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6 RESUMO DE CARDIOLOGIA JOÃO VITOR FALEIROS - 103 Insuficiência Coronariana Aula ministrada pela professora Renata Pretti. Anatomia Coronariana É de extrema importância saber a anatomia das coronárias por diversos motivos, principalmente para que eletrocardiograma já se saiba qual artéria está sendo acometida. Sabendo a artéria coronária já é possível antecipar quais as possíveis complicações desse acometimento e apresentar um tratamento adequado. As artérias que irrigam o coração são as artérias coronárias esquerda e direita. I. ARTÉRIA CORONÁRIA DIREITA Ela supre a parede inferior do VE, parede anterior do VD, átrio direito, parede posterior do septo IV, nó sinusal e atrioventricular. É conhecida como artéria elétrica, não irrigando muito área miocárdica. II. ARTÉRIA CORONÁRIA ESQUERDA Inicia com um tronco que bifurca em 2 outras artéria grandes (ramo descendente anterior e ramo circunflexo). O ramo descendente anterior supre os 2/3 anteriores do VE, porção anterior do VD, ápex e metade do septo IV, incluindo o feixe de Hiss. Apelidada de artéria da vida, irrigando uma grande área miocárdica. Caso essa seja a artéria afetada (apontada no eletrocardiograma), o atendimento ao paciente é acelerado, exatamente devido ao tamanho de área miocárdica que esse ramo irriga. O ramo circunflexo supre a parede lateral e posterior do VE, átrio esquerdo e o nó sinusal (dependendo da dominância do ramo circunflexo). Imagens Angiográficas------------------------------------------------ I. ARTÉRIA CORONÁRIA DIREITA Vê-se em duas incidências: oblíqua anterior direita e oblíqua anterior direita. Na OBLÍQUA ANTERIOR ESQUERDA, vê- se um formato de “C”. 7 RESUMO DE CARDIOLOGIA JOÃO VITOR FALEIROS - 103 OBS.: essas imagens são da incidência oblíqua anterior esquerda a 55°. Na incidência OBLÍQUA ANTERIOR DIREITA, a coronária direita “embola” nas partes inicial e distal, mas é possível ver os terços proximal/médio com mais características. A vista abaixo é a incidência já mencionada a 45°. II. ARTÉRIA CORONÁRIA ESQUERDA Na incidência em AP, vê-se: 8 RESUMO DE CARDIOLOGIA JOÃO VITOR FALEIROS - 103 Abaixo, a incidência OBLÍQUA ANTERIOR DIREITA (30°). Os ramos do ramo circunflexo são os marginais e os da descendente anterior são os diagonais e septais/perfurantes septais. OBS.: Alguns números da foto acima apontam ramos diferentes do descrito na outra projeção da página anterior. São eles: (9) segundo ramo diagonal; (10) primeiro ramo perfurante septal; (11) ramos septais; (12) ramo auricular da artéria circunflexa. Abaixo, estão as imagens para a incidência OBLÍQUA ANTERIOR ESQUERDA, em que é possível abrir e ver melhor a bifurcação. OBS.: Nessa incidência, a numeração é a mesma da OAD 30°, exceto os número 11 e 12, que nesse caso mostram ambos ramos septais. Epidemiologia 5 milhões de pacientes ao ano (idade maior que 25 anos) vão ao pronto-socorro com queixa de dor torácica e, desses, 75% são de etiologia não cardíaca (porém entram no protocolo de dor torácica). 5% de todos os atendimentos de pronto socorro são por dor torácica, e esse número sobe para 8,2% quando inclui-se apenas paciente com mais de 55 anos. 18% permanecem internados em enfermaria e 5% em unidade intensiva. Eletrocardiograma No eletrocardiograma posiciona-se as derivações e fala-se em DI, DII, DIII, aVL, aVR e aVF em relação ao que essas derivações enxergam/informam no triângulo de Einthoven. A derivação DII é a melhor para avaliar arritmia cardíaca. 9 RESUMO DE CARDIOLOGIA JOÃO VITOR FALEIROS - 103 As derivações precordiais são V1, V2, V3, V4, V5 e V6, conforme sua orientação acompanhando as paredes As complementares são vistas como V3R,V4R, VS5, V6R e “enxergam” ventrículo direito. As derivações V7, V8 e V9 se posicionam ao lado esquerdo e “enxergam” parede posterior. A DII, DIII e aVF mostram a parede inferior do coração (região irrigada pela artéria coronária direita). Acometimentos nessa região podem ser infarto da própria ACD ou da circunflexa (caso ela seja dominante). DI, aVL, V5 e V6 mostram a parede lateral. V1 e V2 mostram a parede septal. V3 e V4 mostram parede anterior. É importante lembrar que o infarto extenso se extende tanto pelo septo quanto parede anterior, podendo alterar até a derivação aVR (pensa-se em tronco coronário esquerdo). 10 RESUMO DE CARDIOLOGIA JOÃO VITOR FALEIROS - 103 11 RESUMO DE CARDIOLOGIA JOÃO VITOR FALEIROS - 103 Síndrome Coronariana Aguda Aula ministrada pela professora Renata Pretti. Introdução No contexto das síndromes coronarianas agudas, destacam-se as SCA com elevação (supra) do segmento ST ou sem elevação do segmento ST. A diferença básica entre as duas é que na SCA com supra ST há obstrução completa da luz coronariana, levando a um infarto do miocárdio (o paciente deve seguir para hemodinâmica ou para o uso de trombolítico). Já os eventos sem elevação de ST se caracterizam pela permanência de parte do lúmen arterial ainda com passagem de sangue. Neste caso, o evento pode se tratar de um infarto sem supra (elevação de biomarcador cardíaco) ou uma angina instável (que não eleva biomarcadores). SCA Sem Supra ST----------------------------------------------------- Assim como dito acima, a síndrome coronariana aguda sem supra ST pode ser uma angina instável ou um infarto agudo do miocárdio (sem supra ST), ou seja, em que ocorre isquemia, necrose e elevação de biomarcadores cardíacos. No eletrocardiograma, pode aparecer (assim como mostra a imagem ao lado): - Uma onda T apiculada e simétrica (podendo até ser maior que o complexo QRS). - Uma inversão da onda T. - Um infradesnivelamento do segmento ST. O Paciente Com SCA I. QUANTO À APRESENTAÇÃO CLÍNICA A apresentação clínica pode ser discreta, com dor retroesternal, só apical ou apenas em dorso. Pode também ser uma dor mais moderada, atingindo todo hemitórax esquerdo e afetando também um pouco de região epigástrica. Em apresentações mais importantes e menos discretas, a dor pode irradiar para mandíbula, membros superiores e uma região abdominal maior (não só epigástrica). A apresentação mais grave é aquela do paciente que chega com choque cardiogênico. 12 RESUMO DE CARDIOLOGIA JOÃO VITOR FALEIROS - 103 II. QUANTO AO ELETROCARDIOGRAMA O ECG do paciente pode vir: - Normal - Com infra moderado de segmento ST - Com infra importante de segmento ST - Com supra ST III. QUANTO À TROPONINA A troponina do paciente pode vir negativa nas apresentações clínicas mais discretas (mostrando que não se trata de um infarto). Importante lembrar que faz-se o exame à admissão e repete-se em 3 horas. Com o ECG normal ou uma depressão discreta do segmento de ST, mas sem alteração da troponina, identifica-se na triagem e já toma-se a decisão de que não é um infarto, então provavelmente é uma dor de causa não cardíaca ou de uma angina instável ou uma outra causa cardíaca. Já com o ECG com alterações moderadas, infra ST importante e apresentação clínica mais exuberante, é comum haver alteração da enzima. Esse tipo de paciente é colocado em observação, pois não há certeza de infarto, podendo ser uma angina instável ou outra causa cardíaca. Por último, nas apresentações mais graves, com supra de ST e troponina elevada, considera-se como infarto do miocárdio e prossegue-se para tratamento emergencial (pode ser infartoou também uma outra causa cardíaca). 13 RESUMO DE CARDIOLOGIA JOÃO VITOR FALEIROS - 103 IV. QUANTO ÀS ENZIMAS CARDÍACAS No início, as curvas de CK-MB (massa) e de troponina se sobrepõem, as duas subindo, sendo que o pico da troponina é mais tardio que o de CK-MB (massa). Caso haja resolução do infarto e as células miocárdicas não continuem a morrer: a troponina cai, permanecendo positiva até 14 dias pós-infarto; a CK-MB (massa) cai, mas normaliza mais precocemente (geralmente com 1 semana após o infarto). Por outro lado, caso não haja resolução do infarto e as células miocárdicas continuem a morrer: as enzimas continuam subindo. Em pacientes com reperfusão (pela dissolução mecânica ou química do trombo) geralmente ocorre o “washout” (uma lavagem da área em sofrimento que estava sem circulação). Normalmente o “washout” leva a um aumento grande das proteínas cardíacas na circulação, o que pode ser associado a um quadro mais grave, mas na realidade significa, nesses casos, que a reperfusão foi de sucesso e ocorreu uma lavagem da região abaixo da lesão que “lavou” essas proteínas para a circulação. Como o pico é maior e acontece antes, a recuperação também será mais precoce (a curva de normalização de CK-MB é o que mais importa). Classificações do IAM I. CLASSIFICAÇÃO CLÍNICA DE KILLIP o Killip 1 (Sem evidência de congestão pulmonar) → Paciente com dor, mas clinicamente estável o Killip 2 (Estertores pulmonares, distensão venosa jugular ou terceira bulha) → Paciente já tem acometimento clínico, não é um infarto tão tranquilo quanto o 1 o Killip 3 (Edema pulmonar) → Paciente já teve falha grande da bomba miocárdica, o sangue/débito não consegue ir para frente e se acumula na circulação pulmonar, causando o extravasamento/edema pulmonar o Killip 4 (Choque cardiogênico) → Paciente já chega chocado, o débito está tão baixo para frente, que não há circulação distal (mãos brancas, hipotensão, sudorese fria etc.) 14 RESUMO DE CARDIOLOGIA JOÃO VITOR FALEIROS - 103 II. CLASSIFICAÇÃO HEMODINÂMICA DE FORRESTER o Avalia o Índice cardíaco (IC), que é o débito cardíaco dividido pela superfície corpórea, e a Pressão capilar pulmonar (PCP), aferido com cateter de Swan Ganz ▪ O IC adequado é maior que 2,2 (paciente não está em choque cardiogênico) ▪ A PCP adequada é menor que 18 (paciente não está estertorando pulmão) o Classifica-se em: ▪ Forrester 1 (IC > 2,2 e PCP < 18) → IC adequado (paciente não está em choque cardiogênico) e PCP adequada (paciente não está estertorando pulmão) ▪ Forrester 2 (IC > 2,2 e PCP > 18) → IC adequado e PCP aumentada (paciente está acumulando débito para trás, aumentando pressão retrogradamente, terá estertores e provavelmente evolui para edema agudo) ▪ Forrester 3 (IC < 2,2 e PCP < 18) → Correlaciona-se com infarto do ventrículo direito. IC diminuído e PCP diminuído (Normalmente infarto de VD) ▪ Forrester 4 (IC < 2,2 e PCP > 18) → IC diminuído e PCP aumentado (Provavelmente infarto de VE) III. CLASSIFICAÇÃO DE FORRESTER MODIFICADA o Tenta juntar a classificação clínica com a hemodinâmica, vendo em relação à perfusão do paciente, presença ou ausência de congestão ▪ Classe 1 (Perfusão normal e ausência de congestão pulmonar) ▪ Classe 2a (Perfusão normal, congestão pulmonar ao exame físico ou radiografia, sem dispneia) ▪ Classe 2b (Perfusão normal e congestão pulmonar com dispneia) ▪ Classe 3 (Perfusão diminuída e ausência de congestão pulmonar) ▪ Classe 4 (Perfusão diminuída e presença de congestão pulmonar) 15 RESUMO DE CARDIOLOGIA JOÃO VITOR FALEIROS - 103 Fatores Importantes no SCA Sem Supra Todos os fatores abaixo devem ser analisados nos pacientes e são úteis para a escolha de drogas, doses e duração do tratamento na terapia antitrombótica, considerando o risco isquêmico e o risco de sangramento. - Características do paciente (Idade, sexo, raça, histórico prévio de isquemia ou de sangramentos) - Manifestação clínica (Se está frente a uma angina instável ou a um infarto sem supra) - Comorbidades (Insuficiência renal crônica dialítica, diabetes, hipertensão e insuficiência cardíaca) - Co-medicação (É preciso acrescentar anticoagulante oral, que tem várias interações medicamentosas) - Aspectos dos procedimentos (Se é um candidato à ATC, Angioplastia Transluminal Coronária, ou RM, Cirurgia de Revascularização Miocárdica) Scores e Cálculos I. SCORE DE GRACE É feito utilizando calculadoras específicas (aplicativos, sites etc.). Utiliza dados como idade do paciente, frequência cardíaca, pressão arterial sistólica , classificação de Killip, uso de diuréticos, dosagem de creatinina, diagnóstico de insuficiência cardíaca, alteração de segmento ST, parada cardíaca na admissão e elevação de troponina ou outro marcador de necrose miocárdica. Esse cálculo terá como resultado um número que orientará sobre a mortalidade desse paciente para direcioná-lo ao hospital e tratamentos corretos. Classifica-se o grau de risco do paciente em risco baixo, intermediário ou risco alto. II. ESCORE TIMI A presença de cada um dos critérios pontua 1. O escore varia de 0 a 7 em relação à gravidade (0 menos grave e 7 mais grave). 16 RESUMO DE CARDIOLOGIA JOÃO VITOR FALEIROS - 103 Definição Para Estratificação de Avaliação da SCA Sem Supra Na primeira triagem, o paciente é direcionado para uma unidade de hospital secundário ou terciário. Os pacientes de baixo risco vão para um hospital secundário, não é pensado em cateterismo rápido e, assim, entrando para essa avaliação. O risco baixo - Classifica-se em baixo risco por Score TIMI < 2, Score Grace ≤ 108, ecocardiograma normal e marcadores de necrose normais - Pensa-se em angina instável e não infarto sem supra - Encaminha para um serviço sem hemodinâmica, podendo fazer teste provocativo de isquemia (teste ergométrico, cintilografia e eco de estresse) para ver se tem isquemia. - Encaminha para o cateterismo (avaliação invasiva) apenas se o teste provocativo for positivo, mas nada urgente. Para pacientes de risco intermediário e alto vão para hospital terciário e lá são novamente estratificados, em risco intermediário, alto e muito alto. I. PACIENTES DE RISCO INTERMEDIÁRIO - Características do paciente: diabetes ou insuficiência renal crônica; fração de ejeção < 40% ou já com diagnóstico de insuficiência cardíaca; dor pós-infarto ou já teve angioplastia (< 6 meses) ou cirurgia de revascularização prévia; score de Grace > 109 e < 140 ou sintomas recorrentes; Score de TIMI 3 ou 4; novo déficit segmentar no ecocardiograma. - Esse paciente deve ir a um hospital terciário pois vai precisar de uma avaliação invasiva nas próximas 72h. - Usa-se esse intervalo para melhorar ou corrigir diversos dos fatores (características) citadas acima para que a estratégia invasiva não seja tão prejudicial ao paciente. Ex.: melhorar a glicemia hidratar o paciente. II. PACIENTES DE ALTO RISCO - Características do paciente: foi feito o diagnóstico de infarto sem supra baseado nos marcadores miocárdicos; paciente (sintomáticos ou não) com alteração dinâmica do segmento ST/T (faz o primeiro eletro e há uma mudança nesses segmentos nos próximos eletros); score de Grace > 140; score de TIMI > 5; aumento importante de enzimas cardíacas; angina pós IAM. - Esse tipo de paciente deve ir para uma avaliação invasiva (cateterismo) nas próximas 24h. 17 RESUMO DE CARDIOLOGIA JOÃO VITOR FALEIROS - 103 II. PACIENTES DE MUITO ALTO RISCO - Características do paciente: evolução com instabilidade hemodinâmica ou choque; manutenção e recorrências da angina, apesar da medicação (associada a infra de ST de pelo menos2mm ou uma onda T negativa profunda em paredes contíguas); apresentação de arritmias ou parada cardíaca; complicações mecânicas do infarto (insuficiência mitral aguda, comunicação interventricular, ruptura da parede miocárdica etc.); apresentação com insuficiência cardíaca aguda; manutenção de alterações dinâmicas do segmento ST-T. - Esse tipo de paciente precisa de uma avaliação invasiva (cateterismo) imediata (menos de 2 horas). - O risco de óbito é extremamente alto, então como a avaliação invasiva é urgente, não se pensa muito sobre as consequências de fazê-la.
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