Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Júlia Maria Vasconcelos – Semiologia II Semiologia do sistema geniturinário A principal função dos rins é manter o volume e a composição química dos líquidos do organismo dentro de limites adequados ao funcionamento das células. Por essa razão, diz-se que a função dos rins é manter a homeostasia, a constância do meio interno. Os rins conseguem manter esse equilíbrio por meio de um eficiente sistema que poupa água e sais minerais nas quantidades adequadas e, ao mesmo tempo, excreta resíduos tóxicos do metabolismo normal, cuja acumulação é prejudicial à célula, tais como ureia, ácido úrico, creatinina, que são excretados com a urina. Atuam no controle da pressão arterial pela produção da renina, que irá induzir a síntese da angiotensina li, um potente agente vasoconstritor e importante estímulo para a secreção de aldosterona e para desencadear o mecanismo da sede. O tecido renal é o principal local para a síntese da eritropoetina, hormônio que regula a produção de hemácias pela medula óssea. A formação da urina tem início no glomérulo, no qual se processa a filtração de aproximadamente 1.200 ml de sangue por minuto. FUNÇÕES DO SISTEMA URINÁRIO: • Filtração das substâncias finais do metabolismo, principalmente as nitrogenadas; • Regulação da PA; • Regulação do volume extracelular (diz exatamente a quantidade de volume celular, por isso a presença de edema como sinal de nefropatias); • Balanço hídrico e eletrolítico; • Equilíbrio ácido básico (Obs: doenças renais podem gerar dispneia originada de uma acidose, cetoacidose diabética); • Produção de hormônios: eritropoietina e vitamina D (calcitriol); • Excreção – de fármacos e compostos. Glomérulo (Cápsula de Bowman) → túbulo contorcido proximal → alça de Henle descendente e ascendente → tubo contorcido distal → ducto coletor. Rim → órgãos duplos, 11 a 13 cm com 5cm de largura, localização continua na musculatura lombar, formado por duas regiões: córtex e medula. Córtex, estão os glomérulos, e medula, onde estão as pirâmides e os túbulos. Os dois rins contêm em torno de 2.400.000 néfrons (corticais e justamedulares). Ureter → 30 a 35 cm de comprimento, 4 a 8 mm de largura, nasce dos pequenos e grandes cálices e junta na pelve renal. Tem 3 pontos de estreitamento: • Junção útero-pélvica: passagem pelo polo inferior do rim, quando a pelve renal vai iniciar no ureter, gera uma dobra. (parte abdominal) • Cruzamento das veias gonodais e cruzamento sobre os vasos ilíacos externos. (parte pélvica) • Passagem através da parede da bexiga urinária: pois entra formando uma válvula. (parte intramural) Bexiga → órgão oco e elástico, músculo detrusor, tem capacidade de até 600 ml, se localiza vazia atrás da sínfise púbica e cheia distende-se acima da sínfise púbica. Uretra → exteriorização da urina pelo meato urinário. Feminina é mais curta 4 a 6,5 cm de comprimento (propensas a mais infecções no trato urinário), masculina mais alongada, 20 cm de comprimento, é passagem para secreções dos órgãos reprodutivos. ANAMNESE • Boa história clínica é a principal chave para o diagnóstico das doenças em geral e também do Sistema Urinário. • Pacientes podem atribuir aos rins sintomas que não decorrem de lesões do sistema urinário. Exemplos: o Dor lombar - osteomuscular o Poliúria - por hiperglicemia o Hematúria - por distúrbio da hemostasia o Disúria - por vaginite • Parte dos pacientes com lesão renal apresentam queixas que não guardam relação direta com os rins ou o trato urinário. Exemplo: astenia, náuseas, vômitos, palidez da anemia e irritabilidade neuromuscular fazem parte da “Síndrome Urêmica” da Insuficiência Renal Avançada. 2 Júlia Maria Vasconcelos – Semiologia II Grupos dos pacientes: A B C Apresentam lesões primárias do sistema urinário. Apresentam manifestações renais decorrentes de doenças sistêmicas. São assintomáticos, porém com achados clínicos ou laboratoriais incidentais. Ex: C → faz uma USG e encontra-se um cisto ou massa renal. SINAIS E SINTOMAS ALTERAÇÕES DA MICÇÃO E DO VOLUME URINÁRIO: Volume normal de diurese → varia entre 800 e 2.500 ml; Capacidade vesical → 350 a 450 ml (tende a esvaziá-la com 200 ml). • Poliúria → voluma urinário superior a 2.500 ml/24h. Existem 2 mecanismos básicos de poliúria: por diurese osmótica, decorrente da excreção de um volume aumentado de solutos, determinando maior excreção de água (p. ex., diabetes melito descompensado), ou por incapacidade de concentração urinária (p. ex., diabetes insípido, hipopotassemia). Causas: ingestão excessiva de liquido, DM descompensado, diabetes insipidus, polidipsia psicogênica, diuréticos. • Oligúria → Excreção de um volume de urina inferior às necessidades de excreção de soluto. Volume urinário inferior a 400ml em 24h. A oligúria costuma decorrer de redução do fluxo sanguíneo renal (desidratação, hemorragia, insuficiência cardíaca) ou por lesões renais (glomerulonefrite aguda, necrose tubular aguda). • Anúria → Volume urinário menor que 100ml em 24h. Geralmente causas obstrutivas. Ocorre na obstrução bilateral das artérias renais ou dos ureteres, na necrose cortical bilateral e insuficiência renal aguda (IRA) grave. • Polaciúria → aumento da frequência miccional no intervalo menor que 2h e sem que haja aumento do volume. Causas: cistite, litíase vesical, tumor vesical, hiperplasia prostática, CA de próstata, doenças neurológicas, ansiedade, uretrites. • Noctúria → inversão do ritmo urinário dia/noite com eliminação de maior quantidade de urina à noite do que de dia. • Nictúria → necessidade de esvaziar a bexiga à noite. Causas: Insuficiência renal crónica, Insuficiência cardíaca (edema), Insuficiência hepática (edema), Consumo excessivo de líquidos, Hiperplasia prostática benigna, Diabetes não controlada, Infecção crônica ou recorrente do trato urinario, Medicamentos como diuréticos, lítio, fenitoína. • Enurese → micção involuntária e inconsciente durante o sono. • Disúria → micção associada a sensação de desconforto, ardor, queimor ou dor discreta. Ocorre na cistite, prostatite, uretrite, traumatismo geniturinário, irritantes uretrais e reação alérgica. Causas: mulheres - Vaginite por cândida , Vulvite ou dermatite por contato , Trauma, Cistite, uretrite bacterianas. Homens - Uretrite causada por gonorréia ou clamydia, Prostatite, Cistite, Litíase vesical ou ureter terminal. • Urgência → vontade extrema de esvaziar a bexiga, as vezes com uma quantidade até pequena de urina. • Hesitação → intervalo maior que o habitual para que ocorra o jato urinário. • Retenção → incapacidade de esvaziar a bexiga, apesar de os rins estarem produzindo urina normalmente e o indivíduo apresentar desejo de esvaziá-la. Aguda ou crônica. Na aguda o indivíduo, que até então urinava satisfatoriamente, passa a sentir a bexiga distendida, tensa e dolorosa. Na retenção crônica, existe gradual dilatação da bexiga, pode não ocorrer dor e o paciente queixa-se de polaciúria, hesitação, gotejamento e não tem consciência da distensão vesical. • Incontinência urinária → eliminação involuntária de urina, pode ser normal até 1 ano e meio de idade, incontinência paradoxal: perda de urina na obstrução uretral causada pela pressão excessiva da bexiga. Nos idosos, a hipertrofia prostática grave pode provocar incontinência paradoxal. ALTERAÇÕES DA COR E ASPECTO DA URINA : • Amarelo ouro → aspecto normal. Deve ser cristalina e translúcida. • Amarelo claro ou incolor → devido a ingestão excessiva de água, diabetes ou insuficiência renal. • Amarelo escuro → devido à pouca ingesta de água ou estados oligúricos. 3 Júlia Maria Vasconcelos – Semiologia II • Avermelhada → ingestão de alimentos ou medicamentos, presença de sangueou hemoglobina. • Escura → presença de sangue ou hemoglobina. • Turva → sem o aspecto límpido, formando depósito esbranquiçado e quase sempre com odor desagradável ocorrendo quando há precipitação de cristais ou alguma infecção, seja cistite, pielonefrite, abscesso renal, perirrenal, uretral ou prostático. (Piúria: ocorre quando há quantidade anormal de leucócitos na urina, que pode conferir aspecto turvo a esta). Uma causa rara de urina turva é a obstrução de duetos linfáticos. Neste caso, a linfa, ao ser drenada para a pelve renal, origina quilúria, assumindo a urina uma coloração esbranquiçada e opalescente. Dentre as causas encontram-se a filariose, a tuberculose e as neoplasias. • Espumosa → aumento de proteínas (glomerulonefrites, nefropatia, DM) ou urina muito concentrada e fluxo rápido. • Mau cheiro → O odor característico de urina decorre da liberação de amônia. Um simples aumento da concentração de solutos na urina pode determinar cheiro desagradável. No entanto, fetidez propriamente dita surge nos processos infecciosos, pela existência de pus ou por degradação de substâncias orgânicas. Alguns medicamentos (vitaminas, antibióticos) também alteram o odor da urina. HEMATÚRIA → presença de sangue na urina. Classificação: Intensidade: Macroscópica → quando o paciente percebe que a urina está vermelha; Microscópica → quando ele não percebe, mas ao fazer exame consta hemácias. Ritmo de eliminação: Recorrentes → quando se tem episódios; Persistentes → quando nunca deixou de ter. Associação com outros sintomas: Sintomática Assintomática Ex: dor lombar + hematúria = litíase Origem: Urológica ou não. Glomerulopatias Transtornos urológicos. Micção: Total → quando toda a urina vem vermelha (lesões renais); Inicial → aparece no primeiro jato e depois clareia (lesão uretral distal e colo vesical); Terminal → começo da diurese é clara e no final vem sangue (lesão/inflamação do trígono da bexiga). Obs.: Hemoglobinúria → é a ocorrência de hemoglobina livre na urina, condição que acompanha as crises de hemólise intravascular (malária, leptospirose, transfusão incompatível, icterícia hemolítica). Mioglobinúria → decorre da destruição muscular maciça por traumatismos e queimaduras, e após exercícios intensos e demorados como maratonas e nas crises convulsivas. Porfirinúria → é consequência da eliminação de porfirinas ou de seus precursores, os quais produzem coloração vermelho- vinhosa da urina, algumas horas depois da micção. Convém lembrar que a beterraba e alguns medicamentos podem tingir a urina de vermelho. DOR: DOR LOMBAR E NO FLANCO • De origem renal é confundida muitas vezes com dor muscular; • A dor renal característica situa-se no flanco ou região lombar, entre a 12ª costela e a crista ilíaca, e, às vezes, ocorre irradiação anterior. • O parênquima renal é indolor; • Distensão da cápsula → causa dor lombar em flanco; • Na síndrome nefrótica, glomerulonefrite aguda, nefrite intersticial e pielonefrite aguda, pode ocorrer este tipo de dor; • A obstrução urinária em razão de cálculo na pelve renal ou de obstrução ureteropélvica que causa dilatação tubular e aumento dos rins provoca também este tipo de dor, especialmente quando a maior ingestão de líquido aumenta o fluxo urinário; • Rins policísticos podem chegar a grande volume sem causar dor, exceto quando algum cisto se rompe, torna- se infectado ou hemorrágico. • Piora com a posição ereta e se agrava ao fim do dia. • Diferenciar da dor de origem não renal; • Se é bilateral, é muito difícil que seja renal, a dor renal geralmente é unilateral. CÓLICA RENAL • Tipo especial de dor decorrente da obstrução do trato urinário alto ou médio, com dilatação súbita da pelve renal ou do ureter, que se acompanha de contrações da musculatura lisa destas estruturas; • A dor é tipicamente em cólica, com fases de espasmos dolorosos que podem durar vários minutos, seguindo- se de alívio, geralmente incompleto; 4 Júlia Maria Vasconcelos – Semiologia II • Fortíssima intensidade; • Acompanhada geralmente de sintomas gerais (náuseas, vômitos) ou locais (disúria, hematúria, estrangúria, etc); • Irradiação para → o Ângulo costo-vertebral o Região lombar e flanco o Fossa ilíaca e região inguinal o Testículo, pênis ou grande lábio DOR HIPOGÁSTRICA OU VESICAL • Dor originada na bexiga e geralmente percebida em região suprapúbica, bem menos frequente e geralmente é consequência da retenção da urina. ESTRANGÚRIA OU TENESMO VESICAL • Dor muito intensa durante a micção decorrente de espasmo da musculatura do trígono e colo vesical. Devido a inflamação vesical intensa (pode ser decorrente de trauma, espasmo do colo vesical). PERINEAL • Geralmente por afecções da próstata referindo o sacro e reto. Dor renal X Cólica renal Dor renal - Ela não é tão intensa, é mais em peso e não piora com movimentos (dor muscular piora com movimento). Piora com posição ereta e se agrava com o fim do dia (dor osteomuscular tem maior intensidade ao acordar). Pode ser por causa de hidronefrose (dilatação do sistema excretor), rins policísticos e pielonefrite aguda. Cólica renal - É de fortíssima intensidade. Tem irradiação frequente. É acompanhada de alguns sintomas gerais (náusea e vômito) ou típicos do sistema geniturinário (disúria, hematúra, estrangúria: dor intensa durante a micção). EDEMA: É uma manifestação comum em pacientes portadores de doença renal. Existem quatro situações clínicas em nefrologia que são comumente acompanhadas de edema: glomerulonefrite aguda, síndrome nefrótica, insuficiência renal aguda e crônica. • Edema da glomerulonefrite o Edema Generalizado, mais intenso na região periorbitária pela manhã, depressível. Ao final do dia, se o paciente estiver deambulando normalmente, predomina nos membros inferiores. • Edema da Síndrome Nefrótica o Mais intenso que o da Glomerulonefrite podendo chegar à anasarca, especialmente em crianças. o Quando o estado geral do paciente é bom e ele deambula, é comum observar-se, pela manhã, intenso edema facial. No fim do dia, são as pernas que estão edemaciadas. É frequente a ocorrência de ascite. • Pielonefrite o Edema é de pequena intensidade, quase sempre restrito à região periorbitária pela manhã. • Insuficiência renal o O edema da aguda decorre geralmente da hiper-hidratação. O edema da crônica é muito variável, modificando-se conforme a causa determinante; FEBRE: Presente nos processos infecciosos urinários. As principais causas: são pielonefrite, cistite e prostatite. EXAME FÍSICO EXAME FÍSICO GERAL: SOMATOSCOPIA • Facies renal o Edematosa, especialmente em pálpebras + mucosas hipocoradas + pele coloração “palha” • Pode haver edema generalizado • Febre em casos de infecção do trato urinário • Pressão arterial INSPEÇÃO Do abdome, dos flancos e das costas, com o paciente sentado. Obs: se observar no braço uma dilatação venosa – fistula arteiovenosa – sabe que o paciente é renal crônico e faz hemodiálise. PALPAÇÃO É difícil realizar a palpação de um rim normal, porém existe dois métodos: Método de Devoto → Paciente em decúbito dorsal. Manobra muito semelhante à de Lemos torres para a palpação do fígado. Apoia a mão na região posterior e tenta aprofundar no flanco para tentar palpar o colo renal superior. Método de Israel → Semelhante à manobra de Schuster. Paciente em decúbito lateral, uma mão na cabeça, outra no dorso. 5 Júlia Maria Vasconcelos – Semiologia II • Indivíduos magros – pode-se palpar o pólo inferior do rim direito • Os rins podem tornar-se palpáveis nas seguintes circunstâncias: o Distopia renal (ptose do rim), rins policísticos, hidronefrose e tumor renal, transplante renal. o Os tumores renais e hidronefrosesvolumosas do lado esquerdo podem ser confundidos com esplenomegalia. Na esplenomegalia, o som da percussão do espaço de Traube é maciço, enquanto que no tumor renal, o traube é timpânico. Obs: o rim é facilmente palpável quando se realiza transplante renal, pois em paciente transplantado o rim fica localizado na fossa ilíaca, fora do retroperitônio, por isso é de fácil palpação. Devendo o médico sempre palpar um rim de paciente transplantado para avaliar. PERCUSSÃO • Objetivo: Investigar dor renal; • Sinal de Giordano (punho percussão); • Dor intensa em casos de pielonefrite, absceso perinefrético AUSCULTA • Realizar a ausculta na região abdominal que corresponde as artérias renais, ou seja, a nível da cicatriz umbilical. Sopros → estenose de artéria renal; EXAMES COMPLEMENTARES : Os exames complementares compreendem o exame simples de urina, o exame quantitativo da urina, a proteinúria quantitativa, as provas de função renal, o exame bacteriológico da urina, a ultrassonografia, os exames radiológicos, a ressonância magnética, a cintigrafia renal, a biopsia renal, a endoscopia e a angiografia. EXAME SIMPLES OU SUMÁRIO DE URINA (EAS) • É um dos métodos mais práticos para o diagnóstico e o acompanhamento de pacientes com alterações do trato urinário; • Coletar a urina após o banho ou higiene intima; • O exame deve ser feito em urina recém-coletada, no meio do jato urinário, em frasco limpo; • Utilizar frascos apropriados; identificados e datados; • A melhor amostra para exame é a primeira urina da manhã, por ser mais concentrada e ter pH mais baixo, tornando possível melhor preservação dos elementos figurados, além de facilitar a determinação semiquantitativa da proteinúria. • O exame tem início pela avaliação de cor, turvação e odor da urina; espuma em abundância indica proteinúria. Vários medicamentos podem alterar a cor da urina. Utilizam-se métodos físico-químicos para análise da densidade, do pH, pesquisa de proteínas, glicose e cetonas. O sedimento urinário é examinado ao microscópio. • Tempo até o laboratório. pH → Um pH urinário abaixo de 6,0 pode ser considerado normal; na primeira urina da manhã, geralmente, o valor encontrado está entre 5,0 e 6,0. Se estiver acima de 8,0, sugere a ocorrência de infecção, alcalose sistêmica, acidose tubular renal ou uso de acetazolamida. Proteína → A presença de proteína na urina - proteinúria - em quantidade superior a 150 mg/dia está acima dos valores normais; Cetonas → Quando o organismo metaboliza glicídios de modo incompleto, ocorre formação de corpos cetônicos facilmente detectáveis na urina. Presença de cetonúria em pacientes com diabetes melito indica descompensação metabólica grave. A detecção de microalbuminúria, por técnica especial em diabéticos e hipertensos, tem crescido de interesse por ser um marcador precoce de comprometimento renal. PROTEINÚRIA QUANTITATIVA • Este exame apresenta alta sensibilidade na detecção das afecções renais em seus estágios iniciais. • Está indicado quando se observa proteinúria persistente ou intermitente no exame de urina de indivíduos aparentemente sadios, para evidenciar lesões incipientes dos glomérulos renais (nefrites), para avaliar a extensão e a evolução do comprometimento renal e para o controle do tratamento da síndrome nefrótica. • Em condições habituais, um adulto normal excreta menos de 100 mg de proteínas na urina eliminada em 24 h. Excreção urinária superior a 150 mg/dia é considerada anormal. Do ponto de vista fisiopatológico, a proteinúria decorre de três principais mecanismos: glomerular, tubular e hiperproteinemia. PROVAS DE FUNÇÃO RENAL A taxa de filtração glomerular (TFG) é considerada o melhor índice de função renal. Exames bioquímicos → • Dosagem de Ureia 6 Júlia Maria Vasconcelos – Semiologia II • Dosagem de Creatinina sérica • Clearance de Creatinina O nível normal de ureia está entre 18 e 45 mg/dl e o de creatinina, entre 0,6 e 1,2 mg/dl. A concentração de ureia no sangue depende de sua produção no organismo, da ingesta de proteínas, do índice de filtração glomerular e do estado de hidratação do paciente. A ureia é formada predominantemente no fígado e, em pequenas proporções, nos rins e no cérebro. • Dosagem de Potássio EXAME BACTERIOLÓGICO DA URINA • Compreende a microscopia direta e a cultura. Exame microscópico → O encontro de mais de 3 leucócitos em grande aumento ou a presença de bactérias indica provável infecção urinária ativa. Cultura → A cultura é realizada inoculando-se urina em meio de cultura apropriado. A intensidade da bacteriúria é determinada pela contagem das colônias. Número igual ou superior a 100.000 colônias por mililitro indica, seguramente, a ocorrência de infecção. Quando o número de colônias é inferior a 10.000, raramente trata-se de infecção urinária. BALANÇO HÍDRICO Se o volume de líquidos ganhos for maior que a perda, o BH é positivo (+) Se o volume de líquidos eliminados for maior que o administrado o balanço hídrico será negativo (-). EXAMES ANATÔMICOS Radiografia simples de abdome → cálculo coraliforme; Urografia excretora → injeta contraste para estudar o sistema excretor; Urografia excretora por CT → mais útil. Duplicação pielocalicial (causa muita infecção urinária); Uretrocistografia miccional → passa uma sonda pela uretra e injeta o contraste na bexiga. Ver refluxo vesico-uretral, divertículo; Ultrassonografia → mais útil e menos invasivo. A janela lombar possibilita boa visualização do rim e permite boa diferenciação 7 Júlia Maria Vasconcelos – Semiologia II do córtex (mais escuro) e da medula. Se não houver essa diferenciação (tudo cicatrizado), é diagnóstico de uma insuficiência renal crônica. Tomografia computadorizada → pesquisa de tumor, cisto (encontra-se todo preto); Tomografia computadorizada volumétrica Ressonância magnética → não tem muita importância; Biopsia renal → para doenças glomerulares. Endoscopia → A utilização de endoscópios (cistoscópio e ureteroscópio) possibilita a visualização da superfície interna da uretra e da bexiga, viabilizando a identificação de neoplasias, cálculos, fatores de manutenção de infecção, corpos estranhos, origem de hematúria, malformações e orifícios ureterais. Também é possível a utilização da endoscopia para a realização de biopsias, extração de cálculos ureterais e ressecção de neoplasias. SÍNDROMES URINÁRIAS As principais síndromes renais são síndromes nefrítica e nefrótica, infecção urinária, obstrução urinária, lesão renal aguda e doença renal crônica. As neoplasias renais e as doenças císticas dos rins constituem outros grupos importantes de doença renal. Glomerulares Síndrome Nefrótica Síndrome Nefrítica Proteinúria + edema + hipoalbuminemia HAS + edema + hematúria Infecciosas Alta Baixa Pielonefrites Cistites, prostatites, uretrites 8 Júlia Maria Vasconcelos – Semiologia II Insuficiência Renal Aguda Crônica - Obstrutivas - - Litíase urinária - - SÍNDROME NEFRÍTICA • Decorre de processo inflamatório do capilar glomerular. • Caracteriza-se por disfunção renal de início abrupto, por graus variáveis de hematúria, cilindros hemáticos, edema, hipertensão arterial, oligúria e proteinúria subnefrótica. • Do ponto de vista evolutivo e de gravidade das lesões, a síndrome nefrítica pode ser classificada como glomerulonefrite aguda, glomerulonefrite rapidamente progressiva e glomerulonefrite crônica. Glomerulonefrite aguda: Caracteriza-se pelo aparecimento súbito de urina escura, hipertensão arterial, edema (especialmente periorbitário pela manhã) e azotemia. O paciente se recupera em dias ou semanasem 97% dos casos, embora o quadro clínico possa não ter remissão completa. As causas de glomerulonefrite aguda incluem infecções bacterianas (estreptococcias, endocardite bacteriana), deposição de imunocomplexos (lúpus eritematoso disseminado e nefropatia por IgA) e anticorpos circulantes que lesam amembrana basal glomerular (síndrome de Goodpasture). Ao realizar a avaliação de um paciente com síndrome nefrítica aguda, devem ser feitos exames sorológicos especiais que podem orientar quanto à etiologia da doença e ao tratamento, tais como níveis de complemento, anticorpos antinucleares (ANA), crioglobulinas, IgA, anticorpos anticitoplasma de neutrófilos (ANCA), anticorpos antimembrana basal glomerulat (anti-GBM), título de antiestreptolisina O (ASLO), fator nefrítico C3 e marcadores virais de hepatite. A síndrome nefrítica mais comum é a glomerulonefrite difusa aguda, história clássica de uma criança que teve uma infecção (impetigo, amidalite) e 15 dias depois a mãe notou um inchaço, urina escura e cansaço (hipertensão). Glomerulonefrite rapidamente progressiva (GNRP): É uma síndrome clínica caracterizada por perda rápida da função renal (dias a semanas), geralmente acompanhada de oligúria ou anúria e alterações urinárias características de glomerulonefrite (hematúria, cilindros hemáticos e proteinúria). A principal característica histopatológica da GNRP é a presença de crescentes em mais de 50% dos glomérulos renais. Chama-se de crescente a proliferação de células epiteliais, acompanhada da deposição de fibrina, polimorfonucleares e monócitos no espaço de Bowman, assumindo formato de meia-lua. A gravidade da doença é, em parte, relacionada com o grau de formação de crescentes. A glomerulonefrite aguda pós-infecciosa, a nefropatia por IgA, a nefrite lúpica ou secundária a outras doenças sistêmicas podem evoluir como glomerulonefrite rapidamente progressiva, tipo 2. Glomerulonefrite crônica: É a via final comum de todas as glomerulopatias que evoluem para cronicidade e insuficiência renal terminal. Do ponto de vista clínico, a glomerulonefrite crônica manifesta-se de modo insidioso, o paciente não se queixa, e a doença é descoberta em exames de rotina em pacientes com hipertensão arterial ou que relatam apenas edema discreto. Apresentam-se com elevação nos níveis séricos de ureia e creatinina, alterações do sedimento urinário com proteinúria e/ou hematúria. Mais raramente, manifesta - se com quadro de síndrome nefrótica típica, com edema generalizado e diminuição da função renal. Em alguns casos, predominam os sinais de uremia. A glomerulonefrite crônica tende a evoluir durante anos, progredindo para insuficiência renal terminal, com necessidade de diálise e transplante. SÍNDROME NEFRÓTICA Consiste na associação das seguintes manifestações: proteinúria (superior a 3,5 g/24 h), hipoalbuminemia (albumina sérica inferior a 3,5 g/de) e edema. Pode acompanhar-se de hiperlipidemia, além de estado de hipercoagulabilidade (sendo trombose venosa a manifestação mais comum). Alterações da permeabilidade da membrana basal glomerular são responsáveis pela perda de proteínas na urina, fator determinante das manifestações clínicas da síndrome nefrótica. Habitualmente, quando a proteinúria é superior a 3,5 g/24 h, a excreção urinária de albumina ultrapassa a capacidade do fígado de sintetizar essa proteína, ocasionando hipoalbuminemia. A hipoalbuminemia ocasiona redução da pressão oncótica do plasma, com passagem do líquido para o interstício e edema. A consequente redução do fluxo plasmático renal efetivo levaria à ativação do sistema renina- angiotensina-aldosterona, ocasionando posterior retenção de sódio e de água e persistência do edema. O marcador incondicional dessa síndrome é a proteinúria. A síndrome nefrótica mais comum é a idiopática, a criança dorme bem e acorda inchada, com proteinúria intensa e albumina baixa. INSUFICIÊNCIA RENAL AGUDA OU LESÃO RENAL AGUDA Caracterizada pelo rápido declínio da taxa de filtração glomerular (FG), resultando em acúmulo no sangue de produtos do metabolismo nitrogenado, como a ureia e a 9 Júlia Maria Vasconcelos – Semiologia II creatinina, e incapacidade de manter o equilíbrio hidreletrolítico e acidobásico, acompanhada ou não de redução da diurese. É menos frequente na comunidade do que em pacientes hospitalizados; em pacientes internados nas unidades de terapia intensiva (UTI), pode ocorrer em torno de 20 a 40%. Os principais fatores de risco para o desenvolvimento da em pacientes hospitalizados, são: idade avançada, presença de doença renal crônica, sepse e cirurgias cardíacas, entre outros. A ocorrência de LRA é crescente entre idosos, e 3 fatores que afetam a hemodinâmica renal têm sido imputados para esta maior incidência: o próprio envelhecimento renal, a maior frequência de estados patológicos nesta faixa etária, o uso excessivo de medicamentos por estes pacientes e o uso cada vez mais frequente de procedimentos intervencionistas e cirúrgicos neste grupo específico de doentes. Quanto à etiologia, pode ser classificada em 3 categorias: pré- renal, renal e pós-renal DOENÇA RENAL CRÔNICA É definida como: (1) lesão do parênquima renal, com ou sem diminuição da filtração glomerular (FG), evidenciada por anormalidades histopatológicas ou por marcadores de lesão renal, incluindo anormalidades na composição do sangue ou da urina, alterações nos exames de imagem; ou (2) FG menor que 60 ml/min com ou sem lesão renal, por um período igual ou superior a 3 meses. Preconiza-se o estadiamento da DRC com base em marcadores de lesão renal; na prática, a proteinúria (albuminúria) persistente e a taxa de FG, estimada por equações matemáticas, utilizando a creatinina sérica (Crs) e variáveis demográficas, tais como idade, sexo, raça e peso corporal. A perda progressiva da função renal ocasiona o aparecimento de um conjunto de sinais e sintomas decorrentes do acúmulo de toxinas urêmicas que recebem a denominação de uremia. Inúmeras condições patológicas provocam a destruição de néfrons com perda progressiva da função renal. As causas mais frequentes são: diabetes melito (nefropatia diabética), hipertensão arterial (nefroesclerose), glomerulonefrite crônica, nefrite intersticial, doença cística dos rins e uropatia obstrutiva. Manifestações clínicas: Nas fases iniciais da DRC, estágios 1 e 2, os pacientes são assintomáticos e ureia e creatinina são normais. No estágio 3 os pacientes costumam ser assintomáticos, mas já é possível observar elevação de ureia e creatinina, aparecimento de anemia e alterações do cálcio, fósforo e paratormônio, além de hipertensão arterial. No estágio 4, os sinais e sintomas são mais evidentes com anemia, acidose metabólica, hipocalcemia, hiperfosfatemia e hiperpotassemia. Na fase final, estágio 5 os pacientes estão sintomáticos, com sinais e sintomas evidentes de síndrome urêmica (A síndrome urêmica é a manifestação clínica de falência renal grave e resulta na retenção de substâncias tóxicas (toxinas urêmicas) que afetam o funcionamento das células, envolvendo os sistemas cardiovascular, gastrintestinal, hematopoético, imune, nervoso e endócrino). INFECÇÃO URINÁRIA PIELONEFRITE AGUDA: • infecção bacteriana do trato urinário alto: rins e pelve renal, costuma ser unilateral; • ocasionando síndrome clínica caracterizada por febre alta de aparecimento súbito, calafrios, náuseas e vômitos e dor no flanco com irradiação para a fossa ilíaca e região suprapúbica. Prostração, taquicardia e hipotensão arterial podem ocorrer. • Dentre os dados laboratoriais, destaca-se, ao exame de urina, a presença de piócitos, cilindros leucocitários e bactérias. • O aparecimento da infecção pode estar associado à ocorrência de algum tipo de obstrução do trato urinário, como hipertrofiaprostática em homens, e obstrução ureteral pelo útero gravídico em mulheres. Cálculos, neoplasias e malformações anatômicas também predispõem a infecção. • Em algumas condições, contudo, os sintomas desaparecem, mas a bacteriúria persiste, transformando-se em infecção crônica. 10 Júlia Maria Vasconcelos – Semiologia II PIELONEFRITE CRÔNICA: • Surge geralmente após um episódio inicial de pielonefrite aguda ou cistite, principalmente associada a obstrução urinária, presença de cálculo, hipertrofia prostática, bexiga neurogênica e refluxo vesicouretral. Infecções do trato urinário baixo: (cistite, uretrite, prostatite). CISTITE E URETRITE → Infecção urinária restrita à bexiga e/ou uretra, caracterizada por polaciúria, disúria, urgência e piúria. A cistite provoca desconforto e sensação dolorosa na região suprapúbica. A irritação da parede vesical causa contração espasmódica da bexiga, fazendo com que o paciente apresente desejo de urinar acompanhado de dor mesmo quando o órgão está vazio ou imediatamente após a micção (estrangúria). A urina pode apresentar-se turva e com odor desagradável. Piócitos, hemácias, células epiteliais e bactérias são encontrados no exame do sedimento urinário. Na uretrite aguda, observa-se queimor intenso ou dor durante a micção. Observa-se, também, corrimento uretral purulento entre as micções. Cistite e pielonefrite aguda podem ocorrer conjuntamente. A infecção urinária pode ser recorrente por recidiva ou reinfecção. Por recidiva, entende-se recorrência de bacteriúria ocasionada pelo mesmo microrganismo, a despeito do tratamento, nas 3 semanas após o tratamento. Reserva-se o termo reinfecção quando esta ocorre após a cura aparente, mas com cepas diferentes. PROSTATITE → Caracteriza-se por dor na região sacra e perineal, que se acompanha de desconforto retal e testicular; piúria e hematúria costumam ocorrer. A prostatite bacteriana aguda produz manifestações sistêmicas de bacteriemia com febre alta e calafrios, acompanhando-se de disúria e polaciúria. O toque retal acompanha-se de dor intensa, devido ao aumento de volume da glândula, o que toma a cápsula tensa. Na prostatite bacteriana crônica, o paciente pode ser assintomático, com próstata de tamanho normal e indolor ao toque retal. TUBERCULOSE RENAL A tuberculose renal é o 3° tipo mais frequente de tuberculose extrapulmonar e deve ser considerada em todos os casos de piúria sem bacteriúria e em casos de ITU não responsiva ao tratamento. A tuberculose renal é sempre secundária à tuberculose pulmonar, na qual o bacilo alcança o rim a partir do pulmão pela via hematogênica. A lesão inicial é glomerular com glomerulite assintomática; a porção medular é afetada, provocando inflamação granulomatosa, necrose caseosa, formando, às vezes, grandes cavidades caseosas. Os principais sintomas são disúria, hematúria, dor no flanco e piúria. É assintomática em 1/5 dos casos. LITÍASE URINÁRIA Chama-se de litíase urinária a formação de concreções calculosas nos rins e vias urinárias. Em cerca de 70 a 80% dos casos, são formadas por sais de cálcio (oxalato, fosfato), e os restantes 10%, por ácido úrico, cistina e estruvita. Os seguintes elementos são importantes na avaliação de um paciente com litíase urinária: (1) história clínica com ênfase em hábitos alimentares, medicamentos em uso, história familiar de doenças do sistema urinário, cólica renal, hematúria; (2) exame de urina: hematúria e cristalúria; (3) ultrassonografia ou TC: localização, tamanho e dimensões do cálculo, que tornam possível o conhecimento da composição química e adoção de medidas de prevenção ou de terapêutica; A tomografia computadorizada helicoidal é o exame de escolha por apresentar alta sensibilidade e especificidade para o diagnóstico de litíase urinária. (4) avaliação de alterações metabólicas capazes de provocar litíase recorrente. Para avaliação mais rigorosa, deve-se incluir a excreção de 24 h de cálcio, oxalato, ácido úrico, sódio, creatinina, citrato, cistina, pH urinário, equilíbrio acidobásico, eletrólitos (plasma). Manifestações clínicas da litíase → dependem predominantemente de sua localização no trato urinário, tamanho, formato e número dos cálculos. Litíase renal → Os cálculos renais podem ser únicos ou múltiplos. São formados nos rins, desenvolvendo-se nos cálices ou pelve renal, nos quais podem ficar encravados e crescer, adotando inclusive o formato dos cálices e da pelve (cálculo coraliforme). Ao aumentar de tamanho, o cálculo lesa o rim gravemente, mesmo sem manifestações clínicas evidentes. Muitas vezes, há apenas uma discreta sensação de dor ou peso no flanco correspondente. Dor localizada na região lombar ou no flanco somente ocorre se houver obstrução da junção ureteropélvica ou de um cálice renal; hematúria microscópica costuma ocorrer. A litíase, muitas vezes, é descoberta quando se procura a causa de uma hematúria ou é feito exame radiológico simples do abdome por qualquer motivo. O paciente pode apresentar proteinúria discreta. 11 Júlia Maria Vasconcelos – Semiologia II Litíase vesical → A litíase da bexiga quase sempre resulta de cálculos formados nos rins e que não foram eliminados pela micção. Obstrução e infecção urinária são fatores importantes no aparecimento dos cálculos vesicais. Corpos estranhos e divertículos são também causas de litíase vesical. As manifestações clínicas principais são disúria, urgência e interrupção brusca do jato urinário quando o cálculo obstrui a uretra. UROPATIA OBSTRUTIVA O impedimento ao livre fluxo da urina causa alterações dos rins e vias urinárias e configura a uropatia obstrutiva. Geralmente, a origem da obstrução é mecânica, podendo ocorrer em qualquer segmento do trato urinário. Mais frequentemente, é ocasionada por afecções do próprio trato urinário, como litíase, neoplasias, cicatrização de infecções e anomalias congênitas; mas podem decorrer também de causas extrínsecas como neoplasias e fibroses (intra ou retroperitoneal). Pode ser consequência de distúrbios funcionais, como é o caso da bexiga neurogênica, observada em traumas com lesões neurológicas, e de diabetes melito. A doença obstrutiva pode ser causa de insuficiência renal aguda ou crônica. A desobstrução das vias urinárias é muito importante para a recuperação da função renal. Quando a lesão está acima da bexiga, geralmente é unilateral, produzindo hidroureter (dilatação limitada ao ureter) ou hidronefrose (quando a dilatação chega aos cálices renais). Hipertensão arterial pode ser manifestação de obstrução urinária. NEOPLASIAS DOS RINS E DO TRATO URINÁRIO Os rins e o trato urinário podem ser sede de neoplasias benignas e malignas que se localizam no parênquima ou na pelve renal, nos ureteres e na bexiga. Os tumores renais representam cerca de 2 a 3% de todos os tumores malignos no adulto, frequentemente acometendo pacientes entre 50 e 70 anos. Adenoma renal é a neoplasia benigna mais comum. Em geral, é assintomática. Pode ser detectado pela ultrassonografia, urografia excretora ou tomografia computadorizada, sendo necessário fazer o diagnóstico diferencial com neoplasia maligna. O adenocarcinoma renal, carcinoma de células renais ou carcinoma tubular renal é a neoplasia maligna mais frequente, correspondendo a cerca de 80% das neoplasias malignas dos rins. Ocorre geralmente após os 50 anos de idade, sendo muito raro em crianças. Predomina entre homens na proporção de 2:1 em comparação às mulheres. As manifestações clínicas iniciais podem ser muito vagas, sendo possível detectar metástases a distância (pulmões, fígado e ossos) como achado clínico inicial, em 25 a 30% dos casos. Hematúria microscópica geralmente está presente, e hematúria maciça ocorre em cerca de 60% dos pacientes, às vezes dando origemà cólica renal. O paciente pode queixar- se de dor no abdome ou nos flancos. 12 Júlia Maria Vasconcelos – Semiologia II Sistema Reprodutor Masculino e Feminino Principais queixas nos órgãos sexuais masculinos: • Dor no testículo (orquialgia) → causas: torção aguda do testículo (emergência médica) → criança pode perder o testículo se não fizer o diagnóstico; • Dor peniana associada à ereção contínua → priapismo; • Hemoespermia; • Corrimento/Descarga uretral (secreção purulenta); • Disfunções sexuais (mais comum nos mais idosos): disfunção erétil, ejaculação precoce, ausência de ejaculação, diminuição da libido; • Infertilidade. Principais queixas nos órgãos sexuais femininos: • Alterações menstruais (queixas mais frequentes): dismenorréia, amenorréia e tensão pré-menstrual. Tensão pré-menstrual (quase 100% das mulheres têm): sensação de mal-estar geral, mal-humor discreto, sensação de aumento das mamas → porém, não atrapalha a atividade do dia a dia; Dismenorréia: tais sintomas amplificados, com enxaqueca, dores intensas → atrapalha a atividade do dia a dia; • Dispareunia: dor durante o coito; • Corrimento; • Prurido vaginal; • Disfunções sexuais; • Galactorréia; • Nódulos mamários. EXAME DO GENITAL MASCULINO INSPEÇÃO DO PÊNIS → • Glande: observar presença de lesão, inflamação, secreção, localização do meato urinário; • Prepúcio: se estiver presente, observar a presença de esmegma, fimose ou parafimose; • Bolsa escrotal: visualiza-se a simetria, presença e tamanho do testículo, lesão, edema, rubor, vascularização, cicatrizes e o método da transiluminação. Obs.: Método da transiluminação→ coloca-se um feixe de luz (com a luz do ambiente apagada) →orqueocele (presença de líquido na bolsa escrotal); GLOSSÁRIO: • Criptorquia: ausência de um ou dos dois testículos na bolsa escrotal. • Epispádia: localização do meato urinário na região dorsal da glande. • Hipospádia: localização do meato urinário na face inferior (ventral) da glande. • Fimose: redução do diâmetro prepucial impossibilitando a exteriorização da glande. • Hidrocele: acúmulo excessivo de líquido na túnica do testículo. • Orquialgia: dor nos testículos. • Orquiocele: hérnia escrotal. • Parafimose: edema e inflamação que impedem o prepúcio de recobrir a glande. • Priapismo: ereção persistente, não controlada, dolorosa. • Varicocele: dilatação anormal do plexo venoso escrotal. LESÕES GENITAIS MASCULINAS Vesicular → tipo herpes. Verrucosa → ex: HPV Ulcerada → varias as causas. Bem característico de lesão primaria de sífilis. EXAME DO GENITAL FEMININO É muito importante lembrar do pudor feminino. Seriedade na hora do exame! • Respeitar a privacidade do paciente. • Evitar a exposição do corpo desnecessária – no momento da inspeção. 13 Júlia Maria Vasconcelos – Semiologia II • Evitar toques demorados ou em áreas erógenas – no momento da palpação. • Manter a postura gentil e profissional. • Antes da inspeção, pedir a permissão da paciente e respeitar a sua decisão. INSPEÇÃO DA GENITAL EXTERNA → • Inspecionar o púbis - observando a presença de lesões, pruridos ou parasitas. • Grandes e pequenos lábios: observar a simetria, coloração, integridade da pele, presença de secreção. • Clitóris: observar o tamanho e a forma. Principalmente em meninas que possam ter alguma alteração cromossômica. • Prolapsos: uterino ou vaginal. Lesões da vulva: vesicular verrucosas, ulcerosas. Lesões do períneo: vesicular e verrucosa.
Compartilhar