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ANA CAROLINA CASALI ZANETTE – 2º SEMESTRE CONCEITO • É condição clínica multifatorial caracterizada por elevação sustentada dos níveis pressóricos ≥ 140 e/ou 90 mmHg. • Frequentemente se associa a distúrbios metabólicos, alterações funcionais e/ou estruturais de órgãos-alvo, sendo agravada pela presença de outros fatores de risco (FR), como dislipidemia, obesidade abdominal, intolerância à glicose e diabetes melito (DM). • Mantém associação independente com eventos como morte súbita, acidente vascular encefálico (AVE), infarto agudo do miocárdio (IAM), insuficiência cardíaca (IC), doença arterial periférica (DAP) e doença renal crônica (DRC), fatal e não fatal. FATORES DE REGULAÇÃO DA PRESSÃO ARTERIAL A regulação da atividade cardíaca e da circulação periférica pelo sistema nervoso central (SNC) é acompanhada pela ativação de grupos de neurônios localizados principalmente, mas não exclusivamente, no bulbo. A atividade destes, em parte, é determinada por comandos oriundos de regiões superiores do SNC e por aferências de mecanorreceptores e quimiorreceptores localizados na periferia. Este sistema de controle complexo determina o grau de atividade do simpático e do parassimpático, modulando a rápida resposta cardiovascular durante diferentes comportamentos como, por exemplo, mudanças na postura, atividade física, temperatura, altitude e gravidade. A ativação e desativação reflexas de tais sistemas em condições fisiológicas determinam ajustes do débito cardíaco e da resistência vascular periférica, contribuindo para a estabilização e manutenção da pressão arterial (PA) sistêmica em diferentes situações. • Atividade do reflexo barorreceptor: As regiões do seio carotídeo e também do arco aórtico apresentam grande número de estruturas sensíveis a mudanças de pressão no interior destes vasos. Tais estruturas se comportam como mecanorreceptores estimulados pela deformação da parede do vaso, isto é, percebem modificações da tensão sobre sua parede. O reflexo pressorreceptor é responsável por controlar alterações abruptas da PA e, desta forma, manter os níveis dentro de limites estreitos para gerar perfusão tecidual de maneira adequada, assegurando o metabolismo local em função da necessidade • Atividade do reflexo quimiorreceptor de cada tecido: Os quimiorreceptores periféricos localizam-se no corpo carotídeo e no arco aórtico. Ajustes ventilatórios em resposta à hipoxemia, hipercapnia e quedas do pH são mediados pela interação entre os quimiorreceptorees periféricos e centrais. A resposta à hipóxia em seres humanos é desencadeada principalmente pela ativação dos quimiorreceptores carotídeos. Hipercapnia e acidose também aumentam a atividade dos quimiorreceptores periféricos e essas condições potencializam o efeito da hipóxia. As aferências dos quimiorreceptores carotídeos e aórticos chegam ao NTS pelos nervos glossofaríngeo e vago, respectivamente. No bulbo, essas aferências desencadeiam aumento da ventilação, aumento da atividade simpática periférica e aumento da atividade vagal no coração. O papel funcional dessas adaptações envolve a manutenção das trocas gasosas (aumento da ventilação), manutenção da perfusão em órgãos vitais como coração e SNC (vasoconstrição em leitos vasculares não-essenciais como músculos, mesentério e rins, juntamente com vasodilatação coronariana por ativação vagal cardíaca e vasodilatação em território nervoso por causa metabólica). A ativação dos quimiorreceptores carotídeos é inibida pela ativação dos barorreceptores aórticos em situações de aumento da PA e a desativação dos barorreceptores potencializa a resposta ventilatória e vasoconstritora dos quimiorreceptores • Atividade do reflexo cardiopulmonar Os reflexos cardiopulmonares também constituem um mecanismo importante de controle da circulação por sua capacidade de modulação da atividade simpática e parassimpática na periferia. Embora seus receptores estejam localizados em diferentes estruturas, incluindo átrios, ventrículos, vasos pulmonares e o parênquima pulmonar há muitas evidências de que receptores ventriculares representam a primeira fonte de impulsos aferentes em diversas situações fisiológicas e fisiopatológicas. Várias técnicas têm sido empregadas para estudar o efeito da estimulação dos receptores cardiopulmonares em seres humanos. Dentre elas pode-se destacar a elevação dos membros inferiores, a aplicação de pressão positiva ao redor do corpo e a imersão na água. Esses procedimentos diminuem a circulação nas regiões periféricas do corpo e aumentam o retorno venoso promovendo a estimulação dos reflexos cardiopulmonares. • Sistema RNAA Quando ocorre uma queda na pressão arterial, a mácula densa que é o sensor responsável, vai perceber a baixa concentração de sódio e vai enviar sinais para as células justaglomerulares que estão nas arteríolas aferentes. As células justaglomerulares presentes entre o tubo contorcido distal e a arteríola aferente, que formam o aparelho justaglomerular, vão ser estimuladas a produzir renina. A renina vai ser liberada no aparelho justaglomerular que vai entrar na corrente sanguínea com a função de mensageiro e vai avisar o fígado para transformar o angiotensinogênio em angiotensina 1. A angiotensina 1 não é forte o suficiente para causar a vasoconstrição e então é transformada em angiotensina 2 por meio das enzimas conversoras de angiotensina (ECA) que estão no endotélio pulmonar. A angiotensina 2 vai Hipertensão arterial ANA CAROLINA CASALI ZANETTE – 2º SEMESTRE atuar na vasoconstrição, porque os vasos possuem receptores AT2, o qual principalmente atuam na arteríola aferente, fazendo com que chegue mais sangue com maior pressão no glomero para uma melhor absorção de cloreto de sódio. A angiotensina 2, além da vasoconstrição, vai atuar nas glândulas suprarrenais para produzir e liberar a aldosterona, que é um mineralocorticoide. A aldosterona vai chegar na hipófise e estimular a liberação do antidiurético (ADH). O ADH liberado vai agir no túbulo coletor, que é a última parte do néfron, que vai estimular a reabsorção maior de sódio e água para devolver para o vaso sanguíneo para aumentar a pressão arterial. FISIOPATOLOGIA Como a pressão arterial é igual ao débito cardíaco (DC) x resistência vascular periférica (RVP) total, mecanismos patogênicos devem envolver Débito Cardíaco aumentado Resistencia Vascular Periférica aumentada Ambos • Casos comuns: o débito cardíaco é normal ou levemente aumentado e a RVP está elevada. Esse padrão é típico de hipertensão primária e de hipertensão decorrente de aldosteronismo primário, feocromocitoma, doença renovascular e doença do parênquima renal. • O volume plasmático tende a diminuir, à medida que aumenta a pressão arterial, mas, raramente, pode permanecer normal ou aumentar. O volume plasmático tende a ser elevado na hipertensão decorrente de aldosteronismo primário ou doença do parênquima renal, podendo estar muito baixo na hipertensão decorrente de feocromocitoma. O fluxo sanguíneo renal diminui gradualmente, à medida que a pressão arterial diastólica aumenta, e inicia-se a esclerose arteriolar. A taxa de filtração glomerular permanece normalmente até tardiamente na evolução da doença e, em consequência, a fração de filtração está elevada. Os fluxos sanguíneos coronariano, cerebral e muscular estão mantidos, a menos que coexista aterosclerose grave nesses leitos vasculares. • Transporte anormal de sódio: Em muitos casos de hipertensão, o transporte de sódio através da parede celular é anormal, pois a bomba de sódio-potássio (Na+K+-ATPase) é defeituosa ou inibida ou a permeabilidade aos íons de sódio aumenta. O resultado é o aumento do sódio intracelular, o que torna a célula mais sensível à estimulação simpática. O cálcio segue o sódio, de maneira que o acúmulo de cálcio intracelular pode ser responsável pelo aumento da sensibilidade. Como Na+K+-ATPase pode bombear noradrenalinade volta para os neurônios simpáticos (inativando esse neurotransmissor), a inibição desse mecanismo pode também exacerbar o efeito da noradrenalina, aumentando a pressão arterial. Podem existir defeitos do transporte de sódio em crianças normotensas de pais hipertensos. • Sistema nervoso simpático Estimulação simpática aumenta a pressão arterial, habitualmente mais em pacientes com pressão arterial elevada e hipertensão do que em pacientes normotensos. Não está estabelecido se tal resposta excessiva resulta do sistema nervoso simpático ou do miocárdio e musculatura lisa vascular. A frequência cardíaca elevada em repouso, que pode resultar do aumento da atividade nervosa simpática, é um bem conhecido fator preditivo de hipertensão. Em alguns pacientes hipertensos, os níveis circulantes de catecolamina plasmática durante o repouso estão mais elevados que o normal. • Sistema renina-angiotensina-aldosterona O sistema renina-angiotensina-aldosterona ajuda a regular o volume sanguíneo e, dessa forma, a pressão arterial. A renina, uma enzima formada no aparelho justaglomerular, catalisa a conversão do angiotensinogênio em angiotensina I. Esse produto inativo é clivado pela enzima conversora da angiotensina (ECA), sobretudo nos pulmões e também nos rins e cérebro, em angiotensina II, um potente vasoconstritor que também estimula centros autônomos no cérebro para aumentar a estimulação simpática e estimular a liberação de aldosterona e vasopressina. Aldosterona e vasopressina provocam retenção de sódio e água, elevando a pressão arterial. A aldosterona também intensifica a excreção de potássio e os níveis baixos de potássio no plasma aumentam a vasoconstrição pelo fechamento dos canais de potássio. A angiotensina III, presente na circulação, estimula a liberação da aldosterona tão ativamente quanto a angiotensina II, mas tem atividade vasoconstritora bem menos intensa. Como as enzimas quimases também convertem angiotensina I em angiotensina II, os fármacos que inibem a ECA não suprimem totalmente a produção de angiotensina II. Geralmente, admite-se que a angiotensina é responsável pela hipertensão renovascular, pelo menos na fase inicial, mas o papel do sistema renina-angiotensina-aldosterona não está estabelecido na hipertensão primária. Entretanto, em hipertensos idosos e negros, os níveis de renina tendem a ser baixos. Em idosos os níveis de angiotensina II também tendem a ser baixo. A hipertensão decorrente de doença crônica do parênquima renal (hipertensão renopriva) resulta da combinação entre mecanismo dependente de renina e mecanismo dependente de volume. Na maioria dos casos, a elevação da atividade da renina não está evidente no sangue periférico. A hipertensão é tipicamente moderada e sensível ao equilíbrio de sódio e água. • Deficiência de vasodilatador A deficiência de vasodilatador (p. ex., bradicinina e óxido nítrico), em vez de excesso de vasoconstritor (p. ex., angiotensina e noradrenalina), pode causar hipertensão. Redução do óxido nítrico devido a artérias rígidas está ligada à hipertensão sensível ao sal, um aumento desordenado de > 10 a 20 mmHg da pressão arterial sistólica após uma grande carga de sódio (p. ex., refeição de comida chinesa). Se os rins não produzirem quantidades adequadas de vasodilatadores (em virtude de doença do parênquima renal ou nefrectomia bilateral), pode haver aumento da pressão arterial. ANA CAROLINA CASALI ZANETTE – 2º SEMESTRE Vasodilatadores e vasoconstritores (principalmente endotelina) também são produzidos nas células endoteliais. Portanto, a disfunção endotelial afeta consideravelmente a pressão arterial. DIAGNÓSTICO/ EXAMES - Urina simples; - Glicemia de jejum (sangue); - Sódio e potássio (sangue); - Creatinina (sangue); - Colesterol total, HDL e triglicerídeos (sangue); - Hemograma (sangue); - Eletrocardiograma de repouso. MECANISMOS DE AÇÃO DOS FARMACOS • Bloqueadores do receptor de angiotensina 2: semelhante aos inibidores da ECA, mas tornam o bloqueio do SRAA mais eficiente (reduzem a resistência vascular periférica deslocando a angiotensina II) • Bloqueadores dos receptores B-adrenérgicos: diminuem a frequência e débito cardíaco. Também reduzem a secreção de renina, atenuando o efeito do SRAA na pressão arterial. Podem ser divididos em B1-adrenérgicos (cardiosseletivos e com efeito no coração) e B2-adrenérgicos (causam broncodilatação, relaxamento dos vasos sanguíneos esqueléticos, entre outros). São medicamentos recomendados também para pacientes com doença arterial coronariana • Diuréticos: incluem os tiazídicos, diuréticos de alça e antagonistas de aldosterona -> reduzem a pressão arterial inicialmente: diminuindo o volume vascular (aumenta excreção de sal e água e suprime a reabsorção renal de sódio) e o débito cardíaco. Diminui cerca de 10 mmHG • Inibidores da ECA: atuam por inibição da conversão da angiotensina 1 em angiotensina 2: diminuem os níveis de angiotensina 2 -> diminuem efeito na vasoconstrição, nos níveis de aldosterona, fluxo sanguíneo intrarrenal e na taxa de filtração glomerular. Também inibem a decomposição da bradicinina e estimulam a síntese das prostaglandinas vasodilatadoras. • Bloqueadores do canal de cálcio: inibem o transporte de cálcio para os músculos cardíaco e vascular liso -> reduzem o tônus muscular liso dos vasos sanguíneos arteriais e venosos. Alguns tem efeito direto no coração -> reduzem débito cardíaco por meio da diminuição da contratilidade e FC/ retorno venoso. Também podem interferir no tônus da musculatura lisa das artérias por inibição do transporte de cálcio por meio dos canais da membrana celular e na resposta vascular à norepinefrina e angiotensina. PRINCIPAIS FARMACOS MEDIDAS NÃO FARMACOLÓGICAS PARA CONTROLE: • Redução e/ou Controle de Peso Hipertensos com excesso de peso devem emagrecer. O objetivo é atingir uma circunferência abdominal adequada (inferior a 94 cm nos homens e 80 cm nas mulheres) e um índice de massa corporal (peso dividido pela a altura ao quadrado = P / H2) inferior a 25 kg/m2. (SOUZA, 2011). A perda de 10 kg pode diminuir a pressão arterial sistólica em 5 a 20 mmHg, sendo a medida não-medicamentosa de melhor resultado. Uma dieta com baixa caloria e um aumento do gasto energético com atividades físicas, são fundamentais para a perda de peso. (AMODEO; LIMA, 1996). • Padrão Alimentar Adequado A dieta do hipertenso deverá ser pobre em sal e rica em potássio, magnésio e cálcio. A dieta pobre em sal (hipossódica), deverá restringir a ingestão diária de sal em 6 gramas (2,4 gramas de sódio), ou seja, 4 colheres rasas de café de sal para o preparo dos alimentos (4 gramas de sal), mais 2 gramas de sal próprio dos alimentos (evite: conservas, frios, enlatados, embutidos, molhos prontos, sopas de pacote, queijos amarelos, salgadinhos, etc.) (SOUZA, 2011). • Diminuição do Consumo de Sal O consumo não pode ultrapassar 6g de sal por dia, o que equivale a 100mL de sódio (4 colheres de chá). Para isso, devem ser ingeridos alimentos naturais, com pouco sal, e devem ser evitados enlatados, conservas, embutidos e defumados. (SILVEIRA; NAGEM; MENDES, 2007). • Diminuição do Consumo de Álcool Na verdade, bebidas alcoólicas não são recomendadas, mas se o paciente for consumi-las, a orientação é que não ultrapasse 30g de etanol/dia para homens e 15g/dia para mulheres. (SILVEIRA; NAGEM; MENDES, 2007). O hipertenso deve evitar uma ingesta regular de bebidas alcoólicas e, quando isto ocorrer, esta ingesta deverá ser limitada ANA CAROLINA CASALI ZANETTE – 2º SEMESTRE a 30 gramas de etanol nos homens (700 ml de cerveja = 2 latas de 350 ml ou 300 ml de vinho = 2 taças de 150 ml ou 100 ml de destilado = 3 doses de 30 ml) e 15 gramas de etanol nas mulheres, ou seja, 50% da quantidade permitida para homens. A diminuição da ingesta excessiva de bebidas alcoólicas pode diminuir a pressão arterial sistólicaem 2 a 4 mmHg. (GRAVINA; GRESPAN; BORGES, 2007). • Cessação do Hábito de Fumar O tabagismo aumenta muito o risco de complicações cardiovasculares em pacientes portadores de hipertensão arterial, logo, deverá ser abandonado. (FORJAZ, 2003). • Prática de Atividades Físicas As pessoas sedentárias apresentam maior probabilidade de desenvolver hipertensão quando comparadas a pessoas fisicamente ativas. Das diversas intervenções não medicamentosas, o exercício físico está associado a múltiplos benefícios. Bem planejado e orientado de forma correta, quanto a sua duração e intensidade, pode ter um efeito hipotensor importante. Uma única sessão de exercício físico prolongado de baixa ou moderada intensidade provoca queda prolongada na pressão arterial. (GALLO; CASTRO, 1997) REFÊRENCIAS: TRATAMENTO NÃO-MEDICAMENTOSO PARA HIPERTENSÃO ARTERIAL (Louisy Oliveira Lopes; Elzira Diniz de Moraes) 7ª DIRETRIZ BRASILEIRA DE HIPERTENSÃO ARTERIAL SILVERTHORN https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/doen%C3%A7as- cardiovasculares/hipertens%C3%A3o/f%C3%A1rmacos-para- hipertens%C3%A3o https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/doen%C3%A7as- cardiovasculares/hipertens%C3%A3o/hipertens%C3%A3o https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/doen%C3%A7as-cardiovasculares/hipertens%C3%A3o/f%C3%A1rmacos-para-hipertens%C3%A3o https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/doen%C3%A7as-cardiovasculares/hipertens%C3%A3o/f%C3%A1rmacos-para-hipertens%C3%A3o https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/doen%C3%A7as-cardiovasculares/hipertens%C3%A3o/f%C3%A1rmacos-para-hipertens%C3%A3o https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/doen%C3%A7as-cardiovasculares/hipertens%C3%A3o/hipertens%C3%A3o https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/doen%C3%A7as-cardiovasculares/hipertens%C3%A3o/hipertens%C3%A3o