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2 0 2 1 . 1 J Ú L I A M O R A I S 1 4 3 ( 2 0 1 9 . 2 ) | 1 FARMACOLOGIA I AULA 3 Farmacodinâmica Interação Fármaco-Receptor INTRODUÇÃO • Farmacodinâmica: Estudo dos efeitos de uma droga através da compreensão do seu mecanismo de ação. • Na maioria dos casos o fármaco vai interagir com uma molécula receptora para produzir um efeito farmacológico. HISTÓRIA Claude Bernard (1844) foi um fisiologista francês que possuiu um papel importantes na definição dos conceitos de homeostase e fisiologia metabólica. Também foi um dos maiores defensores da realização de experimentos em animais. Sua esposa criou uma das primeiras sociedades protetoras de animais. Ele estudou o curare, uma substância extraída de plantas e usada pelo índios americanos na ponta das flechas, com o intuito de paralisar as presas. Bernard isolou a substância e testou nos sapos, observando que os sapos iam perdendo a capacidade saltatória até paralisar e ir a óbito. Bernard realizou autopsia no sapo e identificou que com o estímulo elétrico o coração e os músculos esqueléticos respondiam. No entanto, as células neuronais não produziam resposta, a partir disso, ele concluiu que não havia relação entre o tecido muscular e o nervoso. Atualmente, sabemos que tal hipótese estava incorreta, pois sabemos que o curare e seus análogos são potentes bloqueadores neuromusculares utilizados até hoje. O importante do estudo de Bernard foi entender que uma substância atingia um local de ação modulando uma função fisiológica. Outro cientista que contribuiu com o estudo da farmacodinâmica foi John Langley (1905), um inglês que definiu o conceito de substância receptiva. Ele estudou dois tipos de substâncias, a pilocarpina (agonista colinérgico) e a atropina (antagonista colinérgico). Testando a pilocarpina em coelhos, notou que eles tinham bradicardia e aumento da peristalse, no entanto, quando usava a atropina, eles apresentavam o oposto. Com isso, Langley definiu a substância receptiva, a qual refere-se a uma substância receptora que media a ação da atropina e da pilocarpina, podendo formar um composto químico com componentes teciduais, modulando a função fisiológica. O médico alemão Paul Ehrlich, que ganhou o prêmio Nobel de Medicina em 1906, cunhou o primeiro antibiótico chamado salvarsan, para o tratamento da sífilis. Ele elaborou a teoria das cadeias laterais, que deu início ao entendimento da interação antígeno- anticorpo. Além disso, ele introduziu o termo receptor, que seria qualquer molécula que o fármaco se liga para produzir uma resposta. Por último, Emil Fischer (1895) cunhou a teoria chave-fechadura, definindo que deve existir uma complementariedade entre enzima e substrato, sendo que ela promove uma mudança de conformação, responsável por dar características, as quais possibilitam a modulação da resposta. CONCEITOS • Fármaco: Substância química que altera a intensidade ou extensão de um processo biológico. • Receptor: Qualquer macromolécula celular que se liga aos fármacos e medeia suas ações farmacológicas. → Na maioria dos casos é uma proteína. → Nem todo o fármaco precisa de um receptor para que tenha uma ação e seus efeitos. • Especificidade: Fármaco deve atuar seletivamente sobre determinadas células e tecidos. → Quanto mais específica a relação fármaco- receptor, maior é a chance de atingir o objetivo terapêutico (mais seguro), possuindo menos chance de efeito adverso. → Fármacos antigos possuem menor especificidade. FORÇA DE LIGAÇÃO FÁRMACO-RECEPTOR • Forças de Van der Waals; • Pontes de hidrogênio; • Ligações iônicas; • Ligações covalentes são irreversíveis, necessitando que sejam sintetizadas novas células alvo. INTERAÇÃO FÁRMACO-RECEPTOR 1. O fármaco é o ligante, um primeiro mensageiro que traz a mensagem para o organismo. 2. O ligante interage com o receptor. AUMENTO DA FORÇA DE LIGAÇÃO 2 0 2 1 . 1 J Ú L I A M O R A I S 1 4 3 ( 2 0 1 9 . 2 ) | 2 3. O receptor faz a transdução e amplifica a mensagem para atingir as células que compõem o tecido, gerando um efeito resultando em uma ação. AÇÃO DOS FÁRMACOS • Os diferentes tipos de estímulos químicos interagem com as células, ligando-se de maneira reversível a alvos celulares (receptores) que, genericamente, estão divididos em quatro grandes famílias. • Na maioria das vezes são transmembranares, mas podem ser citoplasmáticos. • Os tipos de receptores e suas ações afetam o início da ação. • Receptores Canais Iônicos: Dentre os seus diferentes tipo, no caso da interação fármaco- receptor, o mais relevante são os canais iônicos ligante dependentes. → Hiperpolarização ou despolarização; → Ação de início rápida. • Receptores acoplados à proteína G (GPCR): No lado interno da membrana há um complexo proteico chamando de proteína G, composto por três unidades. Uma vez ativado, ele inicia uma cascata de segundos, terceiros ou até mesmo quartos mensageiros, para causar o efeito. → Síntese ou inibição do segundo mensageiro; → Fosforilação de proteínas; → Ação de início lenta. • Receptores associados à atividade enzimática: Possuem um domínio citoplasmático que vão sofrer um processo de fosforilação interna, que também leva a fosforilação de segundos mensageiros, gerando os efeitos. → Fosforilação de proteínas; → Transcrição gênica e síntese de proteínas. → Ação de início muito lenta. • Receptores intracelulares: São receptores de hormônios. Após a interação ligante-receptor, eles migram para o núcleo da célula e ativam a transcrição, transdução e síntese proteica. → Transcrição gênica e síntese de proteínas. → Ação de início muito lenta. REPECPTORES IONOTRÓPICOS • Receptores associados a canais iônicos. • Dependentes de ligantes, ou seja, precisa-se que a molécula do fármaco se ligue para ativar o canal e quando ele se desliga temos a inativação do canal. • Exemplo: Receptor nicotínico. → Junção neuromuscular: Acetilcolina (Ach) se liga bilateralmente, causando uma mudança conformacional que permite a abertura do canal e a passagem de íons sódio (Na+). • Exemplo: Receptor GABAérgico. → Os benzodiazepínicos (hipnóticos, sedativos, ansiolíticos), se ligam e abrem o canal GABAérgico. Com isso, temos a entrada de cloreto, causando a hiperpolarização neuronal central, útil no tratamento de transtornos associados a ansiedade. REPECPTORES METABOTRÓPICOS • Receptores acoplados à proteína G. 2 0 2 1 . 1 J Ú L I A M O R A I S 1 4 3 ( 2 0 1 9 . 2 ) | 3 1. A proteína G possuir três subunidades (α, β e γ), sendo a principal a α associada a uma molécula de GDP. 2. O fármaco se liga ao receptor, gerando uma mudança conformacional ativa a proteína G, transformando GDP em GTP. Com isso a subunidade α com GTP, está ativada e se dissocia das restantes. 3. A subunidade α + GTP pode ativar uma proteína amplificadora e fosforilar canais iônicos, por exemplo. 4. A subunidade β + γ pode ativar canais iônicos. • Exemplo: R. adrenérgicos, r. muscarínicos, r. opioides e r. dopaminérgicos. • Exemplo: Receptor β-adrenérgico. → Ligação do fármaco ativa a proteína G estimuladora (Gs), a subunidade αs estimula uma enzima amplificadora, a andenilatociclase (AC), causando o aumento da síntese de AMPc (segundo mensageiro). O AMPc aumenta a síntese e ativação de PKA (terceiro mensageiro), prosseguindo a cascata de sinalização. • Exemplo: Receptor α2-adrenérgico, r.muscarínico e r. apióide. → Ligação do fármaco ativa a proteína G inibitória (Gi), a subunidade αi inibe a AC e, consequentemente, diminui a síntese de AMPc, a ativação de PKA e a ativação da cascata de sinalização. • Exemplo: Receptor α1-adrenérgico. → Ligação do fármaco ativa a proteína Gq, a subunidade αq estimula a fosfolipase-C subtipo β (PLCβ), causando o aumento de inositol-3-fosfato (IP3) e diacilglicerol (DAG). → O IP3 age no retículo sarcoplasmático estimulando a liberação de cálcio. → O DAG ativa a fosfoquinase C (PKC) ou a fosfolipase A2, favorecendo a síntese de prostaglandinas. → Encontrado nos vasos sanguíneos, provocando constrição. RECEPTORES ENZIMÁTICOS • Receptores com atividade enzimática. • Possuem uma região de tirosina quinase que vai ser fosforilada. 1. Inicialmente, encontra-se em monômero, quando ocorre a interação do fármaco ele forma um dímero. 2. A porção tirosina quinase é fosforilada e se liga a fatores adaptativos, estimulando diferentes vias, como a da MAPK, gerando um efeito. • Exemplo: R. insulina, r. citosinas e r. fatores de crescimento. • Exemplo: Receptor de citosinas. → Possui uma região de quinases de Janus (JACK- STAT), os quais são fosforilados e agem em Stat, que vão se ligar ativando a cascata de sinalização. RECEPTORES DE HORMÔNIOS • Receptores que controlam a transcrição de DNA. • Exemplo: R. hormônios esteroidais, r. hormônios tireóideo, r. vitamina D e r. ácido retinóico. 1. Os hormônios atravessam a membrana e interagem com o receptor localizado no citoplasma. 2. O complexo hormônio-receptor se liga ao núcleo, onde ativam transcrição e tradução, produzindo uma proteína. EXCEÇÕES DE Gs e Gi Nem todos os casos de Gs causa o aumento da cascata de sinalização, assim como, nem todos os Gi inibem a cascata. A ação depende do tecido! Por exemplo, o receptor β2-adrenérgico no pulmão é Gs, mas ele provoca dilatação do vaso, pois a PKA inibe a entrada de cálcio, impedindo a interação actina miosina, causando a broncodilatação. As células apresentam diversos tipos de receptores sendo ligados ao mesmo tempo, prepondera a resposta do maior número de receptores que está sendo ativado. Por isso a especificada do fármaco é importante, pois vai caracterizar a via de resposta. 2 0 2 1 . 1 J Ú L I A M O R A I S 1 4 3 ( 2 0 1 9 . 2 ) | 4 ENZIMAS COMO ALVOS PARA FÁRMACOS ENZIMA FÁRMACO USO CLÍNICO ECA Captopril, Enalapril Hipertensão COX AINES Inflamação DOPA descarboxilase Carbidopa Parkinson Dihidrofolate reductase Metotrexato Câncer DNA topoisomerase Irinotecan topotecan Câncer AND polimerase Citarbine Leucemia HMG-CoA reductase Lovastatina, Pravastatina Hipercolesterolemia β-Lactamase Ácido clavulânico Infecção HIV transcriptase reversa AZT (Zidovudina) AIDS HIV protease Indinavir, Rotinavir AIDS NA, K-ATPase Digoxina Insuficiência cardíaca H, K-ATPase Omeprazole, Pantoprazole Úlcera péptica PDE 3, 5 Milirinona, slidenafil IC, disfunção erétil Interações Farmacológicas TEORIAS DE QUANTIFICAÇÃO • Clark (1933): Interação fármaco-receptor segue o princípio da Lei de Ação das Massas. Logo, a intensidade do efeito farmacológico é proporcional ao número de receptores ocupados. • Arien (1954): O fármaco precisa ter uma afinidade com o receptor para que haja interação química, quanto maior ela é, melhor ele se liga ao receptor e muda a sua conformando, provocando uma atividade intrínseca. → Agonista: Tem atividade intrínseca (α > 0 e α ≤ 1) → Antagonista: Não tem atividade intrínseca (α =0) • Stephenson (1956): Eficácia está relacionado ao número de receptores ocupados por determinado fármaco, quanto mais estiverem ativados, maior a eficácia, logo maior é a sua potência. CONCEITOS • Eficácia: Efeito máximo ou a habilidade de um fármaco, uma vez ligado ao receptor, modificar sua função. • Potência: Sensibilidade de um órgão ou tecido ao fármaco ou a habilidade de determinada dose provocar uma resposta biológica. → Expressa como a quantidade de fármaco que desencadeia 50% da resposta máxima (CE50). → Potência tem relação direta com afinidade e relação inversa com a dissociação. • Afinidade: Mede a força de ligação e é determinada pelos tipos e números de ligação. → ↑ Afinidade = ↓ Dissociação. → ↓ Afinidade = ↑ Dissociação. → Inversamente proporcional ao Kd. GRÁFICO DOSE-RESPOSTA • No eixo das ordenadas temos o número de receptores ocupados [𝐿𝑅] [𝑅0] ⁄ → LR= Receptores ligantes; → R0= Número de receptores vazios. • No eixo das abscissas temos a dose, concentração. → LR = Receptores ligantes; • Kd é a constante de dissociação e está associada a concentração por ocupar metade dos receptores. → ↓Kd = ↑ Potência = ↑ Afinidade. 2 0 2 1 . 1 J Ú L I A M O R A I S 1 4 3 ( 2 0 1 9 . 2 ) | 5 • No gráfico, Kda possui maior potência, pois tem menor dissociação, logo possui maior afinidade pelo receptor. • No gráfico, Kda e Kdb apresentam eficácia máxima, pois ambos vão alcançar atividade total. • Com isso, na escolha do tratamento, ambos podem ser usados. No entanto, Kda precisará de uma dose menor para atingir a eficácia máxima, quando comparado ao Kdb. • Gráfico A: Fármaco X possui maior potência e ambos possuem maior eficácia. • Gráfico B: Fármaco X possui maior potência e eficácia do que o fármaco Y. CURVA DOSE-RESPOSTA • Um sinônimo matemático de Kd é a CE50, que significa a concentração eficaz em 50% dos receptores. AGONISTA • Fármacos que interagem com os receptores e formam o complexo droga-receptor e ativam os receptores. • Exemplo: Adenosina é agonista de receptores A1 e A2. Sua interação com eles no sistema nervoso tem ação inibitória, diminuindo a entrada de cálcio e da liberação de neurotransmissores, levando ao sono. • Agonista pleno: Ativa todos os receptores. → Eficácia máxima. • Agonista parcial: Ativa de forma parcial os receptores. → Eficácia parcial. • Composto inativo ou antagonista: Tem afinidade, mas não provoca atividade intrínseca. • Agonista inverso: Se ligam a receptores com atividade basal, os quais já possuem atividade sem ligação do agonista. Com isso, não é efetivo utilizar um antagonista, por isso, faz-se o uso do agonista inverso, o qual se liga e cessa a atividade fisiológica. ANTAGONISTA • Fármacos que interagem com os receptores formam o complexo droga-receptor, não ativam os receptores e inibem a ação do agonista. • Exemplo: Cafeína possui uma estrutura semelhante a da adenosina, também se ligando aos receptores A1 e A2. Resulta no bloqueio dos receptores, causando o efeito inverso e mantendo a vigília. ANTAGONISTA DOS RECEPTORES • Ligação ao sítio alvo: Antagonista possui uma estrutura semelhante ao agonista para competir pelo mesmo sítio alvo. → Reversível: Antagonista competitivo. → Irreversível: Antagonista não-competitivo. • Ligação alostérica: Não se liga no mesmo local no qual se liga o agonista, por isso, não é necessário ter a mesma estrutura do agonista. → Reversível: Antagonista alostérico não competitivo. → Irreversível: Antagonista alostérico não competitivo. ANTAGONISTA SEM RECEPTORES • Antagonista químico; • Antagonista fisiológico. ANTAGONISTA COMPETITIVO REVERSÍVEL • Antagonista competitivo reversível: Desloca a curva dose-resposta para a direita. Indicando alteração na potência do agonista, em virtude da presença do antagonista, ou seja, precisa de maior concentração do agonista para manutenção do efeito anterior a aplicação do antagonista. Não alteraa eficácia. → Alteração da potência e não altera eficácia. 2 0 2 1 . 1 J Ú L I A M O R A I S 1 4 3 ( 2 0 1 9 . 2 ) | 6 • Gráfico: Ao administrar o antagonista atropina, torna necessária uma dose maior do agonista Acetil- colina para conseguir a eficácia máxima, deslocando a curva para a direita. ANTAGONISTA NÃO COMPETITIVO IRREVERSÍVEL • Antagonista não competitivo irreversível: Deslocamento da curva para direita indicando alteração na potência do agonista e redução do seu efeito, diminuindo a eficácia. → ↓Eficácia e alteração da potência. → Ligação covalente entre antagonista e receptor. • Gráfico: Fenoxibenzania é o antagonista irreversível dos receptores α-adrenérgico, provocando um bloqueio permanente através de ligação covalente. O agonista não consegue se ligar mais mesmo com o aumento da dose, devido à falta de receptores. • Exemplo: Ácido acetilsalicílico é um AINEs, um antiplaquetário importante. Ela se liga ao COX da plaqueta, células não nucleadas que não conseguem produzir mais COX. Com isso, é necessário que seja feita a síntese de novas plaquetas para manter a ativação plaquetária e os processos de coagulação. ANTAGONISTA NÃO COMPETITIVO REVERSÍVEL • Antagonista não competitivo reversível: Ocorre redução do efeito, portanto, também reduz a eficácia. O agonista continua se ligando ao receptor com a mesma afinidade, no entanto, o receptor não responde por haver bloqueio de sua função em um ponto diferente do sítio de ligação do agonista. → ↓Efeito, ↓eficácia e não altera potência, pois não altera afinidade. → Antagonista alostérico. • Gráfico: Eficácia do agonista é reduzida, devido a alteração conformacional do receptor causada pelo antagonista, que impede a ligação efetiva do agonista com o sítio-alvo, impedindo uma resposta máxima. ANTAGONISMO FUNCIONAL • São fisiologicamente antagônicos, não disputam o mesmo receptor, ambos são agonistas, porém possuem efeitos antagônicos. → Exemplo: Acetilcolina causando bradicardia e adrenalina causando taquicardia. ANTAGONISMO QUÍMICO • Molécula química interage com outra molécula química. → Exemplo: Heparina pode causar hemorragia (efeito adverso). Caso tenhamos uma superdosagem dessa droga podemos reverter com a protamina, pois ela se liga com a heparina e impede o seu efeito. SINERGISMO • Sinergismo de feito ou de somação: Drogas diferentes que atuam em receptores diferentes e produzem o mesmo efeito. → Temos potencialização dos efeitos. → Exemplo: Através de estímulos colinérgicos, gastrina e histamina, temos a estimulação da bomba (H-K ATPase), ocorrendo a síntese da secreção ácida nas células parietais na mucosa gástrica. • Sinergismo de ação ou verdadeiro: Drogas diferentes que atuam no mesmo receptor e produzem o mesmo efeito. → Aumenta a potência, diminuindo a dose necessária. → Não altera a eficácia. → Exemplo: Dois AINEs diferentes atuando em COX. • Sinergismo de potenciação: → Exemplo: Clavulanato inibe a β-lactamase, impedindo a degradação da amoxicilina, 2 0 2 1 . 1 J Ú L I A M O R A I S 1 4 3 ( 2 0 1 9 . 2 ) | 7 permanecendo uma maior quantidade da droga causando um efeito aumentado. MODIFICAÇÃO DA AÇÃO DOS FÁRMACOS CAUSAS • Fatores dependentes dos pacientes: → Variabilidade individual como, idade, peso e composição corpórea; → Fatores genéticos e idiossincrasias; → Estados patológicos ou fisiológicos especiais; → Estado psicológico (efeito placebo). • Fatores dependentes do fármaco: → Forma farmacêutica; → Propriedades físico-químicas (solubilidade, estabilidade, sensível à luz). • Fatores dependentes das condições e tempo de armazenamento: → Temperatura; → Decomposição pela luz; → Tempo de validade. • Fatores ligados às condições de uso: → Tolerância; → Taquifilaxia; → Dependência física e psicológica. • Interações medicamentosas. VARIAÇÃO DA RESPOSTA • A heterogeneidade da população gera variação. • Variação Quantitativa: Depende da quantidade de fármaco no sítio de ação (receptores). A dose do fármaco se adequa a característica de um determinado indivíduo e afinidade dele pelo receptor. → Efeito terapêutico; → Perda de eficácia; → Toxicidade. • Variação Qualitativa: Modificação na natureza da resposta. → Parâmetros intrínsecos: Depende do sistema biológico. Estão relacionados a variabilidade individual, a indiossincrasias e efeito placebo. → Parâmetros extrínsecos: Dependem do fármaco. Estão relacionados a condições de uso e interação medicamentosa. FATORES DEPENDENTES DOS PACIENTES 1. Variabilidade individual: Indivíduos hiper- responsivos ou hipo-responsivos. Leva em consideração a variação na taxa de absorção, metabolização e eliminação. 2. Idade: Os fatores relacionados podem causar o aumento da meia-vida e, consequentemente, efeitos maiores e mais prolongados. → Neonato: ▪ Deficiência na metabolização ou eliminação; ▪ Barreira hematoencefálica pouco desenvolvida; ▪ Menor quantidade de proteínas plasmáticas. → Idoso: ▪ Redução da metabolização ou eliminação; ▪ Redução da massa muscular e conteúdo de água; ▪ Redução da albumina sérica. → Exemplo: A gentamicina possui um tempo de meia-vida de 2 horas no adulto, já no neonato esse tempo aumenta para 10 horas e no idoso para 4 horas, aumentando a chance de gerar efeitos adversos. 3. Idiossincrasias: Resposta não esperada vinculada a fatores genéticos. → Exemplo: A succinilcolina é um agonista colinérgico, quando hidrolisada pela colinesterase normal, ela leva o tempo de meia- vida de 3 a 5 minutos. No entanto, a colinesterasia atípica, devido ao polimorfismo genético, aumenta o tempo de meia-vida pela ineficiência enzimática, resultando em apneia e paralisia prolongada. 4. Diferenças étnicas: → Exemplo: A raça amarela mostra maior susceptibilidade ao álcool, pois indivíduos asiáticos tem diminuição da atividade da aldeído desidrogensa. No metabolismo do álcool temos a enzima álcool desidrogenase que o transforma em acetaldeído, substância mais tóxica que o álcool, a qual posteriormente deve sofrer ação da aldeído desidrogenase para virar acetato. Devido a diminuição dessa enzima, chineses e japoneses acumulam acetaldeído, tendo efeitos adversos como náuseas, rubor e palpitação. 5. Diferenças de sexo: Relacionado a constituição corporal e hormônios. 6. Peso e composição corpórea: Alterações de volume e distribuição. 2 0 2 1 . 1 J Ú L I A M O R A I S 1 4 3 ( 2 0 1 9 . 2 ) | 8 → Teor de gordura influencia o volume de distribuição (Vd) do fármaco e os depósitos de substâncias lipofílias. 7. Estado nutricional: → Estados hipoproteicos e de desnutrição afetam a distribuição do fármaco. → Lactentes e idosos desnutridos podem ter metabolismo oxidativo. 8. Estado patológico ou fisiológico: → Insuficiência hepática, renal, choque, insuficiência cardíaca; → Vômito e diarreia inviabilizam a via oral; → Reação de hipersensibilidade (alergias prévias); → Gestação. 9. Estado psicológico (Efeito placebo): → Uma pessoa altamente motivada para obter alívio com a medicação terá boa resposta a placebo, que é um substância farmacologicamente inerte; → Crença do paciente no agente prescrito, melhora a doença e adesão ao tratamento. FATORES DEPENDENTES DOS FÁRMACOS 1. Escolha da dose correta: Influência a lei de ação das massas. 2. Formas farmacêuticas: Formas farmacêuticas oriundas de indústrias diferentes podem afetar a biodisponibilidade pelos variados graus de desintegração, dissolução e liberação do princípio. → Exemplo: Digoxina usada na insuficiênciacardíaca possui 4 formulações de via oral, as quais a concentração plasmática varia. 3. Estabilidade à temperatura; 4. Estabilidade no pH do meio; 5. Sensibilidade à luz; 6. Prazo de validade. FATORES LIGADOS AO USO 1. Tolerância: Fenômeno que se desenvolve pelo uso continuado da droga, sendo caracterizado pela necessidade do aumento da dose para obter o efeito terapêutico. → Exemplo: Com a ação frequente de um agonista em um receptor β-adrenérgico, o corpo entende que presença de um equilíbrio e passa a endocitar o receptor, reduzindo a sinalização. 2. Taquifilaxia: É a tolerância que desenvolve rapidamente. → Exemplo: Nitratos orgânicos. 3. Dependência: Modificação na sinalização em sinapses neuronais que compromete o processo estimulatório, causando alterações comportamentais ou de humor, que levam a busca incessante pela substância. Ocorre em regiões do cérebro comumente relacionadas a recompensa, identificação e interação com o meio → Exemplo: Álcool, morfina, heroína etc. INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS • Interações quantitativas: A + B. → Efeito aditivo: EAB = EA + EB (1 + 1 = 2) → Sinergismo: EAB > EA + EB (1 + 1 > 2) → Potencialização: EAB > EA + EB (0 + 1 = 2) • Interações qualitativas: A + B. → Interações químicas; → Interações farmacocinéticas; → Interações farmacodinâmicas. INTERAÇÕES ÚTEIS • Naloxona nas intoxicação com morfina. • Flumazenil das overdoses de benzodiazepínicos (rivotril, valium, oprazolam). • Atropina nas intoxicações com anticolinesterásicos. INTERAÇÕES PERIGOSAS • Warfarin + aspirina. • Álcool etílico com benzoadiazepínicos causa sinergismo negativo, causando depressão central grave. • Tranilcipromina + tiramina. 2 0 2 1 . 1 J Ú L I A M O R A I S 1 4 3 ( 2 0 1 9 . 2 ) | 9 INTERAÇÕES FARMACOCINÉTICAS ALTERAÇÃO MECANISMO EXEMPLOS Absorção Formação de complexos insolúveis; Um dos agentes ↓ o fluxo sanguíneo e o outro ↓ esvaziamento gástrico. Leite + Tetraciclina Adrenalina + Lidocaína Atropina (morfina) +outro oral Distribuição Competição pela proteína plasmática. Warfarin + Fenilbutazona Metabolismo Indução das enzimas (barbitúricos). Inibição das enzimas (cimetidina). ↑ metabolismo de outras drogas ↓ metabolismo de outras drogas Eliminação Competição pela secreção Modificação do pH Pernicilina + probenicida Salicilato + bicarbonato
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