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Licença-maternidade Constitui caso de afastamento do contrato de trabalho em que é mantida a contagem do tempo de serviço para todos os fins e os depósitos do FGTS, além de fazer a gestante jus ao salário-maternidade. Essa hipótese de afastamento, por cento e vinte dias, abrange a licença-matenidade concedida à empregada gestante e a licença- maternidade a que tem direito, por extensão, a empregada que adotar ou obtiver guarda judicial de criança para fins de adoção, nos termos do art. 392-A da CLT. O salário-maternidade, que é pago à empregada pelo Regime Geral de Previdência Social durante o período de licença-matenidade, tem a natureza de benefício previdenciário. O empregador está desonerado desse encargo. Caso o ônus desse benefício fosse do empregador, estaria o legisilador dificultando o acesso da mulher ao mercado de trabalho, contrariando disposição expressa da Constituição da República, que exige atuação do legislador visando a proteger o mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos específicos (CF, art. 7.°, XX). Por outro lado, o salárío- maternidade integra a base de cálculo da contribuição previdenciária devida à Secretaria da Receita Federal do Brasil (trata-se de hipótese excepcional em que há incidência de contribuição social sobre um benefício pago pela previdência social). Há divergência doutrinária acerca da classificação da licença-maternidade como período de interrupção ou de suspensão contratual. Alguns autores (Alice Monteiro de Barros, Mozart Victor Russomano, Arnaldo Süssekind, Otávio Bueno Magano) entendem que se trata de hipótese de suspensão do contrato de trabalho. Para eles, seria determinante o fato de o ônus do correspondente encargo ser suportado pela previdência social, ou seja, o fato de a empregada receber típico benefício previdenciário — e não salário - durante o tempo do afastamento. Outros autores (Amauri Mascaro Nascimento, Sérgio Pinto Martins, Valentin Carrion, Isis de Almeida, Maurício Godinho Delgado) consideram que se trata de hipótese de interrupção do contrato de trabalho, alegando que, embora não haja, durante a licença-maternidade, o efetivo pagamento de verba de natureza salarial, o contrato de trabalho continua a produzir parcialmente os seus efeitos próprios, tais como a contagem do tempo de serviço para fins de férias e para efeitos previdenciários, a obrigatoriedade de realização de depósitos do FGTS, entre outros. Para esses autores, a manutenção parcial de efeitos do contrato de trabalho seria determinante para caracterizar hipótese de interrupção, e não de suspensão contratual. Mais uma vez, vale a observação acima feita: a licença-maternidade é uma hipótese que não se enquadra perfeitamente em nenhuma das duas figuras jurídicas - suspensão ou interrupção do contrato de trabalho. Vale registrar que, segundo orientação do Supremo Tribunal Federal, o teto dos benefícios do RGPS não se aplica ao salário-maternidade (STF, ADI 1.936, rei. Min. Sydney Sanches, 03.04.2003). O entendimento contrário implicaria que a previdência social arcasse apenas com o limite do teto, e o restante fosse pago pelo empregador. Isso ofenderia o princípio da igualdade, visto que os patrões seriam estimulados a preferir o trabalhador masculino à mulher trabalhadora, discriminação que a Constituição procurou combater. Portanto, o correto é que o salário-maternidade recebido pela trabalhadora durante a licença-maternidade corresponda ao valor integral do seu salário e seja pago integralmente pela previdência social, inclusive nos casos em que o salário mensal da trabalhadora é superior ao teto dos benefícios pagos pelo RGPS. A Lei n.° 11.770, de 09.09.2008, criou o “Programa Empresa Cidadã”, destinado a prorrogar por sessenta dias a duração da licença-matemidade prevista no inciso XVIII do art. 7.° da Constituição Federal. Posteriormente, essa matéria foi regulamentada pelo Decreto n.° 7.052, de 23 de dezembro de 2009, nos termos a seguir examinados. A prorrogação por mais sessenta dias da licença-matemidade não constitui um direito subjetivo da empregada. Só haverá a prorrogação se a pessoa jurídica empregadora aderir ao “Programa Empresa Cidadã”. Efetivada a adesão pela empresa, caberá à empregada requerer a prorrogação até o final do primeiro mês após o parto, caso em que a prorrogação será concedida imediatamente após a fruição da licença-matemidade de cento e vinte dias, assegurada constitucionalmente. Essa prorrogação é garantida, também, à empregada de empresa que aderir ao “Programa Empresa Cidadã” que adotar ou obtiver guarda judicial para fins de adoção de criança, nos termos do art. 392-A da CLT. Entretanto, em relação à empregada adotante, o período de prorrogação variará de acordo com a idade da criança adotada, deste modo: a) por sessenta dias, quando se tratar de criança até um ano de idade; b) por trinta dias, quando se tratar de criança a partir de um ano até quatro anos de idade completos; c) por quinze dias, quando se tratar de criança a partir de quatro anos até completar oito anos de idade. Da mesma forma que ocorre nos 120 dias da licença-matemidade - durante os quais a empregada recebe salário-matemidade - a remuneração recebida pela empregada durante o período de prorrogação integra o saláriode-contribuição, isto é, integra a base de cálculo da contribuição previdenciária devida à Secretaria da Receita Federal do Brasil. No período de prorrogação da licença-matemidade, a empregada não poderá exercer qualquer atividade remunerada, salvo nos casos de contrato de trabalho simultâneo firmado previamente, e a criança não poderá ser mantida em creche ou organização similar, sob pena de perda do direito à prorrogação. Durante o período de prorrogação da licença-matemidade, a empregada terá direito à sua remuneração integral, paga pela empresa, nos mesmos moldes do período de percepção do salário-matemidade pago pelo Regime Geral de Previdência Social. A pessoa jurídica tributada com base no lucro real que aderir ao “Programa Empresa Cidadã” poderá deduzir do imposto devido, em cada período de apuração, o total da remuneração integral da empregada pago nos 60 (sessenta) dias de prorrogação de sua licença-matemidade, vedada a dedução como despesa operacional. mportante ressaltar que essa possibilidade de dedução do imposto de renda devido só beneficia as empresas tributadas com base no lucro real. As empresas enquadradas no regime de lucro presumido e as optantes pelo Regime Especial Unificado de Arrecadação de Tributos e Contribuições devidos pelas Microempresas e Empresas de Pequeno Porte - Simples Nacional não serão beneficiadas com tal dedução. Vale dizer, essas empresas — tributadas com base no lucro presumido ou optantes pelo Simples Nacional - poderão aderir ao “Programa Empresa Cidadã”. Nesse caso, suas empregadas terão direito à prorrogação da licençamatemidade. A empresa, entretanto, não poderá deduzir do seu imposto de renda o valor correspondente à remuneração que pagará à empregada nos 60 dias de prorrogação da licença-matemidade. Por fim, é importante destacar que o período de prorrogação da duração da licença-matemidade, quando implementado, constituirá hipótese de interrupção do contrato de trabalho, haja vista que, nesse período, perceberá a empregada remuneração paga pelo empregador, e não benefício previdenciário.
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