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Abdome Agudo CONCEITO: É uma condição clínica caracterizada por dor abdominal aguda, de início súbito ou não, de intensidade variável, que faz o paciente procurar tratamento no setor médico, necessitando de intervenção clínica ou cirúrgica. “Necessita de uma decisão aguda”. EPIDEMIOLOGIA: Predomina no sexo masculino, com idade média de 31,5 anos; predomina o abdome agudo, sendo a apendicite a causa mais prevalente. FISIOPATOLOGIA: - Ligada à nocicepção da dor -> cuja resposta depende das fibras nervosas. - Fibras tipo A delta e Fibras C. · Contração reflexa da musculatura abdominal vigorosa causa distensão de vísceras e se persistir o abdome figa rígido (abdome em tábua). · Principal complicação: PERITONITE (inflamação do peritônio parietal ou visceral) · DOR PARIETAL: processo inflamatório/trauma/secreções gastrointestinais MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS GERAIS: - Dor abdominal; Náuseas e vômitos: irritação dos nervos do peritônio - Febre: pode ter ou não; menos comum em idosos e Imunossuprimidos. - Anorexia; Alteração da função intestinal: constipação intestinal (por um longo período pode indicar obstrução por fecaloma ou vólvulo do sigmoide), diarreia (indicar doença inflamatória), hematoquezia, enterorragia, melena; sangue (neoplasias; invaginação intestinal). TRÍADE DA OBSTRUÇÃO INES TINAL: Dor em cólica + vômito + constipação intestinal. - Alteração do ciclo menstrual: dispaurenia, irregularidade dos 3 últimos ciclos, data da última menstruação; sangramento, corrimento vaginal, contato sexual; pode indicar endometriose, gravidez ectópica, ovulação dolorosa. - Alteração de micção: algúria (dor), disúria (dificuldade), retenção urinária, polaciúria, piúria. Pode indicar pielonefrite aguda, cistite, cólica nefrética, retenção urinária aguda. DIAGNÓSTICO: 1) INSPEÇÃO: Mucosas hipocoradas (perda de sangue); mucosas secas e olhos encorvados (desidratação); icterícia (colestase, colecistite); manchas na gengiva (intoxicação por chumbo); púrpuras, equimoses (hepatite); Sinal de Cullen, Sinal de Grey Turner (pancreatite); Ingurgitamento venoso cervical (ICC, pneumotórax espontâneo); Assimetria de PAS (dissecção de aorta); choque (hipovolemia, IAM); respiração superficial (irritação peritoneal); pulso arrítmico ( FA -> êmbolo na artéria mesentérica); hérnias; Taquipneia (acidose metabólica); cicatriz cirúrgica (bridas -> aderências cirúrgicas). 2) AUSCULTA: Avaliar se o peristaltismo está AUMENTADO (obstrução mecânica, hemorragia digestiva) OU DIMINUÍDO (Íleo reflexo; abdome inflamatório, hemoperitônio). 3) PERCUSSÃO: identificar presença de massas, ar, líquido intra-abdominal; começa com áreas distantes; Sinal de Jobert (linha axilar média sobre o fígado -> timpanismo -> pneumoperitônio); Ascite (macicez móvel); Sinal de Giordano (inflamação retroperitoneal -> pielonefrite). 4) PALPAÇÃO: começa do lugar que menos dói p/ o que mais dói; - Sinal do obturador, Sinal de Rovising, Sinal de Psoas direito (afecções retroperitoniais -> apendicite retrocecal e abcessos perinefreticos), Sinal de Blumberg. - Contratura muscular verdadeira (reflexa à irritação do peritônio) e Contratura de defesa (o peritônio parietal é comprimido e quando toca a víscera doente, ela dói). - Exame do períneo (doença de Crohn); exame da bolsa escrotal (orquite e epididimite); toque retal e vaginal (sangramento, Fecaloma, neoplasia de reto, amolecimento uterino –gravidez) - Sinal de Murphy - Pontos de fragilidade do abdome/ suscetível à herniações (triângulos lombares inferior e superior, canal inguinal, anel femoral, triângulo de Hesselback, linha alba/branca, linha semilunar e região umbilical). EXAMES DE IMAGEM: - Raio-x (tórax PA ortostase + Abdome AP ortostase e decúbito dorsal) -> pneumoperitônio, elevação da cúpula frênica, visceromegalia, pneumonia de base, distensão de alças, níveis hidroaéreos, aerobilia, opacidades, coleções, abcessos, corpos estranhos. - US: Colecistite aguda; avaliar dor pélvica em mulheres (afecção ginecológica, apendicite – menos sensível); litíase renal, Diverticulite aguda do sigmoide; abcesso visceral (fígado e baço); não avalia muito bem o retroperitônio (pâncreas); difícil diagnóstico em obesos, íleo funcional e distensão gasosa. - TC de abdome/pelve: pode usar contraste oral e venoso; pancreatite aguda e Diverticulite; abcesso pancreático; diagnóstico diferencial de apendicite aguda (principalmente em obesos). - RM: sem contraste -> pode em gestantes e crianças; avalia ductos biliares e pancreáticos; evitar em pessoas com corpos estranhos metálicos (marca-passo cardíaco, clipes vasculares metálicos, válvulas cardíacas). - Arteriografia: importante no abdome agudo vascular -> diferencia isquemia oclusiva (trombo, embolia) de não oclusiva (vasoconstrição). - Laparoscopia diagnóstica: quando não consegue definir um diagnóstico preciso; usado p/ evitar laparotomia desnecessária; contraindicado quando o paciente está instável ou com coagulopatia grave. EXAMES LABORATORIAIS: - Hemograma Completo - EAS - Função renal - Dosagem de eletrólitos (potássio, cálcio) - Transaminases (AST e ALT) - Bilirrubinas totais e frações (Direta e indireta) - Amilase e lipase (pâncreas) - Coagulograma (hepatopatias agudas) - Gasometria arterial e acidose láctica (pancreatite aguda, isquemia mesentérica) - Beta-HCG (gravidez) - Glicemia capilar - VHS e PCR -> inflamação RELEMBRAR ANATOMIA DO ABDOME: 1) PELE 2) TECIDO SUBCUTÂNEO (Camada superficial gordurosa da fáscia superficial (Camper) e camada profunda (Scarpa)). 3) Aponeurose 4) Músculo (oblíquo externo -> oblíquo interno, reto abdominal e piramidal -> transverso) 5) Fáscia profunda (aponeurose) 6) Fáscia/ gordura endoabdominal 7) Peritônio TIPOS DE ABDOME AGUDO: 1) INFLAMATÓRIO 2) PERFURATIVO 3) OBSTRUTIVO 4) VASCULAR (isquêmico) 5) HEMORRÁGICO INFLAMATÓRIO: - Obstrução mecânica de vísceras ocas; - Inflamação na parede das vísceras; - Geralmente o início é insidioso, com sintoma vago como alteração do trânsito intestinal, náuseas, anorexia, vômito -> até que evolui p/ dor súbita (quando atinge o peritônio parietal). Essa evolução pode durar horas, até dias. - Pode sentir massas abdominais à palpação. - Principal complicação: peritonite disseminada 1) APENDICITE AGUDA: - Causa mais comum - Começa com uma obstrução por fecalito -> que causa inflamação do apêndice e irritação do peritônio visceral (dor difusa), até que começa a afetar o peritônio parietal (dor localizada), positivando Blumberg. - Fase inicial: dor epigástrica ou periumbilical (tipo visceral) com sintomas vagos -> depois foca no quadrante inferior direito (tipo somática). Pode haver constipação intestinal ou diarreia; há febre baixa + leucocitose moderada com desvio p/ esquerda. - Quando a localização do apêndice é retrocecal -> a dor é menos intensa, podendo estar no hipocôndrio direito com hematúria e piúria. - No RX -> fecalito (90% dos casos) e em US (sensibilidade de 94%) -> apêndice com estrutura tubular sem peristaltismo, não compressível, com paredes espessadas (aspecto em alvo -> corte transversal). TRATAMENTO: Apendicectomia; Antibioticoterapia profilática antes da cirurgia; caso haja complicação o antibiótico deve ser de amplo espectro. 2) COLECISTITE AGUDA: - Principal causa: litíase biliar: - Durante a alimentação a vesícula biliar contrai por estímulo hormonal (CCK) -> cálculo biliar se desloca e pode obstruir o infundíbulo do ducto colédoco -> gera acúmulo de bile, que quando em estase começa a provocar reação inflamatória por efeito tóxico -> então causa distensão da vesícula biliar + espasmos -> causando a dor cólica biliar + inflamação adjacente -> esta afeta inicialmente a lâmina de peritônio visceral, causando uma peritonite visceral (dor difusa) que pode progredir p/ uma peritonite parietal. Com esse efeito tóxico e inflamatório pode acontecer infecção (E. coli), gerando febre e leucocitose. - Fase inicial: dor epigástrica (tipo visceral) com náuseas e vômitos->depois foca no quadrante superior direito (tipo somática), que pode irradiar p/ região lombar direita e escapular direita. Febre baixa + leucocitose moderada. - Seu houver icterícia -> pensar em colangite (vias biliares) - US: método de escolha -> espessamento de parede biliar (> 3,5 mm); lama biliar - Sinal de Murphy TRATAMENTO: Colecistectomia precoce nos primeiros 3 dias de evolução da doença ou após 4 semanas da crise, quando a inflamação regredir; Usar antibiótico ao diagnóstico. 3) PANCREATITE AGUDA: Normalmente o pâncreas exócrino libera enzimas em vesículas até o intestino, onde são liberadas -> com a litíase biliar -> essas enzimas são liberadas das vesículas ainda no pâncreas, gerando autofagia do próprio-> e consequente inflamação com necrose do parênquima -> caracteriza a dor em faixa + náuseas, vômitos, edema local, pode haver hemorragia. - Principal causa: litíase biliar; - Início súbito com náuseas e vômitos; dor em faixa que irradia p/ dorso-> nos hipocôndrios, epigástrio ou região umbilical. - Elevação de amilase e lipase (4x) - Solicitar hemograma, glicemia, leucograma, ionograma, gasometria arterial, PCR, cálcio. - TC: exame de escolha. TRATAMENTO: hidratação venosa vigorosa, jejum e analgesia; cirurgia apenas de houver necrose infectada, abcessos; quando houver pancreatite biliar grave (colecodolitíase, dilatação do colédoco e/ou colangite faz a papilotomia endoscópica). 4) DIVERTICULITE AGUDA: - É a inflamação dos divertículos, que são herniações da mucosa do cólon, principalmente o sigmoide, que acontecem por fragilidade da túnica muscular. Essas herniações são obstruídas, causando inflamação + dor -> geralmente na fossa ilíaca esquerda + febre + constipação + leve distensão abdominal + leucocitose + disúria e polaciúria (proximidade à bexiga). -> Complicações: fístulas vesicais (bexiga), peritonite local ou generalizada. - Mais comum em idosos - TC: exame de escolha; evitar colonoscopia na fase aguda, faz só 6-8 semanas pós-inflamação. TRATAMENTO: Clínico -> uso de antibiótico e faz cirurgia só em complicação (peritonite, perfuração, obstrução) COMPREENDER A ETIOLOGIA, EPIDEMIOLOGIA E FATORES DE RISCO DO ABDOME AGUDO ENTENDER A FISIOPATOLOGIA DO ABDOME AGUDO CONHECER AS MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS, CLASSIFICAÇÃO E TIPOS DE ABDOME AGUDO COMPREENDER O DIAGNÓSTICO DE ABDOME AGUDO CONHECER O TRATAMENTO DO ABDOME AGUDO (MANEJO NA EMERGÊNCIA)
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