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NISE O FILME

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INTRODUÇÃO
O filme ‘’Nise: o coração da loucura’’ é uma obra brasileira de Roberto Berliner que é protagonizado pela atriz Glória Pires e foi baseado no livro “Nise – Arqueóloga dos Mares”, de autoria do jornalista Bernardo Horta. A trama faz referência bibliográfica a médica Nise da Silveira. A psiquiatra nasceu em Alagoas no ano de 1905 e morreu aos 94 anos. Cursou a Faculdade de Medicina da Bahia no período de 1921 a 1926. Nise tem sua história marcada pelo engajamento nos meios artístico e literário, voltados para área médica, com diversas publicações dos avanços da medicina (SILVA; OLIVEIRA, 2019).
 A trama se passa Centro Psiquiátrico Nacional localizado do bairro do Engenho de Dentro no Rio de Janeiro na década de 40. Os temas elencados nesse filme permeia a discussão de gênero e do papel da mulher no século XXI, além de demonstrar a discrepância entre o exercício da medicina de mulheres e homens. Conhecer os contextos socioculturais, os marcadores identitários e os conflitos que constituem a personagem é um mergulho empolgante na trama (BRITO; GOMES, 2019).
Por conseguinte, temos o foco principal que é a luta por um assistência mais humanizada dos pacientes psiquiátricos. No enrendo, pode-se conhecer o momento histórico em que a medicina se encontra organicista e voltada para o ser biológico. Deixando de lado, portanto, o paciente como um ser biopsicossocial. A luta de Nise é o retrato das dificuldades de vencer o hegemonismo hospitalocêntrico e manicomial (ROCHA,2017).
O objetivo desse relatório é analisar o filme de forma a elencar e discutir os aspectos históricos, médicos e sociais de forma crítica e embasada.
1 DESENVOLVIMENTO
 O filme ‘’Nise: O coração da Loucura’’ do diretor Roberto Berliner e estrelado por Glória Pires, baseado em fatos reais, conta a história de uma revolucionária psiquiatra alagoana que viveu entre 1905 e 1999. Essa médica, chamada Nise da Silveira atuou no tratamento de pessoas portadoras de problemas mentais e ficou reconhecida pelo seus tratamento inovadores e que iam contrariamente à realidade da psiquiatria no Brasil.
No início do filme, a doutora Nise chega no hospital onde ficou afastada por muitos anos. A primeira cena é de Nise batendo no portão de ferro e ninguém aparece, então a médica esmurra muito forte e insiste até que alguém o abra. Esse momento inicial, em que simbolicamente o portão represtenta uma barreira e a personagem não demonstra resignação evidencia o aspecto sagaz da personalidade da psiquiatra. Então, ela entra em um auditório cheia de médicos homens e todos olham para ela estarrecidos, como se ela não pudesse estar ali. Ao decorrer da cena, ela é tratada com muito desdém pelos colegas e fica claro que isso se dá ao fato de ser uma médica mulher. Naqueles anos, a medicina contava com poucas profissionais mulheres. Isso é demonstrado no fato bibliográfico de que Nise se formou em 1926 na faculdade de Medicina da Bahia, onde era a única mulher em uma turma de 157 alunos. O status valorizado adquirido pela medicina no Brasil, quanto do perceptível problema de uma mulher entrar em contato com outros corpos e tê-los como objeto de trabalho e pesquisa dificultava a inserção de mulheres no mercado médico (SILVA; OLIVEIRA, 2019). 
Ainda no auditório, estavam sendo ministradas palestras que afirmam que técnicas como eletrochoque e lobotomia estavam se popularizando e deveriam ser adotadas por todos naquele hospital. Nise se assusta com os rumos da medicina psiquiátrica e indaga o uso de práticas agressivas e desumanas, com pouco critério científico e cuidado com o paciente. Essa linha de pensamento que limita a psicopatologia a conceitos organicista e biológicos, os quais pautavam-se em determinante anatômicos e fisiológicos para explicar a ‘’loucura’’ humana é evidente na década de 40. Nessa época, o Brasil estava passando por uma transição nos cuidados psiquiátricos. As teorias da Liga Brasileira de Higiene Mental (LBHM) que propunham a higiene mental, como um programa de intervenção no espaço social com características marcadamente eugenistas, xenofóbicas, antiliberais e racistas, estava perdendo força. Porém, o discurso de  “controlar, tratar e curar” ainda se mantinha firme nas práticas psiquiátricas (AMARANTE, 2003).
 Em 1930, o país passava por uma reforma das políticas de saúde, com a criação de serviços nacionais por doenças produzindo uma verticalização das ações, atreladas a enfermidades especificas. Em 1941, foi criado o Serviço Nacional de Doenças Mentais em um contexto de modernização, centralização e nacionalização da assistência mais ampla em saúde (VENANCIO, 2007). Assim, vigor público na assistência psiquiátrica ficou evidenciado. A maioria dos hospitais que tratavam de desordens mentais eram públicos, cerca de 80% (PAULIN e TURATO, 2004).
 A característica desse sistema era a manutenção da segregação do enfermo e da enfermidade psiquiátrica, além dos cuidadores da rede de assistência. O Código Brasileiro de Saúde, publicado em 1945, condenava as denominações ‘asilo’, ‘retiro’ ou ‘recolhimento’, reconhecendo a categoria ‘hospital’, se afirmando o espaço de atuação do hospital psiquiátrico. Naquela época a psiquiatria buscava se estabelecer como especialidade médica e os instrumentos mais avançados da psiquiatria biológica foram introduzidos no país, como o choque cardiazólico, a psicocirurgia, a insulinoterapia e a eletroconvulsoterapia (SAMPAIO, 1988; AMARANTE, 1998). 
No entanto, a personagem de Nise se contrapunha ao uso dessas terapias e estava disposta a buscar novas formas de encarar o fenômeno da loucura, métodos que superem qualquer prática que venha ferir a liberdade do sujeito, ou reduzi-lo a etimologia de sua condição psíquica (ROCHA,2017). Dessa forma, Nise é incumbida da Seção de Terapêutica Ocupacional e Reabilitação (STOR), um setor desvalorizado e desacreditado pelos profissionais daquele hospital. Ela se dirige ao fundo do edifício e se apresenta como a nova chefe da seção para os enfermeiros Lima e Ivone, que deverão auxiliá-la em seus trabalhos cotidianos com as pessoas internadas naquela instituição psiquiátrica (BRITO; GOMES, 2019). Nise assume nobremente essa incubência e começa a fazer mudanças no seu local de trabalho. Nesse momento, mais dois personagens são incluídos na trama: a enfermeira Ivone e o efermeiro Lima. Esse último, não atende protamente os pedidos da doutora, e também assume posturas características do tratamento violento aos pacientes psiquiátricos. No entanto, Ivone, que é uma mulher negra e isso é também uma quebra de paradigma para época, se apresenta muito colaborativa e ajuda a doutora Nise a fazer as primeiras arrumações. 
Assim, com a força e vontade de mudar os rumos dos tratamentos psiquiátricos, inicia-se o tratamento humanizado e cuidadoso com seres humanos internados naquele hospital. A promoção do afeto com adoção de cachorros e a relação de carinho para com os pacientes era um mecanismo adotada pela psiquiatra para aproximar-se dos pacientes. É visto também a ideia de personalizar os clientes, de forma que eles se vistam como acham que devem e sempre são chamados pelo nome. Assim, em 1946 é fundada a Seção de Terapêutica Ocupacional, instalando diversas atividades e imprimindo-lhes um caráter predominantemente expressivo. A doutora Nise determina a todos que ali trabalham a necessidade de chamar os pacientes de ‘’clientes’’, caracterizando a vocação de prestação de serviço aqueles indíviduos. Somando-se a isso, a equipe que ali trabalha é guiada para permitir que os clientes se expressem livremente, sem restrições as suas peculiaridades. A preocupação com a comunição com os clientes é evidenciada na fala de Nise da Silveira:
"A comunicação com o esquizofrênico, nos casos graves, terá um mínimo de probabilidade de êxito se for iniciada no nível verbal de nossas relações interpessoais. Isso só ocorrerá quando o processo de cura já se achar bastante adiantado. Será preciso partir do nível não-verbal. É aí que particularmente se insere a terapia ocupacional,oferecendo atividades que permitam a expressão de vivências não verbalizáveis por aquele que se acha mergulhado na profundeza do inconsciente, isto é, no mundo arcaico de pensamentos, emoções e impulsos fora do alcance das elaborações da razão e da palavra. O exercício de atividades poderá adquirir importante significação. Em vez dos impulsos arcaicos exteriorizarem-se desabridamente, lhes oferecemos o declive que a espécie humana sulcou durante milênios para exprimi-los: dança, representações mímicas, pintura, modelagem, música. Será o mais simples e o mais eficaz."
Ao decorrer da trama, é bem vísivel como a psiquiatra tem uma proximidade com as correntes europeias e, principalmente, com as obras do psiquiatra alemão Carl Gustav Jung. Por meio da expressividade artística e de estudos baseados em Jung, ela comprova a capacidade criativa e o aprendizado dos esquizofrênicos (CASTRO; LIMA, 2007). O que importava para Nise era os seus clientes darem forma, mesmo que rudimentar, ao inexprimível pela palavra, as imagens carregadas de energia, desejos e impulsos (BRITO; GOMES, 2019). 
O ateliês de pintura e modelagem permitiam que Nise obtivesse um maior entendimento daesquizofrenia e, também, reflexões constantes sobre as condições do tratamento psiquiátrico e da hospitalização. Nise e todos da equipe ficaram impressionados com quantidade de trabalhos produzidos e pela manifestação de criatividade que resultava na produção de pinturasem grande monta, contrariando a atividade reduzida de seus autores fora dos espaços de ateliê. A quantidade e qualidade dos trabalhos os levaram a organizar a primeira exposição dessas produções, em 1947, no Ministério da Educação, no Rio de Janeiro. Mário Pedrosa, que visitou e escreveu sobre essa exposição, passou, a partir daí, a freqüentar o ateliê de pintura. Em 1949, o crítico levou Leon Degand, então diretor do Museu de Arte Moderna de São Paulo, que ficou impressionado com os trabalhos produzidos e propôs a realização de uma mostra destes no Museu que dirigia. "Era uma tentativa para entrar em contato com pessoas talvez interessadas pelo apaixonante problema que nos empolgava" (Silveira, 1981, p.14). Após as primeiras exposições, e como a produção do ateliê de pintura aumentava a cada dia, foi criado o Museu de Imagens do Inconsciente, com o intuito de organizar e catalogar esse material, com critério e cautela – o que permitiria o desenvolvimento de uma série de pesquisas em torno dessas imagens, levando à organização dessas produções. Dessa forma, o trabalho dos ‘’clientes’’ de Nise e sua peformance como psiquiatra levaram grandes questionamentos a sociedade sobre a forma hegemônica de tratamento dos pacientes psiquiátricos Funcionando, assim, como armas de combate ao manicômio e ao tratamento psiquiátrico hegemônico, aliadas na luta pela transformação cultural de certa concepção de loucura e do enlouquecimento. Nise, então, é um símbolo para os movimento de Reforma Psiquiátrica e antimanicomiais que iniciaram no final do séc XX (CASTRO; LIMA, 2007).
2 Considerações Finais
A obra demonstra os aspectos de vida e trabalho de Nise Silveira, em um retrato bibliográfico o filme permite que o espectador mergulhe nos aspectos históricos e sociais da assistência aos pacientes psiquiátricos e da medicina como um todo. A personagem principal se constrói de forma sagaz e contrária ao que é imposto na época. Assim, as lutas diárias demonstram a força e vontade de mudança de Nise. O encontro do espectador com os pacientes psiquiátricos é tocante, já que o trabalho de Nise consegue descontruir a despersonalização que é vista nos pacientes no começo do filme. Assim, a personalidade de cada um vai aflorando e isso demonstra a necessidade de entender o paciente psiquiátrico com um indíviduo único que precisa ser visto em todas as suas esferas do ser e, assim, cuidado de forma integral.
Além disso, as reformas e mudanças na esfera da psiquiatria são reveladas de forma prática. Levando o espectador a buscar o entendimento sobre esse processo tão moroso e complexo. Os embates entre Nise e os médicos do hospital envidenciam o distanciamento entre os modelos de assistência. De um lado, a medicina olha para o paciente como um experimento e de outro como um ser biopsocial.
O empodaramento da psiquiatra Nise também afirma a luta feminista e a necessidade das mulheres conquistarem seu espaço na sociedade. Autonomia, educação e força são características da médica e do embate de gênero. Assim, o filme é rico em detalhes e em temas, tornando-o uma grande joia do cinema brasileiro.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AMARANTE, P. (org).Archivos de Saúde Mental e Atenção Psicossocial. NAU Editora, Rio de Janeiro, 2003. 
CASTRO, Eliane Dias de; LIMA, Elizabeth Maria Freire de Araújo. Resistência, inovação e clínica no pensar e no agir de Nise da Silveira. Interface (Botucatu),  Botucatu ,  v. 11, n. 22, p. 365-376,  2007.
GOMES, Christianne Luce; BRITO, Cristiane Miryam Drumond de. “Nise, o coração da loucura”: representações femininas em um filme sobre a terapêutica ocupacional. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, v. 27, n. 3, p. 638-649, 2019.
PAULIN, Luiz Fernando; TURATO, Egberto Ribeiro. Antecedentes da reforma psiquiátrica no Brasil: as contradições dos anos 1970. História, ciências, saúde-Manguinhos, v. 11, n. 2, p. 241-258, 2004.
ROCHA, Rodrigo Carvalho. Dos manicômios à reforma psiquiátrica: uma revisão histórica dos movimentos da saúde mental. Universidade Federal Fluminense. Rio de Janeiro, 2017.
SAMPAIO, Jose Jackson Coelho. Hospital psiquiátrico público no Brasil: a sobrevivência do asilo e outros destinos possíveis. 1988.
SILVA, Márcia Regina Barros da; OLIVEIRA, Isabella Bonaventura de. A atuação e presença das mulheres nas revistas médicas paulistas: 1898-1930. Rev. Estud. Fem.,  Florianópolis ,  v. 26, n. 2,  e44043,    2018.
VENÂNCIO, Ana Teresa A. Sobre a desinstitucionalização psiquiátrica: história e perspectivas. História, Ciências, Saúde-Manguinhos, v. 14, n. 4, p. 1415-1420, 2007.

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