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Clínica médica Bruna Marques Dadona Choque 1. Choque - No decorrer da historia, o conhecimento permitiu modificar aspectos conceituais do choque - A presença de pulso rápido e fino, palidez, redução do debito urinário e consciência prejudicada mostravam- se associados a doenças graves - A reposição volêmica permitiu verificar que parte dos pacientes eram recuperados - Apesar da melhora, alguns paciente apresentavam disfunção de múltiplos órgãos ou SDRA - Maior sobrevida com o uso de ventiladores mecânicos, drogas vasoativa e antibióticos - O suporte nutricional, o uso de antibióticos e hemodiálise permitiram que a sobrevida aumentasse 2. Conceito de choque - Síndrome caracterizada pela incapacidade do sistema cardiovascular em fornecer oxigênio e nutrientes para atender às demandas metabólicas teciduais - Além da oferta baixa de oxigênio, a baixa oferta de nutrientes, redução da depuração de substâncias tóxicas, maior afluxo de substâncias lesivas aos tecidos, ação direta de toxinas, ativação de mecanismos agressores, redução de mecanismos de defesa, interdependência de órgãos são relevantes 3. Classificação dos estados de choque - Hipovolêmico: - Hemorragia - Desidratação - Sequestro de líquidos - Obs: choque hipovolêmico é quando o conteúdo de liquido no interior dos vasos não é adequado e isso leva ao choque. A pancreatite pode levar a um sequestro de líquidos. Desidratação: diarreia e vômitos não controlados podem levar a um choque - Cardiogênico: - IC - Infarto agudo do miocárdio - Miocardiopatia - Miocardite - Defeitos mecânicos - Lesões valvares - Aneurisma ventricular - Arritmias - Distúrbios de condução - Obstrutivo: - Embolia pulmonar - Tamponamento cardíaco - Pneumotórax hipertensivo - Coarctação da aorta - Distributivo: - Séptico - Neurogênico - Anafilaxia - Doenças endócrinas 4. Alterações do fluxo sanguíneo e fornecimento de oxigênio - Baixo fluxo sanguíneo: aumenta o gradiente do conteúdo arteriovenoso de oxigênio - O tempo de trânsito das hemácias é maior - Maior extração de oxigênio - Em alguns tecidos ocorre aumento de capilares locais e vasodilatação Clínica médica Bruna Marques Dadona - Há também aumento da atividade adrenérgica com privilégio do fluxo sanguíneo (cérebro, miocárdio, adrenais e rins) - Obs: extrai mais oxigênio do que desejado além da acomodação do retorno venoso, debito cardíaco e PA 5. Toxinas - A endotoxina da parede de Gram negativos em grandes quantidades é capaz de se ligar a fosfolipídios de alguns tecidos e causar disfunção grave - No miocárdio: redução da contratilidade - Dano endotelial no pulmão e no intestino - Endotoxina de Gram positivo: efeito tóxico - Ligação a lipoproteínas alterando o transporte iônico e a estrutura e síntese de proteínas 6. Citocinas - Bactérias, fungos e vírus podem estimular a produção de citocinas - Uma sequência de eventos é desencadeada com hipermetabolismo - Condições não infecciosas também podem ser estímulo para a produção de citocinas 7. Espécies reativas de oxigênio (ERO) - Contém um elétron não pareado na sua última camada - ERO pode ser tóxico a alguns tecidos - Disfunção de membranas celulares por peroxidação de lipídios - 95% do oxigênio segue a cadeia do citocromo mitocondrial para a formação de ATP - O restante participa de processos mediados por enzimas como fagocitose, produção de prostaglandinas e leucotrienos - Em qualquer um dos processos podem ser gerados radicais livres 8. Disfunção e interdependência orgânica - A falência de um órgão pode produzir disfunção em vários outros órgãos - O reconhecimento da disfunção é importante, pois pode haver retardo no tratamento e pior prognóstico - Reconhecimento e tratamento precoce pode limitar as disfunções - Quanto maior o número de órgãos comprometidos maior é a disfunção 9. Síndrome da disfunção de múltiplos órgãos (SDMO) - Lesão endotelial - Ativação de mononucleares - Liberação de citocinas - Disfunção tecidual mediada principalmente por fator de necrose tumoral - Lesão endotelial maciça - Grandes insultos - O acometimento de cada sistema dependerá de uma série de fatores: genética, doença de base, mecanismo agressor inicial, órgãos envolvidos - Também depende da sensibilidade dos leitos vascular os estímulo inflamatório - O gasto energético basal encontra-se aumentado por ação de mediadores inflamatórios - Com a evolução ocorre lipólise - Catabolismo proteico (perda de massa muscular) - Perda de nitrogênio urinário (autocanibalismo) - Diminui a produção de albumina, fibronectina e outras enzimas 10. Aspectos clínicos - Geralmente o fator desencadeante é a hipovolemia - Reposição volêmica é o fator principal para o sucesso terapêutico - Ocorre aumento da permeabilidade vascular Clínica médica Bruna Marques Dadona - Estado hipermetabólico com aumento do consumo de oxigênio - Como medida compensatória ocorre diminuição do tônus pre-capilar e aumento da extração de oxigênio - Posteriormente ocorre metabolismo anaeróbio (elevação do lactato) - Quando a oferta de oxigênio é menor do que a necessidade ocorre perda da integridade das membranas celulares 11. Fases da SDMO - Inicialmente ocorre choque circulatório com reposição volêmica e drogas vasoativas (dura cerca de 01 dia) - Hipermetabolismo por um período de 7 a 10 dias - Pode surgir a SDRA e as infecções - Posteriormente surgem as disfunções hepática e renal - Na sequência surgem a encefalopatia a coagulopatia, sangramentos e infecções recorrentes 12. Coração X SDMO - Geralmente o comprometimento cardíaco é maior quando ocorre sepse associada ao quadro - Ocorre depleção volêmica e depleção da contratilidade ventricular ( TNF, IL-1, Hiporregulação de receptores adrenérgicos, diminuição da captação de cálcio) 13. Fluxo sanguíneo - Vasos de menor calibre são mal perfundidos - Vasos de médio e grande calibre podem ter fluxo sanguíneo aumentado - Nas coronárias está aumentado - Aumenta o débito cardíaco - Obs: vaso mal perfundido oferece menor quantidade de oxigênio para os tecidos; há desvio de sangue dos pequenos vasos para os grandes vasos - Aumenta o fluxo sanguíneo renal - Dano mais significativo no intestino - Nos intestinos pode haver translocação bacteriana - Pâncreas e baço ficam isquêmicos - O comprometimento cerebral estabelece mortalidade de 40% - obs: o aumento renal não é permanente e com o passar há queda da função renal 14. Classificação do estado de choque - A definição de choque mostra a importante relação que existe entre fatores hemodinâmicos e metabólicos - A perfusão tecidual inadequada cursa com efeitos que podem ser reversíveis, porém quando prolongada a falta de oferta adequada de oxigênio promove efeitos deletérios 15. Hipóxia tecidual - Disfunção das bombas iônicas de membranas - Edema celular - Extravasamento de conteúdo intracelular para o extracelular - Regulação inadequada do pH 16. Consequentemente - Efeitos sistêmicos - Disfunção endotelial - Ativação das cascatas inflamatórias e anti- inflamatórias - Se o processo não for revertido rapidamente pode ocorrer morte celular, disfunção orgânica, falência de múltiplos órgãos e morte - O reconhecimento do choque é fundamental! - A mortalidade ainda é elevada - A sepse é uma grande causa de choque - No Brasil 20% dos leitos de UTI são ocupados por pacientes sépticos, 52% a 65% evoluem para choque séptico Clínica médica Bruna Marques Dadona - No mundo 10% dos leito de UTI são ocupados por pacientes sépticos - Infarto agudo do miocárdio:1:100.000 pacientes evoluem para choque cardiogênico - A mortalidade do choque cardiogênico é bastante elevada variando entre 60% e 90% - Traumas também têm mortalidade elevada (50%) - Nem sempre a hipóxia tecidual resulta da hipoperfusão sanguínea - A célula pode apresentar incapacidade de utilizar o oxigênio (disóxia) - O dano tecidual pode ser resultante da hipóxia, mas também da oferta inadequada de nutrientes, redução de depuração de substâncias lesivas, ação de toxinas, mecanismos agressores, defesa comprometida 17. Estado do choque - Choque críptico ou oculto: - Choque morno ou compensado - Ocorre compensação da falta de perfusão - Sinais clínicos: taquicardia, hipotensão discreta e vasoconstrição periférica - Choque: - A compensação não é adequada - Ocorre disfunção orgânica: taquicardia, taquipneia, acidose metabólica, oligúria, alteração da perfusão periférica, alteração do nível de consciência - Pode haver hipotensão arterial - Os sinais e sintomas estão relacionados a: - Perda de volume circulante entre 20% e 25% - IC< 2,5 L/min/m² - Ativação dos imediadores inflamatórios - Síndrome da disfunção de múltiplos órgãos (SDMO): - A disfunção orgânica cursa com falência irreversível de órgãos e sistemas - Morte pode ser o desfecho final 18. Estratificação da disfunção orgânica - Obs: Escore de SOFA para disfunção orgânica em choque APACHE maior que 25 pontos é muito alta (situações criticas) 19. Determinantes do choque - Perfusão tecidual: depende do débito cardíaco e da resistência vascular sistêmica - O choque pode apresenta alto fluxo ou baixo fluxo 20. Classificação dos estados de choque - Choque hipovolêmico - Choque cardiogênico - Choque obstrutivo - Choque distributivo 21. Choque hipovolêmico - Baixo volume intravascular efetivo - A pré-carga está reduzida - A hipovolemia pode ser absoluta ou relativa - O DC pode estar reduzido se a pré-carga diminuir → Choque hipovolêmico HEMORRÁGICO - Trauma Clínica médica Bruna Marques Dadona - Sangramentos digestivos - Rupturas de aneurismas aórticos - Pancreatite Hemorrágica - Fraturas → Choque devido a redução de líquidos - Diarreia - Vômitos - Poliúria - Febre - Reposição inadequada de perdas - Perda de líquidos para o terceiro espaço - Drenagens de líquidos 22. Choque cardiogênico - Diminuição do débito cardíaco - Aumento da pós-carga (RVS) - IAM é a causa mais comum (VD x VE) - Cardiomiopatias - Arritmias - Alterações mecânicas 23. Choque obstrutivo - Bloqueio mecânico ao fluxo sanguíneo - Embolia pulmonar - Tamponamento cardíaco - Tempo de evolução - Volume do derrame - Pulso paradoxal - Pressões de enchimento elevadas - Lactato elevado - Saturação venosa de oxigênio reduzida - Ecocardiograma seriado 24. Choque distributivo - Desbalanço entre a oferta de oxigênio e a demanda tecidual metabólica - Diminui a RVS - Aumenta o DC - Exemplos: choque séptico, SRIS, síndrome do choque tóxico, anafilaxia, reação a toxinas ou drogas, insuficiência adrenal, choque neurogênico 25. Manejo inicial do choque - A identificação varia de acordo com a tipo e a causa do choque - Sinais comuns: - Taquicardia - Hipotensão - Taquipneia - Alteração do nível de consciência - Palidez cutânea - Pele fria e pegajosa - Diminuição do tempo de enchimento capilar - Acidose metabólica - Oligúria 26. Sinais do choque → Hipotensão - Absoluta: PAS < 90 mmHg ou PAM < 70 mmHg - Relativa: queda da PAS > 40 mmHg → Oliguria - Desvio de sangue para órgãos nobres - Depleção do volume intravascular → Estado mental - Agitação - Estupor - Coma Clínica médica Bruna Marques Dadona → Acidose metabólica - Diminuição do clearance de lactato pelo fígado, rins e músculos - Metabolismo anaeróbio 27. Reestabelecimento do volume intravascular - Resgate - É fundamental a ressuscitação volêmica no manejo inicial - Quanto infundir? - Restaurar o débito cardíaco e corrigir a hipotensão arterial - Solução fisiológica, soluções balanceadas, soluções hipertônicas - Fase de otimização - Fase de estabilização - Fase de derressuscitação: ReOpen 28. Pressão de perfusão - Manter a pressão de perfusão de perfusão adequada - Hipotensão permissiva: soluções hipertônicas - Drogas: 1ª escolha é a noradrenalina - Obs: usa em hemorragias digestivas por exemplo Aumento da PA por reposição pode aumentar os sangramentos ativos 29. Oxigenação tecidual e celular - É necessário adequar a oxigenação tecidual e celular de acordo com a demanda metabólica - A célula necessita de ATP, sua fonte de energia - Para a geração de energia deve ocorrer um processo oxidativo que consome oxigênio - A oferta de oxigênio deve ser reestabelecida o mais rápido possível - Não ofertar mais oxigênio do que o necessário (DO2) - Fluxo de luxo pode não ser adequado e levar à morte 30. Aspectos comuns aos estados de choque - Sinais e sintomas - Déficit de oxigênio para suprir a demanda metabólica - Choque cardiogênico, obstrutivo e hipovolêmico: DC, RVS, SvO2 31. Marcadores de perfusão tecidual e metas para o tratamento do choque - A morbidade e a mortalidade dos estados de choque dependem de alguns fatores importantes: - Etiologia - Tempo decorrido para a instituição do tratamento 32. Manejo – Aspectos importantes - O tratamento é baseado em: - Ressuscitação - Adequação e estabilização dos parâmetros hemodinâmicos - Oxigenação tecidual - Tratamento da causa básica - Tratamento e prevenção das disfunções orgânicas 33. Frequência dos estados de choque na UTI - Séptico: 62% - Cardiogênico: 17% - Hipovolêmico: 16% - Distributivo: 6% 34. Pontos importantes - Sabidamente há um desequilíbrio entre a oferta e consumo de oxigênio - Pode não haver necessariamente hipotensão arterial sistêmica - Mesmo com o reestabelecimento da pressão arterial pode haver hipóxia oculta Clínica médica Bruna Marques Dadona - Terapia guiada por metas: prevenir a disfunção orgânica e a SDMO - Independente da etiologia do choque as medidas de ressuscitação visam: - Expansão do intravascular - Administração de vasopressores - Inotrópicos positivos - Correção dos fatores desencadeantes - Controle do foco infeccioso - Administração precoce de antibióticos - Reperfusão química ou mecânica no infarto agudo do miocárdio → Ainda não é entendido completamente - A fisiologia do choque ainda não está completamente esclarecida - Disfunção mitocondrial - Inflamação sistêmica - Alterações metabólicas - Perfusão tecidual - A terapêutica pode atrapalhar 35. Disfunção orgânica - Microcirculação - Pode haver a formação de micro trombos na microcirculação - Disfunção endotelial - Aderência de leucócitos ao endotélio 36. Metas - Tempo entre o diagnóstico e a ressuscitação tem impacto nos desfechos desfavoráveis - Lactato sérico e SvO2 - Hipoperfusão tecidual oculta ou choque críptico - Não utilizar parâmetros clínicos isoladamente para as metas terapêuticas 37. Variáveis macro hemodinâmicas - Pressão venosa central: - Indicador estático da pré-carga - Não representa um indicador preciso da resposta à reposição volêmica - Variação da pressão de pulso - Distensibilidade da veia cava (>18%) - Passive leg raising - Pressão arterial média - Débito cardíaco - SvO2 mista e SvcO2 - Oferta de oxigênio: DO2 - Taxa de extração de oxigênio: TEO2 - Consumo de oxigênio: VO2 - Conteúdo arterial de oxigênio: CAO2 - Lactato arterial - Variação venoarterial deCO2 (2,5 mmHg e 5 mmHg) - Excesso de base 38. Microcirculação Clínica médica Bruna Marques Dadona 39. Monitorização invasiva - Cateter de Swan-Ganz
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