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SOI IV IANA BARBOSA MARTINS Sistemas Orgânicos Integrados IV, MED 31 - Uninovafapi. 1 Introdução ❖ Cirrose hepática se refere a extensa fibrose hepática tecidual e profundo remodelamento da citoarquitetura do parênquima hepático. ❖ Resumidamente é um processo patológico de resposta comum irreversível do parênquima hepático a qualquer estímulo lesivo persistente, representado geralmente por inflamação e necrose hepatocitária caracterizado por dois componentes: → Fibrose hepática “em ponte”, com formação de shunts vasculares no interior dessas traves fibróticas. → Rearranjo da arquitetura lobular nos chamados nódulos de regeneração, desprovidos de comunicação com uma veia centrolobular. Fisiopatologia Sinusoides: → conduzem sangue das circulações porta e sistêmica (ramos da v. porta e a. hepática presentes do espaço porta) para a v. centrolobular (pertencente ao sistema cava). → São altamente fenestrados (fenestra = “janela”, isto é, contêm verdadeiros “buracos” em sua parede) e são desprovidos de membrana basal (facilitando a saída de macromoléculas para fora do vaso). ❖ Durante essa passagem do sangue substâncias provenientes da circulação são captadas pelos hepatócitos para serem metabolizadas. → Todas as substâncias presentes no sangue podem atravessar livremente as fenestras sinusoidais e alcançar o espaço de Disse, que fica entre o sinusoide e o hepatócito, que representa o interstício lobular, e contém as células mais importantes para a gênese da cirrose hepática – as células estreladas ou células de Ito. Células estreladas: → São “quiescentes” (apresentam pouca atividade metabólica) e têm a função primordial de armazenar vitamina A. → Na presença de estímulos (atividade necroinflamtoria crônica no parênquima) podem se transformar em células altamente capazes de sintetizar matriz extracelular, principalmente colágeno tipo I e II. → Transformação induzida por efeito parácrino de citocinas pró-inflatórias, secretadas pelas células de Kupffer ativadas e outras células do sist. Imunológico. ❖ A deposição das fibras de colágeno no espaço de Disse leva ao fenômeno de capilarizarão dos sinusoides. → Camada de colágeno, pouco permeável, oblitera as fenestrar e impede o contato entre os hepatócitos e as substancias oriundas do sangue. → Fazendo desaparecer as microvilosidades na membrana hepatocitária diminuindo a captação celular. ❖ Capacidade de metabolização hepática e secreção no sangue de macromoléculas se torna progressivamente comprometida. ❖ Capilarização dos sinusoides diminui seu calibre aumentando resistência vascular intra-hepática (hipertensão da porta). ❖ Células estreladas adquirem capacidade contrátil tornando-se miofibloblastos reduzindo ainda mais o diametro sinusoidal. ❖ Processo de deposição de fibras colágenas e consequente capilarização dos sinusoides no meio de segmentos de necrose hepatocitária é a famosa fibrose em ponte (porta-centro). → O sangue passa a circular por dentro dessas traves fibróticas sem entrar em contato com as placas de hepatócitos, numa espécie de shunt intra-hepático, indo diretamente dos espaços-porta para as veias centrolobulares. ❖ Na presença de doença hepática crônica, com atividade necroinflamatória persistente, os ciclos de necrose, fibrose e regeneração celular continuam se alternando, até que a regeneração hepatocitária fique restrita aos espaços formados entre diversas traves fibróticas interligadas formando os chamados “nódulos de regeneração”. → Constituídos por uma massa de hepatócitos desprovida de funcionalidade, já que não possuem relação com uma veia centrolobular. → Os nódulos de regeneração representam uma tentativa (frustrada) do fígado em reestabelecer sua citoarquitetura funcional em meio à fibrose intensa e disseminada secundária ao processo necroinflamatório crônico Etiologia ❖ Podemos agrupar as principais causas de cirrose hepática em OITO grandes grupos. SOI IV IANA BARBOSA MARTINS Sistemas Orgânicos Integrados IV, MED 31 - Uninovafapi. 2 → Vírus Hepatotrópicos; → Álcool; → Drogas; → Hepatopatias Autoimunes; → Doenças Metabólicas; → Hepatopatias Colestáticas; → Doenças da Infância; → Cirrose Criptogênica (Idiopática). Fatores de risco Evidencias ou fatores de risco para presença de cirrose hepática que devem ser ativamente pesquisados na sala de emergência. ❖ Obesidade, síndrome metabólica, abuso de álcool atual ou pregresso. ❖ Uso de drogas e xenobióticos hepatotóxicos e de imunossupressores e quimioterápicos. ❖ Fatores de risco para hepatite B (VHB): • Mãe portadora de infecção crônica pelo VHB. • Relações homossexuais masculinas. • Uso de drogas ilícitas intravenosas. • Contato sexual com portador de HBV. • Múltiplos parceiros sexuais. ❖ Fatores de risco para hepatite C (VHC): • Transfusão de hemoderivados realizadas antes de 1992. • Uso de complexos vitamínicos venosos no passado. • Uso de drogas ilícitas intravenosas e inalatórias. • Realização de procedimentos médicos em condições de esterilização insatisfatória. • Tatuagens. ❖ Inversão do ritmo de sono. ❖ Episódios não explicados de confusão mental. ❖ Retenção de fluidos. ❖ Sangramento digestivo. ❖ Estigmas de doença hepática crônica: • Aranhas vasculares, eritema palmar, circulação colateral na parede abdominal, ginecomastia, atrofia testicular, contratura de Dupuytren. ❖ Hálito hepático. ❖ Hepatoesplenomegalia. ❖ Presença de icterícia, ascite ou asterixe. ❖ Plaquetopenia. ❖ Elevação de aminotransferases; ❖ Prolongamento do International Normalized Ratio (INR). ❖ Evidencias de cirrose e/ou hipertensão portal em métodos de imagem. ❖ Resposta exagerada ao uso de cumarínico. Epidemio ❖ Segundo dados nacionais de prevalência, cerca de 43% dos casos relatados de cirrose hepática estão associados à hepatite crônica C, de maneira isolada ou em conjunto com hepatite crônica B ou doença hepática alcoólica. ❖ 37% dos pacientes possui história de etilismo, com ou sem associação às hepatites crônicas virais. ❖ Com base nestes dados, estima-se que a hepatite C crônica e a doença hepática alcoólica sejam responsáveis por cerca de 80% dos casos de cirrose no Brasil. Quadro clinico ❖ Refletem o desenvolvimento de dois problemas distintos e interrelacionados: hipertensão portal e insuficiência hepatocelular. SOI IV IANA BARBOSA MARTINS Sistemas Orgânicos Integrados IV, MED 31 - Uninovafapi. 3 Diagnóstico ❖ Fatores de risco ajudam no prognostico de complicações ❖ Os achados clínicos da cirrose hepática não são específicos de nenhuma etiologia com exceção de alguns sinais sugestivos de etiologia alcoólica Anamnese e Ex. físico: ❖ Podem se apresentar de diversas maneiras. ❖ Hemorragia digestiva alta ou baixa. ❖ Ascite. ❖ Hepatomegalia e/ou esplenomegalia. ❖ Detecção de estigmas periféricos de insuficiência hepatocelular crônica. ❖ Assintomático, sendo o diagnóstico aventado a partir do achado acidental de anormalidades laboratoriais ou radiológicas sugestivas da doença. ❖ Sinais incipientes ou manifestos de encefalopatia hepática. ❖ Sinais e sintomas sugestivos de Carcinoma Hepatocelular (CHC). ETIOLOGIA ALCOOLICA ❖ Intumescimento de parótidas; ❖ Contratura palmar de Dupuytren; ❖ Neuropatia; ❖ Pancreatite crônica associada. Exames laboratoriais ❖ Alterações laboratoriais variam de acordo com a etiologia da cirrose hepática. ❖ Há certas anormalidades que sugerem a presença desta condição, independentemente da causa subjacente. Aminotransferases ❖ Na cirrose inativa (sem ativ. Inflamatória) estão completamente normais. ❖ Não possuem acurácia suficiente para estimar a gravidade. ❖ Quando elevadas é sugestiva de ativ. Inflamatória no parênquima. ❖ Numa hepatite crônica ativa sem cirrose, geralmente temos ALT (TGP) > AST (TGO), enquantoque na cirrose, temos o oposto: AST (TGO) > ALT (TGP). Exceção à regra é a doença hepática alcoólica, onde AST (TGO) > ALT (TGP) desde o início do quadro, isto é, ainda na fase de esteato-hepatite. Pista diagnóstica: ❖ Hepatopatia sem cirrose: os níveis de ALT (TGP) costumam ser maiores que os de AST (TGO), dando uma relação ALT/AST > 1. ❖ Cirrose se instala: típica uma inversão desse padrão, com o paciente apresentando ALT/AST < 1. ❖ Exceção deve ser feita aos casos de doença hepática alcoólica – neste contexto, a relação ALT/AST costuma ser < 1 mesmo nas fases pré-cirróticas. Fosfatase alcalina e gama-Glutamil Transpeptidase (gama-GT) ❖ Elevam-se de maneira mais significativa nas hepatopatias colestáticas, apresentando elevações menos pronunciadas nas lesões predominantemente hepatocelulares. ❖ Diante da suspeita de cirrose hepática, o encontro de elevados níveis de FAL e GGT sugere etiologias como cirrose biliar primária e colangite esclerosante. Bilirrubina ❖ A hiperbilirrubinemia é um fator de mau prognóstico na cirrose hepática, ocorrendo principalmente à custa da fração direta. ❖ Na cirrose biliar primária, por exemplo, bilirrubina total superior a 10 mg/dl indica a necessidade de transplante ortotópico de fígado. Hipoalbuminemia ❖ Insuficiência crônica de síntese hepatocelular. ❖ O déficit de síntese costuma se associar à desnutrição proteicocalórica, comum no paciente cirrótico, o que piora ainda mais a hipoalbuminemia. ❖ Isto é particularmente frequente nos etilistas crônicos portadores de cirrose alcoólica. Alargamento do tempo de protrombina e diminuição da atividade de protrombina ❖ Considerando que o fígado é a principal sede da síntese de fatores de coagulação, incluindo a síntese dos fatores vitamina K-dependentes (II, VII, IX e X), fica fácil entender que uma redução significativa da função hepática resulta em coagulopatia (tendência hemorrágica). SOI IV IANA BARBOSA MARTINS Sistemas Orgânicos Integrados IV, MED 31 - Uninovafapi. 4 Hipergamaglobulinemia ❖ O cirrótico apresenta tendência aumentada à ocorrência do fenômeno de translocação intestinal bacteriana (bacteremia espontânea a partir do trato gastrointestinal). ❖ O menor clearance hepático de bactérias presentes no sangue portal, bem como a “fuga” dessas bactérias pelos shunts portossistêmicos, explicam tal fato. ❖ Dessa forma o braço humoral do sistema imunológico (linfócitos B) sofre um certo grau de hiperestimulação constante na cirrose hepática, o que pode resultar em hipergamaglobulinemia policlonal quando da presença de cirrose hepática avançada e hipertensão porta grave. ❖ Lembrar também que na doença hepática alcoólica há típico aumento da fração IgA; na cirrose biliar primária há aumento característico da fração IgM, e na hepatite autoimune há elevação de IgG. Sódio sérico ❖ A hiponatremia é um marcador de péssimo prognóstico na cirrose avançada com ascite. ❖ Seu mecanismo é a incapacidade de excretar água livre, decorrente do excesso de Hormônio Antidiurético (ADH). ❖ Este excesso, por sua vez, é estimulado pela redução do volume circulante efetivo (secreção “não osmótica” de ADH). Pancitopenia ❖ Na cirrose avançada complicada por hipertensão portal há esplenomegalia e hiperesplenismo, com consequente redução do número de plaquetas circulantes (sinal mais precoce), mas também da hematimetria e da contagem de leucócitos (sinais mais tardios). ❖ A anemia do paciente cirrótico, na verdade, costuma ser multifatorial (ex.: desnutrição, sangramento digestivo crônico, supressão medular pelo álcool ou por vírus), sendo muito comum, ainda, a ocorrência de anemia de doença crônica, secundária à doença de base. ❖ Na hepatite C, a plaquetopenia pode surgir mesmo na ausência de hiperesplenismo. Marcadores séricos diretos e indiretos de fibrose avançada/cirrose ❖ Grandes progressos têm sido feitos no sentido de criar métodos não invasivos para diagnóstico, quantificação e acompanhamento da fibrose hepática, mas até o momento, nenhum desses exames suplantou a acurácia da biópsia, e não existe nenhuma recomendação oficial para o seu uso na prática clínica diária, sendo a maioria aplicada em centros de pesquisa. ❖ Marcadores séricos diretos de fibrose hepática, como laminina, colágeno tipo I e tipo IV, peptídeo pró-colágeno tipo I e tipo III, ácido hialurônico e a molécula que está sendo chamada de “condrex” (YKL-40), podem vir a ter algum papel na avaliação não invasiva da cirrose hepática, no futuro. ❖ Alguns índices multivariados – que se propõem a avaliar indiretamente a existência de fibrose hepática – também vêm sendo estudados. ❖ Por exemplo: o Fibroindex, que gera um escore a partir dos valores de AST, plaquetas e gamaglobulinas; o Hepascore, que combina idade, sexo, GGT, bilirrubina, ácido hialurônico sérico e níveis de alfa-2-macroglobulina; o índice PGA, que avalia o tempo de protrombina, a GGT e os níveis séricos de apolipoproteína A1, e demonstrou ter acurácia de 66 a 72% para detecção de cirrose no contexto da doença hepática alcoólica. Exames de Imagem ❖ O papel da radiologia na avaliação da cirrose hepática inclui: → Avaliar as alterações morfológicas da doença; → Avaliar a vascularização hepática e extra-hepática; → Detectar e estimar os efeitos da hipertensão portal; → Identificar tumores hepáticos, diferenciando o Carcinoma Hepatocelular (CHC) de outros tipos de tumor. ❖ Tendo estes objetivos em mente, várias técnicas de imagem podem ser utilizadas: → Ultrassonografia convencional do abdome (USG). → Ultrassonografia do abdome com Doppler (USGD). → Tomografia computadorizada do abdome (TC). → Ressonância Magnética (RM). → Angiorressonância Magnética (ARM). → Arteriografia com ou sem lipiodol (AG) Classificação funcional ❖ Embora a presença individual de complicações da cirrose hepática – hipertensão portal, ascite, encefalopatia etc. – não seja capaz de predizer acuradamente a sobrevida de um paciente cirrótico, vários autores têm proposto classificações funcionais e índices preditivos de sobrevida baseados em múltiplas variáveis clínicas e laboratoriais. ❖ A classificação funcional de Child-Turcotte, modificada por Pugh, é a mais utilizada. SOI IV IANA BARBOSA MARTINS Sistemas Orgânicos Integrados IV, MED 31 - Uninovafapi. 5 Tto ❖ Sempre que possível o tratamento deve ter como objetivo a erradicação do agente causal da cirrose. ❖ Atualmente, o tratamento da cirrose compensada está direcionado para a prevenção do desenvolvimento da descompensação por tratar a doença hepática subjacente e assim reduzir a fibrose e as chances de descompensação. • Terapia antiviral para hepatite C ou B; • Evitar fatores que possam piorar a doença hepática, como o álcool e fármacos hepatotóxicos; • Fazer um rastreamento para detectar varizes (para prevenir hemorragia varicosa) e carcinoma hepatocelular (para que o tratamento seja realizado no estádio inicial). ❖ Para casos mais avançados, basicamente trata as complicações (varizes esofágicas, ascite, encefalopatia, entre outros) e orientar o paciente quanto a mudança de estilo de vida. ❖ Em alguns casos deve-se começar a pensar em transplante, sendo este, o tratamento definitivo para cirrose hepática.
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