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PROCESSAMENTO DE CARNES: HISTÓRIA, LEGISLAÇÃO E INGREDIENTES O consumo de carnes acompanha o homem desde as épocas remotas. A conservação da carne em ordem cronológica Homem primitivo ➔ secagem ao sol ➔ defumagem – a fumaça impregnava na carne e a conservava Homero (2.000 a.C.) ➔ uso de sal (NaCl) na conservação de carnes ➔ contaminação natural do sal passam a utilizar salitre (KNO3) para “cura” (mantém a carne rósea/avermelhada) desenvolvimento de cor e sabor próprios muito mais agradáveis Egípcios (450 a.C.) ➔ salga e desidratação ao sol: ◆ pombos e codornas salgados; ◆ aves aquáticas desidratadas; ◆ peixes desidratados, curados ou assados. Romanos (750 a.C. a 475 d.C.) Primeiro relato do uso de gelo ou neve na conservação de alimentos (principalmente nas regiões de climas frios) Idade média (1.300 a 1.600 d.C.) Os Bucaneiros (piratas das índias ocidentais) saqueavam navios em busca de carnes salgadas, que eram usadas como forma de provisão e mercadorias de troca Indústrias “conserveiras” na América (1.600 a 1.700 d.C.) Desenvolvimento do rebanho bovino no velho oeste americano: produção de charque ➔ EUA x Inglaterra concorrência pelo mercado das Índias Ocidentais No Brasil: ➔ desenvolvimento do rebanho bovino ➔ implantação de charqueadas na Região do Prata (Pelotas-RS) Grandes abatedouros (1.812 d.C.): ➔ abate nos meses de inverno visando melhor conservação ➔ uso de gelo obtido de lagos e rios congelados ➔ guerra de 1812 (EUA x Reino unido) carne vendida ao exército americano (os tambores tinham as iniciais U.S. gravadas – significa Tio Sam) Napoleão Bonaparte (1.800 d.C.) ➔ campanha militar necessidade de alimentar as tropas: ◆ 12.000 francos como prêmio para quem conseguisse criar um alimento que durasse mais para alimentar as tropas então Nicholas Appert criou o aquecimento em jarras de vidro fechados, onde a carne se conservava por mais tempo; esse processo passou a se chamar apertização ➔ Em 1811 surge a indústria de enlatados ➔ Louis Pasteur (1.860 d.C.) descobre que para melhor conservação era necessária a destruição microbiana pelo calor criação da pasteurização Refrigeração mecânica ➔ 1.800: uso de frio industrial pela expansão de gases (amônia): mecanização da desossa; transporte em vagão frigorificados; plantas frigoríficas ➔ 1.875: produção de gelo e conservação dos alimentos no comércio (amônia) ➔ 1.915: refrigeradores no comércio (larga escala) com menor tamanho ➔ 1.930: refrigeradores domésticos: compressores menores Novos métodos de conservação ➔ embalagens ◆ vácuo: aumenta vida útil, pois retira O2, impedindo o crescimento bacteriano, principalmente de Pseudomonas ◆ atmosfera modificada: composta de gases que mantém a cor do produto, aumenta a sua vida útil e evita limosidade natural da carne. 70% de CO2 é adicionado. Exemplo: linha soltíssimo da Sadia quando é feito vácuo as fatias ficam grudadas umas às outras, com atmosfera modificada não ➔ aditivos ➔ irradiação - usada para alguns produtos cárneos nos EUA devido a problemas com E. coli; no Brasil não há nenhum produto irradiado ➔ alta pressão hidrostática Definição e legislação Definição de processamento Qualquer processo que altere as características da carne fresca, compreendendo desde processos simples (moagem, condimentação, etc.) até processos mais complexos (cura, defumação, etc.). Atualmente o processamento visa: ➔ conferir a conservabilidade (nem sempre é o principal objetivo) ➔ permitir um maior aproveitamento da matéria-prima ➔ desenvolver novos produtos = maior variedade e conveniências (produtos dietéticos, infantis, para idosos e enfermos, pré-preparados, etc.) ➔ adicionar valor agregado à matéria prima original – por exemplo, pode-se introduzir fibra na carne (produtos Yacon) Classificação dos produtos cárneos ➔ legislação (oficial) ➔ por conservação ➔ por processamento Classificação baseada na legislação (ANVISA) São divididos em duas subcategorias: ➔ Carnes in natura (frescas e congeladas) ➔ Produtos cárneos (industrializados, salgados, conservas e semiconservas) ➔ Produtos cárneos industrializados: ◆ frescos: hambúrguer, linguiças frescas, almôndegas ◆ secos, curados e/ou maturados: linguiças, presunto cru, salame, jerked beef ◆ cozidos: presunto cozido, mortadela, salsicha, linguiça defumada ➔ Produtos cárneos salgados: ◆ crus: miúdos, carne de sol ◆ cozidos: mortadela, salsicha, apresuntado, fiambre ➔ Conservas e semiconservas: salsicha, corned beef, feijoada e almôndega Classificação por processamento ➔ Não fragmentados: são preparados a partir de cortes completos, desossados ou não. Exemplos: presunto cru, charque, lombo defumado e bacon ➔ Produtos seccionados e enformados: a carne é parcialmente desorganizada e novamente unida. Exemplo: presuntos cozidos ➔ Fragmentados: são formados por pequenas porções de carne, obtidas a partir da subdivisão da carne, temperada e moldada/embutida posteriormente para atingirem a forma final ◆ Reestruturados: produtos obtidos da trituração grosseira da carne, novamente reconstituídos; Exemplos: hambúrguer, nuggets e steaks ◆ Fermentados: produtos obtidos da trituração grosseira da carne e fermentados; Exemplos: salames e linguiça colonial ◆ Emulsionados: produtos em que se obtêm massa viscosa (massa final) com característica de emulsão; Exemplos: mortadela, patê e salsicha ◆ Produtos de salsicharia: Sausage, do latim “salsus” (salgado); Exemplo: linguiça Ingredientes e aditivos Aditivos Segundo a Portaria nº 540 (1997) – ANVISA: “Classe heterogênea de substâncias adicionadas intencionalmente ao alimento, sem propósito de nutrir, com o objetivo de modificar as características físicas, químicas, biológicas ou sensoriais, durante toda a etapa de manipulação, processamento, armazenamento e transporte de um alimento.” Obs: todo aditivo é um ingrediente, mas nem todo ingrediente é um aditivo! Rotulagem (IN nº 22 – MAPA 2005) ➔ obrigatória ➔ listados com a função, nome e número de INS. Por exemplo, conservante nitrito de sódio (INS250) Regulamentados ➔ permitidos ou limitados RDC nº 272 de 14 de março de 2019 (ANVISA) Ingredientes Segundo a Portaria nº 540 (1997) – ANVISA: “Qualquer substância, incluídos os aditivos alimentares, empregada na fabricação ou preparação de um alimento e que permanece no produto final, ainda que de forma modificada.” Rotulagem (IN nº 22 – MAPA 2005) ➔ obrigatória ➔ deve incluir a água (exceto quando usada em salmouras, onde não precisa-se indicar a quantidade de água). ➔ ordem decrescente de quantidade do produto (o ingrediente em maior quantidade deve aparecer primeiro) Regulamentados ➔ permitidos ou limitados Regulamento Técnico de Identidade e Qualidade (RTIQ) – MAPA Extensores São substâncias que se intumescem ao incorporarem água ao mesmo tempo em que influem na coesão das partículas das diversas matérias-primas que constituem a massa são LIGANTES Há dois tipos: Hidrocolóides (gomas): ➔ amido: produto amiláceo extraído de partes aéreas comestíveis dos vegetais (semestes); exemplo: milho ➔ fécula: produto amiláceo extraído de partes subterrÂneas comestíveis (tubérculos, raízes e rizomas); exemplo: mandioca ◆ Amido e fécula são ingredientes, com funções: ● física ou enzimática: amido (amido, maltodextrina) exemplo: temperatura ou enzimas com amilase: continua sendo amido natural e vai para o rótulo dessa forma; ● química: amido modificado (houve reação química para ser obtido). ● também podem ser utilizados como substâncias de enchimento ● diminuem a qualidade do produto (diminuem a % de matéria-prima nobre), embora permitam maior rendimento, redução de custos, mais liga, firmeza e melhor textura. ➔ carragena: são carboidratos naturais de algas vermelhas (Rhodophycea); são mais caros e, por isso, são usados em produtos nobres; são também chamadas de Carrageninas ou Musgo Irlandês; ◆ é um aditivo (categoria Espessante, INS 407); ◆ forma géis em meio aquoso (50 a 60ºC): ● aumenta o rendimento (abaixa os custos): permite injeção de até 60% de salmoura ● aumenta suculência ● melhoraliga/fatiamento/textura ◆ não confere sabor nem cor; ◆ limite máximo de adição: 0,3%. ➔ goma guar ➔ ágar ➔ alginato Proteicos: Contribuem positivamente com a relação umidade/proteína. Em alguns alimentos não se pode adicionar a quantidade de água que quiser, por isso, deve-se adicionar extensor proteico; ➔ Proteína de soja ◆ é um ingrediente ◆ apresenta as melhores características na categoria dos extensores ◆ possui excelente capacidade de reter água ◆ estabiliza as emulsões ◆ diminui custos da formulação ◆ aumentam a capacidade de liga, melhorando corte e fatiamento ◆ tipos: ● texturizada: >50% ● concentrada: >70% ● isolada: >90% ➔ PTS: ◆ sabor menos intenso ◆ textura adequada ◆ vários produtos cárneos, por exemplo hambúrguer ➔ Leite em pó (desnatado ou integral): ◆ é um ingrediente ◆ confere liga, textura e sabor ◆ adição indireta de açúcar (lactose) ● produção de ácido lático (embutidos fermentados): redução do pH e confere sabor ◆ escurecimento em produtos cozidos, devido a reação de Maillard (desvantagem) ➔ Proteínas do soro de leite em pó ◆ é um ingrediente ◆ concentrados proteicos (WPC) ◆ excelentes capacidades funcionais: ● capacidade espumante e emulsificante ● elevada capacidade de retenção de água ● capacidade de gelatinização ● realça cor, sabor e textura ● conferem valor nutricional ao formulado Estabilizantes São substâncias que mantêm as características físicas de emulsões e suspensões, mas não formam emulsão. Polifosfatos ➔ exigência de misturas prévias de fosfatos: ◆ necessário ter valores de pH (pH ~ 9,0) e teores de P2O5 ideais para cada produto e processo ➔ é um aditivo (categoria Estabilizante: INS 339 a 351) ➔ favorece a capacidade de retenção de água (CRA) das proteínas ➔ favorece a capacidade emulsionante (CE) das proteínas ➔ limite máximo de adição: 0,5%. ➔ ação sobre a CRA/CE das proteínas: ◆ afastamento do P.I. (ponto isoelétrico: onde as cargas são nulas): eleva o pH da carne em 0,2 a 0,5 unidade: ● água sai dos sarcômeros ● se o pH for abaixo ou acima do PI, a actina e miosina fazem maior retenção de água ● fosfato: eleva o pH da carne, aumentando a quantidade de água retida ◆ dissociação da actomiosina: ● a segunda ação do fosfato é a dissociação da actomiosina (rigor mortis): contração intensa do sarcômero devido à falta de energia transformação do músculo em carne maior contração resulta em menor quantidade de água retida na carne ● fosfato quebra as ligações de actina e miosina formadas na contração do músculo, assim, a água entra com maior facilidade, aumentando retenção de água ◆ complexação com metais divalentes (Ca+2 e Mg+2): ● rede proteica encolhida (formação de pontes entre Ca+2 e carga negativa da proteína: menor CRA) estrutura proteica aberta (sequestro do Ca+2 pelo polifosfato: maior CRA) ● Ca+2 e Mg+2 fazem ligação com a proteína fosfato complexa com Ca+2 e Mg+2, promovendo extensão da rede e favorecendo a entrada de água Realçador de sabor Substância que ressalta ou realça o sabor/aroma de um alimento. ➔ Glutamato de sódio (GMS) ◆ derivado do ácido glutâmico ◆ íon glutamato na forma monossódica ◆ obtido da fermentação do melaço de cana ◆ aditivo (categoria Realçador de sabor: INS 620 a 627) ◆ estimula as papilas gustativas: aumento a percepção sensorial do sabor ◆ limite de adição: q.s 0,3% confere efeito máximo
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