Buscar

O Mundo do Novo Testamento_OK


Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 57 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 57 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 57 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Continue navegando


Prévia do material em texto

1 
 
O Mundo do Novo Testamento 
 
 
O Mundo do Novo 
Testamento 
 
 
 
 
 
IBETEL 
Site: www.ibetel.com.br 
E-mail: ibetel@ibetel.com.br 
Telefax: (11) 4743.1964 - Fone: (11) 4743.1826 
 
 
2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
O Mundo do Novo Testamento 
 
 
(Org.) Prof. Pr. VICENTE LEITE 
 
 
O Mundo do Novo Testamento 
 
 
 
 
 
4 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
O Mundo do Novo Testamento 
 
Apresentação 
 
Estávamos em um culto de doutrina, numa sexta-feira destas quentes do 
verão daqui de São Paulo e a congregação lotada até pelos corredores 
externos. Ouvíamos atentamente o ensino doutrinário ministrado pelo Pastor 
Vicente Paula Leite, quando do céu me veio uma mensagem profética e o 
Espírito me disse “fale com o pastor Vicente no final do culto”. Falei: - Jesus 
te chama para uma grande obra de ensino teológico para revolucionar a 
apresentação e metodologia empregada no desenvolvimento da Educação 
Cristã. 
 
Hoje com imensurável alegria, vejo esta profecia cumprida e o IBETEL 
transbordando como uma fonte que aciona apressuradamente com eficácia o 
processo da educação teológico-cristã. 
 
A experiência acumulada do IBETEL nessa década de ensino teológico 
transforma hoje suas apostilas, produtos de intensas pesquisas e eloqüente 
redação, em noites não dormidas, em livros didáticos da literatura cristã com 
uma preciosíssima contribuição ao pensamento cristão hodierno e aplicação 
didática produtiva. Esta correção didática usando uma metodologia eficaz que 
aponta as veredas que leva ao único caminho, a saber, o SENHOR e 
Salvador Jesus Cristo, chega as nossas mãos com os aromas do nardo, da 
mirra, dos aloés, da qual você pode fazer uso de irrefutável valor pedagógico-
prático para a revolução proposta na gênese de todo trabalho. 
 
E com certeza debaixo das mãos poderosas do SENHOR ser um motor 
propulsor permanentemente do mandamento bíblico: “Conheçamos e 
prossigamos em conhecer ao Senhor...”. Por certo esta semente frutificará na 
terra boa do seu coração para alcançar preciosas almas compradas pelo 
Senhor Jesus. 
 
 
Dr. Messias José da Silva 
In memorian 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7 
 
O Mundo do Novo Testamento 
 
Prefácio 
 
Este Livro de O Mundo do Novo Testamento, parte de uma série que compõe 
a grade curricular do curso em Teologia do IBETEL, se propõe a ser um 
instrumento de pesquisa e estudo. Embora de forma concisa, objetiva 
fornecer informações introdutórias acerca dos seguintes pontos: O MUNDO 
POLÍTICO; O MUNDO SOCIAL E ECONÔMICO; A SOCIEDADE PAGÃ; 
AQUISIÇÕES CULTURAIS e O MUNDO RELIGIOSO. 
 
Esta obra teológica destina-se a pastores, evangelistas, pregadores, 
professores da escola bíblica dominical, obreiros, cristãos em geral e aos 
alunos do Curso em Teologia do IBETEL, podendo, outrossim, ser utilizado 
com grande préstimo por pessoas interessadas numa introdução ao Mundo 
do Novo Testamento. 
 
Finalmente, exprimo meu reconhecimento e gratidão aos professores que 
participaram de minha formação, que me expuseram a teologia bíblica 
enquanto discípulo e aos meus alunos que contribuíram estimulando debates 
e pesquisas. Não posso deixar de agradecer também àqueles que 
executaram serviços de digitação e tarefas congêneres, colaborando, assim, 
para a concretização desta obra. 
 
 
 
Prof. Pr. Vicente Leite 
Diretor Presidente IBETEL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
O Mundo do Novo Testamento 
 
Declaração de fé 
 
A expressão “credo” vem da palavra latina, que apresenta a mesma grafia e 
cujo significado é “eu creio”, expressão inicial do credo apostólico -, 
provavelmente, o mais conhecido de todos os credos: “Creio em Deus Pai 
todo-poderoso...”. Esta expressão veio a significar uma referência à 
declaração de fé, que sintetiza os principais pontos da fé cristã, os quais são 
compartilhados por todos os cristãos. Por esse motivo, o termo “credo” jamais 
é empregado em relação a declarações de fé que sejam associadas a 
denominações específicas. Estas são geralmente chamadas de “confissões” 
(como a Confissão Luterana de Augsburg ou a Confissão da Fé Reformada 
de Westminster). A “confissão” pertence a uma denominação e inclui dogmas 
e ênfases especificamente relacionados a ela; o “credo” pertence a toda a 
igreja cristã e inclui nada mais, nada menos do que uma declaração de 
crenças, as quais todo cristão deveria ser capaz de aceitar e observar. O 
“credo” veio a ser considerado como uma declaração concisa, formal, 
universalmente aceita e autorizada dos principais pontos da fé cristã. 
 
O Credo tem como objetivo sintetizar as doutrinas essenciais do cristianismo 
para facilitar as confissões públicas, conservar a doutrina contra as heresias 
e manter a unidade doutrinária. Encontramos no Novo Testamento algumas 
declarações rudimentares de confissões fé: A confissão de Natanael (Jo 
1.50); a confissão de Pedro (Mt 16.16; Jo 6.68); a confissão de Tomé (Jo 
20.28); a confissão do Eunuco (At 8.37); e artigos elementares de fé (Hb 6.1-
2). 
 
A Faculdade Teológica IBETEL professa o seguinte Credo alicerçado 
fundamentalmente no que se segue: 
 
(a) Crê em um só Deus eternamente subsistente em três pessoas: o Pai, 
o Filho e o Espírito Santo (Dt 6.4; Mt 28.19; Mc 12.29). 
 
(b) Na inspiração verbal da Bíblia Sagrada, única regra infalível de fé 
normativa para a vida e o caráter cristão (2Tm 3.14-17). 
 
(c) No nascimento virginal de Jesus, em sua morte vicária e expiatória, 
em sua ressurreição corporal dentre os mortos e sua ascensão 
vitoriosa aos céus (Is 7.14; Rm 8.34; At 1.9). 
 
(d) Na pecaminosidade do homem que o destituiu da glória de Deus, e 
que somente o arrependimento e a fé na obra expiatória e redentora 
de Jesus Cristo é que o pode restaurar a Deus (Rm 3.23; At 3.19). 
 
 
10 
 
 
 
 
(e) Na necessidade absoluta no novo nascimento pela fé em Cristo e pelo 
poder atuante do Espírito Santo e da Palavra de Deus, para tornar o 
homem digno do reino dos céus (Jo 3.3-8). 
 
(f) No perdão dos pecados, na salvação presente e perfeita e na eterna 
justificação da alma recebidos gratuitamente na fé no sacrifício 
efetuado por Jesus Cristo em nosso favor (At 10.43; Rm 10.13; 3.24-
26; Hb 7.25; 5.9). 
 
(g) No batismo bíblico efetuado por imersão do corpo inteiro uma só vez 
em águas, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, conforme 
determinou o Senhor Jesus Cristo (Mt 28.19; Rm 6.1-6; Cl 2.12). 
 
(h) Na necessidade e na possibilidade que temos de viver vida santa 
mediante a obra expiatória e redentora de Jesus no Calvário, através 
do poder regenerador, inspirador e santificador do Espírito Santo, que 
nos capacita a viver como fiéis testemunhas do poder de Jesus Cristo 
(Hb 9.14; 1Pe 1.15). 
 
(i) No batismo bíblico com o Espírito Santo que nos é dado por Deus 
mediante a intercessão de Cristo, com a evidência inicial de falar em 
outras línguas, conforme a sua vontade (At 1.5; 2.4; 10.44-46; 19.1-7). 
 
(j) Na atualidade dos dons espirituais distribuídos pelo Espírito Santo à 
Igreja para sua edificação conforme a sua soberana vontade (1Co 
12.1-12). 
 
(k) Na segunda vinda premilenar de Cristo em duas fases distintas. 
Primeira - invisível ao mundo, para arrebatar a sua Igreja fiel da terra, 
antes da grande tribulação; Segunda - visível e corporal, com sua 
Igreja glorificada, para reinar sobre o mundo durante mil anos (1Ts 
4.16.17; 1Co 15.51-54; Ap 20.4; Zc 14.5; Jd 14). 
 
(l) Que todos os cristãos comparecerão ante ao tribunal de Cristo para 
receber a recompensa dos seus feitos em favor da causa de Cristo, 
na terra (2Co 5.10). 
 
(m) No juízo vindouro que recompensará os fiéis e condenará os infiéis,(Ap 20.11-15). 
 
(n) E na vida eterna de gozo e felicidade para os fiéis e de tristeza e 
tormento eterno para os infiéis (Mt 25.46). 
 
 
 
 
11 
 
O Mundo do Novo Testamento 
 
Sumário 
 
Apresentação 5 
Prefácio 7 
Declaração de fé 9 
 
Capítulo 1 
O MUNDO POLÍTICO 13 
1.1 O Império Romano 13 
1.2 O Cristianismo e os Fatos Históricos 20 
1.3 O Governo Provincial 21 
1.4 Os Reinos Helenísticos 23 
1.5 As Conquistas de Alexandre 23 
1.6 Os Selêucidas na Síria 25 
1.7 Os Ptolomeus do Egito 25 
1.8 Efeitos Culturais 26 
 
Capítulo 2 
O MUNDO SOCIAL E ECONÔMICO 29 
2.1 O Mundo Social 29 
2.2 A Sociedade Judaica 29 
 
Capítulo 3 
A SOCIEDADE PAGÃ 31 
3.1 A Aristocracia 31 
3.2 A Classe Média 31 
3.3 A Plebe 31 
3.4 Os Escravos e os Criminosos 32 
 
Capítulo 4 
AQUISIÇÕES CULTURAIS 35 
4.1 Literatura 35 
4.2 Arte e Arquitetura 36 
4.3 Música e Drama 36 
4.4 Arena 36 
4.5 Línguas 37 
4.6 Ciências 38 
4.7 Escolas 40 
4.8 Padrões Morais 41 
4.9 O Mundo Econômico 41 
4.10 Agricultura 42 
4.11 Indústria 42 
4.12 Finanças 43 
4.13 Transportes e Viagens 43 
 
 
12 
 
 
 
 
Capítulo 5 
O MUNDO RELIGIOSO 47 
5.1 O Panteão Grego-Romano 47 
5.2 O Culto ao Imperador 48 
5.3 As Religiões-Mistério 49 
5.4 A Adoração do Culto 50 
 
Glossário 53 
 
Referências 55 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
13 
 
O Mundo do Novo Testamento 
 
 
 
Capítulo 1 
 
O Mundo Político 
 
1.1 O Império Romano 
 
No tempo em que o Novo Testamento foi escrito, todo o mundo civilizado, 
exceto o pouco conhecido reino do remoto Oriente, estava sob o domínio de 
Roma. Desde o Oceano Atlântico, a Ocidente, ao Rio Eufrates e Mar 
Vermelho, a Oriente; e desde o Ródano, Danúbio, Mar Negro e Montanhas 
do Cáucaso, ao Norte até o Saara, ao Sul, estendia-se um vasto império sob 
a chefia e ditadura virtual do imperador chamado, no Novo Testamento, tanto 
“rei” (1Pe 2.17) como “Augusto” (Lc 2.1). 
 
O nome de Império Romano veio da cidade capital da Península Itálica, de 
que proveio o Estado romano. Fundada em 753 a.C. foi primeiramente uma 
comunidade que compreendia a união de pequenas aldeias vizinhas e 
governadas por um rei. Nos começos do século V a.C. alcançou um grau 
sólido de organização política sob governo de forma republicana. Por meio de 
alianças com as comunidades circunvizinhas e através duma longa sucessão 
de guerras centrais, os etruscos, ao Norte, contra outras tribos do sul, Roma 
tornou-se senhora da Península Itálica por volta de 265 a.C. Os povos 
conquistados ficavam obrigados a conservarem a paz e, gradualmente, eram 
absorvidos pelo domínio romano. 
 
Durante os dois séculos seguintes, Roma esteve empenhada numa grande 
luta contra Cartago, que detinha o poder marítimo do Mediterrâneo Ocidental. 
Cartago foi, na sua origem, uma colônia fenícia. Mas, com a derrota que 
Alexandre infligiu à pátria-mãe, a colônia viu-se compelida a atuar 
independentemente. Seguindo o exemplo dos fenícios, tornou-se uma nação 
rica e poderosa. Os seus barcos realizaram o comércio do Mediterrâneo. A 
sua civilização era caracteristicamente oriental e sua sociedade tinha forma 
duma oligarquia mantida por um exército mercenário e era governada por um 
poder autocrático. À medida que Roma se ia expandindo, começava a entrar 
em conflito com os postos avançados do Império Cartaginês. 
 
Juntamente com o fato de as duas civilizações serem alheias uma à outra na 
origem racial e na teoria política, também não havia lugar bastante para 
ambas no mesmo território: uma tinha forçosamente que sucumbir. As 
 
14 
 
 
 
 
guerras entre as duas terminaram em 146 a.C., quando o general romano 
Cipião Emiliano tomou a cidade de Cartago e a arrasou completamente. 
Assim, Roma estabeleceu o seu domínio na Espanha e no Norte da África. 
Ao mesmo tempo, a Macedônia tornou-se província romana e, com o saque 
de Corinto, no mesmo ano (146 a.C.) também a Acaia ficou sob o domínio de 
Roma. Em 133 a.C. morreu o Rei de Pérgamo, que legou o seu reino aos 
romanos. Sobre ele organizaram a província da Ásia. As guerras na parte 
oriental da Ásia Menor continuaram até que Pompeu completou a conquista 
do Ponto e do Cáucaso. Em 63 a.C. transformou a Síria numa província e 
anexou a Judéia. De 58 a 57 a.C. César dirigiu as famosas campanhas da 
Gália e transformou-a numa região romana. E, assim, em cinco séculos de 
guerra quase ininterrupta, Roma transformou-se de uma cidade obscura nos 
bancos do Tibre num império senhor do Mundo. 
 
A rápida expansão territorial, contudo, provocou grandes mudanças na vida 
do povo romano. À medida que os chefes militares iam ganhando gosto pelo 
poder, começaram a usar os seus exércitos não só para as conquistas no 
estrangeiro, mas também para alcançarem a supremacia na sua terra. O 
século entre a conquista de Cartago e da Grécia e a morte de Júlio César foi 
assinalado por uma sucessão constante de guerras civis. Mário, Sila, César, 
Antônio e Otaviano – uns a seguir aos outros, lutaram para se tornarem 
senhores do governo de Roma, até que por fim Otaviano, ou Augusto, como 
lhe chamava o Senado, conseguiu exterminar os seus opositores em 30 a.C. 
e se tornou o primeiro imperador. 
 
Augusto (de 27 a.C. a 14 d.C.) 
 
Durante o seu governo, o império romano, ou o poder estado imperial, 
estabeleceu-se por completo. O povo cansado da guerra ansiava pela paz. 
Augusto tornou-se o príncipe, i.e., o primeiro cidadão da terra. Governou bem 
e sabiamente. Politicamente, o novo principado era um compromisso entre a 
velha república e a ditadura que Júlio César tinha advogado. Conservou-se o 
Senado teoricamente como corpo legislativo. Em 27 a.C. este conferiu a 
Augusto a função de comandante-chefe das forças armadas do Império. Em 
23 a.C. alcançou o poder governamental vitaliciamente, o que significava o 
seu controle nas assembléias populares e a sua nomeação permanente 
como representante do povo. Foi-lhe dada a prerrogativa de, no Senado, 
apresentar o tópico da discussão e o direito de convocar as suas 
assembléias. Todos os seus poderes tinham uma base constitucional e não 
assentavam em qualquer posse arbitrária do poder. 
 
Durante o domínio de Augusto efetuaram-se muitas reformas. O Senado foi 
libertado dos membros indignos. Uma grande parte do exército foi 
desmobilizada e os veteranos licenciados foram colocados em colônias ou 
15 
 
O Mundo do Novo Testamento 
 
em terras adquiridas para esse fim. Criou-se um exército profissional regular 
que se tornou uma escola de cidadãos. Além de se retirarem das fileiras o 
veterano, deu-se-lhes um bônus e foram colocados em colônias nas 
províncias, onde podiam viver bem e ao mesmo tempo ser guias da 
comunidade, na lealdade a Roma. 
 
Augusto procurou também melhorar a moral do povo. Renovou a religião do 
Estado e construiu muitos templos. O culto imperial, uma adoração de Roma 
como Estado, foi introduzido nas províncias. Em muitos lugares o próprio 
imperador foi venerado como Dominus et Deus (Senhor e Deus), embora não 
exigisse tal culto. 
 
Para consolidar o império, ordenou um censo da população e de toda a 
propriedade como base do recrutamento do exército e para cobrança de 
impostos. A Espanha, a Gália e os distritos Alpinos foram subjugados. 
Melhorou a defesa das fronteiras, embora os exércitos tivessem sofrido uma 
derrota terrível nas mãos dos germanos, na floresta de Tentaburgo. Augusto 
organizou em Roma a polícia, os serviços de incêndio e designou um 
superintendente para distribuição de trigo. 
 
Augusto gloriou-se de que tinha encontrado uma Roma de tijolo, tornando-a 
numa Roma de mármore. Durante os 41 anos de seu governo, conseguiu 
fazer surgir a ordem do meio do caos. Restaurou a confiança no governo, 
fortaleceu o tesouro, deu origem a um eficiente departamento de obras 
públicas, promoveu a paz e prosperidade. 
 
Tibério (de 14 a 37) 
 
Por morte de Augusto, foi escolhido para seu sucessor, seu filho adotivo 
Tibério.O império ou poder, que Augusto recebera, segundo as regras 
constitucionais e por um período limitado foi conferido a Tibério para toda a 
vida. Tinha 56 anos ao tempo da sua sucessão, e tinha estado ligado aos 
serviços de Estado durante a maior parte da sua vida, pelo que não era 
noviço na política. Infelizmente, Augusto tinha insistido em que ele se 
divorciasse de sua esposa a quem amava e casasse com Júlia, filha de 
Augusto, uma mulher de vida publicamente devassa. A amargura desta 
experiência azedou para sempre o seu temperamento. Era solitário, altivo, 
desconfiado e irascível. Apesar de ser imparcial e sábio no seu trato, nunca 
foi popular, duma maneira geral, foi temido e odiado. Durante o seu governo, 
os exércitos romanos sofreram reveses na Germânia. Perturbações de 
política interna escureceram os seus últimos anos. Em 26 d.C. retirou-se para 
Capri, deixando o governo nas mãos do prefeito da cidade. A ausência de 
Tibério deu oportunidade a Élio Sejano, capitão da guarda pretoriana, de 
forjar uma conspiração para tomar conta do poder. Cerca de 31 d.C., quando 
16 
 
 
 
 
tinha quase realizado o seu plano, Tibério descobriu tudo. Sejano foi 
executado, a conspiração desfeita, mas os efeitos dela foram desastrosos 
para Tibério. Tornou-se ainda mais desconfiado e cruel, de maneira que a 
mais simples sugestão contra algum homem provocava imediatamente a 
desgraça deste. Quando morreu, em 37 d.C., o Senado pôde mais uma vez 
respirar livremente. 
 
Calígula (37 a 41) 
 
Caio Calígula, ou “botinhas”, como afetuosamente lhe chamava a 
soldadesca, foi eleito, pelo Senado, sucessor de Tibério. No começo do seu 
governo foi tão popular quanto Tibério tinha sido impopular. Anistiou os 
presos políticos, reduziu os impostos, promoveu festas públicas e fez-se 
estimar pela população em geral. Em breve, contudo, começou a mostrar 
sinais de fraqueza mental. Fez-se adorar como deus, o que afastou os judeus 
no seu reino. Quando Herodes Agripa visitou Alexandria, os cidadãos 
insultaram-no publicamente, escrevendo pasquins contra ele e seu séqüito, e 
então tentaram obrigar os judeus a adorar a imagem de Caio. Os judeus 
apelaram para o imperador que, não só não lhes deu atenção, como também 
ordenou ao seu legado na Síria que lhe erigisse uma estátua no templo de 
Jerusalém. O legado foi bastante inteligente em atrasar o cumprimento da 
ordem, que talvez precipitasse uma rebelião armada, e a morte de Calígula, 
em 41, evitou que esta questão provocasse uma crise. Há quem pense que a 
referência de Marcos à “abominação da desolação” (Mc 13.14) seja um 
reflexo dessa ameaça de se erigir a estátua do imperador no templo de 
Jerusalém. 
 
Calígula gastou negligentemente os fundos que Augusto e Tibério tinham 
juntado com tanto cuidado e assim esgotou rapidamente o tesouro público. 
Para voltar a restaurá-lo recorreu a meios violentos: confisco de propriedades 
privadas, legados compulsórios e extorsões de toda ordem. A sua tirania 
tornou-se finalmente tão insuportável que acabou por ser assassinado por um 
tribuno da guarda imperial. 
 
Cláudio (41 a 54) 
 
Depois da morte de Calígula, o Senado debateu a idéia de restaurar a 
república, mas a questão decidiu-se rapidamente, quando a guarda 
pretoriana saudou Tibério Cláudio Germânico como imperador. Era já de 
meia-idade e tinha vivido na obscuridade comparativa durante os reinados de 
Tibério e Calígula. Apesar de ter sofrido uma enfermidade física, que deixou 
sua feição deformada, tinha boa capacidade mental e assim, governou 
melhor do que se esperava. Sob o seu governo, Roma tornou-se burocrática, 
governada por juntas e secretários. Estendeu o privilégio de cidadania aos 
17 
 
O Mundo do Novo Testamento 
 
provinciais. Os seus generais conseguiram estabelecer um ponto de apoio na 
Bretanha e conquistá-la até ao Rio Tamisa, como limite norte. Por esta altura, 
a Trácia, por morte do seu príncipe, que tinha sido um aliado de Roma, foi 
transformada em província. 
 
Durante o governo de Cláudio, os judeus foram expulsos de Roma por causa 
de alguns tumultos que, segundo Suetónio, “se tinham dado por instigação de 
um tal Chrestus”. É incerto se Suetónio entendia por Chrestus, Cristo, e se 
referia a alguns distúrbios entre os judeus, ocasionados pela pregação de 
Jesus, como o Cristo. Ou se Chrestus era o nome autêntico de algum dos 
insurgidos. Em qualquer caso a expulsão dos judeus terá sido, porventura, 
aquela que causou a saída de Áquila e Priscila de Roma (At 18.2)? 
 
Por influência de um dos seus libertos, por nome Palas, Cláudio foi 
persuadido a tomar como quarta esposa sua sobrinha Agripina. Esta estava 
resolvida a obter a sucessão para Domínio, seu filho de um casamento 
anterior. Domínio foi realmente adotado por Cláudio, com o nome de Nero 
Cláudio César. Em 53, Nero casou com Otávia, filha de Cláudio. Um ano 
mais tarde morreu Cláudio, deixando a Nero a sucessão do trono imperial. 
 
Nero (54 a 68) 
 
Os primeiros cinco anos do reinado de Nero foram pacíficos e prósperos. 
Com Apránio Burro, comandante da guarda pretoriana, e Lúcio Aneu Sêneca, 
filósofo e escritor como seus conselheiros, Nero governou o seu império 
muito bem. Agripina, contudo, procurou manter ascendência sobre ele, o que 
o ofendeu e aos seus conselheiros. Em 59, mandou assassinar sua mãe e 
tomou conta do governo sozinho. 
 
Nero era por temperamento mais um artista do que um governador. Estava 
mais interessado em tomar parte numa carreira de teatro do que ser notável 
administrador político. A sua negligência e extravagância esvaziaram o 
tesouro público e, como Calígula, lançou mão da opressão e da violência 
para voltar a restaurá-la. Por essas ações incorreu no ódio do Senado, cujos 
membros temiam que a qualquer altura ordenasse a morte deles e o confisco 
dos seus bens. 
 
Em 64, houve em Roma um grande incêndio que destruiu uma significativa 
parte da cidade. Suspeitou-se que Nero o tivesse deliberadamente originado 
para poder construir sua nova Casa Dourada, esplêndido palácio que 
construiu no Monte Esquilino. Para desviar a culpa de si próprio, foram 
acusados os cristãos de terem causado o desastre. A sua atitude de 
afastamento do paganismo e o que diziam acerca da derradeira destruição do 
Mundo pelo fogo deu plausibilidade à acusação. Muitos deles foram sujeitos a 
julgamento e torturados até à morte. Diz a tradição que Pedro e Paulo 
pereceram nesta perseguição, a primeira realizada pelo Estado. 
18 
 
 
 
 
Há reduzida evidência que nos mostre quão extensa tenha sido esta 
perseguição. Provavelmente não afetou nenhum território fora de Roma e 
subúrbios mais chegados, embora as províncias possam ter sido ameaçadas 
com ela (1Pe 4.12-19). 
 
Entretanto, os excessos de Nero tornavam-no cada vez mais impopular. 
Várias conspirações contra ele falharam e foram abafadas pela execução dos 
seus inimigos. Finalmente, foi bem sucedida uma revolta das tropas e 
províncias na Gália e Espanha. Nero fugiu de Roma e foi morto por um dos 
seus libertos. 
 
Galba (68 d.C.) 
 
A revolta das legiões mostrara que o império realmente era dirigido pelo 
exército, visto que este podia designar e entronizar o seu candidato sem a 
recomendação do Senado. Galba, o sucessor de Nero, não foi escolha 
unânime das legiões. Quando adotou Lúcio Calpúrnio Pisão como seu 
sucessor, Otão, que o tinha ajudado no desejo de se tornar imperador, 
persuadiu a guarda pretoriana a matar Galba e a fazê-lo a ele imperador. 
 
Otão (69) 
 
Seu governo durou pouco. O senado concorreu para a sua nomeação, mas 
Vitélio, legado da Germânia, marchou sobre Roma com as suas tropas. Otão 
morreu em combate e Vitélio tomou o seu lugar. 
 
Vitélio (69) 
 
Ele foi reconhecido pelo senado, mas era incapaz de controlar a soldadesca 
e nem podia estabelecer qualquer governo estável. O exército do Oriente 
interveio nos negócios do Estado e fez imperador o seu general Vespasiano. 
Nesta altura, Vespasiano estava ocupado com o cerco a Jerusalém. 
Deixando-o a cargode seu filho Tito, foi para o Egito, onde tomou conta do 
governo da província e cortou o abastecimento de mantimentos a Roma. O 
seu lugar-tenente, Muciano, partiu para a Itália. A despeito da briosa 
resistência das tropas de Vitélio, os partidários de Vespasiano tomaram e 
saquearam Roma. Vitélio foi morto e Vespasiano proclamado imperador. 
 
Vespasiano (69 a 79) 
 
Era um genuíno veterano, frugal nos seus hábitos e vigoroso na 
administração. Suprimiu as revoltas entre os batavos e entre os gauleses, 
enquanto Tito completava a conquista de Jerusalém. A cidade foi 
completamente destruída e a província entregue a um legado militar. 
19 
 
O Mundo do Novo Testamento 
 
Fortaleceu as fronteiras, reduzindo os principados dependentes à categoria 
de províncias. Tornou o tesouro solvente por meio duma economia severa e 
pela imposição de novos impostos. Construiu o famoso Coliseu. Morreu em 
79, deixando o seu cargo a Tito, a quem tinha feito seu co-regente. Foi o 
primeiro da dinastia dos Flávios que abrangeu seus filhos, Tito e Domiciano. 
 
Tito (79 a 81) 
 
A brevidade do governo de Tito não concedeu muito tempo para a realização 
de qualquer feito notável. A despeito de certa desvantagem, foi, contudo, um 
dos imperadores mais populares que houve em Roma. A magnificência dos 
divertimentos públicos que ele apadrinhou e a sua generosidade pessoal 
desarmou o possível antagonismo do Senado, que temia que ele viesse a ser 
um ditador como fora o pai. 
 
Durante o seu governo ocorreu a catastrófica destruição de Pompéia e 
Herculano, cidades da baía de Nápoles, pela erupção do Vesúvio. Tito 
designou uma comissão e fez tudo para salvar o maior número possível de 
sinistrados. Poucos meses depois Roma sofreu um terrível incêndio que 
destruiu o novo Capitólio, o Panteon e o Balneário de Agripa. Tito até vendeu 
alguma da sua mobília privada para contribuir para a necessidade geral. 
Erigiu novas construções e também um grande anfiteatro. 
 
Domiciano (81 a 96) 
 
Tito morreu em 81 sem deixar filhos e o Senado concedeu poder a seu irmão 
mais novo, Domiciano. Este era um perfeito autocrata. Tentou levantar o nível 
moral da sociedade, restringindo as corrupções do teatro romano e refreando 
a prostituição pública. Foram reconstruídos os templos dos velhos deuses e 
suprimidas as religiões estrangeiras, especialmente as que procuravam 
conquistar adeptos. Foi-lhe atribuída uma perseguição aos cristãos, embora 
falte qualquer testemunho de alguma legislação ou ação contra eles no seu 
reinado. Exigiu que lhe prestassem adoração e insistiu em se fazer aclamar 
como Dominus et Deus. Como economista, foi um bom governante. Os 
negócios do império foram dirigidos eficientemente pelos seus subordinados. 
 
Domiciano era inflexível por natureza e receava o aparecimento de rivais. 
Não tendo a afabilidade de seu irmão Tito, arranjou numerosos inimigos. 
Quando as conspirações destes eram descobertas, exercia vingança cruel. 
Os últimos anos do seu governo foram um pesadelo para o Senado, que era 
mantido sob constante terror de espias e informantes. Nem a sua própria 
família se sentia segura e finalmente, por defesa própria, conseguiu que 
fosse assassinado. 
 
 
20 
 
 
 
 
Nerva (96 a 98) 
 
Sucessor de Domiciano, foi eleito pelo Senado. Era já de idade avançada, de 
feitio indulgente, e provavelmente considerado pelo poder senatorial como 
candidato “seguro”. A sua administração geral foi benigna e relativamente 
livre de tensões internas. O exército tinha sentido o assassinato de 
Domiciano, porque os Flávios tinham popularidade nos círculos militares. 
Nerva, contudo, foi bastante astuto para providenciar Trajano como seu 
sucessor, que era capaz de manter as tropas em sujeição e de administrar o 
governo com mãos fortes. 
 
Trajano (98 a 117) 
 
Morrendo Nerva em 98, sucedeu-lhe Trajano. Era espanhol de nascimento, 
soldado de profissão, enérgico e agressivo de temperamento. Anexou a 
Dácia, o norte do Danúbio, e começou a alargar as fronteiras orientais pela 
conquista da Armênia, Assíria e Mesopotâmia. A revolta dos judeus, no 
Oriente Próximo, foi suprimida em 115, mas novas insurreições na África, na 
Bretanha e nas margens do Danúbio provocaram a sua chamada a Roma. 
Morreu a caminho da capital, na Cilícia, em 117. 
 
1.2 O Cristianismo e os Fatos Históricos 
 
Neste ambiente de expansão imperial, a cristandade progrediu de uma “seita” 
obscura do judaísmo até se tornar uma religião mundial. Jesus nasceu no 
reinado de Augusto (Lc 2.1); o Seu ministério público e a Sua morte 
ocorreram no tempo de Tibério (Lc 3.1); o grande período de expansão 
missionária decorreu no império de Cláudio (At 18.2) e de Nero (At 25.11,12). 
Segundo a tradição, o Apocalipse foi escrito no governo de Domiciano e as 
alusões ao poder imperial e tirania governamental podem ter sido reflexo das 
condições dominantes naquele tempo. 
 
A relativa escassez de alusões, no Novo Testamento, aos acontecimentos 
contemporâneos no mundo romano, não nos surpreende. O interesse 
nacional dos Evangelhos e da maior parte de Atos, que são as obras 
principalmente históricas, reside mais no judaísmo do que em Roma. Além de 
que a mensagem do Novo Testamento foi dirigida às vidas interiores dos 
seus leitores e não às circunstâncias exteriores. Insistia-se mais no espiritual 
do que no político e no eterno do que no temporal. Contudo, em numerosos 
lugares, o Novo Testamento relaciona-se com o ambiente político do primeiro 
século e sua importância histórica deve ser interpretada de acordo com essa 
relação. 
 
 
21 
 
O Mundo do Novo Testamento 
 
1.3 O Governo Provincial 
 
Diferente da República Federativa do Brasil, onde a autoridade federal 
preside os Estados que são geralmente uniformes no governo e na 
organização, o Império Romano era uma miscelânea de cidades 
independentes, estados e territórios – tudo sujeito ao governo central. Alguns 
deles tinham-se tornado parte do império por meio de alianças voluntárias; 
outros tinham sido anexados por conquista. À medida que Roma estendia a 
sua soberania a esses povos aliados ou conquistados, a sua maquinaria 
governamental desenvolvia-se no sistema provincial romano. 
 
A palavra latina provincia, de que derivou “província”, significa originalmente o 
encargo de prosseguir com a guerra, ou um posto de comando. Aplicada às 
autoridades de um general estendia-se à sua esfera de autoridade e por isso 
ao território conquistado por ele, que se tornava a sua província. Quando 
Roma conquistou novos domínios estes formaram organizadas províncias 
que se tornaram parte do sistema geral imperial. 
 
A aquisição de províncias feitas por Roma começou com a Sicília, 
conquistada a Cartago na primeira guerra Púnica, 264-241 a.C. 
Sucessivamente juntou-se-lhe a Sardenha (237 a.C.), duas províncias na 
Espanha (197 a.C.). A Ásia não foi tomada pelas armas, mas antes legada ao 
povo romano pelo seu rei, em 133 a.C., e organizada em província em 129 
a.C. Depois foram Transalpina e Cisalpina, cerca de 118 a.C., Cirene foi 
legada a Roma em 96 a.C., Pompeu anexou a Cilícia e Creta em 63 a.C. e 
ainda tomou posse da Palestina e pô-la na província da Síria. Com exceção 
da Itália, a maior parte do mundo romano era composta de territórios de 
governo provincial. 
 
Este governo era de duas espécies. As províncias relativamente pacíficas e 
leais a Roma estavam subordinadas a procônsules (At 13.7) que eram 
responsáveis perante o Senado romano. As províncias mais turbulentas 
estavam debaixo da autoridade do imperador que freqüentemente aí 
estacionava exércitos e eram governadas por prefeitos, procuradores ou 
propretores designados pelo imperador e responsável diretamente perante 
ele. À primeira espécie pertencia a Acaia, de que Gálio era procônsul, quando 
da visita de Paulo (At 18.12). A Palestina, no tempo de Cristo, estava sob a 
direção do imperador, de quem antes Pôncio Pilatos era representante (Mt 
27.11, traduzido “governador”). Os procônsules desempenhavam o seucargo 
por designação anual e eram geralmente mudados todos os anos. Os 
procuradores e propretores desempenhavam o seu cargo por tanto tempo 
quanto o imperador os desejasse no seu posto. 
 
 
22 
 
 
 
 
Debaixo da administração destes oficiais, as províncias gozavam de uma 
considerável liberdade. Às cidades-estado particulares permitia-se-lhes que 
mantivessem a sua soberania local e até que cunhassem moeda. Os 
romanos nunca interferiram na liberdade religiosa dos povos que submetiam, 
de maneira que os cultos indígenas mantiveram-se, segundo o costume, em 
cada lugar. Habitualmente os legisladores romanos tinham em conta as 
opiniões e os conselhos provinciais na sua administração. Os oficiais que 
roubavam os seus súditos eram sujeitos a julgamento e demitidos. Embora 
seja verdade que alguns dos procônsules e procuradores se entregassem ao 
antigo passatempo da fraude, a maioria, provavelmente, deu às províncias 
em sabedoria administrativa mais do que recebeu em dinheiro. Foram 
construídas estradas, levantados edifícios públicos e o comércio 
desenvolveu-se rapidamente. 
 
Com o fim de unir mais as províncias à cidade-mãe Roma, criaram-se 
pequenas colônias de romanos em centros estratégicos nas províncias. 
Gradualmente a civilização romana foi-se difundindo de tal maneira que 
dentro em pouco as províncias se tornaram mais romanas do que Roma. No 
século segundo, quando Roma ainda usava o grego como língua 
predominante, a Gália, a Península Hispânica e a África eram 
predominantemente latinas. 
 
O culto ao imperador tinha o maior número dos seus seguidores nas 
províncias. A adoração do Estado romano e do imperador reinante começou 
com Augusto. Mandou que, em nome de Júlio César, fossem em Éfeso e 
Nicéia erigidos templos pelos cidadãos romanos aí residentes e autorizou os 
naturais da região a estabelecerem santuários em sua própria honra. A 
adoração prestada ao Estado foi estimulada pelos conselhos locais que 
assumiram a responsabilidade de dirigirem o culto provincial. 
 
Uma boa ilustração de um conselho provincial aparece em At 19.31, quando 
são mencionados os “asiarcas”. Eram os magistrados considerados chefes 
responsáveis pela província e que podiam ter sido sumo sacerdotes dos 
cultos do Estado. Em Atos são apresentados como favoráveis a Paulo, visto 
que o admoestou a não se expor à violência da multidão no teatro. 
 
As províncias romanas mencionadas no Novo Testamento são: Espanha (Rm 
15.24), Gália (2Tm 4.10, variante), Ilíria (Rm 15.19), Macedônia (At 16.9), 
Acaia (Rm 15.26), Ásia (At 20.4), Ponto (1Pe 1.1), Bitinia (At 16.7), Galácia 
(Gl 1.2.), Capadócia (1Pe 1.1), Cilícia (Gl 1.21; At 6.9), Síria (Gl 1.21), Judéia 
(Gl 1.22), Chipre (At 13.4), Panfilia (At 13.13) e Lícia (At 27.5). Algumas delas 
são mencionadas mais do que uma vez e no caso da Ilíria, o seu nome 
posterior, Dalmácia, aparece nas Epístolas Pastorais (2Tm 4.10). Paulo, 
geralmente, ao aludir às divisões do império, empregava os nomes das 
23 
 
O Mundo do Novo Testamento 
 
províncias, enquanto que Lucas usava também as divisões nacionais. Muitas 
vezes as províncias incluíam mais do que um grupo étnico, que pertenciam à 
província da Galácia, tais como as Licaonianas de Listra e Derbe (At 14.6, 
11). 
 
Os oficiais públicos ambicionavam o governo das províncias, pois achavam 
que era uma boa fonte de receita. Alguns desses administradores eram tão 
ávidos que as províncias empobreciam rapidamente, devido aos pesados 
impostos. Outros, mais patriotas, aplicavam sabiamente os impostos na 
construção de estradas e portos, de maneira que o comércio prosperava e o 
nível econômico da vida subia de uma maneira geral. Roma considerava as 
províncias como seu legítimo campo de exploração. Até o tempo de 
Constantino, foram tributárias do governo. 
 
1.4 Os Reinos Helenísticos 
 
A atmosfera cultural do primeiro século deveu a sua origem não somente à 
organização política de Roma, mas também à difusão do espírito helênico 
que tinha penetrado tanto no Ocidente como no Oriente. As conquistas de 
Roma absorveram as colônias gregas que tinham sido estabelecidas ao 
longo das costas marítimas da Gália e da Espanha, na Sicília, e no sul da 
Península Itálica. A conquista de Acaia, terminada pelo saque de Corinto em 
146 a.C., tinha posto à disposição dos romanos imensos tesouros de arte, 
que eles transportaram para adornarem as suas próprias vilas. Escravos 
gregos, muitos dos quais eram mais ilustrados do que seus senhores 
passaram a fazer parte do pessoal dessas casas romanas. Muitas vezes não 
eram somente empregados nas tarefas servis da casa, mas também como 
professores, médicos, peritos em contabilidade, capatazes das quintas ou de 
negócios. Além disso, os jovens da aristocracia romana acorriam às 
universidades gregas de Atenas, Rodes, Tarso e doutras cidades, para 
aprenderem a falar o grego, da mesma maneira que os ingleses do séc. XIX 
aprendiam o francês, como língua da diplomacia e da cultura. Os vencidos 
gregos conquistaram culturalmente os seus vencedores duma maneira tão 
completa que a própria Roma se tornou uma cidade de fala grega. Juvenal, 
um dos famosos escritores satíricos do seu tempo queixava-se: “Amigos 
romanos, não posso suportar uma cidade inteiramente grega”. 
 
1.5 As Conquistas de Alexandre 
 
A maior parte dos acontecimentos do Novo Testamento ocorreram na metade 
oriental do mundo romano, onde a expansão da civilização grega se iniciou 
com os negociantes que levaram por toda a parte o comércio do Peloponeso. 
Já em 600 a.C. se conheciam na Babilônia instrumentos musicais gregos e 
armas gregas, e mercenários gregos combateram nos exércitos de Ciro, 
24 
 
 
 
 
como o confirma a bem conhecida Anábase, ou Retirada dos Dez Mil, de 
Xenofonte. A helenização do Oriente teve um rápido incremento com as 
campanhas de Alexandre, o Grande. Seu pai, Filipe, Rei da Macedônia, tinha 
organizado os macedônios num Estado militar unido. Com os robustos 
camponeses e pastores do seu país montanhoso, organizou um exército de 
mobilidade e resistência incomum. No curto espaço de 20 anos conseguiu 
Filipe submeter à Macedônia as cidades-estado gregas. Quando Filipe 
morreu em 337 a.C. tinha já concluído com os gregos uma aliança, por meio 
da qual contava ele conquistar a Ásia. 
 
Alexandre tinha a agressividade e o gênio militar de seu pai dourados com 
uma mais espessa camada de cultura grega. Tinha sido educado com a 
Ilíada de Homero, sob a tutela de Aristóteles, de sorte que tinha profunda 
admiração pelas tradições e pelos ideais. Em 334 a.C. fez a travessia da 
Helesponto (denominação antiga do estreito de Dardanelos), passando à 
Ásia Menor, e derrotou as forças persas na batalha do Rio Granico. Libertou 
as cidades helênicas da costa e internou-se depois no interior. Derrotou, de 
novo, os persas na batalha de Isso, o que lhe deu o domínio de toda a Ásia 
Menor, e, a seguir, voltou para o sul, ao longo da costa da Síria em direção 
ao Egito, onde fundou a cidade de Alexandria. 
 
Depois de ter subjugado a Síria e o Egito, dirigiu-se para Leste e infligiu a 
derrota final aos persas em Arbela. Em rápida sucessão, ocupou a Babilônia 
e as capitais da Pérsia: Susa e Persépoles. 
 
Os três anos seguintes foram despendidos na consolidação do novo império. 
Alexandre estimulou o casamento dos seus soldados com as mulheres 
orientais. Deu início à educação de três mil persas na língua grega. Por meio 
de posteriores campanhas na Índia alargou os limites dos seus domínios até 
o Rio Indo. Estabeleceu numerosas colônias e descobriu territórios que, 
naquele tempo, não tinham sido ainda vistos pelos europeus. 
 
No seu regresso à Babilônia, começou Alexandre os seus preparativos para a 
invasão da Arábia, o que, aliás, não chegou a realizar. Conseguiu-se sucesso 
em helenizar parcialmente o Oriente, também este em parte o orientalizou. 
Foi crescendo cada vez mais na atitude de déspota oriental e tornou-se cada 
vez mais arbitrário e desconfiado. A luxúria e as foliasda Babilônia 
enfraqueceram a sua constituição física e, assim, apanhou febres e morreu 
em 324 a.C., com a idade de trinta e dois anos. 
 
O império de Alexandre não sobreviveu à sua morte. Não deixou herdeiros 
capazes de o governar, e foi finalmente dividido entre os seus generais. 
Ptolomeu ficou com o Egito e a Síria meridional e, Seleuco exigiu a maior 
parte do território da Síria setentrional e, para o Oeste, através da Ásia 
25 
 
O Mundo do Novo Testamento 
 
Menor, incluindo a Frigia; Lisímaco obteve a Trácia e a parte ocidental da 
Ásia Menor, e Cassandro dominou a Macedônia e a Grécia. O reino de 
Lisímaco pouco durou, tendo sido incorporado ao território dos Selêucidas. 
 
A hostilidade constante entre os Selêucidas da Síria e os Ptolomeus do Egito 
conservou a Palestina entre o malho e a bigorna. A planície costeira de Saron 
foi o corredor por onde estas duas potências marchavam para a guerra. As 
conseqüências várias dos conflitos punham a Palestina ora sob o domínio de 
uma, ora sob o domínio da outra. 
 
1.6 Os Selêucidas na Síria 
 
O domínio Selêucida na Ásia Menor ia diminuindo gradualmente à medida 
que os povos locais afirmavam a sua independência e fundavam reinos de si 
próprios. Na Síria, no entanto, mantinha-se o governo dos Selêucidas e a sua 
influência era poderosa nos negócios políticos da Palestina. Em 201-200 
a.C., Antíoco III, o Grande, derrotou o exército egípcio no comando do 
general Scopas, na batalha de Paníade, perto da nascente do Jordão na 
Palestina Setentrional. Em dois anos Antíoco conseguiu o domínio de toda a 
Palestina e tornou-se o novo senhor dos judeus. A sua tentativa para 
helenizar os judeus originou a revolta dos Macabeus, que suscitou o 
avivamento da comunidade judaica. Acabou o domínio dos Selêucidas 
quando Pompeu fez da Síria uma província romana em 63 a.C. 
 
Foram tremendos os efeitos do domínio dos Selêucidas. Antioquia, a capital 
dessa monarquia tornou-se, no tamanho, a terceira cidade do Império 
Romano e era o lugar de reunião de leste a oeste. A língua e a literatura 
gregas estavam largamente por todo o Oriente Próximo e forneciam um meio 
comum aos povos orientais e aos povos ocidentais. Muitas das cidades da 
Palestina, particularmente na Galiléia, eram bilíngües e as suas religiões 
tinham um paladar tanto das divindades orientais como das ocidentais. 
 
1.7 Os Ptolomeus do Egito 
 
O reino dos Ptolomeus no Egito assemelhava-se com o reino dos Selêucidas. 
Havia entre os dois reinos uma amarga rivalidade que deu origem a 
numerosas guerras de variados resultados. Cleópatra, que morreu em 30 
a.C., foi a última representante da dinastia dos Ptolomeus. Roma anexou 
então o Egito, que lhe serviu de celeiro. A cidade de Alexandria cresceu em 
importância e tornou-se num notável empório comercial e centro de 
educação. Sob o patrocínio dos Ptolomeus foi fundada uma grande 
biblioteca, que conservou os principais tesouros literários da Antigüidade. Os 
seus bibliotecários foram notáveis eruditos e iniciaram o estudo da gramática 
grega e da crítica dos textos. 
26 
 
 
 
 
 
A influência judaica em Alexandria era grande, desde a fundação da cidade. 
Alexandre, em pessoa, determinou um lugar para os colonos judeus e 
concedeu-lhes plena cidadania. No reinado de Ptolomeu Filadelfo (285-247 
a.C.) foram traduzidos para o grego as Escrituras judaicas. Esta versão, que 
é conhecida por Septuaginta, tornou-se a Bíblia popular dos judeus da 
Dispersão e foi geralmente usada pelos escritores do Novo Testamento. 
Quando usavam o Antigo Testamento, tiravam da Septuaginta a maior parte 
das suas citações. O seu grego varia de qualidade de livro para livro. Parte 
da tradução é polida e outra parte grosseiramente literal. É, no entanto, um 
auxiliar valioso para o estudo atual da Bíblia, porque mostra como os 
tradutores interpretavam as Escrituras hebraicas e provêm dum contexto 
hebraico que difere malcriadamente daquele que hoje existe. 
 
As guerras constantes entre Selêucidas e Ptolomeus ocasionaram um grande 
aumento dos impostos sobre as terras em que dominavam. O escoamento do 
tesouro público era de tal ordem que os camponeses, sobre quem recaía o 
fardo mais pesadamente, ficavam reduzidos à mais completa pobreza. As 
guerras Púnicas liquidaram os mercados ocidentais do Egito e, em 
conseqüência disso, o comércio estava agonizante. A intranqüilidade popular 
culminava em revolta contra o governo, ou no abandono da propriedade, que 
não podia continuar a dar lucros devido aos impostos excessivos. Era 
evidente o acentuado declínio nos haveres dos dois reinos no primeiro século 
a.C., o que explica a facilidade com que Roma os venceu. 
 
1.8 Efeitos Culturais 
 
Os efeitos políticos da conquista helenística do Oriente não foram 
duradouros. Os Selêucidas e os Ptolomeus eram considerados dinastias 
estrangeiras que não provinham do povo e, se bem que fossem apoiados 
pela hierarquia dominante, nunca tiveram êxito em dar aos seus reinos um 
caráter helênico completo. Pelo contrário, estes reis assumiram o absolutismo 
dos monarcas orientais que exigiam obediência dos seus cortesãos. O livre 
companheirismo da democracia grega ou até a mais formal organização da 
corte Macedônica foram eclipsados pelo despotismo caprichoso de reis que 
pretendiam ser considerados divindades. Jesus aludia aos Selêucidas e 
Ptolomeus quando disse que os reis dos gentios se chamam a si próprios 
“benfeitores” (Lc 22.25), porque a palavra grega “euergetes” (benfeitor) era 
um dos seus títulos. As massas que eles dominavam pagavam-lhes impostos 
e prostravam-se diante deles, não teriam feito o mesmo perante outro senhor, 
qualquer que ele fosse. Culturalmente, os Selêucidas e os Ptolomeus 
introduziram a cultura e os costumes gregos no Oriente. A arquitetura grega 
prevaleceu nos centros urbanos onde eles viviam. O grego era a linguagem 
da corte e tornou-se a fala comum do povo, como se vê pelos papiros. Cartas 
27 
 
O Mundo do Novo Testamento 
 
de amor, contas, recibos, amuletos, ensaios, poesia, biografias e cartas 
comerciais, tudo era escrito em grego. No Egito, as designações dos 
funcionários do povo eram em grego, mesmo no tempo da ocupação romana. 
Os dirigentes do governo procuravam unir a cultura helenística com a vida do 
povo. Aos deuses locais eram dados nomes gregos e nas cidades maiores 
edificavam ginásios e anfiteatros. 
 
Foi por meio desta cultura que o Evangelho de Cristo era disseminado nos 
seus primitivos esforços missionários. Usando a Bíblia em grego e com a 
língua grega como meio universal de comunicação, o Evangelho depressa 
atingiu os postos avançados da civilização. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
28 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
29 
 
O Mundo do Novo Testamento 
 
 
Capítulo 2 
 
O Mundo Social e Econômico 
 
2.1 O Mundo Social 
 
O mundo do primeiro século não era muito diferente do mundo atual. Viviam 
lado a lado ricos e pobres, homens virtuosos e homens criminosos, homens 
livres e homens escravos, e as condições sociais e econômicas 
predominantes eram semelhantes às dos tempos presentes. 
 
2.2 A Sociedade Judaica 
 
Tanto no judaísmo como no mundo pagão havia uma aristocracia do dinheiro. 
No judaísmo era um grupo religioso, constituído principalmente das famílias 
sacerdotais e dos dirigentes rabinos. A tribo dos Hasmoneus tinha dominado 
a sociedade palestiniana, desde os dias dos Macabeus até o tempo de 
Herodes, o Grande. Durante o seu reinado e o de seus filhos, o sacerdócio 
hasmoniano tinha nas suas mãos o poder. Os reflexos da hierarquia, que 
aparece nos evangelhos, mostram que eles eram os governantes virtuais da 
Judéia. Dirigiam o movimento comercial relacionado com o templo e tinham 
sociedade nos lucros provenientes da venda de animais para os sacrifícios e 
do câmbio de dinheiro envolvido nos tributos do templo. 
 
Entre os membros do Sinédrio, que era o conselho supremodo judaísmo, 
havia homens abastados, como Nicodemos e José de Arimatéia. Eram 
provavelmente proprietários de terras, que arrendavam as suas fazendas, 
tendo a sua parte nas colheitas. 
 
A maioria do povo da Palestina era pobre. Uns eram lavradores, outros 
viviam do comércio. A escravidão não era grande no judaísmo e, sem dúvida, 
a grande maioria dos palestinianos judeus eram cidadãos livres. Outros, 
como os pescadores que se tornaram discípulos, possuíam pequenas 
empresas independentes, de que viviam em boas condições. 
 
As categorias sociais entre os judeus eram um tanto restringidas pelas 
obrigações comuns que a lei impunha sobre os seus seguidores. 
 
 
Se todos eram igualmente responsáveis perante Deus pela obediência à Lei, 
 
30 
 
 
 
 
em conseqüência, eram moralmente iguais perante Deus. Embora os judeus 
considerassem o homem rico como uma pessoa excepcionalmente 
abençoada pelo favor de Deus e, por conseqüência, como justo, não havia 
razão para que qualquer pessoa não pudesse merecer favor igual pela 
prática de boas obras. Ainda que uma aristocracia tenda a tornar-se 
perpétua, havia pelo menos uma igualdade moral inerente que preservava a 
oligarquia judaica de tornar-se demasiada opressora. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
31 
 
O Mundo do Novo Testamento 
 
 
Capítulo 3 
 
A Sociedade Pagã 
 
3.1 A Aristocracia 
 
No mundo pagão do século I, as camadas sociais eram mais vigorosamente 
diferenciadas. As guerras civis de Roma que tinham precedido a instituição 
do governo imperial tinham dilacerado inteiramente a vida social. As antigas 
populações livres, possuidoras de terras da Península Itálica, tinham 
desaparecido. Muitas das mais antigas famílias senatoriais tinham acabado 
nas lutas civis, enquanto que outras tinham sobrevivido. No lugar desses, 
levantou-se uma nova aristocracia, os proprietários que dirigiam as terras 
públicas com a sua influência e que compravam baratas as terras particulares 
daqueles cujas famílias tinham empobrecido por causa da guerra ou pela 
impossibilidade de conseguirem viver duma pequena herdade. A exploração 
das províncias recentemente conquistadas patenteou uma outra possibilidade 
de lucros e os comerciantes que atuavam como contratadores e 
especuladores por conta do governo faziam uma enorme colheita. Os 
prazeres a que essas condições davam incremento enfraqueciam a 
aristocracia e desanimavam as classes inferiores, que sentiam que, apesar 
de suas canseiras, iam prosperando menos à medida que os anos passavam. 
 
3.2 A Classe Média 
 
Devido, em grande parte, ao aparecimento da escravidão, que provinha da 
utilização dos cativos militares, a classe média quase desapareceu no 
império. Muitos tinham sido mortos nas guerras e nas proscrições. Muitos 
outros não puderam competir com o trabalho escravo e foram enfraquecendo 
lentamente e sendo privados das suas pequenas quintas e propriedades. 
Foram gradualmente aumentando as multidões sem lar e sem pão que 
enchiam as grandes cidades, especialmente Roma, e o seu sustento ficou 
dependente do Estado. As multidões famintas e ociosas que estavam prontas 
a votar por qualquer candidato cujas promessas soassem melhor do que as 
do seu competidor constituíam um fator perigoso e imprevisível na vida social 
do império. 
 
3.3 A Plebe 
 
A plebe, ou parte pobre da sociedade era numerosa e as condições em que 
se via lastimáveis. Muitos não tinham emprego firme e estavam piores do que 
 
32 
 
 
 
 
os escravos, que tinham pelo menos a certeza da alimentação e do vestuário. 
O proletariado sem emprego estava disposto a seguir qualquer homem que 
lhe desse uma esmola para alimentar o estômago e diversões para preencher 
as suas horas de ociosidade. Eram presas fáceis de qualquer demagogia. 
 
3.4 Os Escravos e os Criminosos 
 
Os escravos eram em grande número no império romano. Não é possível dar 
números exatos, mas os homens livres do mundo romano eram, sem dúvida, 
menos da metade da sua população total, e relativamente poucos desses se 
podiam considerar cidadãos com todos os direitos. A guerra, as dívidas e o 
nascimento mantinham as fileiras da população escrava em rápido 
crescimento. Nem todos eles eram ignorantes. Muitos eram, de fato, médicos, 
peritos contabilistas, professores, artistas hábeis de várias espécies. Epicteto, 
o célebre filósofo estóico, era um deles. Realizavam a maior parte do trabalho 
nas grandes propriedades agrícolas. Exerciam também a função de cajados, 
a de empregados comerciais e de copistas. 
 
Os efeitos da escravidão eram degradantes. A propriedade de escravos 
tornava os senhores dependentes do trabalho e da capacidade dos seus 
servidores, a ponto de perderem toda a sua própria capacidade e ambição. A 
moralidade e o respeito próprio eram impossíveis entre aqueles cuja única lei 
era a vontade dum senhor arbitrário. A impostura, a adulação, a fraude e a 
obediência servil eram os melhores meios de o escravo obter o que queria 
dos seus superiores. Em muitos casos, as crianças eram confiadas ao 
cuidado destes criados, que lhes ensinavam todos os vícios e falsos artifícios 
que conheciam. E assim a corrupção dominante nas classes oprimidas da 
sociedade comunicava-se aos seus senhores. 
 
Havia indubitavelmente muitos exemplos de senhores e senhoras que 
tratavam bem os seus servidores, como havia também muitos escravos que 
trabalhavam no vínculo da amizade mais do que no do terror. Alguns deles 
conseguiam juntar pecúlios por meio das gratificações e dádivas, e com 
esses pecúlios compravam a sua liberdade; outros recebiam carta de alforria 
dada pelos seus donos, ou durante a vida destes, ou por sua morte. 
Conseqüentemente, uma firme corrente de homens livres entrava na vida do 
império, enchendo com trabalhadores competentes as fileiras das classes 
baixa e média, dizimadas pela guerra. 
 
Muitos destes libertos, como Palas, no reinado de Cláudio, tornaram-se 
proeminentes no governo e importantes no desenvolvimento da burocracia. 
 
Há no Novo Testamento alusões à escravidão, nele se usa freqüentemente o 
termo escravo e se fazem referências ocasionais à possessão de escravos. 
33 
 
O Mundo do Novo Testamento 
 
Em nenhuma parte das suas páginas é atacada ou defendida a escravatura. 
Segundo as cartas de Paulo às Igrejas, havia, entre os crentes, tanto 
escravos como donos de escravos. Os escravos eram exortados a 
obedecerem aos seus senhores e aos senhores mandavam que não fossem 
cruéis para com eles. Tal era, no entanto, o poder da sociedade cristã que a 
escravatura foi gradualmente enfraquecendo com o seu choque e, finalmente, 
desapareceu. 
 
As incessantes hordas de desempregados – os gatunos que marchavam para 
as cidades, com o fim de roubar a sociedade, os desesperados e os 
deserdados – constituíam um terreno fértil para a criação do criminoso. 
Talvez seja injusto dizer que o crime prevalecia no império, pois havia nele 
um grande número de bons cidadãos; mas, em vista do caráter imoral e sem 
escrúpulos de muitos imperadores e altos funcionários, não é surpreendente 
que a sociedade em geral estivesse cheia de toda a espécie de males. O 
horrível quadro do mundo pagão que temos em Romanos 1.18 a 32, não é 
nenhum exagero. Não havia padrão inerente no paganismo que reprimisse o 
impulso da queda moral. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
34 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
35 
 
O Mundo do Novo Testamento 
 
 
Capítulo 4 
 
Aquisições Culturais 
 
4.1 Literatura 
 
No tempo de Augusto, houve um avivamento literário em Roma. O poeta 
Virgílio tornou-se o profeta da nova era. A sua Eneida representa um esforço 
para glorificar a Roma de Augusto; mostrando através da aventura épica do 
seu herói, a origem e o destino divinos do império. A esperança de uma 
futura cidade de ouro é apresentada nas suas obras e, pelo menos uma das 
Éclogas (a quarta), pareceevidenciar que Virgílio tinha algum conhecimento 
do Antigo Testamento. A época de Augusto foi o período áureo da poesia 
romana, adornada por Horácio, que vazou a poesia latina nos moldes gregos, 
e por Ovídio, cujas histórias da mitologia grega e romana revelam as atitudes 
morais contemporâneas do povo romano. 
 
Nada de notável foi produzido entre os períodos de Augusto e Nero. Sêneca, 
o moralista estóico e tutor de Nero produziu ensaios filosóficos e tragédias 
dramáticas. Petrônio, o rico árbitro das elegâncias da corte de Nero, compôs 
uma novela, que é ainda hoje uma das melhores fontes de conhecimentos da 
vida comum dos seus tempos. No último terço do séc. I, Plínio, o Velho, 
escreveu a sua História Natural, uma das primeiras tentativas da descrição 
científica do mundo da natureza. Essa obra era enciclopédica no alcance e 
revelou uma grande soma de investigações, ainda que fosse inteiramente 
desprovida de crítica e defeituosa quando julgada pelos padrões modernos. 
Quintiliano escreveu extensamente sobre gramática e retórica. Marcial, cujos 
epigramas picantes ainda constituem leitura mordaz, era o cronista de jornal 
do seu tempo. 
 
Nos governos de Nero, Trajano e Adriano, a literatura tomou o rumo da 
anticrítica. Os historiadores Tácito e Suedônio narravam a história dos 
Césares em linguagem franca. Tácito em particular, visto que estava ligado à 
velha aristocracia republicana, não tinha muita simpatia pelos imperadores. 
Os conteúdos dos seus Anais e das suas Histórias evidenciam os 
sentimentos contra o principado latente sob a superfície da opinião pública. O 
satirista Juvenal também escreveu no século II. Como Marcial, era também 
um crítico acerbo dos costumes e da moral do seu tempo. Mesmo que nos 
pudessem garantir que algumas das suas caricaturas sejam exageradas, não 
as deixam revelar a corrupção predominante na alta sociedade romana e de 
confirmar em geral as impressões deixadas pelo seu predecessor Marcial. 
 
36 
 
 
 
 
4.2 Arte e Arquitetura 
 
Durante os reinados dos imperadores do século I, Roma desenvolveu-se 
materialmente, e novas construções eram feitas continuamente. Se bem que 
os romanos não fossem singularmente originais nas suas artes decorativas, 
eram, contudo, excelentes na ereção de perduráveis monumentos de caráter 
utilitário. Muitas das suas pontes e aquedutos, teatros e balneários ainda se 
conservam, como testemunho da sua capacidade em matéria de construção. 
Souberam como usar o princípio do arco para bons efeitos e eram artistas em 
edificar com tijolo e argamassa. 
 
Na arte ornamental e decorativa criavam grande variedade em estatuária, 
com que geralmente representavam pessoas de preferência e idéias 
abstratas. Decorações funerárias nos túmulos e sarcófagos, bustos e 
estátuas eqüestres dos imperadores reinantes e esculturas históricas, como o 
Arco de Tito em Roma, eram comuns. 
 
4.3 Música e Drama 
 
A música e o teatro tinham mais por objetivo divertir a multidão, do que 
estimular o pensamento dos intelectuais. O teatro romano degenerou-se 
rapidamente e contribuiu diretamente para a degradação moral do povo. As 
farsas e os mimos do princípio do império eram grosseiros e baratos. As suas 
intrigas representavam a mais baixa qualidade de vida apresentada 
vergonhosamente. As representações teatrais do séc. I d.C. eram muito 
diferentes das dos grandes trágicos gregos, como Ésquilo e Eurípedes, que 
eram não só dramaturgos como filósofos e teólogos. 
 
Música de toda a espécie era vulgar no império. Usavam-se principalmente 
instrumentos de cordas e flautas, mas se usavam de vez em quando 
instrumentos de latão, de sopro, tambores e címbalos. A lira e a harpa eram 
os instrumentos mais populares. Os ritos e as procissões eram geralmente 
acompanhados por música e a aristocracia divertia os seus hóspedes com 
jantares com música preparados pelos seus escravos. 
 
4.4 Arena 
 
O anfiteatro tinha sobre o povo romano uma influência mais perniciosa do 
que o teatro. As lutas sangrentas entre homens e feras ou entre homens e 
homens eram promovidas pelo imperador, ou, de vez em quando, por 
aspirantes às funções políticas que desejavam ganhar o favor das multidões. 
Os que lutavam, gladiadores preparados, eram normalmente escravos ou 
prisioneiros de guerra, ou criminosos condenados, ou voluntários que 
37 
 
O Mundo do Novo Testamento 
 
procuravam fama na arena, como fazem os pugilistas modernos. Alguns 
deles conseguiam ganhar proteção e fortuna a ponto de se poderem retirar 
para uma vida privada e pacífica. A maioria morria na arena. Os espetáculos 
de gladiadores habituaram as assistências a verem o sangue derramado e 
até lhes fizeram aumentar o desejo de tais espetáculos cruéis. A fim de 
agradar aos seus patronos, os espetáculos eram normalmente elaborados e 
crescentemente horríveis. Se o teatro com as suas farsas e mimos 
grosseiros, desenvolvia no povo a obscenidade e a sensualidade, os 
espetáculos gladiatoriais glorificavam a brutalidade. 
 
4.5 Línguas 
 
Eram quatro as principais línguas do mundo romano: latim, grego, aramaico e 
hebraico. O latim era a língua dos tribunais e da literatura de Roma. Como 
língua do povo era falada principalmente no mundo romano ocidental, 
particularmente na África do Norte, Península Ibérica, Gália e Bretanha, 
assim como na Península Itálica. Era a língua dos conquistadores e foi 
aprendida pelos povos submetidos que adaptaram rapidamente a sua 
pronúncia e vocabulário aos seus próprios dialetos. O grego era a língua da 
cultura no império, familiar a todas as pessoas intelectuais, e era também a 
língua franca da maioria da população de Roma. Até na Palestina se falava 
grego corretamente, e muito provavelmente Jesus e os seus discípulos 
também usavam a língua grega sempre que tinham de falar com os gentios. 
O aramaico era a língua predominante no Oriente Próximo. Paulo falou em 
aramaico ao povo de Jerusalém (At 22.2) quando de improviso, fez a sua 
defesa das escadas da Fortaleza de Antônia; também algumas registradas 
citações de Jesus indicam que ele usava habitualmente o aramaico (Jo 1.42; 
Mc 7.34; Mt 27.46). Aparecem também na fraseologia do primitivismo cristão, 
palavras como Aba (Rm 8.15), Maranata (1Co 16.22), que mostram que os 
cristãos primitivos falavam aramaico. O hebraico clássico, com o qual o 
aramaico está intimamente relacionado, tinha sido uma língua morta desde 
os tempos de Esdras, exceto entre os rabinos cultos, que a usavam como 
meio de transmissão do pensamento teológico. O povo comum não o 
entendia. 
 
O grande uso das primeiras três destas línguas é mostrado pela afirmação de 
que a inscrição da cruz, acima da cabeça de Jesus, estava escrita “em 
hebraico (aramaico), em latim e em grego” (Jo 19.20). Mesmo na Palestina 
eram todas três correntes e admitidas. 
 
Um tal uso concomitante de línguas no centro onde o Cristianismo teve a sua 
origem trazia em si a influência da civilização e da literatura representada por 
essas línguas e proporcionou ao Cristianismo um meio de expressão 
universal. Na história do Cristianismo, durante o primeiro século, nem o latim, 
38 
 
 
 
 
nem o hebraico, tiveram grande papel a desempenhar, mas tiveram-no o 
aramaico e o grego. A tradição diz que algumas das primeiras publicações 
com as palavras de Jesus foram compostas em aramaico, e que o fato do 
Novo Testamento como um todo ser escrito em grego quase desde o tempo 
da sua origem, é coisa por demais patente para que fosse necessário 
argumentar sobre ela. Todas as epístolas foram escritas em grego e os 
Evangelhos e Atos dos Apóstolos sobreviveram tão somente em grego, 
mesmo que pudesse garantir-se a existência de alguns documentos dos 
meados do primeiro século, contendo palavras de Jesus em aramaico. 
 
4.6 Ciências 
 
Os romanos que dominaram o mundo do século I, não estavam interessados 
fundamentalmente em investigações matemáticas e científicas. Satisfazia-os 
inteiramente o dedicarem-se apenas a processos elementares, como osque 
usavam na medição das terras ou no cálculo de dinheiro. As aplicações 
científicas que realizavam, como, p.ex., os navios e os engenhos de guerra, 
tinham sido inventadas pelos gregos, de quem eles receberam essas 
invenções. 
 
Estes domínios do conhecimento encontravam-se já bastante explorados no 
tempo de Cristo. A geometria (que significa literalmente a ciência de medição 
da terra) tinha começado já com os babilônicos e com os egípcios, e foi 
trazida para o mundo grego por Tales de Mileto, se é verídica a tradição. 
Euclides de Alexandria (± 300 a.C.) desenvolveu tão completamente a 
geometria plana que as suas proposições têm sido estudadas com pequenas 
modificações até os dias atuais. 
 
A mecânica e a física foram estudadas por Arquimedes de Siracusa (287 a 
212 a.C.), que desenvolveu a teoria da alavanca e descobriu o princípio do 
cálculo da composição dos corpos por meio da relação do peso do volume do 
líquido por ele deslocado. Descobriu a fórmula da razão da circunferência e 
do seu diâmetro e, assim, a aproximação básica do cálculo. Vários dos seus 
numerosos estratagemas de mecânica foram aplicados nas guerras de 
Siracusa contra Roma. 
 
A astronomia desenvolveu-se muito no mundo pré-cristão. A esfericidade da 
Terra e o movimento de rotação da mesma já eram conhecidos de alguns 
cientistas gregos no séc. IV a.C. Hiparco (± 160 a.C.) inventou a 
trigonometria, tanto a plana como a esférica, e fez o cálculo do tamanho da 
Lua e da sua distância da Terra. A teoria predominante acerca do movimento 
da Terra e dos planetas não era heliocêntrica, mas sim geocêntrica. 
Eratóstenes de Alexandria (273 a 192 a.C.) calculou a circunferência da Terra 
com um seqüente grau de precisão, a despeito dos toscos instrumentos de 
que dispunha. 
39 
 
O Mundo do Novo Testamento 
 
A geografia foi a ciência que deveu o seu maior progresso ao período que 
inclui o século I. Ptolomeu de Alexandria (127-151) escreveu uma obra de 
astronomia que permaneceu como modelo até o aparecimento da teoria de 
Copérnico nos tempos modernos. Fez mapas de todas as regiões conhecidas 
naquele tempo. 
 
A medicina floresceu em vários centros do mundo. A universidade de Tarso 
tinha um hospital no templo de Esculápio, onde os doentes eram tratados. 
Uma escola de medicina grega se iniciara em Roma durante o reinado de 
Augusto. Celso, médico no reinado de Tibério, escreveu um tratado de 
cirurgia que revelou extensos conhecimentos da técnica operatória. Um outro 
médico, Dioscórides, escreveu uma obra sobre cerca de 600 plantas e sobre 
a sua aplicação na medicina. Galeno (129-200) sistematizou os 
conhecimentos da medicina grega. Realizou experiências biológicas e 
descreveu por escrito as suas descobertas. Embora muitas das suas 
conclusões fossem erradas, exerceu uma poderosa influência na ciência 
médica até o fim da Idade Média. 
 
Os conhecimentos científicos dos romanos mostraram pouca originalidade e 
pequena curiosidade intelectual. A “História Natural” de Plínio era uma 
enciclopédia dos conhecimentos da sua época em 37 volumes. Abrangeu 
todos os assuntos, desde a agricultura à zoologia. Plínio usou de um estilo 
pesado, quer citando de outros escritores, que escrevendo as suas próprias 
observações. Pode ser considerado um testemunho honesto da cultura do 
seu tempo, mas foi incapaz de distinguir os fatos das fábulas, e, assim, nem 
sempre eram seguras as suas conclusões. 
 
Os hebreus não estavam verdadeiramente interessados nas ciências 
especulativas. No século I, nenhum deles se notabilizou em ciências 
matemáticas ou naturais. A Igreja que brotou da matriz judaica não se 
preocupara com as ciências como tais, porque os seus principais interesses 
estavam nos domínios da Ética e da Religião. Por outro lado, a revelação 
sobre que a Igreja baseava os seus ensinos não se opunha inerentemente à 
ciência. Paulo, ao falar de Deus, diz: “As perfeições invisíveis d’Ele, o seu 
poder eterno e a sua divindade, claramente se vêem desde a criação do 
mundo, sendo percebidos pelas suas obras” (Rm 1.20). Não há conflito entre 
a investigação teológica da revelação de Deus por meio do Seu Espírito e a 
investigação científica da sua revelação por meio da criação. O Novo 
Testamento não é primariamente um livro de ciência, nem foi escrita por 
homens cuja preparação se possa considerar científica no sentido pleno do 
termo na hora presente, mas não é anticientífico, nem nas suas afirmações 
nem no seu espírito. 
 
 
40 
 
 
 
 
4.7 Escolas 
 
Até o tempo de Vespasiano, os governadores não tiveram interesse ativo no 
sustento da educação pública. A educação das crianças na casa da família 
média em Roma começava com o paidagogo, que vinha a ser um escravo 
com a responsabilidade de ensinar as primeiras lições à criança e de levar e 
trazer de uma escola particular ao lugar onde vivia. Quando chegava o tempo 
do jovem assumir responsabilidades de adulto, o jovem romano ficava ainda 
na dependência do seu tutor. 
 
As escolas eram lugares lúgubres em recantos ou salões públicos onde 
estavam situados os mercados e as lojas. O mestre-escola pouco conhecia e 
pouco praticava a psicologia da educação, limitando-se a ensinar por 
repetição contínua, acentuada por castigos corporais. 
 
Com raras exceções as salas de aula eram salões vazios, frios, sem atração, 
desprovidos de lousas, mapas, decorações e outro mobiliário considerado 
essencial nas escolas modernas. 
 
O currículo era essencialmente prático. As matérias básicas do programa 
elementar eram a leitura, a escrita e a aritmética. Em estados mais 
adiantados estudavam os poetas gregos e latinos e decoravam longas 
passagens que tinham de declamar dando-lhe expressão adequada. Mais 
tarde podiam estudar elementos de oratória: como preparar um discurso e 
como proferi-lo com eloqüência. Por vezes, os jovens mais ricos saíam para 
realizar estudos nas universidades de Atenas, Rodes e Tarso ou Alexandria, 
ou podiam assistir às preleções dos filósofos itinerantes (que viajam, que 
percorrem itinerários). 
 
A educação do jovem judeu seguia mais ou menos o mesmo modelo, com a 
exceção de que o seu programa era mais restrito. Aprendiam a ler e escrever 
pelo Antigo Testamento. Entre os judeus da Dispersão, as escolas da 
sinagoga usavam, sem dúvida, tanto o grego como o hebraico. Aprendiam 
também as tradições dos pais e eram adestrados no ritual do judaísmo. Em 
alguns casos, era permitida a leitura de livros gentílicos. Se o estudante 
pretendia ser um erudito ia habitualmente estudar com qualquer notável 
rabino, exatamente como Paulo foi educado aos pés de Gamaliel, de acordo 
com os métodos restritos da lei dos seus antepassados (At 22.3). 
 
Não há dados convenientes pelos quais se possam tirar conclusões a 
respeito do estado de educação em cada canto do império. Parece que cada 
municipalidade do povo era, dentro dos seus confins, responsável pelo seu 
próprio programa de educação. No entanto, como se vê pelos papiros, mostra 
que o povo do século I atingia um certo grau de aptidão literária e que a 
41 
 
O Mundo do Novo Testamento 
 
leitura e a escrita eram exercidos até pelas classes mais baixas. É muito 
provável que as aquisições literárias do primitivo império se possam 
comparar favoravelmente com os da Idade Média, ou até com algumas partes 
da Europa no século XVIII. 
 
4.8 Padrões Morais 
 
A condição moral do império romano, considerada no seu todo, pode não ter 
sido tão negra como a pintavam alguns historiadores. Como de costume, as 
pessoas virtuosas passaram despercebidas exatamente devido a sua virtude, 
ao passo que os criminosos foram celebrizados e chegaram ao conhecimento 
de todos. As novidades consistiam tão somente no “crime”. No entanto todas 
as condições sobreviventes de História, Literatura, Drama, Arte, mostram um 
padrão de moralidade, em geral, mais baixo do que o nosso. A tremenda 
acusação de Rm 1.18 a 3.20 foi originalmente dirigida contra o império e todo 
o testemunho de que dispomos confirma a suaexatidão. 
 
A decadência moral não significa que houvesse pessoas razoavelmente 
decentes ou que a virtude estivesse completamente extinta. O que significa é 
que a diretriz prevalecente na sociedade é a de descer para a indulgência e 
para a desordem. A vida humana era tida em pouca conta e, portanto, eram 
freqüentes os assassinatos. O divórcio conseguia-se facilmente e era bem 
recebido na sociedade. O enjeitamento de criancinhas recém-nascidas era 
uma prática comum, bem revelada na muito conhecida carta de Hilarião à sua 
mulher Alis, “Gerando tu uma criança, se for um rapaz, que viva, se for uma 
rapariga, expõe-na”. Predominavam as superstições e falsidades de toda a 
natureza. 
 
Havia moralistas como Sêneca, tutor de Nero, que advogavam ideais 
sublimes nas suas obras e usavam palavras de sabedoria, mas os seus 
protestos tinham pouca influência contra os males invasores dos seus dias. 
Não comunicavam aos seus leitores força espiritual que pudesse tornar os 
seus preceitos efetivos e, como no caso de Sêneca, não davam o exemplo do 
que aconselhavam aos outros. O paganismo não tinha qualquer poder para 
se levantar acima de si próprio e a consciência crescente desta sua falta de 
poder trouxe sobre ele um pessimismo e depressão a que não pôde 
sobreviver. A corrupção política, a devassidão, a fraude no comércio, o dolo e 
a superstição religiosa tornavam a vida em Roma desanimadora para a 
maioria e insuportável para alguns. 
 
4.9 O Mundo Econômico 
 
Os cristãos dos primeiros séculos, como os de hoje, tinham de ganhar a sua 
vida, num mundo laborioso. A propagação e a prática da sua fé eram 
42 
 
 
 
 
afetadas pelas prevalecentes condições quanto o são hoje as nossas. A 
agricultura, a indústria, as finanças, as viagens e transportes – tudo tinha 
relação com a difusão do evangelho. 
 
4.10 Agricultura 
 
Durante o tempo de Cristo e do primitivismo cristão, ocupava o império 
romano todos os territórios em volta da bacia do Mediterrâneo. A julgar pelas 
ruínas das cidades existentes ainda hoje, os territórios do litoral eram mais 
férteis do que o são hoje. A África do Norte, que atualmente é semi-árida ou 
até largamente desértica, tinha enormes herdades, em que ou pastava gado 
ou se produzia frutas e vegetais. Na Itália havia latifúndios que os 
proprietários arrendavam a lavradores ou a caseiros, em que se podiam 
cultivar quase todas as espécies de frutas ou cereais. Nas províncias 
ocidentais da Bretanha, Gália e Germânia florescia a agricultura e algumas 
quintas eram dirigidas por planos governamentais estabelecidos por Augusto. 
 
4.11 Indústria 
 
A fabricação industrial nunca foi tão importante nos tempos antigos como é 
hoje, porque as máquinas eram praticamente desconhecidas e as 
mercadorias tinham de ser produzidas pelo esforçado trabalho manual do 
indivíduo. Em muitos casos, as fábricas eram empresas particulares em que 
trabalhavam escravos. Havia, em regra, lojas pequenas e não por exceção. 
Certos tipos de mercadorias eram produzidos em localidades particulares: 
vasos de cobre, no campo; o linho e o papel vinham do Egito; a melhor 
qualidade de louça de barro era produzida no norte da Itália. As miudezas, o 
mobiliário e os artigos domésticos eram geralmente produzidos nas próprias 
localidades. Provavelmente todas as pequenas povoações do império tinham 
os seus operários que trabalhavam para todas as necessidades dos seus 
compatriotas. O próprio Jesus era carpinteiro (Mc 6.3) e Paulo de Tarso 
trabalhava, quando era preciso, como fazedor de tendas (At 18.3). 
 
As mercadorias de luxo eram importadas. O ouro, o marfim e as madeiras 
raras eram importados da África e do Oriente; as pérolas e jóias, da Índia. Os 
vestuários de peles vinham da Ásia central e da Rússia, e o âmbar vinha do 
longínquo norte. As caravanas levavam grandes cargas e estavam sujeitas a 
serem assaltadas por ladrões. Posto que o império tivesse um grande 
número de boas estradas, o transporte de veículos era feito por animais, 
devido à sua força, e assim esse tráfego era caro e lento. A marinha 
mercante fazia carreiras nos rios navegáveis e, nos meses de verão, no mar. 
A produção em massa de artigos baratos era praticamente impossível, dado 
que não havia máquinas nem transportes eficazes. 
43 
 
O Mundo do Novo Testamento 
 
4.12 Finanças 
 
As moedas padrão eram o denarius (denário) e o aureus, ou libra. Uma libra 
valia 40 denários. O denário é mencionado muitas vezes no Novo 
Testamento, onde é traduzido por dinheiro. O seu valor monetário atual seria 
cerca de 17 centavos de dólar americano, embora o seu valor de compra 
fosse consideravelmente maior. Constituía o salário vulgar de um dia de 
trabalho de um homem no Oriente (Mt 20.2). Muitas das cidades do império 
tinham o direito de cunhar as suas próprias moedas e as moedas das nações 
conquistadas não eram retiradas de circulação, de sorte que eram usadas 
várias qualidades de dinheiro concomitantemente dentro do domínio. Os 
cambistas faziam um bom negócio com os viajantes, como mostra o episódio 
da purificação do templo por Jesus (Mt 21.12). 
 
O comércio bancário era geralmente praticado, se bem que não existisse o 
complicado sistema de finanças usado no mundo atual. Os bancos não eram 
subsidiados pelo Estado; o que havia usualmente eram sociedades 
particulares. Muitas vezes firmas comerciais com participações estrangeiras 
realizavam negócios para os seus clientes. Contrair empréstimos, conceder 
empréstimos, descontos e cambiais, tudo isso se realizava, assim como se 
passavam também cartas de crédito. Aos bancos eram muitas vezes supridos 
fundos por indivíduos particulares, visto que o banco atuava só como agente. 
Os juros variavam de 4 a 12 por cento, se bem que, por vezes, a taxa levada 
por corretores individuais fosse ainda maior. Bruto pagou, uma vez num 
empréstimo, a taxa de 48%. As parábolas dos talentos (Mt 25.15) e das 
minas (Lc 19.13) mostram que emprestar dinheiro era uma maneira comum 
de aumentar a fortuna. 
 
4.13 Transportes e Viagens 
 
O domínio de Roma sobre as províncias era grandemente facilitado pelo seu 
excelente sistema de estradas, que até recentemente, era o melhor que o 
mundo tinha conhecido. Os romanos construíram as suas estradas tão 
direitas quanto possíveis, fazendo cortes através dos montes e usando 
viadutos para transpor vales e rios. Na construção das suas estradas 
escavavam o solo e enchiam o leito da estrada com três camadas diferentes 
de material, elevando o centro para escoamento das águas e pavimentando a 
parte superior com pedra. As estradas tinham, por vezes, uma largura 
superior a cinco metros, mas eram lisas e duráveis. Algumas delas ainda hoje 
são usadas. 
 
Ao longo destas estradas que, de Roma para a fronteira, se estendiam em 
todas as direções, marcharam os exércitos e as caravanas de comércio. O 
correio imperial levava as correspondências e tinha os seus próprios oficiais, 
enquanto que o comércio particular tinha os seus próprios correios. 
44 
 
 
 
 
Algumas destas estradas tornaram-se famosas na Antigüidade. A Via Ápia 
era a principal estrada de comunicação entre Roma e o sul da Itália. Ia de 
Roma até Brindes, por Cápua. Da costa ocidental do Ilírico, de onde a Via 
Egnácia corria através do Ilírico, da Macedônia até Tessalônica, e daí até 
Bizâncio, a Constantinopla atual. Uma outra estrada se dirigia de Trôade a 
Éfeso, na costa ocidental da Ásia Menor, seguindo depois para leste, por 
Laodicéia e Colossos até Antioquia de Psídia, e daí para o sul, por Icônio e 
Derbe até o desfiladeiro das Portas Cilicianas, através das quais continuava 
para Tarso e para Antioquia da Síria. Outras estradas conduziam de 
Antioquia para o Oriente até o Eufrates, onde encontravam os caminhos 
comerciais para a Índia. 
 
A Via Flamínia dirigia-se para o norte, de Roma para Arímino e daí para 
Mediolano. De Mediolano, várias estradas se dirigiam para ocidente, para a 
Gália, a Germânia, a Récia e Nórico. 
 
A Via Cláudia Augusta, iniciada