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Moisés Santos|@eumoisesantos_ Odontologia UFPE – Farmacologia IV – 2020.2 Antagonistas adrenérgicos Os antagonistas adrenérgicos, também denominados bloqueadores adrenérgicos ou simpaticolíticos, ligam-se aos adrenoceptores, mas não iniciam os usuais efeitos intracelulares mediados pelos receptores. Esses fármacos atuam ligando-se reversível ou irreversivelmente aos adrenoceptores, evitando, assim, sua ativação pelas catecolaminas endógenas. Os antagonistas adrenérgicos também são classificados de acordo com suas afinidades relativas para os receptores α ou β no sistema nervoso simpático. OBS.: os antagonistas que bloqueiam os receptores dopaminérgicos são mais importantes no sistema nervoso central [SNC] e, portanto, são considerados na respectiva seção. Bloqueadores 𝛼-adrenérgicos Fármacos que bloqueiam os adrenoceptores α afetam profundamente a pressão arterial. Como o controle simpático normal dos vasos ocorre em grande parte por ações agonistas nos receptores α- adrenérgicos, o bloqueio desses receptores reduz o tônus simpático dos vasos sanguíneos, resultando em menor resistência vascular periférica. Isso induz a taquicardia reflexa resultante da redução da pressão arterial. OBS.: os receptores β, incluindo os adrenoceptores β1 cardíacos, não são afetados pelo bloqueio α. • Fenoxibenzamina Ela não é seletiva e se liga covalentemente aos receptores α1 e α2. O bloqueio é irreversível e não competitivo, e o único mecanismo que o organismo pode usar para anular o bloqueio é sintetizar novos adrenoceptores, o que exige 1 dia ou mais. Assim, as ações da fenoxibenzamina duram cerca de 24 horas. 1. Sistema cardiovascular: bloqueando os receptores α, a fenoxibenzamina impede a vasoconstrição dos vasos sanguíneos periféricos pelas catecolaminas endógenas. A redução da resistência periférica provoca taquicardia reflexa. Além disso, a capacidade de bloquear receptores α2 inibitórios pré-sinápticos no coração pode contribuir para o aumento do débito cardíaco. OBS.: o bloqueio desses receptores resulta em maior liberação de norepinefrina, que estimula os β1-receptores no coração, aumentando o débito cardíaco. 2. Reversão da epinefrina: Todos os bloqueadores α-adrenérgicos revertem as ações α-agonistas da epinefrina. A ação vasoconstritora é interrompida, mas a vasodilatação dos outros leitos vasculares causado por estimulação dos adrenoceptores β2 não é bloqueada. Por isso, na presença de fenoxibenzamina, a pressão arterial sistêmica diminui em resposta à epinefrina. Aplicações terapêuticas: A fenoxibenzamina é usada no tratamento do feocromocitoma, um tumor de células derivadas da suprarrenal secretor de catecolamina. Ela pode ser usada antes da remoção cirúrgica do tumor para prevenir crise hipertensiva e é útil no manejo crônico de tumores não operáveis. A fenoxibenzamina, algumas vezes, é eficaz no tratamento da doença de Raynaud e na geladura. • Fentolamina Em contraste com a fenoxibenzamina, a fentolamina produz bloqueio competitivo dos receptores α1 e α2 que dura cerca de 4 horas após injeção única. Ela provoca hipotensão postural e reversão da epinefrina. A estimulação cardíaca reflexa e a taquicardia induzidas por fentolamina são mediadas pelo reflexo barorreceptor e pelo bloqueio dos receptores α2 dos nervos simpáticos cardíacos. A fentolamina também pode causar arritmias e dor anginosa, sendo contraindicada em pacientes com doença arterial coronariana. Ela é usada no tratamento de curta duração do feocromocitoma. A fentolamina é útil no tratamento da crise hipertensiva devido à retirada abrupta de clonidina e da ingestão de alimentos contendo tiramina em pacientes sob tratamento com inibidores da monoaminoxidase (IMAOs). • Prazosina, terazosina, doxazosina, tansulosina e alfuzosina Moisés Santos|@eumoisesantos_ Odontologia UFPE – Farmacologia IV – 2020.2 Prazosina, terazosina e doxazosina são bloqueadores competitivos seletivos de receptores α1. Em contraste com a fenoxibenzamina e a fentolamina, eles são úteis no tratamento da hipertensão. Tansulosina e alfuzosina são exemplos de outros antagonistas α1-seletivos indicados no tratamento da hiperplasia benigna da próstata (HBP). 1. Mecanismo de ação: todos esses fármacos diminuem a resistência vascular periférica e a pressão arterial, causando relaxamento dos músculos lisos arteriais e venosos. Eles causam alterações mínimas no débito cardíaco, no fluxo sanguíneo renal e na velocidade de filtração glomerular. A tansulosina tem o menor efeito na pressão arterial, pois é menos seletiva para os receptores α1B presentes nos vasos sanguíneos e mais seletiva para os α1A-receptores na próstata e na bexiga. O bloqueio dos receptores α1A diminui o tônus na musculatura lisa do colo da bexiga e da próstata e melhora o fluxo da urina. Aplicações terapêuticas: indivíduos com pressão arterial elevada tratados com um desses fármacos não se tornam tolerantes à sua ação. A primeira dose desses fármacos pode produzir hipotensão ortostática exagerada, que pode resultar em síncope. Essa ação, denominada efeito “primeira dose”, pode ser minimizada reduzindo-se a primeira dose para um terço ou um quarto da dose normal e administrando-a na hora de deitar. Esses fármacos podem causar discreta melhora no perfil lipídico e no metabolismo da glicose em pacientes hipertensos. • Ioimbina É um α2-bloqueador competitivo e seletivo. Atua no SNC aumentando o efluxo simpático para a periferia. Ela é contraindicada em doença cardiovascular, condições psiquiátricas e disfunções renais, pois pode agravar tais condições. Bloqueadores β-adrenérgicos Todos os β-bloqueadores disponíveis para a clínica são antagonistas competitivos. Os β- bloqueadores não seletivos atuam em receptores β1 e β2, ao passo que os β-antagonistas cardiosseletivos bloqueiam principalmente receptores β1. Esses fármacos também diferem na atividade simpaticomimética intrínseca (ASI), nos efeitos no SNC, no bloqueio dos receptores simpáticos, na vasodilatação e na farmacocinética. OBS.: Embora todos os β-bloqueadores reduzam a pressão arterial, eles não causam hipotensão postural, pois os adrenoceptores α permanecem funcionais. Por isso, o controle simpático normal dos vasos é mantido. Os β-bloqueadores são eficazes no tratamento de hipertensão, angina, arritmias cardíacas, infarto do miocárdio, insuficiência cardíaca, hipertiroidismo e glaucoma. Também são usados na profilaxia das enxaquecas. • Propranolol: um β-antagonista não seletivo O propranolol é o protótipo dos β- antagonistas adrenérgicos e bloqueia os receptores β1 e β2 com a mesma afinidade. 1. Sistema cardiovascular: diminui o débito cardíaco, tendo efeitos cronotrópicos e inotrópicos negativos. Ele deprime diretamente a atividade dos nodos sinoatrial e atrioventricular. O débito cardíaco, o trabalho e o consumo de oxigênio diminuem pelo bloqueio dos receptores β1, e esses efeitos são úteis no tratamento da angina. Os β-bloqueadores são eficazes para atenuar as arritmias cardíacas supraventriculares, mas, em geral, não são eficazes contra as arritmias ventriculares. 2. Vasoconstrição periférica: O bloqueio não seletivo dos receptores β impede a vasodilatação nos músculos esqueléticos mediada pelos receptores β2 e aumenta a resistência vascular periférica. A redução do débito cardíaco produzida por todos os β- bloqueadores leva à diminuição da pressão arterial, o que desencadeia vasoconstrição Moisés Santos|@eumoisesantos_ Odontologia UFPE – Farmacologia IV – 2020.2periférica reflexa e se reflete na redução do fluxo de sangue na periferia. 3. Broncoconstrição: O bloqueio dos receptores β2 nos pulmões dos pacientes suscetíveis causa contração da musculatura lisa bronquiolar. Isso pode precipitar agravamento em pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) ou asma. 4. Distúrbios no metabolismo da glicose: O bloqueio β diminui a glicogenólise e a secreção de glucagon. Os β-bloqueadores também atenuam a resposta fisiológica normal à hipoglicemia. 5. Bloqueio das ações do isoproterenol: Os β- bloqueadores não seletivos, incluindo o propranolol, têm a capacidade de bloquear as ações do isoproterenol (β1 e β2-agonista) no sistema cardiovascular. Assim, na presença de um β-bloqueador, o isoproterenol não produz estimulação cardíaca (mediada por β1) ou reduções na pressão arterial média e na pressão diastólica (mediada por β2). OBS.: na presença do β-bloqueador não seletivo, a epinefrina não diminui a pressão diastólica ou estimula o coração, mas sua ação vasoconstritora, mediada por receptores α, permanece ativa. As ações da norepinefrina no sistema cardiovascular são mediadas primariamente pelos receptores α e, portanto, não são afetadas. Aplicações terapêuticos: 1. Hipertensão; 2. Angina de peito; 3. Infarto do miocárdio (previne e acelera a melhora do paciente; 4. Enxaqueca; 5. Hipertireoidismo. Efeitos adversos: 1. Broncoconstricção; 2. Arritmias; 3. Comprometimento sexual; 4. Disturbios no metabolismo; 5. No SNC: depressão, alucinações, fadiga, tontura, letargia, fraqueza, distúrbios visuais, perda de memória de curta duração, fragilidade emocional, sonhos intensos (incluindo pesadelos). Interações: Os fármacos que interferem ou inibem a biotransformação do propranolol, como cimetidina, fluoxetina, paroxetina e ritonavir, podem potencializar seus efeitos anti-hipertensivos. Aqueles que, ao contrário, estimulam ou induzem a sua biotransformação, como barbitúricos, fenitoína e rifampicina, podem reduzir seus efeitos. • Nadolol e timolol: β-antagonistas não seletivos Bloqueiam os adrenoceptores β1 e β2 e são mais potentes do que o propranolol. O nadolol tem uma duração de ação muito longa. O timolol reduz a produção de humor aquoso. Ele é usado topicamente no tratamento do glaucoma crônico e, às vezes, no tratamento sistêmico de hipertensão. 1. Tratamento do glaucoma: Os β- bloqueadores, como os de uso tópico timolol, betaxolol e carteolol, são eficazes para diminuir a pressão intraglobular no glaucoma. Isso ocorre por diminuição da secreção do humor aquoso pelo corpo ciliar. OBS.: Diferentemente dos colinérgicos, esses fármacos não afetam a capacidade focal do olho para a visão próxima nem alteram o tamanho da pupila. • Acebutolol, atenolol, betaxolol, bisoprolol, esmolol, metoprolol e nebivolol: β1-antagonistas seletivos São fármacos que bloqueiam preferencialmente os receptores β1 minimizam a indesejada broncoconstrição (efeito β2) observada com o uso do propranolol em pacientes asmáticos. Os β-bloqueadores cardiosseletivos, como acebutolol, atenolol e metoprolol, antagonizam os receptores β1 em doses de 50 a 100 vezes menores do que as necessárias para bloquear os receptores β2. Essa cardiosseletividade é mais pronunciada nas doses baixas e se perde nas doses elevadas. Esses fármacos reduzem a pressão arterial na hipertensão e aumentam a tolerância ao exercício na angina. Aplicações terapêuticas: Os β-bloqueadores cardiosseletivos são úteis em pacientes hipertensos com função respiratória comprometida. Esses fármacos são também o tratamento de primeira opção contra a angina crônica estável. Como esses Moisés Santos|@eumoisesantos_ Odontologia UFPE – Farmacologia IV – 2020.2 fármacos têm menos efeito nos receptores β2 vasculares periféricos, o frio nas extremidades (fenômeno de Raynaud), um efeito adverso comum dos β-bloqueadores, é menos frequente. • Acebutolol e pindolol: Antagonistas com atividade agonista parcial 1. Sistema cardiovascular: Acebutolol (β1- antagonista seletivo) e pindolol (β- bloqueador não seletivo) não são antagonistas puros. Esses fármacos também têm a capacidade de estimular fracamente os receptores β1 e β2 por terem leve atividade simpaticomimética intrínseca (ASI). Esses agonistas parciais estimulam o receptor β ao qual se ligam, mas inibem a estimulação pelas catecolaminas endógenas mais potentes, epinefrina e norepinefrina. O resultado dessas ações opostas é um efeito bem diminuído na frequência e no débito cardíaco se comparado ao efeito de β- bloqueadores sem ASI. 2. Diminuição dos efeitos metabólicos: Os β- bloqueadores com ASI minimizam os distúrbios no metabolismo de carboidratos e lipídeos observados com outros β- bloqueadores. Por exemplo, esses fármacos não diminuem os níveis de HDL no plasma. Aplicações terapêutico na hipertensão: Os β- bloqueadores com ASI são eficazes em pacientes hipertensos com bradicardia moderada, pois uma redução adicional da frequência cardíaca com esses fármacos é menos pronunciada. OBS.: os β-bloqueadores com ASI não são usados na angina estável ou nas arritmias, devido ao efeito agonista parcial. • Labetalol e carvedilol: Antagonistas de adrenoceptores α e β 1. O labetalol e o carvedilol são β-bloqueadores com ações α1-bloqueadoras concomitantes que produzem vasodilatação periférica, reduzindo a pressão arterial. Eles contrastam com outros β- bloqueadores que produzem vasoconstrição periférica inicial e, por isso, são úteis no tratamento de pacientes hipertensos para os quais o aumento da resistência vascular periférica é indesejável. Aplicações terapêuticass na hipertensão e na insuficiência cardíaca: O labetalol é usado como alternativa à metildopa no tratamento da hipertensão induzida pela gestação. O labetalol por via IV também é usado no tratamento de emergências hipertensivas, porque reduz a pressão arterial rapidamente. O carvedilol, bem como metoprolol e bisoprolol, é benéfico em pacientes com insuficiência cardíaca crônica estável. Esses fármacos atuam bloqueando os efeitos da estimulação simpaticomimética no coração, o que, com o tempo, piora a insuficiência cardíaca. Fármacos que afetam a liberação ou captação do neurotransmissor Alguns fármacos atuam no neurônio adrenérgico, interferindo na liberação do neurotransmissor das vesículas de armazenamento ou alterando a captação do neurotransmissor para dentro do neurônio adrenérgico. 1. A reserpina é um dos remanescentes desta categoria. Ela é um alcaloide vegetal que bloqueia o transporte dependente de Mg2+/trifosfato de adenosina de aminas biogênicas (norepinefrina, dopamina e serotonina) do citoplasma para as vesículas de armazenamento no terminal nervoso adrenérgico de todos os tecidos corporais. Em geral, a função simpática é bloqueada devido à baixa liberação de norepinefrina. A reserpina tem início de ação lento, duração de ação longa e efeitos que persistem por vários dias depois que o seu uso é interrompido. Moisés Santos|@eumoisesantos_ Odontologia UFPE – Farmacologia IV – 2020.2 Referências: WHALEN, K.; FINKEL, R.; PANAVELIL, T. A. Farmacologia ilustrada. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016.
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