Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
NUTRIÇÃO FUNCIONAL E ALERGIAS ALIMENTARES Prof. Dêmia Veiga 2021 INTRODUÇÃO Alergia alimentar é um termo utilizado para descrever reações adversas a alimentos, dependentes de mecanismos imunológicos, IgE mediados ou não. Evento mais comum em crianças. Estima-se que a prevalência seja aproximadamente de 6% em menores de três anos e de 3,5% em adultos e estes valores parecem estar aumentando. TOLERÂNCIA ORAL: o Sistema Imune aceita a presença de macromoléculas em um estado “não responsivo” através do GALT. INTRODUÇÃO Contudo, o processo de tolerância pode se tornar menos eficiente quando: Há redução da amamentação; Deficiência ou retardo na colonização por probióticos; Provável deficiência de alguns nutrientes (ex; zinco). INTRODUÇÃO O Sistema Imunológico trabalha com um sistema de defesa complexo, protegendo o indivíduo de vírus, bactérias, parasitas, além da identificação de antígenos e criação de uma defesa específica de cada organismo. Devido a INDIVIDUALIDADE BIOQUÍMICA alguns indivíduos podem ingerir a mesma proteína alimentar e apresentar respostas diferentes: urticária, dermatite atópica, doença intestinal severa ou até mesmo ausência de sintomas. CLASSIFICAÇÃO HIPERSENSIBILIDADE IMEDIATA Fácil diagnóstico; manifestação de sintoma-consumo imediata. HIPERSENSIBILIDADE TARDIA Difícil diagnóstico (clínico ou bioquímico); Induz o uso de medicamentos (anti-histamínicos, corticóides, AINEs) que agravam e/ou cronificam a doença. CLASSIFICAÇÃO – TIPO I SINONÍMIA: IMEDIATA: reações podem ocorrer imediatamente após a ingestão ou até 8h após o consumo. ANAFILÁTICA: pode causar hipotensão ou até choque. Potencialmente fatal, caso não seja tratada imediatamente. CÉLULAS ENVOLVIDAS: mastócitos, basófilos e eosinófilos. IMUNOGLOBULINA: IgE -> reação cruzada que leva à inflamação tecidual. CLASSIFICAÇÃO- TIPO II SINONÍMIA: Citotóxica, citolítica, dependente de anticorpos e complemento; Semi-retardada CÉLULAS ENVOLVIDAS: Linfócitos T e macrófagos IMUNOGLOBULINA: IgG e IgM -> reagem com o antígeno aderido à célula levando à destruição ( Tireoidite de Hashimoto) CLASSIFICAÇÃO- TIPO III SINONÍMIA: Imunomediada: promovem a destruição do tecido CÉLULAS ENVOLVIDAS: Linfócitos polimorfonucleares e macrófagos IMUNOGLOBULINAS: IgG e IgM: reação cruzada que causa inflamação do tecido. CLASSIFICAÇÃO- TIPO IV SINONÍMIA: Hipersensibilidade retardada, tardia, mediada por células ou imunidade celular mediada por linfócitos T. CÉLULAS ENVOLVIDAS: Linfócitos T e macrófagos IMUNOGLOBULINAS: Não participam A reação ocorre de 24 até 96h após o contato com o alérgeno. EX: Síndrome enteropática induzida por PTN (APLV); doença celíaca; dermatite herpetiforme (glúten) ALERGIAS ALIMENTARES Reações adversas aos alimentos (RAA) não tóxicas ou hipersensibilidades alimentares que incluem uma gama diversa de manifestações clínicas resultantes da ingestão de um antígeno (alimento) que envolve mecanismos imunológicos. Essas reações mediadas pelo Sistema Imunológico pode ou não ocorrer participação da IgE, mas sempre há envolvimento celular. CONCEITOS ALÉRGENOS ALIMENTARES Proteínas mal digeridas ou molécula ligada à uma PTN alimentar identificada como “corpo estranho” e que possuem propriedades favoráveis ao desencadeamento do processo alérgico. REAÇÕES TÓXICAS Mimetizam hipersensibilidades e ocorrem tipicamente devido aos fatores próprios do alimento, como agentes tóxicos próprios do alimento que pode afetar os indivíduos ( histamina dos peixes, tiramina dos queijos) CONCEITOS Principais alimentos alérgenos ( Proteína de difícil digestão): Leite de vaca; leite de cabra; soja, trigo, glúten;ovo, peixes, frutos do mar, milho e cítricos REAÇÕES PODEM SER RESULTADO DE: Intolerância alimentar (hipersensibilidade não alérgica) Hipersensibilidade/Alergia alimentar ALÉRGICO A ALIMENTOS COM POSSÍVEL REAÇÃO CRUZADA RISCO DE REATIVIDADE CLÍNICA PRINCIPAL PROTEÍNA COMUM Leguminosa (ex: amendoim) Ervilha, lentilha, feijão, soja 5% Vicilinas, globulinas Castanha (ex: nozes) Castanha do Pará, avelã, castanha de caju 37% Prolaminas Peixe (ex: salmão) Peixe-espada, linguado 50% Parvalbuminas Crustáceo (ex: camarão) Caranguejo, siri (inalantes, ácaros, barata) 75% Tropomiosina Grão (ex: trigo) Centeio, cevada 20% Inibidores da protease, alfa-amilase Leite de vaca Carne bovina 10% Albumina bovina sérica Leite de vaca Leite de cabra 92% Caseína, proteínas do soro INTOLERÂNCIA ALIMENTAR Respostas adversas causadas por características fisiológicas sem o envolvimento de mecanismos imunológicos EX: Defciência de lactase DESENVOLVIMENTO DAS ALERGIAS ALIMENTARES FATORES QUE FAVORECEM AS HIPERSENSIBILIDADES Alterações na integridade do TGI (causa e consequência: ciclo vicioso) Consumo frequente de CHO refinados e aditivos; Consumo regular de fatores antinutricionais ( excesso de cafeína, álcool...) Deficiência de enzimas digestivas (hipo ou acloridria) Alérgenos alimentares Infecções (bactérias, vírus, fungos...) FATORES QUE FAVORECEM AS HIPERSENSIBILIDADES Alta exposição às EROs; Carências nutricionais ( Zinco; vitaminas A, E, B1, B5, B6, folato, D, Mg e L-Glutamina) Medicação: AINEs, anticoncepcional, antibióticos, laxantes; Consumo de FVL inferior a 400g -> fonte de fibras prebióticas SINAIS E SINTOMAS Nos quadros clínicos de alergias alimentares não há especificidade de sinais e sintomas. Doenças alérgicas, metabólicas, processos inflamatórios e distúrbios da motilidade intestinal -> Sinais e sintomas semelhantes SINAIS E SINTOMAS Condições clínicas associadas às hipersensibilidades alimentares MECANISMO/ALVO CONDIÇÕES CLÍNICAS MEDIADAS POR IgE E CÉLULAS GASTRINTESTINAL ESOFAGITE EOSINOFÍLICA ALÉRGICA, GASTRENTERITE EOSINOFÍLICA ALÉRGICA CUTÂNEOS DERMATITE ATÓPICA RESPIRATÓRIOS ASMA MEDIADAS POR CÉLULAS GASTRINTESTINAL ENTEROCOLITE INDUZIDA POR PTN ALIMENTARES PROCTOCOLITE INDUZIDA POR PTN ALIMENTARES ENTEROPATIAS INDUZIDAS POR PTN ALIMENTARES DOENÇA CELÍACA CUTÂNEOS DERMATITE DE CONTATO, DERMATITE HERPETIFORME SINAIS E SINTOMAS Sintomas de alergias alimentares SISTEMA -ALVO SINTOMAS GASTRINTESTINAL Dor abdominal, náuseas, vômitos, diarréias, sangramento intestinal, prurido oral e faríngeo CUTÂNEO Urticárias, eczemas, angioedema, eritema, coceira RESPIRATÓRIO Rinite, asma, tosse OUTROS Mudanças de comportamento, enxaquecas, distúrbios psiquiátricos e neurológicos SINAIS E SINTOMAS Sintomas clínicos de alergia alimentar tardia Sintomas gastrintestinais (cólicas, náuseas, eructações e flatulências); Refluxo esofágico em lactentes; Constipação intestinal crônica; Síndrome do intestino irritável; Desordens cutâneas (urticária aguda e dermatites); Distúrbios de ansiedade, depressão, déficit de memória e síndrome do pânico. DIAGNÓSTICO Suspeita diagnóstica de acordo com as manifestações clínicas ( anamnese e exame físico) Dieta de eliminação dos alimentos suspeitos ( desaparecimento dos sintomas) Teste de desencadeamento positivo -> DIAGNÓSTICO DIFÍCIL DIAGNÓSTICO ALERGIA IMEDIATA Teste cutâneo alérgico de puntura; Medição dos títulos de IgE alimento-específicos; Medição de IgG. HIPERSENSIBILIDADE TARDIA Diagnóstico mais difícil Não há um método absoluto TESTE DIETÉTICO PADRÃO OURO DIAGNÓSTICO Quando há muitos sintomas típicos de alergia alimentar tardia deve-se aplicar um questionário específico. Diário de registro alimentar Teste de eliminação DIAGNÓSTICO Questões fundamentais que devem ser consideradas: Você almoça em um restaurante? Se sim, costuma apresentar cansaço após uma a duas horas após a refeição? Tem tosse seca? Quantas vezes tosse durante 24h? Você apresenta flatulência, eructação, distensão abdominal ou cólica, após as refeições? Você tem necessidade de limpar a garganta? Com que frequência? Quantas vezes por dia? TRATAMENTO ETAPAS: Dieta por eliminação (período de eliminação) Desafio (período de reintrodução dos alimentos) PROTOCOLO Aplicação do questionário para identificação dossinais e sintomas (QRM) Dieta Reaplicação do questionário + exame físico DIETAS DE ELIMINAÇÃO O diagnóstico definitivo e o tratamento das alergias alimentares tardias depende dos testes dietéticos e da eliminação do alimentos suspeitos e observação dos sintomas. VANTAGENS: Útil ao diagnóstico; Baixo custo; Pode ser repetida quantas vezes forem necessárias; Os alimentos suspeitos são eliminados por, pelo menos 2 semanas, ou até que os sintomas desapareçam; Caso os sintomas persistam, aplicar dietas mais restritivas excluindo os alérgenos mais comuns (LV, ovo, trigo, entre outros) DIETAS DE ELIMINAÇÃO DIETAS DE ELIMINAÇÃO DIETAS DE ELIMINAÇÃO MODIFICADA Eliminar os alimentos que apresentam maior incidência de reação tardia; Todos os alimentos são eliminados de forma simultânea, por um período mínimo de 30 dias, não sendo superior a 60 dias; Após esse período proceder avaliação cuidadosa + exame físico detalhado. DIETA DE ELIMINAÇÃO MODIFICADA REINTRODUÇÃO DOS ALIMENTOS Os alimentos podem ser reintroduzidos individualmente ou em grupos. EX: leite ou queijo ou manteiga (reações distintas); laticínios em geral. ETAPAS Cada alimento ou grupo deve ser consumido pelo menos 3x dia em porções usuais; Dieta de eliminação modificada por 3 dias; Após resolução dos sintomas reintroduzir um novo alimento repetindo o processo; INTERVALO ENTRE ALIMENTOS: 4 dias. REINTRODUÇÃO DOS ALIMENTOS Caso haja alguma reação duvidosa a algum grupo ou alimento ao final do processo -> Repetir a dieta ao final de todas as reintroduções. Separar os alimentos dos seus grupos EX: No 1º momento os cereais foram testados. No 2º momento testar de forma individual ( trigo, cevada, centeio, malte...) Método sensível para identificar e tratar as alergias alimentares tardias e as hipersensibilidades. DIETA DE ROTAÇÃO Utilizada no manejo de longo prazo em indivíduos atópicos. OBJETIVOS: Eliminar alimentos altamente alergênicos ( inicialmente, período variável) Reduzir os alimentos moderadamente alergênicos ( conforme teste IgG ou cutâneo) Tornar a alimentação mais variadas e menos alergênica Contribuir para a melhora clínica do paciente. DIETA DE ROTAÇÃO PROPOSTA Elaborar 4 cardápios que devem ser seguidos na ordem sugerida possibilitando o consumo do alimento a cada 5 dias; Possibilitar um descanso do SI, com a redução da carga do alérgeno; A rotação é elaborada de acordo com a família botânica que o alimento pertence. Membros da mesma família que não se tem alergia: consumir a cada 2 dias Membros da mesma família que se tem alergia: consumir 1x a cada 4 dias DIETA DE ROTAÇÃO DIETA DE ROTAÇÃO DIETA DE ROTAÇÃO PROGRAMA 6R’s Remover: alérgenos alimentares, patógenos, xenobióticos; Recolocar: HCl, enzimas digestivas; Reinocular: dieta não irritativa para o reparo da mucosa ( complexo B, Zn, Ω-3, glutamina, vitaminas A e D) Reparar: prebióticos e probióticos; Reequilibrar: sono, estilo de vida Reavaliar: sintomas iniciais. REMOVER Remover organismos patogênicos, alérgenos e xenobióticos. Isso inclui leveduras, parasitas e bactérias nocivas, além de alimentos imunologicamente reativos, como aqueles contendo glúten, laticínios, alimentos processados, açúcar e álcool. Dependendo do resultado do exame genético talvez seja necessário excluir outros alimentos como feijões, soja, nozes, castanhas, ovos e café. RECOLOCAR Enzimas digestivas (pancreatina); HCl. REPARAR Reparar o revestimento intestinal com nutrientes adequados como glutamina*, zinco, ácido pantotênico (vitamina B5), ácidos graxos essenciais. REINOCULAR Reinocular o intestino com bactérias benéficas usando suplementos pré e probióticos. Consumir alimentos fermentados como chucrute, kefir e natto (soja fermentada). REEQUILIBRAR Reequilibrar sua vida com mais movimento, melhor sono e menos estresse (práticas de yoga e meditação também ajudam) REAVALIAR Registrar o que você come em cada refeição e avalie seus sintomas, sua piora ou melhora com cada estratégia. SUPLEMENTOS NA ALERGIA GLUTAMINA (5 a 10g/dia) Promove proliferação das tight junctions. Em processos inflamatórios tem a demanda aumentada. SUPLEMENTOS NA ALERGIA ÔMEGA 3 (500 mg EPA + DHA) Ajuda a modular a microbiota. Reduz a endotoxemia metabólica. SUPLEMENTOS NA ALERGIA VITAMINA D (2000 a 4000 UI/dia) Age na imunidade inata e adaptativa. Reduz a inflamação. Regula a barreira intestinal Modula a microbiota SUPLEMENTOS NA ALERGIA VITAMINA A ( H: 900 mcg/ M: 700 mcg) Antioxidante. Estimula a síntese de citocinas antiinflamatórias. Aumenta a expressão de macrófagos, céls NK e céls T. SUPLEMENTOS NA ALERGIA ZINCO( 30mg/dia) Aumenta a atividade de céls NK Age na imunidade inata e adaptativa. Regula a atividade de macrófagos, neutrófilos, linfócitos T e B. Aumenta a expressão das tight junctions. SUPLEMENTOS NA ALERGIA Ganoderma lucidum ( LING ZHI) Age como fibra prebiótica. Atua na resposta imune inata (modulação da IgA) DOSE: 2 caps + probióticos antes de dormir. ESTRATÉGIAS Padrão alimentar mediterrâneo Padrão Planted-based Low FODMAP’S REFERÊNCIAS ACCIOLY, E; SAUNDERS, C; LACERDA, EMA. Nutrição em Obstetrícia e Pediatria. Cultura Médica, 2003. BREITENEDER. H. Molecular aspects of food proteins that contribute to allergenicity. 60th Annual Meeting of AAAAI, San Francisco, CA, March P. 19-23. 2004. DAN L. WAITZBERG. Nutrição Oral, Enteral e Parenteral na prática clínica. São Paulo: Altheneu. 4 ed. 2009. LEÃO, L; GOMES, M. Manual de nutrição clínica: para atendimento ambulatorial do adulto. Rio de Janeiro: Vozes, 2006. MAHAN L & ESCOTT-STUMP S. KRAUSE. Alimentos, Nutrição e Dietoterapia. São Paulo: Rocca, 11 ed. 2005. SICHERER SH. Clinical implications of cross-reactive food allergens. J Allergy Clin Immunol 2001. SOLÉ, D. et al. Consenso Brasileiro sobre Alergia Alimentar: 2007. Documento conjunto elaborado pela Sociedade Brasileira de Pediatria e Associação Brasileira de Alergia e Imunopatologia. Rev. bras. alerg. imunopatol. V: 31, n 2. 2008
Compartilhar