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Sumário: I Samuel 1 1 I Samuel 2 13 I Samuel 3 27 I Samuel 4 33 I Samuel 5 38 I Samuel 6 42 I Samuel 7 47 I Samuel 8 54 I Samuel 9 59 I Samuel 10 64 I Samuel 11 72 I Samuel 12 74 I Samuel 13 78 I Samuel 14 86 I Samuel 15 94 I Samuel 16 104 I Samuel 17 110 I Samuel 18 123 I Samuel 19 132 I Samuel 20 137 I Samuel 21 143 I Samuel 22 147 I Samuel 23 153 I Samuel 24 159 I Samuel 25 166 I Samuel 26 174 I Samuel 27 180 I Samuel 28 184 I Samuel 29 193 I Samuel 30 195 I Samuel 31 200 I Samuel 1 1 O Nascimento do Grande Profeta Samuel O primeiro capítulo do livro de I Samuel destaca a maravilhosa e sobrenatural providência e presciência de Deus trazendo ao mundo um menino que marcaria uma grande diferença na história de Israel, reconduzindo o povo do Senhor aos Seus caminhos, influenciando a muitos em Israel, pelo seu exemplo de santidade e obediência. Com Samuel, Deus estaria comprovando mais uma vez, tal como fizera no período dos Juízes, que é pela Sua própria soberania e poder, que Ele reconduz o Seu povo à verdade, e que aviva aquilo que estava morrendo, e com isto nós podemos tirar a lição de que podemos confiar inteiramente nEle, de modo a não concluirmos que a situação da Igreja possa ser de desespero, isto é, de não haver qualquer esperança para ela, quando as coisas não caminham segundo a verdade, e quando o povo de Deus se desvia da prática da Sua vontade. A Igreja prevalecerá como Cristo tem prometido. E isto está sendo demonstrado pelo Senhor ao longo da história. A Igreja não estava morta na Inglaterra, no País de Gales, na própria América, nos primórdios do século XVIII? E o que fez Deus a partir de fins da década de 30 daquele século? Ele não reavivou poderosamente a Igreja através do testemunho e da pregação dos homens que levantou? Os Wesleys e George Whitefield na Inglaterra; Daniel Rowland e Howell Harris, no País de Gales; Jonathan Edwards nos EUA, para não citar outros. E quando as coisas não iam bem de igual modo, na Igreja antiga de Israel, Ele levantou Samuel, conforme nos é revelado na Sua Palavra, e é isto que devemos aprender principalmente de toda esta história que nos é narrada no livro que estamos estudando: a dependência que os servos de Deus têm da Sua ação direta para promover os consertos de rumo que são necessários na história do Seu povo. I Samuel 1 2 Podemos estar certos de que Ele sempre levantará pastores segundo o Seu coração, que apascentem o Seu rebanho com inteligência e com conhecimento, conforme tem prometido. E Ele tem sido inteiramente fiel no que nos tem prometido, de modo que isto sirva de encorajamento a confiarmos e intensificarmos nossas orações junto ao trono da graça, para que o próprio Deus venha estabelecer o Seu reino entre nós e a capacitar-nos a fazer a Sua vontade. Comparando a citação do primeiro versículo: “Houve um homem de Ramataim-Zofim, da região montanhosa de Efraim, cujo nome era Elcana, filho de Jeroão, filho de Eliú, filho de Toú, filho de Zufe, efratita.”, com o texto de I Cr 6.33-38, que destacamos a seguir, nós podemos ver que apesar de a família de Samuel residir em Efraim, e se afirmar isto no primeiro versículo de I Sm 1, todos eles eram levitas, e da mesma genealogia de Coate, um dos filhos de Levi, tal como Moisés e Arão o foram. No texto de I Crôn 6.33-38, nós vemos que Hemã, que foi designado ao lado de Asafe e Etã a entoarem salmos e cânticos no templo (I Cr 15.19), era neto de Samuel, pois era filho de Joel, filho de Samuel. Concluímos então que a citação a Efraim deveu-se não à naturalidade dos familiares de Samuel como pertencentes àquela tribo, mas como levitas que haviam se fixado na citada tribo, pois como sabemos, os levitas não receberam herança em Canaã, senão quarenta e oito cidades espalhadas em todo Israel, nas quais habitavam; e também já aprendemos especialmente em Josué, que seis destas quarenta e oito cidades eram cidades de refúgio. Muitas versões traduzem de modo equivocado a palavra do original hebraico, que aparece no final do verso 1: “, efrata, por efraimita, quando a melhor tradução seria efratita ou efrateu, isto é, alguém natural, de Efrata, uma antiga designação de Belém (Rute 1.2). Como se vê neste primeiro capitulo do primeiro livro de Samuel, a sua família era devotada a Deus, especialmente em razão de serem levitas. Elcana seu pai, subia de ano em ano a Siló, onde estava o tabernáculo, para apresentar sacrifícios e adorar ao Senhor (v. 3). I Samuel 1 3 E é aqui que é usada pela primeira vez nas Escrituras o nome de Senhor dos Exércitos, Jeová Tzabaoth (v. 3, 11), provavelmente para confortar Israel naquela época em que o seu exército era pequeno e fraco, e era consolador saber que o Deus que serviam era o Senhor de todos os exércitos, quer na terra como no céu. A fidelidade de Elcana é particularmente destacada porque num tempo em que os próprios sacerdotes, Hofni e Fineias, filhos de Eli, eram infiéis a Deus e ao serviço sagrado, que deveriam realizar com zelo e fidelidade; e que tantos em Israel estavam entregues a uma grosseira idolatria. Mas em meio a tudo isto, Elcana mantinha a sua integridade no dever de adorar ao Senhor, e o fazia com toda a sua família, quando a Lei exigia somente dos homens o dever de subir anualmente ao local onde se encontrasse o tabernáculo, para celebrarem as festas fixas e solenes determinadas pelo Senhor. E seria no meio desta família devotada, que o Senhor se proveria de um menino, que lhe seria consagrado desde o seu nascimento, conforme inspiraria a Sua mãe a fazê-lo, de modo que purificasse o ofício sagrado do sacerdócio do tabernáculo, pondo-o como sacerdote no lugar de Eli e seus filhos Hofni e Fineias. A obra de um Deus santo deve ser realizada obrigatoriamente por aqueles que atentam para a necessidade de santidade de suas próprias vidas. Todavia, mesmo que o ministro seja infiel, Deus permanecerá fiel e fará a sua parte relativamente às bênçãos que tem determinado para o Seu povo, e esta é a razão de derramar a Sua graça sobre aqueles que o buscam, e que se encontram debaixo de um ministério infiel, porque a validade e a eficácia do sacramento não depende da pureza daquele que o administra, senão da sinceridade daquele que os recepciona, com verdadeira fé no Senhor. É por isso que os sacrifícios oferecidos por Elcana eram aceitáveis a Deus, apesar de os sacerdotes Hofni e Fineias terem estado reprovados aos olhos do Senhor. Este é o motivo de que mesmo no ministério de pastores, que não honram ao Senhor do modo adequado, pelo qual deve ser honrado, I Samuel 1 4 se veja as graças de Deus sendo derramadas sobre o povo que se encontra debaixo da direção deles, porque buscam o Senhor com sinceridade de coração. Por isso, nenhum crente está impedido de ser abençoado por Deus. ainda que, por força das circunstâncias, esteja debaixo de um mau ministério. Ainda que os dons da graça não possam ser revogados e impedidos de serem concedidos por Deus em Sua soberania aos Seus escolhidos, por conta de um ministério infiel, descuidado e pecaminoso, certamente aqueles que o ocupam receberão das mãos dEle, no tempo apropriado, a devida paga pelos seus maus atos, tal como sucedera com Eli e seus dois filhos. O Senhor não terá por inocente aquele que faz a Sua obra relaxadamente, e interpõe uma maldição sobre os tais. Eles ficam sob a pena de um anátema que trará os juízos do Senhor sobre eles, tal como se refere o apóstolo em Gálatas, quanto àqueles que pregam um evangelho diferente do único e verdadeiro evangelho. Não se pense, portanto, que a dispensação da graça alterou o modo de Deus julgar o Seu próprio povo, pois Jesus fala da remoção de castiçais (Igrejas) cujos anjos (pastores) não levassem a sério as Suas exortações, sobre a necessidade de arrependimento (Apo 2.5). E isto se aplica às Igrejas de todas as épocas,que tal como a Igreja de Éfeso, citada em Apocalipse, abandonam o primeiro amor e necessitam, portanto, de arrependimento. Não temos deste modo, diante de nós uma história que ilustra a maneira de se gerar um filho quando se é estéril, mas como Deus cumpre os seus propósitos, trazendo ao mundo pessoas até mesmo de mulheres estéreis, como foi o caso não apenas de Ana, mãe de Samuel, mas de Sara, Rebeca, Raquel, da mãe de Sansão e de Isabel, mãe de João, que geraram filhos segundo o propósito estabelecido por Deus para a vida daqueles que seriam por elas gerados. A lição é que nenhum impedimento natural poderá frustrar o cumprimento do propósito sobrenatural de Deus, conforme bem o I Samuel 1 5 ilustra a história de todos os filhos que foram gerados por estas mulheres. Possivelmente Ana era a primeira e legítima esposa de Elcana, e ele deve ter tomado a Penina como sua segunda esposa pelo fato de Ana não ter gerado filhos. E assim, transgredindo a instituição original do matrimônio (Mt 19.5,8), ele ficou sujeito ao mesmo dano de divisões a que haviam ficado sujeitos no passado tanto Jacó, quanto Abraão. No entanto, as divisões não puderam impedir a devoção daquela família. E por certo, nenhum tipo de divisão na Igreja pode impedir a nossa devoção ao Senhor, caso estejamos determinados a isto, tal como Elcana. Na verdade, a devoção de uma família deve acabar com as suas divisões. Daí a importância do chamado culto doméstico, que é um poderoso instrumento para acabar com as divisões num lar, pelas intervenções e operações do Espírito Santo, que gera unidade nos corações daqueles que buscam a Deus. Se as devoções de uma família não conseguem acabar com suas divisões, contudo não deixe as divisões acabarem com as devoções. Nós vemos no verso 5 que tal como no caso de Jacó, Penina era como Leia, que deu muitos filhos a Jacó, mas Ana, como Raquel, apesar de estéril era mais amada por Elcana, e ele procurava compensá-la com agrados e atenções maiores do que os que dispensava a Penina, para mostrar o maior afeto que sentia por ela. Isto certamente provocava ciúmes em Penina, que se tornou arrogante e insolente, pois procurava ocasião para humilhar Ana, pelo fato de ser estéril (v. 6,7). E isto sucedia especialmente quando iam anualmente a Siló para apresentarem sacrifícios ao Senhor e adorá-lo; pois era uma forma que Penina encontrava para tentar impedir a devoção de Ana a Deus. A provocação que lhe era dirigida a entristecia de tal modo que se sentia impedida de comer da oferta pacífica que era oferecida ao Senhor. I Samuel 1 6 A Lei determinava que a parte que cabia ao ofertante deveria ser comida na presença do sacerdote, com alegria. Então a tristeza seria um impedimento para se comer como sinal de gratidão a Deus (Lev 10.19; Dt 26.14). Certamente Penina sabia disto e era por este motivo que irritava Ana. Apesar de receber uma porção maior da parte de Elcana, ela ficaria impedida de comê-la, por causa da tristeza que era produzida por Penina no seu coração. Veja que isto sucedeu por anos sucessivos até que Ana resolveu derramar a sua alma na presença de Deus. Vale a pena destacar o modo pelo qual ela o fizera, e quais foram as consequências imediatas daquela oração, pois se diz que o seu rosto já não era triste e ela pôde assim demonstrar a Sua gratidão a Deus, mesmo em meio ao seu sofrimento, porque agora havia esperança em seu coração de que o Senhor faria algo em seu favor. Isto nós vemos nos versos 10 a 18. Ela orou com amargura de alma e chorou muito (v. 10), e fez um voto, dizendo que se Deus atentasse para a sua aflição e lhe desse um filho varão, ao Senhor ela o dedicaria por todos os dias da sua vida, e pela sua cabeça não passaria navalha, por consagrá-lo para sempre como nazireu a Deus (v. 11). Ela orava com o seu coração, movendo apenas os lábios, de modo que sua voz não fosse ouvida, e para não ser revelado a ninguém a amargura da sua alma e o voto que estava fazendo a Deus (v. 12,13). Tendo o sacerdote Eli observado o seu comportamento pensou que estivesse embriagada e a repreendeu (v. 14), e não era fácil para ele distinguir entre mulheres sinceramente devotadas e o contrário, porque era muito mais comum os casos de prostituição desenfreada promovida pelos seus próprios filhos, que se prevaleciam do cargo que ocupavam, para se deitarem com mulheres que serviam no tabernáculo (2.22). Entretanto, Ana não levou em conta a repreensão de Eli e revelou a ele a tribulação do seu espírito (v. 15 e 16). Contudo, não lhe disse nada sobre o voto que fizera. I Samuel 1 7 Mas tendo Eli visto a sua sinceridade, disse-lhe que fosse em paz e que o Deus de Israel lhe concedesse a petição que fizera (v. 17). E ela acrescentou o seu amém à bênção de Eli dizendo que esperava achar graça aos seus olhos, e tendo sido revigorada em sua alma, pela oração que fizera, saiu da presença de Eli e comeu a parte da oferta pacífica que lhe cabia, e se afirma que o seu semblante já não era triste (v. 18). A submissão de Ana e seu respeito ao ofício sumo sacerdotal, do qual Eli estava investido, fez com que a repreensão dele se transformasse em bênção. E há nisto uma grande lição para todos nós no sentido de que pela nossa atitude submissa e humilde diante da repreensão injusta que sofremos por parte daqueles que estão investidos de autoridade, podemos torná-los favoráveis a nós, e transformar as suas censuras, em orações em nosso favor. Aqui cabe assinalar que a palavra templo é usada pela primeira vez em relação ao tabernáculo no verso 9, porque agora ele estava instalado de forma fixa em Siló, e já não era mais transportado de lugar a lugar, como nos dias da peregrinação no deserto. A palavra para tabernáculo é mishekan, que significa morada habitação, e a que encontramos aqui no verso 9, para templo é heykal, que significa um lugar público espaçoso, um palácio, um templo propriamente dito. Ana era realmente uma mulher consagrada ao Senhor, e esta era a razão pela qual Satanás a provocava através de Penina, pois ele sempre procura interferir na adoração dos filhos de Deus, tentando desfigurá-la ou mesmo impedi-la. Mas a vigilância, a perseverança na oração sempre o vencerá, tal como sucedeu com Ana. Por isso nós lemos em Jó 1.6 que quando os filhos de Deus vieram se apresentar ao Senhor, Satanás veio entre eles. Como o voto das mulheres, segundo a lei, deveriam ser confirmados pelos maridos, certamente Elcana foi informado por Ana do voto que fizera e este o confirmara com o seu silêncio ou com sua aprovação positiva, conforme prescrito na Lei de Moisés. I Samuel 1 8 E é um direito dos pais o de dedicarem seus filhos a Deus, especialmente para que venham a servi-lo como seus ministros, quando crescerem e se converterem a Ele, pela instrução recebida de seus pais, quanto ao modo que o Deus vivo deve ser adorado e servido. É uma ordenança de Deus de que os pais ensinem a seus filhos o caminho do Senhor, e especialmente a Sua Palavra. E nenhuma consagração que não leve em conta este dever, terá sido uma consagração verdadeira, porque aquele que não honra e não teme a Deus e não obedece a Sua Palavra, não está em condições de dedicar nenhum outro ser, enquanto o seu próprio não Lhe está consagrado. No verso 19 é dito que antes de regressar à sua residência em Ramá, Elcana e sua família se levantaram de madrugada para adorarem perante o Senhor. E se diz também que Elcana conheceu a Ana e o Senhor se lembrou dela, isto é, da petição que ela lhe havia dirigido, e decorrido o tempo devido, Ana concebeu e teve um menino ao qual chamou de Samuel, Shemuel, que no hebraico significa pedido a Deus (v. 20). Depois do nascimento de Samuel, Elcana retornou a Siló com sua família no tempo designado, para oferecer o sacrifício anual e cumprir o seu voto (v. 21). Entretanto, Ana decidiu não subir até que o menino fosse desmamado, ocasião em que compareceriaperante o Senhor para cumprir o voto de dedicação que havia feito, de modo que Samuel ficaria no tabernáculo para sempre (v. 22). Nós vemos nisto tudo a mão do Senhor, porque humanamente falando, é totalmente contrário à natureza materna, especialmente no caso de uma mulher piedosa como Ana, abrir mão de um filho, e ainda mais em se tratando de um filho único que fora concebido em meio a uma esterilidade, sem que houvesse sequer o vislumbre da possibilidade de uma nova gravidez. Ela dera um passo pela fé, sem a qual é impossível agradar a Deus, e como agira pela fé, o Senhor que é bom e gracioso viria a conceder que ela engravidasse no futuro e ela teve mais três filhos e duas filhas (2.21), mas tudo isto estava encoberto a Ana quando agiu I Samuel 1 9 contra a sua própria natureza, por inspiração e capacitação recebida de Deus para dar-lhe por devolvido aquele que a história de Israel haveria de comprovar, que pertencia de fato ao Senhor e não a Ana. Ela pôs este nome no menino (pedido a Deus) para certamente recordar da obrigação que tinha se comprometido a cumprir por meio de voto, de dedicá-lo para sempre ao Senhor, pois fora recebido dEle como resposta de oração, para o propósito afirmado em seu coração de dá-lo de volta ao Senhor, de quem ela o havia recebido de modo sobrenatural, pois não poderia concebê-lo de outro modo porque era estéril. Ao conceder-lhe que concebesse, o Senhor retirou de sobre ela a vergonha que sentia no seio de sua família, e o motivo das acusações cruéis de Penina, e estaria agora, em reconhecida gratidão, cumprindo o voto que se sentira inspirada a fazer a Deus, pois este fizera com que concebesse um menino muito especial, que Ele conhecera antes mesmo de formá-lo no seu ventre, de forma que seria grandemente usado para fazer aquilo que nenhum dos juízes de Israel havia conseguido, num período superior a trezentos anos, a saber, reestruturar a vida religiosa de Israel segundo a Lei de Moisés, e fazer com que retornassem os dias áureos vividos por Israel enquanto vivia Josué. Nada disto fora revelado a Ana, e Deus cumpriu o Seu propósito em meio ao que parecia uma simples questão de atendimento de uma necessidade pessoal. Interesses muito mais elevados e de toda uma nação estavam em jogo em tudo aquilo. Certamente o mesmo se dá conosco em obras, que começamos a fazer pela vontade de Deus, e que culminam em resultados extraordinários, que jamais seríamos capazes de conceber, que já se encontravam no coração de Deus desde antes do início da chamada que nos fizera para dar os primeiros passos de um empreendimento que haveria de culminar em obras muito maiores do que a simples imaginação humana seria capaz de conceber. E quando Samuel foi desmamado, quando era ainda muito criança, Ana tomou consigo um novilho de três anos para ser oferecido em I Samuel 1 10 sacrifício ao Senhor, uma efa de farinha e um odre de vinho como oferta pacífica e libação, e tendo apresentado tais ofertas em Siló trouxe Samuel a Eli e somente então lhe revelou qual era o pedido que havia feito ao Senhor, quando ele, Eli, lhe havia abençoado, e que havia consagrado Samuel ao Senhor por todos os dias da sua vida. Tendo feito isto, ambos adoraram ali mesmo ao Senhor (v. 24 a 28). “1 Houve um homem de Ramataim-Zofim, da região montanhosa de Efraim, cujo nome era Elcana, filho de Jeroão, filho de Eliú, filho de Toú, filho de Zufe, efratita. 2 Tinha ele duas mulheres: uma se chamava Ana, e a outra Penina. Penina tinha filhos, porém Ana não os tinha. 3 De ano em ano este homem subia da sua cidade para adorar e sacrificar ao Senhor dos exércitos em Siló. Assistiam ali os sacerdotes do Senhor, Hofni e Fineias, os dois filhos de Eli. 4 No dia em que Elcana sacrificava, costumava dar porções deste a Penina, sua mulher, e a todos os seus filhos e filhas; 5 porém a Ana, porque a amava, dava porção dupla, ainda mesmo que o Senhor a houvesse deixado estéril. 6 Ora, a sua rival muito a provocava para irritá-la, porque o Senhor lhe havia cerrado a madre. 7 E assim sucedia de ano em ano que, ao subirem à casa do Senhor, Penina provocava a Ana; pelo que esta chorava e não comia. 8 Então Elcana, seu marido, lhe perguntou: Ana, por que choras? e por que não comes? e por que está triste o teu coração? Não te sou eu melhor do que dez filhos? 9 Então Ana se levantou, depois que comeram e beberam em Siló; e Eli, sacerdote, estava sentado, numa cadeira, junto a um pilar do templo do Senhor. 10 Ela, pois, com amargura de alma, orou ao Senhor, e chorou muito, 11 e fez um voto, dizendo: ó Senhor dos exércitos! se deveras atentares para a aflição da tua serva, e de mim te lembrares, e da tua serva não te esqueceres, mas lhe deres um filho varão, ao I Samuel 1 11 Senhor o darei por todos os dias da sua vida, e pela sua cabeça não passará navalha. 12 Continuando ela a orar perante o Senhor, Eli observou a sua boca; 13 porquanto Ana falava no seu coração; só se moviam os seus lábios, e não se ouvia a sua voz; pelo que Eli a teve por embriagada, 14 e lhe disse: Até quando estarás tu embriagada? Aparta de ti o teu vinho. 15 Mas Ana respondeu: Não, Senhor meu, eu sou uma mulher atribulada de espírito; não bebi vinho nem bebida forte, porém derramei a minha alma perante o Senhor. 16 Não tenhas, pois, a tua serva por filha de Belial; porque da multidão dos meus cuidados e do meu desgosto tenho falado até agora. 17 Então lhe respondeu Eli: Vai-te em paz; e o Deus de Israel te conceda a petição que lhe fizeste. 18 Ao que disse ela: Ache a tua serva graça aos teus olhos. Assim a mulher se foi o seu caminho, e comeu, e já não era triste o seu semblante. 19 Depois, levantando-se de madrugada, adoraram perante o Senhor e, voltando, foram a sua casa em Ramá. Elcana conheceu a Ana, sua mulher, e o Senhor se lembrou dela. 20 De modo que Ana concebeu e, no tempo devido, teve um filho, ao qual chamou Samuel; porque, dizia ela, o tenho pedido ao Senhor. 21 Subiu, pois aquele homem, Elcana, com toda a sua casa, para oferecer ao Senhor o sacrifício anual e cumprir o seu voto. 22 Ana, porém, não subiu, pois disse a seu marido: Quando o menino for desmamado, então o levarei, para que apareça perante o Senhor, e lá fique para sempre. 23 E Elcana, seu marido, lhe disse: faze o que bem te parecer; fica até que o desmames; tão-somente confirme o Senhor a sua palavra. Assim ficou a mulher, e amamentou seu filho, até que o desmamou. I Samuel 1 12 24 Depois de o ter desmamado, ela o tomou consigo, com um touro de três anos, uma efa de farinha e um odre de vinho, e o levou à casa do Senhor, em Siló; e era o menino ainda muito criança. 25 Então degolaram o touro, e trouxeram o menino a Eli; 26 e disse ela: Ah, meu Senhor! tão certamente como vive a tua alma, meu Senhor, eu sou aquela mulher que aqui esteve contigo, orando ao Senhor. 27 Por este menino orava eu, e o Senhor atendeu a petição que eu lhe fiz. 28 Por isso eu também o entreguei ao Senhor; por todos os dias que viver, ao Senhor está entregue. E adoraram ali ao Senhor.” (I Sm 1.1- 28). I Samuel 2 O Deus Que Exalta e Que Abate Nós vemos no segundo capítulo de I Samuel, que Ana entoou um cântico de louvor e gratidão a Deus pelo menino que lhe nascera, e que havia pedido emprestado ao Senhor por um tempo, reconhecendo que de fato aquela criança pertencia a Ele e não a ela. Na verdade, tudo o que somos e temos, com exceção do pecado e suas consequências, o temos recebido emprestado do Senhor, para ser usado como mordomos, que têm que prestar contas Àquele a quem de fato pertencem todas as coisas. E o menino Samuel havia nascido tanto para bênção quanto para juízo de muitos em Israel, a começar pela casa do próprio Eli, pois que Deus estava se provendo de um sacerdote fiel na pessoa de Samuel, para trazer juízos sobre Eli e seus filhos. É por isso que nós vemos no cântico profético que foradado a Ana, por inspiração do Espírito Santo (versos 1 a 10), tanto palavras de bênçãos, quanto de juízos, pois seria exatamente isto que o nascimento daquela criança propiciaria. I Samuel 2 14 Nós vemos isto também no cântico de Maria, mãe de Jesus (Lc 1.46- 55), e nas palavras de Simeão a respeito dEle: “E Simeão os abençoou, e disse a Maria, mãe do menino: Eis que este é posto para queda e para levantamento de muitos em Israel, e para ser alvo de contradição,” (Lc 2.34). O mesmo teor de bênção e de juízos são encontrados no cântico de Isabel, mãe de João Batista, no ensejo do nascimento do menino. Tal como Jesus, guardadas as devidas proporções, todos estes foram levantados por Deus tanto para bênção dos humildes quanto para juízo dos arrogantes. O atributo da justiça divina requer tanto uma coisa quanto outra. A recompensa dos justos e o castigo dos ímpios. Por isso se diz dos cristãos serem o bom perfume de Cristo, sendo aroma de vida para vida nos que se salvam, e cheiro de morte para morte nos que se perdem (II Cor 2.15,16). Foi para o mesmo propósito que Samuel fora levantado em Israel, sendo assim, um tipo de Jesus, e é por este motivo que encontramos o teor das palavras, tanto de bênçãos quanto de juízos, no cântico que foi proferido pela sua mãe. Nele se destaca especialmente, a soberania de Deus sobre tudo e todos na Sua criação, e que todas as ações dos homens são pesadas por Ele, de modo que o homem deve se cuidar da altivez e da arrogância (v. 3). Porque os fortes são quebrados (Deus abate o soberbo) e os fracos são fortalecidos (Deus dá graça aos humildes) (v.4); o rico será arruinado com toda a sua prosperidade, e o faminto será farto (especialmente da justiça) (v. 5), pois na Sua soberania o Senhor tira a vida e a dá, conduz a quem quer ao Seol, da palavra Sheol, no original hebraico, que significa a sepultura e todos os acessórios que lhe seguem no caso da morte dos ímpios, como por exemplo o castigo eterno e as chamas do inferno; e também livra a quem quer dali (terá misericórdia de quem Lhe aprouver ter misericórdia) (v. 6), de modo que provê aos homens do modo que Lhe agrada, repartindo os Seus dons como quer e a quem quer, enriquecendo e empobrecendo, abatendo e exaltando (v. 7). I Samuel 2 15 Ele pode, se o desejar, fazer com que o pobre e necessitado venha a se assentar entre os príncipes, e fazê-los herdar um trono de glória (nisto se incluem todos os verdadeiros cristãos, lavados e remidos no sangue de Jesus, conforme há de se revelar no porvir) (v.8). Os pés dos santos serão guardados (Deus os fará perseverar em santidade, de modo a garantir a plena segurança da sua salvação); mas os ímpios ficarão mudos nas trevas, porque o homem não prevalecerá pela força (v.9). No mesmo verso 9 se diz que Deus guardará os pés dos seus santos, isto é, o caminhar deles na Sua presença será garantido pelo próprio Deus, com Sua graça, amor e poder, como podemos ler no Sl 37.23,24: “Confirmados pelo Senhor são os passos do homem em cujo caminho ele se deleita; ainda que caia, não ficará prostrado, pois o Senhor lhe segura a mão.”. Enquanto nós retivermos as ordenanças de Deus e guardá-las, Ele manterá firmes os nossos pés. Quando os nossos pés estiverem a ponto de deslizarem (Sl 73.2), a misericórdia do Senhor nos segurará e nos manterá de pé (Sl 94.18) e Ele nos guardará de cair (Jd 24). Não é pela própria capacidade, força, sabedoria, riqueza, poder que se alcança a salvação eterna, senão unicamente pela graça de Deus, que é concedida aos que se arrependem dos seus pecados. De modo que todos os que contendem com Deus, e resistem à Sua vontade, serão abatidos, porque a justiça de Deus se manifestará desde os céus contra eles, e o fará por meio dos Seus juízos, dando força e poder ao seu rei e ungido, para que julgue com justiça (v. 10). Esta última palavra profética do cântico de Ana aponta certamente para o reino de Cristo, mas nela pode ser incluído o reino de Davi, que ainda seria levantado para ser um tipo do reino de poder e justiça do Senhor Jesus, e Israel, nos dias de Davi seria fortalecido de modo que triunfaria sobre todos os seus inimigos ao redor, especialmente contra os jebuseus e os filisteus. I Samuel 2 16 Segundo a Lei de Moisés, os levitas somente poderiam ser admitidos oficialmente no serviço do tabernáculo a partir dos trinta anos de idade, e assim, podemos concluir que a expressão que o menino Samuel ficou servindo ao Senhor perante o sacerdote Eli, quando seu pai e toda a sua família retornaram a Ramá, quer se referir à ajuda que ele prestava a Eli como sumo sacerdote, pois se diz que ele ficou servindo ao Senhor perante Eli. Imediatamente, no verso seguinte (12) é dito que os filhos de Eli (Hofni e Fineias, que oficiavam como sacerdotes), eram homens ímpios (no original hebraico nós temos a expressão “filhos de Belial”, aqui traduzida por ímpios), e que eles não conheciam ao Senhor. Com isto, se quer dizer que não eram convertidos, que não eram homens de Deus, e esta era razão de praticarem todas as impiedades e sacrilégios que são descritos nos versos 13 a 17 e no verso 22. Em contraste com a impiedade deles é referido no verso 23 que Samuel ministrava perante o Senhor, sendo ainda menino, vestido de uma estola sacerdotal de linho. Não que ele fosse um sacerdote em idade tão tenra, mas certamente Eli providenciou uma estola sacerdotal para ele por ter reconhecido que Deus era com o menino (v. 21 e 26), apesar da sua pouca idade, e da forma devotada como o pequeno Samuel servia ao Senhor, e isto talvez para se consolar e compensar dos maus atos de seus próprios filhos, que apesar de serem sacerdotes, por direito hereditário, não se comportavam à altura do que era exigido por tão elevado ofício, de modo que se diz no verso 17 que era grande o pecado de ambos, e que vieram a desprezar as ofertas do Senhor, que eram apresentadas no tabernáculo, pois desrespeitavam tudo o que a Lei prescrevia em relação à parte das ofertas a que tinham direito os sacerdotes, e se apropriavam do que não lhes era devido, bem como não queimavam a carne destinada aos holocaustos para tê-la crua, possivelmente com a intenção de comercializá-la posteriormente. I Samuel 2 17 Além de profanos se entregavam à prática de impurezas no próprio tabernáculo, porque se deitavam com mulheres naquele recinto tendo relações sexuais com elas (v. 22), e isto era do conhecimento de todo o povo ( v. 23). Eli já era muito velho (v. 22) na ocasião que decidiu advertir os seus filhos, pelo que eles vinham fazendo (v. 23 a 25), mas não foi concedida graça a eles por Deus para que se arrependessem, pois o Senhor já havia determinado destruir a ambos (v. 25). É possível que Eli tenha decidido repreender os abusos de seus filhos somente quando ficou sabendo da impureza sexual que vinham praticando com as mulheres que vinham ao tabernáculo, como se estivesse esperando por tantos anos por esta gota de água, para que enfim pudesse partir para algum tipo de repreensão, pelo mau comportamento deles. Na verdade ele deveria tê-lo feito desde o princípio, e com toda a firmeza que o caso requeria, até mesmo pela medida extrema de proibi-los de continuarem oficiando no tabernáculo. É possível que o sentimento paternal falou mais ao seu coração do que o seu amor pelo Senhor, e assim deixou de amar verdadeiramente a Deus e a seus filhos, porque o amor não folga com a injustiça, senão com a verdade, e é portanto, prova de amor e não o contrário, disciplinarmos nossos filhos, porque um bom pai disciplina os seus filhos para poupá-los, tanto como a si próprio, dos justos juízos de Deus. Eli teve de certa forma uma participação direta no juízo de morte que sobreviria aos seus filhos, porque os deixou entregues a si mesmos, e só veio a repreendê-los, quando já era muito velho. Nós lemos em I Sm 3.13 as seguintes palavras do Senhor em relação aEli e seus dois filhos: “porque já lhe fiz saber que hei de julgar a sua casa para sempre, por causa da iniquidade de que ele bem sabia, pois os seus filhos blasfemavam a Deus, e ele não os repreendeu.”. Não estamos portanto amando os nossos filhos quando os deixamos entregues a si mesmos, praticando toda sorte de pecados, I Samuel 2 18 sem repreendê-los e sem dizer a eles o dever que têm de mortificarem os seus pecados. A omissão de Eli prejudicou a muitos e não somente os seus próprios filhos. Porque o sacerdote tinha a função de desviar as pessoas dos seus maus caminhos, e de conduzi-las ao Senhor. Mas os filhos de Eli estavam fazendo exatamente o contrário, porque em vez de ajudarem Israel a se santificar, estavam expondo o povo a uma condição ainda pior do que a em que se encontravam. Por isso, são exatas as palavras que Eli dirigiu a seus filhos: “Fazeis transgredir o povo do Senhor.” (v. 24). Nós vemos nesta porção dos versos 13 a 26, que Elcana e sua família se dirigiam todos os anos ao tabernáculo para adorarem a Deus, mesmo depois que Samuel foi consagrado inteiramente ao Senhor, sendo deixado aos cuidados de Eli, e que nas ocasiões que para lá se dirigiam Eli sempre os abençoava e orava em favor de Ana, para que Deus lhe desse outros filhos no lugar de Samuel, que ela havia emprestado ao Senhor (v. 20). O verbo emprestar, aqui, tem o sentido não de que Ana dera algo de si mesma a Deus, mas que ela havia dado por devolvido a Deus o filho que ela Lhe pedira emprestado, porque no hebraico, nós temos neste versículo a expressão shelah (emprestado) esher (que) shaal (pediu), que significa “que pediu emprestado”, indicando assim o modo como ela havia pedido um filho a Deus, a saber, como um empréstimo para ser devolvido posteriormente. Ela não pediu um filho para si para decidir sobre consagrá-lo depois ao Senhor. Não, ela já o havia pedido como quem pede algo emprestado por um tempo para ser devolvido em seguida ao seu legítimo dono. Em seu coração ela sabia que aquele filho era alguém muito especial para Deus, e que de fato procedia inteiramente dEle e para Ele, para fazer a Sua vontade. Nisto Ana e Samuel são respectivamente um tipo de Maria e de Jesus, pois Maria sabia desde o princípio que aquele menino que I Samuel 2 19 nasceu em Belém, não era propriamente dela mas de Deus e para viver inteiramente dedicado a Ele, quanto a fazer a Sua vontade. E é bastante interessante notarmos que a expressão que é usada em relação ao desenvolvimento de Samuel, no verso 26, é a mesma que nós encontramos em relação a Jesus em Lc 2.52: “E o menino Samuel ia crescendo em estatura e em graça diante do Senhor, como também diante dos homens.” (I Sm 2.26). “E crescia Jesus em sabedoria, em estatura e em graça diante de Deus e dos homens.” (Lc 2.52). Em ambos os casos nós não temos uma mera referência à condição pessoal de ambos, mas ao cumprimento do propósito de Deus de dar ao Seu povo quem poderia ser canal da Sua graça em favor deles, por viverem em santidade na Sua presença, e por terem sido o instrumento escolhido por Ele para tal propósito. Evidentemente, no caso de Samuel, estamos falando de um mero homem, mas no caso de Jesus do perfeito homem e Deus. Por isso, Samuel é apenas um pálido tipo dAquele que é dado por Deus, para converter a Si o verdadeiro Israel, e para conduzi-lo por toda a eternidade. Dos versos 27 a 36 nós lemos os juízos proferidos pelo Senhor contra Eli, seus dois filhos, e toda a descendência deles, por meio de um profeta. Deus lembra a Eli, em primeiro lugar, a grande honra do ofício sacerdotal do qual ele estava encarregado e a sua descendência, por direito perpétuo desde os dias de Arão (v. 27). Nisto estava mostrando que aqueles que são grandemente honrados por Ele têm o dever de Lhe tributar uma maior honra do que todos os demais. Em suma, se alguém é honrado por Deus, tem o dever de honrá-lo também. E a casa de Eli não estava fazendo isto, e por isso o Senhor repreendeu Eli com as palavras do verso 29: “Por que desprezais o meu sacrifício e a minha oferta, que ordenei se fizessem na minha morada, e por que honras a teus filhos mais do que a mim, de modo I Samuel 2 20 a vos engordardes do principal de todas as ofertas do meu povo Israel?”. Como toda desonra ao nosso Criador e Senhor não ficará sem o devido castigo, foi proferido contra Eli e toda a sua casa os juízos que encontramos nos versos 30 a 36. Não sabemos quando foi que o sumo sacerdócio foi transferido por Deus da casa de Eleazar, filho de Arão, para a casa de Itamar, irmão de Eleazar, porém, nós vemos no verso 30 Deus afirmando que desfaria o arranjo que fizera, de modo que transferiria de novo o sacerdócio para a casa de Eleazar, e nós vemos que isto foi cumprido nos dias de Salomão, quando o sacerdote Abiatar, da casa de Eli, foi substituído por Zadoque, que era da casa de Eleazar (I Rs 2.26,27). Nisto nós podemos aprender pelo menos duas coisas importantes, a primeira delas se refere à grande longanimidade de Deus, que cumpriu o juízo de afastar a casa de Eli do sacerdócio, mais de oitenta anos depois de ter proferido tal sentença, pois temos sem contar o período em que Samuel julgou Israel, oitenta anos relativos aos reinados de Saul e Davi, antes que Salomão começasse a reinar. E a segunda coisa importante que podemos aprender é que a infidelidade de um ministro jamais poderá destruir o ministério determinado por Deus, como se pode ver no caso de Judas, que foi substituído por um outro em seu ofício, nos dias dos apóstolos, e nos descendentes de Eli. Por isso, como veremos adiante, o juízo sobre a casa de Eli foi acompanhado pelo levantamento de um sacerdócio fiel, que seria iniciado com Zadoque, e cuja culminância seria realizada no ofício sumo sacerdotal de Cristo, que é totalmente fiel e para sempre. Desta forma, a necessidade de um sacerdote fiel para o povo de Deus, não poderia jamais ser anulada pela infidelidade de alguns homens, que não honraram o seu ofício sagrado. Esta longanimidade de Deus a que nos referimos anteriormente, e que é fartamente exemplificada na Bíblia, no longo tempo que Ele costuma levar para cumprir muitos dos seus juízos, atesta que de fato há um juízo final que há de ser cumprido a partir da volta de I Samuel 2 21 Jesus, e o motivo deste ser prolongado é exatamente o fato de Deus ser longânimo, como afirmado nas palavras do apóstolo Pedro: “O Senhor não retarda a sua promessa, ainda que alguns a têm por tardia; porém é longânimo para convosco, não querendo que ninguém se perca, senão que todos venham a arrepender-se.” (II Pe 3.9). A casa de Eli não havia honrado ao Senhor por uma estrita obediência a tudo o que Ele tem ordenado na Sua Lei, e especialmente, no caso deles, as leis relativas ao exercício do sacerdócio, e por isso não seriam honrados, antes teriam o desgosto de provar o Seu desagrado, porque Lhe haviam desprezado (v. 30). Não podemos negligenciar os mandamentos de Cristo, senão para a ruína de nossa própria alma, porque as grandes seções doutrinárias de todas as epístolas dos apóstolos, que falam de toda a graça, amor e perdão que alcançamos em Deus por meio de Cristo, são seguidas por seções finais introduzidas por um “portanto”, um “por conseguinte” indicando os deveres dos quais somos agora encarregados por Deus, quanto à estrita obediência que Lhe devemos, em razão do favor e da honra que Ele demonstrou a nós, por nos ter salvado por meio de Seu Filho. Ele nos honrou com a manifestação da Sua graça a nós, e é portanto nosso dever honrá-lo com a nossa obediência especialmente no que tange a mortificar o pecado, a adorá-lo e a praticar o que é justo tanto em relação a Ele quanto ao nosso próximo. Por isso bem vai a todo o cristão que se empenha em honrar ao Senhor, e mal vai a todo aquele que O despreza por viver numa desobediência voluntária. Por isso o apóstolo Paulo diz o quelemos em Rom 2.9-11: ”9 tribulação e angústia sobre a alma de todo homem que pratica o mal, primeiramente do judeu, e também do grego; 10 glória, porém, e honra e paz a todo aquele que pratica o bem, primeiramente ao judeu, e também ao grego; 11 pois para com Deus não há acepção de pessoas.”. Ele fala de honra e paz para quem pratica o bem (v. 10), e de tribulação e angústia para quem pratica o mal (v. 9). I Samuel 2 22 Isto é uma lei espiritual que governa as almas dos homens bem como todos os seres morais criados por Deus. A justiça é recompensada e honrada por Ele, mas a iniquidade é castigada e os seus praticantes não podem ser honrados pelo Senhor. Ele revelou no cântico profético que dera a Ana, honrará somente àqueles que Lhe honrarem. Nisto, estava sendo passada uma repreensão à casa de Eli. Todo cristão esclarecido quanto à justiça do Senhor sabe que apesar de estar coberto com o manto da justiça de Cristo, que obteve em sua justificação e que o livra da condenação eterna, pode no entanto, por causa da carne, viver de modo que não honre ao Senhor que o salvou, e enquanto permanecer nesta condição, não será honrado por Deus, enquanto viver neste mundo, ao contrário será sujeitado à Sua disciplina exatamente em razão do fato de que não será mais condenado eternamente juntamente com o ímpio, por causa de estar aliançado com Cristo e ter sido tornado um filho de Deus por meio da fé nEle, que lhe trouxe justificação e regeneração e o começo do processo da santificação, que ele paralisou por causa da sua prática deliberada do pecado, e por não estar vivendo de modo que honre ao Senhor que o salvou da condenação eterna. Eli, pelo que tudo indica, conhecia ao Senhor, e era um verdadeiro crente, e no entanto recebeu a sentença de um duro juízo, que lhe sobreveio da parte de Deus, por não tê-lo honrado da maneira devida. Que isto sirva de alerta para todos aqueles que estão aliançados com Deus por meio da fé em Cristo Jesus. Que sejam instruídos sobre esta verdade de que se não viverem para honrar ao Senhor, serão desonrados por Ele, e trarão a si mesmos muitas dores, por conta do seu caminhar desordenado. Quanto maior for a honra recebida de Deus maior será o Seu juízo, caso não O honremos. I Samuel 2 23 Por isso Jesus disse o que lemos em Lc 12.47,48: “47 O servo que soube a vontade do seu senhor, e não se aprontou, nem fez conforme a sua vontade, será castigado com muitos açoites; 48 mas o que não a soube, e fez coisas que mereciam castigo, com poucos açoites será castigado. Daquele a quem muito é dado, muito se lhe requererá; e a quem muito é confiado, mais ainda se lhe pedirá.”. E a vida de Eli ilustra de modo bastante vivo esta verdade. Ele havia recebido muito de Deus pela honra do exercício do sacerdócio, e por isso também mais foi pedido a ele do que a qualquer outro em Israel, porque ele era o sumo-sacerdote. Por ter sido achado em falta no ajuste de contas que o Senhor fizera com ele, este foi o motivo do duro juízo que foi proferido sobre ele e toda a sua descendência, conforme podemos ver nos versos 31 a 36, que fecham este segundo capítulo de I Samuel, e que se resumia no seguinte: Não haveria entre os descendentes de Eli quem chegasse a ser ancião, e provavelmente este juízo se cumpriria por Deus não permitir que nenhum descendente de Eli chegasse à velhice, em face da desonra que eles haviam trazido àquele sagrado ofício (v. 31, 32). Todos os descendentes de Eli morreriam de morte violenta (pela espada dos homens), para servir de sinal que havia um juízo de Deus sobre a casa do sacerdote que havia desonrado o seu cargo. Com isto Israel estaria sendo ensinado a ter o devido temor pelas coisas sagradas relativas ao serviço do tabernáculo, que os filhos de Eli haviam desprezado de modo tão profundo, e que foi o motivo da ruína deles (v. 33). Para que se soubesse que a morte de Hofni e Fineias não foi obra do acaso mas de um juízo de Deus determinado sobre eles, foi profetizado que ambos morreriam no mesmo dia (v. 34). E juntamente com o juízo proferido sobre Eli e sua casa, Deus prometeu levantar um sacerdote fiel, que atuaria segundo aquilo que está na Sua mente e no Seu coração, e por causa desta fidelidade o próprio Deus edificaria para ele uma casa duradoura, I Samuel 2 24 de modo que não sendo removido do seu ministério sacerdotal, poderia andar sempre diante do Seu ungido (v. 35). Aqueles que sobrassem da casa de Eli, por não terem sido ainda alcançados pelo juízo de morte determinado sobre eles, viriam a implorar a este sacerdote fiel, humilhando-se diante dele para serem admitidos em algum serviço relativo ao sacerdócio para que pudessem ter o direito que Deus concedeu aos sacerdotes de viverem das ofertas que fossem trazidas ao tabernáculo (v. 36). Eles haviam desprezado o sacerdócio do qual a sobrevivência deles dependia, e o valor do ofício e a necessidade dele para os descendentes de Arão, seria agora reconhecida por estes descendentes de Eli. Eli não repreendeu seus filhos com o rigor devido e assim ele ajudou a fortalecer as mãos deles na prática da maldade, em razão da sua negligência. Quando os homens de Deus são desleixados no cumprimento do seu dever, acabam contribuindo para o aumento do pecado dos pecadores, por entenderem erroneamente, no que observam na omissão dos justos, que eles são aprovados por Deus, apesar de todo o mal que possam praticar; isto é, o silêncio diante do mal é interpretado como consentimento, e daí o ditado de que aquele que cala, consente. “1 Então Ana orou, dizendo: O meu coração exulta no Senhor; o meu poder está exaltado no Senhor; a minha boca dilata-se contra os meus inimigos, porquanto me regozijo na tua salvação. 2 Ninguém há santo como o Senhor; não há outro fora de ti; não há rocha como o nosso Deus. 3 Não faleis mais palavras tão altivas, nem saia da vossa boca a arrogância; porque o Senhor é o Deus da sabedoria, e por ele são pesadas as ações. 4 Os arcos dos fortes estão quebrados, e os fracos são cingidos de força. I Samuel 2 25 5 Os que eram fartos se alugam por pão, e deixam de ter fome os que eram famintos; até a estéril teve sete filhos, e a que tinha muitos filhos enfraquece. 6 O Senhor é o que tira a vida e a dá; faz descer ao Seol e faz subir dali. 7 O Senhor empobrece e enriquece; abate e também exalta. 8 Levanta do pó o pobre, do monturo eleva o necessitado, para os fazer sentar entre os príncipes, para os fazer herdar um trono de glória; porque do Senhor são as colunas da terra, sobre elas pôs ele o mundo. 9 Ele guardará os pés dos seus santos, porém os ímpios ficarão mudos nas trevas, porque o homem não prevalecerá pela força. 10 Os que contendem com o Senhor serão quebrantados; desde os céus trovejará contra eles. O Senhor julgará as extremidades da terra; dará força ao seu rei, e exaltará o poder do seu ungido. 11 Então Elcana se retirou a Ramá, à sua casa. O menino, porém, ficou servindo ao Senhor perante o sacerdote Eli. 12 Ora, os filhos de Eli eram homens ímpios; não conheciam ao Senhor. 13 Porquanto o costume desses sacerdotes para com o povo era que, oferecendo alguém um sacrifício, e estando-se a cozer a carne, vinha o servo do sacerdote, tendo na mão um garfo de três dentes, 14 e o metia na panela, ou no tacho, ou no caldeirão, ou na marmita; e tudo quanto a garfo tirava, o sacerdote tomava para si. Assim faziam a todos os de Israel que chegavam ali em Siló. 15 Também, antes de queimarem a gordura, vinha o servo do sacerdote e dizia ao homem que sacrificava: Dá carne de assar para o sacerdote; porque não receberá de ti carne cozida, mas crua. 16 Se lhe respondia o homem: Sem dúvida, logo há de ser queimada a gordura e depois toma quanto desejar a tua alma; então ele lhe dizia: Não hás de dá-la agora; se não, à força a tomarei. 17 Era, pois, muito grande o pecado destes mancebos perante o Senhor, porquanto os homens vierama desprezar a oferta do Senhor. I Samuel 2 26 18 Samuel, porém, ministrava perante o Senhor, sendo ainda menino, vestido de uma estola sacerdotal de linho. 19 E sua mãe lhe fazia de ano em ano uma túnica pequena, e lha trazia quando com seu marido subia para oferecer o sacrifício anual. 20 Então Eli abençoava a Elcana e a sua mulher, e dizia: O Senhor te dê desta mulher descendência, pelo empréstimo que fez ao Senhor. E voltavam para o seu lugar. 21 Visitou, pois, o Senhor a Ana, que concebeu, e teve três filhos e duas filhas. Entrementes, o menino Samuel crescia diante do Senhor. 22 Eli era já muito velho; e ouvia tudo quanto seus filhos faziam a todo o Israel, e como se deitavam com as mulheres que ministravam à porta da tenda da revelação. 23 E disse-lhes: Por que fazeis tais coisas? pois ouço de todo este povo os vossos malefícios. 24 Não, filhos meus, não é boa fama esta que ouço. Fazeis transgredir o povo do Senhor. 25 Se um homem pecar contra outro, Deus o julgará; mas se um homem pecar contra o Senhor, quem intercederá por ele? Todavia eles não ouviram a voz de seu pai, porque o Senhor os queria destruir. 26 E o menino Samuel ia crescendo em estatura e em graça diante do Senhor, como também diante dos homens. 27 Veio um homem de Deus a Eli, e lhe disse: Assim diz o Senhor: Não me revelei, na verdade, à casa de teu pai, estando eles ainda no Egito, sujeitos à casa de Faraó? 28 E eu o escolhi dentre todas as tribos de Israel para ser o meu sacerdote, para subir ao meu altar, para queimar o incenso, e para trazer a estola sacerdotal perante mim; e dei à casa de teu pai todas as ofertas queimadas dos filhos de Israel. 29 Por que desprezais o meu sacrifício e a minha oferta, que ordenei se fizessem na minha morada, e por que honras a teus filhos mais do que a mim, de modo a vos engordardes do principal de todas as ofertas do meu povo Israel? I Samuel 2 27 30 Portanto, diz o Senhor Deus de Israel: Na verdade eu tinha dito que a tua casa e a casa de teu pai andariam diante de mim perpetuamente. Mas agora o Senhor diz: Longe de mim tal coisa, porque honrarei aos que me honram, mas os que me desprezam serão desprezados. 31 Eis que vêm dias em que cortarei o teu braço e o braço da casa de teu pai, para que não haja mais ancião algum em tua casa. 32 E tu, na angústia, olharás com inveja toda a prosperidade que hei de trazer sobre Israel; e não haverá por todos os dias ancião algum em tua casa. 33 O homem da tua linhagem a quem eu não desarraigar do meu altar será para consumir-te os olhos e para entristecer-te a alma; e todos os descendentes da tua casa morrerão pela espada dos homens. 34 E te será por sinal o que sobrevirá a teus dois filhos, a Hofni e a Fineias; ambos morrerão no mesmo dia. 35 E eu suscitarei para mim um sacerdote fiel, que fará segundo o que está no meu coração e na minha mente. Edificar-lhe-ei uma casa duradoura, e ele andará sempre diante de meu ungido. 36 Também todo aquele que ficar de resto da tua casa virá a inclinar-se diante dele por uma moeda de prata e por um pedaço de pão, e dirá: Rogo-te que me admitas a algum cargo sacerdotal, para que possa comer um bocado de pão.” (I Sm 2.1-36). I Samuel 3 Deus Fala em Sonhos com Samuel O primeiro versículo deste 3º capítulo de I Samuel nos dá conta de uma religião morta em Israel, em razão não somente do pecado dos filhos de Eli, como de todo o povo, que como veremos adiante, necessitava ser purificado da sua idolatria. I Samuel 3 28 A citação do verso 1 de que a palavra do Senhor era muito rara e que as visões não eram frequentes é uma forma de retratar a escassez das operações de Deus em face da desobediência do Seu povo. Um despertamento ou avivamento espiritual é sobretudo então um retorno do povo de Deus à obediência que Lhe é devida, mediante prática da Sua Palavra. Samuel foi confirmado como profeta do Senhor desde Dã até Berseba, e o motivo desta confirmação é citado no verso 19: “o Senhor era com ele e não deixou nenhuma de todas as suas palavras cair em terra.”. As palavras proféticas de Samuel procediam do céu e para lá retornavam, dando cumprimento ao propósito do Senhor. Não era uma palavra para agradar aos homens e que procedia do próprio homem. Era uma palavra que procedia de Deus e subia à presença de Deus nos céus, daí se dizer que nenhuma das palavras que Samuel proferiu em nome do Senhor caiu em terra. Deus aparecia no tabernáculo em Siló e se manifestava por meio da Sua palavra a Samuel (v. 21). A palavra ensinada por Samuel não eram palavras persuasivas de sabedoria humana, do que também se guardaram os apóstolos de Cristo, porque a Palavra de Deus traz em si mesma a força da persuasão de ser a verdade, e é poderosa para quebrar corações de pedra. Quando o Senhor se manifestou pela primeira vez a Samuel Ele lhe revelou que faria uma coisa incomum em Israel: “Eis que vou fazer uma coisa em Israel, a qual fará tinir ambos os ouvidos a todo o que a ouvir.”. Deus se moveria em Israel especialmente através do ministério de Samuel, e o povo reconheceria este mover e muitos chegariam ao arrependimento e à conversão dos seus maus caminhos, voltando à prática da Sua Palavra. Samuel haveria de ser confirmado como profeta do Senhor em todo Israel, como vemos no final deste terceiro capítulo (v. 20), e o I Samuel 3 29 Senhor começaria a fazer isto se revelando a ele, ainda quando era muito jovem e quando se encontrava ainda sob os cuidados de Eli. As manifestações do Senhor Lhe trariam grande honra e glória e despertaria o desejo em muitos de Israel de honrarem o único Deus verdadeiro. Tal com o profeta Samuel foi levantado em Israel quando a nação estava desviada dos caminhos de Deus. O avivamento está ligado à necessidade de reforma. De trazer as pessoas ao modo pelo qual devem viver para o Senhor. E isto está muito além de mero conhecimento da doutrina correta, a par deste ser muito importante e necessário, porque é possível ser absolutamente corretos em nossa doutrina, e não termos nenhuma prática daquilo em que cremos e também nenhuma comunhão real com o Senhor. Um falso profeta jamais conduzirá o povo do Senhor à prática da Sua Palavra, e não disciplinará os contradizentes, antes, falará segundo aquilo que o coração carnal humano deseja ouvir. Mas um verdadeiro profeta como Samuel, procurará apartar o povo de Deus das suas transgressões, para um viver obediente ao Senhor e à Sua Palavra. Por isso nós lemos em I Sm 7.3 o seguinte: “Samuel, pois, falou a toda a casa de Israel, dizendo: Se de todo o vosso coração voltais para o Senhor, lançai do meio de vós os deuses estranhos e as astarotes, preparai o vosso coração para com o Senhor, e servi a ele só; e ele vos livrará da mão dos filisteus.”. Israel estava lamentando a ausência da arca do Senhor do meio deles já por vinte anos, pois esta havia sido tomada pelos filisteus e se encontrava agora em Quiriate-Jearim (I Sm 7.2) e não no tabernáculo em Siló. A arca representava a presença abençoadora de Deus. E o que foi que eles fizeram naquela ocasião? O que foi que o líder espiritual deles lhes ordenou? Que dessem muitas glórias a Deus? Que eles determinassem pela fé a sua vitória? I Samuel 3 30 Não! Eles lamentaram a ausência do Senhor e Samuel lhes convocou a um verdadeiro arrependimento, pelo abandono dos falsos deuses e a uma consagração total a Deus de todo o coração. A bênção é consequência da obediência ao Senhor e à Sua Palavra. Em outras palavras, a um caminhar na justiça. A bem-aventurança verdadeira é sempre fruto da justiça. De um caminhar em comunhão com Deus em santidade. Foi para isto que Cristo morreu e nos salvou. Ele não nos salvou para permanecermos na prática do pecado, senão para mortificá-lo e praticar a justiça do reino de Deus. O que fica aquém disso é mera religião e não cristianismo, porque este é a vida de Cristo em nós. Porcausa do pecado de Eli, apesar de ser o sumo sacerdote, Deus já não falava mais diretamente a ele, pois perdera a comunhão com o Senhor, pela falta desta santidade. Deus chamou o menino Samuel e insistiu em falar com ele por quatro vezes seguidas. Ele não falaria com Eli, senão por meio da boca de um dos seus profetas, que o repreendera duramente, conforme vimos no capítulo anterior, e também através do próprio Samuel, que iria confirmar as palavras proferidas pelo referido profeta, conforme vemos nos versos 11 a 14, deste terceiro capítulo. Nós podemos falar da perda de comunhão de Eli com Deus pelo teor das suas palavras quando soube do juízo que fora proferido por Deus a ele pela boca de Samuel: “Ele é o Senhor, faça o que bem parecer aos seus olhos (v. 18).”. Ele havia esquecido da misericórdia do Senhor e não insistiu, como Moisés para que perdoasse o seu pecado e o dos seus filhos. Moisés conseguira perdão para todo um povo, lutando em intercessão, jejuando por quarenta dias e noites, até que o obteve do Senhor. E Eli foi incapaz de lutar pelo próprio bem e da sua casa. Acrescente-se a isso que temendo lhe dizer os juízos proferidos por Deus, Samuel guardou silêncio, e Eli sabendo que se tratava de alguma palavra contra ele e seus filhos, constrangeu Samuel sob a I Samuel 3 31 ameaça de maldição, dizendo que caso não lhe dissesse o que Deus lhe havia revelado, que viesse sobre o próprio Samuel os juízos que haviam sido proferidos e mais outro tanto (v. 17), isto é, que ele sofresse o dobro do que havia sido dito por Deus. Isto não seria de se esperar de um ministro do Senhor, que é levantado para interceder em favor daqueles que estão rodeados de fraquezas. Ele sequer atentou para a consagração que ele bem sabia existir na vida daquele menino. Temos aqui a atitude de um homem que não está de fato andando em comunhão com o Senhor. Ele estava ocupando o cargo de sumo sacerdote, mas não agindo em conformidade com a exigência do ofício que exercia. Importa que andemos humildemente com o Senhor e diante dEle. É por isso que sempre que o Espírito Santo nos enche, Ele primeiro nos esvazia, Ele nos humilha, revelando a nossa completa insuficiência e pequenez diante do Deus Altíssimo e da Sua gloriosa majestade. E isto nos abate e enfraquece em muitos modos, até mesmo fisicamente, de maneira que quando somos fortalecidos pela graça e levados a exultar na presença de Deus, geralmente temos este poder manifestado na nossa fraqueza, e com isto somos guardados do orgulho espiritual. E nós temos muitos motivos para caminharmos humildemente com o Senhor, porque ainda que haja uma manifestação poderosa da Sua santa presença na Igreja, ainda deveremos por toda a vida crescer espiritualmente, amadurecer o fruto que temos recebido do Espírito, pois não há fruto que nasça maduro, e todo fruto tem o seu tempo de amadurecimento. Relativamente às coisas espirituais, este é um processo que dura toda a nossa vida, e que razão teríamos para nos gloriar senão no Senhor mesmo e na nossa fraqueza? É andando em humildade que recebemos mais graça. Graça sobre graça conforme é da vontade de Deus. Pois dá graça a quem se humilha reconhecendo que tudo temos recebido dEle, e que por I Samuel 3 32 mais que nos esforcemos e trabalhemos, tudo terá sido produzido em nós pela graça de Jesus, sendo assim simples servos inúteis, pois nada teríamos feito sem esta assistência da graça que tudo opera em nós e através de nós. “1 Entretanto, o menino Samuel servia ao Senhor perante Eli. E a palavra do Senhor era muito rara naqueles dias; as visões não eram frequentes. 2 Sucedeu naquele tempo que, estando Eli deitado no seu lugar (ora, os seus olhos começavam já a escurecer, de modo que não podia ver), 3 e ainda não se havendo apagado a lâmpada de Deus, e estando Samuel também deitado no templo do Senhor, onde estava a arca de Deus, 4 o Senhor chamou: Samuel! Samuel! Ele respondeu: Eis-me aqui. 5 E correndo a Eli, disse-lhe: Eis-me aqui, porque tu me chamaste. Mas ele disse: Eu não te chamei; torna a deitar-te. E ele foi e se deitou. 6 Tornou o Senhor a chamar: Samuel! E Samuel se levantou, foi a Eli e disse: Eis-me aqui, porque tu me chamaste. Mas ele disse: Eu não te chamei, filho meu; torna a deitar-te. 7 Ora, Samuel ainda não conhecia ao Senhor, e a palavra do Senhor ainda não lhe tinha sido revelada. 8 O Senhor, pois, tornou a chamar a Samuel pela terceira vez. E ele, levantando-se, foi a Eli e disse: Eis-me aqui, porque tu me chamaste. Então entendeu Eli que o Senhor chamava o menino. 9 Pelo que Eli disse a Samuel: Vai deitar-te, e há de ser que, se te chamar, dirás: Fala, Senhor, porque o teu servo ouve. Foi, pois, Samuel e deitou-se no seu lugar. 10 Depois veio o Senhor, parou e chamou como das outras vezes: Samuel! Samuel! Ao que respondeu Samuel: Fala, porque o teu servo ouve. 11 Então disse o Senhor a Samuel: Eis que vou fazer uma coisa em Israel, a qual fará tinir ambos os ouvidos a todo o que a ouvir. I Samuel 3 33 12 Naquele mesmo dia cumprirei contra Eli, do princípio ao fim, tudo quanto tenho falado a respeito da sua casa. 13 Porque já lhe fiz: saber que hei de julgar a sua casa para sempre, por causa da iniquidade de que ele bem sabia, pois os seus filhos blasfemavam a Deus, e ele não os repreendeu. 14 Portanto, jurei à casa de Eli que nunca jamais será expiada a sua iniquidade, nem com sacrifícios, nem com ofertas. 15 Samuel ficou deitado até pela manhã, e então abriu as portas da casa do Senhor; Samuel, porém, temia relatar essa visão a Eli. 16 Mas chamou Eli a Samuel, e disse: Samuel, meu filho! Ao que este respondeu: Eis-me aqui. 17 Eli perguntou-lhe: Que te falou o Senhor? peço-te que não mo encubras; assim Deus te faça, e outro tanto, se me encobrires alguma coisa de tudo o que te falou. 18 Samuel, pois, relatou-lhe tudo, e nada lhe encobriu. Então disse Eli: Ele é o Senhor, faça o que bem parecer aos seus olhos. 19 Samuel crescia, e o Senhor era com ele e não deixou nenhuma de todas as suas palavras cair em terra. 20 E todo o Israel, desde Dã até Berseba, conheceu que Samuel estava confirmado como profeta do Senhor. 21 E voltou o Senhor a aparecer em Siló; porquanto o Senhor se manifestava a Samuel em Siló pela sua palavra. E chegava a palavra de Samuel a todo o Israel.” (I Sm 3.1-21). I Samuel 4 Icabod - Foi-se a Glória de Deus, de Siló Este quarto capítulo de I Samuel descreve as circunstâncias em que teve cumprimento a profecia relativa à morte dos filhos de Eli. E nele também aprendemos a nulidade de invocarmos a presença de Deus, enquanto não nos convertemos dos nossos maus caminhos. I Samuel 4 34 Os nossos inimigos espirituais prevalecerão contra nós, ainda que invoquemos o nome do Senhor e sejamos parte do Seu povo, caso estejamos vivendo deliberadamente na prática do pecado. Os israelitas trouxeram a arca da aliança para o campo de batalha, pensando que com isto poderiam prevalecer contra os filisteus, mas acabaram sendo derrotados e a arca foi apreendida pelos filisteus, ainda que para a sua ruína, conforme se descreve nos capítulos seguintes. Eles decidiram trazer a arca de Siló para o campo de batalha, porque haviam sido mortos cerca de quatro mil homens do exército de Israel (v. 2). Os filhos de Eli, Hofni e Fineias acompanharam a arca, na condição de sacerdotes, e foi com grande grita que os israelitas celebraram a sua chegada, confiantes de que ela traria temor aos filisteus, e Deus lhes daria vitória sobre eles. Realmente os filisteus foram tomados de grande temor e lembraram do que o Deus de Israel (que eles pensavam serem muitos deuses) havia feito aos egípcios (v. 7, e 8). Mas como o Senhor não era com Israel, Ele permitiu que os filisteus matassem a trinta mil homens do exército israelita (v. 10), e Hofni e Fineias foram mortos na batalha (v. 11). O pecado de idolatria deles foi agravado pelo conselhodos anciãos, que permitiu a retirada da arca do Santo dos Santos. Eles queriam fazer uma exposição pública do Deus deles. Queriam fazer uma exibição de poder, e usar a arca como uma espécie de talismã. Desde que haviam cessado as peregrinações no deserto, e que o tabernáculo foi instalado de maneira fixa em Siló, a arca não poderia de modo algum ser retirada do Santo dos Santos, e ninguém poderia vê-la, senão o sumo-sacerdote, senão uma única vez por ano, no Dia da Expiação Nacional. Eles estavam demonstrando uma grande irreverência para com o Senhor, quando retiraram a arca do tabernáculo, pelas mãos de dois sacerdotes, aos quais era vedado o próprio ato de entrada no Santo I Samuel 4 35 dos Santos, pois isto era permitido somente ao sumo-sacerdote, no caso, Eli, o seu pai. E para marcar a grande transgressão deles, o Senhor permitiu que trinta mil israelitas caíssem diante dos filisteus. Eles haviam perdido quatro mil na primeira batalha e trouxeram a arca pensando que outros israelitas não morreriam, porque julgavam que Deus pelejaria por eles. Mas acabou ocorrendo uma derrota muito maior e uma grande perda de vidas. Quando nós tentamos adorar a Deus como os pagãos adoram os seus deuses. Quando nós estabelecemos uma forma de adoração de Deus diferente do que Ele nos tem ordenado na Sua Palavra, em vez de sermos beneficiados por isto, nós traremos Seus justos juízos sobre nós. Os coríntios se descuidaram da forma como deveriam celebrar a ceia do Senhor, e Deus visitou o pecado deles com muitas mortes e enfermidades. Eli contava na ocasião com noventa e oito anos de idade, e já não mais enxergava (v. 15), e sentiu um grande temor pela retirada da arca do tabernáculo (v. 13), porque ele não foi capaz de impedi-lo. Ele sabia que aquilo era uma grande transgressão da Lei de Moisés e Deus não deixaria aquela ação sem o devido castigo. E foi com esta grande inquietação de alma que ele ficou aguardando notícias sobre as coisas que sucederiam. Quando lhe trouxeram notícias sobre a morte de seus dois filhos, ele não se sentiu tão impactado quanto quando soube que a arca havia sido tomada pelos filisteus. Isto significava que ele fracassara totalmente no seu dever de ser o guardião do santuário e que ficaria sujeito a um juízo ainda maior da parte do Senhor. Tal foi o seu pavor que ele se desequilibrou da cadeira em que estava sentado, e tendo caído para trás quebrou o pescoço e morreu (v. 18). I Samuel 4 36 Por mais de trezentos anos a arca estivera em Siló, na tribo de Efraim, mas a desonra trazida ao sacerdócio pela casa de Eli, determinaria a transferência do tabernáculo de Siló para Jerusalém, nos dias de Davi. A glória do Senhor abandonou Siló, e por isso, com a tomada da arca pelos filisteus, a esposa de Fineias que se encontrava grávida, deu à luz prematuramente a seu filho, ao qual deu o nome de Icabôd, (v. 21), que no hebraico significa sem glória ou nenhuma glória, porque a glória do Senhor havia abandonado Siló. “1 Ora, saiu Israel à batalha contra os filisteus, e acampou-se perto de Ebenézer; e os filisteus se acamparam junto a Afeque. 2 E os filisteus se dispuseram em ordem de batalha contra Israel; e, travada a peleja, Israel foi ferido diante dos filisteus, que mataram no campo cerca de quatro mil homens do exército. 3 Quando o povo voltou ao arraial, disseram os anciãos de Israel: Por que nos feriu o Senhor hoje diante dos filisteus? Tragamos para nós de Siló a arca do pacto do Senhor, para que ela venha para o meio de nós, e nos livre da mão de nossos inimigos. 4 Enviou, pois, o povo a Siló, e trouxeram de lá a arca do pacto do Senhor dos exércitos, que se assenta sobre os querubins; e os dois filhos de Eli, Hofni e Fineias, estavam ali com a arca do pacto de Deus. 5 Quando a arca do pacto do Senhor chegou ao arraial, prorrompeu todo o Israel em grandes gritos, de modo que a terra vibrou. 6 E os filisteus, ouvindo o som da gritaria, disseram: Que quer dizer esta grande vozearia no arraial dos hebreus? Quando souberam que a arca do Senhor havia chegado ao arraial, 7 os filisteus se atemorizaram; e diziam: Os deuses vieram ao arraial. Diziam mais: Ai de nós! porque nunca antes sucedeu tal coisa. 8 Ai de nós! quem nos livrará da mão destes deuses possantes? Estes são os deuses que feriram aos egípcios com toda sorte de pragas no deserto. I Samuel 4 37 9 Esforçai-vos, e portai-vos varonilmente, ó filisteus, para que porventura não venhais a ser escravos dos hebreus, como eles o foram vossos; portai-vos varonilmente e pelejai. 10 Então pelejaram os filisteus, e Israel foi derrotado, fugindo cada um para a sua tenda; e houve mui grande matança, pois caíram de Israel trinta mil homens de infantaria. 11 Também foi tomada a arca de Deus, e os dois filhos de Eli, Hofni e Fineias, foram mortos. 12 Então um homem de Benjamim, correndo do campo de batalha chegou no mesmo dia a Siló, com as vestes rasgadas e terra sobre a cabeça. 13 Ao chegar ele, estava Eli sentado numa cadeira ao pé do caminho vigiando, porquanto o seu coração estava tremendo pela arca de Deus. E quando aquele homem chegou e anunciou isto na cidade, a cidade toda prorrompeu em lamentações. 14 E Eli, ouvindo a voz do lamento, perguntou: Que quer dizer este alvoroço? Então o homem, apressando-se, chegou e o anunciou a Eli. 15 Ora, Eli tinha noventa e oito anos; e os seus olhos haviam cegado, de modo que já não podia ver. 16 E disse aquele homem a Eli: Estou vindo do campo de batalha, donde fugi hoje mesmo. Perguntou Eli: Que foi que sucedeu, meu filho? 17 Então respondeu o que trazia as novas, e disse: Israel fugiu de diante dos filisteus, e houve grande matança entre o povo; além disto, também teus dois filhos, Hofni e Fineias, são mortos, e a arca de Deus é tomada. 18 Quando ele fez menção da arca de Deus, Eli caiu da cadeira para trás, junto à porta, e quebrou-se-lhe o pescoço, e morreu, porquanto era homem velho e pesado. Ele tinha julgado a Israel quarenta anos. 19 E estando sua nora, a mulher de Fineias, grávida e próxima ao parto, e ouvindo estas novas, de que a arca de Deus era tomada, e de que seu sogro e seu marido eram mortos, encurvou-se e deu à luz, porquanto as dores lhe sobrevieram. I Samuel 4 38 20 E, na hora em que ia morrendo, disseram as mulheres que estavam com ela: Não temas, pois tiveste um filho. Ela, porém, não respondeu, nem deu atenção a isto. 21 E chamou ao menino de Icabô, dizendo: De Israel se foi a glória! Porque fora tomada a arca de Deus, e por causa de seu sogro e de seu marido. 22 E disse: De Israel se foi a glória, pois é tomada a arca de Deus.” (I Sm 4.1-22) I Samuel 5 Não se Pode Vencer a Deus Nós vemos no quinto capítulo de I Samuel que os filisteus tentaram se apoderar da arca da aliança como um troféu da sua conquista sobre os israelitas e o seu Deus. Os filisteus habitavam junto à costa do Mar Mediterrâneo, em cinco cidades confederadas (Asdode, Gate, Ascalom, Ecrom e Gaza). Ao que tudo indica, o templo principal do deus deles, Dagom, ficava em Asdode, e foi para lá que levaram a arca, com o intuito de consagrá-la a Dagom, em reconhecimento da vitória que lhes dera sobre os israelitas. Eles não sabiam que Deus permanece invencível e imutável, soberano Senhor, mesmo quando o Seu povo é derrotado por causa dos seus pecados. E o próprio Deus os entrega nas mãos do inimigo para que sejam corrigidos e se arrependam dos seus maus caminhos. Eles não sabiam nada a respeito do fato de que Deus vindica a Sua santidade, quando revela que não aprova os pecados do Seu povo, por sujeitá-lo à correção. Se o Israel de Deus é vitorioso é porque tem andado nos Seus caminhos. E se Israel é derrotado pelos seus inimigos é porque tem andado contrariamente com o seu Deus. Todavia, aos olhos dos adoradores de Dagom, de um culto religioso sensual e pecaminoso, esta verdade estava totalmente encoberta, I Samuel 5 39pois se soubessem disso, jamais teriam se apoderado da arca da aliança, com o propósito de dedicá-la como oferenda a Dagom. Desse modo, seriam humilhados e abatidos por causa daquele grande erro, pois pensando que poderiam submeter o Deus de Israel, acabariam sendo submetidos por Ele, sem a necessidade do auxílio de qualquer pessoa do Seu povo. O falso deus dos filisteus, assim como eles próprios, seriam duramente humilhados, pois tendo colocado a arca diante do ídolo, que representava Dagom eles o encontraram no dia seguinte prostrado ao solo, com o rosto em terra, aos pés da arca, como quem estivesse prestando reverência humilde a alguém superior (v. 2, 3). O reino de Satanás cairá prostrado diante do reino de Cristo, e por mais que os seus seguidores tentem apoiá-lo, como os filisteus o fizeram, pois tornaram a levantar Dagom, depois de tê-lo encontrado prostrado com o rosto em terra, tiveram que suportar a humilhação de encontrá-lo no dia seguinte, não apenas caído, mas com os membros e a cabeça cortados, separados do seu tronco. Isto indica que por mais que o reino das trevas tente prevalecer, ele será por fim destroçado pelo poderoso braço do Senhor, sem o auxílio de mãos humanas. Por mais que os idólatras tentem manter os seus ídolos elevados e estimados em grande honra, haverão de ser abatidos juntamente com os seus ídolos, no dia do justo juízo de Deus. “Os outros homens, que não foram mortos por estas pragas, não se arrependeram das obras das suas mãos, para deixarem de adorar aos demônios, e aos ídolos de ouro, de prata, de bronze, de pedra e de madeira, que nem podem ver, nem ouvir, nem andar.” (Apo 9.20). Os filisteus anteciparam o que há de ocorrer no tempo do fim, porque mesmo diante dos juízos do Senhor sobre o seu falso deus, não se arrependeram de suas más obras, e não se converteram ao único Deus verdadeiro. I Samuel 5 40 Em razão disso, eles próprios foram submetidos a duros castigos e humilhações, pois o Senhor feriu os filisteus de Asdode, e de suas cercanias, com tumores (v. 6). Nisto, reconheceram que era a mão do Deus de Israel que estava pesando sobre eles, e sobre o seu falso deus (v. 7). Todavia, em vez de se arrependerem, decidiram permanecer adorando a Dagom, e pensando em se livrar de seus problemas, resolveram enviar a arca para a cidade de Gate, que também pertencia aos filisteus (v. 8). Eles podem ter pensado que o Deus de Israel havia se incompatibilizado com Dagom, pois os pagãos tinham o costume de juntar outros deuses à divindade principal que eles adoravam, formando assim um panteão de deuses. Um idólatra pode se devotar a uma divindade mais do que a outras, mas presta culto ou honra a todas as demais divindades, pois julga com isso que terá uma maior cobertura de proteção. Desta forma, decidiram levar a arca para Gate (v. 8), onde poderia ficar longe de Dagom. Contudo, o juízo estava determinado sobre os filisteus, não propriamente por terem derrotado os israelitas, porque isto fora também um juízo de Deus sobre eles, mas pela própria impiedade dos filisteus, pela sua idolatria e irreverência, e assim, as pessoas de Gate, grandes e pequenas, foram também assoladas com tumores e com a morte (v. 9). Pelo que decidiram se livrar imediatamente da arca, enviando-a para outra cidade dos filisteus (Ecrom). E os seus habitantes muito temeram e disseram que lhes haviam enviado a arca para que fossem mortos pelo Deus de Israel (v. 10), e como era muito grande o castigo de Deus sobre eles, foi decidido em conselho que a arca deveria ser devolvida a Israel (v. 10-12). Como Cristo é, por meio do testemunho dos cristãos fiéis, cheiro de morte para morte nos que se perdem, de igual modo as tábuas do testemunho com os dez mandamentos, que estavam no interior da arca, eram cheiro de morte para morte dos incircuncisos filisteus, I Samuel 5 41 que se recusavam a dar crédito à verdade, por estarem apegados à mentira. “Pois do céu é revelada a ira de Deus contra toda a impiedade e injustiça dos homens que detêm a verdade em injustiça.” (Rm 1.18). “pois trocaram a verdade de Deus pela mentira, e adoraram e serviram à criatura antes que ao Criador, que é bendito eternamente. Amém.” (Rm 1.25). “1 Os filisteus, pois, tomaram a arca de Deus, e a levaram de Ebenézer a Asdode. 2 Então os filisteus tomaram a arca de Deus e a introduziram na casa de Dagom, e a puseram junto a Dagom. 3 Levantando-se, porém, de madrugada no dia seguinte os de Asdode, eis que Dagom estava caído com o rosto em terra diante da arca do Senhor; e tomaram a Dagom, e tornaram a pô-lo no seu lugar. 4 E, levantando-se eles de madrugada no dia seguinte, eis que Dagom estava caído com o rosto em terra diante da arca do Senhor; e a cabeça de Dagom e ambas as suas mãos estavam cortadas sobre o limiar; somente o tronco ficou a Dagom. 5 Pelo que nem os sacerdotes de Dagom, nem nenhum de todos os que entram na casa de Dagom, pisam o limiar de Dagom em Asdode, até o dia de hoje. 6 Entretanto a mão do Senhor se agravou sobre os de Asdode, e os assolou, e os feriu com tumores, a Asdode e aos seus termos. 7 O que tendo visto os homens de Asdode, disseram: Não fique conosco a arca do Deus de Israel, pois a sua mão é dura sobre nós, e sobre Dagom, nosso deus. 8 Pelo que enviaram mensageiros e congregaram a si todos os chefes dos filisteus, e disseram: Que faremos nós da arca do Deus de Israel? Responderam: Seja levada para Gate. Assim levaram para lá a arca do Deus de Israel. 9 E desde que a levaram para lá, a mão do Senhor veio contra aquela cidade, causando grande pânico; pois feriu aos homens daquela cidade, desde o pequeno até o grande, e nasceram-lhes tumores. I Samuel 5 42 10 Então enviaram a arca de Deus a Ecrom. Sucedeu porém que, vindo a arca de Deus a Ecrom, os de Ecrom exclamaram, dizendo: Transportaram para nós a arca de Deus de Israel, para nos matar a nós e ao nosso povo. 11 Enviaram, pois, mensageiros, e congregaram a todos os chefes dos filisteus, e disseram: Enviai daqui a arca do Deus de Israel, e volte ela para o seu lugar, para que não nos mate a nós e ao nosso povo. Porque havia pânico mortal em toda a cidade, e a mão de Deus muito se agravara sobre ela. 12 Pois os homens que não morriam eram feridos com tumores; de modo que o clamor da cidade subia até o céu.” (I Sm 5.1-12) I Samuel 6 O Retorno da Arca da Aliança para Israel No sexto capítulo de I Samuel nós temos o registro não apenas do que os filisteus fizeram para devolver a arca a Israel, como também o grande juízo do Senhor sobre os israelitas de Bete-Semes, que ocasionou a morte de cinquenta mil e setenta homens, em razão de terem olhado o interior da arca (v. 19). Todos estes juízos estavam produzindo temor em Israel, e preparando o povo para o arrependimento, que nós veremos no sétimo capitulo. A arca se encontrava há sete meses no território dos filisteus (v. 1) quando eles começaram a tomar providências para devolvê-la a Israel, e serem livrados da grande praga que Deus havia trazido sobre eles. Pelas medidas tomadas pelos filisteus, para a remoção da sua culpa, conforme proposto pelos seus sacerdotes e adivinhos, nós vemos que as principais pragas eram os tumores e a infestação de ratos, pois decidiram oferecer como oferta pela culpa juntamente com a arca, quando esta fosse devolvida a Israel, gravuras de ouro com a forma de ratos e tumores, cinco de cada, sendo um para cada um dos cinco príncipes dos filisteus. I Samuel 6 43 Eles não fizeram isto intuitivamente, ou seguindo simplesmente a sua forma ritual própria, quanto às oferendas que dedicavam aos seus deuses. Note-se que levaram em conta a necessidade de remoção de culpa diante do Deus de Israel, que sabiam ser exigente em relação à apresentação de sacrifícios e ofertas, para tratar das transgressões do Seu próprio povo de Israel. Não seria entretanto, nenhuma oferta de ouro que faria expiação da