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Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) – Medicina UFCSPA Lúpus é uma doença autoimune, inflamatória e crônica, que acomete o tecido conjuntivo em diferentes partes do corpo, provocando diferentes sintomas. A etiologia é idiopática, e seu curso se caracteriza com exacerbações e remissões. São anticorpos que atacam proteínas do corpo (autoanticorpos) – onde há uma desregulação do sistema imune com perda do mecanismo de auto tolerância e formação de imunocomplexos. •Epidemiologia: trata-se de uma doença universal, cosmopolita, que acomete mais negros e asiáticos, mas não isenta outras raças. As mulheres são mais afetadas, na proporção de 9:1, e geralmente são acometidas dos 15 aos 45 anos. A prevalência nos EUA é de 30 pessoas a cada 100 mil habitantes. •Etiopatogenia: a etiologia é idiopática, mas sabe-se que está relacionada com alguns fatores (genéticos, ambientais, infecciosos, hormonais e imunológicos). -Ambientais: exposição à luz UV-A e UV-B é fator de risco. Outro provável fator de risco é o cigarro. Além desses, há algumas hipóteses de fatores desencadeantes de lúpus, como alfafa, gordura saturada, ou até infecções (Epstein-Baar). Algumas drogas como hidralazina, procainamida e minociclina também podem estar relacionadas. -Imunológicos: há um defeito genético na apoptose em pacientes com LES. Isso faz com que os níveis de antígenos e imunocomplexos se elevem, e, por consequência, células B são continuamente ativadas (produção de autoanticorpos), causando inflamação e dano a diferentes tecidos do corpo. •Quadro clínico clássico: mulher jovem com poliartrite simétrica de pequenas articulações, fadiga/febre, alopecia, fotossensibilidade, eritema malar e úlceras orais. Nos exames, são normais os achados de prot+++ no EQU, anemia, plaquetopenia, leucopenia e FAN positivo. Outros sintomas sistêmicos recorrentes incluem: adinamia, perda ponderal e de apetite e poliadenopatia. Algumas outas manifestações, especificamente do sistema músculo esquelético podem acontecer, como mialgia, miosite e deformidades articulares. O lúpus infelizmente gera uma riqueza de problemas em todos os sistemas do corpo. A deformidade nas mãos é ligamentar, sem erosões. Alguns aspectos muco-cutâneos, além dos já citados, podem incluir lesões discoides, eritema anular, Raynaud, eritema palmar e plantar, lesões de vasculite e lesões bolhosas. Essas lesões cutâneas ainda podem ser categorizadas de acordo com o nível da doença: 1) Lúpus agudo: eritema malar e eritrodermia; 2) Lúpus subagudo: lesões policíclicas/anulares, papuloescamosas ou psoriasiformes; 3) Lúpus crônico: planos mais profundos estão envolvidos, causando cicatriz. Podem ser lesões discoides (localizadas ou difusas), ou paniculite/profundus. Manifestações pulmonares acontecem em quase 40% dos pacientes, são elas: derrame pleural, pneumonite lúpica, hipertensão pulmonar e hemorragia pulmonar. Já as cardíacas, que acometem na mesma proporção, podem ser listadas em pericardite, miocardite, endocardite e alterações coronarianas. -Manifestações renais (45 a 65% dos pacientes): o rim é um dos principais determinantes de morbimortalidade no LES. Eritema malar – lesão em asa de borboleta Paniculite 25% dos pacientes evoluem para doença renal crônica. Hematúria, proteinúria, leucocitúria e cilindrúria são os achados mais importantes, e são identificados no EQU. Acima há um quadro que classifica a nefrite lúpica, nível identificado por biópsia renal. Ademais, algumas manifestações neurológicas também podem ocorrer, como psicose e outras diversas síndromes e desordens. Quanto ao TGI, anorexia, vômitos, diarreia, ascite, hepatomegalia, pancreatite, entre outros, são presentes. Por fim, falando-se de manifestações hematológicas, a anemia pode acontecer em quase 70% dos pacientes. A leucopenia também é bastante comum, principalmente linfopenia e neutropenia. A trombocitopenia, embora menos comum, também pode ocorrer. -Síndrome do anticorpo antifosfolípide: é um mecanismo, recorrente, que causa tromboembolismo. As manifestações comuns são abortos de repetição, AVC, Raynaud, fotossensibilidade e plaquetopenia. Marcadores laboratoriais incluem anti-cardiolipina, anti-coagulante lúpico, anti-protrombina e anti- B2glicoproteinas •Laboratório: fundamental para diagnóstico e acompanhamento dos pacientes. -Alterações hematológicas: -Anemia N/N / Anemia hemolítica -Leucopenia < 4.000 -Neutropenia e linfocitopenia -Trombocitopenia < 100.000 -EQU: hematúria, proteinúria e cilindrúria -VSG e PCR alterados -Rins: proteinúria, ureia e creatinina altas -FAN positivo → (alta sensibilidade e baixa especificidade) -Anti-DNA nativo ou dupla-hélice → muito específico, porém só acontece em 50% dos casos. Tem alta relação com o nível de atividade da doença -Anti-DNA histona → característico de LES induzido por droga -Anti-SM → muito específico, porém pouco sensível -Nível de complemento sérico (C3 e C4) -Outras provas imunológicas incluem: Anti-SSA/Ro, Anti-SSB/La, Anti-U1RNP, e fator reumatoide. Acima, em cinza, são os marcadores do nível de atividade da doença. •Diagnóstico: a classificação mais atual, que leva em considerações aspectos clínicos e laboratoriais, é a SLICC, que pode ser visualizada abaixo. Para ser LES, deve-se atender a 4 critérios da tabela, tendo pelo menos um de cada característica (clínica ou imunológica). •Lúpus e gravidez: a possibilidade de gravidez deve respeitar o tempo de um ano de inatividade da doença. O risco, antes disso, de passar lúpus ao bebê é significativo. Além disso, deve-se atentar para o uso de drogas teratogênicas. Quanto ao lúpus neonatal, pode acontecer bloqueio cardíaco, manifestações cutâneas, colestase e citopenias. 1 a 2% das mulheres com anti-Ro terão filhos com lúpus neonatal. •Fatores de pior prognóstico: afro-americanos, sexo masculino, início na infância, trombocitopenia, glomerulonefrite, cerebrite e baixo nível socioeconômico. Os marcadores do nível de atividade da doença são ainda mais importantes nessas populações. •Tratamento: o primeiro caminho é educar o paciente quanto ao tabagismo e à exposição à luz UV. Além disso, propor dieta rica em cálcio e vitamina D. Apoio psicológico também é importante. Em função da grande variabilidade sintomática da doença, o tratamento é personalizado a cada paciente, considerando o nível classificatório da doença e quais os sintomas que ela aflige. A hidroxicloroquina, entretanto, deve ser sempre instituída, independente do paciente. Ela opera de diversas formas: diminui a atividade da doença e o risco de novos surtos, diminui o risco de trombose, melhora o perfil lipídico e também há evidências que melhora o acometimento articular. Especificamente para o acometimento muco-cutâneo, se costumar usar hidroxicloroquina, prednisona e metotrexato. Em pacientes com dano visceral grave, administra-se prednisona em doses imunossupressoras ou imunossupressores equivalentes. Já em pacientes com nefrite lúpica deve-se orientar ciclofosfamida IV ou micofenolato, e tratamento de manutenção com azatioprina ou o próprio micofenolato. Outras drogas que eventualmente podem ser úteis incluem: dapsona, talidomida, ciclosporina A, tacrolimos, rituximabe, belimumab e imunoglobulina IV. O importante é manter a doença inativa com a menor dose possível de corticoide, com o menor risco de infecção e com o menor risco cardiovascular.
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