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APOSTILA FORMAÇÃO EM COMUNICAÇÃO NÃO VIOLENTA DESENVOLVIDA POR CENTRO DE MEDIADORES MÓDULO I - INTRODUÇÃO O que é CNV? Conceito: Comunicação não violenta, também conhecida como comunicação compassiva ou empática, é uma metodologia comunicacional desenvolvida pelo psicólogo americano Marshall Rosenberg, que apoia o estabelecimento de relações de parceria e cooperação, em que predomina comunicação eficaz e com empatia. A CNV nos estimula a desenvolver habilidades de linguagem e comunicação que fortalecem a capacidade de continuarmos humanos, mesmo em condições adversas. A CNV enxerga uma continuidade entre as esferas pessoal, interpessoal e social, e proporciona formas práticas de intervir nelas. Aqueles que se apoiam na comunicação não violenta consideram que todas as ações são originadas numa tentativa de satisfazer necessidades humanas, mas tentam fazê-lo evitando o uso do medo, da vergonha, da acusação, da ideia de falha, da coerção ou das ameaças. Um princípio-chave da comunicação não violenta é a capacidade de se expressar sem usar julgamentos de "bom" ou "mau", do que está certo ou errado. A ênfase é posta em expressar sentimentos e necessidades, em vez de críticas ou juízos de valor. A CNV nos ajuda a nos ligarmos uns aos outros e a nós mesmos, possibilitando que nossa compaixão natural floresça. Ela nos guia no processo de reformular a maneira pela qual nos expressamos e escutamos os outros, mediante a concentração em quatro áreas: As ações concretas que estamos observando e que afetam nosso bem-estar (observação), como nos sentimos em relação ao que estamos observando (sentimento), as necessidades, valores, desejos que estão gerando nossos sentimentos (necessidades) e as ações concretas que pedimos para enriquecer nossa vida (pedido). O autor: Marshall Bertram Rosenberg foi psicólogo, americano, nascido em 1934 e falecido em 2015. Em 1961 obteve seu PHD em psicologia clínica pela Universidade de Wisconsin - Madison. No começo dos anos sessenta, em sintonia com o movimento dos direitos civis americano, Rosenberg começou a trabalhar como orientador educacional em escolas e universidades que abandonavam a segregação racial, processo este que não pôde ser chamado de transição pacífica. Durante este período tenso, porém frutífero, Rosenberg providenciava arbitragem e treinamento em técnicas comunicativas. Foi neste pano de fundo que desenvolveu um método comunicativo chamado Comunicação Não-Violenta (CNV). Antes de sua morte, Rosenberg viajava para mediar conflitos e levar programas de paz a regiões assoladas por guerras, como Sérvia - Croácia e Ruanda, mas o interessante é notar que sua estratégia serve também para apaziguar os combates verbais do nosso dia-a-dia. Segundo Marshall Rosenberg, é na maneira como falamos e ouvimos os outros que está a chave para o problema das desavenças e discórdias. Livro clássico: Comunicação não-violenta. DESENVOLVIDA POR CENTRO DE MEDIADORES Benefícios da CNV: Dentre os benefícios da CNV, listamos: Melhor compreensão das necessidades e interesses; Clareza dos seus sentimentos negativos e positivos; Melhora na comunicação passiva e ativa; Aumento na percepção do que realmente importa; Ser mais autêntico e empático. Características da CNV: Empatia – Esse termo é a base do conceito da CNV. É a habilidade de se colocar no lugar de outra pessoa, e não apenas sentir como ela, mas enxergar o mundo como ela. Essa é a premissa para criar uma comunicação integral e mais saudável; Escuta ativa – Perceber o seu grau de disponibilidade no qual você se coloca ao ouvir uma pessoa durante uma conversa. Ouvir ativamente é prestar atenção à fala do outro com curiosidade e atenção; Autenticidade – Contrária à hipocrisia, a autenticidade é uma atitude de congruência consigo mesmo. Praticar a verdade compreendendo os aspectos intrínsecos da nossa natureza. É manter valores e convicções independente do desconforto; Compaixão – Não é sentir pena ou dó de outrem, pois isso delimita e inferioriza as pessoas como “coitado”, “pobrezinho”. Compaixão é “sentir com”, imaginar como uma pessoa se sente em determinada situação. É mais que dar respostas ou soluções a um problema, é estar presente e se conectar; Clareza – “A base da violência é estar sofrendo e não saber como dizer isso com clareza”. É a exatidão em demonstrar sentimentos e/ou necessidades, de forma que não tenha espaço para interpretações erradas ou dúbias. Atenção - Apenas ouvir, sem necessidade de responder, de retrucar ou contra argumentar imediatamente. Se colocar em conversas na posição de ouvir ativamente, prestar atenção com curiosidade; Entrega – Dedicação e disponibilidade em escutar o outro. Estar e ser presente com compromisso, atitude e envolvimento para a satisfação das necessidades alheias; Conexão – A conexão é o lugar onde a verdade reina. Onde as pessoas podem ser quem realmente são com empatia, disponibilidade, vulnerabilidade e empatia. É a linguagem do coração. Conexão exige ação e persistência para entender que existe um lugar seguro para dialogar e discordar sem medo, expressando sentimentos e necessidades e criando laços de compreensão e confiança; DESENVOLVIDA POR CENTRO DE MEDIADORES Tempo – Disponibilidade para ouvir, independente da porção do seu dia que alguém irá tomar. Significa ir além do problema presente e relembrar o que mais importa num cenário maior. Quando essa disponibilidade não existe, o melhor é ser autêntico e claro em dizer que no momento não será possível a conversa; Sentimentos – Descrição clara do estado emocional. Dizer como se sente é mais do que dizer o que outra pessoa faz você sentir. Identificar e expressar sentimentos é uma das bases da CNV; Necessidades – As necessidades estão ligadas aos sentimentos. Necessidades não atendidas geram bons sentimentos e necessidades não atendidas geram sentimentos ruins. Segundo Marshall "toda violência é uma expressão trágica de uma necessidade não satisfeita"; Acolhimento – É a percepção das necessidades do outro. É compreender o que o outro está comunicando por meio de suas palavras e comportamento. É comum que por traz destas palavras e comportamentos haja uma dor muito grande, que a pessoa tenta mascarar. Onde aplicar a CNV Família - As relações familiares não são estáticas, porém dinâmicas, como uma dança que varia com seus ritmos e com os ritmos de cada pessoa com quem nos relacionamos. Perceber esse dinamismo nos ajuda nas questões variadas que envolvem a família como: afetos, cuidado, memórias, poder e histórias que alteram a maneira como nos expressamos com cada pessoa. Por meio da prática da autoempatia é possível oferecermos empatia às pessoas que convivemos e, consequentemente, impactar mudanças no sistema familiar. Em todas as relações familiares a CNV pode atuar de maneira eficaz visando uma melhor comunicação com resultados práticos. Na CNV o foco é dizer ou expressar o que se deseja e não o que não se deseja, e assim deixar mais claro aquilo que queremos. Exemplo do cotidiano: Mãe: _ “Não chegue tarde em casa hoje”, Pai: _ “Saia deste celular” Segundoa CNV, uma maneira efetiva e assertiva é dizer o que realmente queremos, exemplo: Mãe: _ “Gostaria que você ficasse mais tempo em casa, porque, eu sinto sua falta”. Pai: _ “Gostaria que você deixasse um pouco seu celular e passasse mais tempo conversando com a nossa família”. Relacionamentos amorosos – A exemplo das relações familiares, os relacionamentos amorosos têm muito a ganhar com a aplicação da CNV. Como a abordagem da CNV baseia-se em compreender e expressar sentimentos, fazendo isso da maneira correta, o relacionamento amoroso tende a ser mais autêntico (autenticidade é uma das bases da CNV). A CNV é uma forma de ter diálogos mais francos e corajosos e por isso, nem sempre fáceis, porque você poderá receber um não como resposta; sendo essencial estar pronta (o) para isso. DESENVOLVIDA POR CENTRO DE MEDIADORES Contudo, isso não significa ficar passivo (a), é justamente o contrário; trata-se de abrir a possibilidade de dizer o que é necessário e o que sente. Não é sobre evitar conflitos, mas permitir a mediação deles. As discussões sempre vão existir, é importante ter em mente que divergências vão ocorrer, mas precisamos aprender com elas e como lidar com essas situações. Uma relação saudável é estar atento a isso e adaptar-se conforme às necessidades. Não existe relação perfeita. O que existe são duas pessoas que estão juntas e fazem a relação dar certo. Para isso ocorrer a comunicação é imprescindível. Conhecidos, colegas e amigos - Para entender as necessidades das pessoas, começamos por respeitar sua forma de pensar, sentir e falar, assim como exigimos para nós mesmos. Seja verdadeiro e objetivo. Por isso, não faça rodeios. Não espere que a outra pessoa entenda plenamente o que você está dizendo se você não consegue passar a sua mensagem com total clareza. Vale dizer que também é muito importante estar aberto e solícito, caso a outra pessoa não tenha entendido o que foi dito. Ambientes de ensino – A violência se manifesta em diversas esferas e comportamentos da nossa sociedade. Assim, seu reflexo pode aparecer no ambiente escolar. Ela pode estar escondida nas ordens, nos gritos, nas brigas, na repressão de formas expressivas dos alunos, ou até mesmo na falta de escuta ativa. Nesse sentido, podemos ver a violência não só como um ato físico, mas também verbal ou gestual – nem sempre tão demarcados como ações violentas. Ações repressoras, inibidoras e constrangedoras podem estar entrelaçadas com aspectos das microviolências que reproduzimos todos os dias – e isso afeta a vida até nas escolas! Exemplo: Às vezes, o aluno fica frustrado porque gostaria de brincar em um momento de estudo. A professora pode trabalhar a situação ouvindo a necessidade do aluno, estimulando que ele a reconheça e faça o pedido por um tempo de diversão. Em contrapartida, pode apresentar sua necessidade de ensinar e vê-los aprender coisas novas que serão importantes para diversas atividades na vida. Em seguida, mostrar sua compaixão com a necessidade do aluno e demarcar que após o momento de estudos, ou em outro dia, a aula poderá ser mais interativa e com brincadeiras. Ambientes de trabalho - Conflitos no trabalho são inevitáveis e, muitas vezes, até necessários. É uma situação que pode ser produtiva, pois ao trazer um ponto de vista diferente ou estar diante de uma reação oposta de um colaborador, cria-se uma reflexão sobre o que precisa ser ajustado dentro da organização. A essência de um conflito é justamente a percepção de uma ideia distinta. O ponto central da questão é a intensidade, que não deve passar do limite de uma convivência saudável. É exatamente nesta hora que a Comunicação Não Violenta (CNV) entra em cena. Exemplo: Em uma empresa de cosméticos, Flávia solicitou um relatório sobre o histórico de venda de um produto nos últimos seis meses. Lívia estava sobrecarregada com outras tarefas e questionou Flávia sobre a importância do relatório, já que o produto era líder de vendas da seguinte forma: “Não vejo sentido nenhum em levantar dados de vendas para um produto que lidera o mercado”. As duas perderam quase 45 minutos discutindo a importância ou não de fazer o relatório. DESENVOLVIDA POR CENTRO DE MEDIADORES A questão central poderia ter sido resolvida de forma prática se Lívia simplesmente tivesse expressado sua necessidade com clareza: “Neste momento, estou com outras análises pendentes que vão ocupar pelo menos 8 horas do meu dia sobre produtos que não estão atingindo as metas da empresa. Podemos deixar essa relatório para uma outra oportunidade para que eu não precise ficar além do meu horário hoje?” Flávia não sabia das outras tarefas de Lívia. Ambientes sociais - Para Rosenberg, é na forma como as pessoas se comunicam entre si que se encontra a solução para resolver desentendimentos e discussões. Mas ele aponta que existem algumas maneiras de se comunicar que fazem com que as pessoas apresentem comportamentos violentos, o que definiu como “comunicação alienante da vida”. Exemplos disso são julgamentos moralizantes (que trazem sentimentos como culpa, depreciação, rotulação e crítica), comparações, negação de responsabilidade e transformação de desejos em exigências. Além disso, quando se está na posição de ouvinte existem alguns comportamentos que impedem as pessoas de estarem presentes o suficiente para se conectarem com empatia. São eles os impulsos de educar, competir pelo sofrimento, educar, consolar, contar história, ser solidário ou encerrar o assunto. Em meio a uma conversa, o melhor é ouvir, ao invés de deduzir possibilidades. Exemplo: se alguém disser: “Você está fazendo isso errado”; não crie histórias na sua cabeça, como: “Você não sabe fazer nada, é um idiota e faz tudo errado”; o melhor a fazer é ouvir tudo o que a pessoa tem a dizer, para só então questionar o interlocutor: “Por que estou fazendo isso errado?” ou “Onde estou errando?”.Assim, além de parar de deduzir quais podem ser esses erros e porque a pessoa está dizendo isso, e se culpar por isso, você ainda ganha a oportunidade de melhorar suas habilidades. Pilares da CNV 1 – Autenticidade: é uma expressão daquilo que é verdadeiro e legítimo em nós. Tem a ver com a nossa constituição humana, que podemos acessar e aceitar. Está relacionada com o reconhecimento de que somos ao mesmo tempo construtivos e destrutivos, bons e nem tanto. A honestidade e autenticidade abre espaço para a singularidade, embora mantendo a conexão com o humano em todos nós. A expressão da nossa verdade essencial e clara demanda uma atitude firme e constante e também um trabalho individual de autoconsciência que praticamos por toda a vida. A autenticidade pode ser cuidadosa e respeitosa, é uma força corajosa e não-violenta que trazemos na nossa comunicação, para falar do que sentimos e necessitamos. Falar de si de forma autêntica (e não calar ou apenas julgar) e enxergar o outro com empatia nos ajuda a construir pontes com o outro, especialmente na hora do desentendimento. Para isso, o convite é trocar a lente do erro, da culpa, da vergonha, para a lente do “somos todoshumanos e imperfeitos”. E isso também vai criando um clima de confiança entre as pessoas, porque o outro percebe que não está sendo acusado, que não precisa se defender na conversa com você e você percebe que pode falar a sua verdade de um jeito que o outro consegue ouvir. Mais do que uma técnica de fala, praticar diálogos corajosos são uma jornada de construção de uma mudança profunda de olhar para o que acontece, tanto para si mesmo, quanto para o outro. Com esta mudança, além de tomar consciência do que você sente e precisa, você também enxerga isso no outro. Em vez de ver só o comportamento que não gosta e julgá-lo como “errado, inadequado ou DESENVOLVIDA POR CENTRO DE MEDIADORES absurdo”, você começa a compreender a pessoa que faz aquilo, desenvolvendo empatia. Começa a ver o que ela sente e por que ela faz o que faz – mesmo que você continue não concordando. As pessoas de nossa geração têm pavor de conflito, porque elas sabem que as formas que conhecem para lidar com os desentendimentos são tão ineficientes para cuidar da relação e do problema, que é melhor desejar que o conflito não exista ou ignorá-lo. Só que onde tem gente, tem algum conflito, alguma hora. Ainda que pequeno. Exemplo: você quer falar para um amigo que não gostou quando ele atrasou duas horas para chegar na sua casa. Calar e fazer umas expressões de desânimo provavelmente não vai transmitir a mensagem. Tampouco dizer algo como: “Deixar alguém esperando tudo isso não se faz, é uma falta de respeito!”. Se você queria sensibilizar o outro para o seu incômodo ou até estimular nele alguma mudança, essas duas soluções têm poucas chances de funcionar. Na primeira, o outro é poupado de saber da importância que você dá para isso. Na segunda, em vez de te ouvir, o outro tende a se defender. Então qual é a solução? Você pode começar a praticar diálogos verdadeiramente corajosos diante de pequenos ou grandes conflitos. Conversar com coragem. Não esta coragem de cuspir críticas. Uma coragem ainda maior, como sugere a palavra – agir com o coração. Estamos falando da coragem de falar de si, em vez de apontar o dedo para o outro. De se mostrar verdadeiro, mostrando o que você sente e também o que te leva a sentir isso, o que você precisava naquela situação. Naquele exemplo, eu poderia dizer algo como: “Quando você chegou duas horas depois do que marcamos, fiquei bem desanimada porque cuidado com horário é importante para mim, eu recebo pontualidade como sinal de valorização daquele momento juntos. Como é isso para você?”. 2 – Autocompaixão – Segundo Marshall Rosenberg, a utilidade mais importante da CNV pode ser no desenvolvimento da autocompaixão, pois quando internamente somos violentos para com nós mesmos, é difícil ter compaixão verdadeira pelos outros. Precisamos nos avaliar mesmo quando somos menos que perfeitos. Nos avaliar de maneira que promova crescimento em vez de ódio por nós mesmos. Autocompaixão é a capacidade, que também pode ser desenvolvida, de oferecermos apoio e suporte para nós mesmos, antes de qualquer julgamento ou avaliação. É validarmos nossa experiência a nível dos sentimentos que estamos convivendo e das necessidades que eles indicam que estão querendo ser atendidas. É um ato de gentileza e de amizade internos. Faz um contraponto com hábitos de cobrança e exigência ou de ideal de eu – o narcisismo, que nos momentos de dor e fracasso não nos apoiam. Se a experiência do viver é, muitas vezes, difícil para cada um de nós, fazer nascer esse amigo interno e gentil para nos ajudar, pode cuidar de seguirmos apoiados internamente nos momentos difíceis da vida. Podemos sim “aprender uma lição” a partir do autojulgamento severo, mas qual a energia do aprendizado e da mudança? Como fica nossa autoestima? Marshall compartilha conosco o seu desejo de que nossas mudanças fossem estimuladas por um claro desejo de melhorar nossa vida e a dos outros em vez de por energias destrutivas como a vergonha ou a culpa”. e o modo como nos avaliamos nos faz sentir vergonha, e, em consequência disso, mudamos nosso comportamento, estaremos permitindo que nosso crescimento e aprendizado sejam guiados pelo ódio por nós mesmos. A vergonha é uma forma de ódio por si próprio, e as atitudes tomadas em reação à DESENVOLVIDA POR CENTRO DE MEDIADORES vergonha não são livres e cheias de alegria. Mesmo que nossa intenção seja a de nos comportarmos com mais gentileza e sensibilidade, se as pessoas sentirem a vergonha ou a culpa por trás de nossas ações, será menos provável que elas apreciem o que fazemos do que se formos motivados puramente pelo desejo humano de contribuir para a vida. Para Marshall, existe uma palavra em especial com enorme pode infligir medo ou culpa: o verbo dever. “Eu deveria ter feito aquilo”. “Eu deveria saber”. É um verbo que nos faz resistir ao aprendizado, uma vez que ele implica que não temos escolha. Deveria ter feito isso e pronto. O ser humano tende a resistir a qualquer tipo de exigência, porque a exigência ameaça a nossa autonomia, que é uma das necessidades mais fundamentais. Uma outra expressão semelhante é o “tenho de”: “Eu realmente tenho de parar de fumar”. “Eu tenho que fazer alguma coisa a respeito”. Nós não nascemos para ceder a tirania, mesmo que seja tirania interna. E quando a gente cede, o movimento vem de uma energia que carece de alegria de viver. “Eu opto por fazer” ou “Eu escolho fazer” passam a mensagem a si mesmo de que você tem escolha. Traduza os julgamentos sobre si mesmo e as exigências internas, pois julgamentos de si mesmo, assim como todos os julgamentos, são expressões trágicas de nossas necessidades insatisfeitas. 3 – Empatia - Empatia é um movimento de olhar para a experiência do outro a partir do universo dele. É oferecer presença na escuta, não para concordar ou discordar, nem para buscar soluções ou aconselhar, mas sim para compreender os sentimentos e necessidades do outro. É uma habilidade, que pode ser desenvolvida, de compreender o significado da experiência que uma outra pessoa está vivenciando e legitimar essa experiência. Demanda um aquietar de nossas conversas internas, prontas, condicionadas, para abrirmos o espaço curioso e interessado da escuta do outro. Numa metáfora, é entrar dentro da casa da pessoa que estamos ouvindo, olhar o que ela tem na pendurado na parede, como ela arruma sua sala, o que ela come, qual é sua tradição religiosa, que músicas ela ouve, qual sua cultura familiar, quais são suas experiências, crenças, realidades. E daí, quando conhecemos mais do mundo de dentro dessa pessoa fica mais fácil a compreendermos e validarmos seus sentimentos e necessidades. E também, fica muito provável que a conexão entre as pessoas flua a contento. Empatia tem relação com sentimentos e não apenas de forma intelectual. Ou seja, você pode observar as necessidade e desafios de alguém, racionalmente, sem ser empático, sem se conectar com seus sentimentos – nesse caso você está trabalhando a simpatia.Para a empatia o exercício é ouvir e “viver” o que o outro sente por dentro. Ouça o que essas pessoas têm a dizer, sem querer responder, apenas ouça. Nesse exercício, se coloque dentro da experiência narrada. Esse exercício pode transformar sua relação, bem como a forma de enxergar os outros. Carl Rogers descreveu o impacto da empatia em que a recebe: “Quando alguém realmente o escuta sem julgá-lo, sem tentar assumir a responsabilidade por você, sem tentar moldá-lo, é muito bom... DESENVOLVIDA POR CENTRO DE MEDIADORES Quando sinto que fui ouvido e escutado, consigo perceber meu mundo de uma maneira nova e ir em frente. É espantoso como problemas que parecem insolúveis se tornam solúveis quando alguém escuta. Como confusões que parecem irremediáveis viram riachos relativamente claros correndo, quando se é escutado” Exemplo: Marshall Rosenberg descreve a seguinte história em seu livro: Uma diretora de uma escola inovadora, Sra. Anderson, voltou do almoço certo dia e encontrou Milly, uma aluna do ensino básico, sentada em seu escritório e parecendo arrasada, esperando para vê-la. A diretora se sentou junto a Milly, que começou: “Sra. Anderson, a senhora já teve uma semana em que tudo que faz magoa alguém, mas a senhora nunca quis magoar ninguém de forma nenhuma?” “Sim”, respondeu a diretora. “Acho que compreendo”. Milly então passou a descrever sua semana. “Eu já estava um pouco atrasada para uma reunião muito importante”, continuou a diretora, “ainda estava com meu casaco, e ansiosa para não deixar uma sala cheia de gente me esperando. Então, perguntei: ‘Milly, o que posso fazer por você?’ Milly se aproximou, agarrou meus ombros com as mãos, olhou-me bem nos olhos e disse com muita firmeza: ‘Sra, Anderson, não quero que a senhora faça nada; só quero que me escute. “Aquele foi um dos momentos de aprendizagem mais significativos de minha vida – e ensinado por uma criança -, por isso pensei: ‘Não importa a sala cheia de adultos esperando por mim!’ Milly e eu passamos para um banco que nos dava mais privacidade e nos sentamos, com meu braço ao redor de seus ombros, sua cabeça em meu peito, e seu braço em volta de minha cintura, e falou até se dar por satisfeita. E sabe de uma coisa? Não demorou tanto tempo assim”. DESENVOLVIDA POR CENTRO DE MEDIADORES MÓDULO II - SISTEMA EMOCIONAL Ego Vs. Unidade Consciente Conceito: Ego - Entende-se geralmente por ego, algo pejorativo, diz-se de alguém que pensa muito em si mesmo que seu “ego” é muito grande. O ego é, realmente, o conceito ou imagem que o indivíduo tem de si mesmo. A psicanálise entende que o ego é a personalidade que, no âmbito psíquico, influencia o comportamento de alguém, partindo de suas próprias experiências e controlando suas vontades e impulsos. O ego, na comunicação não violenta, significa corpo, matéria. O ego é o nosso corpo físico. O ego preocupa-se consigo mesmo, sua visão é limitada ao tempo cronológico Unidade consciente – é a nossa mente, é o centro dos nossos pensamentos. Alguns vão chamar de alma, consciência, inconsciente. Nós vamos chamar de unidade consciente, é a nossa humanidade. Paralelo entre ego e unidade consciente: EGO UNIDADE CONSCIENTE CORPO/MATÉRIA ALMA/CONSCIÊNCIA/INCONSCIENTE/CORAÇÃO TEMPORAL ATEMPORAL KRONOS KAIROS INVESTIMENTO NA MATÉRIA (EU) INVESTIMENTO NO PRÓXIMO OBTENÇÃO DO PRAZER MEDO DA MORTE FINITO INFINITO NECESSIDADES DESEJOS SOMBRA LUZ Mensagens verbais e não-verbais Albert Mehrabian, nascido em 1939 em uma família armênia que vive no Irã, é professor emérito de psicologia da Universidade da Califórnia, em Los Angeles. Embora ele tenha treinado originalmente como engenheiro, ele é mais conhecido por suas publicações sobre a importância relativa das mensagens verbais e não verbais. Pioneiro em pesquisas sobre linguagem corporal, ficou conhecido pela decodificação das mensagens não-verbais (Regra: 7%/38%/55%). 55% da mensagem geral é como a pessoa se movimenta ao entregar a mensagem. Cérebro instintivo ou reptiliano, intenção de falar, dinâmica energética do psiquismo. 38% da mensagem geral é forma [seu tom, volume da voz, velocidade da fala etc] como a pessoa entrega a mensagem. Cérebro emocional (Sistema límbico), timbre, “cor da voz”, pureza. 7% da mensagem geral pode ser atribuída às palavras que a pessoa usa. Cérebro intelectual (Neocórtex) verbalização, exteriorização, DESENVOLVIDA POR CENTRO DE MEDIADORES linguística, ou seja, segundo Mehrabian, 93% da efetividade de um discurso é atribuída à comunicação não verbal do emissor. A comunicação verbal engloba todo o conteúdo repassado por meio de palavras faladas ou pela escrita. É o e-mail que um líder envia aos seus liderados, a conversa por telefone com algum ente querido, uma carta recebida com um aviso do banco etc. Já a comunicação não verbal engloba todos os aspectos que compõem um discurso: tom de voz usado, postura, troca de olhares, expressões faciais etc. Em suma, é a linguagem corporal adotada pelo falante que detém grande importância para que uma mensagem seja repassada da melhor forma. RAZÃO EMOÇÃO PENSAMENTO COMPORTAMENTO PASSADO E FUTURO PRESENTE LÓGICO SUBJETIVO MECÂNICO ABSTRATO CÉTICO SONHADOR CRÍTICO IMAGINATIVO COGNITIVO EMOTIVO MATERIALISTA AVENTUREIRO VERBAL AMOROSO “NÃO VERBAL” Emoções, sentimentos e necessidades Conceito: Emoções - A palavra emoção, ao que tudo indica, vem do latim ex movere, que quer dizer, em uma tradução livre, “mover para fora”. A derivação faz sentido, uma vez que demonstrar nossos sentimentos nada mais é do que colocar para fora o que se passa no nosso interior. A emoção é uma sensação que pode causar até mesmo impactos físicos, provocados por estímulos de diferentes naturezas. Eles podem ser sentimentos ou episódios específicos. Vivenciar uma emoção, no entanto, é uma experiência bastante particular: assim como você pode sentir ela de uma forma, outra pessoa pode demonstrar de uma maneira diferente. A alegria, por exemplo, pode trazer reações físicas como o sorriso e o aumento dos batimentos cardíacos, assim como também alteração na respiração e até choro. 7 Emoções básicas: Alegria: Estado de satisfação extrema; sentimento de contentamento ou de prazer excessivo: a alegria de ser feliz. A alegria surge de situações diversas. Ex: A alegria de rever um amigo depois de muito tempo. Surpresa: Surpresa quer dizer aquilo que é inesperado, é a propriedade do que surpreende. Uma surpresa também pode ser um ato realizado espontaneamente por alguém, sem que o outro, ou os outros, tenham conhecimento. Como em uma festa surpresa, comum em aniversários ou datas comemorativas. Também pode-se dizer de algo que não correu como deveria. Ex: "os resultados dos exames foi uma surpresa para todos", o que significa que foi diferente do esperado. DESENVOLVIDA POR CENTRO DE MEDIADORES Desprezo: Ausência de consideração; sem apreço nem estima; desdém. O ato de desprezar uma pessoa significa impor a ela severa humilhação, além de rebaixá-la, indica que não se quer nenhuma forma de convívio.Ex: Um convite não respondido pode ser considerado desprezo. Tristeza: Tristeza é um sentimento e condição típica dos seres humanos, caracterizado pela falta da alegria, ânimo, disposição e outras emoções de insatisfação. É uma condição natural de todos os indivíduos. Em algum momento, todas as pessoas ficam ou já ficaram tristes. Vários podem ser os motivos que desencadeiam sentimentos de tristeza. Ex: Uma desilusão amorosa, a perda de um emprego, a morte de um amigo ou familiar e outras situações que sejam encaradas de modo negativo pela pessoa. Raiva: É uma das emoções mais intensas e frequentes sentidas cotidianamente. É considerada uma emoção básica que pode ser definida em termos gerais como a pretensão de causar dano e hostilizar alguém. A raiva é desencadeada por frustrações causadas por ações próprias ou agentes externos. Ex: “Fiquei com raiva pois liguei várias vezes e ela não atendeu o celular”. Aversão: Aversão é um sentimento de repulsa, algo que afasta de alguém ou alguma coisa. Como aversão a baratas, é o nojo ou asco deste tipo de inseto. Ou a aversão a pessoas falsas, em que o indivíduo sequer consegue conviver socialmente com alguém que demonstra falsidade. Podemos entender a aversão como nojo, repulsa, horror, asco, repugnância. Ex: “Tenho aversão a seres humanos que maltratam bichos”. Medo: Medo é um estado emocional que surge em resposta a consciência perante uma situação de eventual perigo. O aumento do batimento cardíaco, a aceleração da respiração e a contração muscular são algumas das características físicas desencadeadas pelo medo. O medo é uma sensação de alerta de extrema importância para a sobrevivência das espécies, principalmente para o ser humano. A ideia de que algo ou alguma coisa possa ameaçar a segurança ou a vida de alguém, faz com que o cérebro ative, involuntariamente, uma série de compostos químicos que provocam reações que caracterizam o medo. As pessoas podem desenvolver fobias por várias coisas. Ex: medo de palhaços, medo de gatos, medo de altura, medo de aranha. Conceito: Sentimentos - Os sentimentos podem ser definidos como os estados e as reações que o corpo humano é capaz de expressar diante dos acontecimentos que os indivíduos vivenciam. Estas reações ou estados do corpo humano são coisas comuns a todos os seres humanos e podem ser manifestados tanto para acontecimentos recentes quanto para algo que seja revivido por meio de lembranças ativadas pela memória. Os sentimentos incorporam muitas caracterizações e diversos modos de se apresentar, pois ora podem indicar algo bom e positivo, ora podem demonstrar coisas ruins. Como surgem os sentimentos? Os sentimentos são oriundos do sistema límbico ou cérebro emocional. Os sentimentos são um estado de ânimo que surge em relação a estímulos externos, sendo considerados a expressão mental da emoção. Quando a emoção se processa no cérebro e a pessoa é consciente dela e do estado de humor que provoca em si mesma, ocorre um sentimento. Logo, a origem dos sentimentos são as emoções definidas e avaliadas racionalmente que determinarão o nosso estado de espírito. DESENVOLVIDA POR CENTRO DE MEDIADORES Lista de sentimentos Positivos (Necessidades atendidas) Negativos (Necessidades não atendidas) Calmo Com raiva Relaxado Furioso Conectado Aborrecido Descansado Exausto Renovado Estafado Contente Deprimido Feliz Triste Alegre Sozinho Animado Desencorajado Esperançoso Desanimado Inspirado Desesperançoso Energizado Irritado Alerta Receoso Disposto Desconfortável Grato Chateado Empoderado Agitado Motivado Frustrado Concentrado Desconcentrado Curioso Surpreso Interessado Tenso Bem-humorado Com medo Amoroso Preocupado Centrado Pessimista Seguro Cansado Aliviado Fragilizado Otimista Envergonhado Satisfeito Confuso Pleno Ansioso Conceito: Necessidade – É aquilo que é inevitável, imprescindível, fundamental, que tem grande importância, que deve ser feito ou cumprido por ação, imposição ou obrigação. Necessidade é aquilo que é estritamente necessário, ou seja, que é indispensável, que é útil, que não se pode deixar de ter ou ser. Marshall Rosenberg, o criador da Comunicação Não Violenta (CNV) diz que "toda violência é uma expressão trágica de uma necessidade não satisfeita". Todos temos necessidades comuns que nos fazem sentir satisfeitos ou insatisfeitos. Por isto, tudo que fazemos, todos os nossos comportamentos (ditos por Marshall como estratégias), nos levam a alcançar alguma necessidade ou manter alguma necessidade. Lembrando que necessidade é algo que nunca cessa - não é porque você comeu hoje que não precisará comer amanhã. Funciona assim com todas as necessidades. Elas precisam ser supridas sempre. DESENVOLVIDA POR CENTRO DE MEDIADORES Lista de necessidades Honestidade Conexão Ordem Autenticidade Empatia Expressão espiritual Integridade Aceitação Lazer Presença Pertencimento Diversão Autonomia Cooperação Humor Escolha Comunicação Facilidade Liberdade Interdependência Variedade Espaço Comprometimento Ar Espontaneidade Coerência Água Expressão Reconhecimento Alimento Significado Respeito Movimento Compreensão Segurança Descanso Celebração Estabilidade Sono Clareza Apoio Expressão sexual Contribuição Suporte Abrigo Sentido Afeto Toque Luto Conforto Saúde Inspiração Confiança Realização Sustentabilidade Evolução Proteção Esperança Paz Aprendizado Beleza Desafio Comunhão Descoberta Bem-estar Criatividade Equidade Valorização Harmonia Crescimento Inspiração DESENVOLVIDA POR CENTRO DE MEDIADORES MÓDULO III - EMPATIA Conceito: Empatia - Empatia significa a capacidade psicológica para sentir o que sentiria uma outra pessoa caso estivesse na mesma situação vivenciada por ela. Consiste em tentar compreender sentimentos e emoções, procurando experimentar de forma objetiva e racional o que sente outro indivíduo. A empatia leva as pessoas a ajudarem umas às outras. Está intimamente ligada ao altruísmo - amor e interesse pelo próximo - e à capacidade de ajudar. Quando um indivíduo consegue sentir a dor ou o sofrimento do outro ao se colocar no seu lugar, desperta a vontade de ajudar e de agir seguindo princípios morais. A capacidade de se colocar no lugar do outro, que se desenvolve através da empatia, ajuda a compreender melhor o comportamento alheio em determinadas circunstâncias e a forma como outra pessoa toma as decisões. Com origem no termo em grego empatheia, que significava "paixão", a empatia pressupõe uma comunicação afetiva com outra pessoa e é um dos fundamentos da identificação e compreensão psicológica de outros indivíduos. Segundo Marshall Rosenberg, a empatia é a compreensão respeitosa daquilo que os outros estão vivendo. A verdadeira empatia requer que se escute com todo o ser: “Ouvir somente com os ouvidos é uma coisa. Ouvir com o intelecto é outra. Mas ouvir com a alma não se limita a um único sentido, o ouvido ou a mente, por exemplo. Portanto, ele exige o esvaziamento de todos os sentidos. E, quando os sentidos estão vazios, então todo o ser escuta. Então ocorre uma compreensão direta do que está ali mesmo diante de vocêque não pode nunca ser ouvida com os ouvidos ou compreendida com a mente”. Ser empático é se identificar com outra pessoa ou com a situação vivida por ela. É saber ouvir os outros e se esforçar para compreender os seus problemas, suas dificuldades e as suas emoções. Quando alguém diz “houve uma empatia imediata entre nós”, isso significa que houve um grande envolvimento, uma identificação instantânea. O contato com a outra pessoa gerou prazer, alegria e satisfação. Houve compatibilidade. Nesse contexto, a empatia pode ser considerada o oposto de antipatia. Para ser empático é preciso conseguir ultrapassar as barreiras do egoísmo, do preconceito ou do medo do que é desconhecido ou diferente. Para que uma pessoa consiga exercer a empatia é preciso retirar a atenção de seus próprios problemas e manter seu foco de atenção na outra pessoa. A empatia pode ocorrer em todos os tipos de relacionamentos humanos: nas relações familiares, nas amizades, no ambiente de trabalho e até mesmo com pessoas desconhecidas. É um sentimento indispensável para melhorar a qualidade da comunicação e do relacionamento entre as pessoas. Nas relações pessoais a empatia pode ser fundamental para a compreensão de dificuldades das pessoas com quem se convive, ajudando a diminuir e evitar conflitos. O mesmo pode ocorrer no ambiente de trabalho, já que a empatia pode ajudar que um colega compreenda as dificuldades enfrentadas por outro. A empatia entre pessoas que não se conhecem é a mais difícil de ocorrer, já que se caracteriza por um sentimento de compreensão com uma pessoa com quem não existe nenhum vínculo de afeto. Entretanto, é importante saber que a empatia é um sentimento que pode ser praticado. Uma das maneiras de exercitar a empatia é treinar manter um olhar de afeto sobre as necessidades de outras pessoas. DESENVOLVIDA POR CENTRO DE MEDIADORES A biologia da empatia Giacomo Rizzolatti, nascido em 28 de abril de 1937 é um neurofisiologista italiano que trabalha na Universidade de Parma . Nascido em Kiev , Ucrânia , ele é o Cientista Sênior da equipe de pesquisa que descobriu neurônios-espelho no córtex frontal e escreveu muitos artigos científicos sobre o assunto. Ele é ex-presidente da European Brain and Behavior Society . Rizzolatti foi o co-recebedor em 2007, com Leonardo Fogassi e Vittorio Gallese, do Prêmio Grawemeyer da Universidade de Louisville for Psychology. Um dos processos mais fascinantes da neurociência é constituído por neurônios espelho e empatia. Com ele as ações e as emoções alheias não passam despercebidas e podemos ser capazes de dar uma resposta empática. São mecanismos que também têm um contexto social e sua implementação tem uma grande influência em nossas relações cotidianas. Nos imaginemos por um momento sentado nas cadeiras de um teatro. Visualizemos agora um grupo de excelentes atores nos apresentando uma determinada obra, executando precisos movimentos corporais e gestuais e entoando cada palavra perfeitamente, conseguindo com isso nos contagiar com uma infinidade de emoções… Nada disso faria sentido se não tivéssemos essa base biológica capaz de nos permitir ativar uma poderosa gama de sensações, sentimentos e emoções, como o medo, a compaixão, a alegria, a preocupação, a repulsão, a felicidade… Sem tudo isso o próprio “teatro” da vida não teria qualquer significado, seríamos como entidades vazias, uma civilização de hominídeos que não poderia ter desenvolvido algum tipo de linguagem. Assim, não pode nos surpreender que o interesse pelos neurônios espelho e pela empatia não seja reduzido apenas ao mundo da neurociência ou da psicologia, também a antropologia, a pedagogia ou a arte têm se ocupado nas últimas décadas para conhecer um pouco mais dessa arquitetura interior, esses maravilhosos mecanismos sobre os quais ainda não sabemos tudo… Quando observamos uma pessoa realizando um ato de gentileza como, por exemplo, oferecer uma flor para alguém, imediatamente compreendemos essa atitude. Da mesma forma, se presenciamos um ato de agressividade, identificamos a expressão de raiva instantaneamente. Ao passo que no primeiro caso sentimos prazer e nosso comportamento é de aproximação, no segundo sentimos desprazer e nossa atitude é de aversão. Essa capacidade de empatia, ou seja, de reconhecimento da emoção alheia, é uma característica altamente adaptativa ligada à sobrevivência da espécie. Antigamente, pensava-se que essa capacidade de reconhecimento era decorrente de um processo puramente cognitivo, isto é, observaríamos a expressão facial e corporal do interlocutor e, dadas suas características, poderíamos deduzir de qual emoção se tratava através de um processo lógico. No entanto, hoje se sabe que essa compreensão ocorre devido à existência de um sistema neural específico denominado neurônios espelho. Não se trata de um processo dedutivo, mas da capacidade de compreensão imediata da experiência emocional do outro porque identificamos a mesma experiência em nós mesmos. Trata-se, portanto, de um processo de ressonância. Compreendemos a ação do outro de modo automático como se ele fosse nós mesmos, o que nos remete à afirmação de filósofos como Merleau Ponty: “Nós compreendemos o outro porque temos dentro de nós a mesma experiência”. Esse sistema neuronal foi descoberto na década de 90 por uma equipe de neurocientistas italianos liderados por Giacomo Rizzolati. Nessa época, Rizzolati estava interessado na identificação dos neurônios motores envolvidos em um ato motor voluntário em macacos não condicionados, quando DESENVOLVIDA POR CENTRO DE MEDIADORES se deparou com um estranho resultado. Ele notou que as mesmas áreas motoras envolvidas no ato motor também disparavam quando o animal observava a mesma ação realizada pelo experimentador. Posteriormente, inúmeros experimentos demonstraram a existência de neurônios espelho em diferentes espécies, até mesmo em pássaros. No ser humano, foram identificadas áreas cerebrais específicas como o córtex insular, ligadas à identificação de emoções. Quando assistimos a um filme e nos emocionamos com determinadas cenas estamos ativando as mesmas áreas cerebrais que o ator está experenciando. Quanto maior a identificação da experiência em nós, maior a ativação neuronal. Um elegante experimento demostrou esse fato: através de ressonância magnética funcional, observou-se a atividade neuronal de uma bailarina clássica quando essa assistia uma apresentação de um bailarino clássico do sexo oposto. Nesse caso, as mesmas áreas cerebrais envolvidas para execução do movimento eram identificadas no cérebro da observadora. Além disso, quando a experiência era feita com uma bailarina que assistia a apresentação de outra dançarina clássica, ou seja, alguém do mesmo sexo, a atividade neuronal era ainda maior. Contudo, quando essa mesma bailarina observava um jogo de capoeira, cujos fundamentos não eram de seu conhecimento, seu cérebro mostrava pouca atividade. Atualmente esse sistema espelho está sendo amplamente estudado e observamos seu envolvimento em muitosprocessos importantes, como no aprendizado por imitação, no desenvolvimento da linguagem, assim como em diferentes patologias, entre elas o autismo. Por isso, nesse contexto, cabe a frase do brilhante neurocientista Ramachandram “A descoberta dos neurônios-espelho representa para os estudos da mente o que o DNA representou para a biologia”. Esse dado não é muito conhecido e é importante o recordarmos. A empatia não existiria sem o movimento, sem nossas ações, gestos, posturas… De fato, ao contrário do que podemos pensar, os neurônios espelho não são um tipo específico de neurônios. Na verdade, eles são células do sistema de pirâmide relacionadas ao movimento. No entanto, eles têm a particularidade de serem ativados não só com o nosso movimento, mas também quando observamos o dos demais. Isso foi o que descobriu o Dr. Giacomo Rizzolatti. Os neurônios espelho nos permitem empatizar com aqueles que nos cercam. Eles são a ponte que nos conecta, que nos vincula entre nós e que, por sua vez, nos permite experimentar três processos muito básicos: 1 - Poder conhecer e compreender o que a pessoa que tenho em frente sente ou experimenta (componente cognitivo). 2 - Também podemos “sentir” o que essa pessoa sente (componente emocional). 3 - Finalmente, e esse tipo de resposta sem dúvida exige maior sofisticação e sensibilidade, podemos, por sua vez, responder de forma compassiva, dando forma a esse comportamento social que nos permite avançar em um grupo. Devemos, portanto, aprender a olhar para os outros deixando de lado os preconceitos. Também não serve que nos limitemos a “sentir o mesmo que os outros sentem”, é necessário que possamos compreender sua realidade, mas manter a nossa para poder participar efetivamente do processo de ajuda, de apoio, de altruísmo. Porque, afinal, o sentimento que não é acompanhado pela ação é inútil. Assim, se chegamos onde estamos, é precisamente porque fomos proativos, porque nos preocupamos com cada membro de nosso grupo social ao entender que juntos avançamos em melhores condições do que na solidão. Lembremos, portanto, qual é o verdadeiro propósito dos neurônios espelho e da empatia: promover nossa sociabilidade, nossa subsistência, nossa conexão com quem está ao nosso redor. Conceito: Rapport - Rapport é um conceito originário da psicologia que remete à técnica de criar uma ligação de empatia com outra pessoa. O termo vem do francês Rapporter, cujo significado vem da sincronização que permite estabelecer uma relação harmônica. A técnica objetiva gerar confiança DESENVOLVIDA POR CENTRO DE MEDIADORES no processo de comunicação, para que a pessoa fique mais aberta e receptiva durante a terapia. Isso faz com que ela interaja, troque e receba informações com mais facilidade. Não há como forçar o Rapport. Ele exige uma demonstração de sincero interesse pela opinião e pensamentos do outro. Uma técnica de Rapport muito empregada é a reciprocidade. Trata-se do famoso método “dar sem esperar nada em troca”. Por fim, o compartilhamento de interesses em comum também pode ser classificado dessa maneira. Muito comum no nosso dia a dia, ajuda a construir uma relação de camaradagem e confiança. Elementos do Rapport Para compreender melhor o que é Rapport, temos que levar em conta os elementos que o compõe. Esse conceito, em primeiro plano, está relacionado a sentir a conexão que transcende o campo das palavras. Desse modo, em sua essência e amplitude, exige atenção e equilíbrio dos seguintes elementos: 1 – Contato Visual - Para se estabelecer Rapport de forma efetiva, é preciso, em primeiro lugar, olhar nos olhos da pessoa que está diante de você. Digo isso, pois é a partir do contato visual pleno, que conseguimos realmente enxergar o que está além das palavras, como disse no parágrafo anterior. 2 – Expressão Facial - Outro ponto importante do processo de Rapport são as expressões faciais que não conseguem mentir. Quando observamos o que o rosto da pessoa nos diz, conseguimos compreender melhor o que ela, muitas vezes, tenta nos dizer e não consegue. Com isso, tornamos a comunicação muito mais eficiente em todos os seus aspectos. 3 – Postura Corporal - A partir da observação da forma como as pessoas se comportam, ou seja, da sua postura corporal, é possível saber se estão à vontade ou incomodadas com algo, se estão receptivas ou resistentes, entre outros pontos, que ajudam a compreendê-la melhor e a encontrar maneiras para se comunicar com elas na essência. 4 – Equilíbrio Emocional - Nossas emoções também dizem bastante sobre nós. Se estamos com raiva, tristes, ansiosos, felizes, vamos demonstrar de alguma forma. Assim, observar estes sentimentos, buscando compreender se há um equilíbrio entre eles também é essencial para saber como está o outro. 5 – Tom de Voz (Timbre) - Outro elemento que também denuncia bastante como o outro se sente e que pode e deve ser espelhado é o tom de voz que a pessoa utiliza para se comunicar. Ou seja, se ela está um pouco irritada, vai falar de forma mais agressiva, se está triste, vai usar um timbre um pouco mais baixo e lento, já se está feliz, vai demonstrar bastante alegria em sua voz. 6 – Andamento (Timing) - Quando o Rapport é criado, geralmente se cria uma conexão com o outro, que acaba por nos fazer perder a noção do tempo. Neste sentido, é fundamental estarmos atentos com relação a isso, para que consigamos nos desconectar e finalizar o processo, ou a sessão de Coaching, por exemplo. 7 – Volume (Intensidade da voz) - Aqui nada mais é do que observar se a pessoa com a qual você está tentando uma conexão tem ou está falando muito alto, muito baixo ou de forma intermediária. Conseguindo identificar isso, fica muito mais fácil se espelhar, de forma sutil, e se conectar verdadeiramente com o outro. DESENVOLVIDA POR CENTRO DE MEDIADORES 8 – Comunicação Verbal (Palavras) - Agora é chegado o momento de observar o que a pessoa está realmente dizendo, o que a sua comunicação verbal quer transmitir e espelhar-se em suas palavras, buscando compreendê-la e fazer com que ela se compreenda na mesma medida. 9 – Comunicação Não-Verbal (Gestos) - Outro ponto importante a se espelhar é na comunicação não-verbal da pessoa que está diante de você. Ou seja, observar seus gestos e repeti-los, de maneira que ela não perceba que está sendo espelhada, faz com que você fique ainda mais próximo e consiga realmente se comunicar com o outro. 3 tipos de empatia Cognitiva - Empatia Cognitiva significa que você consegue compreender como a outra pessoa vê o mundo. Se quando você se comunica com uma determinada pessoa você utiliza termos diferentes ou palavras especificas, pode ser um sinal de que você está exercitando a sua Empatia Cognitiva. Você quer que te entendam e por você conhecer que a outra pessoa utiliza um vocabulário diferente, tenta se adaptar. Um exemplo comum é quando você interage por muito tempo com pessoas de outro estado e acaba absorvendo o sotaque. Para exercitar a Empatia Cognitiva,precisamos ouvir a outra pessoa com atenção. Ouvir não se trata apenas de comunicação verbal, mas também de observar com atenção e entender a comunicação não verbal. Rapport está diretamente relacionado a Empatia Cognitiva, mas também se relaciona com a Empatia Solidária. Quando um profissional possui uma Empatia Cognitiva, essa pessoa consegue compreender e processar as normas e acordos da organização que muitas vezes não são explícitos. Estas normas e acordos orientam os comportamentos e atitudes dos indivíduos. A soma dos valores, comportamentos e atitudes são o que compõe uma determinada “cultura organizacional”. Outra forma de ver a Empatia Cognitiva é pela facilidade que alguém vai ter em entender os modelos mentais de diferentes pessoas. Emocional - Empatia Emocional significa que você consegue se sentir da mesma forma que a outra pessoa se sente. Talvez a Empatia Emocional seja a forma mais comum a ser discutida, algumas pessoas descrevem como “tentar se colocar no lugar da outra pessoa”. Particularmente, considero esta definição uma abstração muito incompleta o que leva a diversos equívocos de entendimento sobre Empatia. A Empatia Emocional exige que você conheça a outra pessoa de forma profunda, apenas “tentar se colocar no lugar” não é o suficiente. Empatia Emocional seria como se você se transformasse na outra pessoa, assumindo seus sentimentos, modelos mentais e etc. É uma tarefa tão difícil que muitas vezes nos mesmos não nos conhecemos o suficiente para ter Empatia Emocional por nós mesmos. Solidária ou compassiva - Significa que não apenas compreendemos a situação de uma pessoa, mas também nos sentimos solidários com ela, nos movemos espontaneamente para ajudar, se necessário. Relacionamentos exigem uma grande diversidade de competências e algumas delas estão relacionadas a Empatia. Embora muito seja falado sobre Empatia, é extremamente difícil saber o quão bem-sucedidos estamos sendo quando se trata de exercer empatia. Compreender, exercitar e melhorar a nossa habilidade com Empatia contribui positivamente para quando estamos tentando ensinar outras pessoas, motivar outras pessoas, negociar com outras pessoas, desenvolver e influenciar outras pessoas. DESENVOLVIDA POR CENTRO DE MEDIADORES Como ser empático? O primeiro passo é querer a conexão com o outro, é preciso dirigir seu interesse para o outro. Tornando-nos aptos a compreender o outro, nos interessamos pela sua existência e seu destino. Importante que seja um interesse genuíno que nada se confunda com curiosidade, vantagem pessoal ou poder. Para desenvolver empatia por alguém é preciso desprender-se de qualquer tipo de pensamento em relação a ele, qualquer julgamento e preconceito e tentar senti-lo de um modo mais direto e intuitivo. Antes de formar conceitos é fundamental a disposição de buscar as qualidades interiores em detrimento às aparências. É um passo além de ser simpático ou carismático. É ser espontâneo em sabedoria e na arte de surpreender. É uma pessoa que transfere sua experiência sem pedir nada em troca. Os empáticos dão vida à vida. São sempre lembrados como pessoas insubstituíveis. Fazem total diferença no nosso dia a dia. Os empáticos são capazes de superar o pessimismo e o mau humor, além de superar a necessidade diária – e estúpida – de estar acima dos outros sempre. São pessoas sempre afetuosas. São verdadeiros pacificadores. Na presença deles, imperam serenidade e calmaria. Temos de aprender com eles! São lentos para condenar e rápidos em compreender. São pessoas maduras e sabem que a “verdade” está sempre longe do ideal. Minha verdade pode não ser a sua, e vice-versa. Ser empático é saber entender a falha do outro, deixar as mágoas de lado e compreender que somos todos imperfeitos. Seu objetivo não é ganhar discussões, e sim conquistar pessoas. São tão surpreendentes que não têm medo de pedir desculpas. Ao contrário, pessoas que não possuem empatia colocam o status social acima de tudo, escondendo suas emoções e seus medos nas sombras de uma vida falsa e vazia. Mas como poderíamos melhorar nossa capacidade de sermos mais empáticos e, assim, jogar luz à nossa vida e aos que nos rodeiam? Primeiramente, não espere nada de ninguém. Ouça mais e fale menos. Aja com respeito e bondade com as pessoas, e caso seja ofendido ou não retribuído de alguma forma, entenda que o problema não está em você. É perda de tempo ficar remoendo situações desagradáveis. Não perca suas energias acusando as pessoas, exaltando um erro alheio ou se gabando dos seus acertos perante os outros. A vida é mais do que isso. Se você se irrita facilmente com pequenas coisas no dia a dia, saiba que reformas internas são necessárias em busca de atitudes mais empáticas. O escritor Augusto Cury dissertou muito bem sobre o tema: “Nunca exija o que os outros não podem dar. No momento em que uma pessoa erra, falha, se equivoca, não consegue abrir o leque da inteligência para dar respostas lúcidas. Exigir lucidez nos focos de tensão é uma afronta aos direitos humanos”. Seja humilde e não viva baseado em fatores externos. Seja você mesmo e compreenda que todos nós estamos vivendo em busca de aprendizado interior, e só assim poderemos lidar com o próximo. DESENVOLVIDA POR CENTRO DE MEDIADORES MÓDULO IV - CONFLITOS Conceito: Conflitos - Luta armada entre países conflitantes; guerra. Ex: o conflito entre Palestina e Israel. Ausência de concordância, de entendimento; oposição de interesses, de opiniões; divergência. Ex: conflito entre capitalistas e socialistas. Choque violento. Ex: conflito entre policiais e traficantes. Discussão intensa, altercação. Ex: vivia criando conflitos com os alunos. Oposição mútua entre as partes que disputam o mesmo direito, competência ou atribuição. Condição mental de quem apresenta hesitação ou insegurança entre opções excludentes, estado de quem expressa sentimentos de essência oposta. Oposição, choque de interesses, entre personagens, normalmente entre o protagonista e forças externas ou até consigo mesmo. Etimologicamente, vem do latim: conflictus. Na CNV, aprenderemos que o conflito é bem vindo. A forma como olhamos para o conflito e o encaramos é que vai definir o que o conflito será para nós. Em nosso cotidiano, é comum nos depararmos com conflitos, que impactam a conexão com aqueles mais próximos ou mesmo com aquelas pessoas com as quais não temos tanta convivência, mas que a qualidade do relacionamento, de alguma forma, nos importa. Por vezes, encontramos dificuldades de expressar nossa honestidade comunicando nossos limites, principalmente quando estamos recebendo expressões de forma acusatória. E, se junto com estes conflitos e ausência de limites, vêm episódios de raiva, pode ser ainda mais desafiador partir para os próximos passos. E pode ser trágico quando as estratégias escolhidas para seguir não servem à vida e aos relacionamentos que queremos nutrir. Julgamento – Nossa sociedade atual tem quase como um mantra a frase: “Não julgue”. E a CNV também diria: “Não julgue”. Mas hácomplemento para essa frase. Não julgue o outro, julgue a si mesmo. Nesse caso seria o contrário dos neurônios espelhos. Na comunicação não violenta, nós nos avaliamos o tempo todo, mas em relação ao outro, nós observamos, sem avaliar. O erro de julgar alguém é que, muito provavelmente, você vai deixar a desejar no mesmo aspecto em que você está julgando outrem. O ser humano é capaz de errar em tudo. Marshall Rosenberg diz que ao julgarmos alguém, diminuímos a probabilidade de que essa pessoa ouça a mensagem que desejamos lhe transmitir. Em vez disso, é provável que eles a escutem como crítica, e assim, resistam ao que dizemos. Indignação moral – Na comunicação de um fato que nos incomoda, é normal ficarmos indignados moralmente. Em algumas ocasiões, ficamos mais indignados até que a vítima do fato. Mas essa indignação moral não ajuda a vítima. A indignação pode causar mais dor à pessoa que está lhe relatando algo que a feriu. O caminho correto é o da solidariedade e empatia. Condenação – Sentenciar alguém por uma atitude errada também não ajuda ninguém. Nem mesmo a vítima. O senso de justiça está dentro de cada ser humano. É natural julgar, se indignar e condenar uma atitude ruim, mas nós precisamos controlar esse senso e deixar para os verdadeiros responsáveis fazê-los, pois a nossa condenação pode “matar” aquele que a ouve. DESENVOLVIDA POR CENTRO DE MEDIADORES Necessidades não atendidas Nossos conflitos surgem de necessidades não atendidas. Marshall Rosenberg diz que “toda violência é uma expressão trágica de uma necessidade não atendida”. Isto quer dizer que sempre que agimos de maneira a magoar ou machucar alguém, estamos tentando satisfazer alguma necessidade, mas não sabemos bem qual é esta necessidade e nem como fazer isto. Os vícios, traições e outros males podem surgir também de necessidades não atendidas, sendo reconhecidas ou não por nós. Baseado no princípio de que toda violência é resultado de uma necessidade não atendida, Marshall Rosenberg demonstra como podemos criar diálogos estruturados que identifiquem melhor nossas necessidades não atendidas e os sentimentos que discorrem disso. A partir dessa identificação mais clara, podemos então agir para sanar nossas necessidades, chegando a um denominador comum mais empático, mesmo que esse denominador seja uma discordância pacífica. De forma mais ampla, a teoria da CNV trabalha em três grandes dimensões: a CNV falar, ou seja, como expressamos nossas necessidades e sentimentos; a CNV ouvir, ou seja, a maneira como ouvimos o outro e identificamos suas necessidades e sentimentos; e a CNV auto dialogar, ou seja, a forma como estruturamos e mantemos nossos diálogos internos. Violência A CNV acredita que toda forma de comunicação humana tem por objetivo demonstrar necessidades universais. Ou seja, que existe uma reivindicação por trás de cada mensagem que emitimos, mesmo que esteja encoberta por gritos, ofensas, julgamentos e agressões verbais ou físicas. Em geral, essa violência é resultado de imposições da cultura dominante, que gera ambientes com grande pressão pelo poder e competitividade. Diante desse cenário, o mais comum é que as pessoas reajam de um jeito negativo, tentando se defender e mascarar suas falhas. Os tipos de violência são vários. Elencamos alguns que são mais “comuns”. Abuso físico – Significa o uso da força para produzir injúrias, feridas, dor ou incapacidade em outrem. Ato moderado: Ameaças não relacionadas a abuso sexual e sem uso de armas; agressões contra animais ou objetos pessoais; violência física (empurrões, tapas, beliscões, sem uso de instrumentos perfurantes, cortantes ou que causem contusões). Abuso psicológico – Nomeia agressões verbais ou gestuais com o objetivo de aterrorizar, rejeitar, humilhar a vítima, restringir a liberdade ou ainda, isolá-la do convívio social. Ato severo: Agressões físicas que causem lesões temporárias; ameaças com arma; agressões físicas que causem cicatrizes; lesões de caráter permanente, queimaduras; uso de arma. Abuso sexual – Diz respeito ao ato ou jogo sexual que ocorre na relação hétero ou homossexual e visa estimular a vítima ou utilizá-la para obter excitação sexual e práticas eróticas, pornográficas e sexuais impostas por meio de aliciamento, violência física ou ameaças. Negligência ou abandono – Ausência, recusa ou deserção de cuidados necessários a alguém que deveria recebê-los. DESENVOLVIDA POR CENTRO DE MEDIADORES Gatilhos Os gatilhos mentais são agentes externos capazes de provocar uma reação nas pessoas e tirá-las da zona de conforto. Em outras palavras, são estímulos que agem diretamente no cérebro. Mas não se trata de hipnose ou algo do tipo, pois a base dos gatilhos mentais está na psicologia. Devemos nos utilizar desses gatilhos de forma positiva, não para acusar ou lembrar alguém de algo condenável que fez no passado, pois isso apenas geraria mais conflitos, mas para estimular bons pensamentos e sentimentos. Aprendizados na família Não herdamos apenas a cor dos olhos ou a casa de família. A nossa identidade e a forma como gerimos as emoções também são uma herança. Está na nossa memória e no inconsciente. Este legado molda-nos para sempre e, se não estivermos despertos para ele, podemos acabar a repetir padrões disfuncionais do passado e a viver traumas e ansiedades que não são nossas. Vários conflitos que vivemos podem ter sido herdados de nossos ancestrais. Precisamos entender a origem dos conflitos para conseguirmos lidar da melhor forma com os mesmos. É mais ou menos evidente que o nosso pai, a nossa mãe, a relação que têm entre si e que têm conosco nos define para sempre. Mas nem sempre é muito óbvio como. Podemos replicar os mesmos padrões ou podemos fugir deles. Mas há outras pessoas, relações, ideias e crenças que nos moldam: a forma como se falava de sexualidade em casa, as posições políticas e religiosas, o valor que se dava ao trabalho, ao dinheiro e à família, aquele tio que sempre nos apoiou ou uma avó cuja história de vida foi uma referência. As escolhas alargam-se quando há muitas referências, mas, mesmo assim, escolha nem sempre é a palavra certa. A herança emocional, na realidade, demonstra que somos um pouco menos livres do que pensamos. A família – a primeira forma de sociedade com que nos contatamos, em que aprendemos as primeiras regras e sentimos os primeiros afetos começa a moldar quem somos ainda antes de darmos os primeiros passos. Os pais são centrais e uma base segura de onde partir e onde voltar. Não é por acaso que, tradicionalmente, os psicoterapeutas lidam com muitas questões relacionadas com a família, com as recordações e emoções de infância. E que as questões mais abordadas são experiências que revelam carências de amor e de reconhecimento. Pessoas que se sentiram abandonadas e negligenciadas, comparadas e criticadas, que sentiram que os pais não gostavam delas, que eram agredidas, que se sentiam invisíveis ou um estorvo são alguns dos problemas mais frequentes. DESENVOLVIDA POR CENTRO DE MEDIADORES MÓDULO V -COMUNICAÇÃO NÃO VIOLENTA Conceito: Como já vimos anteriormente, a comunicação não violenta é um método desenvolvido pelo psicólogo norte-americano Marshall Rosenberg. No início dos anos 60, durante o auge do movimento a favor dos diretos civis e contra a segregação racial nos Estados Unidos, Rosenberg atuava como orientador educacional em instituições de ensino que eliminavam a segregação. O papel de Rosenberg, durante essa conturbada transição, era ensinar mediações e técnicas de comunicação. Nesse contexto, ele elaborou o método da Comunicação Não-Violenta (CNV). Em seu livro homônimo, Rosenberg define a Comunicação Não-Violenta como uma abordagem da comunicação, que compreende as habilidades de falar e ouvir, que leva os indivíduos a se entregarem de coração, possibilitando a conexão com si mesmos e com os outros, permitindo assim que a compaixão se desenvolva. Quanto à expressão Não-Violenta, o psicólogo faz uso da definição de Gandhi, se referindo a uma condição compassiva natural que aparece quando a violência é afastada do coração. A técnica é baseada em competências de linguagem e comunicação que auxiliam na reformulação da forma como cada um se expressa e ouve os demais. O pesquisador propõe que, com a Comunicação Não-Violenta (CNV), as respostas a estímulos comunicacionais deixem de ser automáticas e repetitivas e passem a ser mais conscientes e baseadas em percepções do momento, por meio da observação de comportamentos e fatores que tem influência sobre cada um. Por meio da escuta ativa e profunda, o método faz com que as interações ocorram com mais respeito, atenção e empatia, como defende o psicólogo. 1º Pilar da CNV: Empatia - Como sabemos, a Comunicação não-violenta não é apenas uma metodologia de comunicação para transformar conflitos, ela é uma consciência e uma intenção de uma validação para aquilo que é importante para cada ser humano. Assim, as minhas necessidades de pertencimento, apoio, respeito e sentido são tão importantes como as suas necessidades de espaço, sentido, clareza e segurança. No diálogo empático, honesto e respeitoso, vamos buscar um caminho para que as nossas necessidades fiquem atendidas. Empatia é um movimento de olhar para a experiência do outro a partir do universo dele. É oferecer presença na escuta, não para concordar ou discordar, nem para buscar soluções ou aconselhar, mas sim para compreender os sentimentos e necessidades do outro. É uma habilidade, que pode ser desenvolvida, de compreender o significado da experiência que uma outra pessoa está vivenciando e legitimar essa experiência. Demanda um aquietar de nossas conversas internas, prontas, condicionadas, para abrirmos o espaço curioso e interessado da escuta do outro. Numa metáfora, é entrar dentro da casa da pessoa que estamos ouvindo, olhar o que ela tem pendurado na parede, como ela arruma sua sala, o que ela come, qual é sua tradição religiosa, que músicas ela ouve, qual sua cultura familiar, quais são suas experiências, crenças, realidades. E daí, quando conhecemos mais do mundo de dentro dessa pessoa fica mais fácil compreendermos e validarmos seus sentimentos e necessidades. E também, fica muito provável que a conexão entre as pessoas flua a contento. Como eu escuto? Empatia é compreender antes de resolver. Escutar sem empatia é olhar sem ver. É dizer sim com o rosto enquanto a mente está ausente, desconectada e afastada emocionalmente de quem está na frente. Poucas competências são tão essenciais para construir relacionamentos DESENVOLVIDA POR CENTRO DE MEDIADORES fortes e significativos como comunicação e a escuta empática, aquela na qual você pode se conectar com os olhos, os sentimentos e a vontade. Escutar sem empatia é algo mais comum do que podemos pensar a princípio. Além disso, às vezes tendemos a ritualizar tanto nossas interações cotidianas que não percebemos a falta de conexão emocional, essa que, quase sem saber, dirigimos a quem está diante de nós. Um exemplo muito característico são os pais e mães que respondem quase automaticamente aos filhos quando explicam algo a eles. São frases banais como “sim, este desenho está muito bonito” ou “sério? Que interessante“, enquanto os pegam na escola ou enquanto estão ocupados com outras coisas e as crianças tentam explicar o que fizeram durante o dia. Essas dinâmicas não significam que amamos menos nossos filhos, de maneira alguma. Significam que às vezes não temos tempo para estar presentes e nos limitamos apenas a ouvir sem empatia, porque a vida é agitada, porque nossas jornadas fazem nosso pensamento estar em todos os lugares (e em nenhum ao mesmo tempo). O homem, geralmente, tem dificuldade de desenvolver essa escuta empática, pois tudo que ele quer em um diálogo é “resolver os problemas”, quando na verdade, o que a outra pessoa queria era ser ouvida e compreendida. A empatia está em nossa capacidade de sermos presentes. A empatia requer tempo e saber estar presente, sem pressa e sem desculpas. A atitude empática se vale primeiro do olhar. Precisamos olhar para o outro sem julgar, com proximidade e carinho. Devemos saber como responder. As críticas, os julgamentos ou o “eu no seu lugar teria feito” não ajudam nesses casos. Por sua vez, a empatia precisa, acima de tudo, ser proativa. Porque quem demonstra que entende, mas não faz nada, erra. Fazer acreditar que somos valiosos, mas nos negligenciar mais tarde, deixa uma marca e dói. Você acha que está se comunicando? A maior questão da comunicação é a ilusão de que ela está acontecendo. Precisamos ter uma comunicação efetiva, a forma de se expressar e de ouvir tem que ser sensível. Toda vez que iniciarmos uma comunicação, precisamos refletir se estamos nos comunicando da forma correta, se a pessoa está recebendo a mensagem exata que queremos transmitir e se estamos realmente ouvindo de forma empática aquilo que está sendo falado. Não podemos tentar adivinhar o que a pessoa está querendo falar e sim compreender o que está sendo falado. Presença e olhar – Oferecer empatia é estar presente de corpo e pensamento. Não adianta escutar alguém com a mente longe do que está sendo falado naquele momento. Para Rosenberg, a empatia está em nossa capacidade de estarmos presentes. O corpo precisa comunicar presença. Devemos oferecer presença, atenção e olhar empático. Bocejar, olhar para o relógio demonstram total falta de interesse e consideração com o próximo. Precisamos focar no que a pessoa está comunicando naquele momento sem desviar o olhar e o pensamento. Precisamos olhar para a alma da pessoa, não ter interesse em algo que a pessoa pode nos oferecer. O olhar de uma criança para seu pai ou mão nos seus primeiros meses de vida demonstram completa empatia, ou seja, naturalmente somos seres que se importam com o outro. O que não podemos deixar é que as circunstâncias da vida nos tire a capacidade natural que temos de oferecer empatia. DESENVOLVIDA POR CENTRO DE MEDIADORES Escuta ativa – Em um primeiro momento escutamos o que é dito
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