergias positivas na empresa, no relacionamento com investidores, além de outras considerações. Esse, portanto, é um assunto amplo e de extrema importância prática. Sendo assim, no próximo capítulo iremos estudar As técnicas de negociação, com análises a respeito de qual é a melhor alternativa para dar continuidade a uma atitude perante o ato de negociar. Considerações finais A negociação é um fenômeno que apresenta várias interpretações. Neste capítulo, aprendemos que negociar não é um movimento linear, que obedece a uma única lógica ou a um único objetivo. Entendemos que a negociação está imersa em um fluxo circular de renda, com várias formas de fazê-la, objetivos e características peculiares. A compreensão das dimensões ajudou bastante na visualização dos resultados a partir de uma negociação em particular. Vários cases e exemplos foram utilizados para ilustrar a aplicabilidade das dimensões no estudo da negociação empresarial, tendo como base os fundamentos da Economia Política. dispêndio: gasto excessivo. Princípios de negociação 27 Para complementar, o estudo da crise, de sua forma e de suas consequências, colaborou para a verificação de que o ato de negociar não está relacionado, necessariamente, ao elevado volume de negócios em determinado período. As negociações ocorrem nas crises, principalmente devido à escassez de recursos financeiros. Para a negociação, o mais importante é verificar os nichos de mercado e aprofundar, com conhecimento, estratégias que possam permitir os ganhos futuros, tanto individualmente quanto para uma empresa ou grande corporação. Por fim, este capítulo possibilitou entender que a negociação está presente em dois ambientes: o produtivo e o especulativo. O produtivo está relacionado a atividades que envolvem a produção, comercialização e distribuição de produtos e serviços. Já o especulativo está relacionado a um conjunto de ações ou papéis de empresas, corporações, comercializados no mercado acionário. Para finalizar, tanto no ambiente produtivo quanto no especulativo, é possível negociar e angariar retornos financeiros, sendo que os requisitos fundamentais são calma, conhecimento, estratégia e respeito aos prazos. Dessa forma, a negociação proporcionará expectativas de crescimento aos agentes envolvidos. Ampliando seus conhecimentos • PINHEIRO, J. L. Mercado de capitais. São Paulo: Atlas, 2018. Esse livro aborda detalhadamente alguns conceitos estudados neste capítulo, como o mercado de capitais e as considerações a respeito do ambiente financeiro, o mercado de ações, a relação com as empresas, a análise de produtos e os principais indicadores. • GOMES, J. M. Elaboração e análise de viabilidade econômica de projetos: tópicos práticos de finanças para gestores não financeiros. São Paulo: Atlas, 2013. Esse livro trata de um roteiro para elaboração de um projeto de viabilidade. Conforme destacado neste capítulo, para tornar um empreendimento viável, é fundamental ter conhecimento sobre sua estrutura, com a descrição dos custos envolvidos, receitas e perspectivas para o mercado. Atividades 1. Após o estudo deste capítulo, escreva qual é o seu entendimento sobre negociação. 2. Disserte sobre quais seriam os principais pontos a serem analisados antes de negociar. 3. Quais são os dois ambientes em que a negociação está inserida? Negociação Empresarial28 Referências ANDRADE, A.; ROSSETTI, J. P. Governança corporativa: fundamentos, desenvolvimento e tendências. São Paulo: Atlas, 2009. CARNEIRO, R.; BALTAR, P.; SARTI, F. (org.). Para além da Política Econômica. Instituto de Economia. Unicamp. São Paulo: EditoraUnesp, 2018. CHESNAIS, F. A mundialização do capital. São Paulo: Xamã, 1996. CHICK, V. Macroeconomics after Keynes. Oxford: Philip Allan, 1983. FREEMAN, R.; MORAN, M. A saúde na Europa. In: NEGRI, B.; VIANA, A. L. (ed.). O Sistema Único de Saúde em dez anos de desafio. São Paulo: Sobravime/Cealag, 2002. HARVEY, D. O enigma do capital e as crises do capitalismo. São Paulo: Boitempo Editorial, 2010. HUNT, E. K. História do pensamento econômico. Petrópolis: Editora Vozes, 2013. KATZ, R. L. Skills of an effective administrator. Harvard Business Review, p. 3-42, jan./fev. 1955. KEYNES, M. K. A teoria geral do emprego, do juro e da moeda. São Paulo: Editora Nova Cultural, 1996. (Coleção Os Economistas). LIMA, F. G. Análises de riscos. São Paulo: Atlas, 2015. MARX, K. O capital: crítica da economia política. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1980. Livros I, II e III. PAULANI, L. M. A crise do regime de acumulação com dominância da valorização financeira e a situação do Brasil. Estudos Avançados, v. 23, n. 66, 2009. PINDYCK, R. S.; RUBINFELD, D. L. Microeconomia. 7. ed. São Paulo: Pearson, 2010. POCHMANN, M. Globalização e emprego. In: ARBIX, G.; ZILBOVICIUS, M., ABRAMOVAY, R. (org.). Razões e ficções do desenvolvimento. São Paulo: Unesp, 2001. SALVADOR, E. Fundo público e seguridade social no Brasil. São Paulo: Cortez Editora, 2010. SCHUMPETER, J. A. Capitalism, socialism and democracy. 3. ed. New York: Harper & Row Publishers, 1976. SNOWDON, B.; VANE, H. R. Modern macroeconomics. Massachusetts: Edward Elgar Publishing, 2005. VARIAN, H. R. Microeconomia: princípios básicos. São Paulo: Elsevier Editora, 2003. WHEELER, M. The art of negotiation: how to improve agreement in a chaotic world. Nova York: Simon & Schuster, 2013. 2 Técnicas de negociação Neste capítulo, abordaremos as técnicas de negociação – tema de muito interesse para o campo das negociações empresariais. De modo preliminar, quando uma negociação é colocada em prática, é fundamental a utilização de ferramentas ou técnicas para otimizar os ganhos entre as partes envolvidas. Em outras palavras, sem um devido planejamento da estratégia que será adotada, é muito difícil ter um processo que possibilite a geração de valor para os participantes de uma relação de negociação. Dessa forma, estudaremos, no item 2.1 deste capítulo, as habilidades básicas das equipes de negociação com o entendimento de diferentes cenários e estratégias que podem ser delineados a partir de uma atividade conjunta em uma negociação. No item 2.2, abordaremos, por meio da descrição dos tipos de negociação, as formas de negociar. Posteriormente, no item 2.3, trataremos detalhadamente das negociações complexas, tendo como principal objetivo compreender a matriz de negociação e sua complexidade. Por fim, no item 2.4, para complementar nossos estudos, discutiremos a teoria dos jogos e sua aplicabilidade nas negociações. 2.1 Habilidades básicas das equipes de negociação Em uma negociação, é muito importante o desenvolvimento de habilidades que correspondam aos diversos contextos de uma relação comercial, com prazos específicos, objetivos, retornos e expectativas. Essas habilidades estão relacionadas ao aprendizado, tanto individual quanto coletivo, como característica marcante para a geração de valor entre as partes envolvidas e para o desenvolvimento de estratégias vinculadas às negociações. As habilidades adquiridas por um indivíduo (ou uma equipe) têm relação direta com as experiências vividas ao longo de suas trajetórias profissional e pessoal – aspecto bastante importante para a análise das potencialidades que podem ser desenvolvidas durante um processo de negociação. Portanto, para compreendermos as habilidades em um contexto de mercado, do qual a negociação faz parte, é necessário entendermos como um indivíduo as desenvolve ao longo do tempo. Considerando-se os diferentes cenários e conjunturas no mercado, o entendimento das capacidades individuais é uma condição necessária para a descrição das equipes e para as estratégias associadas. Um indivíduo desenvolve habilidades em diversos contextos – familiar, educacional, por meio de situações do dia a dia e, sobretudo, de desafios decorrentes da sua carreira profissional. A curva de aprendizado é um instrumento importante para o esclarecimento das habilidades e sua aplicabilidade em um contexto de negociação. Desse modo, o tripé conhecimento, habilidade (saber fazer) e atitude (saber agir e comportamento) permeia o objetivo final de um indivíduo para que ele realize uma negociação (ABBAD; BORGES-ANDRADE, 2014). Negociação Empresarial30 O conhecimento tem inteira relação com o ambiente e com as etapas de aprendizado do indivíduo ao longo da vida. Ser capaz de interagir com as pessoas, buscar novas experiências, saber ouvir o outro e compreender a realidade na qual está inserido são condicionantes que facilitam a aquisição do conhecimento. Por outro lado, caso o ambiente não esteja bem delineado para esse objetivo, o conhecimento se torna insuficiente e o indivíduo não consegue aproveitar as oportunidades para aprimorar seu grau de aprendizado (COLENCI JR; GUERRINI, 2001). Um dos elementos fundamentais para se obter conhecimento e que permeia todas as sociedades é a renda. Se um indivíduo possui poder aquisitivo, pode usufruir de uma maior quantidade de sabedoria para o desenvolvimento de suas habilidades futuras. O acesso ao conhecimento está atrelado à quantidade de dinheiro disponível para ir a uma escola, frequentar uma universidade de qualidade e realizar cursos durante a trajetória individual para um futuro profissional. Assim, podemos dizer que o conhecimento é diretamente proporcional à renda disponível para um agente na economia, ou seja, quanto mais dinheiro disponível, mais conhecimento adquirido. Uma pessoa em situação de pobreza dificilmente terá acesso à educação para realizar cursos, e, consequentemente, ter uma condição de vida que proporcione ganhar dinheiro e manter uma vida produtiva. Nessa realidade, a circunstância social tem considerável impacto para a geração de conhecimento em uma sociedade e, por consequência, para um indivíduo. Atualmente, devido aos problemas econômicos que os países e as regiões apresentam, o conhecimento se tornou algo para poucos, o que resulta em perda de qualidade e efetividade no aprendizado (BARBOSA; MOURA, 2013). Apesar de hoje termos mais acesso ao conhecimento por meio de plataformas digitais, a velocidade com que as informações são transmitidas dificulta a assimilação por parte das pessoas. Temos muito e, ao mesmo tempo, pouco. Por isso é fundamental um maior grau de desenvolvimento econômico e social, para garantir aos indivíduos uma maior conscientização e assimilação em relação às informações divulgadas nos meios eletrônico e digital. A maioria dos indivíduos acredita que o conhecimento está relacionado apenas à obtenção de certificados e títulos durante a carreira e esquece que, além disso, o aprendizado é consolidado a partir de um movimento interior, por meio das próprias experiências práticas e teóricas. Tendo isso em consideração, não basta somente frequentar uma universidade; o indivíduo precisa ler, pesquisar, ter motivação e, especialmente, interagir com os outros no mundo real e virtual, adquirindo conhecimento e desenvolvendo suas habilidades. Para ter conhecimento, é preciso entender e aplicar as informações adquiridas, assim como desenvolver a habilidade crítica diante das diversas circunstâncias futuras, principalmente no mercado de trabalho e para aqueles que desempenham atividades de direção e liderança. Portanto, é por meio do conhecimento que as habilidades são desenvolvidas e aplicadas em qualquer circunstância, seja no mercado ou na vida pessoal e familiar de um indivíduo em sociedade. Dessa forma, pensando no tripé conhecimento, habilidade e atitude, a habilidade tem mais valor a partir do maior grau de conhecimento adquirido. As habilidades relacionadasao saber fazer estão imersas em atividades de cunho operacional ou desempenhadas por aqueles que argumentam para solucionar problemas e conquistar novas Técnicas de negociação 31 oportunidades. Além disso, saber argumentar é essencial para realizar negociações e aproveitar as habilidades adquiridas ao longo das experiências de um indivíduo, indicando os pontos de maior importância, com o pleno desenvolvimento da capacidade de refutar baseada no aprimoramento do raciocínio lógico. Segundo Oliveira (2014, p. 456), o “recurso à argumentação se torna necessário quando os interlocutores não chegam imediatamente ao consenso”. Dittrich (2008, p. 26) comenta a composição dos argumentos na sua estrutura e lógica: Assim, o valor da argumentação no seu componente técnico reside na lógica em que os argumentos se estruturam, no conhecimento em que se apoiam, na autoridade a que recorrem, e, mesmo, nas evidências utilizadas como justificativa. Nesse componente, é fundamental que o auditório seja capaz de acompanhar a linha de raciocínio em desenvolvimento, qual seu ponto de partida, em quais crenças e valores se apoia e para que opinião está buscando adesão. É importante perceber que a argumentação tem estreita ligação com as habilidades que não estão relacionadas ao ambiente operacional, ou seja, não tem conexão com atividades que envolvem rotina, repetição e baixo nível de conhecimento adquirido. Quanto maior for o poder argumentativo, menor será a probabilidade de um indivíduo atuar em ambientes produtivos que sejam relacionados somente a cotidianos pouco flexíveis. Portanto, para saber negociar dentro do escopo da direção, é fundamental ampliar a capacidade de criticar, propor alternativas e desenvolver perspectivas que proporcionem valor para todos os envolvidos. É relevante observar, também, que as tecnologias utilizadas pelos indivíduos e sua habilidade para a concretização de acordos e negociações têm estreita relação com a capacidade de argumentar e desenvolver novas estratégias para as negociações. Algumas empresas são mais fortes em capital humano, enquanto outras têm maior quantidade de tecnologias associadas. Alternativas à composição dessa configuração alteram a absorção do conhecimento, com repercussões nas habilidades e nas atitudes referentes ao meio produtivo real, no relacionamento entre as pessoas, mesmo virtualmente, com as ações interligadas em rede. O perfil de um profissional e a sua interatividade para criar um ambiente com equipes de negociação são alterados de acordo com a utilização de mais ou menos tecnologia, tanto no que diz repeito ao poder de barganha – para conseguir os resultados almejados – quanto à geração de valor entre as partes envolvidas. A tecnologia utilizada pelos colaboradores facilita a comunicação e otimiza processos. No entanto, no segmento da negociação, o fator humano apresenta maior relevância, pois tem um papel de maior impacto. Podemos pensar que a tecnologia representa, no novo cenário do capitalismo, marcado por plataformas digitais e trabalhos em rede, uma “Quarta Revolução Industrial”, com um novo formato nas relações de trabalho, nas negociações e no contexto produtivo, delineando-se, assim, uma negociação baseada em valores reais (contexto empresarial) e virtuais (SCHWAB, 2016). Entende-se que as negociações apresentam graus de abrangência que se diferem entre si, principalmente devido à presença de relações comerciais na internet, com diversos segmentos Negociação Empresarial32 e objetivos, nas quais as negociações basicamente podem ser realizadas totalmente on-line, sem a presença física dos integrantes, havendo a delimitação de prazos associados, preços, tipos de produto, dentre outros aspectos. Por outro lado, quando o dimensionamento da negociação envolve o planejamento de determinada empresa ou segmento, é necessário que os dados produzidos pela companhia sejam analisados pelos gestores, de acordo com políticas de transparência e por meio de reuniões presenciais periódicas, visando ao alinhamento de critérios que deverão ser implementados pela empresa para resultados específicos, como os descritos a seguir: • obtenção de lucros para os gestores e acionistas; • otimização dos recursos disponíveis em todas as escalas de produção; • verificação das tecnologias utilizadas por processo produtivo ou para a prestação de serviços; • logística, que inclui delineamento de processos, etapas produtivas e distribuição de bens e serviços ao mercado; • ética, ou seja, questões relacionadas à honestidade, justiça e moral nas negociações; • marketing, com o dimensionamento de estratégias para captação de clientes junto ao mercado consumidor. Desse modo, a presença das equipes na negociação é fundamental, pois, embora importantes, os recursos virtuais não são suficientes para o delineamento de um processo de negociação no âmbito do planejamento de uma organização. Perceba que, devido aos diferentes setores presentes no mercado, aos diversos profissionais envolvidos e, sobretudo, ao uso de tecnologias associadas, a quantidade de resultados almejados em uma negociação baseada em um planejamento empresarial tem grau de complexidade e diversidade que apresenta diversas configurações. Portanto, para concretizar os objetivos relacionados ao planejamento de uma empresa, é fundamental o trabalho em equipe, com interações particulares e considerando o tipo de resultado almejado. Para realizar uma negociação fora do âmbito operacional, é muito importante ter a visualização de cenários associados. Uma equipe alinhada, com foco na obtenção dos resultados em um planejamento empresarial, precisa projetar as perspectivas em relação ao futuro. Os cenários serão concretizados apenas se houver o estabelecimento de estratégias associadas para cada desfecho (resultado), que deverá ser obtido a partir de um processo de negociação. Com a identificação das potencialidades e dos recursos disponíveis, do estabelecimento de prazos, das estratégias associadas e dos desfechos, é possível delinear a probabilidade de ocorrência de cenários no futuro (GHEMAWAT, 2007). Para complementar esse raciocínio, Castro e Souza apontam aspectos de relevância para a configuração de cenários e estratégias associadas: o objetivo desse exercício, reconhecidamente, não está em predizer o futuro. A validade da extrapolação consiste em visualizar quadros-limite, entre os quais a realidade, possivelmente, se enquadrará. Um segundo objetivo consiste em, com base na agregação de temas e tendências em debate, verificar a consistência das propostas. Pretende-se, ainda, abrir uma reflexão sobre situações plausíveis Técnicas de negociação 33 que, por representarem descontinuidades em relação ao status quo, são, em geral, consideradas como improváveis pelos gestores. Interessam, sobretudo, incertezas que têm grande potencial de alterar o contexto em que a firma atua e que, por isso, requerem uma reflexão estratégica. (CASTRO; SOUZA, 2015, p. 402) A construção de cenários executada por equipes bem-estruturadas, com escopo estratégico definido, é uma condição necessária para atingir resultados concebidos em um processo de negociação. Portanto, é muito importante conhecer as estratégias de negociação e sua aplicabilidade em diversas situações. Cada empresa elabora estratégias associadas aos objetivos e resultados almejados. Vamos entender como esse processo funciona pensando no fluxo circular de renda exemplificado no Capítulo 1, com todas as empresas no seu movimento financeiro, tanto no aparato produtivo quanto especulativo. Para que uma equipe de negociação formada de vários indivíduos, que apresentam diversos graus de conhecimento, habilidades e atitudes peculiares, possa desenvolver estratégias, é preciso, a princípio, verificar o próprio perfil e o grau de risco associado. Sendo assim, vamos classificar três tipos de equipe: A (conservadora), com maior aversão ao risco; B (moderada), com posicionamento moderado;
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