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A variação linguística nos livros didáticos de Língua Portuguesa (paper)

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A VARIAÇÃO LINGUÍSTICA NOS LIVROS DIDÁTICOS DE LÍNGUA PORTUGUESA 
Kelly Millena Pereira Velozo¹
Raimunda Marycelle Santos Garcia²
1. RESUMO
O presente artigo tem por finalidade dialogar e apresentar assuntos relacionados ao uso da Variação Linguística em livros didáticos de Língua Portuguesa e a importância desse tema em sala de aula, na formação de cidadãos que respeitam e reconhecem as diversas variedades linguísticas. Para tanto, foram analisados livros didáticos de Português (Ensino Fundamental II) utilizados nas escolas de rede pública, na cidade de São Luís-MA. A metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica, e para além das pesquisas realizadas com os livros didáticos, coletou-se informações por meio de teses, dissertações, artigos científicos e outros livros. Reconhecendo a extrema importância dos livros didáticos no ambiente acadêmico, e a sua grande influência como instrumento que proporciona o desenvolvimento do letramento e da leitura, esse artigo tem como objetivo incentivar o ensino correto das diversas variedades linguísticas nos livros didáticos, para evitar, assim, o preconceito linguístico em sala de aula. Visto que a cultura e a educação são vivas e podem contribuir grandemente para a formação de cidadãos conscientes. 
Palavras Chaves: Livro Didático; Língua Portuguesa; Variação Linguística.
2. INTRODUÇÃO
O artigo intitulado “A variação linguística nos livros didáticos de Língua Portuguesa” é um estudo que tem como base os textos contidos nos livros didáticos (LD) Singular & Plural: leitura, produção e estudo de linguagem (6°,7° e 8° ano) das autoras Marisa Balthasar e Shirley Goulart (2018). Conforme o desenvolvimento da Linguística Moderna muitas foram as alterações e atualizações ocorridas nos livros didáticos, e tanto os docentes quanto os autores de livros didáticos tiveram de se adequar às perspectivas referentes ao ensino-aprendizagem da língua materna e suas abordagens nos livros (BELO, 2014). Sendo assim, levando em conta essa observação referente ao ensino no campo pedagógico, é imprescindível compreender como é realizada a abordagem da variação linguística nos livros didáticos de língua portuguesa atualmente. 
Temos a linguagem, a cultura e a sociedade, ainda que distintas, atuando de forma que não poderiam ser abordadas separadamente, visto que há interdependência entre elas (IBIAPINA, 2012). Ainda conforme Ibiapina (2012), os estudos referentes aos temas acima “têm trazido sérias discussões sobre questões que envolvem o ensino de língua materna, considerando ainda, o fato de ser um país com grandes desigualdades como o nosso”. Por isso, podemos citar o uso das variedades linguísticas,
um assunto tão importante no cenário das diversidades culturais que vivemos. 
Conforme Ribeiro (2014), podemos afirmar que a língua pode ser vista como uma construção humana, como um processo e um produto. E, como já citado, associa-se a linguagem à cultura pelo fato de que falar a língua materna é uma competência que qualquer ser humano pode dispor, em qualquer lugar. No entanto, há um grande problema observado nas escolas mediante o ato dos alunos não saberem escrever por não terem o hábito de leitura, desconhecendo, assim, a escrita das palavras. Logo, devido a isso, é uma tarefa difícil deslocar a língua falada para a escrita, impossibilitando os alunos de exporem seus conceitos de mundo, seus raciocínios (RIBEIRO, 2014). 
No ensino realizado em sala de aula, pode-se encontrar variadas formas de falar, visto que os alunos são pertencentes de comunidades culturais distintas. Logo, ao fazerem uso das língua não-padrão (ou coloquial), e transferirem seus entendimentos, pode ser que haja uma dificuldade no entendimento da língua entre essas diversidades culturas. Tal é a justificação para o fato de diversos alunos relatarem não saberem desenvolverem a escrita culta da sua própria língua. 
Sabemos que é por meio da linguagem que podemos interagir com o mundo e desvendar nossas expressões de subjetividade. Também, é por meio dos livros didáticos que os alunos podem sofrer influências positivas e, assim, desenvolver a comunicação e o entendimento de mundo, tal como a compreensão e o respeito pelas demais variedades linguísticas que vão além da sua própria forma de falar. Deste modo, reconhecendo o importante papel dos livros didáticos, algumas facetas abordadas nesse artigo referem-se a maneira como esses livros tratam a variação linguística, tendo em vista que eles podem formar cidadãos conscientes e indivíduos que, influenciados por esses instrumentos, poderão desenvolver seus próprios conceitos de mundo e compreender as diversidades culturais que os cercam (VELOZO, 2020).
Por fim, levando em conta essas considerações, este trabalho tem por finalidade abordar e discutir algumas análises de ordem teórico-metodológica que serviram de auxílio para o desenvolvimento deste artigo. Esse trabalho é um estudo, realizado por meio de uma análise bibliográfica, sobre o processo de ensino da língua materna e suas variações linguísticas, tendo como enfoque a Teoria da Variação e Mudança Linguística e como as variedades da língua portuguesa são representadas nas unidades temáticas dos livros didáticos selecionados. Tendo em vista que, conforme afirma Velozo (2020): “tal como os livros didáticos são instrumentos de grande auxílio nas práticas de letramento em sala de aula”, a cultura e a educação são vivas e podem contribuir grandemente para a formação de cidadãos conscientes (grifo meu). 
	
3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA	
3.1 A Variação Linguística no âmbito educacional e a Teoria Variacionista 
Infelizmente, apesar dos diversos estudos que vêm sido realizados por meio da sociolinguística e seus pesquisadores, ainda não se deu a devida importância para a influência da variação linguística no âmbito educacional (IBIAPINA, 2012). Por conta disso, muitas pessoas ainda julgam a língua falada tendo como referência a linguagem escrita e, por serem inúmeras as regras que regem a linguagem escrita, aqueles que não a dominam – e pouco praticam a leitura – acabam por receberem rótulos de ignorantes (RIBEIRO, 2014). É lamentável saber que esse fato ocorre até mesmo dentro das salas de aulas, em momentos que os próprios alunos, às vezes sem perceber, atuam em conjunto com o preconceito linguístico quando, com convicção, dizem aos seus colegas “ Você está falando errado!”. No preconceito linguístico não é a língua, propriamente, que é julgada, mas quem a está usando daquele modo (BAGNO, 2007). E por conta da propagação desse tipo de preconceito nas salas de aula, muitos alunos acabam por ficarem “acanhados” e não se expressarem, perdem suas vozes.
Tendo em vista isso, constata-se que a prática do ensino-aprendizagem ensinada nos livros didáticos não é aplicada corretamente, pois ainda não existe um conhecimento do manuseio correto da linguagem (RIBEIRO, 2014). Ora, não podemos simplesmente continuar ignorando “as peculiaridades linguístico-culturais dos alunos e querer substituí-las pela língua da cultura institucionalizada”. Mas devemos respeitá-las e potencializá-las, visto que a língua é um patrimônio cultural de todas as pessoas (IBIAPINA, 2012). Portanto, a escola, como centro de diversos saberes, também possui um papel fundamental para a construção desse conhecimento linguístico, conforme afirma Bortoni – Ricardo (2005):A escola não pode ignorar as diferenças sociolinguísticas. Os professores e por meio deles, os alunos têm que estar bem conscientes de que existem duas ou mais maneiras de dizer a mesma coisa. E mais, que essas formas alternativas servem a propósitos comunicativos distintos e são recebidas de maneiras diferenciadas pela sociedade (BORTONI-RICARDO, 2005, p.15).
No Brasil, o português que falamos é repleto de ramificações que possuem suas raízes na história do país e da sua língua, por conta das diversas influencias linguísticas e culturais que tivemos por meio de povos vindos de muitas partes do mundo. Isso está refletido claramente nas diferenças sociais que nos cercam hoje, tambémpor conta da vasta área geográfica que possuímos. Ora, a língua também é um artefato cultural e, ao proporcionar tamanha interação entre os povos, jamais poderia ser considerada algo homogêneo. 
Essas diferenças culturais que estão presentes em nossa língua, conforme Mollica:“...constituem o fenômeno universal e pressupõe a existência de formas linguísticas alternativas denominadas variantes. Entendemos então por variantes as diversas formas alternativas que configuram um fenômeno variável, tecnicamente chamado de variável dependente. A concordância entre o verbo e o sujeito, por exemplo, é uma variável linguística (ou um fenômeno variável), pois se realiza através de duas variantes, duas alternativas possíveis e semanticamente equivalentes: a marca de concordância no verbo ou a ausência da marca de concordância “( MOLLICA, 2003) (grifo meu).
Ainda segundo Mollica (2003): “todas as línguas apresentam um dinamismo inerente, o que significa dizer que elas são heterogêneas” sendo assim, todo e qualquer sistema linguístico sofrerá alterações significativas com decorrer do tempo. E conforme Ibiapina (2012), é “a heterogeneidade da língua que faz dela um ponto de encontro entre nós e nossos antepassados”. Logo, como esperar que nossa língua seja homogênea? (grifo meu).
Nossa língua é o reflexo de nossas vivências, aqueles que somos, e a nossa forma de dialogarmos com as pessoas ao nosso redor. Quando falamos estamos falando de nós mesmos, como afirma Velozo (2020) ao dizer que “Falar é falar-se”. A língua é algo intrínseco aos seres humanos, permeia a nossa história, expõe nossas crenças e valores, e, assim, as pessoas podem nos conhecer pelo que falamos e como falamos. Logo, como esperar que algo tão ligado ao nosso próprio ser seja arrancando de nós? Portanto, as diferenças não devem ser encaradas como um erro, algo que, como já citado, infelizmente pode ser encontrado até mesmo nas escolas, perpetuando o preconceito linguístico. 
Sendo assim, sabendo que nenhuma língua é falada da mesma maneira, cabe à escola, assim como aos professores e todo o corpo pedagógico, ter como ponto de partida para um ensino saudável e eficiente as variedades linguísticas dos estudantes. Só assim poderemos ter um dos grandes problemas do ensino da língua materna amenizado, visto que a variação linguística ainda é um dos principais fatores que influenciam as relações na sala de aula e na qualidade do ensino da língua portuguesa (IBIAPINA,2012). Conforme Lopes (2020): “faz-se necessário refletir acerca da importância de se trabalhar com diferentes categorias textuais, para que o aluno em formação estabeleça relações significativas” com a leitura e, consequentemente, com sua própria língua. E são os livros didáticos que, como um dos instrumentos didáticos mais utilizados em sala de aula, podem despertar ainda mais o interesse dos estudantes sobre as diversas facetas da língua (grifo meu).
3.2 A variação linguística nos livros didáticos 
Felizmente, muitas editoras têm produzido materiais didáticos que abordam assuntos relacionados a variação linguística, de forma que possam ajudar tanto os professores quanto os alunos a manejarem e introduzirem esse assunto nas aulas. No entanto, ainda assim, a maneira como é ensinado esse tema ainda é feito de forma “arcaica” e tradicional, levando em conta apenas as regras gramaticais e a norma culta e esquecendo de discutir sobre as questões sociais relacionadas a variação linguística. Portanto, cabe aos docentes mostrarem aos seus alunos que não há “certo ou errado” no uso da língua, mas que sim formas adequadas e inadequadas para contextos diferentes (RIBEIRO, 2014).
Tendo em vista isso, são os professores da língua portuguesa que, em suas aulas, devem ensinar seus alunos o que realmente é a língua, os seus usos, quais suas propriedades linguísticas e como ela é usada pela sociedade nas diversas situações do dia-a-dia e em cada lugar. Portanto, cabe aos professores que ajam como mediadores, como uma ponte, entre as demais disciplinas, para que os alunos possam entender como a língua permanece viva em cada canto, e não apenas nas aulas de português. Assim, entenderão a real importância de suas línguas, em quaisquer que sejam o contexto que se encontrem (RIBEIRO, 2014). 
Conforme afirma Velozo (2020), podemos conceituar os livros didáticos como um material estrutural que, com o advento da impressão, possui como finalidade atuar nos processos de ensino-aprendizagem nas escolas. Logo, esses instrumentos educativos não podem ser encarados como apenas “auxiliares de professor”, mas como “tesouros culturais” que, assim como a própria cultura, influenciam de forma grandiosa na formação dos alunos. 
Podemos pensar na escola como um solo produtivo, onde os alunos conseguem florescer e amadurecer e, consequentemente, desenvolver tanto a leitura como a compreensão de mundo e da sua própria cultura. Sendo assim, como afirma Lopes, “faz-se necessário refletir acerca da importância de se trabalhar com diferentes categorias textuais, para que esse leitor de mundo em formação estabeleça relações significativas” com o saber. E o ensino da variação linguística, como um elo que nos une ao mundo e a linguagem, poderá despertar nos estudantes o seu interesse pela linguagem. Todavia, esse interesse só poderá ser concretizado se ele for manuseado e incentivado corretamente pelos mediadores do ensino-aprendizagem, tal como os autores dos livros didáticos (VELOZO, 2020) (grifo meu). 
Conforme Bastos (2004), “há tipos de variação que interferem diretamente na atividade discursiva sob vários pontos de vista”, portanto, tanto os livros didáticos quanto o corpo docente e a escola devem preservar um espaço nas suas abordagens educacionais, para que, assim, os estudantes possam não apenas identificar-se nas variedades linguísticas, mas respeitá-las e refletir acerca das causas reais do preconceito linguístico na sociedade. 
	
4. ANÁLISE DA VARIAÇÃO LINGUÍSTICA NOS LIVROS 
Sabemos que, como já comentado, a escola enquanto instituição de ensino deve se preocupar também em apresentar aos estudantes a norma culta da língua materna. Para isso, faz-se uso de instrumentos didáticos para auxiliar nesse processo de ensino. Logo, é imprescindível que se escolha corretamente quais livros podem melhor atender à necessidade dos alunos. 
Na análise referente a abordagem da variação linguística nos livros didático fez-se uso e pesquisa de textos de gêneros literários distintos, para que, dessa forma, fosse incentivado a reflexão acerca do tema supracitado, por meio das relações intertextuais. Analisou-se quais as abordagens adotadas atualmente por autores de livros ao proporem tal tema para os estudantes. Para isso, foi feita uma sintetização das características dos textos escolhidos, se são textos verbais ou não verbais, se são letras de músicas e/ou poesias, se estão distribuídos harmoniosamente pelas unidades didáticas dos livros escolhidos ou se estão concentrados em unidades específicas, qual a frequência com que o tema é citado e se há realmente sua existência nos livros. 
Tendo isso em vista, este artigo abordará, primeiramente, uma análise geral dos textos contidos nos livros didáticos selecionados. O primeiro a ser analisado é o livro Singular & Plural: leitura, produção e estudo de linguagem (6° ano) das autoras Marisa Balthasar e Shirley Goulart (2018). Trata-se de uma obra que compõe uma coleção de livros didáticos (iniciada do 6° ao 9° ano) que são usados nas escolas de rede pública de todo o Brasil. 
Na unidade 1, as autoras começam trabalhando com a linguagem e a comunicação de forma mais abrangente, retratando a atualidade em que os alunos vivem por conta dos avanços tecnológicos. Após isso, no capítulo 3 da mesma unidade, é retratado os conceitos de linguagem e, por fim, as suas variações. Por meio de perguntas reflexivas, as autoras levam os alunos a pensarem sobre o que eles mesmo acham sobre língua e linguagem. Na página 73 é abordado o tema “Língua e mudança” no qual as autoras, por meio de recursos visuais,levam os alunos a uma viagem no tempo lhes mostrando a seguinte imagem:
FIGURA 1 – Anúncio do século XIX
FONTE: livro Singular & Plural: leitura, produção e estudo de linguagem (6° ano), página 73
Interessante notar que, para situar os alunos das mudanças que a língua sofre conforme o tempo, as autoras usaram de um anúncio contendo a língua portuguesa na forma como era utilizada no século XIX e propuseram atividades de reflexão que poderão despertar a curiosidade e o interesse dos estudantes. Ao lado do anúncio é possível observar uma espécie de glossário que auxiliará os alunos. 
Dando seguimento ao assunto, o capítulo 3 do livro aborda de forma direta as variedades linguísticas, além de conscientizar os alunos sobre o preconceito linguístico e proporem atividades reflexivas sobre os textos selecionados. É possível observar a variedade dos gêneros de discursos selecionados, bem como o uso de tirinhas e imagens que, com ajuda dos professores, poderão desenvolver o vocabulário dos alunos e fazê-los posicionarem mediante as atividades propostas. Como é o caso da tirinha a seguir, seguida de perguntas instigadoras como a letra “g” da 2° questão contida na página 75 “Você diria que Mutum e seus tios compartilham a mesma maneira de falar a língua portuguesa? Explique”. 
FIGURA 2 – Tirinha de humor 
FONTE: livro Singular & Plural: leitura, produção e estudo de linguagem (6° ano), página 74
É possível perceber que as autoras conseguem abordar bem o tema da variação linguística nessa unidade, no entanto, notou-se que essas abordagens foram feitas de forma isoladas, em capítulos específicos. Como é o caso da unidade 2, em que apenas no capitulo 6 é retornado a reflexão do tema, por meio de poesias, trechos de música e tirinhas de humor. Na página 131 é observado o uso da palavra “cabra” na música “Filomena e Fedegoso” de Jackson do Pandeiro (“Eu bem que sabia Que esse cabra era ruim”), como exemplo da existência de variações linguísticas e expressões usadas em determinadas regiões do Brasil, na qual foram feitas atividades que pedem ao aluno que pesquise sobre as regiões que usam esse termo na forma a qual foi empregado. E também o caso do capítulo 10 da unidade 4, no qual em uma atividade de leitura de texto e apresentação oral (perguntas nas páginas 208) foi selecionado um texto que falava sobre a contribuição das línguas indígenas na língua portuguesa, localizado na página 213. Um trecho do texto:
FIGURA 3 – Texto “A contribuição das línguas indígenas”
FONTE: livro Singular & Plural: leitura, produção e estudo de linguagem (6° ano), página 216
Dando seguimento à análise, passemos para o livro Singular & Plural: leitura, produção e estudo de linguagem (7° ano), também das autoras Marisa Balthasar e Shirley Goulart (2018). Na unidade 2, no capitulo 5 há presença das gírias num texto de Luiz Fernando Veríssimo intitulado “Outro você”, esse texto, mesmo que de forma indireta, apresenta aos alunos algumas palavras e termos que as pessoas usam atualmente, especialmente na internet. Tais como “rola um texto na internet”, “zapeando” e “baixando o pau”; porém, infelizmente, não se deu muita atenção às variedades da língua como no primeiro livro, visto que, em nenhuma das perguntas da atividade é voltada análise e/ou discussão sobre o assunto. O máximo que veremos é um glossário explicando os significados das gírias: 
FIGURA 4 – Glossário 
FONTE: livro Singular & Plural: leitura, produção e estudo de linguagem (7° ano), página 109
Ainda nessa unidade, podemos observar, ainda que timidamente, algumas palavras que representam as variedades linguísticas, como na letra de “Com que roupa?” de Noel Rosa, na página 123, em que o termo “cabra” também é utilizado no mesmo contexto linguístico que na música “Filomena e Fedegoso” de Jackson do Pandeiro, presente no primeiro livro. No entanto, não é feita alguma abordagem direta em relação a elas. O máximo proposto é uma atividade que incentivam o aluno a procurar o significado das palavras que ele não conheça:
FIGURA 5 – Atividade
FONTE: livro Singular & Plural: leitura, produção e estudo de linguagem (7° ano), página 123
O mesmo ocorre no capítulo 11 da unidade 4, em um trecho da obra “O Auto da Compadecida” contido nas páginas 241 a 247, em que são usados alguns termos típicos do Nordeste, no entanto, ainda que nessa unidade (e em outras no livro) se use trechos dessa obra, não se é enfatizado tanto o uso das variedades linguísticas presentes nela, mas sim uma abordagem voltada totalmente para a literatura de cordel. Assim como na figura 4, se é usado glossários que expliquem os significados de algumas palavras, mas apenas isso. 
Em seguida, foi-se analisado o livro Singular & Plural: leitura, produção e estudo de linguagem (8° ano) das mesmas autoras. O livro possui em seu conteúdo assuntos importantes e profundos que retratam desde a ética até o preconceito e a desigualdade social. No entanto, ainda que aborde esses temas de forma clara, não se relatou associações diretas com as variedades da língua. O que é algo triste de se relatar visto que, como já citado neste artigo, um dos preconceitos mais recorrentes na sociedade e, muitas das vezes sem nos aperceber, é o preconceito linguístico. 
5. ANÁLISE COMPARATIVA: RESULTADOS E DISCUSSÕES
A partir das análises gerais já comentadas, algumas das observações acerca dos livros didáticos foram estabelecidas, tais como: se há presença de diversos gêneros de discurso para melhor entendimento dos alunos sobre o assunto, se há intertextualidade nas unidades didáticas e se há atividades de caráter reflexivo mediante os assuntos abordados. Por isso, essa pesquisa tem por objetivo contribuir para perspectivas mais abrangentes sobre o tema supracitado e sua relação com os livros didáticos selecionados; para, dessa forma, modificar alguns paradigmas que causam desinteresse e ignorância nos estudantes. 
Foi constatado que em ambos os livros, há presença de temas que retratem questões sociais de caráter reflexivo sobre temas como o preconceito e a exclusão social. Destaca-se especialmente o livro Singular & Plural: leitura, produção e estudo de linguagem (6° ano) que, logo de início, no capítulo 3 da primeira unidade já trata de temas importantes que dão ênfase na existência das variações linguísticas e na mudança que a língua sofre conforme o tempo. Já nos demais livros, como pode ser observado, não há aproveitamento do assunto de variedades linguísticas, mesmo quando há presença de temas sociais e palavras/termo que poderiam despertam o interesse do assunto, como pode ser observado na análise da figura 4 (referente ao segundo livro) e a na análise geral do livro Singular & Plural: leitura, produção e estudo de linguagem (8° ano). 
Durante a análise realizada com o primeiro livro constatou-se que há, sim, a presença de atividades que provocam a reflexão dos alunos, e que os temas abordados não estão ali apenas como base para responder questões. Como no caso da questão 4 da página 77 que, com auxílio visual de uma tirinha de humor, ajuda os alunos a refletirem sobre expressões típicas de determinada região do Brasil e buscarem seus significados, caso não os conheçam: 
FIGURA 6 – Atividade 
FONTE: livro Singular & Plural: leitura, produção e estudo de linguagem (6° ano), página 77
Dando seguimento a análise com o livro Singular & Plural: leitura, produção e estudo de linguagem (8° ano), é possível notar certo descaso das autoras com o tema das variedades da língua se comparado com os livros anteriores, especialmente o primeiro livro que, de forma bem clara, introduz o tema aos alunos do fundamental II de forma genuína e reflexiva. Visto que em momento algum as unidades do livro retratam diretamente ou induzem a reflexão nos alunos sobre o tema. Já no segundo livro, ainda que houvesse palavras e termos (observa a figura 4 e 5) que representassem o vocabulário nordestino e um capitulo que abordasse o gênero cordel, não há uma atenção voltada diretamente para essa variedade linguística. 
Ora, não se pode esperar que umassunto dado no início do ensino fundamental II perdure nas mentes dos estudantes se não houver assuntos relacionados com aquele ensino já iniciado durante o restante de seus estudos. É preciso instigar a curiosidade constantemente, ajudar os alunos a entenderem a importância do tema durante seus estudos, porém, infelizmente nem todos os autores exploram ao máximo o conteúdo dos livros. Felizmente não são todos os livros do ensino fundamental II que possuem essa debilidade. 
Portanto, podemos concluir que (veja o quadro abaixo referente às análises) há realmente a presença de temas sociais e culturais em todos os livros, especialmente no primeiro e no segundo livro, no entanto, nem todos os livros abordam esses temas de forma que o professor possa aproveitá-lo para ajudar os alunos a relacionarem eles com as variedades linguísticas. Caberá ao professor, sem o auxílio desses livros didáticos, trazer o assunto para sala de aula por meio de outros recursos; o que ressalta o fato de que os livros didáticos não devem ser os únicos instrumentos usados pelos docentes, é preciso ir além deles. Para que, assim, se possa ajudar na formação de pessoas conscientes que respeitam as culturas e as diversidades que os cercam. 
Quadro 1 – Análise sobre variação linguística nos livros didáticos
Livro I: Singular & Plural: leitura, produção e estudo de linguagem, 6° ano, Balthasar e Goulart (2018)
Livro II: Singular & Plural: leitura, produção e estudo de linguagem, 7° ano, Balthasar e Goulart (2018)
Livro III: Singular & Plural: leitura, produção e estudo de linguagem, 8° ano, Balthasar e Goulart (2018)
	Os livros contribuem para a formação de pessoas conscientes que respeitam as variações linguísticas?
	S/N (parcialmente) 
	Descritores
	L. I
	L. II
	L. III
	Despertam nos alunos a busca por variações linguísticas fora do livro didático?
	S
	S/N
	N
	Estabelecem algum tipo de relação com outros textos alheios dentro do livro?
	S
	S
	N
	Despertam nos alunos a reflexão sobre assuntos sociais e/ou culturais?
	S
	S
	S
	Há presença de letras de músicas, poesias, e outros gêneros de discursos sendo relacionados com as variações linguísticas?
	S
	N
	N
	Permitem que os alunos consigam identificar e/ou refletir sobre a importância das variações linguísticas?
	S
	N
	N
	Há presença de atividades de caráter reflexivo acerca das variações linguísticas?
	S
	N
	N
 S/N = Sim/Não; L = Livro 
6 REFERÊNCIAS
BAGNO, M. Nada na língua é por acaso: por uma pedagogia da variação linguística. São Paulo: Parábola Editorial, 2007.
BASTOS, N. B. Língua Portuguesa em calidoscópio. São Paulo: EDUC, 2004. Artigo de Luiz Antônio Marcuschi.
BELO, Roberto; O Poema no livro didático. (2014). Disponível em: http://www.periodicoseletronicos.ufma.br/index.php/littera/article/view/2673) Acesso em: 07/12/2020.
BORTONI-RICARDO, Stella Maris. Nós cheguemos na escola, e agora? Sociolingüística & Educação. São Paulo: Parábola Editorial, 2005, p. 15, 61.
IBIAPINA, Darkyana Francisca. Variação Linguística em Sala de Aula de Língua Portuguesa: Uma Abordagem Etnográfica. Uberlândia, MG: Anais do SIELP, Volume 2, n° 1. (2012)
LOPES, José de Sousa Miguel. A poesia nos livros didáticos de português de Moçambique e Brasil: um estudo comparativo. (2020). Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-97022020000100514) Acesso: 04/12/2020. 
MOLLICA. Introdução à Sociolingüística. O Tratamento da Variação. Contexto, 2003.
RIBEIRO, Josela V.. A Variação Linguística no Ensino de Língua Portuguesa. (2014). Disponível em: https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/96140/000919034.pdf?sequence=1. Acesso em: 01/12/2020. 
VELOZO, Kelly Millena Pereira. A Poesia nos Livros Didáticos de Português. São Luís, MA. (2020). 
1 Kelly Millena Pereira Velozo
2 Raimunda Marycelle Santos Garcia – Tutora Externa
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI - Licenciatura em Letras (Turma FLX0405) – Prática Interdisciplinar III – 31/01/2021

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