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ASSISTÊNCIA AO TRABALHO DE PARTO A palavra obstetrícia, deriva do verbo latino obstare cujo significado é “ficar ao lado”, ou “em face de”. Estar ao lado de uma mulher durante o trabalho de parto, significa assistir ao parto. Esse deve ser realizado pela própria parturiente, sob a orientação do obstetra. Qualquer desvio desta normalidade, deve ser prontamente diagnosticado e tratado pelo profissional assistente. ASSISTÊNCIA HUMANIZADA Foi fundamentada por órgãos nacionais e internacionais – FEBRASGO, UNICEF, OPAS e Ministério da saúde. A atitude desses órgãos, visa melhorar a assistência ao parto de modo a diminuir a morbimortalidade materna e neonatal. - Capacitação e reciclagem constante dos profissionais. - Hospitais preparados para receber a gestante e seus familiares. - Empatia médico-paciente. - Estabelecer uma relação de confiança com a gestante. - Tomar condutas quando identificado alguma anormalidade. Ministério da Saúde publica pela primeira vez diretrizes para o parto normal. DIRETRIZES DO PARTO HUMANIZADO - Valorizar o protagonismo da mulher. – Reduzir as altas taxas de intervenções desnecessárias no parto. – Orientações a profissionais de saúde e mais informações às gestantes. – Padronizar as práticas mais utilizadas. – Compreender o parto não só como um conjunto de técnicas, mas como um momento fundamental entre mãe e filho. DEFINIÇÃO DE BOAS PRÁTICAS DESDE O ACOLHIMENTO DA GESTANTE ATÉ O PÓS-PARTO Mais de 200 recomendações com base em evidências científicas. 396 contribuições na consulta pública – 84% feitas por mulheres. Referência da Inglaterra, Bélgica, País Basco e Região Galícia. Entre as instituições participantes estão CFM, Febrasgo, Cofen, ANS, Anvisa, Aben, AMB, CNS, Centro Cochrane do Brasil, Febrasgo, Fenasaúde, Fiocruz, Opas, Reguna, Unimed, SBP, Hospital Albert Einstein, Geap e Abenfo. 1 – Mulheres devem ser informadas sobre os benefícios e riscos dos locais de parto: Maternidade, centro de parto normal e domicílio. Vinculação ao local de parto e visita à maternidade (lei 11.634/2007). Acolhimento e Classificação de Risco em todas as maternidades. 2 – O parto de baixo risco pode ser realizado pelo médico obstetra, enfermeira obstetra e obstetriz A inclusão da enfermeira e obstetriz apresenta vantagens na redução de intervenções e maior satisfação das mulheres. 3 – Mulheres em trabalho de parto devem ser tratadas com respeito, ter acesso às informações e serem incluídas na tomada de decisão Elaboração e discussão do Plano de Parto entre a mulher e a equipe da maternidade/pré-natal. 4 – Todas as gestantes no parto devem ter apoio contínuo e individualizado, incluindo pessoa que não seja membro da maternidade As mulheres devem ter acompanhantes de sua escolha durante o parto (lei 11.108/2005), além da presença de doulas. 5 – Mulheres em trabalho de parto podem ingerir líquidos e dieta leve O jejum não é obrigatório! Restrição de ingesta de líquidos e alimentos durante o TP não garante menor conteúdo estomacal (McKAY & MAHAN, 1988). Risco de aspiração – relacionado ao risco de anestesia geral. – esse risco é mínimo no parto de baixo risco. Efeitos deletérios do jejum para o binômio mãe-feto. 6 – Métodos não farmacológicos de alívio de dor devem ser oferecidos à mulher antes da utilização de métodos farmacológicos Banhos quentes, massagens, técnicas de relaxamento, entre outros. Sempre que necessário, a analgesia deve ser ofertada. 7 – As mulheres devem ser encorajadas a se movimentarem e adotarem posições diferentes da deitada Podem escolher a posição mais confortável: cócoras, quatro apoios, de lado, em pé, ajoelhada, etc. 8 – Garantir o contato pele-a-pele imediato da mãe e do bebê após o nascimento e estímulo à amamentação Reconhecer que é um momento sensível, em que a mulher e seus acompanhantes vão conhecer a criança. Assegurar que a assistência e qualquer intervenção leve em consideração esse momento e, assim, minimizar a separação entre mãe e filho. 9 – Mulheres em trabalho de parto devem ser tratadas com respeito Profissionais devem estabelecer uma relação com a mulher, perguntando sobre seus desejos e expectativas. Devem estar cientes da importância de sua atitude, do tom de voz e das palavras usadas. Ler e discutir com a mulher o plano de parto. 10 – Restrição às intervenções que hoje são rotineiras Episiotomia (corte no períneo). Aceleração do parto. Fórceps: uso de instrumento para retirada do bebê. Enema (lavagem intestinal). Tricotomia pubiana e perineal (raspagem dos pelos). Amniotomia precoce (rompimento da bolsa) nas mulheres que estão progredindo bem. Corte precoce do cordão umbilical – aguardar de 1 a 5min ou até cessar a pulsação. Aspiração de secreções do recém-nascido saudável. PARTO NORMAL É ESSENCIAL PARA A SAÚDE DA MÃE E DO BEBÊ Mais que um processo mecânico, o parto é um fenômeno neuroendócrino. Ativa a imunidade do bebê e fortalece seu organismo. Menor risco de internação em UTI, prematuridade, baixo peso e de desenvolver problemas respiratórios. Hormônios do parto aumentam a confiança da mulher e sensação amorosa. As endorfinas aliviam a dor e a catecolamina têm importância no amadurecimento pulmonar do bebê e na sua transição para a vida extrauterina. Menor risco de infecção, hemorragia e acidentes anestésicos no parto. Recuperação mais rápida, maior facilidade na amamentação e reduz risco em uma futura gestação. TRABALHO DE PARTO Define trabalho de parto, um processo através do qual um útero gravídico, por meio de atividade contrátil, expulsa um feto, com idade gestacional maior ou igual a 20 semanas e/ou peso maior ou igual a 500g e/ou tamanho igual ou maior que 25cm. Pode ser: - Pré termo: 20 a 36semanas. - Termo: 37 a 41 semanas e 6 dias. - Pós termo: 42 semanas. Eventos que antecedem o TP: 1 – Formação da bolsa de água: facilita a força de pressão causada pela contração uterina, distribuindo de maneira uniforme as contrações, sendo o colo dilatada por igual. 2 – Modificações da posição do colo: a ação das contrações uterinas, leva o colo a posição anterior, facilitando o eixo do trajeto a ser percorrido pelo feto. 3 – Tríplice gradiente descendente: origem das contrações uterinas, em um dos cornos uterinos (marca passo), dirige ao corno contralateral posterior e anteriormente, para depois descer até o colo. Desta forma, o TGDP, leva o vetor resultante da contração a ter ação na cérvice uterina. A avaliação do TGDP é a resposta efetiva da contração, causando a modificação, dilatação e esvaecimento do colo. O INÍCIO do trabalho de parto é caracterizado por contrações eficientes que levarão à dilatação e esvaecimento do colo uterino. Podemos avaliar as contrações uterinas através da formula da atividade uterina, medida (AU), que multiplica a intensidade pela frequência, AU = int x freq. Proposta por Caldero-Barça (1950). Considera o início do trabalho de parto, quando a AU é maior do que 60UM, ou seja, duas contrações de 20 a 30s. FASES FUNCIONAIS DE FRIEDMAN: 1 – Fase latente: A – Amadurecimento cervical. B – Contrações de baixa frequência e intensidade. C – Dilatação abaixo de 0,6 a 1,0cm/hr. D – Mínima descida. 2 – Fase ativa: 1 – Dilatação. 2 – Expulsão. 3 – Dequitação. 4 – Observação. FASE LATENTE – Início da dilatação até atingir 6cm. Corresponde a 2/3 do trabalho de parto. Caracterizado por amadurecimento cervical. Contrações de baixa frequência e baixa intensidade. Ritmo de dilatação de 0,6 a 1,0cm/hora. Mínima descida da apresentação fetal. FASE ATIVA – Inicia com aproximadamente 6cm até dilatação completa do colo. Presença de 3 contrações de forte intensidade, com duração de 30 a 90s em 10 min. Intensidade moderada a forte. Termina quando inicia o período expulsivo. Correspondea 1/3 do período de dilatação. Duração de 6 a 12h. Tem duração variável para cada parturiente: nas primíparas a dilatação ocorre aproximadamente 1cm/h, com tempo total em torno de 10 a 12hrs; nas multíparas, a dilatação ocorre na velocidade de 1,5cm/h, com tempo total em torno de 6 a 8hrs. A descida fetal e o esvaecimento do colo também varia de acordo com cada parturiente; nas primíparas, o colo uterino primeiro esvaece completamente, em seguida inicia a dilatação e descida do polo cefálico. Já nas multíparas, o colo uterino dilata e esvaece junto, e a descida do concepto se dá no final da dilatação, quase no período expulsivo. Assistência ao 1º período: Partograma. Monitoramento fetal. PARTOGRAMA Recomendado pela OMS para acompanhamento do trabalho de parto. Construção simples, bastando um papel quadriculado para confecção. As ordenadas correspondem a dilatação e descida. O tempo é representado pela abscissa, com cada quadrado representando uma hora. As linhas de alerta e ação, são construídas a partir de 1h e 4h, respectivamente, a frente do ponto de registro. Estas linhas dividem o partograma em 3 zonas, as quais representa anormalidades na evolução do trabalho de parto. Como utilizar? Realiza exame de toque vaginal a cada 2h, anotando no gráfico. A dilatação é expressa por um triangulo e a descida por um círculo. O trabalho de parto deve evoluir dentro da zona I, sem ultrapassar a linha de alerta. A linha de alerta indica melhor avaliação, e a linha de ação indica intervenção médica. No partograma ainda são registrados: a frequência cardíaca fetal (BCF), padrão da contratilidade, característica da bolsa das águas (íntegra ou rota, bem como a cor), uso de medicamentos e analgesia. MONITORAMENTO FETAL Serve como screening para o diagnóstico de asfixia fetal: 1 – Ausculta fetal intermitente. 2 – Cardiotocografia. AUSCULTA FETAL INTERMITENTE – Realizado com sonar doppler ou pinard. No primeiro período, gestantes baixo risco, faz-se a cada 30min e em gestantes de alto risco a cada 15min. No segundo período a cada 5min independente do risco. CARDIOTOCOGRAFIA – Monitoramento eletrônico da frequência cardíaca fetal. Pode ser realizado por duas técnicas: interna e externa. 1 – Interna: fixa eletrodos no couro cabeludo do feto. Aplicabilidade limitada, pois somente da pra fazer com colo dilatado 3cm, com amniotomia. É contra indicado em pacientes HIV, HepB, e infecção do colo cervico vaginal. Limitada devido alto custo e dificuldade técnica. 2 – Externa: baseia-se na detecção do BCF associado ao monitoramento das contrações uterinas, através de transdutores colocados sobre o abdome materno. Paciente deve estar em posição de semi-fouler (45 grau), ou decúbito lateral esquerdo, para evitar hipotensão supina. CARDIOTOCOGRAFIA – PARÂMETROS A ANALISAR: Linha de base, variabilidade, aceleração transitória e desacelerações. LINHA DE BASE Média aproximada da FCF. Avaliado em segmento de 10min. Normal entre 110 a 160. Taquicardia acima de 160, leve entre 160 a 180, grave acima de 180. Bradicardia abaixo de 110. Leve entre 110 a 100 e grave abaixo de 100. VARIABILIDADE Oscilação da linha de base, visualizando a amplitude. Normal: entre 6 a 25bpm. Ausente: quando amplitude não detectável. Mínima ou comprometida: quando a amplitude está entre indetectável a 5bpm. Padrão sinusoidal. A diminuição ou perda pode ocorrer em: imaturidade do SNC, período de sono fetal, utilização de drogas sedativas a mãe, anestesia geral, hipóxia ou anoxia fetal. Variabilidade ausente Padrão sinusoidal: ondas em forma de sino. Amplitude de 5 a 15bpm. Padrão monótono, ritmo fixo e regular. Frequência a cada 3 a 5 ciclos com duração superior a 20min. Representa hipóxia grave. Elevada taxa de mortalidade perinatal. ACELERAÇÕES Ascenção abrupta, com acme igual ou superior a 15bpm, em relação a linha de base, com duração entre 15seg a 2min. Quando a aceleração é superior a 10min, considera mudança da linha de base. DESACELERAÇÃO Queda rápida da FCF, associadas a contração uterina. Se divide em: - Desaceleração precoce. – Desaceleração tardia. – desaceleração variável. DESACELERAÇÃO PRECOCE – Queda gradual da FCF, com retorno a linha de base, coincidindo com a contração uterina. Nadir da desaceleração coincide com o pico da contração uterina. Considerada fisiológica durante o trabalho de parto, em bolsa rota, oligoamnio. Devido a compressão do polo cefálico. DESACELERAÇÃO TARDIA – Queda gradual da FCF, com retorno lento a linha de base, que inicia após 20seg ou mais do início da contração uterina. O nadir da desaceleração encontra-se após o pico da concentração. Causada por hipóxia fetal, devido a redução do fluxo útero placentário. Sinônimo de sofrimento fetal agudo. DESACELERAÇÃO VARIÁVEL – Queda abrupta da FCF, com início, profundidade e duração variando em contrações sucessivas. Queda igual ou superior a 15bpm, com duração superior ou igual a 15seg e inferior a 2min. Algumas denunciam mal prognóstico, como a morfologia em W. CARDIOTOCOGRAFIA – INTERPRETAÇÃO 1 – PADRÃO NORMAL OU CATEGORIA 1: A – Linha de base: variação entre 10 a 25bpm. B – FCF normal: 120 a 160bpm. C – Ausência de desaceleração. D – Variabilidade: normal 6 a 25bpm. E – Presença de aceleração transitória: acme superior a 15bpm em relação a linha de base, com duração mínima de 15seg e menor que 2min. DESACELERAÇÃO NÃO PERIÓDICA – Aquela que não apresenta relação com as contrações uterinas, classificadas em: DIPs 0: Queda rápida e pouco ampla da FCF, associado aos movimentos fetais. Sem importância clinica. Desaceleração prolongada: Queda rápida e ampla da FCF, amplitude variável, duração de 2 a 10min, com retorno a linha de base. Desaceleração prolongada MONITORAMENTO FETAL Microanálise do sangue fetal – detecta as condições de oxigenação fetal, análise do sangue do couro cabeludo, dilatação de 3cm, amminiotoma, exige técnica e experiência. ASSISTÊNCIA AO SEGUNDO PERÍODO Expulsão – inicia com a dilatação completa, termina com a expulsão do feto, duração variável: 50min para nulíparas, 20min para multíparas. Incentivar os esforços da mãe. Proteção perineal. Episiotomia se necessário. Auxiliar e orientar a deflexão do polo cefálico. Auxiliar na expulsão dos ombros, tracionando levemente para baixo o ombro anterior e depois para cima o posterior, facilitando o desprendimento. Clampeamento do cordão umbilical. Colocar RN sobre o tórax da mãe, incentivando o afeto. Incentivar aleitamento materno. TERCEIRO PERÍODO Dequitação – inicia após a expulsão do concepto. Termina com a expulsão total da placenta. Tempo 15 a 30min. Revisão do canal de parto. Suturas se necessário. 2 tipos: - Baudeloque Schultz. Baudeloque Dunkan. QUARTO PERÍODO Observação / Greenberg – inicia após a dequitação completa da placenta. Termina 1h após. Observação da contratilidade uterina. Formação das pingas de “Pnard”. Observar sangramento volumoso. CONDUTA ATIVA NO TRABALHO DE PARTO 1 – Amminiotomia – reservado apenas para pacientes com evolução anormal do trabalho de parto. Benefícios: redução do tempo do TP. Riscos: amminiorrexe prolongada, prolapso de cordão. Contra indicado: feto alto, HIV, vasa prévia.
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