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Dalila Fassarella Corrêa Artrite Reumatoide 1. Conceito. ✓ Doença inflamatória sistêmica1, autoimune2, crônica3 e progressiva4. 1) órgãos e sistemas são acometidos; 2) perda da tolerância imunológica, autoanticorpos; 3) não tem cura, tende a evoluir com períodos de remissão e exacerbação dos sintomas; 4) se não houver tto adequado, pode evoluir com destruição das articulações. ✓ Caracterizada por sinovite periférica e por diversas manifestações extra articulares. • Memb. sinovial: substrato anatômico mais característico do acometimento articular na AR. ✓ Articulações acometidas têm sinais flogísticos – dor, rubor, calor, edema e, com o passar do tempo, redução da função (instabilidade articular). 2. Características epidemiológicas. ✓ Até 1% da pop. mundial. ✓ 0,5 a 1% em países desenvolvidos. ✓ Brasil: 0,46% de adultos – aprox. 1 milhão. ✓ 35-50 anos, mulher 3:1 (América Latina 8:1). ✓ Hist. familiar aumenta o risco de 3-5x. ✓ Grande impacto social: piora da qualidade de vida, incapacidade funcional, perda de produtividade e altos custos para a sociedade. ✓ Relacionada ao aumento da mortalidade por dçs cardiov., infecções e neoplasias. 3. Etiopatogenia. ✓ Causa desconhecida; múltiplos fatores podem desencadear/perpetuar. • Genéticos (influência poligênica; 15% da susceptibilidade). - HLA DRB1: principal predisponente. • Hormonais. - Sexo feminino: 3-4x mais – estrogênio. • Ambientais. - Tabagismo: aumenta risco de aparecimento da AR e do FR; relaciona-se com gravidade da dça e manifestações extra articulares. • Infecções, periodontites, alterações da microbiota intestinal – gatilhos. ✓ Patogênese: • Tabagismo, infecções (parvovírus, Epstein- barr vírus, P. gengivalis, alterações da microbiota intestinal) induzem a prod. de enzimas que alteram peptídeos próprios (transformam resíduos de arginina em citrulina), resultando no surgimento de um neoepítopo. Citrulinização. • Neoepítopos são apresentados aos linfócitos CD4+, os ativando. Estes, ativam os linfócitos B, que passam a produzir autoanticorpos (contra peptídeos citrulinados das proteínas e o fator reumatoide). Autoimunidade (fase que pode preceder a dça clínica por anos). • Associados a fatores biomecânicos (trauma), fatores neuroendócrinos (desregulação neural), infecções e alterações da microvasculatura, os linfócitos CD4+ passam a recrutam para dentro da articulação monócitos, macrófagos, que produzem citocinas centrais no processo inflamatório da AR. IL1, IL6, TNF-a e metaloproteinases. Recrutamento articular. • Logo, a resposta inflamatória persistente é traduzida clinicamente pelo aparecimento de alterações articulares de artrite, artralgia inflamatória, sinovite e, com o passar do tempo, erosões ósseas, cistos ósseos e sequelas articulares. • Na fase crônica, forma-se o Pannus (tecido invasivo que recobre a cartilagem e o osso subcondral), composto pelas céls infl. que invadiram as artic. acometidas; tais céls produzem enzimas destrutivas que progressivamente destroem todas as estruturas da artic. – esse caráter invasivo é que define o surgimento de erosões, cistos ósseos e deformidades progressivas. ✓ Manifestações clínicas. • Sintomas iniciais podem ser articulares ou sistêmicos. • Na maioria, é de forma lenta e progressiva; 15- 30% de forma aguda/subadguda. • Gerais: febre baixa, fadiga, astenia, mialgia, perda ponderal. • Artralgia: ritmo inflamatório (pior de manhã e a noite – após repouso) - Rigidez articular pela manhã (rigidez matinal), com duração > 60min, e após longos períodos de imobilização prolongada. • Artrite: calor, rubor, edema com ou sem derrame intra-articular, redução de ADM (amplitude de movimento). - Pequenas articulações de mãos e pés: MCF’s, IFP’S, IF’s polegares, punhos, MTF’s. Dalila Fassarella Corrêa - Quadro típico: poliartrite simétrica e aditiva de pequenas e grandes articulações com caráter crônico e destrutivo. • Evolução arrastada/tto inadequado: instabilidades e deformidades articulares. • Síndrome de Felty: pcts com AR de longa evolução passam a desenv. manifestações dermatológicas também de origem AI, de neutropenia e esplenomegalia. 4. Tipo de artrite específica, principais articulações acometidas e deformidades que podem ocorrer com a evolução da doença. ✓ AR de início recente. • volume das IFPs dos 2º e 3º quirodáctilos. ✓ AR avançada/estabelecida. Há sequelas – incapacidade de realização das ativ. diárias; provavelmente já passou por quadro doloroso de artrite crônica. • Nódulos reumatoides – nodulações nas IF’s. • Semiflexão do punho com saliência da cabeça da ulna. • Polegar em Z – flexão fixa da MCF + hiperextensão da IF. • Dedo em botoeira – flexão da IFP + hiperextensão da IFD. • Dedos em ventania – desvio ulnar (subluxação das MCFs). • Dedo em pescoço de cisne – hiperextensão da IFP + flexão da IFD. • Mão reumatoide: semiflexão e tumefação do punho com saliência da cabeça da ulna e hipotrofia da musc. interóssea. + tumefação das MCF = “mãos em dorso de camelo”. • volume dos joelhos, hipotrofia dos quadríceps, geno valgo; relaxamento ligamento-tendinoso levando a deformidades em valgo/varo. • Dedo em martelo – flexão permanente da IFD (obs principalmente nos pés). • Pé plano reumatoide (desabamento de arco plantar); hálux valgo bilateral exuberante. - Com o tempo, desenvolvem calosidades mto dolorosas. 5. Manifestações extra articulares. ✓ Cutâneas (30%): nódulos subcutâneos, púrpura palpável (vasculite leucocitoclástica), úlceras isquêmicas, equimoses. manifest. extra artic. mais freq. (40% dos pcts com AR) – nódulos reumatoides. ▪ Indolores, móveis. ▪ Principalmente em pcts FR+, relacionam- se com dça mais agressiva. ▪ Sob superfícies extensoras articulares – cotovelo, linha ulnar, mãos (MCF’s, IF’s), tuberosidade do ísquio e calcanhar. ▪ Vísceras – olhos, pulmões, cordas vocais (result. de vasculite de peq. vasos). ✓ Vasculite Reumatoide: cutânea (púrpura palpável, úlceras MMII, infartos periungueais, necrose), neuropatia periférica, vasculite de vasos coronarianos/mesentéricos/cranianos/renais. ✓ SNC: mielopatia cervical, compressão nervosa periférica (sínd. túnel do carpo). ✓ Cardio.: pericardite, miocardite (formação de granulomas/vasculite), endocardite, disturb. de condução, arterite coronariana, IAM. ✓ Pulmonares: pleurite com ou sem derrame pleural (dor pleurítica – na insp. profunda), fibrose intersticial, pneumonite com ou sem vasculite, nódulos, sínd. de Caplan (mineradores). Na asculta: crepitação. ✓ Nefro.: glomerulopatias, dça intersticial tubular renal. ✓ Ocular: ceratoconjutivite sicca, episclerite, esclerite, uveíte anterior. 6. Critérios classificatórios ACR/EULAR 2010. ✓ Leva em consideração pontuações para domínios; quando a somatória for > ou igual 6, define o diag. de AR. Domínios: ✓ Articular: artralgia inflamatória ou artrite. • Artic. grande: ombro, cotovelo, coxofemoral, joelho e tornozelo. ❖ 1 artic.: 0 pt. ❖ 2-10 artic.: 1 pt. • Artic. pequena: MCF, IFP, MTF (2º ao 5º pododáctilos). ❖ 1-3 artic.: 2 pts. ❖ 4-10 artic.: 3 pts. ❖ +10 artic., pelo menos 1 peq.: 5 pts. - Peso maior na pontuação pois essas são acometidas com mais freq. na AR. • Artic. excluídas: IFD, 1º MTF, 1º carpometacarpal – mais acometidas nas OA. ✓ Marcadores sorológicos: dosagem de autoanticorpos da AR (FR e Anti-CCP). ❖ FR e Anti-CCP negativos: 0 pt. ❖ 1 ou ambos em títulos baixos.: 2 pts. ❖ 1 ou ambos em títulos altos: 3 pts. ✓ Duração. ❖ < 6 semanas: 0 pt. ❖ > 6 semanas: 1 pt. ✓ Provas inflamatórias: elevadas nos períodos de exacerbação da dça e normalizadas nos de remissão – vel. de sedimentação e proteína C reativa. ❖ VHS e PCRnormais: 0 pt. ❖ VHS e/ou PCR elevado(s): 1 pt. Dalila Fassarella Corrêa 7. Sorologia. ❖ FR: ✓ positivo em 70-80% dos pcts com AR. ✓ É um autoanticorpo direcionado contra a fração Fc da IgG humana. • Pode estar presente em diversas situações de estímulo crônico do sist. imune. Por ex.: ✓ Como teste diag. é limitado pois é negativo em até 50% dos pcts no início da dça. • Logo, FR- não exclui o diag. Assim como, o FR+ deve ser cuidadosamente interpretado de acordo com achados clínicos. ✓ FR+ relaciona-se com: • Prognóstico radiológico pior – pcts tendem a evoluir com cistos, erosões e deformidades de forma mais precoce se não for instituído tto adequado. • Aumento da mortalidade por dça cardiovasc. ❖ Anticorpos contra peptídeos citrulinados cíclicos (anti-CCP): ✓ Método ELISA. ✓ Boa aplicabilidade clínica: aparecem precocemente, sensib. de 75% e especif. de 95%. • Especif. superior a do FR. ✓ Auxilia nos casos de FR-. ✓ Raramente presente em outras dçs (exceção: tuberculose ativa). ✓ Indicador de prognóstico e progressão da dça. 8. Exames complementares úteis. ✓ Radiografia convencional. • Simetria. • Ostopenia (inicialmente pariarticular). • partes moles (traduzem acometimento). • espaço articular (destruição progressiva). • Erosões ósseas. • Cistos ósseos ou geodas: áreas translúcidas subcondrais – invasão da cartilagem/osso subcondral pelo pannus. • Deformidades e instabilidades. ✓ USG. • Método não invasivo e de custo acessível. • Detecta: sinovite, derrame articular e erosão. • Recurso adicional – Power Doppler: avalia vascularização sinovial que contribue para o monitoramento terapêutico (por ex.: na fase ativa, tende a ocorrer hiperfluxo – se este é detectado, a artrite não está controlada. Logo, deve-se mudar a terapêutica). ✓ Ressonância nuclear magnética. • Mais sensível que raio-x convencional para identificar erosões. • Sinovite: espessamento sinovial pelo meio de contraste e espessura > 1 mm. • Erosão óssea: lesão justa-articular regular e visível em dois planos, com ruptura da cortical vista em pelo menos um plano. 9. DAS28 (índice de atividade de doença). ✓ Grande aplicação no monitoramento dos pcts e em estudos clínicos; permite reconhecer se o tto está sendo efetivo ou não; feito desde a 1ª consulta. ✓ Contagem de dor e edema em 28 artic., VHS, avaliação da saúde geral pelo pct nos últimos 7 dias (escala EVA: nota de 0-10). ✓ O objetivo é chegar a “remissão” ou “baixa”. Dalila Fassarella Corrêa 10. Fatores de mau prognóstico. Variáveis demográficas •Sexo feminino •Tabagismo •Início da doença em idade precoce •Baixo nível socioeconômico e de educação formal Variáveis relacionadas com a doença •Demora no diagnóstico e atraso no início do tratamento •Níveis de atividade da doença: acometimento de mais de 20 articulações, VHS e/ou PCR persistentemente elevadas, ICAD elevados •Presença de fadiga e perda rápida da capacidade funcional •Proliferação sinovial de início rápido •Presença de manifestações extra articulares •Alterações radiográficas ósseas precoces •Fator reumatoide e anti-CCP em títulos altos •Fatores genéticos: epítopo compartilhado 11. Tratamento. ✓ Educação do pct e familiares. ✓ Exercícios contra resistência e aeróbicos. ✓ Fisioterapia. ✓ Psicoterapia, terapia ocupacional. ✓ Abordagem cirúrgica – quadros avançados. ✓ Terapia medicamentosa. • AINES. • Glicocorticoides. • Imunossupressores. • Medicamentos modificadores do curso da doença (MMCD) – retardam o dano articular, que aumenta com tempo. - Sintéticos: direcionados contra toda a cascata inflamatória, que gera deposição de céls inflam. nas artic., passando a produzir mtas citocinas. o Convencional: metrotrexato (MTX), sulfassalazina, leflunomida. o Alvo específico: tofacitinibe (inibidor da JAK1 e 3), baricitinibe (inibidor da JAK 1 e 2). enzima resp. pela sinalização intracel. da via JAK-STAT. - Biológicos: direcionados para alvos específicos, produzidos em lab. de alta tecno., alto custo. o A maioria age inibindo o TNF (fator anti- tumoral; glicoprot. produzida e secrecretada princ. por macrófagos). Induz a prod. de IL-1 e IL-6, proteínas degradadoras da cartilagem e osso, e ativa endotélio, neutrófilos e eosinófilos. Níveis elevados no sangue, sinóvia e liq. articular em pcts com AR, artrite psoriásica e espondilite anquilosante. o Original: adalimumabe, certolizumabe pegol, etanercepte, golimumabe, infliximabe, abatacepte, rituximabe, tocilizumabe. o Biossimilar: infliximabe. o Não há dados suficientes sobre comparações diretas entre agentes biológicos que permitam definir superioridade de um sobre o outro. 12. Cuidados pré-prescrição dos MMDC. ✓ Rastreio de TB ativa/latente. • Questiona-se sobre emagrecimento, tosse crônica, sudorese noturna. • Se ativa: precisa tratar antes do tto com biológico da AR. • Se latente: houve ctt com a bactéria, mas a integridade do sist. imune, principalmente com a atuação do TNF, desenvolveu resposta contra a bactéria da TB que permite a formação de um granuloma no pulmão, sem a disseminação sistêmica da infecção e mtas vezes sem sintomas. - MMDC biológicos -> comprometimento da integridade do sist. imune, principalmente por bloq. da ação do TNF -> Mycobacterium pode se reativar, passando a ter sintomas de TB ativa ou disseminada. • Faz-se o rastreio: RX tórax/PPD. injeção intradérmica da tuberculina -> 72-96h faz- se a leitura -> se houve ou não pápula de inculação (0-4 mm: não reator/5-9mm: reator fraco/10ou >: reator forte). - PPD > 5mm/ctt com pct TB ativa/alteração radiológica compatível com TB prévia. Tto preventivo: isoniazida 5- 10mg/kg/dia (máx 300mg/dia) por 6-9 meses – após 1 mês deste início, é permitido começar o biológico. ✓ Pesquisa de HIV / HBV / HCV. Dalila Fassarella Corrêa • Deve-se evitar a adm MMDC biológico na presença dessas infecções – podem ser usados, mas sempre em associação com tto antiviral. ✓ Câncer. • Ainda há grande controvérsia a respeito dessa relação; a indicação do uso do MMCD biológico depende do tipo de dça apresentada. • Dça maligna sólida – CA de pele não melanoma: - > 5 anos de tto do CA: pode adm qlqr biológico. - < 5 anos de tto do CA: rituximabe (RTX) é o recomendado. • Exceções: pcts que tiveram melanoma ou dça linfoproliferativa (linfomas, leucemias) previamente tratados, independente se > ou < de 5 anos: RTX. ✓ Atualizar cartão vacinal: • Pneumo/meningo/hepatite B/hepatite A/Haemophilus (Hib)/difteria e tétano/influenza/HPV. • Vacinas de vírus vivo atenuado (pólio, tríplice viral, febre amarela, BCG) devem ser avaliados caso a caso. Pois pcts em uso de biológico, podem, ao tomar a vacina, desenvolver a dça. 13. Retirada das medicações. ✓ Caso resposta completa (remissão) e sustentada (6-12 meses). ✓ Retirada gradual e cuidadosa: 1) AINE. 2) Corticoides. 3) MMCD biológicos. Mantendo MMCD sintéticos. ✓ Obs.: remissão sustentada e livre de medicamentos é rara. Dalila Nota age na metabolização do folato (faz com que não tenha a produção dele) -> pode causar anemia megaloblástica. é necessário fazer a reposição.
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