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Reações Adversas aos Alimentos (RAAS) Qualquer reação anormal à ingestão de alimentos ou aditivos alimentares; podem ser classificadas em tóxicas e não tóxicas. Tóxicas → independem da sensibilidade individual e ocorrem quando é ingerido quantidade suficiente de determinado alimento para causar uma reação adversa (a ex. toxinas bacterianas). Não tóxicas → dependem de susceptibilidade individual e podem ser classificadas em imunomediadas (alergia alimentar) e não imunomediadas (intolerância alimentar). As RAAs são mais comuns atualmente que no passado, devido a mudanças na dieta moderna, predisposição genética e influências ambientais. INTOLERÂNCIA ALIMENTAR Reação adversa a um alimento ou aditivo alimentar que não envolve o sistema imune, e resulta da incapacidade do corpo em digerir, absorver ou metabolizar um alimento ou um componente do alimento. As intolerâncias são mais comuns que as alergias e decorrem de reações tóxicas, farmacológicas, gastrointestinais, genéticas, metabólicas ou idiossincráticas. Geralmente são desencadeadas por substâncias químicas de baixo peso molecular e/ou compostos biologicamente ativos dos alimentos. Intolerância à lactose Acontece devido à ausência ou deficiência na produção de lactase intestinal (enzima responsável pela digestão da lactose), que ocorre por influência genética e resulta em dificuldade na digestão da lactose. Sintomas: náuseas, dor, flatulência e diarreia. Os sintomas surgem quando a quantidade ingerida excede a capacidade de digestão, e levam de 30min a 2h para se manifestarem. A intolerância à lactose pode ser primária e irreversível, devido a alactasia congênita ou hipolactasia do adulto; ou secundária e reversível, que é consequente à lesão intestinal (diarreias persistentes, doença celíaca, enterite alérgica, Chron...). Fisiopatologia Para ser absorvida, a lactose precisa ser hidrolisada no intestino. A lactase é encontrada mais abundantemente no jejuno, e sua ação obtém como produtos, a glicose e a galactose. Quando há ausência ou deficiência desta enzima, a lactose não será hidrolisada, causando um efeito osmótico na luz intestinal (principalmente no cólon). O conteúdo de água e eletrólitos aumenta, levando a aumento do peristaltismo, dor abdominal e diarreia. Parte da lactose sofre ação da microbiota intestinal, que o desdobra em glicose e galactose ou em lactato, ácidos graxos de cadeia curta e gases = eructação, flatulência e borborigmo. Diagnóstico Sinais e sintomas após digestão Determinação da atividade da lactase Teste de absorção da lactose Determinação do pH fecal Teste de hidrogênio expirado Pesquisa de substâncias redutoras nas fezes Tratamento Limitar produtos com lactose (leite e derivados) Suplementação de lactase (solúvel nos alimentos ou em cápsula/tablete) Em caso de exclusão de produtos lácteos, suplementar cálcio A gravidade da intolerância depende da quantidade de lactose que cada indivíduo consegue tolerar e da quantidade de alimento com lactose ingerido. Orientações ✓ Consumir leite com outros alimentos ✓ Fracionar ao longo do dia ✓ São melhor tolerados: queijos, iogurtes e leite fermentados ✓ Consumir fórmula sem lactose ou de soja. Introdução de lactose na alimentação: Beber apenas 50 a 125 ml de leite às refeições, de início, aumentando gradualmente até os 250ml. ALERGIA ALIMENTAR Reação imunomediada adversa a um alimento, geralmente uma sensibilização a uma proteína alimentar, glicoproteína ou hapteno e que, quando consumido, causa a liberação de mediadores inflamatórios ou químicos os quais agem nos tecidos corporais e resultam em manifestações clínicas. Antígenos são moléculas que induzem a uma resposta imune no organismo. Alérgenos são as moléculas que causam resposta de hipersensibilidade, como na alergia (geralmente são proteínas, glicoproteínas ou haptenos). Epítopo é a porção real do alérgeno que se liga à molécula imune. O mecanismo imunológico mediado pela imunoglobulina E (lgE) é o mais comumente encontrado e se caracteriza por rápida instalação e manifestações clínicas, tais como urticária, broncoespasmo e eventualmente anafilaxia. Quando reações imunológicas não mediadas por IgE estão envolvidas, as manifestações clínicas se estabelecem mais tardiamente (horas ou dias), dificultando o diagnóstico de alergia alimentar. Fisiopatologia O evento-chave na alergia alimentar é o reconhecimento do alimento pelos componentes do sistema imune, que então podem causar a liberação de componentes químicos (mediadores inflamatórios) que atuam nos tecidos corporais e resultam em um conjunto específico de sintomas. Os seres humanos são expostos a milhares de moléculas estranhas diariamente provenientes de alimentos e do ambiente. Essa exposição no sistema digestório geralmente é seguida pela regulação ou supressão imunológica, de forma que o alimento é reconhecido como “estranho, mas seguro”, um requisito para o desenvolvimento de tolerância a um alimento ou molécula alimentar, conhecida como tolerância oral. A tolerância oral é mediada por várias células do sistema imune (céls. apresentadoras de antígenos – APCs – como células dendríticas e macrófagos; e células T reguladoras), que são importantes supressores das respostas imunes celular e humoral. A alergia alimentar ocorre quando a tolerância oral falha, e o alimento ingerido atua como um alérgeno causando uma reação imunomediada. A quantidade de antígeno apresentado à célula imune sensibilizada influencia como os sintomas de alergia se desenvolvem. A função gastrointestinal (GI) e a capacidade para prevenir a passagem inadequada de moléculas pela parede intestinal representam a chave para a manutenção de tolerância oral e a prevenção da resposta alérgica. Essencial para essa função do TGI é a presença da microbiota. A disbiose existe quando há um desequilíbrio na microbiota, o qual pode prejudicar a digestão e afetar a saúde geral, pois contribui para o aumento da permeabilidade intestinal e aumento da probabilidade de que moléculas inadequadas passarão e atingirão o tecido linfoide (GALT), levando ao desenvolvimento de alergia. Parto cesáreo, falta de amamentação, antibióticos, estresse crônico, infecções e alterações na microbiota podem causar distúrbios na microbiota e na barreira física intestinal. Outras condições como doença GI, desnutrição, prematuridade fetal e imunodeficiência também podem estar associadas ao aumento da permeabilidade intestinal e ao risco de desenvolvimento de alergia alimentar. A fisiopatologia básica da resposta alérgica pode ser descrita em três fases: a interrupção da tolerância oral, sensibilização ao alérgeno e reatividade aos alérgenos, levando aos sintomas de alergia. A perda de tolerância oral está associada à diminuição da resposta das células T reguladoras e aumento nas concentrações de APCs que alcançam as células epiteliais da mucosa intestinal. Com a perda de tolerância oral, o sistema imune erroneamente reconhece um alimento ou molécula como estranha. Quando um alimento ou molécula não é mais visto como seguro, a segunda fase denominada sensibilização acontece, na qual as células da resposta imune respondem a essa primeira exposição ao alérgeno. Caracteriza-se por uma resposta Th2 e inclui células dendríticas e epiteliais. A terceira fase é a reatividade aos alérgenos de tal modo que sempre que o material estranho ou alérgeno entra no corpo, o sistema imune responde a uma reação imunomediada, geralmente com a liberação de mediadores inflamatórios ou químicos defensivos, resultando em sintomas alérgicos. Uma alergia alimentar mediada por IgE requer a presença de sensibilização e o desenvolvimento de sinais e sintomas específicos com a exposição ao alimento. A sensibilização por si só não é suficiente para definir a alergia alimentar.Reações mediadas por IgE São rápidas no início, ocorrendo em minutos a poucas horas de exposição. Os métodos de exposição incluem inalação, contato com a pele e ingestão. Inúmeros sintomas são atribuídos a esse tipo de alergia e frequentemente envolvem os sistemas GI, dermatológico ou respiratório, podendo variar de urticária leve à anafilaxia acometendo múltiplos órgãos com risco de vida. Qualquer alimento é capaz de induzir a uma reação IgE mediada, após o indivíduo tornar-se sensível a ele. Reações não mediadas por IgE e mediadas por IgE msita Associadas a reações tardias ou crônicas, aparecem antes dos 6 meses de idade (lactentes em uso de fórmulas). Alteração Mediada por IgE Misto/Não IgE Mecanis mo Ativação de células Th2 estimula a produção de anticorpos IgE por linfócitos B ativados. O alérgeno liga-se a anticorpos IgE sensibilizados em mastócitos ou basófilos. Com a ligação, os mediadores químicos inflamatórios são liberados da célula. Anticorpos e células T estão associados à indução de mediadores inflamatórios e desenvolvimento dos sintomas. Duração Primeira fase: Hipersensibilidade imediata (minutos a 1 hora) Fase tardia: geralmente 4-6 horas após a primeira fase Início tardio > 2 h; crônica, recidivante Sistêmica Anafilaxia -- GI Dor abdominal e flatulência, arroto, constipação, diarreia, indigestão, náuseas e vômitos Esofagite eosinofílica (EEO); gastroenterite eosinofílica (GEE); enteropatias induzidas por proteínas de alimentos (EIPA), doença celíaca Pele, membran as, mucosas Dermatite atópica (eczema), angioedema, dermatite de contato, rubor, prurido, urticária Dermatite atópica, dermatite de contato, dermatite herpetiforme Respirató ria Rinite aguda, rinorreia, asma, conjuntivite alérgica, broncospasmo, edema laríngeo Asma, hemossiderose pulmonar (Sínd. Heiner) Sistema nervoso Tonturas, dores de cabeça, hiperatividade, apatia, irritabilidade, enxaquecas, manchas diante dos olhos, síndrome de fadiga-tensão Outras Enurese noturna, círculo escuro sob os olhos, sudorese noturna, febre baixa, rouquidão, mialgias e palidez Alergia à proteína do leite de vaca (APLV) Reação do sistema imune quando o organismo entra em contato com a proteína do leite de vaca (β- lactoglobulina, α-lactoalbumina e caseína). Causada pela inclusão precoce do leite de vaca e fórmulas infantis na alimentação da criança em detrimento do leite materno, ou por contato com a PLV no leite materno. Reações mediadas por IgE geralmente são reconhecidas por causa da urticária, angioedema, eczema, sintomas GI, e os sintomas respiratórios surgem dentro de 2 horas de consumo da proteína do leite de vaca (PLV). As reações não mediadas por IgE são mais difíceis para identificar devido ao tempo mais longo entre a sua manifestação e o consumo de PLV, algumas vezes no período de 20 horas. Os sintomas podem incluir a doença do refluxo gastroesofágico (DRGE), eczema, choro persistente, diarreia e constipação. A maioria das crianças com APLV supera a reação aos 5 anos em reações mediadas por IgE e aos 3 anos para reações não mediadas por IgE sem complicações. Diagnóstico Exclusão de alimentos contendo proteína do leite de vaca por um curto período, seguida pela reintrodução dos alimentos observação de sintomas Medição dos níveis de IgE Testes cutâneos Terapia nutricional Objetivo: evitar desencadeamento dos sintomas, a progressão da doença e a piora das manifestações alérgicas e proporcionar a crianças crescimento e desenvolvimento adequados. ✓ Exclusão dos alérgenos alimentares ✓ Utilização de fórmulas ou dietas hipoalergênicas, em lactentes. Fórmulas parcialmente hidrolisadas: Enfamil, Good Start Gentle PLUS Fórmulas extensamente hidrolisadas: Nutramigen, Pregestimil Premium, Similac, Pregomin. Fórmulas a base de AAs livres: EleCare, Puramino, Neocate. Fórmulas de soja: Enfamil Soy, Good Start Soy, Similac Soy Isomil, Aptamil Soja, Nan Soy, Milnutri Soja, Isomil Orientações ✓ Não consumir leite e derivados ou produtos/preparações que contenham leite ✓ Ler rótulos de produtos alimentícios ✓ Ler a bula de remédios (lactulona, suplementos de cálcio) ✓ Ler rótulo de cosméticos (podem conter leite e em contato com a pele, provocar alergia). Ingredientes que podem conter leite de vaca: Caseína, caseinato, coalho, composto lácteo, lactoalbumina, lactoglobulina, lactose, lactulose, proteínas do soro, soro do leite, whey protein, aroma de queijo, sabor artifical de manteiga, sabor de caramelo, sabor creme de bavária, sabor creme de coco, sabor iogurte, sabor leite condensado, sabor queijo, sabor açúcar queimado e leitelho. PREVENÇÃO Aleitamento materno exclusivo Mães de crianças com risco de AA, ofertar alimentos alérgenos após os 3 anos de vida da criança Cautela na introdução de alimentos (leite de vaca a partir de 1 ano, peixe a partir de 2 anos e amendoim a partir dos 3 anos) No caso de crianças com histórico familiar de alergia que não podem ser amamentadas, utilizar formulas infantis parcialmente hidrolisadas. ALERGIA INTOLERÂNCIA Idade de início Primeiros anos de vida Qualquer idade Sistemas acometidos Cutâneo, respiratório, gastrintestin al, cardiovascul ar Gastro- intestinal Desencadean te Proteínas do alimento Alterações anatômicas, ausência de enzimas Tratamento Restrição dietética Restrição dietética, tratamento específico das alterações anatômicas/funcion ais Prognóstico 85% das crianças perdem a sensibilidade aos 3 anos; frutos do mar e amendoim apresentam caráter mais persistente Deficiências enzimáticas são de caráter persistente, mas outras doenças variam de acordo com o tratamento específico
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