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2- Diarreia

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Natália Furlaneto 
DEFINIÇÃO 
≥ 3 evacuações amolecidas ou líquidas nas últimas 24 horas. Pode 
ser acompanhada de aumento da massa fecal (>200g/dia). 
Ocorre por desequilíbrio entre absorção e secreção de líquidos e 
eletrólitos (gera excesso de fluido nas fezes). 
O QUE É HÁBITO INTES TINAL NORMAL 
Varia entre pessoas, por isso é difícil estabelecer um padrão. 
 2 evacuações/dia. 
 Consistência semissólida. 
Em condições alimentares e de vida normais, um indivíduo evacua 
fezes formadas a intervalos que variam entre 06 e 72 horas. 
EPIDEMIOLOGIA 
1980: a diarreia ocupava o 2º lugar como causa de mortalidade 
infantil e representava 24,3% dos óbitos, enquanto, em 2005, 
passou para a 4ª posição e foi responsável por 4,1% dos óbitos. 
 
2005: OMS ↓ osmolaridade da solução de reidratação oral e a 
recomendação da administração de zinco por via oral. 
 
2006: vacina contra rotavírus foi incluída no Brasil. 
FISIOLOGIA DA DEFECAÇÃO 
CÓLON 
 Participação decisiva na manutenção do hábito intestinal 
normal. 
 Motilidade varia de acordo com as suas partes: 
- Cólon ascendente (segura conteúdo que passa da válcula 
ileocecal p/ cólon direito) e cólon sigmoide: movimentos 
antiperistálticos que retardam o trânsito colônico. 
- Cólon transverso e cólon descendente: contrações 
segmentares: propulsionam o conteúdo lentamente. 
 
Movimento de massa: move por distâncias maiores (até 1/3 do 
comprimento do cólon); associado à alimentação. 
 
A frequência dos diferentes movimentos depende: conteúdo 
(fibras, água, eletrólitos e restos alimentares. 
 
O cólon tem três funções importantes: reabsorção de água, 
manutenção de grande população de bactéria intraluminal e 
controle da eliminação de fezes. 
A perda da capacidade de reabsorver água, ou a chegada de grande 
quantidade e hiperosmótica, o desequilíbrio na composição e na 
quantidade das bactérias intestinais e o distúrbio muscular ou 
nervoso, no controle da eliminação de fezes, provocam alterações 
do hábito intestinal. 
INTESTINO DELGADO 
Os movimentos também: dependem das características do 
conteúdo ingerido e acontecem no estado de jejum. 
Jejum: movimentos periódicos, em direção caudal, o que é 
conhecido como complexo motor migrante. 
SNC 
Controla o mecanismo da defecação. 
 ↑ pressão intra-abdominal é preciso o fechamento da glote, 
abaixamento do diafragma, contração da musculatura da 
parede abdominal e contração da musculatura do assoalho 
pélvico. 
 Reto: relaxamento dos esfíncteres e contração peristáltica da 
parede do reto. Todos os movimentos são, em parte, 
voluntários e, em parte, involuntários, e são desencadeados 
por estimulação de mecanorreceptores na área anorretal. 
CLASSIFICAÇÃO DA DIARREIA 
CLASSIFICAÇÃO (OMS) QUANTO À DURAÇÃO 
1. DIARREIA AGUDA AQUOSA (ATÉ 2 SEMANAS): pode durar 
até 14 dias: ↑ perda de volume de fluidos e pode causar 
desidratação. A desnutrição eventualmente pode ocorrer se a 
alimentação não é fornecida de forma adequada e se episódios 
sucessivos acontecem. 
 Causas: bactérias e vírus, na maioria dos casos. 
 
2. DIARREIA AGUDA COM SANGUE (DISENTERIA): é 
caracterizada pela presença de sangue nas fezes. Representa lesão 
na mucosa intestinal. Pode associar-se com infecção sistêmica e 
outras complicações, incluindo desidratação. 
 Causas: bactérias do gênero Shigella (principal). 
 
3. DIARREIA PERSISTENTE (2-4 SEMANAS): se estende por 14 
dias ou mais. Pode provocar desnutrição e desidratação. Pacientes 
que evoluem para diarreia persistente constituem um grupo com 
alto risco de complicações e elevada letalidade. 
 
4. DIARREIA CRÔNICA: > 4 semanas. 
 
Doença diarreica aguda  episódio diarreico com as seguintes 
características: início abrupto, etiologia presumivelmente 
infecciosa, potencialmente autolimitado, com duração inferior a 14 
dias, ↑ no volume e/ou na frequência de evacuações com 
consequente aumento das perdas de água e eletrólitos. 
 
Apesar da definição de diarreia aguda considerar o limite máximo 
de duração de 14 dias, a maioria resolve-se em até 7 dias. 
Maioria: infecção do tubo digestivo por vírus, bactérias ou 
protozoários e tem evolução autolimitada, mas pode ter 
consequências graves como desidratação, desnutrição energético-
proteica e óbito. Nem sempre é possível identificar o agente 
causador do episódio diarreico. 
CLASSIFICAÇÃO QUANTO À ORIGEM: 
Alta: proveniente do intestino delgado. ↑ volume em cada ocasião, 
frequência ↓, cessa com o jejum, tem restos alimentares, 
esteatorreia (gordura), distensão abdominal (10 litros/dia). 
Baixa: proveniente do cólon. ↓ volume (1,5 litros/dia), não cessa 
com o jejum, muco, desinteria. É associada a tenesmo (desconforto 
ao evacuar) e urgência fecal. 
Não é raro que características de diarreia “alta” e “baixa” estejam 
presentes no mesmo paciente. 
 Natália Furlaneto 
CLASSIFICAÇÃO QUANTO AOS 4 MECANISMOS 
FISIOPATOLÓGICOS 
DIARREIA OSMÓTICA 
Lesões pelos vírus (Rotavírus)  infecção das células apicais com 
vilosidades  destruição dos enterócitos  células novas 
(imaturas)  ↓ atividade enzimática (principal lactase)  ↓ 
absorção carboidratos  açúcares não absorvidos/moléculas 
hidrossolúveis ↑ concentração do lúmen (↑ pressão osmótica)  
puxa água, eletrólitos. 
 Fezes líquidas, amareladas, caráter explosivo, vômitos, ↑ febre. 
 Causas mais frequentes: vírus; laxativos; má-absorção 
intestinal de carboidratos. 
DIARREIA SECRETÓRIA 
Contaminação por bactérias (Cólera)  liberação de enterotoxinas 
(toxigênicas)  ↓ absorção de água + íons + secreção ativa pelas 
criptas colônicas. 
A mucosa intestinal tem a capacidade de secretar fluidos 
isotônicos. 
 Poucos sintomas sistêmicos. 
 Vibrio cholerae e Escherichia coli, neopolasias que produzem 
hormônios gastrointestinais (VIP), síndrome de Zollinger-
Ellinson, ácidos graxos, de cadeia longa (esteatorréia), ácidos 
biliares (ressecção ileal) e catárticos, derivados da 
antraquinona. 
DIARREIA EXSUDATIVA OU INFLAMATÓRIA 
Patógenos invadem mucosa intestinal  inflamação  exsudação 
de proteínas do soro, sangue, muco ou pus, a partir dessas áreas 
inflamadas, de doenças ulcerativas ou infiltrativas, ↑ o volume 
fecal e causa diarreia. 
 Doenças inflamatórias intestinais, neoplasias intestinais, a 
colite induzida por antibióticos e a parasitose (giardíase). 
 Pode gerar repercussões sistêmicas (articulações, baço, SNC). 
DIARREIA MOTORA 
Para que haja absorção o conteúdo intestinal deve estar exposto a 
uma superfície absorvente adequada, por suficiente período de 
tempo. Também há necessidade de que esteja preparado para a 
absorção, ou seja, a digestão deve estar completada. 
 Trânsito acelerado, causando inadequada mistura do alimento 
com as enzimas digestivas, e o pouco contato com a superfície 
absortiva, por ressecção intestinal ou fístulas enteroentéricas. 
É frequente a existência de mais de um mecanismo envolvido no 
desencadeamento da diarreia. É o caso da síndrome de má-
absorção, onde a caracterização da presença de esteatorreia é 
fundamental para o diagnóstico. 
CLASSIFICAÇÃO QUANTO À EPIDEMIOLOGIA 
CATEGORIA EPIDEMIOLOGICA CAUSAS MAIS PROVAVEIS 
Viajantes Inf. Bacteriana (E. coli 
enterotoxigenica) infestação por 
protozoários (giárdia), espru 
tropical. 
Epidemia ou surto Inf. Viral (rotavírus), bacteriana, 
toxina alimentar (S. aureus), 
protozoário (criptosporídeo). 
Diabetes – diarreia crônica Neuropatia autonômica 
(distúrbio da motilidade), 
supercrescimento bacteriano, 
medicações (acarbose, 
metformina), insuficiência 
exócrina do pâncreas associada. 
Pacientes imunodeprimidos Inf. Oportunistas (BK, MAC, 
Criptospora, CMV, Herpes), 
neoplasia (linfoproliferativa), 
drogas. 
Pacientes institucionalizados - 
idosos 
Impactação fecal (estímulo a 
hipersecreção), drogas, colite 
pseudomembranosa (uso de 
antibióticos), doença vascular 
intestinal. 
CAUSAS 
INFECCIOSAS 
 Vírus: rotavírus, coronavírus, adenovírus, calicivírus (em 
especial o norovírus) e astrovírus. Bactérias: E. coli enteropatogênica clássica, E. coli 
enterotoxigenica, E. coli enterohemorrágica, E. coli 
enteroinvasiva, E. coli enteroagregativa, Aeromonas, 
Pleisiomonas, Salmonella, Shigella, Campylobacter jejuni, 
Vibrio cholerae, Yersinia. 
- Campylobacter jejuni (Guillain-Barré.) apresenta frequência 
duas e sete vezes maior do que a Salmonella sp. e a Shigella sp. 
- Diarreias nosocomiais e institucionais, o Clostridium difficile é 
o principal (gram). 
 Parasitos: Entamoeba histolytica, Giardia lamblia, 
Cryptosporidium, Isosopora. 
 Fungos: Candida albicans. 
 Pacientes imunocomprometidos ou em antibioticoterapia 
prolongada, podem ter diarreia causada por: Klebsiella, 
Pseudomonas, Aereobacter, C. difficile, Cryptosporidium, 
Isosopora, VIH, e outros agentes. 
 Eventualmente outras causas podem iniciar o quadro como 
diarreia tais como: alergia ao leite de vaca, deficiência de 
lactase, apendicite aguda, uso de laxantes e antibióticos, 
intoxicação por metais pesados. 
 A invaginação intestinal tem que ser considerada no 
diagnóstico diferencial da disenteria aguda, principalmente, no 
lactente. 
A investigação da etiologia da diarreia aguda não é obrigatória em 
todos os casos. Deve ser realizada nos casos graves e nos pacientes 
hospitalizados. 
 
 
 
 
 Natália Furlaneto 
DIARREIA E SONDA NASOGASTRICA 
Em pacientes críticos em uso de terapia nutricional enteral a 
frequência reportada na literatura varia entre 15% e 38%. Os 
consensos de terapia nutricional em pacientes críticos 
recomendam fortemente a utilização de protocolos de investigação 
e manejo da diarreia em pacientes em terapia nutricional enteral. 
Na maioria das vezes a diarreia não está relacionada à dieta 
enteral, mas sim a outros fatores. A estratégia de interrupção ou 
redução da dieta enteral em pacientes com diarreia não deve ser 
utilizada antes da realização de um algoritmo que permita 
identificar os fatores mais comumente relacionados com o 
desenvolvimento de diarreia. 
DENTRE OS FATORES JÁ IDENTIFICADOS COMO FATORES 
DE RISCO PARA DIARREIA EM PAC IENTES CRÍTICOS 
ESTÃO: 
 Desnutrição; 
 Drogas – laxante, antagonista de H2, sorbitol; 
 Hipoalbuminemia; 
 Fecaloma; 
 Infecção; 
 Antibioticoterapia. 
Existem ainda fatores relacionados à terapia nutricional enteral. A 
administração da dieta de forma intermitente aumenta o risco de 
desenvolver diarreia quando comparada a infusão continua. Em 
relação à composição da dieta apenas três fatores podem estar 
relacionados à diarreia: contaminação bacteriana, alta 
osmolaridade e ausência de fibras. 
POSSÍVEIS CAUSAS 
 Velocidade de infusão/gotejamento muito rápida. 
 Volume excessivo ou ↑ conteúdo lipídico. 
 Preparo e conservação das dietas fora das recomendações. 
 Higiene inadequada durante a manipulação e preparo das 
dietas  contaminação. 
 Uso de alguns ATB, de medicamentos que contenham sorbitol, 
lactulose/laxantes, antiácidos contendo magnésio, 
suplementos de fósforo e potássio. 
 Tratamento medicamentoso: pode influenciar na motilidade 
intestinal devido ao seu mecanismo de ação no organismo. 
 A classe terapêutica de antimicrobianos pode determinar 
alterações na flora intestinal, facilitando a colonização e 
infecção intestinal pelo Clostridium difficile, entre outras 
bactérias. 
 Condição clínica: importante papel na etiopatogenia da 
diarreia, mediante defeitos na digestão ou absorção associados 
à sepse, infecções entéricas e hipoalbuminemia. 
 A precocidade na instituição da TNE, a modernização dos 
recursos técnicos para infusão das dietas, as novas formulações 
e a educação continuada de recursos humanos diminuíram a 
ocorrência de diarreia em pacientes hospitalizados. 
 Persistência de diarreia pode relacionar-se a fatores inerentes 
ao paciente e não à TNE propriamente dita. 
ALGUMAS ORIENTAÇÕES (NÍVEL DOMICILIAR) 
 Substituir sucos laxativos por sucos obstipantes (caju, maçã). 
 Substituir o leite por outro com teor reduzido de lactose ou 
bebida à base de soja. Administrar a dieta lentamente. 
 Não inserir: alimentos ricos em fibras como farelos, aveia. 
 Verificar a temperatura em que a dieta está sendo administrada 
(tirar antes da geladeira) e as técnicas de preparo e 
conservação da dieta. 
DIAGNÓSTICO 
CLÍNICO 
Informações essenciais: 
 Idade, sexo; 
 Quando iniciaram os sintomas: abrupto ou gradual; 
 Padrão: contínuo, intermitente; 
 Nº de evacuações e consistência; 
 Duração: dias; 
- Diarreia factícia: laxantes; 
 Sangue ou pus; 
 Características das fezes: aquosas, sanguinolentas ou 
esteatorreisas; 
 Evolução; 
 Fatores de melhora: alimentação, medicamento; 
 Comprometimento do estado geral: ''desidratação''; 
 Outros sintomas associados: febre; 
- Incontinência fecal: muito confundido com diarreia; 
- Dor abdominal (doença inflamatória, sd intestino irritável, 
isquemia mesentérica); 
- Perda de peso (neoplasia, má-absorção, estresse). 
 Oferta e consumo de líquidos, medicamentos, vacina, 
alimentação prévia; 
 Fatores epidemiológicos (viagens, mais alguém da família); 
 Antibioticoterapia recente (ex: infecção por Clostridium 
difficile); 
 Comorbidades (ex: imunodepressão por infecção HIV); 
 O consumo de produtos lácteos não pasteurizados ou de 
carne/peixe malcozidos (ex: gastroenterites por Salmonella ou 
Campylobacter); 
 Mudanças de hábitos alimentares (uso de suplementos, erro 
alimentar); 
 Contatos com pessoas doentes; 
 Doenças sistêmicas: hipertireoidismo, DM, doenças do 
colágeno (esclerodermia), neoplasias, doenças inflamatórias, 
AIDS. 
 
Pacientes têm maior risco de complicações, tais como: idade 
inferior a 2 meses; doença de base grave como o diabete melito, a 
insuficiência renal ou hepática e outras doenças crônicas; presença 
de vômitos persistentes; perdas diarreicas volumosas e frequentes 
(mais de oito episódios diários) e a percepção dos pais de que há 
sinais de desidratação. 
 
Ao exame físico (para determinar severidade da doença): avaliar 
o estado de hidratação, o estado nutricional, o estado de alerta 
(ativo, irritável, letárgico), a capacidade de beber e a diurese. O 
percentual de perda de peso é considerado o melhor indicador da 
desidratação. Mesmo quando o peso anterior recente não é 
disponível, é fundamental que seja mensurado o peso exato na 
avaliação inicial do paciente. A avaliação nutricional é muito 
importante na abordagem da criança com doença diarreica. 
 
Peso: é fundamental no acompanhamento tanto em regime de 
internação hospitalar como no ambulatório. Essa classificação 
proporciona uma estimativa do volume necessário para correção 
do déficit corporal de fluído em consequência da doença diarreica: 
 Perda de 5%, ou seja, 50 mL/Kg  desidratação leve. 
 Perda de 5 a 10%, ou seja, 50 a 100 mL/Kg  desidratação 
moderada. 
 Perda > 10%, ou seja, mais de 100 mL/Kg  desidratação grave. 
 
 Natália Furlaneto 
Como a diarreia aguda é habitualmente autolimitada, o pedido de 
exames de diagnóstico está indicado apenas nos casos mais 
graves, sendo eles: diarreia sanguinolenta, febre> 38,5ºC, mais de 
6 dejecções/dia ou duração da doença superior a 48h, dor 
abdominal severa, doentes idosos ou imunodeprimidos. 
 
A diarreia pode ser manifestação de doença funcional, situação em 
que não é acompanhada de comprometimento sistêmico ou 
doença orgânica. 
 
Causa orgânica: ocorrência durante a noite, a presença de sangue 
nas fezes, hipotrofia muscular, esteatorreia, a queixa de dor 
abdominal, emagrecimento, febre, adenomegalia, massas 
palpáveis no abdômen, sintomas carenciais, anemia e redução do 
subcutâneo. 
 
Outros dados importantes são: eritemas, úlceras na boca, nódulos 
na tireoide, sibilos na ausculta pulmonar, artrite, ruídos cardíacos, 
hepatomegalia, massa abdominal, ascite, edemas e o exame 
anorretal. 
NA DIARREIA CRÔNICA DEVE AVALIAR-SE: 
Pelas características das fezes, pode-se classificara diarreia crónica 
em 3 tipos: inflamatória, esteatorreia e aquosa. A sua abordagem 
diagnóstica é mais complexa atendendo à multiplicidade de causas, 
como a síndrome do intestino irritável (SII), a doença inflamatória 
intestinal (DII) e as síndromes de má absorção. 
 
- Características da diarreia: início (gradual ou súbito), padrão 
(intermitente ou contínuo), duração, volume da diarreia e 
características das fezes (aquosas, com sangue ou com ácidos 
gordos). 
- Relação da diarreia com o stress, a alimentação (a diarreia 
osmótica melhora com o jejum, enquanto a diarreia secretora 
mantém-se) e o período do dia (a diarreia nocturna sugere uma 
doença orgânica). 
- Outros sintomas associados, nomeadamente: dor abdominal, 
perda de peso, distensão abdominal, flatulência. 
- Presença de incontinência fecal: importante diagnóstico 
diferencial que pode ser confundido com diarreia. 
- Revisão detalhada por aparelhos e sistemas com o objectivo de 
procurar doenças sistémicas tais como hipertiroidismo, diabetes, 
tumores neuroendócrinos, vasculites e imunodeficiências 
adquiridas. 
- Causas iatrogênicas: medicamentos, radioterapia e cirurgias 
anteriores. 
 
Exame físico 
Tal como na diarreia aguda, o exame físico é importante para 
determinar a severidade da doença. 
EXAMES COMPLEMENTARES: 
HMG (padrão leucocitário), Parasitológico, ELISA (vírus), ureia, 
creatinina e íons (distúrbios hidroeletrolítico). 
1- Exames laboratoriais: O hemograma está indicado para avaliar a 
presença de anemia e alterações na fórmula leucocitária; a ureia e 
a creatinina permitem avaliar a depleção de fluidos e eletrólitos e 
o seu impacto na função renal. 
2- Exame das fezes: A coprocultura está indicada nos 
imunodeprimidos, nas comorbilidades importantes, na doença 
severa, diarreia sanguinolenta e na DII. A pesquisa de ovos e 
parasitas nas fezes apresenta uma baixa relação custo benefício, 
pelo que está indicada apenas em viagens recentes a regiões 
endémicas, crianças em infantários, os ovos e parasitas apresentam 
uma excreção intermitente, pelo que a sua colheita deve ser feita 
em três dias consecutivos. 
3- Exames endoscópicos: A realização de colonoscopia não está 
indicada na maioria dos casos, mas poderá trazer benefício na 
suspeita de colite pseudomembranosa, colite isquêmica, DII e 
imunodeprimidos. 
 
CONSTIPAÇÃO INTESTINAL 
 Menos do que 3 
evacuações/por semana. 
 + frequente nas mulheres 
do que nos homens, nos idosos 
(menor ingestão alimentar, 
perda da mobilidade, fraqueza 
das musculaturas abdominais e 
pélvica e medicações). 
 Associada à falta de 
resíduos dentro do cólon, perda 
de sensibilidade dos órgãos que 
desencadeiam os mecanismos 
da defecação, perda das 
contrações dos músculos 
envolvidos com a defecação e 
obstrução mecânica. 
 Diagnóstico de constipação 
intestinal é mais difícil do que o 
de diarreia. 
 Derivam de padrões de 
comportamento. 
 Dificuldade para evacuar, 
fezes duras, urgência sem que 
consiga evacuar, baixa 
frequência de evacuações e 
sensação de evacuação 
incompleta. 
 Causa motora: distúrbios da 
motilidade enterocólica, 
consequente a condições 
metabólicas, miopatias e 
neuropatias, ou causa mecânica, por suboclusão intestinal. 
TRATAMENTO 
O tratamento mais importante da diarreia é assegurar a reposição 
de fluidos e eletrólitos. A maioria dos casos de diarreia aguda é 
autolimitada, sendo apenas necessário um tratamento sintomático 
com fluidos e alteração da dieta. A maioria dos casos de diarreia 
aguda não necessita de antibioticoterapia, uma vez que se 
resolvem em poucos dias com as medidas gerais. A utilização de 
antibioterapia empírica deve ser considerada nos casos de diarreia 
severa, sendo recomendada uma quinolona oral (ciprofloxacina 
500mg duas vezes dia). Na diarreia crónica o tratamento é 
individualizado, segundo as causas. O tratamento empírico é usado 
em três situações: quando existe forte suspeita de um diagnóstico, 
mas que ainda não foi confirmado; quando os exames auxiliares de 
diagnóstico não permitiram um diagnóstico; ou quando o 
diagnóstico é estabelecido, mas não existe nenhum tratamento 
específico. 
 
 
Há um esquema clássico de tratamento, distribuído em três 
categorias segundo a presença ou não de desidratação. 
 Natália Furlaneto 
PLANO A – DIARREIA E HIDRATADO: TRATAMENTO NO 
DOMICÍLIO 
É obrigatório aumentar a oferta de líquidos, incluindo o soro de 
reidratação oral (reposição para prevenir a desidratação) e a 
manutenção da alimentação. 
 Soro de hidratação oral. Também são considerados líquidos 
adequados: sopa de frango com hortaliças e verduras, água de 
coco, água. 
 São inadequados: refrigerantes, líquidos açucarados, chás, 
sucos comercializados, café. 
 Suplementação de zinco. 
 Manter a alimentação habitual, mas que não agrave a diarreia. 
Os sinais de alarme devem ser enfatizados nesta fase, para serem 
identificados prontamente na evolução se ocorrerem (aumento da 
frequência das dejeções líquidas, vômitos frequentes, sangue nas 
fezes, recusa para ingestão de líquidos, febre, diminuição da 
atividade, presença de sinais de desidratação, piora do estado 
geral). 
 
PLANO B – DIARREIA E ALGUM GRAU DE DESIDRATAÇÃO 
 Administrar o soro de reidratação oral sob supervisão médica 
(reparação das perdas vinculadas à desidratação). 
 Manter o aleitamento materno e suspender os outros 
alimentos (jejum apenas durante o período da terapia de 
reparação por via oral). 
 Após o término, retomar os procedimentos do Plano A. 
 Solução de terapia de reidratação oral (SRO): 50 a 100 mL/Kg, 
durante 2 a 4 horas. A SRO deve ser oferecida de forma 
frequente, em quantidades pequenas com colher ou copo, após 
cada evacuação. A mamadeira não deve ser utilizada. 
 Considera-se fracasso da reidratação oral se as dejeções 
aumentam, se ocorrem vômitos incoercíveis, ou se a 
desidratação evolui para grave. 
 Suplementação de zinco. 
O plano b deve ser realizado na unidade de saúde. Os pacientes 
deverão permanecer na unidade de saúde até a reidratação 
completa e reinício da alimentação. 
PLANO C – DIARREIA E DESIDRATAÇÃO GRAVE 
 Corrigir a desidratação grave com terapia de reidratação por via 
parenteral (reparação ou expansão). 
 As indicações para reidratação venosa são: desidratação grave, 
contraindicação de hidratação oral (íleo paralítico, abdômen 
agudo, alteração do estado de consciência ou convulsões), 
choque hipovolêmico. Idealmente deve-se conseguir a punção 
de veia calibrosa. 
 Critérios para internação hospitalar: choque hipovolêmico, 
desidratação grave (perda de peso maior ou igual a 10%), 
manifestações neurológicas (por exemplo, letargia e 
convulsões), vômitos biliosos ou de difícil controle, falha na 
terapia de reidratação oral, suspeita de doença cirúrgica 
associada ou falta de condições satisfatórias para tratamento 
domiciliar ou acompanhamento ambulatorial. 
 Terapia de reidratação parenteral 
 Indicada para pacientes com desidratação grave ou que não 
apresentam reversão da desidratação após 2 horas de TRO. 
 
AVALIAR O PACIENTE CONTINUAMENTE. SE NÃO HOUVER 
MELHORA DA DESIDRATAÇÃO, AUMENTAR A VELOCIDADE DE 
INFUSÃO 
 Quando o paciente puder beber, geralmente 2 a 3 horas após o 
início da reidratação venosa, iniciar a reidratação por via oral 
com SRO, mantendo a reidratação venosa. 
 Interromper a reidratação por via endovenosa somente 
quando o paciente puder ingerir SRO em quantidade suficiente 
para se manter hidratado. A quantidade de SRO necessária 
varia de um paciente para outro, dependendo do volume das 
evacuações. 
 A quantidade de SRO deve ser maior nas primeiras 24h. 
 Observar o paciente por pelo menos seis (6) horas. OS 
PACIENTES QUE ESTIVEREM SENDO REIDRATADOS POR VIA 
ENDOVENOSA DEVEM PERMANECER NA UNIDADE DE SAÚDE 
ATÉ QUE ESTEJAM HIDRATADOS E CONSEGUINDO MANTER A 
HIDRATAÇÃO POR VIA ORAL. 
ALIMENTAÇÃO 
A manutenção da alimentação com oferta energética apropriada é 
um dos pilaresmais importantes no tratamento da diarreia aguda. 
 Todas as diretrizes são unânimes que o aleitamento materno 
deve ser mantido e incentivado durante o episódio diarreico. 
 Quando necessário, deve-se recomendar jejum durante o 
período de reversão da desidratação (etapa de expansão ou 
reparação). 
 A alimentação deve ser reiniciada logo que essa etapa for 
concluída (em geral, no máximo, 4 a 6 horas). 
 Os pacientes hospitalizados com diarreia persistente devem 
receber, de acordo com a OMS, 110 calorias/kg/dia. 
 São critérios fundamentais para avaliar a evolução clínica: a 
redução das perdas diarreicas e a recuperação nutricional ou 
retomada do ganho de peso esperado para a idade. 
 Ainda, de acordo com a OMS deve-se cuidar para que o 
paciente com diarreia persistente receba diariamente as 
quantidades de micronutrientes: 50ug de folato, 10mg de 
zinco, 400µg de vitamina A, 1mg de cobre e 80mg de 
magnésio7. Apesar das diretrizes não abordarem esse tema, 
para os pacientes com diarreia persistente que não respondem 
adequadamente à dieta sem lactose, deve ser considerada a 
possibilidade do desenvolvimento de intolerância às proteínas 
do leite de vaca. Nessa situação, deve ser prescrita dieta isenta 
das proteínas do leite de vaca, ou seja, pode-se empregar 
fórmula hipoalergênica para sua substituição, no caso dos 
lactentes, (por exemplo, fórmula com proteína extensamente 
hidrolisada ou fórmula de aminoácidos, dependendo da 
gravidade do paciente; nas crianças maiores em algumas 
situações tenta-se a proteína de soja ou a dieta isenta de leite 
e derivados). Deve ser destacado que estas mudanças 
dietéticas não são necessárias em pacientes com diarreia 
aguda. 
TERAPIA DE REIDRATAÇÃO 
 Brasil: 90 mmol de sódio por litro. A partir de 2002, com a 
justificativa de reduzir as perdas diarreicas, a OMS modificou a 
composição dos sais de reidratação oral com redução das 
concentrações de sódio e glicose. Esta nova solução recebeu a 
denominação de soro oral com baixa osmolaridade. O Brasil 
não estabeleceu, de acordo com a OMS, política para a difusão 
do uso da solução com baixa osmolaridade no país. 
 ESPGHAN (Sociedade Europeia de Gastroenterologia, 
Hepatologia e Nutrição em Pediatria) tradicionalmente 
preconiza o emprego de solução de reidratação oral com menor 
concentração de sódio. 
 Natália Furlaneto 
Composição da solução de reidratação oral recomendada pela 
Organização Mundial da Saúde (OMS) no passado e no presente e 
da solução recomendada pela ESPGHAN (Sociedade Européia de 
Gastroentrologia, Hepatologia e Nutrição em Pediatria 
O soro caseiro é uma mistura de sal de cozinha, açúcar e água. 
COADJUVANTES 
 Zinco: parte de enzimas; crescimento celular; sistema 
imunológico; ↓ duração diarreia, ↓ probabilidade da diarreia 
persistir por mais de sete dias e a ocorrência de novos episódios 
de diarreia aguda nos três meses subsequentes. 
- < 5 anos: 10 a 14 dias, A dose para maiores de seis meses é de 
20mg por dia e 10mg para os primeiros 6 meses de vida. 
 Vitamina A: em populações com risco de deficiência desta 
vitamina. ↓ risco de hospitalização e mortalidade. 
 Antibióticos: na maioria das vezes não são empregados 
(episódios são autolimitados e grande parte se deve a agentes 
virais). 
- QUANDO USAR diarreia com sangue nas fezes (disenteria), 
na cólera, na infecção aguda comprovada por Giardia lamblia 
ou Entamoeba hystolitica, em imunossuprimidos, nos pacientes 
com anemia falciforme, nos portadores de prótese e nas 
crianças com sinais de disseminação bacteriana extraintestinal. 
- E.coli enteroinvasiva, Yersinia, V. chorelae, C. difficille, 
Salmonela não tifoide, Shigella. 
- 1ª escolha  Ciprofloxacino. 
- 2ª  azitromicina (Shigella). 
- Graves: Ceftriaxona, cefotaxima, 
 Antieméticos: OMS  não usar. Considera-se que os vômitos 
tendem a desaparecer concomitantemente à correção da 
desidratação. O MS não faz menção ao emprego. 
- Ondansetrona: se vômitos frequentes (↓frequência de 
vômitos, na necessidade de hidratação parenteral e de 
internação hospitalar). 
 Probióticos: são microorganismos vivos; interagem com a 
microbiota intestinal. A OMS e o MS não mencionam a 
possibilidade de uso na diarreia aguda. 
- A ESPGHAN e a diretriz Íbero-Latinoamericana, com base em 
evidências científicas, consideram que determinados 
probióticos podem ser utilizados como coadjuvantes no 
tratamento da diarreia aguda. 
- Não há demonstração de que os probióticos diminuam as 
perdas diarreicas. 
- Determinadas cepas proporcionam redução de 
aproximadamente 24 horas na média da duração da diarreia 
aguda: Lactobacillus GG, Saccharomyces boulardii e 
Lacotobacillus reuteri. 
Efeito comprovado para reduzir a duração da diarreia aguda: 
- Saccharomyces boulardii 5-7 dias. 
- Lactobacillus GG - ≥ 1010 CFU/dia (habitualmente 5-7 dias. 
- L reuteri -5-7 dias. 
- Lacidophhilus LB. 
 Racecadotrila: é um inibidor da encefalinase, enzima 
responsável pela degradação das encefalinas produzidas pelo 
sistema nervoso entérico. As encefalinas com ação mais 
duradoura, em função da menor atividade da encefalinase, 
reduzem a secreção intestinal de água e eletrólitos que se 
encontra aumentada nos quadros de diarreia aguda. 
- A ESPGHAN11 e a diretriz Ibero-Latinoamericana: ↓ das 
perdas diarreicas e na duração da diarreia aguda. Eficácia e 
segurança, que não interfere na motilidade intestinal. A dose 
recomendada é de 1,5mg/kg de peso corporal, três vezes ao 
dia. É contraindicado para menores de 3 meses. Sachês (pó) ou 
comprimidos.

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