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Natália Furlaneto DEFINIÇÃO ≥ 3 evacuações amolecidas ou líquidas nas últimas 24 horas. Pode ser acompanhada de aumento da massa fecal (>200g/dia). Ocorre por desequilíbrio entre absorção e secreção de líquidos e eletrólitos (gera excesso de fluido nas fezes). O QUE É HÁBITO INTES TINAL NORMAL Varia entre pessoas, por isso é difícil estabelecer um padrão. 2 evacuações/dia. Consistência semissólida. Em condições alimentares e de vida normais, um indivíduo evacua fezes formadas a intervalos que variam entre 06 e 72 horas. EPIDEMIOLOGIA 1980: a diarreia ocupava o 2º lugar como causa de mortalidade infantil e representava 24,3% dos óbitos, enquanto, em 2005, passou para a 4ª posição e foi responsável por 4,1% dos óbitos. 2005: OMS ↓ osmolaridade da solução de reidratação oral e a recomendação da administração de zinco por via oral. 2006: vacina contra rotavírus foi incluída no Brasil. FISIOLOGIA DA DEFECAÇÃO CÓLON Participação decisiva na manutenção do hábito intestinal normal. Motilidade varia de acordo com as suas partes: - Cólon ascendente (segura conteúdo que passa da válcula ileocecal p/ cólon direito) e cólon sigmoide: movimentos antiperistálticos que retardam o trânsito colônico. - Cólon transverso e cólon descendente: contrações segmentares: propulsionam o conteúdo lentamente. Movimento de massa: move por distâncias maiores (até 1/3 do comprimento do cólon); associado à alimentação. A frequência dos diferentes movimentos depende: conteúdo (fibras, água, eletrólitos e restos alimentares. O cólon tem três funções importantes: reabsorção de água, manutenção de grande população de bactéria intraluminal e controle da eliminação de fezes. A perda da capacidade de reabsorver água, ou a chegada de grande quantidade e hiperosmótica, o desequilíbrio na composição e na quantidade das bactérias intestinais e o distúrbio muscular ou nervoso, no controle da eliminação de fezes, provocam alterações do hábito intestinal. INTESTINO DELGADO Os movimentos também: dependem das características do conteúdo ingerido e acontecem no estado de jejum. Jejum: movimentos periódicos, em direção caudal, o que é conhecido como complexo motor migrante. SNC Controla o mecanismo da defecação. ↑ pressão intra-abdominal é preciso o fechamento da glote, abaixamento do diafragma, contração da musculatura da parede abdominal e contração da musculatura do assoalho pélvico. Reto: relaxamento dos esfíncteres e contração peristáltica da parede do reto. Todos os movimentos são, em parte, voluntários e, em parte, involuntários, e são desencadeados por estimulação de mecanorreceptores na área anorretal. CLASSIFICAÇÃO DA DIARREIA CLASSIFICAÇÃO (OMS) QUANTO À DURAÇÃO 1. DIARREIA AGUDA AQUOSA (ATÉ 2 SEMANAS): pode durar até 14 dias: ↑ perda de volume de fluidos e pode causar desidratação. A desnutrição eventualmente pode ocorrer se a alimentação não é fornecida de forma adequada e se episódios sucessivos acontecem. Causas: bactérias e vírus, na maioria dos casos. 2. DIARREIA AGUDA COM SANGUE (DISENTERIA): é caracterizada pela presença de sangue nas fezes. Representa lesão na mucosa intestinal. Pode associar-se com infecção sistêmica e outras complicações, incluindo desidratação. Causas: bactérias do gênero Shigella (principal). 3. DIARREIA PERSISTENTE (2-4 SEMANAS): se estende por 14 dias ou mais. Pode provocar desnutrição e desidratação. Pacientes que evoluem para diarreia persistente constituem um grupo com alto risco de complicações e elevada letalidade. 4. DIARREIA CRÔNICA: > 4 semanas. Doença diarreica aguda episódio diarreico com as seguintes características: início abrupto, etiologia presumivelmente infecciosa, potencialmente autolimitado, com duração inferior a 14 dias, ↑ no volume e/ou na frequência de evacuações com consequente aumento das perdas de água e eletrólitos. Apesar da definição de diarreia aguda considerar o limite máximo de duração de 14 dias, a maioria resolve-se em até 7 dias. Maioria: infecção do tubo digestivo por vírus, bactérias ou protozoários e tem evolução autolimitada, mas pode ter consequências graves como desidratação, desnutrição energético- proteica e óbito. Nem sempre é possível identificar o agente causador do episódio diarreico. CLASSIFICAÇÃO QUANTO À ORIGEM: Alta: proveniente do intestino delgado. ↑ volume em cada ocasião, frequência ↓, cessa com o jejum, tem restos alimentares, esteatorreia (gordura), distensão abdominal (10 litros/dia). Baixa: proveniente do cólon. ↓ volume (1,5 litros/dia), não cessa com o jejum, muco, desinteria. É associada a tenesmo (desconforto ao evacuar) e urgência fecal. Não é raro que características de diarreia “alta” e “baixa” estejam presentes no mesmo paciente. Natália Furlaneto CLASSIFICAÇÃO QUANTO AOS 4 MECANISMOS FISIOPATOLÓGICOS DIARREIA OSMÓTICA Lesões pelos vírus (Rotavírus) infecção das células apicais com vilosidades destruição dos enterócitos células novas (imaturas) ↓ atividade enzimática (principal lactase) ↓ absorção carboidratos açúcares não absorvidos/moléculas hidrossolúveis ↑ concentração do lúmen (↑ pressão osmótica) puxa água, eletrólitos. Fezes líquidas, amareladas, caráter explosivo, vômitos, ↑ febre. Causas mais frequentes: vírus; laxativos; má-absorção intestinal de carboidratos. DIARREIA SECRETÓRIA Contaminação por bactérias (Cólera) liberação de enterotoxinas (toxigênicas) ↓ absorção de água + íons + secreção ativa pelas criptas colônicas. A mucosa intestinal tem a capacidade de secretar fluidos isotônicos. Poucos sintomas sistêmicos. Vibrio cholerae e Escherichia coli, neopolasias que produzem hormônios gastrointestinais (VIP), síndrome de Zollinger- Ellinson, ácidos graxos, de cadeia longa (esteatorréia), ácidos biliares (ressecção ileal) e catárticos, derivados da antraquinona. DIARREIA EXSUDATIVA OU INFLAMATÓRIA Patógenos invadem mucosa intestinal inflamação exsudação de proteínas do soro, sangue, muco ou pus, a partir dessas áreas inflamadas, de doenças ulcerativas ou infiltrativas, ↑ o volume fecal e causa diarreia. Doenças inflamatórias intestinais, neoplasias intestinais, a colite induzida por antibióticos e a parasitose (giardíase). Pode gerar repercussões sistêmicas (articulações, baço, SNC). DIARREIA MOTORA Para que haja absorção o conteúdo intestinal deve estar exposto a uma superfície absorvente adequada, por suficiente período de tempo. Também há necessidade de que esteja preparado para a absorção, ou seja, a digestão deve estar completada. Trânsito acelerado, causando inadequada mistura do alimento com as enzimas digestivas, e o pouco contato com a superfície absortiva, por ressecção intestinal ou fístulas enteroentéricas. É frequente a existência de mais de um mecanismo envolvido no desencadeamento da diarreia. É o caso da síndrome de má- absorção, onde a caracterização da presença de esteatorreia é fundamental para o diagnóstico. CLASSIFICAÇÃO QUANTO À EPIDEMIOLOGIA CATEGORIA EPIDEMIOLOGICA CAUSAS MAIS PROVAVEIS Viajantes Inf. Bacteriana (E. coli enterotoxigenica) infestação por protozoários (giárdia), espru tropical. Epidemia ou surto Inf. Viral (rotavírus), bacteriana, toxina alimentar (S. aureus), protozoário (criptosporídeo). Diabetes – diarreia crônica Neuropatia autonômica (distúrbio da motilidade), supercrescimento bacteriano, medicações (acarbose, metformina), insuficiência exócrina do pâncreas associada. Pacientes imunodeprimidos Inf. Oportunistas (BK, MAC, Criptospora, CMV, Herpes), neoplasia (linfoproliferativa), drogas. Pacientes institucionalizados - idosos Impactação fecal (estímulo a hipersecreção), drogas, colite pseudomembranosa (uso de antibióticos), doença vascular intestinal. CAUSAS INFECCIOSAS Vírus: rotavírus, coronavírus, adenovírus, calicivírus (em especial o norovírus) e astrovírus. Bactérias: E. coli enteropatogênica clássica, E. coli enterotoxigenica, E. coli enterohemorrágica, E. coli enteroinvasiva, E. coli enteroagregativa, Aeromonas, Pleisiomonas, Salmonella, Shigella, Campylobacter jejuni, Vibrio cholerae, Yersinia. - Campylobacter jejuni (Guillain-Barré.) apresenta frequência duas e sete vezes maior do que a Salmonella sp. e a Shigella sp. - Diarreias nosocomiais e institucionais, o Clostridium difficile é o principal (gram). Parasitos: Entamoeba histolytica, Giardia lamblia, Cryptosporidium, Isosopora. Fungos: Candida albicans. Pacientes imunocomprometidos ou em antibioticoterapia prolongada, podem ter diarreia causada por: Klebsiella, Pseudomonas, Aereobacter, C. difficile, Cryptosporidium, Isosopora, VIH, e outros agentes. Eventualmente outras causas podem iniciar o quadro como diarreia tais como: alergia ao leite de vaca, deficiência de lactase, apendicite aguda, uso de laxantes e antibióticos, intoxicação por metais pesados. A invaginação intestinal tem que ser considerada no diagnóstico diferencial da disenteria aguda, principalmente, no lactente. A investigação da etiologia da diarreia aguda não é obrigatória em todos os casos. Deve ser realizada nos casos graves e nos pacientes hospitalizados. Natália Furlaneto DIARREIA E SONDA NASOGASTRICA Em pacientes críticos em uso de terapia nutricional enteral a frequência reportada na literatura varia entre 15% e 38%. Os consensos de terapia nutricional em pacientes críticos recomendam fortemente a utilização de protocolos de investigação e manejo da diarreia em pacientes em terapia nutricional enteral. Na maioria das vezes a diarreia não está relacionada à dieta enteral, mas sim a outros fatores. A estratégia de interrupção ou redução da dieta enteral em pacientes com diarreia não deve ser utilizada antes da realização de um algoritmo que permita identificar os fatores mais comumente relacionados com o desenvolvimento de diarreia. DENTRE OS FATORES JÁ IDENTIFICADOS COMO FATORES DE RISCO PARA DIARREIA EM PAC IENTES CRÍTICOS ESTÃO: Desnutrição; Drogas – laxante, antagonista de H2, sorbitol; Hipoalbuminemia; Fecaloma; Infecção; Antibioticoterapia. Existem ainda fatores relacionados à terapia nutricional enteral. A administração da dieta de forma intermitente aumenta o risco de desenvolver diarreia quando comparada a infusão continua. Em relação à composição da dieta apenas três fatores podem estar relacionados à diarreia: contaminação bacteriana, alta osmolaridade e ausência de fibras. POSSÍVEIS CAUSAS Velocidade de infusão/gotejamento muito rápida. Volume excessivo ou ↑ conteúdo lipídico. Preparo e conservação das dietas fora das recomendações. Higiene inadequada durante a manipulação e preparo das dietas contaminação. Uso de alguns ATB, de medicamentos que contenham sorbitol, lactulose/laxantes, antiácidos contendo magnésio, suplementos de fósforo e potássio. Tratamento medicamentoso: pode influenciar na motilidade intestinal devido ao seu mecanismo de ação no organismo. A classe terapêutica de antimicrobianos pode determinar alterações na flora intestinal, facilitando a colonização e infecção intestinal pelo Clostridium difficile, entre outras bactérias. Condição clínica: importante papel na etiopatogenia da diarreia, mediante defeitos na digestão ou absorção associados à sepse, infecções entéricas e hipoalbuminemia. A precocidade na instituição da TNE, a modernização dos recursos técnicos para infusão das dietas, as novas formulações e a educação continuada de recursos humanos diminuíram a ocorrência de diarreia em pacientes hospitalizados. Persistência de diarreia pode relacionar-se a fatores inerentes ao paciente e não à TNE propriamente dita. ALGUMAS ORIENTAÇÕES (NÍVEL DOMICILIAR) Substituir sucos laxativos por sucos obstipantes (caju, maçã). Substituir o leite por outro com teor reduzido de lactose ou bebida à base de soja. Administrar a dieta lentamente. Não inserir: alimentos ricos em fibras como farelos, aveia. Verificar a temperatura em que a dieta está sendo administrada (tirar antes da geladeira) e as técnicas de preparo e conservação da dieta. DIAGNÓSTICO CLÍNICO Informações essenciais: Idade, sexo; Quando iniciaram os sintomas: abrupto ou gradual; Padrão: contínuo, intermitente; Nº de evacuações e consistência; Duração: dias; - Diarreia factícia: laxantes; Sangue ou pus; Características das fezes: aquosas, sanguinolentas ou esteatorreisas; Evolução; Fatores de melhora: alimentação, medicamento; Comprometimento do estado geral: ''desidratação''; Outros sintomas associados: febre; - Incontinência fecal: muito confundido com diarreia; - Dor abdominal (doença inflamatória, sd intestino irritável, isquemia mesentérica); - Perda de peso (neoplasia, má-absorção, estresse). Oferta e consumo de líquidos, medicamentos, vacina, alimentação prévia; Fatores epidemiológicos (viagens, mais alguém da família); Antibioticoterapia recente (ex: infecção por Clostridium difficile); Comorbidades (ex: imunodepressão por infecção HIV); O consumo de produtos lácteos não pasteurizados ou de carne/peixe malcozidos (ex: gastroenterites por Salmonella ou Campylobacter); Mudanças de hábitos alimentares (uso de suplementos, erro alimentar); Contatos com pessoas doentes; Doenças sistêmicas: hipertireoidismo, DM, doenças do colágeno (esclerodermia), neoplasias, doenças inflamatórias, AIDS. Pacientes têm maior risco de complicações, tais como: idade inferior a 2 meses; doença de base grave como o diabete melito, a insuficiência renal ou hepática e outras doenças crônicas; presença de vômitos persistentes; perdas diarreicas volumosas e frequentes (mais de oito episódios diários) e a percepção dos pais de que há sinais de desidratação. Ao exame físico (para determinar severidade da doença): avaliar o estado de hidratação, o estado nutricional, o estado de alerta (ativo, irritável, letárgico), a capacidade de beber e a diurese. O percentual de perda de peso é considerado o melhor indicador da desidratação. Mesmo quando o peso anterior recente não é disponível, é fundamental que seja mensurado o peso exato na avaliação inicial do paciente. A avaliação nutricional é muito importante na abordagem da criança com doença diarreica. Peso: é fundamental no acompanhamento tanto em regime de internação hospitalar como no ambulatório. Essa classificação proporciona uma estimativa do volume necessário para correção do déficit corporal de fluído em consequência da doença diarreica: Perda de 5%, ou seja, 50 mL/Kg desidratação leve. Perda de 5 a 10%, ou seja, 50 a 100 mL/Kg desidratação moderada. Perda > 10%, ou seja, mais de 100 mL/Kg desidratação grave. Natália Furlaneto Como a diarreia aguda é habitualmente autolimitada, o pedido de exames de diagnóstico está indicado apenas nos casos mais graves, sendo eles: diarreia sanguinolenta, febre> 38,5ºC, mais de 6 dejecções/dia ou duração da doença superior a 48h, dor abdominal severa, doentes idosos ou imunodeprimidos. A diarreia pode ser manifestação de doença funcional, situação em que não é acompanhada de comprometimento sistêmico ou doença orgânica. Causa orgânica: ocorrência durante a noite, a presença de sangue nas fezes, hipotrofia muscular, esteatorreia, a queixa de dor abdominal, emagrecimento, febre, adenomegalia, massas palpáveis no abdômen, sintomas carenciais, anemia e redução do subcutâneo. Outros dados importantes são: eritemas, úlceras na boca, nódulos na tireoide, sibilos na ausculta pulmonar, artrite, ruídos cardíacos, hepatomegalia, massa abdominal, ascite, edemas e o exame anorretal. NA DIARREIA CRÔNICA DEVE AVALIAR-SE: Pelas características das fezes, pode-se classificara diarreia crónica em 3 tipos: inflamatória, esteatorreia e aquosa. A sua abordagem diagnóstica é mais complexa atendendo à multiplicidade de causas, como a síndrome do intestino irritável (SII), a doença inflamatória intestinal (DII) e as síndromes de má absorção. - Características da diarreia: início (gradual ou súbito), padrão (intermitente ou contínuo), duração, volume da diarreia e características das fezes (aquosas, com sangue ou com ácidos gordos). - Relação da diarreia com o stress, a alimentação (a diarreia osmótica melhora com o jejum, enquanto a diarreia secretora mantém-se) e o período do dia (a diarreia nocturna sugere uma doença orgânica). - Outros sintomas associados, nomeadamente: dor abdominal, perda de peso, distensão abdominal, flatulência. - Presença de incontinência fecal: importante diagnóstico diferencial que pode ser confundido com diarreia. - Revisão detalhada por aparelhos e sistemas com o objectivo de procurar doenças sistémicas tais como hipertiroidismo, diabetes, tumores neuroendócrinos, vasculites e imunodeficiências adquiridas. - Causas iatrogênicas: medicamentos, radioterapia e cirurgias anteriores. Exame físico Tal como na diarreia aguda, o exame físico é importante para determinar a severidade da doença. EXAMES COMPLEMENTARES: HMG (padrão leucocitário), Parasitológico, ELISA (vírus), ureia, creatinina e íons (distúrbios hidroeletrolítico). 1- Exames laboratoriais: O hemograma está indicado para avaliar a presença de anemia e alterações na fórmula leucocitária; a ureia e a creatinina permitem avaliar a depleção de fluidos e eletrólitos e o seu impacto na função renal. 2- Exame das fezes: A coprocultura está indicada nos imunodeprimidos, nas comorbilidades importantes, na doença severa, diarreia sanguinolenta e na DII. A pesquisa de ovos e parasitas nas fezes apresenta uma baixa relação custo benefício, pelo que está indicada apenas em viagens recentes a regiões endémicas, crianças em infantários, os ovos e parasitas apresentam uma excreção intermitente, pelo que a sua colheita deve ser feita em três dias consecutivos. 3- Exames endoscópicos: A realização de colonoscopia não está indicada na maioria dos casos, mas poderá trazer benefício na suspeita de colite pseudomembranosa, colite isquêmica, DII e imunodeprimidos. CONSTIPAÇÃO INTESTINAL Menos do que 3 evacuações/por semana. + frequente nas mulheres do que nos homens, nos idosos (menor ingestão alimentar, perda da mobilidade, fraqueza das musculaturas abdominais e pélvica e medicações). Associada à falta de resíduos dentro do cólon, perda de sensibilidade dos órgãos que desencadeiam os mecanismos da defecação, perda das contrações dos músculos envolvidos com a defecação e obstrução mecânica. Diagnóstico de constipação intestinal é mais difícil do que o de diarreia. Derivam de padrões de comportamento. Dificuldade para evacuar, fezes duras, urgência sem que consiga evacuar, baixa frequência de evacuações e sensação de evacuação incompleta. Causa motora: distúrbios da motilidade enterocólica, consequente a condições metabólicas, miopatias e neuropatias, ou causa mecânica, por suboclusão intestinal. TRATAMENTO O tratamento mais importante da diarreia é assegurar a reposição de fluidos e eletrólitos. A maioria dos casos de diarreia aguda é autolimitada, sendo apenas necessário um tratamento sintomático com fluidos e alteração da dieta. A maioria dos casos de diarreia aguda não necessita de antibioticoterapia, uma vez que se resolvem em poucos dias com as medidas gerais. A utilização de antibioterapia empírica deve ser considerada nos casos de diarreia severa, sendo recomendada uma quinolona oral (ciprofloxacina 500mg duas vezes dia). Na diarreia crónica o tratamento é individualizado, segundo as causas. O tratamento empírico é usado em três situações: quando existe forte suspeita de um diagnóstico, mas que ainda não foi confirmado; quando os exames auxiliares de diagnóstico não permitiram um diagnóstico; ou quando o diagnóstico é estabelecido, mas não existe nenhum tratamento específico. Há um esquema clássico de tratamento, distribuído em três categorias segundo a presença ou não de desidratação. Natália Furlaneto PLANO A – DIARREIA E HIDRATADO: TRATAMENTO NO DOMICÍLIO É obrigatório aumentar a oferta de líquidos, incluindo o soro de reidratação oral (reposição para prevenir a desidratação) e a manutenção da alimentação. Soro de hidratação oral. Também são considerados líquidos adequados: sopa de frango com hortaliças e verduras, água de coco, água. São inadequados: refrigerantes, líquidos açucarados, chás, sucos comercializados, café. Suplementação de zinco. Manter a alimentação habitual, mas que não agrave a diarreia. Os sinais de alarme devem ser enfatizados nesta fase, para serem identificados prontamente na evolução se ocorrerem (aumento da frequência das dejeções líquidas, vômitos frequentes, sangue nas fezes, recusa para ingestão de líquidos, febre, diminuição da atividade, presença de sinais de desidratação, piora do estado geral). PLANO B – DIARREIA E ALGUM GRAU DE DESIDRATAÇÃO Administrar o soro de reidratação oral sob supervisão médica (reparação das perdas vinculadas à desidratação). Manter o aleitamento materno e suspender os outros alimentos (jejum apenas durante o período da terapia de reparação por via oral). Após o término, retomar os procedimentos do Plano A. Solução de terapia de reidratação oral (SRO): 50 a 100 mL/Kg, durante 2 a 4 horas. A SRO deve ser oferecida de forma frequente, em quantidades pequenas com colher ou copo, após cada evacuação. A mamadeira não deve ser utilizada. Considera-se fracasso da reidratação oral se as dejeções aumentam, se ocorrem vômitos incoercíveis, ou se a desidratação evolui para grave. Suplementação de zinco. O plano b deve ser realizado na unidade de saúde. Os pacientes deverão permanecer na unidade de saúde até a reidratação completa e reinício da alimentação. PLANO C – DIARREIA E DESIDRATAÇÃO GRAVE Corrigir a desidratação grave com terapia de reidratação por via parenteral (reparação ou expansão). As indicações para reidratação venosa são: desidratação grave, contraindicação de hidratação oral (íleo paralítico, abdômen agudo, alteração do estado de consciência ou convulsões), choque hipovolêmico. Idealmente deve-se conseguir a punção de veia calibrosa. Critérios para internação hospitalar: choque hipovolêmico, desidratação grave (perda de peso maior ou igual a 10%), manifestações neurológicas (por exemplo, letargia e convulsões), vômitos biliosos ou de difícil controle, falha na terapia de reidratação oral, suspeita de doença cirúrgica associada ou falta de condições satisfatórias para tratamento domiciliar ou acompanhamento ambulatorial. Terapia de reidratação parenteral Indicada para pacientes com desidratação grave ou que não apresentam reversão da desidratação após 2 horas de TRO. AVALIAR O PACIENTE CONTINUAMENTE. SE NÃO HOUVER MELHORA DA DESIDRATAÇÃO, AUMENTAR A VELOCIDADE DE INFUSÃO Quando o paciente puder beber, geralmente 2 a 3 horas após o início da reidratação venosa, iniciar a reidratação por via oral com SRO, mantendo a reidratação venosa. Interromper a reidratação por via endovenosa somente quando o paciente puder ingerir SRO em quantidade suficiente para se manter hidratado. A quantidade de SRO necessária varia de um paciente para outro, dependendo do volume das evacuações. A quantidade de SRO deve ser maior nas primeiras 24h. Observar o paciente por pelo menos seis (6) horas. OS PACIENTES QUE ESTIVEREM SENDO REIDRATADOS POR VIA ENDOVENOSA DEVEM PERMANECER NA UNIDADE DE SAÚDE ATÉ QUE ESTEJAM HIDRATADOS E CONSEGUINDO MANTER A HIDRATAÇÃO POR VIA ORAL. ALIMENTAÇÃO A manutenção da alimentação com oferta energética apropriada é um dos pilaresmais importantes no tratamento da diarreia aguda. Todas as diretrizes são unânimes que o aleitamento materno deve ser mantido e incentivado durante o episódio diarreico. Quando necessário, deve-se recomendar jejum durante o período de reversão da desidratação (etapa de expansão ou reparação). A alimentação deve ser reiniciada logo que essa etapa for concluída (em geral, no máximo, 4 a 6 horas). Os pacientes hospitalizados com diarreia persistente devem receber, de acordo com a OMS, 110 calorias/kg/dia. São critérios fundamentais para avaliar a evolução clínica: a redução das perdas diarreicas e a recuperação nutricional ou retomada do ganho de peso esperado para a idade. Ainda, de acordo com a OMS deve-se cuidar para que o paciente com diarreia persistente receba diariamente as quantidades de micronutrientes: 50ug de folato, 10mg de zinco, 400µg de vitamina A, 1mg de cobre e 80mg de magnésio7. Apesar das diretrizes não abordarem esse tema, para os pacientes com diarreia persistente que não respondem adequadamente à dieta sem lactose, deve ser considerada a possibilidade do desenvolvimento de intolerância às proteínas do leite de vaca. Nessa situação, deve ser prescrita dieta isenta das proteínas do leite de vaca, ou seja, pode-se empregar fórmula hipoalergênica para sua substituição, no caso dos lactentes, (por exemplo, fórmula com proteína extensamente hidrolisada ou fórmula de aminoácidos, dependendo da gravidade do paciente; nas crianças maiores em algumas situações tenta-se a proteína de soja ou a dieta isenta de leite e derivados). Deve ser destacado que estas mudanças dietéticas não são necessárias em pacientes com diarreia aguda. TERAPIA DE REIDRATAÇÃO Brasil: 90 mmol de sódio por litro. A partir de 2002, com a justificativa de reduzir as perdas diarreicas, a OMS modificou a composição dos sais de reidratação oral com redução das concentrações de sódio e glicose. Esta nova solução recebeu a denominação de soro oral com baixa osmolaridade. O Brasil não estabeleceu, de acordo com a OMS, política para a difusão do uso da solução com baixa osmolaridade no país. ESPGHAN (Sociedade Europeia de Gastroenterologia, Hepatologia e Nutrição em Pediatria) tradicionalmente preconiza o emprego de solução de reidratação oral com menor concentração de sódio. Natália Furlaneto Composição da solução de reidratação oral recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) no passado e no presente e da solução recomendada pela ESPGHAN (Sociedade Européia de Gastroentrologia, Hepatologia e Nutrição em Pediatria O soro caseiro é uma mistura de sal de cozinha, açúcar e água. COADJUVANTES Zinco: parte de enzimas; crescimento celular; sistema imunológico; ↓ duração diarreia, ↓ probabilidade da diarreia persistir por mais de sete dias e a ocorrência de novos episódios de diarreia aguda nos três meses subsequentes. - < 5 anos: 10 a 14 dias, A dose para maiores de seis meses é de 20mg por dia e 10mg para os primeiros 6 meses de vida. Vitamina A: em populações com risco de deficiência desta vitamina. ↓ risco de hospitalização e mortalidade. Antibióticos: na maioria das vezes não são empregados (episódios são autolimitados e grande parte se deve a agentes virais). - QUANDO USAR diarreia com sangue nas fezes (disenteria), na cólera, na infecção aguda comprovada por Giardia lamblia ou Entamoeba hystolitica, em imunossuprimidos, nos pacientes com anemia falciforme, nos portadores de prótese e nas crianças com sinais de disseminação bacteriana extraintestinal. - E.coli enteroinvasiva, Yersinia, V. chorelae, C. difficille, Salmonela não tifoide, Shigella. - 1ª escolha Ciprofloxacino. - 2ª azitromicina (Shigella). - Graves: Ceftriaxona, cefotaxima, Antieméticos: OMS não usar. Considera-se que os vômitos tendem a desaparecer concomitantemente à correção da desidratação. O MS não faz menção ao emprego. - Ondansetrona: se vômitos frequentes (↓frequência de vômitos, na necessidade de hidratação parenteral e de internação hospitalar). Probióticos: são microorganismos vivos; interagem com a microbiota intestinal. A OMS e o MS não mencionam a possibilidade de uso na diarreia aguda. - A ESPGHAN e a diretriz Íbero-Latinoamericana, com base em evidências científicas, consideram que determinados probióticos podem ser utilizados como coadjuvantes no tratamento da diarreia aguda. - Não há demonstração de que os probióticos diminuam as perdas diarreicas. - Determinadas cepas proporcionam redução de aproximadamente 24 horas na média da duração da diarreia aguda: Lactobacillus GG, Saccharomyces boulardii e Lacotobacillus reuteri. Efeito comprovado para reduzir a duração da diarreia aguda: - Saccharomyces boulardii 5-7 dias. - Lactobacillus GG - ≥ 1010 CFU/dia (habitualmente 5-7 dias. - L reuteri -5-7 dias. - Lacidophhilus LB. Racecadotrila: é um inibidor da encefalinase, enzima responsável pela degradação das encefalinas produzidas pelo sistema nervoso entérico. As encefalinas com ação mais duradoura, em função da menor atividade da encefalinase, reduzem a secreção intestinal de água e eletrólitos que se encontra aumentada nos quadros de diarreia aguda. - A ESPGHAN11 e a diretriz Ibero-Latinoamericana: ↓ das perdas diarreicas e na duração da diarreia aguda. Eficácia e segurança, que não interfere na motilidade intestinal. A dose recomendada é de 1,5mg/kg de peso corporal, três vezes ao dia. É contraindicado para menores de 3 meses. Sachês (pó) ou comprimidos.
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