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Resenha do documentário Indústria Americana

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Indústria Americana- American Factory 
 
O documentário acompanha a implantação da Fuyao Glass, empresa chinesa de vidro 
automotivo na cidade de Dayton-Ohio, anos depois de a General Motors ter sido 
desativada no município, tendo como principal fator de afetação a Crise Econômica de 
2008, provocando a demissão de mais de 10 mil funcionários. 
 A chegada da nova fábrica instalada na antiga planta da empresa americana, ainda que 
resulte num choque entre oriente e ocidente bem no meio do interior americano, também 
dá esperança e emprego a dois mil funcionários daquela cidade. Entretanto, eles 
precisam aprender a conviver com as regras da nova fábrica, tendo dificuldades com a 
barreira linguística e cultural, especialmente porque os chineses estão acostumados a 
trabalhar bem mais horas por dia, poucas folgas no mês e sem equipamentos de 
segurança. Isso nos leva a diversos questionamentos e reflexões sobre o mundo do 
trabalho, seus contextos e significados. 
As relações de trabalho sempre foram controversas. Sempre existiu o lado do patrão, o 
lado dos funcionários, dos investidores e consumidores. Entre 1760 a 1860, a Revolução 
Industrial começou na Inglaterra advinda da transação de um imenso grupo de pessoas 
do campo para as cidades, tendo o trabalho artesanal substituído pelo trabalho 
assalariado com o uso das maquinas. A Revolução aos poucos foi se transformando e 
mudando a forma de consumo, com isso foram desenvolvidas novas formas de aumento 
do capital, tendo a “minoria” como o principal meio de exploração. 
Podemos perceber no documentário e ate de forma impressionante do ponto de vista 
industrial e do produto, funcionários focados que se sentem pessoalmente atingidos caso 
a indústria não supere as metas estabelecidas, também funcionários que se importam de 
coração com o desempenho da indústria e que dão sangue e suor para ver o conjunto 
melhorar e dominar o que lhes foi proposto. . 
Ter todo esse “potencial” no trabalho é de extrema importância, sem duvida, mas olhando 
para os dias de hoje, para o nosso povo, será que o trabalhador brasileiro compraria essa 
ideia? Tendo em vista trabalhar 10 horas ou mais por dia, abrir mão de sua própria 
família, ter um ambiente de trabalho pouco favorável, pouca segurança, ter duas ou três 
folgas por mês sem ter nenhum sentimento desagradável em relação ao trabalho? Para 
alguns isso é visto como insulto, mas pelo documentário nós percebemos que tudo isso 
faz parte da cultura chinesa, eles estão extremamente adaptados a essa realidade e 
ainda entregam resultados impressionantes. Mas se formos olhar o lado dos americanos, 
todo esse debate se torna limitado no campo das ideias e das suposições. Se formos 
imaginar no nível do chão da fábrica, com os americanos reivindicando melhores 
condições de trabalho e chineses achando os americanos preguiçosos e se esforçando 
pra ensiná-los a sua cultura “altamente produtiva”, isso me faz lembrar de uma fala até 
bem preconceituosa quando os chineses se referem aos negros na fábrica: “Eles são 
devagar e tem dedos grossos”! 
Tudo isso nos faz refletir sobre diversidade nas organizações, estrutura e condições de 
trabalho, produtividade, qualidade, saúde no trabalho, como por exemplo, quando uma 
equipe da fábrica na América vai passar uns dias na fábrica chinesa percebemos um 
choque total de cultura organizacional. É interessante ver as diferenças entre os 
trabalhadores americanos e os chineses. Nota-se que eles têm outro ritmo, trabalham 
muitas horas e mal tem direito de reclamar. 
Outro ponto interessante é quanto à atuação dos Sindicatos na Indústria. A forma como o 
Presidente da companhia atua é implacável. Ele acredita que ter um sindicato atuando 
junto a fabrica não é bom para a produtividade, causando perdas irreparáveis, 
acarretando ate no fechamento da fabrica, ele deixa bem claro que em sua opinião 
perder dinheiro é bem pior que qualquer outro fator. Há todo um controle para que os 
americanos da fábrica não constituíssem um sindicato e no decorrer do documentário 
vemos que a exploração dos trabalhadores só vai aumentando. Quando os americanos 
reclamam por direitos, o presidente da fábrica se torna negligente e surge com discursos 
com promessas de aumento de salário e viagens para quem produzir mais, ou seja, foco 
no salário e no aumento de carga de trabalho, cobrando sempre mais produtividade, 
deixando a qualidade de vida de lado, focando somente nas metas. Um dos supervisores 
diz: “1º Produtividade, 2º Velocidade” e chegamos à conclusão de que em algum 
momento distante pensa-se na qualidade. 
 No decorrer do documentário vemos o presidente demitindo lideranças americanas que 
foram contratadas para conter o avanço do sindicalismo na fábrica, por julgar que as 
mesmas estavam sendo incompetentes na missão e ainda ameaça fechar a fábrica caso 
seja formada uma associação desse tipo. Depois, o grande número de acidentes de 
trabalho na companhia divide os funcionários quanto à necessidade de uma organização 
para defendê-los gerando mais demissões e medo, o que leva o projeto a ser derrotado 
numa votação entre todos os empregados da companhia. 
Com isso, o documentário fala um pouco sobre um futuro que talvez não esteja tão 
distante assim. No primeiro momento temos os impactos da cultura no seu sentido 
negativo das diferenças culturais e percebemos que no mundo existem milhões de 
realidades, tendo em vista que em todas as sociedades temos dois lados da moeda, o 
que realmente importa é para qual lado dessa moeda damos mais valor. 
 Nos leva a refletir sobre as diferenças entre hierarquias, também sobre a importância da 
segurança do trabalho e dos processos sindicais, e que apesar dos seus problemas 
podemos ter em mente que se é ruim com o sindicato, é muito pior sem ele. 
Mais importante do que trabalhar “mais” é fazer o maximo para trabalhar “melhor” com 
processos bem planejados, tendo a melhoria continua e a inovação nos processos. 
Condições de trabalho precárias, principalmente em questões de segurança, jamais será 
um caminho de obtenção de produtividade e lucratividade, mas sim posições de trabalhos 
dignas. 
 
 
 
 
 
 
 
Bianca Ferreira

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