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Materiais Dentários Sistemas Adesivos ~por Manuela Lopes A maioria das Resinas Compostas precisam de uma aplicação prévia de um agente de união para fazer sua adesão à estrutura dentária (colagem). 1 Conceito Os sistemas adesivos promovem a união dos materiais restauradores resinosos (resinas compostas ou cimentos) com a estrutura dental/materiais cerâmicos/metais. Adesão É a propriedade da matéria pela qual se unem dois substratos, iguais ou diferentes, desde que suas moléculas estejam em íntimo contato. ● Uma adesão eficiente depende do contato entre o adesivo e o substrato, através de um bom molhamento. 2 Indicações ● Restaurações diretas em resina composta ● Colagem de brackets ortodônticos ● Cimentação de peças protéticas (cimento resinoso + estrutura dentária) 3 Funções ● Retenção - retém o material restaurador, impedindo que as ações de força de deslocamento retire-o do local de confecção. ● Distribuição de tensões - age de maneira que torne a restauração um corpo único, pois uma força aplicada restrita a um só local levaria a falha. ● Selamento - preenche e veda frestas deixadas entre o material restaurador e estrutura dentária. Assim, impede a passagem de fluidos, pigmentos, saliva e bactérias, prevenindo a ocorrência de cáries e sub infiltração. Garante longa duração da restauração! 4 Fatores fundamentais para a adesão micromecânica Molhamento Viscosidade Rugosidade Limpeza 4.1 Molhamento / Escoamento É a capacidade de um líquido escoar sob uma superfície sólida, isto é, a capacidade que o adesivo apresenta de recobrir totalmente a superfície (esmalte e dentina) sem incorporar bolhas de ar sobre ela. Além de espalhar-se sobre a superfície, espera-se que o sistema adesivo penetre em toda a sua profundidade. A capacidade de molhamento se dá pelo ângulo de contato formado entre o adesivo (líquido) e o substrato (sólido). menor ângulo → maior capacidade de molhamento. Fatores que influenciam no molhamento do adesivo ● Tensão superficial É um fenômeno observado em todos os líquidos, capaz de gerar uma espécie de membrana elástica na superfície de um líquido. Se qualquer líquido não sofrer alguma ação de uma força externa, tem tendência a formar uma esfera sobre a superfície, ou seja, tem uma alta tensão superficial, o que implica em uma baixa molhabilidade (o que não é desejável para um adesivo). O adesivo com baixa tensão superficial, se espalha mais na superfície. ● Ângulo de contato Depende das interações entre o líquido aplicado e a superfície do tecido sob o qual foi depositado. É o ângulo formado entre as superfícies do aderente e o adesivo (ângulo de contato formado entre o sólido e o líquido). Sendo definido pela relação entre a energia de superfície do aderente e a tensão superficial do adesivo. ● Energia livre de superfície Uma baixa energia livre de superfície significa uma superfície antiaderente (alta tensão e baixa molhabilidade). Ou seja, não desejável. OBS: A superfície do esmalte é alterada ao aplicar o ácido fosfórico, sofrendo a desmineralização e fazendo com que a superfície fique irregular e isso aumenta a energia livre de superfície do substrato. Nos sistemas adesivos, espera-se que ele tenha uma baixa tensão superficial, juntamente com uma alta energia de superfície do dente, resultando em um menor ângulo de contato e, consequentemente, um maior molhamento. 4.2 Viscosidade A viscosidade é proporcional ao ângulo de contato, ou seja, se o material tem um ângulo de contato grande, terá uma alta viscosidade. Um adesivo com baixa viscosidade é capaz de penetrar por todas as irregularidades (picos e vales) da estrutura dentária. OBS: Nos sistemas adesivos, espera-se um alto molhamento, baixa viscosidade e alta rugosidade. 4.3 Rugosidade Está mais relacionada à superfície. Uma ampla área de interação (maior rugosidade) permite um maior número de sítios para interação/ligação, ampliando o potencial de adesão do adesivo. ● Amplia o potencial para adesão. ● Aumenta a área resultando em mais sítios para reter o aderente. ● Aumenta a área da superfície, aumentando a penetração do adesivo. Esmalte íntegro (não condicionado) x esmalte com ác. fosfórico (condicionado) O ácido fosfórico cria um padrão de rugosidade uniforme e importante - crateras e buracos que aumentam a área total dessa superfície, tendo uma área de união maior que no esmalte íntegro (não condicionado). Por isso se aplica substâncias que condicionam a estrutura dentária para aumentar a rugosidade. 4.4 Limpeza O substrato (dente) precisa estar limpo para uma boa adesão. Assim, quanto mais limpo este substrato, maior o contato entre ele e o adesivo. 5 Composição dos Sistemas Adesivos A composição básica de qualquer sistema adesivo é: 1. Monômeros resinosos 2. Iniciadores da polimerização 3. Agentes condicionantes 4. Solventes 1. Monômeros resinosos Pequena molécula que, ao quebrar a dupla ligação de carbono, forma radicais livres capazes de se unir a outras, formando um polímero. São de baixo peso molecular, logo apresentam maior fluidez, sendo melhor para seu manuseio. A polimerização é responsável pelo endurecimento/presa do material restaurador. São os monômeros diluidores (fluidos). ➔ TEGDMA ➔ HEMA (+ utilizado em sistemas adesivos) 2. Iniciadores da polimerização Moléculas que conferem energia para a quebra de duplas ligações entre os carbonos do monômero, iniciando a polimerização. ➔ Canforoquinona → iniciador ativado por luz (foto). ➔ Peróxido de benzoíla → iniciador ativado quimicamente. 3. Agentes condicionantes Atuam mecânica ou fisicamente sobre as superfícies (esmalte e dentina) a serem aderidas, favorecendo a adesão entre elas. Causam desmineralização superficial na estrutura dental a fim de criar microporosidades (aumentando a rugosidade) para melhor infiltração e retenção dos monômeros resinosos adesivos. ➔ Ácido fosfórico ➔ Monômeros ácidos (MDP) Os agentes condicionantes são importantes pois criam a base para a adesão a partir da criação de microporosidades e união micromecânica. Condicionamento de superfícies Dá-se pelo processo de hibridização, dado pela infiltração e polimerização “in situ” de monômeros resinosos (adesivos) na estrutura dental condicionada (dentina/esmalte com microporosidades). Gera uma camada híbrida (dentina/esmalte + adesivo). 4. Solventes Além de diluir outros componentes diminuindo a viscosidade dos sistemas adesivos, tem por função retirar o líquido presente nos túbulos dentinários para que o adesivo possa ocupar este local. ➔ Água 40% ➔ Acetona 80% ➔ Etanol 40% OBS: A aplicação de um adesivo com baixa quantidade de solvente resultará numa camada adesiva com alta concentração de monômeros, e o inverso também ocorre. Então, em adesivos bem diluídos, uma única camada de aplicação não é suficiente, sendo necessário aplicar mais uma camada de adesivo sobre a superfície. 6 Condicionamento com Ácido fosfórico (30 a 40%) O ácido fosfórico aumenta a resistência de união, por ser capaz de causar rápida desmineralização. É um ácido inorgânico com boa estabilidade química e baixo custo, utilizado em frascos/seringas com pontas aplicadoras, em consistência de gel, para garantir que ele fique restrito à área aplicada. ➔ Esmalte - 30s ➔ Dentina - 15s Interação do ác. fosfórico com o esmalte O esmalte, por ser muito mineral (97%), quando condicionado com ác. fosfórico, sofre dissolução ao redor dos prismas, aumentando a energia livre de superfície, formando microporos (maior rugosidade), aumentando a área de superfície para adesão. O esmalte fica com aspecto branco opaco por conta da desmineralização. Interação do ác. fosfórico com a dentina O ác. fosfórico remove o smear layer causando a limpeza da dentina, abrindo a luz dos túbulos dentinários, expondo as fibrilas colágenas (material orgânico), devido à desmineralização. Na dentina, o ác. fosfórico diminui a energia de superfície por se tratar de um meio úmido. Ao condicionar com esse ácido, a dentina se torna instável, pois aumenta a água nos túbulos dentinários.Entretanto, não se pode deixar a dentina ressecar, pois as fibrinas de colágeno se colabam → diminuindo a energia de superfície → sistema adesivo não consegue penetrar por toda área desmineralizada.) NÃO pode retirar toda a umidade (enxerga-se um brilho úmido) da dentina, enquanto no esmalte isso pode ser feito. Smear layer é o nome dado ao material depositado nas paredes dentinárias, toda vez que a dentina é cortada por brocas ou limas endodônticas. 7 Primer É uma substância bifuncional, que permite a ligação entre dentina e adesivo. Estabiliza a matriz colagênica dentinária que foi exposta após condicionamento ácido. É formado por monômeros hidrofílicos (afinidade por água) + solventes, por isso é aplicado na dentina que deve estar levemente umedecida. O primer é utilizado após a aplicação do ác. fosfórico, com pincel microbrush. O primer impregna na dentina úmida, desmineralizada, causando evaporação do excesso de água (presente na estrutura dental após a lavagem do ácido). 8 Adesivo (Bond) É considerado uma resina muito fluida polimerizável formada por monômeros resinosos de características mais hidrofóbicas, que se ligam aos monômeros hidrofílicos presentes no primer. A sua composição visa aumentar a resistência mecânica da camada híbrida, preenchendo os espaços interfibrilares da rede colágena e previne infiltração de fluídos ao longo da margem restauradora (selando). 9 Classificação dos Sistemas Adesivos Convencionais ➔ 3 passos ➔ 2 passos Autocondicionantes ➔ 2 passos ➔ 1 passo Universais 9.1 Convencionais Utilizam ácido fosfórico como agente condicionante. Necessitam da aplicação desse ácido previamente à infiltração de monômeros resinosos. Convencionais 3 passos 2 passos 1. Ácido 2. Primer 3. Adesivo 1. Ácido 2. Primer + adesivo A diferença entre eles é que no de 2 passos, há aplicação do ácido e depois um frasco único com primer e adesivo. Enquanto no de 3 passos, aplica-se o ácido, depois o primer e adesivo separadamente. ↳ Etapas 1. Aplicação do ác. fosfórico - 30s em esmalte e 15s em dentina 2. Lavagem do ác - dobro do tempo de aplicação no mínimo 3. Remoção do excesso de água - cuidado com ressecamento da dentina 4. Aplicação do primer sob fricção - estimula a entrada dos monômeros na região desmineralizada 5. Secagem do primer - aplicar jato de ar para secar o primer e volatizar o solvente 6. Aplicação do adesivo - e remoção do excesso, para não gerar baixa resistência mecânica 7. Fotoativação do adesivo - tempo indicado na bula 9.2 Autocondicionantes Dispensam o condicionamento, no próprio frasco tem monômeros ácidos. Autocondicionantes 2 passos 1 passo 1. Primer ácido 2. Adesivo 1. Primer ácido + adesivo ↳ Etapas 1. Aplicação do primer autocondicionante - friccionando em meio seco 2. Secagem do primer - volatilização dos solventes e secagem do primer autocondicionante 3. Aplicação do adesivo e remoção do excesso 4. Secagem do adesivo - estimula a entrada dos monômeros na região desmineralizada 5. Fotoativação do adesivo - tempo indicado na bula A smear layer nesse sistema, não é removida. É apenas modificada e passa a fazer parte da camada de adesivo. E a adesão à dentina é igual ou superior a dos adesivos convencionais. 9.3 Sistemas adesivos universais Simplificaram a prática clínica, pois além de se apresentarem como all in one, possuem várias formas de condicionamento (total de esmalte e dentina, seletivo do esmalte ou autocondicionante), ou seja, permite a utilização ou não do ácido fosfórico antes. Pode ser utilizado também intrarradicular, união às partículas cerâmicas e ligas de metal. Tem uma concentração maior de monômeros funcionais com capacidade de união química ao cálcio da hidroxiapatita (a união deixa de ser só micromecânica). Tem adição do silano, que é um agente de união usado na cimentação de pinos intrarradiculares de fibra de vidro e peças cerâmicas. 10 Problemas na interface Sensibilidade pós-operatória ↳ Como evitar ● Condicionamento pelo tempo correto ● Emprego correto da técnica úmida ou seca ● Fricção do primer ou adesivo simplificado ● Técnica correta de inserção e fotoativação do compósito Abertura de margem ↳ Como evitar ● Emprego correto da técnica de adesão ● Técnica correta da inserção e fotoativação do compósito Manchamento marginal Ocorre pela composição hidrofílica. Por isso o adesivo simplificado tende a pigmentar mais. O de múltiplos passos tem o adesivo livre de solventes e monômeros hidrófilos. ● Infiltração → os pontos brancos são manchas de água que infiltraram nesse sistema adesivo de 2 passos.
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